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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

missanga a pataco 83

d'oliveira, 03.08.17

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Pergunta inocente

 

Foi regulamentada por decreto a gestação de substituição ou seja a possibilidade de um casal infértil poder pedir a ajuda de uma mulher para gerar o futuro filho daquele.

O decreto estabelece inequivocamente a absoluta gratuitidade da gestação a cargo da gestante substituta.

Do ponto de vista dos princípios isto parece óbvio. Mas, na prática, como é que será?

Alguém de bom senso acredita que vão aparecer por aí mães de substituição à borla?

Alguém acredita que o casal que deseja filhos não pague, se tal for exigido pela gestante?

Ou estaremos perante mais uma lei “para inglês ver”?

Não me abono no cinismo corrente e contemporâneo mas, desculpem lá, não acredito nisto. E vocês?

(mcr 4-8-17)

Au bonheur des dames 415

d'oliveira, 01.08.17

Irmãos siameses

ou

os mistérios da internet segundo um ignorante atestado

(por mcr, 1/8/17)

 

Comecemos pelo princípio, como dizia um imortal professor da Faculdade de Direito de Coimbra

O imortal, aqui, é mera retórica: todos os ilustres lentes daquela vetusta universidade são imortais ou, pelo menos, assim parecem. Com dois queridos e desaparecidos amigos, atempadamente prófugos dos “Gerais”, criámos, numa noite especialmente copiosa em libações, a teoria do “professor perpétuo” que finalmente apenas consistia nisto: os cavalheiros que chegavam à cátedra estavam amaldiçoados e nunca morriam mas tão somente encarnavam sucessivamente noutros corpos e continuavam a usar a sua sanha medonha contra os inocentinhos que imprudentemente cruzavam a “porta férrea” para adquirir algumas luzes. Mais tarde, forneci ao Nuno Brederode, outra imensa saudade!, esta teoria e ele prometeu-me (em pleno café Monte Carlo) propagandeá-la naqueles extraordinários escritos que lhe admiramos. Deve, porém, ter-se esquecido ou ainda estarão sob a vaga forma – informe – de rascunho à espera de mão inteligente e piedosa que os reúna, estude e edite.

Voltemos, todavia, à vaca fria, ou seja ao princípio. E este é assim: entrei neste blog pela mão amável de um par de cavalheiros que imprudentemente acreditaram nos meus imaginários dotes literários. Não sei o que lhes deu nem como chegaram a tão bizarra conclusão mas a verdade, verdadinha, é que me convidaram a espedaçar a gramática e a lógica com uns “dazibaos” que me iam ocorrendo.

Começou assim a carreira bloguística de mcr, vai para mais de dez anos. Algum tempo depois, sussurrei à extraordinária almirante Kami(kaze) o nome do meu compadre e quase alter ego d’Oliveira, companheiro de aventuras e loucuras (e algumas agruras...) desde a nossa comum infância na praia de Buarcos, nas escolas da mesma gloriosa terra, na mata de Sotomaior e em mais de mil outras ocasiões, Caxias incluída.

Durante muitos e bons anos, lá fomos a par e passo, publicando o que nos vinha à cabeça. D’Oliveira, aconselhado por mim, adaptou a numeração dos seus textos sob um título geral comum, alegadamente para traçar uma rota reconhecível pelo menos temporalmente. Como eu, volta e meia, perdeu-se na numeração, coisa fácil de ocorrer para quem usa mais de um computador. Ou é aselhice nossa e comum, ou, de facto, nem sempre um computador diferente “entende” a numeração. Para evitar alguma piedosa piada dos leitores, ambos convimos que o defeito é nosso, absolutamente nosso.

O tempo foi decorrendo pacificamente, o blog mudou de site e, até há bem pouco, qualquer leitor poderia verificar a quem pertenciam os textos, mesmo se os já referidos títulos gerais (ou etiquetas) fossem suficientemente indicativos pelo menos para os heroicos frequentadores que ainda se atrevem a ler-nos.

Todavia, há um ou dois meses atrás, um de nós deve ter tocado por erro absoluto nalguma tecla difícil e, subitamente, o nosso ordenado mundo de fronteiras bem estabelecidas ruiu. Sem se saber como, e sem qualquer golpe de d’Oliveira tudo o que escrevíamos (e que já tínhamos escrito!!!) lhe passou a pertencer. Recorremos ao Pedro Neves, salva vidas de bloggers azarados ou ignorantes do SAPO, e e ele lá arranjou meia solução. Os textos passaram todos (!!!) a ser meus. Não o consegui convencer a criar um esquema de partilha igual ao anterior. E d’Oliveira passou a publicar “à minha boleia”. Era natural dado que a preguiça dele é muito superior à minha.

Porém, este (pouco satisfatório) estado de coisas voltou a alterar-se há alguns dias. E d’Oliveira regressou enquanto eu (mcr) desaparecia pelo cano.

Convenhamos que a coisa (“situação desesperada mas não grave” como dizia alguém) não assume uma especial importância. Nem é causa de zanga, desavença, mau humor entre dois “pobres homens de Buarcos” que se estimam e respeitam vai para um largo par de décadas.

Mas é irritante!

Por isso, e só por isso, lá terei de recorrer ao pacientíssimo Pedro Neves, se é que ele não estará de férias a torrar-se sob algum sol ameno, cercado de loiras voluptuosas ou morenas sensuais, sendo que alguma delas, ou todas em sucessão, está de serviço a um imenso leque abanando-o para que essa pequeníssima brisa lhe torne a passagem pela praia mais amena. E tem de ser assim pois é mais que sabido que, ao sol, as neves (mesmo se com um Pedro atrás) derretem-se mais depressa do que o fogo consome meio pinhal.

Decidi, entretanto, estabelecer aqui, para memória futura, a listagem dos títulos gerais (etiqueta etcs) que fui perpetrando. Ei-los (não sei se todos...): au bonheur des dames; estes dias que passam; o leitor (im)penitente; farmácia de serviço; expediente; o gato que pesca; tudo a bombordo, chateado no calabouço, a gata que pesca, etc...

D’Oliveira, por seu lado, assinou sempre “diário político” e “a varapau”.

Os dois, copiando com mais audácia do que qualidade a parelha Eça e Ramalho, entretivemo-nos numa série chamada “missanga a pataco”.

Dantes, qualquer leitor mais ousado ou mais inconsciente (ou mais desvairado e menos ocupado) podia ir ao blog e, encontrando, os botões correspondentes a estes títulos, podia apanhar a série toda. Assim acontecia no antigo poiso de incursões. (blogspot. qualquer coisa). Agora tal possibilidade requer entrada no texto, procurar a etiqueta no fim, ou seja uma maçada de todo o tamanho.

Baralhando e resumindo: até melhor altura os textos sob a etiqueta “diário político” são da autoria de d’Oliveira.

Todos os restantes (e fundamentalmente o leitor (im)penitente; au bonheur des dames; estes dias que passam) continuam a ser escritos por mcr.

 

Diário político 217

d'oliveira, 01.08.17

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Mais venezuelano que isto só no finado Reich de mil anos

Uma criatura dada, ao que consta, à sociologia, entendeu dever defender o inqualificável regime venezuelano nas páginas do “Público”. O jornal, na sua ansia de respeitabilidade e de independência, dá lugar a todos os plumitivos mesmo aos que, como é o caso, defendem a prisão arbitrária (e na Venezuela a coisa além de comum, frequente é abundante), a repressão policial (já quase nem se contam os feridos e os presos nas manifestações mesmo se o número de mortos (de mortos, reparem bem) já ultrapasse a centena, o ataque às instituições, mormente ao parlamento eleito há pouco mais de um ano, seja o que se sabe.

Na Venezuela, os proventos do petróleo servem para pagar pinguemente os polícias, os militares, as milícias e fornecer uma espécie de refeições aos sequazes do regime. O resto, a maioria, que se aguente. Nos hospitais falta tudo, a inflação ronda os 800%, faltam os produtos mais básicos no mercado e não se passa um dia sem que uma população inerme mas desesperada não proteste, arriscando a liberdade e a vida. Na Colômbia já passa de meio milhão o número de refugiados. Ainda ontem, o governo colombiano(o mesmo que conseguiu fazer a paz com a guerrilha, estendeu o direito de permanência sem limite de tempo a essas centenas de milhares de pessoas que assolados pela fome e pela ameaça passa as fronteiras.

Tirando Cuba, beneficiária de generosas doações de petróleo, não há país latino americano que abone aquele ridículo mas perigoso ditador de pacotilha herdeiro do falecido Chavez, inventor duma delirante ideologia “bolivariana”. O “bolivarianismo” é um cocktail de velhas ideias todas mais ou menos radicais que fizeram a desgraça da América Latina e a glória de uma pequena multidão de generais e caciques corruptos, incultos e ignorantes.

O senhor (presumo) professor ou ex-professor em Coimbra atreve-se a dizer que de fora da Venezuela chovem medonhos ataques contra a democracia cristalina defendida por Maduro e sequazes. A palavra democracia neste arauto da tirania grotesca que assola um país que poderia ser próspero, rico e tranquilo, parece a de um émulo daquele Scaramucci que durou dez dias na Casa Branca. No afã de defender o indefensável, o sociólogo coimbrão mostra até que ponto pode descer um “intelectual” fascinado pelo fanatismo ideológico, pela moda dos radicalismos cada vez menos operantes naquela parte do mundo.

Por muito menos, infinitamente menos, Antero qualificou um intelectual do seu tempo como “esgoto moral”.

Maduro, o herói do embevecido “sociólogo” faz Trump parecer um democrata inteligente e um político tolerante. A que miserável ponto chegámos!

Depois de mais uma facecia eleitoral, em que pouco mais de dois milhões de eleitores votaram, ainda não se conhece país, decente ou menos decente, que aprove esta caricatura de democracia. Mais, são já numerosos os governos que declararam não reconhecer esta fraude chamada eleição da assembleia constituinte, fuga para a frente de um regime iníquo, criminoso e opressor.

Sabe-se, aliás, e socorro-me, entre outros, de “Le Monde” que boa parte dos votantes compareceram mais por temor de serem excluídos (ainda mais excluídos) dos favores do regime do que por convicção. As ameaças de Maduro, hoje mesmo postas já em execução com a prisão de dirigentes da posição recentemente saídos dos calabouços onde vegetavam há anos cumprindo penas enormes por “conspiração”, “traição” e outras acusações aberrantes são um sinal de que as coisas vão piorar. Com o aplauso do liberticida de Coimbra, espera-se, adivinha-se...

(é propositadamente que se não nomeia a criatura ora posta em questão. Uma pessoa, mesmo condenando, não deve sujar a metafórica folhinha de papel em que escreve nomeando-a. De resto, e desde há muito, desde sempre, aliás, a criatura mostra o que vale. Desde um passado de assistente no tempo em que estes só entravam nesse grupo depois da aprovação dos poderes da altura, até um lamentável livrinho de versos tudo concorria para tornar a personagem risível. Todavia, isto, o artigo no Público, ultrapassa todas as (más) espectativas que a vaidade e o desejo de se mostrar poderiam suscitar. O homenzinho não presta. Não presta e, como uma espécie de Midas da fossa, transforma em merda tudo o que toca).

d'Oliveira fecit,  1 Agosto 2017  

 

 

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