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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

au bonheur des dames 409

d'oliveira, 30.06.15

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Reescrever, diz ele

Leio com escassa surpresa que o novel director do Teatro D Maria vai apresentar “três tragédias reescritas” (sic) a saber Ifigénia, Agamémnon e Electra, “um projecto completamente louco na irresponsabilidade mas que corresponde à urgência que quero que o meu próprio trabalho artístico possa emprestar à criação artística no TNDMII” (sic).

Faço parte do pequeníssimo grupo de portugueses que não só leu mas viu representadas estas peças. Aposto que não há mil compatriotas que tenham tido a mesma enorme felicidade.

Ora, é em nome dos restantes portugueses que quero aqui protestar contra esta (sic) “irresponsabilidade” do jovem director do D Maria.

 

E isso porque, antes de reescrever (sabe-se lá com que talento ou com que infelicidade) as grandes obras conviria mostrá-las ao público na sua integral singeleza e complexidade. Exactamente como se deveria mostrar Shakespeare tal e qual e não em versões modernaças, inibidoras, redutoras e escandalosamente medíocres.

O TNDMII é pago pelos impostos de todos os portugueses e deveria brindar os seus mecenas com a apresentação de peças do teatro dito de repertório e obviamente com as últimas novidades da escrita teatral local e mundial. Uma coisa não impede a outra.

A estulta ideia de que é preciso reescrever os grandes clássicos significa rigorosamente mesmo que traduzir os Lusíadas para quadras populares ou converter as comédias de Gil Vicente em revistas para o Parque Mayer.

Que o jovem Tiago Rodrigues se ache ungido pelo convite do Secretário de Estado (que ele afirma ter criticado e de quem se diz adversário político! – parece que o dr Jorge Barreto Xavier é um esforçado democrata já que convida pessoas tão divergentes artística e politicamente dele...- ) e pela urgência de (outra vez!) revolucionar o D Maria, um teatro com fama de conservador, com um público idem, faça estas arrebatadoras declarações é normal. Ao longo destes muitos e desolados anos que levo sempre ouvi os directores do Teatro afirmarem o mesmo, prometerem o mesmo e conduzir o pobre e honrado edifício para o mar encapelado da palha onde naufragem sem glória nem esplendor os vagos projectos artísticos de que fazem gala e que, aliás não passam de mais um estertor onde a ignorância e a auto estima se sobrepõem ao talento e à vontade de servir um público que os paga e atura.

Daqui a um par de meses, máxime um ano se verá o destino desta farronca.

Até lá paciência!

E Sófocles, Eurípedes e Ésquilo que se cuidem...

 

Na gravura: Epidauro, o teatro

 

Estes dias que passam 328

d'oliveira, 08.06.15

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A “Casa”

(a propósito das celebrações do cinquentenário do encerramento da Casa dos Estudantes do Império)

A “Casa dos Estudantes do Império” nasceu durante a guerra (a 2ª) e teria por objectivo ser um alfobre de dirigentes do dito Império que juntassem à sua origem colonial, à sua cor (negra ou a tender para isso), um forte enraizamento na pátria comum através da educação universitária na “Metrópole”. O facto de juntar dentro dos mesmos muros rapazes (e algumas raparigas) vindas dos quatro cantos do mundo denunciava também a ideia (aliás sensata) de criar um alto funcionalismo colonial apto a todos os terrenos devido a conhecimentos adquiridos no convívio universitário.

Convirá pois salientar este facto para repudiar uma insidiosa ideia de que, desde o começo, a “Casa” (ou a “CEI” como também era chamada) era um ninho de nacionalistas africanos. Não era e não foi durante algum tempo. Depois, da dobra da década e dos famosos julgamentos do MUD Juvenil começou a tornar-se aparente que entre os estudantes vindos de África (sobretudo daí e sobretudo de Angola) começava a ser visível um acrescido interesse pela política anti-colonial devido sobretudo ao conhecimento do que se passava nas colónias inglesas e francesas. Mais das francesas porquanto o francês era a língua estrangeira mais conhecida e a política africana da França aquela a que mais parecenças (honni soit...) poderia ter com a portuguesa. Lembremos, apenas e para não ir mais longe, que Senghor, pai da independência do Senegal e porta-voz da negritude, foi deputado francês.

Entendeu alguém que este ano se poderia celebrar não o nascimento da “Casa” mas o cinquentenário do seu forçado encerramento. As datas redondas atraem as pessoas mesmo se esta não seja particularmente relevante.

De facto, como se verá, o encerramento pelas autoridades da CEI foi um tolo erro político e só fortaleceu quem era pro-independentista na área dos frequentadores da Casa.

De facto, se é verdade que a partir dos meados de cinquenta (altura em que, aliás, foi extinta a sucursal coimbrã da CEI, já por alegados e seguros motivos políticos) começou a ser evidente que havia fortes movimentações políticas entre os estudantes das colónias (e sempre mais entre os angolanos do que nos restantes) que culminaram na famosa “fuga dos cem” ocorrida nos primeiros anos de sessenta, quando a polícia propôs o encerramento da CEI já esta tinha cumprido no essencial o seu papel de polarizadora dos independentismos e exportado para as restantes associações (AE) de estudantes todo o argumentário anti-colonial. Digamos que a Casa tinha cumprido o seu papel estratégico e que a partir desse momento a sua existência em Lisboa poderia ser, até, uma prova de que o todo “Metrópole-Ultramar” se mantinha intocável (ou quase) justamente porque a Casa que fora o berço da revolta dos universitários das colónias continuava a existir assim se provando que os dissidentes e fugitivos eram apenas um dos vários grupos de estudantes africanos existentes no território nacional.

Verdade seja que, a partir da criação de instituições universitárias em Angola e Moçambique (1962-1963) começou a reduzir-se a vinda de estudantes ultramarinos para a “metrópole”. E começou, pois, a definhar a corrente de estudantes que era a razão de ser da “Casa”.

A saída brusca dos chamados “cem estudantes” foi preparada por uma organização de origem protestante (CIMADE) que recebeu para o efeito uma especial ajuda de organizações protestantes americanas foi levada a cabo com a ajuda (sempre cuidadosamente “esquecida”) de especialistas da CIA que se movimentavam com grande à vontade em Espanha e na fronteira franco-espanhola. A PIDE bem que se fartou de protestar por (mais) esta traição dos americanos. Deve recordar-se que muitos (mas não todos) dos estudantes africanos que “deram o salto” eram protestantes educados nas missões protestantes das colónias portuguesas muitas delas ajudadas financeiramente pelas igrejas evangélicas americanas. E também este facto tem sido “esquecido” por muito “historiador” do Império que porventura achará que a educação protestante de tantos líderes africanos das colónias portuguesas (a começar por Mondlane, o verdadeiro fundador da frente unida moçambicana que sibstituiu vantajosamente a atomizada lista de pequenas formações nacionalistas mais ou menos inócuas para o poder colonial; ou Daniel Chipenda, peses embora o que depois fez, que foi de facto e durante muito tempo o único chefe militar do MPLA a averbar alguns êxitos no terreno) é um mero pormenor.

Todavia, como jás e disse, foi o facto de haver um forte núcleo de estudantes evangélicos e de, por isso, haver ligações internacionais à rede poderosa de organizações protestantes com forte implantação nos meios anti-coloniais norte-americanos que tornou a famosa fuga num momento impar da propaganda anti-colonial.

À dissolução policial da “Casa” não é estranha a publicação de “Luuanda” que aliás se inseria numa série editorial (felizmente agora reeditada, sob os auspícios da comissão que coordenou as celebrações) onde foram dados a conhecer vários poetas africanos e vários líderes políticos das colónias entre eles Agostinho Neto e Viriato da Cruz que passaram à posteridade não como autores mascomo personagens decisivas do movimento emancipador. Só por esta iniciativa valeu a pena haver celebrações.

Porém, insisto no que acima disse. No momento em que um Governo desnorteado e uma polícia frustrada decidem acabar com a “Casa” já esta fervia a lume muito brando. A saída de muitos militantes e a concentração de estudantes nas universidades angolana e moçambicana faziam temer o pior para a Casa: uma morte lenta e inglória ou a continuação de um organismo onde a onda “nacional e imperial” ainda poderiam ter uma palavra a dizer.

O escandaloso encerramento da “Casa” fê-la sobreviver como mito e prova provada de que Portugal estava condenado a perder tudo em que apostara.

 

A volta a Portugal de António Costa

José Carlos Pereira, 01.06.15

António Costa visitou Marco de Canaveses no fim-de-semana passado, para um encontro com militantes e simpatizantes e para visitar o Festival do Anho Assado, na sequência do périplo que tem feito pelo Portugal profundo e que há-de continuar até às próximas eleições legislativas.

A convite da estrutura local do PS acompanhei a visita e pude testemunhar palavras confiantes, serenas e determinadas, de quem pretende ajudar a construir um país melhor, mas não quer ficar prisioneiro de promessas fáceis que depois não pode cumprir. É visível que o discurso de António Costa está a fazer o seu caminho e tem congregado o apoio e o interesse de personalidades de diversos quadrantes. Nesse encontro em Marco de Canaveses, por exemplo, pude ver uma histórica activista e autarca local da CDU, como também vi um ex-candidato a vereador pelo PSD.

A caminhada de António Costa ainda vai no adro, as suas propostas estão aí para serem discutidas e o programa eleitoral sairá em definitivo da convenção do próximo fim-de-semana. Haverá tiros que merecem correcção, certamente, mas, como tive oportunidade de lhe dizer no sábado, o apelo agora vai para a determinação e a coragem de meter mãos à obra para ganhar as legislativas e dar um impulso novo a Portugal.

Jean-Claude Juncker on the rocks

José Carlos Pereira, 01.06.15

Henrique Monteiro escreveu esta semana no "Expresso" sobre o comportamento excêntrico do presidente da Comissão Europeia em Riga, aquando da recente cimeira de chefes de Estado e de Governo, a propósito da forma como se referiu a Viktor Orbán, o "ditador" que lidera a Hungria.

Pois bem, Juncker revelou nessa ocasião toda a sua excentricidade, de tal modo que nos faz temer sobre a forma como grandes decisões na Europa são tomadas...à mesa. Só visto!

Convívio incursionista

José Carlos Pereira, 01.06.15

De modo a assinalar o 11º aniversário do Incursões, que se cumpriu em 18 de Maio, o núcleo mais assíduo de editores e colaboradores do blogue reuniu-se num agradável repasto na passada quinta-feira, à mesa do restaurante "A Margarida", em Leça da Palmeira. Tendo por companhia o excelente peixe de Matosinhos, a noite serviu para rever amigos e para discutir um pouco de tudo: política, justiça, religião, conflitos internacionais e o mais que houvesse.

Onze anos depois de ter sido criado, o Incursões continua a fazer o seu percurso, totalizando, desde que a contagem se iniciou, perto de 1.075.000 page views e 817.000 visitas.