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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 358

d'oliveira, 07.08.17

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Os ditamaduros

Uma inflação que vai acabar brevemente nos 1000%; 160 mortos em manifestações de rua em três meses (todos, aliás da “oposição”); uma histórica chapelada nas eleições da Assembleia Constituinte; 500.000 refugiados na Colômbia (números relativos a 20 de Julho pp);a prisão arbitrária como orática; centenas de presos políticos amontoados nas cadeias, sem processo, sem julgamento ou com julgamento sumário; um parlamento eleito privado de segurança e de poderes; uma procuradora geral expulsa do seu cargo por voto à mão levantada; milícias populares armadas ao lado da polícia para ameaçar, espancar, ferir, prender ou matar manifestantes; um repúdio internacional generalizado desde o Mercosul à União europeia passando pelo Vaticano; negativa de reconhecimento internacional dos novos orgãos legislativos eleitos; queda abissal da moeda nacional face ao dólar e ao euro (1 para 50.000!!!); hospitais sem medicamentos, sem sangue, sem sequer compressas; campos petrolíferos arruinados pela falta de peças, pela ignorância e pelo abandono dos mais qualificados; televisões, rádios e jornais encerrados, confiscados ou proibidos; acusações contínuas de terrorismo ou de traição contra quaisquer vozes desconformes; falta geral de mantimentos, mormente alimentação e fome generalizada em grandes sectores da população, especialmente na que se associa à oposição; corrupção generalizada; etc., etc....

Este é o actual retrato da Venezuela que foi, durante anos e anos, um país rico e próspero. Mais rico do que qualquer dos seus vizinhos, provavelmente o mais rico de toda a Ibero-América.

Não se pretende fazer crer que tudo corria no melhor dos mundos. Não corria, havia pobres, havia subúrbios onde se vivia mal e amontoadamente, sem condições de qualquer espécie (exactamente como hoje acrescentando agora o deficit de esperança). Houve ditaores e golpes de Estado, democracia musculada políticos corruptos. Também havia partidos, coisa que agora fora algo que soa a “bolivariano” não existem senão clandestinamente. E é bom recordar que o próprio Hugo Chavez também deu uma perninha no “golpe de estado”, mesmo que depois chegasse ao poder por eleições mais ou menos democráticas. Da mesma espécie das últimas legislativas que, apesar de todos os entraves, foram ganhas pela oposição ao chavismo, (per)versão Maduro. Todavia, nunca a Venezuela se viu perante uma crise tão violenta, um cenário tão assustador e um futuro tão desolador.

Perante tudo isto que faz o PCP. Absolve o poder ditatorial que se vai instalando (com ajuda e treino de especialistas cubanos) e declara o governo venezuelano “democrático”, legítimo e progressista, decretando por outro lado que a oposição chafurda no banditismo, no capitalismo (esta nunca falha) e no proto-fascismo (idem, aspas.

E avisa o Governo Português (que internamente apoia com duas mãos à falta de mais) que seguir a opinião mais que prudente da União Europeia faz perigar a situação da comunidade portuguesa e luso-descendente instalada na Venezuela. A falta de decoro deste aviso atinge as raias da indecência quando se sabe que já há na Madeira cerca de quatro mil refugiados; que na passada semana vários portugueses foram feridos em manifestações; que desde há meses que estabelecimentos comerciais portugueses, mormente padarias, foram assaltados e saqueados. As ameaças à comunidade portuguesa são constantes e inclusivamente vistas na televisão. Aliás, já o não serão, pelo menos em estações portuguesas dada a proibição de entrada de jornalistas portugueses poucos dias antes da caricatura de eleição deste domingo.

Sobre tudo isto, o silêncio do PCP é de oiro. Como de oiro é qualquer opinião (ou falta dela) sobre a ideologia “bolivariana”, arremedo velho e revelho de outras absurdas teses nacional-ditatoriais em voga nos piores anos da “violência” latino-americana. O PCP sempre lesto em criticar o que ele considera como desvio á justa linha marxista-leninista, consegue dar uma prodigiosa cambalhota ao louvar um punhado de tolices que só a cabeça de Maduro poderia evacuar.

Não que esta posição, arrebatada e para uso externo, seja uma novidade. Não é muito antiga uma curiosa opinião de um dirigente do PCP (Bernardino Soares) que “pessoalmente não tinha dúvidas de que na Coreia do Norte não existisse democracia”). Convém lembrar que a criatura foi deputado durante vinte anos, líder da bancada mais de dez e membro da Comissão Política. Também é licenciado em Direito!...

À falta da boa e velha União Soviética, até a Coreia ou esse escárnio vivo chamado Maduro, servem para ilustrar e defender a boa causa.

Estamos servidos.

De verdade e de democracia!