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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Apresentado o guião do filme já em rodagem acelerada

JSC, 30.10.13

… E, por fim, o ex-ministro demissionário, promovido a vice-primeiro-ministro, veio apresentar, com pompa e circunstância, o guião a que deram o título “Reforma do Estado”. Portas, convertido a governante e palavroso repetido, insistiu na ideia de que reformar não é cortar. Claro que não. No guião, Reformar é desmantelar, donde a dificuldade que teve em elaborar tão grosso guião. É que não é fácil justificar a destruição da economia, o empobrecimento generalizado da classe média. E como não é fácil, Portas atira-nos com um calhamaço, que disse ter mais de cem páginas, como se a qualidade do guionista, ele próprio, fosse medida a peso.

 

 Não é preciso ir pesquisar para perceber a reforma do Estado que Paulo Portas & C.ª já puseram em marcha, basta ler os jornais de hoje:

 

100 milhões para despedir professores

 

Governo quer professores proprietários e gestores de escolas

 

Num só ano, mais de 120 mil portugueses deixaram o país.  

As Jornadas da Propaganda

JSC, 29.10.13

Os ministros do PSD mais os ministros dos CDSPP juntaram-se, na Sala do Senado, para falarem aos deputados dos mesmos partidos. Aquilo parecia ser uma coisa séria, assim a apontar para a revelação de grandes desígnios para a Nação. Talvez a proclamação solene – na Sala do Senado – do âmbito, metas e profundidade da Reforma do Estado.

 

Mas não. Rapidamente se percebeu que aquilo era mais um espectáculo mediático, uma coisa, “um número” para a comunicação social entreter os portugueses, tipo casa dos segredos. E a comunicação social cumpriu bem mais este papel desenhado à sua medida. Até arranjou uns tipos para irem palrar e fazerem a antevisão do que seria o discurso do Primeiro-ministro, o que é que ele poderia anunciar de novo.

 

E, de novo, o que é que soubemos? Que a recessão técnica vai acabar dentro de semanas; que a história vai assinalar estes anos como a época em que um Governo tirou o país da bancarrota em que outro governo o tinha deixado; que os cortes nos salários vai ser feito umas dezenas de euros mais acima; que a culpa não é da Europa, do BCE, antes de portugueses que gastaram, gastaram e endividaram-se à tripa forra.

 

Estas acções Governo/Deputados afectos, sob pretextos diversos, são meras operações mediáticas – autentica fraude política paga pelos contribuintes – que merecem ser bem analisadas, porque, pela amplitude da cobertura mediática que têm, bem podem justificar o facto dos partidos do governo ainda manterem níveis de popularidade muito acima do que seria expectável face às malfeitorias da governação.

 

Na verdade, se o objectivo daquela iniciativa partidária era falar para dentro, explicar aos deputados (do PSD+CDS) o OE para 2014, então, a que propósito três canais de televisão transmitiram em directo os discursos dos respectivos líderes parlamentares e o discurso, cerca de uma hora, do Secretário geral do PSD? Fizeram-no porque foi para isso que aqueles dois partidos organizaram o evento. Obterem dias de ocupação do espaço comunicacional sobe o OE2014, conseguir horas e horas de lavagem ao cérebro dos deputados, dos jornalistas, dos comentadores encartados, que face a tão longos discursos, sem contraditório, concluem pela desgraça de não verem alternativa. E com isso também dão o seu contributo para o adormecimento geral.

A palavra de José Sócrates

José Carlos Pereira, 24.10.13

José Sócrates apresentou ontem o seu livro com a tese de mestrado que defendeu em França sobre o uso da tortura em regimes democráticos, na presença de Mário Soares, Lula da Silva e algumas centenas de personalidades.

Nos dias que antecederam a apresentação do livro, Sócrates desdobrou-se em entrevistas a pretexto do tema da sua tese e também para corresponder às solicitações de vários órgãos de comunicação social, cientes de que dar a palavra ao ex-primeiro-ministro é garantia de boas audiências. Os que gostam e os que detestam Sócrates não perdem uma pitada do que ele diz. Diria que, nessa faceta, não há quem se lhe compare na vida política nacional.

A conversa que José Sócrates manteve com Clara Ferreira Alves, publicada na revista do “Expresso”, foi aquela que acabou por chamar mais a atenção, não pela substância do que Sócrates aí diz mas sim devido ao tom de linguagem usado em relação a um ou outro político ou situação com que se defrontou durante o seu período de governação. Eu não usaria aquela linguagem, é certo, mas faça-se a justiça de reconhecer que José Sócrates não se esconde, mostra-se tal como é e não gosta de usar punhos de renda. Além do mais, percebe-se que a entrevista não seguiu o formato tradicional de pergunta e resposta e o tom distendido dessa conversa terá promovido o uso de linguagem mais desbragada.

Sócrates está numa fase boa da vida, como o próprio reconhece, não está a planear o regresso à política activa, pois nesse caso obedeceria a outros calculismos, mas faz questão de vincar que não perdoa as insinuações e deslealdades pessoais e políticas de que foi vítima, sobretudo no período final da sua governação. Diz o que tem a dizer, não procura adoçar as palavras e mostra-se pronto para todos os combates, fazendo jus ao feitio irascível que se lhe colou à pele. Aliás, as suas palavras amargas não terão sido moldadas apenas pelas circunstâncias políticas, pois percebe-se que ficou muito marcado pela morte prematura de familiares directos.

Por mim, prefiro enaltecer a humildade de que dá provas ao submeter a escrutínio público a sua tese de mestrado, num domínio susceptível de polémica e divergência. Ver um antigo primeiro-ministro entrar em temas que são normalmente reservados a investigadores, académicos e intelectuais não é coisa que ocorra com frequência.

Recomendo, por isso, a audição da entrevista de José Sócrates à TSF, muito focada no tema do livro que ontem lançou. O ex-primeiro-ministro explica aí como chegou ao tema da tortura nos regimes democráticos, aborda a política internacional e faz a defesa determinada da vida e da dignidade humana como valores absolutos. São essas opiniões que vale a pena analisar e discutir.

Diário Político 190

mcr, 22.10.13

 

Recordando um par de verdades

 

1 nos idos de 74, Angola era palco de uma guerra civil entre três movimentos guerrilheiros, igualmente fracos e igualmente desprovidos de apoios populares extensos. A FLNA tinha a sua gente no Norte, quase até Luanda e a sua base no povo ba-kongo. A Unita, semi domesticada por Soares Carneiro, apoiava-se nas populações do leste mais remoto, enquanto o MPLA gozava de alguma implantação nas zonas urbanas do centro e especialmente em Luanda.

Foi o MFA local quem deu o apoio mais forte e veemente ao MPLA. Isto mesmo antes da ajuda da União Soviética e da chegada maciça das tropas cubanas. Contra o acordado no Alvor, algumas personalidades portuguesas (Melo Antunes entre outras) forçaram o apoio ao MPLA dando-lhe na secretaria o que não obtivera no terreno.

O regime angolano actual deve a sua actual posição dominante aos portugueses, mesmo se depois, alguns alucinados se perderam de amores pela UNITA (e por todos o jovem Soares, filho) que também teve, entre os colonos espavoridos e em fuga algumas simpatias.

A História é como é, o MPLA ganhou a batalha. A guerra civil que se seguiu (ou as guerras civis, se é que do massacre dos nitistas se pode falar como guerra civil) estabeleceu duradouramente o domínio do actual partio no poder. E neste, o domínio de uma clique que percebeu que estas coisas não são eternas e que, portanto, o melhor é ganhar a vidinha o mais depressa possível.

A “nova classe” dirigente angolana cedo percebeu que havia que diversificar os investimentos e aplicar as fortunas ganhas com o suor de alguns rostos que não o seu em países ocidentais. Em Portugal, por exemplo, tão carecido de moeda forte.

Em troca, ou não exactamente isso, tornaram Angola extremamente atraente para oito ou dez mil empresas portuguesas e para cem mil novos emigrantes. E, já agora, exilou para a antiga metrópole uns centos de descontentes, de banidos, de ex-dirigentes (até do MPLA!).

Nos países novos, a reconversão dos velhos chavões marxistas, tornados imprestáveis pelos afluxos de dinheiro e pela miséria constante das massas, as dificuldades políticas resolvem-se sempre da mesma maneira: prendem-se os mais vociferantes, compram-se amigos e, em caso de força maior, amotinam-se aos consciências contra os antigos colonizadores.

Assiste-se a esta piedosa cegada desde os primórdios dos anos sessenta, logo que nos países recém-descolonizados surgiram as primeiras dificuldades. Se os nossos jornalistas e os nossos políticos fossem mais atentos já nem se preocupariam com estes assomos de dignidade ofendida.

Em Portugal, para sermos equânimes, a perda das colónias não se digeriu com especial facilidade. Sobretudo se estas enriquecerem, como é o caso de Angola. A gentuça de cá estende a pata mendicante e chorosa a toda a espécie de ricos mas nunca aos “pretos”. Quando aparece por aí um cavalheiro (ou cavalheira...) “africano” (para se assumir uma expressão mais politicamente correcta) a comprar empresas ou apenas a frequentar as lojas de luxo da Avenida da Liberdade, ai Jesus que o mundo está de pernas para o ar.

É neste contexto, neste jogo de falsos espelhos, que se deve pensar esta zanga de comadres.

Do “nosso” lado com uma agravante. É que, por razões de vária ordem, boa parte das “makas” entre angolanos desaguam em Portugal. No caso um ex-embaixador de Angola e um jornalista (Rafael Marques) do mesmo país, entenderam denunciar um par de factos que, a ser verdadeiros (coisa que sendo plausível, provável quase evidente está, todavia, por provar) indiciam grossas irregularidades.

O excelso Ministério Público português entendeu dever investigar as denúncias. O que só o honra. O que já não parece tão honrado é o facto das investigações durarem há anos ( parece que para isso o MP não tem prazos a cumprir!) e, mais grave, por surgirem na imprensa, por obscuro milagre, muito português e muito comum, os nomes das personalidades angolanas investigadas.

Isto, como é evidente irrita os investigados que, vêm os seus nomes arrastados na lama. E mais os irrita, porquanto, ninguém os ouve (não são arguidos!...) nem ninguém explica como é que uma investigação em segredo de justiça transpira tão abundantemente cá para fora. Não é a primeira, a segunda ou a décima vez que tal facto ocorre. Diria mesmo que a regra, entre nós, é o assassínio civil de suspeitos e arguidos muito antes dos processos se darem por concluídos. As fugas de informação são o pão nosso de cada dia e por mais que se proteste ninguém, para lá das paredes do MP, se dá por achado. A coisa parece um mistério gozoso. Como se alguém dissesse: podes safar-te no julgamento mas da vergonha pública nunca mais te livras.

Que os portugueses achem que isto é consubstancial à nossa “Weltanschauung” lusitana, vá que não vá. Os angolanos e, regra geral, os estrangeiros, pouco habituados à doçura dos nossos costumes, é que não estão pelos ajustes.

Para juntar mais sal a esta palhaçada, eis que o renascido sr. dr. Machete, travestido de ministro dos Negócios Estrangeiros entendeu tolamente pedir desculpas a Angola. Desculpas por quê? Houve algum caviloso ataque à república angolana por parte do governo português? Ou estamos, tão só, perante um caso (se caso há..) de actividades privadas de cidadãos que também agiram a condição de privados?

Se o sr Machete entende, como eu entendo, que este longo, longuíssimo, arrastar de suspeitas não provadas sobre pessoas que ninguém acusa formalmente, mas que aponta à execração pública de cá e de lá, então tinha duas hipóteses:

À uma, propunha dentro do Governo que se tentasse legislar no sentido de dar prazos certos e intransponíveis ao MP no que toca a processos deste teor, fornecendo, entretanto, meios suficientes a tal instituição para esta realmente funcionar e deixar de fazer de conta que anda mas não anda.

Ou então saía do Governo, onde até ao momento nada fez de útil ou sequer entusiasmante, e cá fora, como cidadão interessado na democracia e na transparência exercia o seu direito de crítica ao MP e de amizade em relação a Angola, aos seus dirigentes, aos amigos destes, ao MPLA ou às viúvas da Catumbela de Baixo.

Que um par de laparotos do “Jornal de Angola, redijam umas frechadas imbecis sobre a honra perdida dos seus amigalhaços e tentem transformar um caso privado numa questão política internacional, diz tudo sobre o modo como o regime angolano tem moldado a opinião pública angolana e como pretende fazer desta “his master’s voice”.

Resta, como acima já se notou, a irresponsabilidade política, legal ética e moral, daqueles que levantam o véu so segredo de instrução dos processos. Há fugas e há responsáveis. Se estes estes pertencem ao MP ou são apenas espíritos celestes enviados pelas Erínias à terra, não sei. Que, à falta de outros responsáveis evidentes, as pessoas cá de fora, apontem baterias a quem conhece os segredos e os processos e os devia manter na obscuridade prudente em que eles deveriam viver (ou vegetar), parece óbvio. O MP é uma instituição mas não está acima de nenhuma suspeita. Os seus membros sejam a Sr.ª Procuradora Geral ou, simplesmente o(s) magistrado(s) encarregado(s) da investigação (para já não falar do porteiro, do arquivista, do gato da vizinha ou dos “ratos da Inquisição”...) também não. Ao encresparem-se, pessoalmente ou por interpostas e zelosas pessoas muito defensoras da separação de poderes, tornam mais evidente e mais dramática a situação de confusão que se instalou.

A deputadagem que, à falta de legislar bem, de resolver os problemas dos portugueses, de trabalhar sensatamente, abriu as goelas num grasnido incomensurável e aviltante, recomendar-se-ia, se valesse a pena, bom senso e (mais difícil ainda) bom gosto. Mas é trabalho escusado!

Arre! 

 

na gravura: o JA (Jornal de Angola)melhor faria em pensar como alimentar este menino, como garantir-lhe um crescimento equilibrado, liberdade política e direito de escollha  desde já.  A ele e aos milhões de outros cidadãos que nunca são defendidos, apadrinhados, sequer lembrados nas páginas daquele periódico.

d'Oliveira fecit 22.11.2013

estes dias que passam 304

d'oliveira, 21.10.13

 

 

 

 

Desalento

 

Um cavalheiro chamado Manuel Valls, pretensamente socialista e membro importante do actual governo francês também ele identificado com o socialismo (ou algo no mesmo género mas mais insubstancial) entendeu expulsar uma estudante liceal de 14 anos. Ao que parece a criatura expulsa para o Kossovo era emigrante ilegal na terra da liberdade, igualdade e fraternidade. E era, pormenor relevante, de etnia cigana.

O senhor Valls que nestas coisas de ciganagem & similares é tão radical quanto qualquer fascista ordinário, mormente a senhora Le Penn. Ou melhor: é mais. Com a sua política de expulsões pretende dizer a quem o ouve que os socialistas são ainda mais fiáveis do que os da FN em matéria de pureza racial.

Só que..., só que quando a Le Penn arregaça a manga para fazer uma conveniente saudação romana, todo o bicho careta lhe cai em cima. Valls, o progressista não fala em raças inferiores mas apenas em gente que não se integra, em irrecuperáveis para a sua, dele, noção de cidadania.

Valls, pelo nome Manuel e pelo patronímico é irrecusavelmente de origem emigrante, filho de catalães ou valencianos. Tornou-se francês aos vinte anos, e como de costume leva o seu patriotismo com o entusiasmo de um catecúmeno  Eventualmente, os seus ancestros poderiam ter entrado em França no fim da guerra civil, ou mais tarde como emigrantes económicos. Eventualmente não teriam “papéis”, o que faria deles ilegais. A França da época que não era socialista nem coisa que se parecesse, lá os acolheu com maior ou menor dose de vexame e desconfiança.

Valls teve a vantagem de ser filho de um desconhecido  artista plástico e de, por isso, ter entrado França adentro sem problemas de maior. Naquele tempo, a França olhava menos à nacionalidade dos que a procuravam e mais às eventuais qualidades  que eram supostos ter.  

Valls cresceu nesse ambiente de relativa bonomia e, por mérito próprio ou mera intriga política (sobretudo esta, veja-se o seu percurso errático desde a esquerda rocardiana até hoje) lá foi fazendo o seu petit bout de chemin nas ruínas do antigo e honrado Partido Socialista. E chegou a ministro, sob esse anémico soba que dá por François Hollande (de quem quis ser rival...) e que lá vai fazendo as convenientes e necessárias mesuras à vizinha alemã esperando assim poder continuar a fingir que, com a Alemanha, a França é uma das locomotivas da Europa.

A história da expulsão da adolescente de suposta origem kossovar (mas nem sequer falante de albanês) é tão repelente quão infamante. A garota participava numa excursão do seu liceu quando a professora encarregada do seu grupo recebeu telefonicamente ordem para mandar parar o autocarro e aguardar pela chegada de uma brigada policial que, à vista de todos os colegas e amigos, foi detida como uma malfeitora e conduzida manu militari à fronteira. Com ela três irmãos de tenra idade, a mãe e o pai (o único membro da família nascido na antiga Jugoslávia). Tudo para o Kosovo e em força.

Para o Kosovo que, num momento espantoso, a França e os seus amigalhaços da NATO “libertaram” do opressor sérvio. Para o Kosovo, que desconhece, de onde o pai saiu há trinta e oito anos(!!!), longe de amigos, do namorado e da escola.

Como é que um fascistóide tipo Valls, variante Manuel pode falar em não integração quando a estudante frequentava o ensino secundário, integrada numa classe adequada à sua idade, pelos vistos com aproveitamento?

Como é que um parlapatão xenófobo pode falar em incapacidade de se integrar quanto a uma família que manda a filha para a escola, usa o francês como língua de todos os dias, trabalha, fez campanha por Hollande  nas presidenciais, ou seja, interessou-se suficientemente pela vida política a pontos de andar na rua a distribuir panfletos?

Sou, todos os meus leitores sabem, um francófilo dos quatro costados. Leio e falo francês correntemente, adoro Paris para onde me escapo sempre que posso, um bom quinto da minha biblioteca (e são quase 21.000 peças) consta de livros e revistas francesas. Leio  “le monde”, diariamente desde 1960 (Jesus que velho estou) assino várias publicações na mesma língua, interesso-me desde que me conheço pela França e pela “cultura” francesa. Imaginem a vergonha deste francófilo...

Toda a gente fala da crise. Da falta de dinheiro, da escassez de perspectivas, da mediocridade das elites. Claro que têm razão. Todavia, pior do que a economia, vai a nossa comum cultura, a nossa ideia de sociedade aberta, os velhos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade e sobretudo essa antiga convicção de que a França era, numa Europa menos liberal, um porto de abrigo para gente de todo o mundo. Contam-se por milhares, dezenas ou centenas de milhares, os franceses de origem estrangeira que, uma vez chegados à sua nova pátria, a tornaram maior, mais próspera, mais inteligente e mais culta. Vi o governo francês, não este mas outros anteriores, condecorar estrangeiros (por todos Dizzie Gillespie que foi decerto o mais divertido) pelo que faziam em prol da ciência, das artes ou simplesmente da humanidade em geografias longínquas. Ao torna-los, simbolicamente, cidadãos franceses, a França explicava ao mundo que era uma terra onde as diferenças de raça, cor, religião não tinham qualquer importância e não impediam o reconhecimento de outrem.

Agora, expulsa quatro crianças (duas das quais já terão nascido em solo francês...) e respectivos progenitores. Em nome da irrecuperabilidade, da “não adaptação”, destes. E da “situação ilegal” em que se encontravam. Como se fosse possível andar anos e anos na escola pública, num país tão controlado, sem ninguém dar por isso. A França que, em nome de valores civilizacionais, vai guerrear no Mali, tem tropas na República Centro-Africana, quer intervir militarmente na Síria, entende tirar a paz a meia dúzia de ciganos, não por estes roubarem, mendigarem, mas apenas e sobretudo porque são ciganos, portadores (o que no caso em apreço nem parece ser verdade) de outros valores civilizacionais que, pelos vistos, podem destruir a harmoniosa sociedade onde vicejam os Le Pen, onde há integristas para todos os gostos, onde residem tranquilamente os suspeitos das mafias de leste, tudo isto em nome do “socialismo” governamental.

Porque é disso que se trata: de uma súcia de gente, sem princípios, sem vergonha e sem sentimentos.

Se pudesse o tal Valls agarrava na ciganagem e, zás!, como Hitler, punha toda aquela gente atrás de arame farpado. Isto num primeiro tempo, porque depois, sempre teria a possibilidade de mandar os pretos para África ou para o fundo Mediterrâneo, os “bicots” para a Argélia e o resto dos árabes pobres para o deserto. Com mais uns anos poderia começar a escolher os portugueses, os italianos, os chineses e asiáticos em geral, até chegar se para isso tiver tempo aos espanhois, andaluzes, estremenhos e outros excepção feita dos catalães, raça nobre entre as nobres, que de resto teve neste capítulo momentos gloriosos e xenófobos de que Valls, mesmo que não se lembre, pode tirar exemplo e proveito. Anda há poucos anos um líder da Esquerra Republicana falava dos emigrantes internos como de escumalha boa para trabalho servil. E depois, ala que se faz tarde, reenviados para os tugúrios de onde teriam vindo.

A última e pasmosa notícia é aterradora e infamante: o senhor Hollande, trilhado pela rua e por bo parte da opinião pública de esquerda, entendeu fingir de Salomão. A garota Leonarda pode regressar para avcabar os seus estudos. O resto da família, incluindo os dois irmãozinhos nascidos em França que fique num país que não conhece. E a miúda (viveria com quem?) dá-lhe uma lição: sem a família não aceita o favor presidencial!

Vê-se bem que é irrecuperável e mal agradecida!

 

  

Efeito Machete

JSC, 17.10.13

"Não temos alternativa a África" garantiu o Presidente do Conselho de Administração da Mota-Engil, António Mota. Por sua vez, gestores ouvidos pelo Diário Económico mostraram-se preocupados porque temem o “maior falhanço diplomático” desde 1974.

 

Se no plano diplomático isto não está a correr bem, as notícias da economia não são melhores. Segundo o Eurostat, Portugal voltou a registar em Agosto a maior queda da produção na construção na Europa.  África, melhor, Angola é cada vez mais o alvo dos empresários, o problema é que o Governo nem nisso ajuda.

Dotação orçamental de 10 milhões para prémios

JSC, 16.10.13

Depois da notícia a dar conta das apostas que correm na net, que têm como isco a eventual saída de um ministro do Governo, aparece uma outra notícia em que é o próprio Governo a fomentar “sorteios” populares. O valor do prémio tem dotação assegurada no Orçamento para 2014.

 

Está-se mesmo a ver que os “sorteios” governamentais e as “apostas” deverão constituir um dos eixos estruturantes da mais que anunciada reforma do Estado, de que se ocupa a equipa de Paulo Portas. Ora, Paulo Portas ainda não se pronunciou sobre o "sorteio", apesar de se tratar de matéria tão relevante. Admite-se que venha a apresentar o “sorteio” como um instrumento que permitirá às pessoas, que perderam uma boa parte do seu rendimento, poderem compensar por essa via parte do rendimento perdido.

 

De uma coisa não se podem os portugueses queixar, jamais tiveram um Governo tão pródigo na busca de soluções para sacar a vida às pessoas, mesmo quando parece que lhe oferece “prémios”. É sempre o saque que os norteia.

A evidência da mentira

JSC, 14.10.13

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