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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

"Carrinhas, listas e cacicagem. Todos os detalhes da guerra pelo poder no PSD/Lisboa"

José Carlos Pereira, 21.07.17

documento publicado pelo "Observador" merece ser lido por quem milita nos partidos, por quem por lá andou e por quem desconhece por completo essa realidade. E o que se vive no PSD/Lisboa, infelizmente, não é muito diferente do que se passa em muitas secções e concelhias por esse país fora, sobretudo nos dois principais partidos. Uma lástima.

au bonheur des dames 414

d'oliveira, 19.07.17

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Antes que seja tarde

 

Não costumo ouvir o meu antigo colega José Miguel Júdice que comenta os assuntos da semana numa das televisões só de notícias. Não que despreze as suas opiniões mas apenas porque nessa hora costumo estar atento a outras emissões.

Conheci o JMJ na Faculdade, embora seja mais velho. Depois, os azares da sorte e a uma tremenda dose de cabulice aliada a outras e mais interessantes ocupações (desde o Teatro à política, passando por algumas pequenas maçadas prisionais), fizeram-nos cruzar. Não é segredo para ninguém que JMJ era um dos melhores arautos da Direita mais retinta. Já será menos sabido que eu navegava em águas muito, muitíssimo diferentes. Por isso, durante anos foi nulo o nosso contacto, só activado depois em algumas reuniões de curso.

Sempre tive o hábito de tentar perceber o pensamento dos nossos (ou dos meus) adversários políticos e Júdice servia perfeitamente. Era (é) inteligente, sabia comunicar e não tenho dúvidas que, além de bom profissional, era (é) uma pessoa culta.

É verdade que o tempo, e os azares do mundo, modificou muito as opiniões de quase toda a gente. Isso e a idade ensinam mais do que a universidade. Continuo, pois, a tentar saber o que Júdice, hoje bem menos radical, pensa e diz. Ele e outros. Mas ele é o motivo do folhetim de hoje.

De facto, Júdice, observou que com a surpreendente mudança de opinião sobre a eventual futura localização da Agência Europeia do Medicamento, o Porto justo escolhido corre, todavia, um sério risco e, ao mesmo tempo, iliba o Governo de quaisquer responsabilidades na candidatura.

A AEM é desejada, ardentemente desejada, por meia dúzia de metrópoles europeias. Algumas estão muito perto do centro da UE ou, pelo menos melhor posicionadas geograficamente que o Porto.

Por outro lado, mesmo que não seja fundamental, há que ter em linha de conta com a vontade das centenas de funcionários deste departamento europeu. E nesse campeonato, o Porto não só fica depois de Lisboa mas, sobretudo, depois de algumas cidades emblemáticas e concorrentes (Paris, Berlin, Amsterdão, Viena ou mesmo Barcelona e Copenhaga, entre outras).

Por isso, foi fácil desistir de Lisboa onde, aliás, já se albergam duas instituições europeias circunstância que não ajudava nada.

Atirar a candidatura para o Porto pode ser visto de dois modos. Um, um favor ao candidato Pizarro que se arrogou rapidamente da falsa primazia no protesto.

Outro, no caso bastante provável de se perder, atirar com as culpas dessa perda para as exigências “provincianas” e bairristas do Porto.

Confesso que a coisa já me aflorara as cansadas meninges. Todavia, não lhe dei a devida importância, tanto mais que nunca pensara que o Governo poderia fazer marcha atrás e oferecer à “Invicta” a oportunidade de se candidatar a sede da AEM.

As únicas vantagens do Porto é ser esta cidade mais barata do que qualquer concorrente, ter um aeroporto internacional, ser de pequena dimensão (dentro dos seus limites) ao mesmo tempo que é capital de uma região poderosa e de outra ainda mais expressiva (contando com a Galiza aqui ao lado).

Portanto, caro Rui Moreira, aconselho muitas cautelas e caldos de galinha. Isto de contar com sapatos de defunto ou com o ovo no cu da galinha tem muito que se lhe diga e pede (suponho que V foi velejador) muito navegar à bolina e calma, montes de calma. Para desgraças já bastam estes campeonatos todos sem ganhar coisa que se veja.

Quando a esmola é farta, o pobre deve desconfiar.

De todo o modo boa sorte. Era bom para todos, para o Porto, para o Norte e para o país esta vinda da AEM. Por uma vez o Brexit poderia ser-nos útil a nós que, há séculos, andamos a apanhar as migalhas que os “bifes” nos deixam.

au bonheur des dames 413

d'oliveira, 18.07.17

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Por aqui e por ali

 

1 Leio com estupefacção que os cinco comandantes provisoriamente exonerados em Tancos foram de novo nomeados para os mesmos cargos. Tinham sido afastados para “não perturbar as averiguações internas” (sic). Desconhece-se se, neste tão curto prazo (17 dias), as famosas averiguações tiveram qualquer resultado, exceptuando as judiciosas declarações do senhor CEMGFA sobre a diminuta importância económica do roubo e sobre a irrelevância das armas desaparecidas!

Uma outra consequência dessa “exoneração provisória” foi, sem dúvida alguma, lançar poeira aos olhos do cidadão e afastar as pertinentíssimas suspeitas sobre o papel do CEME e do senhor Ministro que continua a passear a sua impotência política e a sua surpreendente teoria sobre o que é a responsabilidade política. De todo o modo, S.ª Ex.ª está politicamente morto e bom seria que a, bem da higiene pública, lhe fosse passada a respectiva certidão de óbito enviando-o para lugar mais adequado.

Resta deste folhetim escabroso apenas, e a meus olhos maldosos e anti-patrióticos, a “honra perdida” ou simplesmente beliscada dos cinco coronéis agora repostos no seu lugar. Repostos mas humilhados e fragilizados. De tudo isto salvam-se dois generais que publicamente recusaram o silêncio. Apenas dois! E agora, que irão fazer os cinco renovados comandantes? Fingir que tudo não passou de um pesadelo “de uma noite de Verão”?

2 Os fogos continuam. Melhor: agora é que a coisa começa mesmo a aquecer. Agosto, o temido Agosto, está à porta, a seca é extrema, o calor mantem-se. Volta e meia, regressa o SIRESP. Antes era o “fogo posto”. Agora, mais tecnologicamente, temos que o SIRESP tem falhas. Pelo menos, no dizer da “comunicação social” que se espoja deleitada na descrição das catástrofes. À passagem de um mês do fogo de Pedrogão, eis que as televisões se atiraram de novo aquela zona sinistrada. Não conseguiram dizer nada de novo. Por junto, surpreendiam-se com a lentidão dos auxílios como se fosse possível em curtas semanas começar a erguer casas, fazer plantios, limpar os destroços etc...

O SIRESP serve agora de cortina de fumo para a crudelíssima realidade: a inércia e a inoperância das acções de prevenção. A ideia que os incêndios se combatem depois de começarem tem destas resultados. Mais meios aéreos, mais meios terrestres, mais bombeiros, a tropa, novos comandantes da proteção civil, muita discursata, muito palavrório e as medonhas chamas a rirem-se disso tudo. E, é verdade, uma senhora Ministra constante num lugar que, reconhecidamente, é bastamente superior aos seus talentos. Mais um cadáver político à espera de pio enterro. R.I.P.

 

3 Parece que o Governo se entendeu com o Bloco de Esquerda sobre a redução da área de plantação de eucalipto. Por acaso, agora, um dos fogos ceva a sua fúria não em eucaliptos, fonte de todo o mal, mas em áreas de pinheiro bravo No entanto, não convém recordar isso. Não é politicamente correcto dizer que a floresta arde naturalmente; que a floresta não cuidada arde constantemente; que já ardia, mesmo quando o interior era habitado nas áreas de pinhal.

Sou um mero cidadão curioso e não um perito sem floresta, longe, muito longe, disso. Porém, corrijam-me se estou enganado, tenho ouvido dizer (e tenho lido) que a área de eucalipto pertencente às papeleiras não arde. Ou arde muito pouco. Porque há ordenamento na plantação, sapadores florestais e prevenção a sério.

Mesmo assim, corrijam-me de novo, não há eucaliptal suficiente para as papeleiras que, por isso, importam trinta por cento (ou mais) da matéria prima. Isto pode querer dizer (notem as minhas precauções) que, se diminuem a área de eucalipto, aumentam consequentemente as importações. Ou diminui o fabrico de pasta de papel. Se assim for, das duas uma: ou se reduz o emprego fabril nas celuloses ou as fábricas terão de enfrentar custos maiores o que só pode ter uma de duas consequências: alta de preços e eventual perda de mercado ou pressão para aumentar a competitividade e redução de emprego.

Também levaria a minha desvairada curiosidade a uma pergunta simples: que é que o BE, tão amante da natureza e do interior, propõe para onde não se plante eucalipto? Casinhas brancas à portuguesa com pão e vinho na mesa? Pastagens (não esquecer que para isso é preciso pastores)? Outras espécies florestais de crescimento rápido?

4 Os nacionais populistas andam num frenesi. A PT, que durante anos foi um escândalo, está a ser alvo de um piratagem efectuada pela sua proprietária (Altice). Consta que estão a ser mudados de lugar funcionários. Pergunta inocente: houve despedimentos? Resposta para já: Não.

Os mesmos fervorosos defensores da apropriação pública e estatizante de empresas, não querem que a Altice, sempre essa empresa fatal, compre a TVI e respectivos satélites. Afirmam que isso irá criar um monopólio. Há que tempos que não ouvia esta palavra! (culpa da queda do Muro e do falecimento sem glória da URSS. Às vezes a falência de um sistema tem destas consequência semi-semânticas...)

Vejamos por partes: A Altice, no que toca aos serviços de tv por cabo, jura que tem o dobro dos trabalhadores das duas concorrentes. A ser verdade (e na PT tudo era possível até esta ligeira estravagância) parece normal e conveniente que haja um esforço para poder ser concorrencial sobretudo se não houver despedimentos.

No que respeita à compra da TVI, a pergunta que se faz é esta: qual é a diferença entre a Altice (francesa) e a Prisa (espanhola) e anterior proprietária? Será que PC, BE e Costa são iberistas?

Por outro lado, sendo a TVI uma emissora privada (parece que é a que conta com maior audiência) será que só agora se percebeu isso e, aqui del rei!, há que nacionalizá-la? Não chegam a RTP 1, 2, 3, Internacional, África, Açores, Madeira, sei lá que mais que se arrastam à custa do contribuinte a fingir de serviço público? O público, esse ingrato, prefere as estações concorrentes, sobretudo a TVI. Não acham que se devia castigar esses anti portugueses e anti patriotas?

(digo isto porque, como bom traidor impenitente, quase não vejo as tv nacionais mas, antes e sobretudo, a TV5, algumas de língua inglesa, a TVE, os noticiários da RAI, a ARTE e os canais onde correm as séries policiais. E de quando em quando, o canal Holywood, os canais temáticos e, muito, muitíssimo, o canal Mezzo. Da emissão nacional só os canais de notícias em continuo. E bonda! )

A Altice é, agora, o novo monstro, o novo Cabo das Tormentas, dos nacionais-populistas.

Perderam-se (alguém perdeu, nanja eu) a EDP, as seguradoras, os bancos, a ANA, e o que não se perdeu andamos a pagá-lo pertinazmente com língua de palmo (os Banifs, os BPP, os BES, os BPNs, a CGD . – o que já se sabe e o que mais tarde ou mais cedo se saberá- enfim toda essa banca rota que nos há de desgraçar por muitos e maus anos). Nada disto é importante, ninguém quer saber. Agora é Altice de um tal Drahi que está a dar.

Lamentavelmente, não houve tempo para se assistir ao estoiro da PT comprada ainda antes de se poder ver como é que o Titanic foi ao fundo.

Pessoalmente, estou-me nas tintas para a Altice mas, enquanto cidadão, arreceio-me destes gargarejos nacionalizadores dos cavalheiros do costume. A História tem-nos ensinado o que sucede quando acontecem as nacionalizações sempre a favor do Povo com letra grande e sempre a serem pagas pelo povo com letra pequena. A diferença é que o primeiro constitui a clientela predileta do PC e do BE enquanto o segundo engloba os paisanos todos ou, pelo menos, os paisanos que pagam impostos. E eu não quero pagar (mais do que já paguei) a PT, a TVI e o que por arrasto pode vir. E não sou solidário de gente que foi desnecessariamente empregada por cunha, por clientelismo político, na PT. Pelos vistos fizeram pouco ou nada. Mas ganharam o seu dinheirinho enquanto o nosso fluía para sabe-se lá onde.

É para o que estamos...

 

 

Au bonheur des dames 412

mcr, 12.07.17

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E de novo a tropa

 

Parece que o senhor general chefe do Estado Maior do Exército declarou perante os senhores deputados que o roubo de armas em Tancos o tinha “humilhado profundamente”

Se não usou o profundamente, serviu-se de um advérbio com a mesma intenção e intensidade, porém o “humilhado” esse é certo.

Eu percebo os estados de alma do senhor Chefe de Estado Maior do Exército. Um oficial general não pode ser humilhado seja em que circunstância for. Ou não deve. Ou não se concebe. Não se chega a general sem mais nem menos mesmo se, para marechal, baste uma vaga, uma boa vontade, um bastão disponível e um Governo bem intencionado.

Um general fez toda a carreira, Altos Estudos (era assim que aquilo se chamava e, mesmo assim, se eram muitos os chamados acabavam por ser poucos os escolhidos). Um general é suposto ser pessoa grave, marcial, claro, e competente. E responsável, cela va de soi... Quando um senhor general assume a Chefia do Estado Maior então a coisa refina.

Portanto, temos um general coalhado de medalhas que se sente “humilhado”. Quando isso acontece é sempre imensamente humilhado. Um general não é humilhado como um capitão, um sargento ou um “soldado pronto”. Há nisto, nesta grandeur et servitude” dos militares, uma escala quanto mais não seja hierárquica.

Mais: quando um general é humilhado, todos os seus subordinados também o são. Pelo menos os do corpo de oficiais (do quadro, claro está, que os milicianos para isto contam pouco). A minha tese é que a humilhação, o grau de humilhação, é proporcionalmente inversa à hierarquia. Um general é humilhado, um coronel é bastante humilhado, um tenente coronel ainda mais, um major é muito humilhado e um capitão entra no domínio da imensa humilhação. Tenentes e alferes nem se concebe. Deve ser pavoroso!

Donde ninguém de bom senso e com verdadeiro sentido de dever e patriotismo q.b., se pode admirar que a humilhação de Sª Exª o CEME, se transmita para baixo num rio impetuoso, numa enxurrada, que digo?, num tsunami. Daí cinco (5) coronéis todos comandantes de unidades deverem, em obediência às leis não escritas da tropa, ser também eles humilhados. E para que se perceba bem a diferença de grau que vai do “meu general” ao “nosso coronel” (de um lado uma barra larga e três estreitas, do outro uma ou várias estrelas de cinco pontas) essa humilhação tem de ser redonda e notoriamente visível. Foi por isso, e só por isso, que os cinco cavalheiros foram provisoriamente exonerados das suas funções de comando. Não sei bem o que quer significar esta exoneração provisória mesmo que suspeite que ela deite por terra as espectativas desses oficiais ao generalato.

Perguntar-se-á, agora, o que sucede com o senhor Ministro da Defesa Nacional. A pergunta é pertinente e a resposta pode parecer impertinente: Nada!

O senhor Ministro é um civil, provavelmente um paisano, pois eventualmente não terá feito o serviço militar obrigatório. A carreira académica que propicia adiamentos pode tê-lo dispensado dessa maçada tanto mais que nascido em 61 já chegou à idade de “mancebo” numa época em que a tropa já não era uma fatalidade e, sobretudo, a balbúrdia post-revolucionária tinha tornado a chamada às fileiras um tanto ou quanto vaga.

Mas, ponhamos que sim, que o senhor Ministro foi às sortes, que foi apurado, “apto para todo o serviço”, que frequentou Mafra ou algo parecido, que, inclusivamente, foi aspirante miliciano e depois cumpriu serviço num qualquer risonho quartel do “torrãozinho de açúcar”. E que, passados uns meses de bela vida, “passou à peluda”, despiu a farda e foi dar as suas pacíficas aulas na universidade. Tudo nisto indica que a excelente criatura nunca passou de um paisano fardado, ou seja de alguém que, em tempos de guerra é carne para canhão e nos de paz uma chatice a mais.

O doutor Azeredo Lopes teve o azar de ser convidado, vá lá saber-se porquê, para Ministro. A prudência aconselharia que não aceitasse mas, desde tempos imemoriais, os professores de Direito adoram ser ministros como se sabe. À cautela poderia ter aceitado a Justiça ou uma daquelas pastas vagamente ligadas à Educação. Mas a Defesa Nacional? Francamente! Por muito Abril que se celebre, mesmo os mais excitados detestam a ideia do que se gasta um dinheirão em armamento. E em instalações militares por muito que estas sejam, tantas vezes obsoletas e desconfortáveis. A lembrança pungente das “máfricas” dos anos sessenta e setenta, a terrível experiência das matas africanas em três frentes, de quando em quando traiçoeiras mas sempre atemorizantes, reduziu a tropa a algo que a sociedade esconde com algum pudor, um toque de vergonha e muita indignação pela despesa. Os militares de carreira perderam estatuto, caíram no poço sem fundo e sem glória da pequena burguesia empobrecida. As espadas já não encantam as meninas casadoiras que preferem um licenciado em gestão, algum informático, um quadro bancário. Por outro lado, o prodigioso desenvolvimento do armamento obrigou as Forças Armadas a uma crescente profissionalização e ainda maior especialização. O Serviço Militar Obrigatório caiu em desuso por caro e ineficaz. Os oficiais perderam aí grande parte do prestígio que lhes advinha do enquadramento de dezenas de milhares de “mancebos” que iam à tropa aprender a ordem unida e o manejo de algumas armas pouco sofisticadas. Hoje ninguém usa Mausers, sequer Kalachnikovs e formar um condutor de tanque exige muito ourelo, muito estudo que não se entrega a um tarata mais civil que um edital camarário uma máquina que custa milhões. A Marinha e ainda mais a Força Aérea exigem conhecimentos, treino e estudo que se não compadecem com os escassos meses da instrucção básica. Estes ramos das FA exigem especialistas poucos mas eficazes e não a tropa fandanga que anualmente acorria aos quartéis. A tropa tornou-se mais e mais um corpo fechado, misterioso que nada tem a ver com a velha ideia da “Nação em armas” de tradição jacobina que já só entusiasma o PC et pour cause...

Está, assim explicada a origem da indignação do CEME. Porém, não se entende sem mais a obscura razão que atira sobre cinco coronéis a responsabilidade do escândalo dos paióis violados. Pode ser que estes cinco comandantes de unidade (de unidades mais ou menos de elite...) tenham algo a ver com a desorganização das rondas e sentinelas. Não menos verdade é que anteriormente a guarda esteve entregue a uma companhia, depois a um pelotão e acabou em 11 criaturas. Como não chegavam ter-se-á elucubrado um esquema rotativo para o qual havia, de todo o modo, falhas de pessoal. Tudo isto, deixemo-nos de brincadeiras, era do conhecimento de toda a gente, CEME e Ministro incluídos. Daí falar-se em “responsabilidade política”, que é algo que parece escapar ao Ministro e ao Governo. E, provavelmente, ao CEME.

Todavia, essa responsabilidade não escapou ao oficialato e os murmúrios castrenses ouvem-se com crescente nitidez ao ponto de dois generais, e dos importantes, já terem manifestado o seu mal estar e a sua polida revolta. Por muito que se apelide a tropa de “grande muda”, a verdade é que, à falta de tinir das espadas, ouve-se o rumor da indignação. E da camaradagem, outro valor apreciado pelos homens de armas. E da solidariedade, idem.

Fica-se com a ideia de que o CEME está arredado desse mundo e que o Ministro nem sequer ouviu falar dele. Para quem quer mandar na Defesa Nacional e deixar a sua marca, o ar bisonho com que o Ministro passeia a sua inocência, a sua fuga à responsabilidade ultrapassa os limites do decoro e da ética política.

Um comentador televisivo afirmava-se envergonhado por causa do roubo. Modestamente, envergonha-me mais a atitude das pessoas com responsabilidades. E nisso vai o CEME, o Ministro, o Governo e mesmo, desculpem lá, o alegado Comandante Supremo das Forças Armadas cujo piedoso voto de investigar tudo não faz desaparecer o modo como se está a tentar conter o escândalo varrendo para debaixo do tapete.

Ontem, o CEMGFA, terá afirmado que a tropa apanhou “um soco na barriga mas que depois se levantou”. Também não faltava mais nada. Então iam ficar espojados por terra, a morder o pó? Francamente!

Acrescentou ainda o CEMGFA mais duas pérolas de altíssima sabedoria. A saber: que os lança granadas surripiados de pouco devem servir visto estarem para ser abatidos. E que o valor do roubo fora apenas de 34.000 euros. Uma ninharia. Por outras palavras cada um dos coronéis provisoriamente exonerado vale 6.700 euros. Deve ser por isso que a exoneração é provisória. Para ser definitiva deve, ser necessário que ultrapasse os 10.000 euros por cabeça...

Ditosa pátria... ditosa pátria...

 

 

Diário político 216

mcr, 11.07.17

(o texto que se segue pertence a d’Oliveira. De facto, na sequência de uma estranha complicação de assinaturas desapareceu a de d’Oliveira pelo que entretanto a sua série “diário político” se publicará à boleia de mcr)

 

 

Afinal como é? Como foi?

Alguns senhores Secretários de Estado entenderam apresentar a sua demissão para, segundo Sas Ex.as poderem defender-se de uma fantasiosa acusação fabricada (ou a fabricar) no Ministério Público.

Achavam os respeitáveis governantes que havia na opinião pública um processo larvar e pertinaz que os “assava em lume brando”. Assim, e sem que, pelo menos para a generalidade dos cidadãos interessados, houvesse constituição de arguidos (coisa que neste momento –que eu saiba - ainda se não concretizou) resolveram os alvos dessa feroz, cavilosa e alegada conspiração (a todos os títulos “injusta e ridícula”) avançar eles próprios com o pedido ao MP de “constituição de arguido” para lavar a face e salvar a honra.

Conviria desmontar esta historieta barata que mete água poor todos os lados.

Porque é que os jovens estadistas demoraram um inteiro ano em dar o passo que, segundo os admiradores, foi de autentico respeito pelo interesse de Estado. Foi?

Andam por aí gentes que, notoriamente de má fé, inimigas do progresso pátrio e da virtude pública, que garantem que os agora ex-governantes sabiam da acusação do MP.

Assim, em vez de saírem à estacada para defender o bom nome, os demissionários resolveram defender-se “corajosamente”, desafiando os novos “inquisidores” a sair a terreiro e a mostrar a sua horrenda fauce de perseguidor de justos.

.............

Estava este texto naquele exacto ponto quando sai a notícia que o MP tinha enviado a 6 de Julho os respectivos avisos de constituição de arguidos. Teria assim havido, como de costume, uma fuga de informação que permitiu aos demissionários aparecerem de corda ao pescoço e vestidos de burel perante o algoz.

Afinal a famosa coragem política, o súbito rebate de dignidade ofendida não passariam de um tosco ardil cozinhado no fim de semana.

Oiço, neste momento, o dr Miguel Sousa Tavares, comentador da SIC que, em substância, acha que ambas as versões (demissão por motu próprio ou obrigada pelas circunstâncias) deixam muito espaço para dúvidas. Está enganado o ilustre comentador. Redondamente enganado. Se há um despacho do MP com data de 6, quinta feira que, de facto, só poderá ser conhecido – e com sorte – na segunda seguinte, das duas uma. Ou isso é verdade e o MP não está a tentar torpedear a renúncia dos agora arguidos ou é mentira e está a tentar lançar areia aos olhos do estimável público e finge que se antecipou à demissão das “vítimas” de um (mais um...) processo politico. Para tal, falsificou entre esta manhã e depois do anúncio da demissão e consequente pedido dos senhores Secretários, a data do despacho!

O dr. Sousa Tavares é licenciado em Direito, quiçá ainda advogado. Que me lembre sempre o vi na onda do jornalismo e, nos intervalos, a escrever umas vagas mediocridades ficcionais com grande favor público, coisa em que não é o único mesmo se sabemos que qualquer criatura que apareça na televisão e nos jornais pode, mesmo sem querer, ser tomada por génio literário. O país de poetas é hoje uma zona infestada por romancistas & similares saídos da mesma mole televisiva. Felizmente, isto, esta gloríola proto-literária, dura o tempo de um suspiro e desaparece nas dobras da História da Literatura num par de anos. Aliás, a receita já é tão conhecida e a concorrência tão numerosa que estes robustos talentos comentarísticos e literários se atropelam uns aos outros.

Acrescentou o imortal autor de “Equador” que não aprecia o MP e que sempre o criticará desde que ele se comporte como correntemente acha que se comporta. É um seu direito exactamente como, e muito bem, é contra o acordo ortográfico e, menos bem, a favor das touradas. Não vou questionar o seu direito à opinião mas já me parece duvidosa a sua campanha contra o MP entidade que não me é particularmente querida mas a que reconheço, dadas as conhecidas limitações em que trabalha, algum mérito e alguma virtude.

Aliás, sempre que o MP avança com um inquérito ou um processo sensível desata-se uma gritaria nem sempre inocente nem visando o triunfo da justiça.

Estamos em Portugal, está tudo dito.

 

D’Oliveira fecit 10-07.17    

au bonheur des dames 411

mcr, 11.07.17

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Três de uma só vez

Podia ter sido há um ano. Podia e devia. E até teria sido bonito ou, pelo menos, “elegante”, se é que este adjectivo cabe nesta grave e pouco atraente coisa que é a política à portuguesa.

Três Secretários de Estado que aceitaram o fatal convite da Galp para irem de borla e com tudo pago ver a bola. Ver a selecção portuguesa, vá lá, e não um qualquer anódino jogo. Patriotismo, portanto. Curiosamente o patriotismo lusitano é quase sempre assim: cachecol verde-rubro, muita emoção e pouca razão.

Rapazes novos a quem ninguém explicou algumas simples regras de “estar” na política. Tenho por certo que nenhum deles pensou (sequer uma vez) no pequeno pormenor ético de, sendo governantes, irem para um estádio à custa de uma empresa que tem contínuos negócios e igualmente contínuas desavenças com o Estado.

Rapazes ingénuos. Competentes, diz-se, mas ingénuos. Para eles aquilo não tinha importância. Ainda por cima iam “apoiar” os “nossos”, o Ronaldo e os outros. E a bandeira, claro. E o hino, idem. “Contra os canhões marchar, marchar”. Contra os ingleses, os alemães, os franceses e toda essa Europa rica que nos inveja o sol e nos despreza.

Na altura, a Oposição e alguma opinião pública, protestaram. O dr. Costa olhou-os com a sua tradicional bonomis e mandou-os dar uma volta ao bilhar grande. Os secretários, deitaram a mão à carteira e pagaram (tudo ou parte) do que acharam que deviam. Num país católico isto tem o mesmo efeito que uma penitência ordenada pelo confessor: Seis Padre nossos e um terço completo.

Infelizmente, a política, mesmo à portuguesa, não é semelhante à Santa Madre Igreja. Des resto, convém lembrar que não tinha havido “sincero arrependimento”. Todos os jovens Secretários afirmaram que não tinham procedido mal. Talves com alguma leviandade mas nunca mal. Em suma, não tinham pecado. Ou então era um pecado venial, um pecadilho, uma distração, uma brincadeira sem mal nem consequências.

O diabo é o Ministério Público e a sua singular mania de chatear quem se devota de corpo e alma à Pátria madrasta e ao Serviço Público.

Parece que, um ano depois, começam a cair acusações e processos. Ou anunciarem-se processos. À cautela, os três cavalheiros pediram a constituição como arguidos. E porque isso poderia pôr em causa o Governo, pediram a demissão dos cargos que ocupavam. Anteciparam-se ao irremediável se é que este se perfilava. Claro que se perfilava. Alguém acredita que estas inocentes e ingénuas criaturas sairiam por seu pé?

A pergunta que se faz é simples. Porquê agora e não na altura em que tal saída seria justificada e, eventualmente, saudada como imperativo ético e grande “sentido de Estado”?

Há em Portugal um surpreendente deficit de ética. Republicana ou socialista ou qualquer outra coisa. Ética, simplesmente. Aquela velha ideia de que “à mulher de César não basta ser virtuosa mas tem de parece-lo”.

Isto, esta tardia resposta a uma indignação pública, leva-nos a outras criaturas. Com uma diferença: estes Secretários de Estado eram considerados competentes pela opinião pública.

O mesmo não se pode afirmar de algumas tristes criaturas que se arrastam em Ministérios agora muito em foco. E, fundamentalmente, a Sr.ª Ministra da Agricultura e o Sr. Ministro da Defesa. Em ambos os casos a evidência é dramática. Não sabem o que andama fazer, as coisas passam-lhes ao lado, por cima, por baixo se é que, sequer, eles sabem que algo lhes ronda o corpinho. Numa palavra, não têm nem jeito nem capacidade para os cargos em que foram, em má hora, investidos. Pior, não percebem que são medíocres (milagre seria que percebessem!) e que, provavelmente, nem para adjuntos teriam mérito suficiente. Porque carga de água terão sido escolhidos é mistério mais difícil do que o da Santíssima Trindade. Desde os fogos e do roubo das armas que andam por aí, como autómatos, como fantasmas tristonhos. Estarão vivos ou já só são puros espíritos à procura do purgatório destino de almas simples?

Antes mesmo destas provações que os desgraçaram já pouca gente lhes sabia o nome e as funções. Dos senhores Centeno, Santos Silva, Brandão Rodrigues (Até deste!) ouvia-se falar mesmo que o apodo de Ronaldo ao primeiro não fosse mais do que uma pesada graçola própria de um alemão condenado à cadeira de rodas. Todavia, mexiam-se, falam, existem podem ser polémicos, e são-no mas nada têm de alminhas penadas.

É provável que os dois azarados ministros (se é que ainda o são...) sejam excelentes criaturas, pessoas a que se pode mandar fazer um recado difícil, por exemplo comprar uma dúzia de foguetes, ou uma resma de papel almaço. De certeza que o farão prontamente e trarão o troco certo. Para Ministros é que não dão. É uma peninha mas é mesmo assim.

Porque é que o Dr. Costa os escolheu, porque é que, ele próprio que de tonto não tem nada, os foi buscar? Claro que é bem verdade que este Ministério é constituído fundamentalmente (com uma que outra excepção) por pessoas de escasso peso político seja ele genérico seja no PS. Nisto, o Dr. Costa imita o finado Dr. Salazar. Com uma diferença: o segundo tentava escolher criaturas fieis mas prestigiadas nos arredores ou dentro do Regime. E quando estas metiam o meigo pé na argola mandava-lhes um cartãozinho de visita com um adeus definitivo e fulminante. No dia seguinte, a defenestração das criaturas vinha, sem fotografia, em vinte linhas e na página cinco dos jornais.

Estes, de agora, estão entregues aos bichos, a arder em fogo brando e passeiam o seu arzinho trágico por uma Lisboa que se ri e finge que já os não vê. E será que são visíveis?

 

Estes dias que passam 357

mcr, 06.07.17

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À maneira de Swift

(rescaldo 3)

 

(pensei algum tempo antes de publicar esta crónica. Para quem o ler com alguma atenção sobram amargura e sarcasmo. Escrevi-o sem alegria ou entusiasmo. Há demasiada dor por aí, à solta. E há, certamente muitos culpados fugidos da luz pública, escondidos em falácias e desculpas, em enredos e enganos. Depois, há, também, “um fogo que arde sem se ver”, o lume da cólera, da impotência raivosa e da indignação. É para quem assim se sente que escrevo. Os outros podem passar de largo.)

Desta feita, deu-me para recordar Jonathan Swift, o autor genial das “Viagens de Gulliver” e de vários extraordinários panfletos que o tornaram conhecido, admirado ou detestado em Inglaterra e na Irlanda. Destes, para o caso, destacaria a “Modesta proposta para evitar que os filhos dos pobres da Irlanda sejam uma carga para os seus pai, para o país e para que se convertam em algo de útil para o povo”. Em poucas palavras, Swift propõe, apoiado em cálculos matemáticos, que a fome na Irlanda e a pobreza em geral poderiam ser combatidas engordando as crianças filhas de pobres para serem caçadas. Diminuiria assim o número de habitantes (demasiados face aos recursos da ilha) e a saúde publica melhoraria graças ao suplemento de proteínas animais. Isto, se bem recordo, sem falar nos benefícios obtidos com a permissão para caçar.

Quase se poderá fazer proposta semelhante para todo o interior português, quiçá ressalvando as capitais de distrito.

É verdade que a envelhecida população não forneceria uma carne de qualidade mas também não era para isso que seria usada. A ideia é mais simples: Numa época em que pesam por todo o lado as ameaças do Daech e de outros grupos de malfeitores, seria possível constituir no, apesar de tudo, vasto hinterland lusitano uma extensa zona de guerra de treino anti guerrilhas onde se exercitariam tropas especiais (nacionais e estrangeiras –outra forma de turismo ainda não explorada). Para o efeito, distribuir-se-iam, mediante um modesto pagamento,  aos habitantes de ambos os sexos (em sinal de respeito pela paridade e pela democracia) armas antiquadas que o nosso Exército deve possuir  em quantidade apreciável. Resolvia-se, neste particular aspecto, outro duplo problema nacional: despachava-se armamento obsoleto e reduzir-se-ia o custo das Forças Armadas.

As forças militares portuguesas nada pagariam mas essa perda de rendimento seria compensada pelo que se pediria  a estrangeiros e/ou a milícias particulares.

Sendo certo que, só em pensões, a população do interior custa um dinheirão, bem se pode ver o valor dos ganhos obtidos pelo abate de criaturas praticamente imprestáveis. A essa poupança de dinheiros públicos haverá que somar outra igualmente importante. Centenas de serviços locais ou regionais poderiam ser extintos ou fortemente reduzidos dado o desaparecimento de utentes, mesmo se, num primeiro tempo, pudesse haver um incremento do desemprego dos funcionários respectivos. De todo o modo, poder-se-á estudar, com o auxílio da Caixa Geral de Depósitos o custo real de tal medida. Bastaria pedir à grave instituição, patrioticamente nacional e nossa, o estudo que levou a cabo para fechar a agência de Almeida que, recorde-se, até é sede de Concelho.

Relembra-se ainda que certos problemas estruturais como a falta de médicos ou enfermeiros em todo o Serviço Nacional de Saúde, seria colmatada com a transferência dos que exercem nessas “terras do demo”, finalmente libertadas de doentes. 

Aqui chegados, como diria aquele senhor que finge de Marcelo do Norte na SIC, poderá surgir a pergunta: Que fazer (como diria outro senhor já falecido e bolchevique)  quando já não houver habitantes nessas extensas regiões de fogos e desesperança?

Também aqui a resposta é simples. Desaparecida que está a população, a floresta deixa de ter dono. Deixando de ter dono, não necessita de Cadastro, operação demorada, custosa e dificílima. Poderá pois ser nacionalizada  até se atingir os rácios europeus (40%) deixando a restante para outros usos: campos de golf, quintas para estrangeiros amadores da doçura dos nossos costumes e clima, libertação de terrenos para plantação de carvalhos, castanheiros e outras espécies nobres que o pinheiro e eucalipto afugentaram, pastos para  bisontes (boa carne e boa pele) importados da Polónia ou dos Estados Unidos, consoante o preço, criação de reservas de caça tropical (importando espécies cinegéticas de África, mormente lusófona sem exceptuar a Guiné Equatorial (neste caso poder-se-ia mesmo alugar a esse curioso país algumas extensões de terreno para que as suas autoridades pudessem construir campos de detenção provisoriamente definitivos para oposicionistas políticos, permitindo assim à nova e lusófona nação substituir a pena de morte local por humaníssimas prisões perpétuas).

Dir-me-ão que nem todo o interior é igualmente defeituoso e que forçoso será criar “corredores” mais ou menos largos para poupar terras boas e ligações a Espanha e ao mundo. Que, portanto, esta evidência potenciaria a criação de um arquipélago de enclaves no meio da waste land (se permitem que cite Elliott). Ora a nossa (lusitana e imperial) experiência em enclaves está indelevelmente manchada pela história do fim do meio século XX, quando se perderam Dadrá e Nagar-Aveli (territórios respectivamente comprado pelo Estado Português e recebido como indemnização por ter sido afundado um navio português). A União Indiana invadiu ou mandou invadir essas duas inúteis e isoladas regiões começando assim o fim do Império do Oriente.

Não creio que com as zonas libertadas de população se corra idêntico risco. A Espanha já tem com que se entreter com os seus distritos fronteiriços mesmo se aquilo já não é como “Las Hurdes” do genial Buñuel. De tierra sin pan eis que estão convertidas em reserva natural visitável por turistas esquecidos da ancestral miséria. Aqui está um bom indicador para o que proponho. Ou seja, admito que, depois de um período de desertificação, possa haver outro com povoamento controlado a exemplo do que se faz com a reintrodução do lince ibérico.

Há sempre alguém, mal intencionado e ignorante que virá a terreiro com o argumento de que assim se perde população. Perde-se gente mas ganha-se em rendimento per capita. Perde-se gente que gasta o dinheiro que não produz e ainda o dinheiro dos que labutam no litoral. Diminui-se a despesa sem tocar na receita. Do mesmo modo que se acabaram muitos impostos directos (sempre alvo de recriminações desagradáveis por parte da CGTP – quando isso lhe é permitido!- ) vantajosamente substituídos por indirectos que, aliás, são mais democráticos: atingem todos, pobres e ricos mesmo se as consequências em cada um destes estractos possam ser diferentes.

 

* Vai este folhetim para Maria L.A, amiga inesquecível numa Coimbra vestida com a cor da nossa “juventud divino tesoro”. Nesses tempos de vinho e rosas (e de chumbo e de caminhos cortados) teremos visto no cineclube de Coimbra “Las Hurdes” . Foi também o tempo da descoberta de Swift, Elliott ou Ruben Dario, igualmente citados.

 

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mcr, 05.07.17

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dia a dia 

a réplica (cem anos depois) do "movimento das espadas" teve vida curta. Pelos vistos, ao contrário do que parecia ser certo, a entrega de espadas seria feita apenas por oficiais na Reserva para poupar aos seus camaradas no activo maçadas e processos. De todo o modo, os oficiais (consta que três coroneis) seus patrocinadores terão anulado a manifestação. Provavelmente, a deslocação do Presidente da República a Tancos e os recados que por lá deixou serviram suficientemente a causa e confortaram o protesto previsto.

Não gosto de ver a História repetir-se mesmo se compreenda algumas das razões que assistem ao corpo de oficiais. O que, no conturbado - melhor dizendo, caótico, período da 1ª República ocorreu tinha cusas e razões profundas. A começar pela desordem nos quarteis, pela continua intervnção de sargentos politizados, as mais das vezes carbonários, pela intrusão de proto-milicias republicanas, pelo contínuo pôr em causa das hierarquias militares (fomentada pelos próceres republicanos que mais tarde, nas trincheiras francesas,  veriam quão desastrosa fora tal política )

e que se traduziram pela ascensão de Pimenta de Castro. 

Ontem, na televisão, sousa e Castro e Vasco Lourenço, comentaram o caso. Se não se pouparam a críticas não menos verdade é que, sobretudo SC, fustigaram duramente a "bandalheira" ocorrida em 1975, durante o PREC. E, de facto, para quem se lembra das assembleias tumultuosas do MFA, das exigências de tribunais especiais para oponentes, das ameaças de encerrar no Campo Pequeno os reaccionários (trist referência ao Chile dos Pinochets...) para não falar da palhaçada dos SUV que nunca passou de uma mascarada desesperada e tardia fomentada por umas dezenas de milicianos desvairados pelas fumças revolucionárias. Acoisa, aliás, passou-lhes depressa, muito depressa como hoje se sabe. 

De todo o modo, continua a ser preocupante a irrupção de reivindicações acompanhadas sempre de ameaças de paralisação do aparelho de Esdtado. E sempre, mas sempre, com consequências danosas contra os mais débeis e mais pobres. 

Estes dias que passam 356

mcr, 05.07.17

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 Rescaldo (I) 

(* Pedro Correia, do blog "Delito de Opinião", fez-me um honroso convite: publicar um texto meu no seu excelente blog. O resultado é o que se vai ler mais em baixo. 

Publica-se aqui, passado qie foi o "período de nojo" necessário para (mesmo tendo em conta a fragilidade dos meus escritos) salvaguardar a leitura em cada um dos espaços.

Mais uma vez, agradeço a Pedro Correia a hospitalidade oferecida. Quando ele quiser, acolhê-lo-ei no meu espaço com prazer e alegria.)

 

O rescaldo

 

Enterraram-se os mortos e, agora, há que cuidar dos vivos como mandava o temível mas eficaz marquês de Pombal. E cuidar dos vivos não significa, mais outra vez, umas vagas ajudas, duas palmadinhas nas costas, boas palavras e uma selfie com o Senhor Presidente (mesmo se os seus encorajamentos tenham sido oportunos, pelo menos desta vez).

Cuidar dos vivos significa apurar as necessidades, prevenir o futuro e tratar de saber a quem cabe a responsabilidade.

Comecemos por esta última tarefa que, não sendo a mais preocupante, convém não esquecer.

À primeira vista, todos somos responsáveis, por acção, por omissão, pelo silêncio, pelos votos naqueles que não fizeram o trabalho de casa. Todavia, de nada nos valerá – como já li algures – vir disparar sobre o defunto dr. Salazar por ter sido ele quem, primeiro, mandou reflorestar o país. Mandou e mandou bem mesmo se, com os meios da altura (e aí se inclui a incapacidade de os povos se rebelarem), bem se poderia ter pensado em que espécies arbóreas se devia apostar. Apostou-se no pinheiro bravo (e depois no eucalipto) por duas razões crescem em toda a parte, produzem lucros ao fim de poucos anos e quase não exigem cuidados.

Porém, aumentam a vulnerabilidade da floresta mediterrânica por serem facilmente presa do fogo.

Voltando aos responsáveis, toda a gente está de acordo que o abandono das terras agricultáveis, o despovoamento daí resultante, o crescimento descontrolado de “mato”, conjugam-se para tornar extensas zonas em alvo fácil das chamas. Junte-se-lhe o abandono de caminhos rurais e teremos uma situação mais complicada.

No entanto, o abandono do interior foi potenciado por múltiplos factores dos quais o menor não é seguramente o facto de em grande parte do interior a parca agricultura que existia ser de mera subsistência, permitindo que a miséria rondasse cada lar e, desde há séculos(!) empurrasse multidões de camponeses para a emigração. Assim se fez o Brasil, alguma (pouca) África colonial e quase toda a industrialização do país. As cidades, sobretudo as do litoral, cresceram e crescem com transmontanos, beirões e alentejanos. E mesmo as cidades do interior concentraram, também elas, muita gente das aldeias em redor.

Isso terá tido como consequência a perda ou a não actualização do cadastro florestal. Heranças que se foram dividindo e subdividindo, terras abandonadas, perda dos marcos etc., tornaram a selva do interior mais misteriosa do que a Amazónia.

Também não é menos verdade que, hoje em dia, ninguém vai “roçar” mato para arranjar lenha para as lareiras, cama para os gados ou material para produzir adubo. O mesmo e já falado despovoamento fez desaparecer os rebanhos, mormente de cabras que limpavam eficientemente o terreno mais maninho. (Também é verdade, mas ninguém se lembra – ou se quer lembrar...- que muitos fogos ocorriam devido à incúria de pastores que tentavam queimar mato para obter pasto para o gado).

Um velho, querido e saudoso amigo que já lá vai dizia que a terra é um bem finito e que, por isso, todos a queriam e ninguém vendia. É verdade e essa ideia antiquíssima que funda na propriedade da terra a ideia da dignidade do camponês foi durante séculos, e hoje ainda, uma ideia força que venceu todos os ideólogos da “reforma agrária ou da nacionalização forçada da terra. Mesmo nas situações mais violentas (desde a Rússia bolchevique à China) a apropriação estadual da terra foi progressivamente forçada a conviver com os talhões individuais, com a propensão à propriedade privada e, finalmente, com o derrube do chamado “socialismo real” de que ainda cá subsistem uns vagos defensores. (E lembremos que no centro e no norte do país, nunca os estatizantes defenderam sem mais o esbulho dos proprietários aliás quase sempre pequenos e pequeníssimos.)

Isto, por muito que não seja politicamente correcto, significa que os fogos também se devem a muitos dos lesados, mesmo se seja verdade que na maioria das vezes se trata de gente idosa, analfabeta, empobrecida que não pode custear a desmatação, a limpeza dos seus parcos terrenos.

Sabe-se, igualmente, que, em toda a Europa a que pertencemos, a média de floresta pertença do Estado ronda os 40% da superfície total. Em Portugal, a floresta pública atinge com dificuldade os 2%!...

Tudo isto, e é muito, é gigantesco, não pode, porém, fazer esquecer, perdoar, ignorar que há uma coisa chamada “responsabilidade política”. Quem é ministro deveria saber ao que se arrisca quando aceita o cargo (tanto mais que ninguém é obrigado). Há dúzia e meia de anos, caiu uma ponte em Entre-os-Rios. Era ministro do Equipamento Social um cavalheiro que perante a evidência de meia centena de mortes declarou (honra lhe seja) que a culpa não podia morrer solteira. E demitiu-se irrevogavelmente.

Actualmente, vagueia por aí, uma senhora, seguramente muito meritória, cheia de estudos, que neste momento faz de ministra. Antes disso, e isso é importante sublinhar, fora adjunta duas ou três vezes de ministros da Administração Interna. Ou seja, sabe, ou devia saber, como é que as coisas se passam. Vimo-la, com ar melancólico na zona dos incêndios, ouvimo-la, depois, dizer umas vacuidades simpáticas sobre a tragédia (felizmente, honradamente, não pôs no seu cenário um cadáver como certa jornalista da TVI).

Que um responsável político vá uma vez ao local da tragédia mesmo se nada pode fazer não me causa repugnância. Que ele assente arraiais no sítio sem ter competências específicas que o tornem útil no combate às chamas é que já me parece demais.

A senhora ministra deveria saber (ou pelo menos pensar) que não era ali que poderia ser mais útil. Era lá em Lisboa, a reunir com gente que a pudesse aconselhar. Com esses desafortunados especialistas que andam desde há anos (que digo?, desde há décadas...) a fazer o diagnóstico das sucessivas situações e a propor os meios de as evitar.

À Sr.ª Ministra pedem-se políticas mesmo se caia bem o seu natural ar compungido e merencório. A quem está no terreno pedem-se coisas tremendamente práticas. Apagar o fogo, salvar vidas e bens (árvores, casas, animais, ia a dizer memórias e afectos mas isso espero que esteja implícito).

Sª Excelência não é bombeira, não é médica, não é psicóloga, não é enfermeira, não parece ser escuteira ou pertencer a uma ONG, à Misericórdia ou ao Banco Alimentar. Também não é sacerdote, sacristã, coveira ou irmã da caridade.

É ministra, raios! Ministra! Tem de governar. Não precisa andar com um colete de bombeiro, sapatilhas e ar (sempre melancólico) grave e solidário. Que os ministros, os deputados, os autarcas e o resto das paisanos em me que incluo estão solidários é um mínimo, um sinal de civilização, de cidadania de honradez pessoal.

Para beijos, abraços e afectos já basta o Senhor Presidente que, cada vez mais, para o melhor e para o pior, se assume como o 4º Pastorinho. Mas o Senhor Presidente não governa, não tem de estar a todo o tempo a estudar o essencial que é tornar certo e evidente, hoje, o NUNCA MAIS. Nunca mais isto, esta infâmia, esta vergonha, este desespero, este modo tão português de impotência e irresponsabilidade.

É por isso, Exª Senhora Ministra, que com alguma tristeza mas com toda a convicção que me permito dizer-Lhe que, mesmo já fora de tempo, ficaria bem pôr o Seu lugar à disposição. Nem me atrevo a sugerir-Lhe uma demissão irrevogável (das irrevogáveis como a de Jorge Coelho e não das irrevogáveis passageiras que imortalizaram um político agora felizmente na reserva (e, vá lá, em relativo silêncio).

 

*na gravura: um carvalho. Dentro em pouco será algo quase desaparecido na nossa floresta. Se esta pertencesse em percentagem razoavel (europeia) ao Estado poderia haver alguém, inteligente e sensível que nesses terrenos públicos e desolados se lembrasse de plantar carvalhos. E teixos. E castanheiros. E faias. Etc., etc....

 

 

 

 

 

   

estes dias que passam 341

mcr, 04.07.17

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Andam a brincar aos governos e, pior, a brincar connosco

 

 

Um bando audacioso (ou nem isso: simples conhecedor do terreno e das fragilidades das instalações militares – obsoletas, sem dinheiro para coisas simples, à mercê do primeiro que as queira violar - ) roubou armamento que estava guardado num par de paióis de Tancos. Poderia ter sido em Santa Margarida, mas foi ali, onde se guardavam munições, granadas, lança granadas e não sei que mais. Santa Margarida fica para mais tarde...

Não precisaram de muita imaginação para levar a cabo o assalto. A vídeo-vigilância não funcionava, as vedações exteriores estavam num estado deplorável (só umas centenas de metros tinham sido reparados) e os turnos de vigilância só podiam fazer-se com grandes intervalos de tempo.

Claro que, no meio desta palhaçada toda ainda foi preciso arranjar um meio de transporte preparado para transportar cargas sensíveis. Digamos que há de ser coisa mais que conspícua, dessas que não andam por aí aos pontapés. Sobretudo nos arredores de um campo militar, se é que Tancos, uma honrada e respeitável velharia, merece ser chamada campo militar, coisa que, em teoria, e quase por todo o lado, excepto no “torrãozinho de açúcar”, claro, é algo com ar de fortaleza inexpugnável. No caso em apreço, Tancos oferece menos segurança do que o castelo de Leiria...

Depois do roubo, um primeiro e insólito escândalo: foi um jornal estrangeiro (espanhol) ue publicou a primeira lista do armamento roubado que cá, pelos vistos, era um segredo de Estado.

O segundo escândalo foi uma surpreendente “suspensão” (ou algo do mesmo teor e imbecilidade) de cinco oficiais superiores, todos comandantes de unidades de prestígio e sediadas em Tancos. Não foram exonerados mas tão só “afastados” para (riam-se se conseguirem...) para não perturbar o inquérito!!!

O autor desta extraordinária “solução” foi o senhor Chefe do Estado Maior do Exército. Se agiu por si só ou se o fez por encomenda de alguém, por exemplo o Sr Ministro da Defesa, é algo que desconhecemos.

Este senhor ministro teve oportunidade de ir prestar umas declarações patéticas à televisãoo. Eram de fazer chorar, à gargalhada, as pedrinhas da calçada. S.ª Ex.ª não sabia, não se sentia responsável, tanto mais que não era sentinela em Tancos, cabo da guarda ou polícia sinaleiro.

S.ª Ex.ª já se tinha notabilizado, pela negativa, enquanto presidente de uma Alta Autoridade que fez a posterior parecer excepcional.

S.ª Ex.ª, à semelhança da Ex.ª Ministra da Administração Interna é licenciado em Direito, professor universitário enfim um barra em questões jurídicas. Parece, todavia, tal qual a sua colega, que uma coisa é a responsabilidade jurídica, outas a política.

E é desta que se trata. Nos dois casos. Tenho a impressão que quer o Sr Ministro, quer a sua colega, são pessoas de bem, honradas, incapazes de fazer mal a uma mosca mesmo a uma tsé-tsé se é que a reconheceriam. Porém, nada disso tem a ver om os cargos políticos que ocupam. Aquí é de ética, de política que se trata.

Há muitos anos, houve um senhor ministro que se demitiu porque um filho teria cometido já não sei que tratantada. Depois o senhor Coelho demitiu-se porque uma ponte caiu. Poderia citar mais mas estes bastam para o que quero dizer. A responsabilidade política nada tem a ver com pratica de ilícitos por parte do mandatário político. quem faz parte de um Governo não anda por aí a cortar fitas ou a dizer baboseiras sobre o que lhe apetece. Nem a atirar sobre outros as culpas, reais ou imaginadas, do que acontece.

O que se passa neste momento é inconcebível. Cinco comandantes de unidades pagam as favas de anos de sub-orçamentação, de desmazelo e de irresponsabilidade. Há quem defenda que eles deveriam ter-se recusado a comandar as unidades aquarteladas em Tancos sem haver uma clara definição de quem é que guardava os paióis. Tolice. Por junto, poderiam (se é que o não fizeram) ter feito notar que as regras de vigilância não eram suficientemente específicas, que não estav identificado quem deveria gerir rondas, reparar vedações, organizar a defesa de zonas que não eram as afectadas às suas unidades.

 

Sabe-se, por outro lado, que o Exército, isto é as suas mais altas chefias e, obviamente, o Ministério, conhecia o estado comatoso das instalações onde se depositavam as armas e as munições. Tanto sabiam que havia uma previsão de despesa lá para as calendas gregas. Só que os gatunos, muito pouco desportivamente, resolveram apoderar-se de algum material, de resto pouco caro mas com mercado certo entre o banditismo civil.

Em suma, faltam artigos à “guarda” da tropa, sobram coronéis suspensos e anda por aí um cadáver político a fazer de ministro. Chega.

Aliás andam dois. Um cavalheiro e uma senhora. Até que enfim que se chegou à paridade!

Este Governo parece, seriamente, constituído por um 1º Ministro e por uma série de criaturas sem autonomia e sem peso. Ou melhor: com diferentes pesos. Dois ou três tem algum passado consequentemente alguma espessura. O resto abana a cabeça e faz os recados a quem de direito. Tout va bien, madame la marquise.

No meio desta “stravaganza”, oficiais indignados e com um raro “Esprit de corps” irão amanhã, sem condecorações a Belém, entregar as espadas. Já durante a 1ª República houvera um chamado “movimento das espadas” que fez cair um governo. A coisa foi o pretexto para o chamamento de Pimenta de Castro que também não se eternizou no poder. (Como aliás os cinquenta e um governos durante os interessantes dezasseis anos de 1ªRepública).

O Senhor Presidente da República, o 4º pastorinho desta época pós Fátima, vai ter de fazer alguma ginástica. Talvez lhe faça bem.

Não se julgue que eu aplaudo esta reprise do movimento das espadas. Muito menos que a condene. Então não se ouvem, desde há semanas, ameaças de uma greve de Juízes, nunca desmentida por eles? Não assistimos a permanentes ameaças de greve do Ministério Público? Da Polícia? Que é que se murmura na GNR?

Deixando o espinhoso tema das forças armadas, da Justiça e da Segurança Pública. No meio desta “cour des miracles” à portuguesa, temos que outras corporações ameaçam a segurança dos portugueses. Estão nesse caso, os senhores enfermeiros cuja greve poderá ter consequências graves na saúde dos cidadãos e, sobretudo de mulheres em trabalho de parto. Igualmente anda no ar uma ameaça de greves sem tempo limitado de outros corpos sanitários (farmacêuticos, técnicos de diversas áreas hospitalares desde as análises aos exames de toda a ordem).

O que parece curioso é que, na maioria dos casos, desde os juízes aos enfermeiros, estamos perante reivindicações salariais que, em primeira mão, parecem razoáveis. O Estado que reverte tanto desde que os parceiros políticos do Governo abram a boquinha mimosa, o mesmo Estado que, agora que estamos a rebentar de turistas, resolveu baixar o IVA da Restauração (mais 400 milhões de perda, para já) em vez de aplicar essas verbas em coisas mais úteis e mais necessárias do que o preço de uma dose de bacalhau com grão no restaurante da esquina.

O mal dos grupos em contestação é não serem representados pela CGTP, não terem organizações correias de transmissão nem poderem ser confundidos com a habitual clientela do PC e do BE, sequer do PS.

De todo o modo: aguarda-se a demissão destes dois ministros. Seria mais curial que fossem eles a apresentar o pedido mas, como já se duvida do seu sentido de Estado, convinha que o dr Costa desse um ar da sua graça. Que as férias, sem dúvida merecidas, lhe revigorem o corpo e sobretudo o espírito. Para que não se comece a pensar que também se precisa de um Primeiro Ministro...

 

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