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Incursões

Instância de Retemperação.

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“Que sentido faz o sentido de voto?”

José Carlos Pereira, 03.12.15

A revista E do “Expresso” desta semana traz um artigo muito interessante intitulado “Que sentido faz o sentido de voto?” (disponível online apenas para quem tiver código de acesso), da autoria de Raquel Albuquerque, que merece a pena ser lido com atenção e que procura reflectir sobre as variações de votos ocorridas nas últimas eleições legislativas.

O artigo analisa, por exemplo, os municípios com maior e menor percentagem de voto por partido ou as votações nos concelhos com as melhores e piores posições por indicador de desenvolvimento seleccionado, relacionando resultados eleitorais e indicadores. Os indicadores de desenvolvimento considerados foram as prestações de desemprego em percentagem da população, a variação da população entre 2011 e 2014, o índice de envelhecimento, o poder de compra e o número de pessoas a receber Rendimento Mínimo Garantido (RMG) e Rendimento Social de Inserção (RSI).

Para além da identidade partidária, do voto mais ou menos ideológico, da simpatia pelos líderes ou do efeito geracional, chamou-me particularmente a atenção algo que nem sequer foi enfatizado no artigo (por desconhecimento da região?): o verdadeiro microcosmo constituído em torno do Vale do Ave. Vizela e Felgueiras foram os únicos concelhos do país em que o conjunto PSD/CDS aumentou o número de votos em relação a 2011 e os municípios em que ocorreram as maiores quebras relativas do PS. Guimarães teve mesmo a maior quebra absoluta do PS. Em Guimarães, Fafe e Santo Tirso, o conjunto PSD/CDS ganhou as eleições pela primeira vez desde 2005.

E qual é a relação destes resultados com os indicadores acima enunciados? Pois bem, Vizela, Guimarães e Santo Tirso estão entre os cinco concelhos onde o indicador subsídio de desemprego melhorou mais, saindo dos dez piores concelhos do país (a que se pode acrescentar Famalicão, na mesma região). Vizela viu aumentar o ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem, deixando de estar entre os municípios onde se ganhava menos, teve o poder de compra a subir, a proporção da população a receber RMG e RSI a diminuir e a população aumentar. Já Guimarães registou a terceira maior subida do poder de compra, viu aumentar o ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem e diminuir a proporção da população a receber RMG e RSI, tendo no entanto uma das dez maiores perdas da população.

Nesta região em concreto, parece evidente que a melhoria de determinados indicadores sociais levou muitos eleitores a privilegiarem aquilo que os especialistas denominam de “voto económico”. Votaram em quem lhes pareceu que teve uma influência directa na melhoria das suas condições económico-sociais. Já sabemos que a leitura do país não foi a mesma e que, apesar de a coligação PSD/CDS ter vencido as eleições, o número de portugueses que votou contra a coligação suplantou em cerca de 730.000 o daqueles que votaram na coligação, considerando apenas o voto nos partidos com assento parlamentar. Creio, no entanto, que este exemplo do Vale do Ave mostra como uma análise fina do sentido que cada português dá ao seu voto é algo imprescindível para os principais partidos e agentes políticos, de modo a poderem interpretar os efeitos da relação directa que se estabelece entre o resultado da acção executiva e o voto dos cidadãos nas eleições legislativas.

Afinal sou ou não sou povo?

O meu olhar, 03.12.15

Paulo_Portas_in_23º_Congress_of_CDS-PP_4.jpg

 

Estou baralhada. Durante a discussão do programa do Governo ouvi, inúmeras vezes, os deputados do PP e do PSD afirmarem “ o povo votou em nós, para que fossemos governo” “ O povo não votou na maioria que suporta este governo” “o povo foi enganado porque não votou nesta maioria” … o tema foi trabalhado de todas as formas e feitios mas, na essência, atirava, a mim e aos 63% dos eleitores que não votaram na coligação de direita ( que agora já começa a fingir que está ao centro) para fora do “povo português”.

Ora eu sou tão povo como qualquer um dos eleitores que votaram na coligação de direita. Mais, farta de ouvir interpretar o meu voto eu digo claramente: votei PS para que governasse o PS e sempre sonhei que a esquerda se entendesse e trabalhasse para o mesmo fim. Por isso dou os parabéns a António Costa pela capacidade de negociação e pela paciência em se sujeitar a aturar o batalhão de cronistas e comentadores ao serviço do PP e do PSD; dou os parabéns ao PCP, Bloco de Esquerda e ao Verdes pela capacidade de colocar acima do que os separa aquilo que os une que é o interesse deste povo. Sim, deste povo do qual orgulhosamente faço parte.