“... fogo que arde sem se ver...”
O Verão é mau conselheiro e a prova mais evidente disso é o conjunto de trapalhadas em que o governo se meteu. Não vale a pena falar dos três briosos Secretários de Estado que aproveitaram a boleia da GALP para ir ver a bola. Parece que não se demitem e, espantoso!, ninguém os manda dar uma volta ao bilhar grande. Vão continuar por aí, diminuídos na sua tarefa, olhados pelo público como gente que se vende por pouco, incapacitados de meter o bedelho desavergonhado nos problemas da GALP (e não só...), vistos com desconfiança por boa parte dos agentes económicos e apontados a dedo pela Direita que, desta vez tem três bombos da festa à disposição.
Mas parece que eles não percebem, o que diz muito da inteligência das criaturas e, mais ainda, da ética delas.
A Caixa Geral dos Depósitos então, é um sufoco. Um escândalo, um sinal de parvoíce daquele pobre Ministro das Finanças que, dia a dia, mostra eloquentemente a verdade do famoso “princípio de Peter”. Aquele pobre diabo era um técnico razoável e tinha, com mais uma dúzia de luminares,, fabricado uma espécie de plano financeiro para o P.S.. Depois, com os acordos da “geringonça” o projecto tantas voltas sofreu que mais parecia a túnica de S Sebastião mártir.
O homenzinho aguentou a desfeita e, deslumbrado pelo poder, seguiu em frente com a barriga recheada de sapos.
Não percebeu, não aprendeu (duvida-se que sequer aprenderá), e aí anda ele com todas as previsões a saírem-lhe furadas. Agora esta aventura da direcção da Caixa é o que é: a opinião pública, o Presidente da República e os parceiros da frente popular dão-lhe com os mimosos pés. Desconheço o que farão as personalidades imprudentemente convidadas e recusadas pelo BCE. Algumas optarão por fazer o mesmo que Leonor Beleza (que não precisava disto e que se dispunha a exercer o cargo de borla) e já avisou que não dá nada mais para o peditório.
Depois, mesmo que haja naquele banco mastodôntico e cheio de fífias, culpas de anteeriores Governos, a opinião geral virar-se-á sempre contra o actual. A CGD não é uma entidade simpática e, sobretudo, foi sempre algo de lento, perro, burocrático e tristonho. Eu que, como dezenas de milhares de aposentados da função pública, aturo a inércia da Caixa por mera preguiça descubro estupefacto que são precisos mais de cinco mil milhões para por aquele naufrágio à tona. Para já!
Claro que somos nós todos, os do costume, os que pagam impostos, os que não conseguem fugir às investidas do fisco, quem pagará esta brutalidade. Sem garantias de que, desta vez, fique tudo bem! Sem garantias de que não haverá despedimentos! Claro que vai haver! Sem garantias de que permanecerão os mesmos balcões. Claro que muitos encerrarão!
Tudo em nome do “banco público” que nunca procedeu como tal. A CGD estava no terreno tal qual os bancos privados, gorda à custa de ser o banco pagador de centenas de milhar de funcionários, gerida por criaturas escolhidas a dedo pela sua competência (veja-se Vara!!!) que deram aval a operações que se traduziram em prejuízos gigantescos e a este buraco negro que só o BE e o PC pintam alegremente de vermelho.
Deixemos, entretanto, estas miudezas e passemos aos fogos.
E comecemos pela imbecilidade maior. Alguns cavalheiros e, mormente, a rapaziada do Governo, não perceberam que a teoria do fogo posto (que obviamente existe) não justifica a teoria de que somos vítimas de uma conspiração de incendiários medonhos. Sobretudo o argumento cretino que que muitos fogos “começaram de noite”. Se essas criaturas tivessem um mínimo de testa poderiam dizer isso mas temperando a afirmação com estoutra: tais incêndios foram detectados de noite o que é um pouco diferente. O mato poderia já estar a arder brandamente mas só com a escuridão, o vento e a força crescente das chamas é que verdadeiramente se deu pelo incêndio. Como diz a epígrafe (mesmo se aplicada a outra circunstância) ele há fogo que arde sem se ver. Pelo menos quando começa.
A segunda desculpa é a de que as medidas propostas há cerca de dez anos são caras. Claro que são. Mas para quem não quer o pais ainda mais “litoralizado” é pela prevenção, é a juzante que se tem de começar, aliás, falar de custos aqui é algo de ignóbil. Mesmo poucos, os cidadãos do interior não podem constar de um deve haver burocrático que os reduz a uma enxurrada de campónios velhos, fracos, doente e feios.
Não há um cadasto sequer medíocre, dos proprietários florestais mesmo que se saiba que dezenas de milhares ou mais de um centena de milhares são desconhecidos e, porventura, como é o caso de um amigo meu que se descobriu herdeiro de umas bouças perdidas no interior profundo, ignorantes da sua parca, exígua riqueza.
O meu amigo referido, mesmo que quizesse visitar os seus domínios florestais, teria de encontrar quem o guiasse, quem reconhecesse marcos perdidos e pudesse (mesmo pagando) mostrar-lhe três pinheiros e muito mato à solta.
O cavalheiro (um ministro) que disse duas pacoviadas sobre este assunto nem percebeu que há milhares de proprietários rurais que não limpam os terrenos por as despesas serem sempre superiores ao valor das árvores que lá estão.
Todavia, a questão central permanece: sem cadastro não há solução. Ou há: confisquem-se todas as terras ardidas de que se desconhece dono e/ou responsável por medidas de prevenção. Parece que há cavalheiros que propõem esta solução deveras drástica.
Outra questão: porque é que não ardem, ou ardem raramente, as florestas propriedade das grandes empresas de papel? Será porque, ao contrario dos pequenos e médios proprietários (e muitas vezes do Estado ou das autarquias) pagam e mantém batalhões de sapadores e vigiam a todo o tempo as suas matas?
Outro ponto: há alguma política que preveja, proteja, incentive a plantação de floresta tradicional portuguesa, ou afinal só se protege o eucalipto (árvore que até se dá bem com o fogo) e o pinheiro? Ao que sei, mas posso estar mal informado, os carvalhos, os castanheiros, as faias ou os teixos ardem menos. Claro que investir nestas (e noutras) espécies tradicionais é investir a longo prazo, não dá lucro fácil, demora muito a ver as plantações crescidas.
A floresta, todos o sabem, arde. Cá ou na Califórnia, na Austrália ou na China. A floresta siberiana arde. Mas não arde com esta impetuosidade quase anual. Até há dias, metade da área ardida na União Europeia era portuguesa! Isto não espanta os tolinhos que tem responsabilidade no sector? Será que só cá é que há uma praga medonha de incendiários, a soldo sabe-se lá de quem, que tem por fito devastar o ridente campo português?
Fiquemo-nos por aqui neste descoroçoado rosário de queixas antigas. Ou melhor: faça-se uma referência à tragédia da Madeira. Ao que parece, apesar de tudo, e do Jardim, há um projecto para reflorestar as zonas invadidas por espécies exógenas e voltar à boa e vlha laurissilva e ao arvoredo indígena. Há, viu-se, uma actuação decidida e rápida para minorar a vida de quem perdeu tudo. Todavia, conviria recomendar ao senhor Presidente do Governo Regional mais cautela quando (esperemos que não se repita) houver outro incêndio. Sª Exª deverá ser menos, muito menos, assertivo. Bem sei que lhe cabia o ingrato papel de tranquilizador dos turistas que lá estam e dos que para lá irão. Foi porém imprudente quando anunciou ter a situação controlada. Foi impudente quando declarou que não precisava de auxílio exterior (parecia o seu antecessor). Precisou, obteve-o e vai precisar ainda de muita solidariedade nacional. Aos governantes não compete parlapiar tecnicamente. Isso é com quem sabe e Albuquerque não é metereologista nem bombeiro. É um político e apesar de tudo está a dissipar a imagem daquele Bokassa (cito o brilhante Jaime Gama que lapidarmente definiu o cidadão Alberto João) insular que o antecedeu.
Do mesmo modo, acho indecente, os ataques à Ministra da Administração Interna por não ter acorrido ao primeiro sinal. A ministra também não é bombeira e a sua presença no local só ia prejudicar a já dificl tarefa dos bombeiros. Dizer que a criatura foi para uma festa na hora em que estlou um incêndio é uma canalhada. À Senhora pede-se bom senso, direcção política e, já agora, que tenha a força suficinte para convencer o Governo a fazer o que há dez anos se propôs e foi esquecido. Se calhar está-se a pedir demais. Esperemos que no próximo ano de incêndios (e este inda vai no meio) alguma coisa esteja feita. Até, para quem é crente, só resta reza.
(este texto foi escrito ainda em Agosto mas o computador de Lisboa agora recusa-se a entrar no blog! Manias de quem é velho e não vê quem o passe à reforma.)