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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

As eleições no FC Porto

José Carlos Pereira, 13.04.16

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Decorrem no próximo domingo as eleições para os órgãos sociais do FC Porto. Jorge Nuno Pinto da Costa recandidata-se ao seu 14º mandato e tem a eleição garantida pelo facto de liderar a única lista candidata. Aliás, Pinto da Costa apenas contou com um opositor ao longo destes anos, o médico e empresário Martins Soares, que disputou sem sucesso as eleições de 1988 e 1991. Curiosamente, alguns dos nomes que acompanharam Martins Soares rapidamente passaram a acérrimos apoiantes de Pinto da Costa…

Nunca votei nas eleições do FC Porto e ainda não sei se o farei no próximo domingo. Creio que também só por uma vez subscrevi a recandidatura de Pinto da Costa, contribuindo para a recolha de assinaturas levada a cabo pela patusca Comissão de Recandidatura de Pinto da Costa, que virou, ela própria, uma “instituição”, com patrocinador e tudo.

Entidades com as características dos grandes clubes de futebol, tal como sucede com outras instituições sem fins lucrativos, que contam com milhares de associados, não fomentam a participação activa nem procuram o contributo da generalidade dos sócios. Na realidade, acaba por não haver um verdadeiro escrutínio por parte dos membros dessas associações ou clubes, cuja estrutura se limita a cumprir os mínimos com as formais assembleias gerais ordinárias que reúnem escassas dezenas de participantes. A verdade é que estas entidades vivem voltadas sobre si próprias e sobre a agenda e os objectivos das suas estruturas dirigentes.

Já intervim em duas Assembleias Gerais do FC Porto e em ambos os casos as minhas interpelações ficaram sem resposta. Num caso, ainda no velhinho pavilhão Afonso Pinto de Magalhães, na sequência dos reparos colocados pelo Conselho Fiscal aquando do início da construção do modelo empresarial do clube. Recentemente, sobre uma alteração estatutária votada praticamente sem discussão e explicação aos sócios. Acabei por ser o único associado presente a não votar favoravelmente essa revisão dos estatutos.

Pinto da Costa apresenta-se a eleições num momento de insucesso desportivo e de evidentes dificuldades financeiras do FC Porto, numa época em que o cidadão comum está cada vez mais intolerante perante falhas de ética, apropriações indevidas de dinheiro e manifestações injustificadas de riqueza. E quando não se ganha, sobretudo no futebol, tudo vem ao de cima. Os adeptos até podem perdoar certos desvarios que enxovalham o clube, mas passam a cobrar tudo quando não se vence. Pinto da Costa sentiu pela primeira vez, no final do jogo com o Tondela, que a bancada do Dragão deixou de o reverenciar acriticamente, imputando-lhe responsabilidades directas pelo estado do clube.

As sucessivas más opções ao nível da gestão desportiva, as finanças periclitantes, as decisões estratégicas tomadas ao nível da SAD que não são escrutinadas pelo clube enquanto maior accionista, os negócios que envolvem a superestrutura e a empresa do filho do presidente – que, por razões éticas, devia estar impedido de negociar com o clube dirigido pelo pai – tudo isso contribui para que Pinto da Costa mereça a crítica aguda de muitos. Se o presidente saísse da redoma em que se encontra e assistisse anonimamente a um jogo nas bancadas do Dragão perceberia o sentimento que percorre os adeptos do clube.

Haveria melhor opção para liderar o clube no próximo mandato? Admito que não. Mas Pinto da Costa arrisca sair por uma porta pequena quando poderia ter saído pela porta reservada aos maiores dos grandes, já que é credor do crescimento extraordinário que o FC Porto registou nas últimas três décadas. Admito que Pinto da Costa não queira privilegiar um sucessor e não pretenda imiscuir-se numa escolha entre pares, mas devia fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para deixar o clube preparado para qualquer liderança futura, venha ela de dentro ou de fora da actual estrutura. Como também devia criar condições para que os estatutos do clube passassem a incorporar uma limitação de mandatos a todos os dirigentes eleitos, como forma de conter os desvios naturais em quem exerce o poder durante anos sem fim.

Espero que os dirigentes que me merecem todo o crédito nos órgãos sociais que vão ser eleitos no próximo domingo, e que escapam ao inner circle de Pinto da Costa, possam ajudar a arejar as ideias dominantes e a fazer vingar a visão do adepto comum, que sofre e vibra com os resultados, mas que pretende acima de tudo assegurar as bases de um clube sério, forte, perene, independente e insubstituível na região e no país.

diário político 207

mcr, 08.04.16

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Ódio velho não cansa*

Ou

17 anos é muito tempo

 

(declaração de interesses: sou amigo de Augusto Seabra desde 75/76. Cruzei-me com ele numa aventura política, o MES, e posteriormente fomo-nos encontrando e desencontrando em sessões de cinema, concertos, livrarias, idas ao teatro para não falar em bares onde se reinventava o mundo. Tenho-o por uma das pessoas mais cultas e mais honestas que conheço. Nunca vendeu a pena por favores, conhecimentos ou compadrio. Nunca se vendeu, coisa bem rara hoje em dia. Ler Seabra hoje é, rigorosamente, lê-lo há vinte, trinta ou mais anos, pese embora um que outro ajuste que o tempo e os autores também mudam, muitas vezes para melhor. Quisesse Seabra vergar a espinha ou refrear a língua e hoje era rico e famoso. )

 

O sr. João Soares é, para surpresa de muitos, espanto de todos e vergonha nacional, ministro da Cultura. Conseguiu-se, assim, provar que depois de Carrilho, outro valentaço, e da inominável senhora Canavilhas, havia ainda lugar a pior, muito pior. Estas duas criaturas, três se contarmos o sr. Soares, fazem ter saudades de Santana Lopes, o que não é dizer pouco.

A que vem, contudo, esta chamada do insignificante Soares às páginas deste blog? Pois muito simplesmente a uma sua antiga (e reactualizada) promessa de ferrar dois bofetões na cara escanzelada e antiga de Augusto M Seabra.

Ao que parece a promessa das “lambadas” vem de 1999, isto é do século passado!!!

Há 17 anos que este para de “lamparinas” está prometido ao crítico. 17 anos é muito tempo, tempo a mais. Se as prometidas e incumpridas estaladas tivessem o mesmo juro dos dinheiros públicos a coisa, por esta altura traduzir-se-ia num “arraial de porrada”, numa sarabanda tremenda e medonha que transformaria a face esmaecida de Seabra numa waste land, caso nos seja permitido citar T.S . Elliott, poeta que, eventualmente, o sr Soares conhecerá pois há várias e antigas traduções portuguesas.

É que, vejamos, uma promessa de dois tabefes feita em 1999, e depois acintosamente postergada por quase dúzia e meia de anos, é um cúmulo, uma falta de educação, uma ofensa. Então alguém torna-se credor de uma agressão anunciada aos quatro ventos e passa seta carrada de anos sem que as ventas se avermelhem pela marca de quatro dedos?

Como é que é possível que o heroico sr. Soares nunca tenha conseguido lobrigar o temível Seabra que, como o doce da Teixeira, está sempre visível em tudo o que mexe culturalmente?

Será que promitente agressor se desencontrou inexplicavelmente com o putativo agredido em todas estas centenas de oportunidades? Meditemos: enquanto se Seabra acode a S Carlos para a ópera, está Soares numa corrida de toiros em Salvaterra. Se acaso é uma vernissage na S Mamede, está Soares numa sessão de bingo em Caneças. Se é na Gulbenkian que acontece um concerto, anda Soares pelo Intendente a comprar caril em pó. Sempre, acrescente-se, na pista do crítico que pelos vistos o insulta copiosamente desde esses longínquos anos noventa. Já é azar! Que digo, azar?. É um “galo” tremendo, máxime um “crespo” infernal, uma maldição, um desconsolo, uma úlcera no duodeno, uma fístula no dito cujo, um ataque de hemorroidal medonho que nenhum medicamento susta, assusta ou socorre.

Anda, pois, uma criatura por aí, munida de um par de mãos desocupadas, com luvas cirúrgicas para calçar no momento em que, finalmente, aleluia!, glória!, viva, viva, viva!, der pelo evanescente crítico e lhe arrear o prometido (e devido) exemplar castigo, com os juros de tantos e tão sofridos anos, e nada!

Ao longo de muitas décadas, dei comigo a não falar com duas (2) criaturas. Nunca me lembrei de lhes prometer, pública ou privadamente, um “enxerto de porrada”, sequer um canelão ou um mero olhar enviesado. Deixei, pura e simplesmente de as conhecer e nem sequer os avisei disso. Não valia a pena comunicar a tais insignificâncias que passavam à orwelliana categoria de “unpersons”, de invisíveis, ou de translúcidos, na melhor das hipóteses. Pois querem acreditar que volta que não volta, me topo com as desgraçadas criaturas, mesmo se de há muito deixei de frequentar os lugares que elas assombram? Até na esplanada da Brasileira encontrei uma delas. Outra que jamais manifestara disposição para acordar cedo, passou a frequentar uma esplanada frente ao mar onde durante uma boa dúzia de anos nunca a vira, tanto mais que distava um bom par de quilómetro do antro onde vivia. Arre!

Pessoa amiga que acabou de ler parte deste texto tentou uma explicação: Soares nunca teve por objectivo passar da palavra ao acto (Ele próprio terá escrito que é um homem pacífico e nunca se envolveu em zaragatas pelo que pediria desculpa se tivesse assustado alguém). Pior a amêndoa do que o sorvete! Então anda por aí a distribuir putativas bofetadas e, quando alguém lhe reprova a fúria sanguinária, logo lhe passa a ira, o desejo de desforço, a ameaça trauliteira e eis que de águia passa a galinha pedrês, num cocorico blandicioso e deferente?

O sr Soares não tem condições (nunca teve) para ser ministro seja do que for. É um erro de casting, uma tropelia de mau gosto e pior falta de senso, por muito que isto se pareça com uma república bananeira ou, como (se bem recordo) apontava Eça, através de um seu cónego, um jardim, um “torrãozinho de açúcar”.

Parece que Seabra lhe apontava umas cumplicidades maçónicas sugerindo que ele proteia gente da sua “loja”. Sem desprimor para os cada vez mais raros profissionais do ramo, entendo que Soares só combina com loja na qualidade de marçano aprendiz.

Antes isso que aprendiz de feiticeiro!

No meio desta tola bravata, Soares terá também anunciado umas salutares bofetadas em Vasco Pulido Valente. A distancia que vai dele a VPV mede-se em anos luz de inteligência, cultura, humor, talento para escrever e biografia. Não importa. VPV placidamente e em três palavras retorquiu “cá o espero”.

Nas redes sociais é o delírio: centenas de pessoas riem, gargalham, retorcem-se agarradas à barriga e caem desamparadas no metafórico chão dos twites e dos facebooks. Tmbém riria se isto se nõ passasse no meu país e no seio do Governo que o rege.

Mandem por favor a criatura para Pyongyang ou coisa parecida. 

* o título refere um velho provérbio e o nome de um romance de Rebelo da Silva

d'Oliveira fecit 

au bonheur des dames 414

d'oliveira, 07.04.16

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Sowinds, o esbofeteiro azougado

Que seria de nós, paisanos, se não houvesse, agora e à vista de todos, uma espécie de Joãozinho das perdizes em mais ridículo e menos pujante?

Temos, lá para as bandas do Ministério, um valentão que ameaça dar bofetadas a Augusto M Seabra e a Vasco Pulido Valente.

Ah homem d’uma cana!... Assim, sim. Quem se mete com o jota esse come forte e feio. Ainda não é a justiça de Fafe mas lá chegaremos.

Estou a ver o senhor João Soares a varrer feiras a varapau e a malhar em jornalistas a bofetão. Se Eça fosse vivo já o tinha retratado. E Camilo! E Fialho mesmo que para isso tivesse de estar de acordo com o autor dos Maias.

Estou a ver Soares, o autor de delicados romances nunca aparecidos em Portugal a chegar–se a S Carlos. Vê dois cavalheiros com ar de poucos amigos e fortes bengalas na mão: - “V.as Ex.as estão aqui por via do macacão do Seabra? É que se estão eu estou primeiro parta o esbofetear...

Ao valente, irei procurá-lo na Bertrand amanhã pela tardinha...”

Temos pois que um cavalheiro, miraculosamente promovido a Ministro da Cultura, demonstra com a sua conhecida virilidade que é homem para assumir a Defesa Nacional ou a Administração Interna, pastas que, como é sabido, exigem gente capaz e de mão firme.

Vê-se que alguma coisa aprendeu quando andou a brincar de guerrilheiro com o dr Savimbi lá pelas Jambas. E que, mesmo declarando-se pacífico, não lhe treme a mão justiceira quando se trata de agredir jornalistas que o incomodam. Por mero acaso, tais criaturas, ora visadas, são dois conhecidos e reconhecidos intelectuais com obra feita e longo passado descomprometido da constelação onde Soares, João se movimenta. Aliás, são críticos conhecidos do establishment onde o novel pugilista tardiamente revelado se tenta mover.

Um general espanhol de tempos idos que tinha a seu favor uma imensa brutalidade carregada de estupidez e de cicatrizes de guerra (faltavam-lhe um braço e um olho perdidos em combate), prometia (e terá cumprido na parte que lhe cabia) em alta berraria “morte à inteligência”. Ao mesmo tempo que prometia sacar do pistolão caso alguém lhe sussurrasse a palavra cultura, pensamento profundo de Goering que foi depois adoptado por muita e má gente, incluindo os habituais agressores de jornalistas e escritores.

Tem o valentão de Lisboa, portanto, bons mestres mesmo se lhe falta um passado militar, apesar de tudo corajoso e de vida muitas vezes arriscada.

Não sei se o dr Costa avaliza esta demonstração de afecto pela opinião alheia ou se deixa andar este elefante pela loja de louça por muito mais tempo. Por mim, o senhor Nurlufts (assim assina ele a sua produção romanesca em alemão) estaria a preceito noutras, mais modestas mas mais heróicas, situações, a saber cabo de forcados, policia de giro no bairro da Ameixoeira ou guarda prisional (tudo isto sem desprimor para quantos praticam estas profissões).

Numa famosa “latada” de Coimbra (Letras em 1962, a última que a censura tolerou...) circulava um cartaz que rezava o seguinte”há governos que caem pela força mas este cairá pelo ridículo” . Claro que não caiu e os responsáveis da latada foram dar com os ossos na cadeia da pide coimbrã. Não vou pedir a queda do Ministério por uma tonta fanfarronada de um dos seus membros mas tão só que o recolham a qualquer local onde estas tolices se curam.

Na “Cultura” está, esteve sempre, a mais!

 

 

 

estes dias que passam 342

d'oliveira, 07.04.16

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Os amigos de Angola

Angola ou, melhor dizendo, a sua cleptocrática classe dirigente tem amigos à fartazana: ainda há dias um inócuo protesto contra o julgamento de Luati & camaradas presos, morreu na praia do parlamento pelos votos contra da Direita e da Esquerda.

Parece, diziam uns, que tal voto tornaria difícil a vida dos trabalhadores portugueses lá expatriados bem como a das empresas nacionais que lá operam. Outros atinham-se à profunda amizade e camaradagem que os liga ao “revolucionário” MPLA de extinta e pouco saudosa memória.

No meio disto tudo um só naufrágio: a vaga e perdida ideia de que os nossos políticos defendem os Direitos Humanos onde que que seja. Sinais desta torpe situação desde sempre os tivemos: o inenarrável regime venezuelano tem cá apostados defensores (mesmo que não tenham – como corre – apoios financeiros aos respectivos partidos; a insistente presença da Coreia do Norte nas festas do Avante como se naquele país esfomeado corressem os bíblicos leite e mel.

Nunca ninguém, ou melhor: nunca ninguém com responsabilidades políticas se atreveu a questionar a imensa fortuna da senhora Isabel dos Santos (por acaso filha do presidente perpétuo de Angola, José Eduardo dos Santos) ou as outras imensas fortunas dos ministros, ex-ministros, generais, membros influentes do partido quase único (ou até único no que toca à tomada de decisão política) que gere desde sempre com mão de ferro o país.

Angola, para boa parte dos nossos media, é intocável. Durante algum tempo, ainda pensei que a coisa tinha a ver com os remorsos da colonização. Em Portugal temos sempre imensa vergonha do nosso passado sobretudo porque com uma fatal e atrevida ignorância o vemos sempre com os olhos do presente.

Lembro-me sempre do dr Mário Soares a pedir desculpa por um pogrom ocorrido em Lisboa por alturas do reinado de D Manuel. Em breves palavras a história é a seguinte: dois inflamados frades lembraram-se de afirmar que um cristão novo teria tentado profanar ou simplesmente teria duvidado de um milagre ocorrido no Convento de S Domingos. À conta disso uma multidão exaltada percorreu as ruas e chacinou enre duzentos e quatro mil judeus, cristãos novos ou simples pessoas que os tentaram defender. Ao saber disto, o rei ausente no Alentejo mandou juízes À cidade e castigou com exemplar severidade os amotinados (houve várias condenações à morte) e privou os procuradores da cidade de vários e antigos direitos políticos. O próprio convento e a sua congregação sentiram a mão pesado do Rei e se bem recordo o convento chegou a estar encerrado. Ou seja: a um incontrolado movimento de uma população ignorante, estúpida e fanatizada correspondeu um castigo juridicamente tutelado que só honra quem governava. É o gesto do rei que representa de jure a Nação Portuguesa e não o desvario de um bando de arruaceiros cheios de vinho e de ódio.

Todavia, com a melhor das intenções mas desapoiado de um mínimo de conhecimento histórico, o dr Mário Soares entendeu cobrir a cabeça de cinza e penitenciar-se por algo ocorrido vários séculos antes como se os portugueses da segunda metade do século XX herdassem os costumes, o fanatismo e as ideias do ano de 1504!!! É obra!

 

Voltando às nossas devoções: também agora, em pleno sec. XXI, ao falar de Angola, vem-nos à pobre (des)memória a colonização, a escravatura, a ocupação de Angola (sobretudo entre o quarto final do sec.XIX e o quartel inicial do séc. XX que foi quando de facto se construiu a actual Angola) e desse cocktail mal digerido vem a ideia peregrina de que tudo se deve perdoar aos actuais e angélicos ricos dirigentes de Angola.

Lamento muito: não somos responsáveis de perto ou de longe pela actual situação angolana. Não somos responsáveis pela medonha guerra civil que teve mais mortos do que toda a façanhuda ocupação portugusea; não somos responsáveis pela repressão das gentes de Nito Alves que terá custado mais de 30.000 vítimas. Não somos responsáveis pelos delírios do dr Agostinho Neto, pela poesia admirável do dr Jonas Savimbi (mimosamente editado pelo seu incondicional admirador e editor, sr. João Soares. Não somos responsáveis (mesmo se o toleramos e dele nos aproveitamos) do súbito enriquecimento da srª Isabel dos Santos e restantes colegas.

(Convém, no entanto, anotar que quando entre as esferas do actual poder se põe a hipótese de “arrenegar” da banca espanhola para, em vez dela, pôr tal senhora ao leme de bancos portugueses, não parece descabido lembrar que tal operação mais parece uma tentativa de legitimar uma lavagem de dinheiro do que outra coisa menos tristonha. E, pior: manter a nossa banca em mãos tão estranhas quanto ávidas. Ou ainda: trocar de donos mas não de coleira!).

Angola, pede ajuda ao FMI. Ainda estou por perceber por que é que os prestimosos PCP e BE sempre prontos a denunciar os malefícios do capitalismo não propõesm aos seus amigos de Lunda a nacionalização imediata dos bens da extremosa filha do Presidente edos restantes cavalheiros que escandalosamente se apresentam com gigantescas fortunas.

Não é a baixa cotação do petróleo que avaria o sistema angolano. É o roubo e a corrupção generalizados e bem patentes que atiram o país para o fundo. É a falta de direitos elementares; é o desprezo por noventa por cento da população que vive miseravelmente; é a cumplicidade que vários governos mantêm com os senhores de Angola e o tolerar inacreditável com os editoriais do jornal oficial de Angola que, ao menor pretexto, ladra contra adversários de dentro ou de fora; é a incapacidade de uma classe dirigente para gerir decentemente um país. Angola estende a mão ao FMI. Vejamos se este se comporta com ela com um rigor pelo menos idêntico ao que usa com outros países em dificuldades.

Mesmo se, como julgo, só uma revolução sério, possa eventualmente salvar Angola.