Temos bem presente o que tem sido a calamidade nos serviços de saúde. Como era expectável, quando começaram a reduzir serviços, a despedir pessoal, a não renovar contratos, a impedir o acesso dos recém-licenciados à carreira médica e afins, as consequências acabariam por aparecer e apareceram, com custos de vidas, inclusive.
Na educação, na segurança social, as medidas foram as mesmas e os resultados catastróficos, mesmo que não tão mediatizados. Mas se formos para outros serviços públicos, com grande importância no dia-a-dia dos cidadãos, apesar de mais afastados dos holofotes da comunicação social, encontramos o mesmo desastre.
Por exemplo, o governo acabou com a Direcção Geral de Viação. Meteu tudo no IMT, resultado, dias, semanas ou anos de espera. Quem chegar às 9H30 a um serviço do IMT encontra afixadas umas folhas A4 (que há muito que não são removidas), com estes dizeres:
“AVISO
INFORMA-SE QUE DEVIDO À GRANDE AFLUÊNCIA DE PÚBLICO O SECTOR DE ATENDIMENTO DE CONDUTORES, o mesmo esgotou a capacidade de atendimento.”
O tempo de espera pela obtenção da renovação de uma carta de condução pode ultrapassar ano e meio. - “Para quando preveem a entrega?”. - Estão agora a emitir as de Janeiro de dois mil e catorze”.
É notável o empenho e a paciência dos profissionais daqueles serviços, que acumulam doses acrescidas de trabalho e ainda têm de aturar com o azedume, também compreensível, de quem ali vai e tem de voltar nos dias seguintes para tentar ser atendido.
Os Tribunais também não escaparam à grande reforma do Estado, que consistiu em despedir e não substituir quem se aposentou. A situação deve ser tão grave que a Procuradora-geral distrital do Porto diz que a "carência de funcionários em todas as comarcas do Distrito Judicial de Porto é verdadeiramente dramática", de tal modo que em alguns núcleos, só o serviço urgente tem resposta. É a falência do sistema de justiça.
A isto, a Ministra responde com a responsabilização dos tribunais por falta de funcionários porque, diz, cabe aos órgãos de gestão de comarca deslocar funcionários de acordo com as necessidades dos tribunais.
Ou seja, segundo a Ministra, a responsabilidade não é de quem tomou a decisão política de restringir o quadro de pessoal da justiça. A responsabilidade, no caso em concreto, é da Procuradora-geral distrital do Porto que não foi capaz de deslocar o pessoal que falta em alguns núcleos para outros núcleos também carentes de pessoal.
É notável a capacidade da Senhora Ministra, de todo o governo, em não assumir responsabilidades. Capacidade só comparável à que têm revelado no desmantelamento dos serviços públicos.