Au bonheur des dames 406
Stalin está vivo no coraçãozinho da srª Medeiros
(ou a mãe, o filho e o espírito santo beatificado)
Estava a bela Inês em seu desassossego desesperada por aparecer nos noticiários televisivos. Vai daí entendeu cozinhar um acordo à custa dos meios noticiosos de modo a permitir excluir alguns partidos menores e dar uma gigantesca cobertura eleitoral a outros. Aos do costume!
Tudo isto ao que parece, dadas as declarações de Costa, Coelho e Portas, foi preparado em encontros secretos entre um par de cavalheiros e damas deputados, sempre sob iniciativa da senhora actriz e realizadora Inês de Medeiros a quem devemos obras primas que fariam Oliveira regressar da tumba.
No mesmo momento em que na televisão defendia a bondade do seu projecto, no que parece ter sido acompanhada por um cavalheiro do PPD infeliz candidato derrotado à câmara de Gaia (do que os munícipes desta simpática Vila Nova se livraram).
Depois de jurarem, como Goebels jurava nos bons tempos, que em nada a liberdade de informação é tocada, estes duas diligentes criaturas foram traídas pelos dirigentes já referidos.
Entretanto, jornais, rádios e televisões que raras vezes são capazes de se entender mesmo quanto ao seu desentendimento, já avisaram que não darão cobertura ao que eles, desta feita com razão, consideram um dirigismo digno da política de informação do antigo regime.
O mais extraordinário é que a imaginação de Medeiros e colegas até previa uma comissão (de censura?) mista onde cabiam dois órgãos absolutamente distintos, com fins distintos, recrutados em meios distintos ,excepção feita duma delirante teoria punitiva que multaria os pecadores em quantias que poderiam mesmo pôr em causa a existência atribulada da maioria dos jornais.
O que me surpreende é que a senhora Medeiros e o colega ppd (e o outro mais discreto do CDS) que deu a cara, não tendo idade para se lembrarem do que era isto há quarenta anos, tem entretanto os aninhos suficientes para poder estudar o que se passou, o que era a realidade nacional no 24 de Abril de 1974. Não que fossem crescidinhos os suficiente para demonstrarem na rua a sua ilimitada fé na democracia. E está até por provar alguma eventual condenação aos princípios informativos do Estado Novo. Mas suponha-se que ela e eles são verdadeiros apóstolos da mais pura democracia, da mais lídima da mais abnegada. Onde é que as criaturas foram buscar estas ideias tão constrangentes e, sobretudo, tão idiotas? Em principio, deveríamos estar perante pessoas com um mínimo de inteligência e quanto baste de bom senso. Como é que entenderam que esta tratantada passaria não só pelo crivo dos cidadãos comuns mas também pelo dos meios de comunicação?
De que país mental vieram? Que confiança poderemos nós ter na razoabilidade das suas futuras decisões mesmo sabendo que não decidem sozinhos? Alguns comentadores advertem que esta chorrada de asneiras não pode apenas ser imputada a este trio e apontam o dedo justiceiro aos três partidos do “arco da governação”. Não sendo isto uma certeza (Portugal é fértil em prodígios deste tipo) é pelo menos uma hipótese. Claro que os excluídos (PCP e arredores melodramáticos) não primam pela boa vontade em relação aos media. Nunca primaram historicamente, nunca fizeram da liberdade de opinião cidadã ou informativa (especialmente desta, convenhamos) uma pedra de toque da sua fidelidade ao que consideram liberdade. Para quem tem alguma dúvida bastará lembrar a cinzenta imprensa que vegetava amortalhada na verdade oficial desde o Pravda até ao Gramma, passando pelo Renmin Ribao. Isto sem falar nos inúmeros jornais que floresceram depois do 25 de Abril e que apenas veiculavam as palavras de ordem e a verdade a que (sem brincar) alguém “tinha direito”.
Em Portugal, o poder mostrou-se sempre incomodado com os jornais. Proibiam-se desde os saudosos tempos do Senhor D Miguel os que se atreviam a duvidar. A monarquia liberal teve os seus momentos de zanga mas depois a 1ª República levou a coisa a limites insuspeitos. Não mandava às redacções um cabo de esquadra mas soltava contra os jornais adversos mas usava um estratagema mais simples e mais eficaz: atiçava contra os adversários multidões ululantes de “formiga branca” que assaltavam os jornais, espancavam os jornalistas e “empastelavam” os tipos.
Mais eficaz e menos ruidoso, o dr Salazar criou um sistema de censura prévia que prevenia silenciosamente os atropelos à verdade a que, naqueles tempos, se tinha direito. E já agora proibiu a artimanha de deixar na página corrida partes em branco como até então se fizera. Desde modo a censura ficou ainda mais velada e discreta.
Todavia, os nossos três mosqueteiros fazendo tábua rasa dessa longa história, entenderam criar um simples mecanismo que condicionaria os media a uma espécie de roteiro previamente anunciado e autorizado que produziria não notícias mas tão só uma espécie de caldeirada eleitoral sensaborona porque previamente conhecida e cozinhada que não poderia variar sob pena de multa gorda e justiceira. Tudo isto apenas em épocas (pré e) eleitorais. Para já! Depois, com o andar da carruagem,
logo se veria...
Porém, há mais alguma coisa que me surpreende: eu, se fosse tão violenta e feiamente desmentido pelo meu partido, depois de ter dado a cara por algo que me encomendaram, ó seria capaz de uma atitude: mandar aquela ingrata gente, à mãezinha que a pôs, bater a porta e sair sem sequer cuidar de fechar a luz.
Demitiram-se estes três mãe e pais da pátria? Mostraram pelo menos a sua indignação por se verem de repente nus no meio da praça pública, desapoiados e sozinhos?
Ouviu-se-lhes pelo menos um grito, um gemido mesmo débil, uma ténue censura?
Nada!
Continuam nos seus postos como se aquilo não fosse com eles. Assobiam para o lado como não se dessem por achados.
Isto diz muito sobre esta gente. Demais!