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Incursões

Instância de Retemperação.

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Estes dias que passam especial

mcr, 14.07.16

Alto e pára o baile!

 

Os escassos leitores que ainda me aturam sabem que respeito escrupulosamente o direito (deles) de comentarem os meus textos.

Tento com isso, manter tanto quanto possível um diálogo que vá um pouco mais além do que ocorre com outras plataformas onde, para entrar numa "conversa", é preciso obedecer a várias condições.

Aqui é simples: opino sobre o que quero ou me cai à mão e, se alguém estiver para aí virado, comenta e inicia-se, eventualmente, um diálogo civilizado. 

Ocorre, porém, que, de longe em longe, um aprendiz de comentador, entende vir falar de bugalhos quando eu me fiquei pelos alhos. Ou seja, não bate a letra com a careta.

Isso ocorreu num post da série "Estes dias que passam" onde a propósito de um bom poeta e velho amigo que muita falta faz, eu tratava entre, outras coisas, de uma grosseira manipulação da história cometida por um cavalheiro que tem tabuleta e lugar fixo num jornal de referência e azucrina os leitores com umas crónicas onde se mistura muita parra, muita interpretação e pouco facto histórico correcto. 

Um leitor SILVA lembrou-se de vir falar num casino, num despedimento colectivo e em juizes segundo ele corruptos. Nada a ver, nadinha, com o meu pobre texto. Ando um pouco preguiçoso, metido noutras cavalarias e passo dias sem vir ao blog. Quando dei pela nota "Tem um comentário para aprovar" fiquei envergonhado com o meu desleixo e, entre dois goles do primeiro café da manhã, despachei logo a autorização para publicação. Depois iria ver se valia pa pena reponder.

Depois..., depois esqueci-me e publiquei três ou quatro textos sem nunca mais me lembrar do comentário. Um dos meus diligentes companheiros de viagem incursional, lembrou-me hoje do comentário que nada comentava.  

Obviamente, esse comentário merece ser apagado e sê-lo-á se eu conseguir perceber como é que a coisa se faz. Entretanto, aqui venho, de corda ao pescoço, muito cheio de mea culpa, mea maxima culpa, pelo meu deslize. 

E prometo vir a ter mais atenção. 

Governo questiona sanções

José Carlos Pereira, 13.07.16

António Costa segue a via certa ao não se acomodar e ao contestar as sanções da UE, quaisquer que elas sejam. Recorde-se que a aplicação de sanções é inédita, apesar de a regra europeia de um défice abaixo dos 3% do PIB já ter sido violada em 114 ocasiões (a França ultrapassou o limiar dos 3% por 11 vezes, seguindo-se Grécia, Portugal e Polónia, todos por 10 vezes, Reino Unido, com nove infracções, Itália com oito, Hungria com sete, Irlanda e Alemanha, em cinco ocasiões cada).

É caso para questionar: porquê sanções só agora?!

Au bonheur des dames 416

d'oliveira, 12.07.16

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“Ai Portugal se fosses só três sílabas...”

 

Imagino que muitos dos meus leitores (se porventura ainda os tenho) se zangarão comigo. De facto, não comungo da alegria a rodos que campeia por aí. Não que esteja triste, furioso ou que desejasse outro campeão para a Europa. Simplesmente, entendo que houve outras ocasiões em que o nosso futebol e os nosso talento mereceriam mais do que hoje o lugar de campeão.

Todavia, o futebol é assim mesmo: nau incerta em mar proceloso. Desta feita, coube a Fernando Santos e à sua equipa a sorte que outras vezes foi esquiva. A carreira neste campeonato não foi exactamente brilhante: 3º lugar na primeira parte, nenhum jogo ganho nos 90 minutos regulamentares, mais sorte nos penáltis, adversários pouco perigosos, pese embora a surpresa islandesa.

De todo o modo, ganharam. E ganharam porque Santos foi corajoso, porque a equipa soube ser humilde, porque a defesa foi mais italiana do que os italianos. E porque houve uma mobilização extraordinária da emigração em França que deu uma lição de civismo (veja-se o caso do menino Matisse –belo e luminoso nome!- a consolar o choroso adepto francês e adulto –que soube corresponder com emoção e dignidade à palavra de uma criança de dez anos-), de amor ao país padrasto e longínquo e às terras pequenas e dispersas de onde os emigrantes ou os seus pais vieram fugidos da miséria e da falta de trabalho.

O resto, o Senhor Presidente, o Senhor 1º Ministro e os outros figurões, foi só folclore e populismo. O resto, televisões, rádio e jornais, foi lastimavelmente frouxo, reles, palavroso e patrioteiro. Como de costume.

Se os leitores, que até aqui chegaram, me permitem, direi que me entusiasmaram Rui Patrício, Pepe, Nani, Quaresma ou até Éder que resolveu tudo com um golaço que merecia mais repetições de visão televisiva. Sei que estou a ser injusto, que devia falar de outros, Renato Sanches ou os luso franceses que optaram por este pequeno país quando, provavelmente teriam lugar na selecção francesa que, de facto, teve pouca sorte. Mas o futebol, mesmo o feio, é isto: quantas vezes me irritaram os italianos e o catenaccio!

Entretanto, tudo isto está passado e a realidade, a desagradável realidade já volta a bater-nos à porta.

Só mais um ponto: nada tenho contra as medalhas mesmo se são atribuídas por quem ainda ontem afirmava que isto era um país demasiado medalhado. Mas o Senhor Presidente é o que é e não há uma eventual momento de populismo que não aproveite mesmo quando parece mais justificado o comendador jogador de futebol do que qualquer ex-primeiro ministro sem qualidades.

Por tudo o que vem de ser dito, atrevo-me a afirmar que o título do “Público” (“hoje temos mais razões para acreditar em Portugal”) é uma tolice, uma bazófia e um erro crasso. Não temos mais nem menos razões: o futebol é apenas ligeiramente menos seguro do que a roleta.

 

E passemos ao segundo acto deste comédia: o senhor Durão Barroso. Confesso que a criatura sempre me foi antipática desde os seus prodigiosos momentos MRPP, onde assumiu o papel de trauliteiro até à sua súbita conversão às virtudes do parlamentarismo, via PPD sob a intermediação de Santana Lopes. Barroso vestiu então a opa de sacristão mor que exercia de Ministro dos Negócios Estrangeiros e de proto-candidato à gloria primo-ministerial.

Quando o cavalheiro chegou a S. Bento, alguém o avisou sibilinamente, recitando “sigamos o cherne”. Poucos entenderam, porque poucos sabiam como o poema acabava:

Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,


Já morto, boiar ao lume de água,


Nos olhos rasos de água,


Quando mentido o cherne a vida inteira,


Não somos mais que solidão e mágoa…

Barroso não era um cherne mas tão só a imagem dele, já morto. O acaso (se a tonta decisão de demissão de Guterres não foi mais do que isso) que o levou ao poder onde só produziu uma declaração útil mas não escutada (“o país está de tanga”) e a sua subsequente ida para a Comissão Europeia (onde só chegou porquanto os “grandes” o achavam incolor, insípido e inodoro como a água destilada) foram passos de uma biografia perdida há muito.

Que agora, a exemplo de tantos outros,   nacionais e estrangeiros, vá para um cadeirão onde pouco ou nada fará, já não acrescenta seja o que for ao que ele pensa que foi. Barroso, pese a sua publicitada inteligência e cultura, é apenas mais um portuguesinho espertalhaço, uma sardinha que se toma por um tubarão, um ambicioso que, como no poema, um dia destes dará à costa, picado pelas gaivotas e mais morto do que a sua reputação.

O terceiro passo está todo na notícia da restituição dos filhos a Liliana Melo, a senhora negra, emigrante e cabo-verdiana que,  há quatro anos ,viu um imenso aparato policial levar-lhe de casa as crianças. A Segurança Social e o Tribunal saem muito mal na fotografia, felizmente corrigida ao fim de quase 1500 dias por um acórdão do STJ. Relembre-se, sempre segundo o jornal, que boa parte das acusações contra Liliana não tinham fundamento (falta de emprego, higiene das crianças ou padeciam de insanável infâmia como era o caso de (à velha moda higienista e fascista) lhe exigirem a laqueação das trompas!

Isto sim, esta tardia sentença do tribunal superior é que é uma razão ponderosa para se acreditar mais em Portugal. Pena é que demorasse tanto tempo. E, já agora, mbravo e muito obrigado às advogadas que ao longo de todo este tempo, representaram “pro bono” uma mulher só, infamada, negra e humilde. Às vezes sabe bem ter concidadãos e concidadãs como estas Senhoras mesmo que ninguém as torne comendadoras ou sequer saiba da existência delas.

* O título e a citação pertencem a um grande, enorme, poeta português: Alexandre O’Neil

 

 

Uma conquista histórica

José Carlos Pereira, 11.07.16

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A vitória na final do Europeu de futebol frente à França conduziu-nos ao galarim dos países com grandes conquistas internacionais na modalidade. Depois de uma final europeia perdida em casa em 2004, que vivi no palco da decepção, o Estádio da Luz, e de outras cinco meias-finais perdidas, duas em mundiais e três em europeus, Portugal alcançou por fim o lugar mais alto.

Esta não foi a equipa que apresentou o melhor futebol, a que reuniu os melhores jogadores, a mais dotada e a mais querida de todas aquelas que Portugal fez alinhar nas grandes competições. Mas foi por certo a mais unida, a mais determinada e a mais alinhada com os propósitos de treinadores e dirigentes.

Creio que o grande artífice desta conquista foi Fernando Santos. Nunca se vira um grupo tão coeso e um reconhecimento tão grande dos jogadores pela acção do seu líder. Portugal, que costumava ser o país dos casos, das polémicas e das meias verdades nas fases finais, foi desta vez a imagem da tranquilidade e da assertividade.

Encheu-se a boca dos críticos por causa do futebol praticado, nomeadamente na fase de grupos, exigindo à selecção os floreados que ela não podia dar. Fernando Santos percebeu isso bem cedo e tratou de fazer prevalecer o pragmatismo, focando-se nos resultados e não tanto nas exibições. Resumiu bem a questão quando disse que não éramos os melhores do mundo, mas que também ninguém nos ganharia com facilidade. E as vicissitudes da final vieram valorizar ainda mais o papel do treinador nacional, que soube guiar a equipa de modo a ultrapassar os revezes e a tomar opções, arriscadas mas ponderadas, que nos conduziram à vitória.

O futebol português e o país estão em festa. Merecidamente. Uma festa que percorre cada canto do planeta onde há um português ou um descendente de portugueses. E foi precisamente dos emigrantes que veio a força suplementar de ânimo e vontade que muito ajudou à vitória dentro do campo.

Viva Portugal! 

Sancionar ou não sancionar, eis a questão

José Carlos Pereira, 05.07.16

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A Comissão Europeia reuniu-se hoje e na agenda de trabalhos esteve a análise aos défices de Portugal e Espanha em 2015 e a eventual aplicação de sanções por incumprimento das regras orçamentais. Como já se previa, não houve uma decisão do colégio de comissários, restando esperar para ver se a mesma chega a tempo de ser comunicada ao Ecofin antes da reunião da próxima semana, que será a última do Conselho de Ministros das Finanças antes de férias.

Esta é uma matéria que tem ocupado o centro do debate das questões europeias, com vários “falcões”, com o ministro alemão Schäuble à cabeça, empenhados numa punição clara de países como Portugal e Espanha. Esses dirigentes, que tiveram um papel determinante nas políticas seguidas nos países sob ajustamento nos últimos anos, como foi o caso português, pretendem agora castigar o facto de essas mesmas políticas não terem sido bem sucedidas e os défices terem ficado acima das metas estabelecidas. Há alguma triste ironia nesta postura, mas infelizmente já pouco nos pode espantar hoje em dia na Europa.

Dizem alguns que as regras europeias têm de ser cumpridas e que, se houve incumprimento, então é natural que surjam as sanções. Pois bem, o passado recente mostrou-nos que vários países de grande dimensão tiveram défices e excedentes orçamentais acima dos limites fixados e tal não deu origem a quaisquer sanções. Os exemplos francês e alemão aí estão para o comprovar. O comissário Pierre Moscovici dissera hoje numa entrevista que as regras "são inteligentes, não são punitivas e devem ter em conta a situação económica". Muito gostava de saber o que é que, neste quadro, Moscovici preconizou para Portugal.

Se o que está em cima da mesa é uma avaliação do incumprimento do défice de 2015 em 0,2 pontos percentuais, na sequência de um programa de ajustamento que depauperou os portugueses e exauriu a economia, os nossos recursos e os próprios bancos, é absolutamente descabido prever sanções neste momento. Se o que guia os arautos da linha dura europeia é o facto de Portugal ter em funções um Governo que não subscreve essa política e procura dar novos estímulos ao crescimento e à coesão social, bem como uma notória desconfiança face às metas orçamentais fixadas para o ano em curso, então as injustificadas sanções não são mais do que um travão a essas políticas e uma forma de procurar vergar o Governo de esquerda.

Quando a Europa enfrenta tormentas como os efeitos do “Brexit”, o crescente radicalismo anti-europeu, a crise dos refugiados, o terrorismo ou o desemprego, que apresenta taxas assustadoras entre os mais jovens, é decepcionante ver a Europa eleger como prioridade a punição de países que já foram obrigados a passar por experiências duríssimas.

Entre nós, Presidente da República, Governo e partidos políticos têm defendido com firmeza a não aplicação de sanções, mas é evidente o desconforto que este tema causa no PSD e no CDS, sobretudo nos sectores mais comprometidos com a governação seguida até às últimas eleições. A preocupação maior dos seus dirigentes é tentar escapar às responsabilidades que tiveram no incumprimento orçamental de 2015 e procurar associar as eventuais sanções às incertezas criadas pelas políticas do actual Governo.

É por isso que quando ouço certas personalidades do PSD, como foi o caso ontem de Silva Peneda, na apresentação do mais recente livro do secretário de Estado José Luís Carneiro, e Mota Amaral, encontro uma sinceridade na crítica às sanções e ao discurso punitivo que não encontro no discurso de Passos Coelho e da sua entourage. Mas creio que os portugueses também percebem isso bem e saberão retirar as suas ilacções quanto à forma mais adequada para, neste contexto, defender Portugal e os portugueses.