Os vistos gold...da nossa vergonha
Os vistos gold ocuparam as primeiras páginas nos últimos dias, na sequência das detenções efectuadas entre altos quadros do Estado. Portugal seguiu o exemplo de outros países e, mergulhado numa séria crise financeira, olhou para este instrumento como forma de amealhar uns cobres - nos últimos dois anos foram concedidas quase mil e oitocentas autorizações de residência em troca de quase mil e cem milhões de euros.
Uma análise mais fina deste fluxo permite ver que foram cidadãos chineses que estiveram envolvidos em mais de 80% das autorizações de residência. E que 95% das situações estão relacionadas com a aquisição de bens imóveis. Só houve três vistos concedidos a investidores que criaram pelo menos dez postos de trabalho. Elucidativo!
É evidente, portanto, que o recurso aos vistos gold tem sido procurado sobretudo por milionários chineses à procura de autorização de residência em Portugal para poderem circular livremente na Europa. Nada mais lhes importa e não têm qualquer perspectiva de investimento reprodutivo em Portugal. Estou convicto que muitos deles nunca vão sequer abrir as portas das casas que compraram. Pelo caminho, não olham a meios para atingirem os fins a que se propõem, como se vê no processo que atingiu áreas vitais e altos quadros do Estado. É um retrato triste do país, como bem sublinhou no "Público" Benedita Queiroz, investigadora em Direito Europeu e filha de um amigo de longa data.
O processo que conduziu às detenções acabou por chamuscar o Governo e levou à demissão do ministro Miguel Macedo, que não tinha outra saída. Aquilo que se vai conhecendo do processo em investigação e das contradições da ministra da Justiça acerca da nomeação de um dos arguidos para presidente do Instituto dos Registos e do Notariado só pode deixar-nos preocupados com a promiscuidade que atravessa as mais altas instâncias da administração central.