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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

“Delinquentes, delinquentes é a palavra»

JSC, 13.10.13

Mário Soares não pôde ser mais explícito. «Uma parte do Governo, não são todos claro, é um Governo de delinquentes, delinquentes é a palavra». É um Governo formado por “gente incompetente e desonesta

 

Por sua vez, no mesmo dia, Jerónimo de Sousa acusou o primeiro-ministro e o vice-primeiro-ministro de serem "trapaceiros e malabaristas".

 

Na própria área política do Governo, Luís Marques Mendes, com a graça de quem defende os seus pequenotes, acaba de qualificar o Governo como sendo um executivo formado “por adolescentes e gente imatura”.

 

Tudo isto o corre no Domingo em que o Governo se reuniu para prosseguir a sua política de empobrecimento do país.  Portas acabou de fingir sofrimento pelo roubo que ele próprio subscreve para os pensionistas, para os funcionários públicos.

 

O que me confunde é como é que o Presidente da República convive com estes governantes “adolescentes e imaturos”, também qualificados de “trapaceiros”, “delinquentes”, “malabaristas”. Ou será que a familiaridade de Cavaco Silva com os delinquentes do BPN e outros, lhe deu estofo bastante para aguentar o convívio com gente da mesma natureza? Lamentável mesmo é que seja, exactamente, a gente que governa o país.

 

Fraquinho, fraquinho, fraquinho

JSC, 10.10.13

Passos Coelho é um primeiro-ministro apoucado pelos portugueses. Se aparece no espaço público logo surgem uns tantos a insultá-lo, a confrontá-lo com as desgraças da sua governação. Confesso que tinha curiosidade em ver como é que ele iria lidar com a campanha eleitoral para as autárquicas. Afinal foi pacífico. Passos coelho só apareceu em ambientes protegidos, em espaços fechados. As televisões fizeram o resto.

 

E foi a televisão, neste caso a RTP, que preparou mais um ambiente fechado para Passos Coelho poder apresentar toda a sua vacuidade política, sem contraditório, sem ser incomodado. A RTP montou e pagou o cenário, recrutou umas tantas pessoas, que fizeram o papel de perguntadores. Feita a pergunta, Passos Coelho deambulada em redor de nada, repete ideias feitas, “temos de pagar a dívida”, “novo rumo para Portugal”, “se falhar é o país que falha”, “há um défice para cumprir”, “no futuro vamos ter de gerar excedentes orçamentais”. As perguntas apenas serviam para Passo Coelho fingir que estava a responder a alguém, quando, na verdade, estava a dizer o mesmo de sempre, a anunciar o mesmo de sempre, mais austeridade e mais austeridade. E foi neste quadro que anunciou mais um Orçamento rectificativo para este ano.  

 

Passos Coelho falou todo o tempo que quis, sem que os perguntadores pudessem dar réplica. Apenas lhe estava reservado o papel de fazer a pergunta. Aquelas pessoas foram levadas para ali, pela RTP, apenas com o fito de integrarem o cenário. A RTP prestou um serviço miserável, indigno. O PCP foi para lá protestar que também quer entrar neste show. Em nome da boa sanidade pública bom seria que toda a oposição recusasse este tipo de espectáculo.

 

No final, Passos Coelho, confrontado pelo jornalista sobre a hipotética demissão do Ministro Rui Machete, respondeu que não senhora, que "Não há nada de grave" na actuação de Rui Machete.

 

Ao menos o sohw que a RTP montou terminou em grande. Pelo que se sabe Rui Machete mentiu ao Parlamento e mentiu no tal pedido de desculpas. Ora, mentir é a prática diária de Passos Coelho, donde ele só poderia concluir como concluiu:  “Não há nada de grave” na mentira.

 

E mente quando, mui autoconvencido, afirma que “Se falhar é o país que falha”. Sr. Primeiro-ministro o país sobrevirá sempre e sobrevirá muito melhor se o Sr. perder essa ideia de redentor - que quer salvar os portugueses dos desvarios consumistas - e partir para outra.

O maior Farsante entre mentirosos

JSC, 07.10.13

 

 

 

Todo o histórico recente de Paulo Portas faz com que ele consolide o papel de Farsante, num Governo onde a mentira e o atropelo à lei são usados como instrumento permanente de acção política.

 

O número teatral personalizado, hoje, por Paulo Portas mostra a sua mestria no uso da arte de ludibriar o zé pagode. A propósito do anunciado corte nas pensões de sobrevivência, Portas tomou o palco para proclamar que "Estamos a falar, não de um corte, mas de uma condição de recursos".

 

 

Na plateia, viúvos e viúvas entreolharam-se sem perceber bem se vão ser vítimas de “um corte” na sua pensão ou se apenas vão ser vítimas de “uma condição de recursos”. Notável.

 

Esta gente pode dizer tudo, fazer tudo, que ninguém os ousa afrontar. É como se naquelas bandas, todo aquele espaço, tivesse sido tomado por ervas daninhas e ninguém ousa pegar no herbicida. Há muita gente no PSD, muitos no CDS a criticar, a não se reverem. Contudo, não dão o passo, exactamente o passo que permitiria derrubar, afastar este grupelho ultraliberal que, com base na mais descarada mentira, tomou conta dos destinos do país, que escorraça do país os mais aptos e abate os que ficam. Esta gente não respeita nada, absolutamente nada, logo não merece o nosso respeito.

estes dias que passam 304

d'oliveira, 07.10.13

notas sobre os festejos fúnebres

 

Parece que o senhor Passos Coelho foi a uma reunião magna do seu partido falar de eleições. Da criatura já nada me admira, mas mesmo estando prevenido, ia caindo de espanto.

Para justificar as derrotas de Gaia e Sintra eis o que o homenzinho disse:

Em Gaia, a culpa é do dr. Menezes, o candidato que ficou num miserável e vergonhoso terceiro lugar no Porto. Sicut Passos Coelho, Meneses pediu e obteve “carta branca” no terceiro ou quarto maior município do país. E como Meneses, o invencível, fora líder do partido eis que Coelho o ingénuo entrega a cidade de mão beijada ao ex-presidente e ao PS!

Em Sintra, Coelho o inteligente (só se for em touradas de segunda!), não podia aceitar a “intolerável chantagem” do ex-vice de Seara que se atreveu a candidatar-se antes mesmo do “partido” ter decidido. Perante esta inominável ousadia, só restava a Coelho propor a inefável personalidade do senhor Pedro Pinto, uma obscuridade decadente e presunçosa que andava lá pelo refugo do sótão do PPD. Pimba! Outro medonho terceiro lugar.

Num e noutro caso, o PPD teria ganho por maioria absoluta estas duas importantíssimas câmaras.

Convenhamos, isto até parece mania, que Seguro, o miraculado (o reino dos céus pertence a este género de pobres), também meteu o pé na argola.

Em Matosinhos, tinha um candidato benquisto pela população, inteligente e que fizera obra. Todavia, por obscuras e imbecis razões, eis que lhe tiraram o tapete, apresentando para presidente uma criatura infrequentável que se tornara conhecida na bagunça da lota de Matosinhos, por alturas da candidatura Sousa Franco às Europeias.

Há uns largos meses, cruzei-me com um dos membros da equipa de Guilherme Pinto que me confidenciou que esperavam (já nessa altura) a maioria absoluta. Nem assim Seguro & comandita pensaram. E foi o que se viu: o candidato derrotado (esmagado) da direção do PS bem que se passeou mão na mão com outro cadáver político (Narciso Miranda) saído do PS devido às mesmas tristes cenas da lota matosinhense. Miranda andou depois numa candidatura anti-PS, tentou arrebatar-lhe votos e fez uma pertinaz oposição ao PS e a Pinto, quando elegeu alguém para a vereação.

Pois nada disto, deste conúbio apalhaçado e vergonhoso, teve artes de iluminar as cabecinhas socialistas em geral e a de Seguro (a existir, autonomamente) em particular.

No Porto, cidade em que vivo e voto, o PS apresentou um candidato que já aqui foi (e não por mim!...) descrito como um anti-candidato. Eu, enganado pelas previsões, augurei-lhe um terceiro lugar mas a inépcia e a arrogância de Meneses foi tal que lhe deu um segundo lugar. De todo o modo, convém lembrar que o bizarro dr. Pizarro teve praticamente metade dos votos da dr.ª Elisa Ferreira que, em seu tempo, aqui critiquei. Metade dos votos de uma votação que já fora um desastre é obra! Convém, todavia, dizer que Pizarro fez um discurso de derrota decente senão digno.

De todo o modo, sobre esta cidade, já se disseram tantas e tais coisas que urge pôr um travão de humildade ao desenfreado e irreal discurso  sobre a “invicta”.

É verdade que, por aqui, há uma velha camada burguesa e politicamente transversal, que cultiva (quanto mais não seja por snobismo ou inércia) as velhas tradições liberais. Faço parte dela e sinto, como ela, a indignação e a vontade de não aceitar imposições sobretudo quando tal significa despesismo, burrice e pouca educação (e menos savoir vivre...).

Nunca fui adepto do dr. Rui Rio (e isso ando por aqui escrito) mas reconheço o seu esforço e a sua tentativa de parar com a hemorragia financeira e com o descalabro gastador que assolou a cidade. E com a irresponsabilidade económica e financeira que atingiu não só certos dirigentes partidários mas, e sobretudo, alguns agentes culturais. Nunca votei nele o que, espero, me torna ainda mais insuspeito. Todavia, deixa uma cidade melhor do que aquela que lhe foi legada e só por estultícia ou má fé é que se pode argumentar que poderia, com os mesmos meios, fazer mais. Para desvarios de dinheiro bastaram as loucuras da capital cultural cujo vero símbolo é um edifício horrendo, caríssimo, encomendado sem definição de quaisquer funções, e que, actualmente, está alugado a preço vil a uma entidade que nem sequer o estima.

Entregar ao dr. Meneses, o soberbo, a cidade, sabendo como se sabe o que ele fez a Gaia (quer de bom quer de mau) era correr o risco de nos afundarmos de vez num pântano de dívidas quando não na falência pura e simples. Todo o discurso deste cavalheiro ressumava a promessas infundadas, financeiramente insustentáveis, culturalmente discutíveis senão medíocres ou de péssimo gosto. A campanha viciosa que desenvolveu, as ajudas aos pobrezinhos que lhe batiam à porta, as churrascadas oferecidas à populaça (o panen et circenses) o disfarce maroto de se apresentar como se a candidatura fosse apartidária, tudo isso “encheu as medidas” às elites tripeiras e, pelos vistos, a uma enorme multidão portuense que vai muito mais além das clientelas eleitorais de algum PPD e do CDS. Toca, e de que maneira, muito socialista e pode mesmo ter ido ainda mais além. Basta contabilizar os votos, a queda das freguesias  (só duas ficaram na mão de socialistas e social-democratas), os anteriores resultados e a abstenção para ver como foi profundo o efeito Rui Moreira. E, sobretudo, sabia-se que o candidato vencedor não vivia da política, das prebendas partidárias, que fazia parte da sociedade civil e industriosa que sempre se notabilizou na cidade. É claro que, provavelmente, também se reagiu ao sistema fechado partidário, ao peso insuportável dos aparelhos, ao desdém com que tratam os cidadãos e aos malabarismos com que disfarçam a má governança. E, obviamente, há aqui alguma punição da desastrada maneira como Passos e outros governaram. Digo alguma, porquanto a escassa votação em Pizarro demonstra claramente que a alternativa política nacional que ele proclamava não convenceu.

Mas no Porto houve outras notícias. Se o PS perdeu 19.000 votos, o BE perdeu a enormidade (ara os fracos recursos dele) de 1500 e o PC (o tal que, dizem, ganhou não sei bem o quê) teve um decréscimo três vezes maior (menos 4.400 votos!)

Mesmo correndo o risco de repetir o que outros já disseram, convém não valorizar demasiadamente a quintuplicação de câmaras do CDS ou a reconquista justa dos territórios  que o PCP alcançou. Curiosamente, o PS que cantou vitória (clara, claríssima) esqueceu as perdas no Alentejo e a espertalhice gorada no caso de Beja.

Mister é ocuparmo-nos um pouco da vitória rosa. Em termos nacionais o número total de votos alcançados não é exibível. O PS tem menos votos do que os alcançados há quatro anos. Tem o mesmo número de vereadores mas isso, desta feita, representou mais dezoito câmaras. O PPD e aliados conseguem mitigar as perdas a nível nacional mas levam um rombo tremendo na sua tradicional base de apoio local. Nem Vila Real escapou! Se calhar a vergonha dos transmontanos foi tal que não tiveram outro meio da demonstrar na terra do primeiro ministro. Para cima do Marão mandam os que lá estão e não o rapaz de Massamá. E mesmo Massamá não quis nada com o seu celebrado habitante, prova provada que a criatura nem pela vizinhança é estimada.

E falemos da fraca, triste, figura do Bloco. Faço parte das pessoas que sempre olhou o BE como uma curiosidade arqueológica apesar daquela agremiação se apresentar como algo de jovem. Nunca o foi, mesmo quando, nos seus penosos inícios, juntava no mesmo saco de gatos trotskistas, maoístas e uns vagos dissidentes do PC. Ou seja gente que se tinha combatido em nome de uns vagos pormenores ideológicos que o tempo e o desastre da queda do muro, do fim da URSS, da época especial cubana, do desvio chinês e de mais outras extraordinárias aventuras dignas de “Tintin no país dos sovietes”.

O BE nunca passou de um epifenómeno urbano com base em Lisboa e sucursais medíocres em Porto e Coimbra, sem presa na sociedade sobretudo nos meios ditos “proletários” de que se reclama. O BE, pelos vistos (que contado ninguém acredita) tinha quatro objectivos: aumentar a votação geral, manter a sua câmara, eleger Semedo para a vereação e ganhar no Funchal. Este último objectivo era pasmoso: o BE era, naquela “selecção do resto do mundo”, o elemento mais pequeno ou um dos mais irrelevantes. Dizer que o Funchal era um objectivo é exactamente o mesmo (e eles, durante a trágica noite eleitoral repetiram-no vezes sem conta como de um mantra se tratasse) que dizer que queriam derrotar o Governo.

Tirando o Funchal, o resto foi por água abaixo. Sem glória nem barulho. E o futuro dirá se os destroços que ainda boiam não serão absorvidos pelo PC a quem o Bloco numa das suas mais desvairadas utopias prometia uma luta taco a taco. Tenho até por presumível que alguma da recuperação do PC passa pela reconquista de votos bloquistas. É uma questão de tentar ver que ganhos e que perdas há nas respectivas votações. Poder-se-ia dizer que eu não tenho em conta a taxa de abstenção. É verdade: não a considero. Os votos nesta esquerda mais combativa não se perdem em abstenção, transferem-se.

E agora?

Pois agora é andar para a frente. Não vejo que o PS, mesmo quando fanfarrona, queira apossar-se do Governo. À uma, nada lhe garante uma maioria absoluta, sequer confortável. Depois, só terá vantagem em deixar a coligação do desastre aguentar-se com a sua crescente impopularidade. Claro que, a longo prazo, há um problema: António Costa tem sobradas razões para se preparar para o poder. Aliás, o seu discurso de vitória e o longo momento em que comparou as actividades da Câmara e as do Governo, mostram isso mesmo. Tanto ou mais quanto as suas frágeis esquivas quanto ao tempo em que iria desempenhar o mandato para que acabava de ser eleito. Tudo isso e a repentina campanha que o dá como presidenciável diz muito do terror que ele inspira ao “Tó Zé” e aos órfãos de Sócrates.  

Finalmente, o PCP. Ninguém nega que tem razões para sorrir. Manteve as suas zonas tradicionais e recuperou outras perdidas. Convirá, porém, lembrar que no seu grande distrito “vermelho” perde votos em todas as câmaras ganhas e ganha numa que não conquistou. Estes números, que hão de ter passado pela peneira larga dos comentadores, enviam uma brutal mensagem: mesmo o voto militante, o voto que, regra geral, ninguém desperdiça, desaparece. Ou seja, para os eleitores que não votaram no PCP este partido deixou (provisória ou definitivamente) de ser uma alternativa e uma aposta de futuro.

E é isto que permite a esclerosada sobrevivência deste Governo medíocre. Isto e uma certa bonomia da “troika” que vai pontuando a errática prática de Coelho & Cia, permitem que se finge, dentro e lá fora, que o país é ainda europeu.

Mas não é! Não é! Não é!   

As autárquicas no Distrito do Porto

José Carlos Pereira, 07.10.13

Na edição do corrente mês da revista “Repórter do Marão”, publico um texto que faz um retrato das eleições autárquicas no distrito do Porto:

 

"As eleições autárquicas de 29 de Setembro proporcionaram uma vitória ao PS no distrito do Porto, que passou a ter tantas presidências de Câmara como o PSD, oito para cada um, mas teve mais votos, mais mandatos nas Câmaras e Assembleias Municipais e mais presidências de Juntas de Freguesia. Contudo, tal como sucedeu a nível nacional, a vitória do PS não representou uma “goleada” sobre o PSD, como muitos esperariam após dois anos de uma governação centrada nas políticas de austeridade e no empobrecimento dos portugueses.

Começando a análise pelos oito concelhos do Tâmega e Sousa, os principais destaques vão naturalmente para o facto de a coligação PSD/CDS ter conquistado Amarante ao PS e de este ter derrotado o PSD em Paços de Ferreira. Em ambos os casos, colocou-se um ponto final a décadas de governação do mesmo partido e foram recompensados candidatos que tinham sido anteriormente derrotados.

Em Amarante, a limitação de mandatos obrigou o PS a encontrar um sucessor para Armindo Abreu, que curiosamente saiu vencedor da eleição para a Assembleia Municipal (AM). O gestor José Luís Gaspar (PSD/CDS), que se tinha apresentado a eleições em 2001 e em 2009, aproveitou a oportunidade e venceu à terceira tentativa, por pouco mais de 500 votos. Os eleitos independentes serão o fiel da balança, tanto na Câmara como na AM.

Já em Paços de Ferreira, o advogado Humberto Brito, que se evidenciou ao liderar os protestos contra as tarifas da água no concelho, deu ao PS a vitória que lhe escapara há quatro anos, muito embora sem alcançar maioria na AM. As polémicas em torno da concessão da água e saneamento e do elevado endividamento da autarquia estão certamente entre as principais razões para a derrota de Pedro Pinto, até aqui presidente dos Autarcas Sociais-Democratas.

Nos restantes municípios não houve alterações nas presidências das Câmaras. Inácio Ribeiro (PSD/PPM), em Felgueiras, e Celso Ferreira (PSD), em Paredes, conquistaram novas maiorias absolutas, embora a vitória do segundo na autarquia paredense tenha acontecido por apenas 73 votos, com a consequente perda de um vereador para o PS.

Nos casos de Penafiel e Lousada, os vice-presidentes que se apresentaram a eleições por força da limitação de mandatos, Antonino Sousa (PSD/CDS) e Pedro Machado (PS), cumpriram o desafio a que se propuseram e ganharam com maioria. Contudo, Antonino Sousa, que deixara a militância do CDS para se apresentar como independente à frente da coligação, ficou aquém dos resultados anteriores e perdeu um vereador para o PS.

Em Marco de Canaveses, Manuel Moreira (PSD) garantiu por muito pouco nova maioria absoluta no executivo, mas perdeu-a na AM, o que abre um novo ciclo político neste município. O anacrónico movimento de Avelino Ferreira Torres perdeu boa parte do seu peso eleitoral, mas conseguiu manter dois vereadores. O PS, que recuperou de um período muito negativo nos últimos anos, ficou a escassos oito votos de eleger um segundo vereador, que retiraria a maioria ao PSD na Câmara, e passa a ter um peso significativo na AM com a conquista de sete Juntas de Freguesia.   

Em Baião, o líder distrital do PS, José Luís Carneiro, obteve uma vitória retumbante ao alcançar 71,41 % dos votos, elegendo seis dos sete membros do executivo. Um resultado que atesta a excelente relação que conseguiu construir com os seus munícipes. O resultado alcançado, a sua posição destacada no seio do PS e a relação que mantém com António José Seguro fazem dele um dos nomes em perspectiva para a presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses.

Na área metropolitana do Porto houve várias mudanças e o impacto político destas eleições autárquicas foi, sem dúvida, muito grande. A situação política e social favoreceu desde logo o reforço das posições da CDU, que aumentou o número de votos e mandatos e passou a contar com vereadores em Matosinhos, Gondomar, Maia, Valongo e Porto.  

Na Póvoa de Varzim e em Vila do Conde, a limitação de mandatos obrigou a mudar as lideranças, mas os experientes vice-presidentes Aires Pereira (PSD) e Elisa Ferraz (PS) garantiram vitórias maioritárias aos seus partidos, apesar da perda de um vereador pelo PS em Vila do Conde. O mesmo sucedeu ao PSD na Maia, que elegeu confortavelmente Bragança Fernandes para um último mandato, mas perdeu um vereador para a CDU. Ainda não foi desta que o PS conseguiu encontrar um candidato capaz de se intrometer na luta pela vitória na Maia.

Em Santo Tirso, o regressado Joaquim Couto (PS), antigo presidente da Câmara, governador civil e deputado, ganhou tranquilamente, depois de um conturbado processo de nomeação no seio do seu partido, em que contou com a oposição do anterior presidente, Castro Fernandes.

A única conquista do PSD sucedeu na Trofa através de Sérgio Humberto, professor e deputado desde a última remodelação governamental. O PS, que ganhara a Câmara em 2009, não conseguiu evidenciar méritos suficientes para renovar esse mandato, como há algum tempo se percebia.

As grandes vitórias do PS aconteceram em Valongo, Gondomar e Gaia, onde recuperou o poder ao fim de muitos anos, embora com cambiantes diferentes. O quadro da AICEP e ex-deputado José Ribeiro, que já se candidatara em 2005, venceu em Valongo, mas está obrigado a entender-se com a oposição. Marco Martins, actual presidente da Junta de Freguesia de Rio Tinto, soube tirar partido do impedimento que recaiu sobre o movimento de Valentim Loureiro e conseguiu uma ampla maioria em Gondomar. Em Gaia, o professor universitário Eduardo Vítor Rodrigues, vereador e antigo autarca de freguesia, ganhou uma das eleições mais disputadas. A embrulhada criada pelo PSD com o processo de sucessão de Luís Filipe Menezes, fazendo surgir duas candidaturas da mesma área política que se digladiaram, e a crescente censura a um modelo de gestão autárquica assente no endividamento criaram as condições políticas para o PS recuperar a autarquia gaiense.

As vitórias de candidaturas independentes em Matosinhos e no Porto constituíram uma forte derrota para os dois maiores partidos. No primeiro caso, a forma como o PS empurrou porta fora Guilherme Pinto, presidente da Câmara em funções, para atender apenas à vontade do aparelho do partido, foi um erro tremendo. De uma vez por todas, os partidos têm de perceber que há vida para lá das sedes partidárias e que ganhar uma concelhia é muito diferente de conquistar o eleitorado de um município. A dimensão da derrota de António Parada foi um bom exemplo disso.

No Porto, o economista Rui Moreira ganhou de forma categórica, contra todas as previsões iniciais, congregando pessoas de várias proveniências, muitas das quais nunca se tinham envolvido na política activa. Muito mais do que o apoio do CDS, Moreira contou com o espírito livre do povo do Porto, que quis travar o populismo e as megalomanias de Luís Filipe Menezes. O voto útil em Moreira acabou por penalizar também o socialista Manuel Pizarro, que, apesar das suas qualidades pessoais e políticas, teve menos cerca de 30.000 votos face aos resultados alcançados por Francisco Assis e Elisa Ferreira nas anteriores eleições. Também neste caso se demonstrou que não basta ter a estrutura partidária unida para alcançar vitórias autárquicas.

Por último, uma nota para o facto de ter havido cerca de 100.000 votantes a menos no distrito e para o aumento de aproximadamente 40.000 votos brancos e nulos em relação às autárquicas de 2009. São dados que devem interpelar os partidos e os agentes políticos, uma vez que este crescente alheamento e desinteresse não é benigno para a democracia. Os partidos devem empenhar-se em compreender o que está por trás deste fenómeno."

"Sado-maluquismo"

O meu olhar, 05.10.13
NO DN

Sado-maluquismo
por FERNANDA CÂNCIO

"Como avisei na altura devida, chegámos a uma situação insustentável", Cavaco, 10/6/2010 (com dívida 94%)

"São insustentáveis tanto a trajetória da dívida pública como as trajetórias da dívida externa." Cavaco, 9/3/2011 (com dívida 108,2%)

"As dificuldades que Portugal atravessa derivam do nível insustentável da dívida do Estado e da dívida do País para com o estrangeiro." Cavaco, 1/1/2013 (com dívida 124,1%)

"Surpreende-me que em Portugal existam analistas e até políticos que digam que a dívida pública não é sustentável. Só há uma palavra para definir esta atitude: ma-so-quismo." Cavaco, 3/10/2013 (com dívida prevista pelo Governo de 127,8%)

"Os juros da dívida soberana vão cair gradualmente, à medida que Portugal atinge as metas impostas pelo programa de assistência financeira." Gaspar, 20/4/2012

"O cumprimento do Programa é inequívoco e os progressos alcançados são significativos." Gaspar 20/2/2013

"O incumprimento dos limites originais do programa para o défice e a dívida, em 2012 e 2013 (...), minou a minha credibilidade enquanto ministro das Finanças." Gaspar, 1/7/2013

"Não é uma teimosia minha com os salários da função pública, não é uma teimosia minha com as pensões dos pensionistas do Estado, (...) é a diferença entre fecharmos este programa de assistência ou podermos ter de pedir um outro programa." Passos,21/9/2013

A maioria PSD/CDS-PP no poder está "a criar condições para que os portugueses possam acreditar com confiança que esta crise será vencida." Passos, 27/9/2013

"As dívidas têm de ser todas pagas, os países têm de pagar as dívidas." Moedas, 27/8/2013

"Só nos resta (a nós e a outros) o possível caminho da reestruturação da dívida. Ou seja, ir falar com os nossos credores e dizer-lhes que dos cem que nos emprestaram já só vão receber 70 ou 80." Moedas, 26/5/2010

"Não compensa absolutamente nada para a economia portuguesa (...) estabelecer uma retórica de ataque às posições dos mercados." Cavaco, 10/11/2010

"Não existe nenhuma razão lógica para as obrigações do Estado português atingirem taxas de juro de 7% nos mercados financeiros." Cavaco, 30/9/2013

"Deus nos livre de termos um Presidente da República que não mede as palavras que diz" Cavaco, 21/12/2010

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