Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Um grandessíssimo CARA DE PAU

JSC, 31.03.14

O primeiro-ministro português admitiu não saber se a história o absolverá das opções que tomou como governante.

 

É óbvio que a história, se lhe dedicar uma linha, não o absolverá. A história não absolve mentirosos compulsivos nem quem se apodera dos poderes públicos para empobrecer e desgraçar a maioria em benefício de uma minoria, bem minoria.

 

Esperemos que nas próximas eleições, os eleitores não fiquem em casa nem se refugiem no ineficaz “não vou votar”. Vão votar e votem em massa. É urgente mostrar à tríade Passos & Portas&, que a história poderá esquece-los, mas o presente, que somos nós, estamos prontos para os condenar, já os condenamos. Só falta mandá-los às urtigas.

A urgência de uma petição

JSC, 30.03.14

Não é só a temática da Petição que importa debater. Tão importante como a causa da petição é a reacção que a mesma suscitou. Foi o Presidente a despedir dois assessores, foi o Mr Bento a dizer que o importante era que fossemos todos como o Ronaldo, foi a Teodora a dar um brinde ao Mr. Bento e ao Governo. São inúmeras as boas razões para assinar a Petição, aqui.

As eleições europeias

José Carlos Pereira, 27.03.14

As eleições europeias estão aí à porta e são já conhecidas as listas das principais forças políticas. O PSD repete o nome de Paulo Rangel como cabeça de lista, o que nunca tinha acontecido até aqui, e volta a apostar numa coligação com o CDS, tal como ocorrera em 2004. A coligação de direita procura, assim, conter os danos causados pela acção do Governo, entre nós, e da maioria conservadora na Europa. Surpreendentemente, contudo, a direita parece conseguir escapar a um descalabro nestas eleições, o que exige um maior empenhamento das forças do centro-esquerda.

O PS anunciou primeiro o nome de Francisco Assis como cabeça de lista, que assim volta ao Parlamento Europeu, onde esteve entre 2004 e 2009, tendo aprovado apenas esta semana a lista completa. Um processo que se arrastou por demasiado tempo, com o anúncio do cabeça de lista a surgir, erradamente, em resposta ao congresso do PSD e os nomes de vários putativos candidatos a serem lançados na praça pública. No final, acabou por sair uma lista globalmente equilibrada e competente, renovada com vários parlamentares e antigos membros dos executivos de Guterres e Sócrates. Aliás, saber lidar com a herança desses governos, particularmente do de José Sócrates, é algo que tem faltado à liderança de António José Seguro.

Aceitei ser o mandatário concelhio, em Marco de Canaveses, da candidatura do PS às eleições europeias quando era apenas conhecido o nome de Francisco Assis como cabeça de lista. Fi-lo por considerar que Assis é um dos melhores quadros que o PS tem e é, no actual contexto, um dos mais bem preparados para intervir, cá dentro e sobretudo lá fora, em defesa de uma nova agenda das instituições europeias, nomeadamente face à actual conjuntura económica e social que se abate sobre os países do Sul da Europa.

No último confronto pela liderança do PS, Francisco Assis foi derrotado por Seguro, mas a sua combatividade política ficara expressa desde cedo, enquanto autarca em Amarante e líder do PS/Porto, altura em que mostrou em Felgueiras e em Marco de Canaveses, por exemplo, que não se furtava às lutas mais difíceis. Foi também nesse período, concretamente nas autárquicas de 2005, que Francisco Assis apoiou e apresentou a minha candidatura à Assembleia Municipal de Marco de Canaveses.

Apesar de haver motivações pessoais para apoiar Francisco Assis, foram sobretudo as razões políticas que prevaleceram na hora de decidir participar, com um modestíssimo contributo, nas próximas eleições europeias.

Au bonheur des Dames 356

d'oliveira, 18.03.14

 

Alto e para o baile que agora é de mais!

 

Gloucester: ‘tis the time’s plague when madmen lead the blind” *

 

O ominoso dr. Pedro Santana Lopes apanhou uma boleia de duas ou três páginas de um jornal de referência e ameaça candidatar-se à Presidência da República. Melhor, não diz nunca a essa hipótese, o que é o mesmo que dizer sempre, já!, oh quem dera, à candidatura.

Ora, relembremos, com  esforço e desgosto visíveis, a carreira deste homem prodigioso.

Honra lhe seja feita, já era de Direita na faculdade de Direito quando o seu ex-amigo e aliado Durão Barroso empunhava fervorosamente a bandeira vermelha, vermelhíssima do MRPP.

Conta-se que foi Santana quem levou Barroso para a estrada de Damasco onde este terá visto a luz. Militante, pois e evangelista do ppd. Daqui nenhum mal viria ao mundo. Aos vinte anos é-se tudo, sobretudo quando se é generoso e crédulo.

SL rapidamente passou à política séria, diz ele que pela mão de Sá Carneiro que já cá não está para o desdizer. Na verdade, com mais três ou quatro rapazes da sua idade e com a sua ânsia de poder chegou a formar um “grupo” com um daqueles nomes pindéricos que esta gente inventa para esconder apenas a sua voracidade e, a partir daí andou uns tempos a “partir louça” no partido e na Assembleia.

 Depois apareceu como dono ou presidente de uma empresa jornalística com vários títulos, coisa que naufragou rapidamente sem glória e com elevadas dívidas.

Daí saltou para o Parlamento Europeu de onde não chegaram ecos cá. Terá ganho uns tostões coisa sempre útil para quem como ele se casa várias vezes e arranja uma ranchada de filhos.

Foi presidente da Câmara da Figueira da Foz, lugar que lhe caiu no regaço depois dos socialistas locais se terem precipitado para uma luta fratricida que partiu o partido ao meio. Da sua gestão não me ocorre mais do que uma dispendiosa construção de um Centro de Artes (belíssimo, de resto, mas com escassa actividade) e de um oásis no meio da praia na zona da ponte do Galante onde ainda há umas palmeiras agónicas a tentar sobreviver.

Da Figueira saltou para Lisboa e lançou o túnel do Marquês muito contestado mas altamente eficaz. O resto da sua gestão oscilou entre diversos tons de cinzento  e muito palavreado.

Como Secretário de Estado da Cultura não passou à história mesmo a de “h” pequeno. Fui seu subordinado, lá tive de me demitir ao fim de uns meses porque a criatura ziguezagueava de tolice em tolice, de medida desastrosa em medida desastrosa, de desconhecimento em desconhecimento. A historieta dos violinos de Chopin é apenas uma anedota. Foi ainda pior do que os antecessores e esses, quase todos, não foram melhores dos que nos reinados de Sócrates e Passos Coelho têm evidenciado a sua ignorância e incapacidade neste campo da cultura, sempre fértil em intriga, despesismo, amiguismo e burrice supina. 

Como Primeiro Ministro foi um terramoto. Nada há que louvar naqueles escassos meses em que cavalgou as ondas alterosas do poder. Até Cavaco lhe tirou a toalha. Jorge Sampaio, com um atraso de meses devolveu-o à “peluda” onde se tem passeado até ao actual cargo de Provedor da Santa Casa da Misericórdia. Dizem-me que, sem que devam deitar foguetes, lá vai cumprindo a tarefa. Se assim é, será a primeira vez em que a balança do s elogios e das críticas pende para o primeiro lado. Já era tempo...

Todavia, deste magro (e simpático, quando-même) apanhado biográfico da personagem nada fica que permita vê-lo em Belém. Nada!

Claro que o país pode endoidecer, que os cidadãos se tornem de tal modo cegos que precisem de loucos para os dirigir, que a memória colectiva entre num sono profundo da razão de tal modo que daí nasçam monstros e que perante o actual desfile de nulidades que se apresentam como presidenciáveis, haja quem, por troça grosseira prefira como Sansão morrer nos escombros votando Santana.

Já se viu pior e nem por isso a pátria se afundou.

Porém, Santana, o que não diz “nunca” ao cargo, é, de facto, uma chalaça. Ou, apenas, um sinal de que o Alzheimer tomou conta de nós todos.

 

*  Shakespeare, (não vá alguém pensar que a frase é de Churchill) Rei Lear, IV Acto, cena 1ª, fala de Gloucester.

Au bonheur des Dames 355

d'oliveira, 15.03.14

Passou mais um “Dia da Mulher”. Para mal dos meus (muitos e graves) pecados fui a uma exposição comemorativa da efeméride onde uma grande amiga participava.  Quando me preparava para dar uma volta à sala para apreciar as peças expostas, eis que uma criatura qualquer coisa Miranda entendeu discursar. O longo monólogo a que ela chamava conversa foi um anti-dia da mulher, da história e da inteligência. De facto a palestrante começou por afirmar que o 8 de Março celebrava uma manifestaçãoo de sufragistas quando, na verdade, recorda uma heroica greve de operárias têxteis de Nova York.  Depois, ao fazer a revista das mulheres artistas de Portugal esqueceu todas desde Josefa de Óbidos a Vieira da Silva, Menez ou Paula Rego (só para citr estas mais conhecidas) para se centrar numas desconhecidas escultoras em granito e mármore que, pelos vistos seriam suas conhecidas. Na literatura deixou de parte todas desde a Marquesa de Alorna até às extraordinárias Isabel da Nobrega, Mª Judite de Carvalho, Agustina Bessa-Luís, Mª Velho da Costa, Irene Lisboa (e mais duas dúzias de outras escritoras de mérito) para referir apenas Sofia de Melo Breyner. Da ciência nem falou. E por aí fora. Na política caiu em referir “uma mulher que votara durante a 1ª República” esquecendo-se que a drª Beatriz Ângelo votou apoiada no facto de ser chefe de família (era viúva e tinha os necessários rendimentos) voto esse que foi anulado solenemente em sede legislativa. De facto, mas a senhora Miranda desconhece, o voto feminino  foi reconhecido já nos tempos de Salazar que chegou ao ponto de mandar eleger deputadas (e mesmo assim Portugal precedeu vários países democráticos europeus!) apostando que o voto feminino era maioritariamente conservador. Como se verificou. 

Durante três sufocantes quartos de hora a oradora desfiou toda uma série de inanidades e incongruências chegando mesmo a propagandear a sua vaga docência no que se supõe ser uma vaga universidade, dessas de segunda via,  tudo misturado a uma lamentação pelo poder  masculino, mesmo se, sic, não haja homem “capaz de usar sapatos com saltos de 15 centímetros”, prova de que as mulheres actuais são também aí superiores...

A triste senhora Miranda bem poderia ter recordado a aturdida plateia deste facto simples: é nas comunidades onde as religiões do Livro prosperam que a situação da mulher radica algumas das suas mais exemplares limitações. Judeus, Maometanos e Cristãos encontram na Bíblia ou no Corão razões fundamentais para excluir a mulher quer da praça quer da direcção do templo. A mulher está boa para limpar os locais sagrados, para acender as velas, para fazer passar a caixa das esmolas mas nunca para oficiar e declarar ou comentar o Livro e a mensagem divina. No caso do cristianismo, a ascensão da Maria significa a queda de Eva. De Maria que no Evangelho de Mateus tem direito a dezasseis versículos nos cerca de mil e setenta que escreveu! De Maria que, segundo um "padre da Igreja foi virgem antes, durante e depois do parto". Ou seja, a Mulher, desaparece e a Mãe de Deus nasce. A virgindade passa a valor supremo e o mulherio que dá à luz é cristãmente inferior e representa "a verdadeira porta aberta ao diabo" (Tertuliano).

As senhoras Mirandas deste mundo esquecem muitas vezes, quase sempre, que a luta pelos mais que legítimos direitos da mulheres passa, por exemplo, pela imposição aos partidos em que militam e votam responsabilidades e percentagens que hoje não passam de miragens. Desde o BE ao CDS passando por mrppês e similares. E se nesse combate cabem homens muito mais e, com muito maior legitimidade, cabem mulheres. Se elas não se mexerem ou mexerem pouco tudo continuará na mesma. E nessa luta, fácil é de ver que a maioria dos homens se empenha pouco, quase nada, molemente. Ninguém cospe na sopa que come...  

As leitoras que fazem o favor de acompanhar estas páginas sabem quanto tenho escrito sobre este tema mormente sobre a imensa cobardia que é a violência de género. Que prospera, ao arrepio de tudo, neste país: ainda ontem, um desvairado que estava proibido de se aproximar da ex-namorada e por isso até já usava pulseira electrónica, tentou assassiná-la a tiro. Por milgre não lhe acertou e, felizmente já foi caçado e está em prisão preventiva. Até quando? 

As Mirandas que por aí circulam, de tão tontas e ignorantes, causam à causa feminina quase tantos problemas quanto os canalhas que se recusam a ver nas ex-companheiras um ser humano. 

 

* Já agora: não é apenas a srª Miranda que se engana wuanto à história do Dia da Mulher. Na wikipédia alguém defende que este tem origem na ex- URSS. Ou de como a paixão militante dá tiros no próprio pé. 

 

** na gravura: imagem que me juram ser da famosa greve das operárias têxteis de Nova Iork.  

 

 

Diário Político 195

mcr, 15.03.14

No Carnaval ninguém leva a mal....

 

 

1 O dr Rebelo de Sousa, perorante dominical tem, por vezes, deslizes, logo ele que é (a sério!) um homem inteligente.

Então não anda a tentar convencer o pagode que só por mero acaso é que foi ao Coliseu. Como quem diz: “eu até ia a casa do brigadeiro Chagas (sempre "esse homem fatal"...) jogar o voltarete com uns cónegos da Sé e a Dona Patrocínio. Todavia, um telefonema a desmarcar a soirée fez-me pensar numa alternativa e, depois, de muito divagar, lembrei-me do Congresso e disse, vamos até lá animar a malta e dar um abraço ao Passos que, tudo visto, é um compincha estimável...”

Esta maviosa versão, que o ilustre Professor tem repetido onde quer que vá e apanhe um microfone a jeito, será boa para o público do Coliseu, para as criancinhas das escolas pré-primárias e alguma gente distraída. Mas só.

Por muitas que sejam as qualidades (e são muitas, imensas) de MRS ninguém de bom senso crê que aquilo sucedeu assim, que o discurso que fez foi apenas um vago improviso nunca antes pensado, um mero par de ideias e de anedotas que, repentinamente, lhe assaltaram a mioleira sem que houvesse constância de qualquer preparação anterior. MRS é assim: um espontâneo  brilhante em qualquer hora, qualquer ocasião, quaisquer públicos. 

A fria realidade há de ter sido outra, muito outra. MRS resolveu ir ao congresso muito antes deste acontecer, meditou seriamente no que iria dizer, relembrou todos estes meses de alfinetadas no Governo e em Passos, para não ir mais longe, preparou uma espécie de defesa dos críticos menos críticos e, fez contas à sua putativa proto-candidatura a Presidente da República.

Nisto tudo nada há de repreensível, excepto a tentativa de deitar areia para os olhos dos ouvintes, tele-espectadores e congressistas.

Ah, esquecia-me daquela longa reportagem em que MRS e Passos Coelhos, lado a lado, como bons amigo trocavam sorrisos e confidências. Enternecedor!

2 O congresso, ou lá como lhe chamam, do PPD/PSD teve outros momentos de terna comoção, o melhor dos quais terá sido a ressurreição de Relvas. Passos foi ao túmulo onde a criatura se acoitava escondida da luz do dia, tal qual um vampiro, e com um gesto enérgico e desafiante recolocou-a frente à crua luz dos projectores. O resultado foi o que se viu: uma desfeita na eleição para o Conselho Nacional. Amigos meus juram que Passos nunca abandona um amigo. Eu creio que Passos nunca perde a hipótese de dar um salto para a fogueira. Mesmo supondo que entre ele e Relvas há uma amizade à prova de obus, sempre direi que competiria ao segundo, recusar tanta honra e tanta exposição. Mas n\ao. São feitos da mesma farinha e a vaga suspeita de que anda por ali uma réstia de poder perde-os, treslouca-os, fascina-os...

 

3 Quem também anda fascinado não se sabe bem com quê é o eterno dr Seguro. Ouvi-lo é um exercício doloroso, muito próprio do período quaresmal que começa. Um castigo para a carne e sobretudo para a inteligência. Às vezes, pergunto-me se Seguro é assim tão mau ou se aquela gentinha de que se rodeia contribui em larga escala para as tolices que o homenzinho debita sempre que tem (também ele!) um microfone ao alcance.

A última descoberta destas luminárias é a da exigência de um estudo benefício-custo para o futuro programa de grandes obras públicas. Desconheço se o Governo fez o trabalho de casa e admito que possa ter-se esquecido desse antipático pormenor. A eficácia destas criaturas deve ser idêntica à cultura (oh palavrão!) que manifestam. ou melhor: que, aliás, não manifestam.

Recordaria, porém, que durante o mandato de Sócrates ou também não se deram a tão execrável tarefa ou então não ligaram nenhuma aos eventuais resultados de tal exercício. As auto-estradas onde nunca circulará metade das viaturas necessárias para justifica-las (eu nem digo para as pagar...), a insensatez do TVG (aliás, dos tgvs) a história sinistra do novo aeroporto bastariam para mostrar qual a importância que aquele PS (em que Seguro fazia o papel de surdo-mudo piedoso) dava a estas minudências. No reino do cavalheiro Sócrates reinava uma ideia tola do que era o keynesianismo num país sem independência aduaneira e sem moeda própria. O país a afundar-se em dívida e aquelas luminárias a clamarem que era preciso mais obra pública, mesmo se inútil. Pelos vistos, as coisas não mudaram muito pois esse slogan do Estado criar emprego continua a ser proclamado. Nisto o PS nunca se diferenciou do PCP ou do Bloco que também eles entendem que muito betão, muito alcatrão, salários em alta trarão do país do abismo em suavemente naufraga. Tudo isto, note-se, sem sair do euro. Alguns, poucos, apostam também nessa saída mesmo se as consequências disso pareçam ser ainda piores do que a permanência.

4 Umas sumidades já um pouco cediças entenderam manifestar por escrito uma vaga proposta de reestruturação da dívida. Eu, pecador me confesso, sei pouco do assunto, mas alguns princípios inculcados pelos meus desde a mais tenra idade obrigam-me a pensar que as dívidas devem ser pagas tão pontualmente quanto possível para, num caso de necessidade, se poder se recorrer aos habituais credores que já uma vez nos safaram.  E recordo com algum constrangimento um ou dois devedores que nunca me pagaram o que generosamente lhes emprestei. Somas altas, bastante altas, lembrança de tempos em que as mnhas economias estavam num excelente patamar. Fiquei sem o dinheiro e sem os amigos, como de costume. E tudo isso depois de juras tremendas de pagamento atempado. Um até se lembrou de me propor que levantasse uns dinheiros (muitos) em certificados de aforro propondo-me pagar a mesma coisa. Era, devo dizê-lo, todo o dinheiro que tinha poupado. Anos mais tarde, outrem por ele, pagou o débito, sem os juros claro!, e a criatura ainda se zangou comigo.  Mas aí, pelo menos, houve paga, se bem que altamente diminuída pela inflação que andava nos dois dígitos. Um segundo devedor nem o emprestado pagou. E não me conhece...

Tudo isto para lembrar aos sábios manifestantes (mais de setenta) que se a coisa é assim entre “amigos”, como é que não será entre estranhos.

Suponha-se, porém, que nesta restruturação, não se propõe redução de capital a pagar.  Mas não se aposta apenas na “boa vontade” dos estrangeiros sejam eles a Europa, o BCE ou o FMI. Esquecem-se, também os credores nacionais (Banca, privados, Segurança Social) que obviamente perderiam. Se as coisas por cá já não vão bem seja em crédito bancário, investimento, consumo, criação de emprego, pagamento de subsídios de emprego e doença bem como de reformas, como é que esta audaciosa medida proposta por luminárias tão extraordinárias como Freitas do Amaral ou Louçã ou Ferreira Leite, cairia na cidadania, nos pacóvios que ainda acreditam na palavra do Estado Português?

Depois, a coisa complica-se um pouco mais porquanto os abaixo-assinantes  insistem numa espécie de boa vontade europeia que nunca se viu, que não se espera (bem pelo contrário...) e que seguramente não está na expectativa de nenhum dos “Estados ricos” da Europa.

Sempre me surpreenderam os planos da pólvora com que políticos desinspirados mas atrevidos contam com o ovo no rabo da galinha, com sapatos de defunto, com o milagre das rosas ou, finalmente, com o regresso triunfante de D Sebastião vindo dos nevoeiros medonhos em que tem vegetado estes últimos quinhentos anos.

Em Portugal os planos mais alucinados, mormente de obras públicas, fazem-se esperando retornos extraordinários que nunca, mas nunca, ocorreram. Foi assim com a Expo de Lisboa onde até se fretaram navios para os visitantes e basbaque que acorreriam em número avassalador (mas não vieram), com o “Porto capital da cultura” que se saldou num medonho deficit, ou com alguns elefantes brancos no antigo regime ue também não deram os frutos esperados (por exemplo o Cachão, se alguém se lembra desse disparate...

Em Portugal pobrete mas alegrete há sempre alguém a jurar por lucros miraculos que ao fim de um período sempre breve se traduzem em mais um desastre financeiro e económico (como o desparrame de dinheirama que se gastou com uma dezena de estádios de futebol onde avulta o naufrágio do de Braga que derrapou para três vezes mais! Três vezes mais!!! Quem o pagará? E não falo dos de Aveiro, Faro Coimbra por exemplo que nunca terão um décimo dos espectadores para que foram construídos nem se pagarão em mil anos.

Estas seis dúzias de profetas económico-financeiros já por aí rondam há bastante tempo. Da sua acção pregressa pouco ou nada se aproveita, se é que as pessoas sequer se recordam da infausta passagem deles pela política nacional.

Mas há mais e pior: a sua ridícula exposição tem um efeito colateral devastador. Dão ao triste Passos Coelho mais uma oportunidade de brilhar e de, eventualmente, provar que eles não terão razão. Isto para não referir o efeito (se efeito houver) que esta polémica, inútil cá dentro, poderá ter lá fora. Se é que alguém “lá fora” leva estes cavalheiros a sério, coisa que, pelo que tenho tentado ver nos noticiários estrangeiros,  parece duvidosa. Como se lá soubessem que isto é apenas uma fogachada de artifício para português ver.

 

d'Oliveira fecit 

...

d'oliveira, 05.03.14

O carteiro não voltará a tocar

 

Nem uma, nem duas vezes. Nunca mais. O Carteiro, o nosso Carteiro, um dos fundadores deste blog não resistiu ap ataque que o atingiu. Morre novo, cheio de projectos e de amigos. 

Advogado talentoso, jornalista de mérito, Joaquim Manuel Coutinho Ribeiro, era um excelente amigo, camarada de blog, espirituoso e bom conversador. Escrevia bem, muito bem e há por aqui imensas amostras desse seu dom.

Agora, já não é mais do que uma saudade. 

Tive a sorte de o ter tido como vizinho por um breve espaço de tempo. Muito nos rimos nessas manhãs em que nos encontrávamos numa esplanada e eu lhe criticava os cigarrinhos em que ele se pendurava depois do café. Morreu ontem ao fim da tarde e amanhã será enterrado na terra que o viu nascer.

Aos filhos e ao seu cúmplice e grande amigo JCP bem como aos camaradas de blog (e aos leitores, porque não?) um forte abraço do mcr