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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Estes dias que passam 373

d'oliveira, 31.05.18

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Valha-nos Nossa Senhora da Boa Morte

Coisas simples e evidentes

mcr 31.05.2018

 

Uma Manuel (Maria) e um Manuel, gente do mais estimável e inteligente que por aí anda, ofenderam-se muito comigo quando lhes resumi sucintamente (demasiadamente sucinto) o meu post sobre a votação da eutanásia.

O Manuel quase que me gritou que eu seria contra a “despenalização”, acusando-me de querer mandar para a prisão, para o cadafalso ou para Vorkuta qualquer criatura que ajudasse outra a morrer.

A Maria Manuel avançou com o tema do aborto, com a luta de dez anos (aliás até reconhecia que dois sucessivos referendos não tinham tido consequências por falta de votantes).

Eu, velho ou novo reaccionário empedernido, lá ia dizendo que a AR entendera pronunciar-se sobre uma questão que não fora discutida pelos partidos e pelos deputados nela integrados durante a última campanha eleitoral. Que isso, só isso, feria a votação de ilegitimidade ética e política; que a famigerada discussão ampla e generalizada nunca existira, que o chamado direito à morte nunca por nunca poderá ser paralelo ao direito à vida; que os cidadãos eleitores tem o direito de conhecer as opiniões dos que solicitam durante um escasso mês o voto popular; que o facto de a eleição dos deputados não se fazer uninominalmente como em qualquer país civilizado em que o cidadão sabe perfeitamente que vota em A ou B e não numa turbamulta; que, no caso das cidades mais importantes (Lisboa, Porto, Braga, Aveiro, Coimbra ou Setúbal), a votação e eleição aparecem absolutamente opacas perante os eleitores mostrando os candidatos como simples peões de brega, fungíveis, como se de coisas simples se tratasse, torna esta Assembleia numa espécie de tablado onde os partidos levam a “voz cantante” e os deputados apenas levantam e sentam o cu para votar como manda o chefe que, por sua vez, mais não é do que uma correia de transmissão do aparelho obscuro que governa de facto o Partido; que –e isto é o mais importante – não basta legislar sobre a eutanásia mas sim sobre como se morre em Portugal.

Morre-se mal ou muito mal por cá. Cuidados continuados são como qualquer pessoa minimamente séria sabe mais raros do que os milionários do totoloto. Cuidados paliativos, idem, aspas, aspas. Quem tem dinheiro, desanda para as escassas instituições privadas que existem e são obviamente caras. Quem não tem morre no hospital ou é rapidamente mandado para casa onde morre na mesma no meio do desamparo e da mágoa impotente dos familiares.

Isto queridos, Manuel e Manuel, perturba-me, ofende-me, indigna-me. È que, a esmagadora maioria dos moribundos não quer morrer. Agarra-se à vida como a lapa ao rochedo. E os seus familiares, honra lhes seja, também não o querem ver desaparecer. Centenas de milhares, para não falar em milhões de portugueses tentam tudo para acompanhar os seus na hora da verdade. E isso vê-se até na hora da morte ou no dia dos mortos altura em que os cemitérios florescem desmedidamente como se as pessoas quisessem lembrar aos seus mortos que eles estão, por um simples dia, vivos, pelo menos na memória dos mais próximos.

Pessoalmente, gostaria que me evitassem sofrimentos inúteis, tratamentos caros e também inúteis para já não falar no temendo sacrifício que uma pessoa em fim de vida, doente ,incapaz e sofredor, impõe aos seus familiares. Vi, como morreu o meu Avô Alcino, uma caricatura de velho doente e envergonhado ( o Parkinson afectara-lhe a fala, retira-lhe o controlo de várias funções excrescentes o que o envergonhava medonhamente. Estava à mercê do filho, da nora, deste neto inepto ou de alguma empregada doméstica que provavelmente pensava que “não era para aquilo que a pagavam”. Vi o meu tio Joaquim, vaguear pelo Alzheimer, balbuciando palavras desconexas, o olhar enlouquecido não reconhecendo amigos ou inimigos, mulher parentes ou filho. Anos a fio... sofria? Não sofria? Logo ele que adorava ler, conversar, passear que se ria e pensava!

Todavia em um nem outro são, penso, candidatos a uma morte piedosa. O “famoso” sofrimento irreprimível não ocorrerá nestas duas cada vez mais presentes doenças da velhice.

Mas eu gostaria de ser poupado à humilhação (claríssima e sentidíssima no caso do Avô) de acabar assim os meus dias. E para isto não há, ninguém prevê, uma solução que preserve a decência da vida e limite no possível a tremenda decadência da pessoa.

Ou há: cuidados continuados, cuidados paliativos residências medicalisadas para os cada vez mais numerosos anciãos que sobrevivem mas subvivem.

Alguém lembrou isto durante essa inexistente e absurda discussão, durante essa desoladora votação?

Mas há mais e pior: Foram votados quatro projectos: convenhamos que eram profundamente semelhantes e as diferenças poderiam, caso houvesse votação na especialidade, ser praticamente apagadas. Então não é que as votações foram sempre diferentes. Que houve deputados, mormente no PS e no PSD que só votaram os “seus” projectos e contariam os restantes? Isto pode ser chamado de “voto de consciência”? Isto foi de um “elevado nível”? As intervenções foram, e estou a ser simpático, de uma vulgar mediania, recheadas de narizes de cera que mais pareciam trombas de elefante. O Parlamento deu-se em espectáculo a si meso e merecia um Eça e uma “campanha alegre” para descrever o que se passou.

Mas deixemos isto que é triste e penoso e passemos a um argumento refalsadamente indecente: a comparação com o processo da despenalização do aborto. A campanha durou anos e anos e baseava-se numa incontornável realidade: a prática transversal e generalizada do aborto clandestino. Ao que, na altura, se afirmou, em Portugal realizar-se-iam ano bom, ano mau, quarenta mil abortos. Quarenta mil entre os praticados por médicos clandestinamente e regiamente pagos aos “selvagens” no recôndito das aldeias ou das casas por métodos bárbaros que causavam a morte a não poucas mulheres e que deixavam muitas mais profundamente marcadas ou incapacitadas em diferentes graus.

A prática do aborto clandestino fazia parte do modo de ser português como aliás do modo de ser de muitos povos e países. A urgência em lhe pôr cobro era sentida por uma larguíssima maioria dos portugueses. Só que, neste caso, havia uma fracção ruidosa e disciplinada que era contra. Que ainda é contra. Que em certos países é violentamente contra. Que, por isso, chega a matar, a pôr bombas.

E havia mais: havia o perigo das malformações dos fetos; o resultado insuportável de violações de mulheres indefesas; a ignorância de muitas raparigas que, só tarde e a más horas, percebia que no amor nem tudo são rosas, ou sendo-o também há espinhos. Entre os mais pobres havia o terror de não poder alimentar mais uma boca.

Ou, por outras palavras: havia uma profunda consciência dos males de uma política sanitária de interrupção da gravidez não desejada ou perigosa. E tanto era assim que o recurso desesperado ao aborto clandestino e perigoso era banal, tocava todas as classes, religiosos e não religiosos. Havia, digamo-lo, uma clara reprovação da ilicitude de tal prática. E o sentimento generalizado de que urgia acomodar a lei às espectativas reais das pessoas, mormente das mulheres principais interessadas e principais vítimas. Por isso, uma vez, finalmente, votada a “lei do aborto” não se verificou nenhum protesto digno de nota nem sequer por parte dos que à lei se opunham.

E no que toca à eutanásia? Aqui as questões são diferentes. Em primeiro lugar, há a percepção de que ajudar a morrer é, ainda, matar. Depois, convirá fazer uma simples pergunta: quantos dos leitores que, como eu, não querem morrer na indignidade, no sofrimento intolerável e também não desejam que o seu pesadelo seja extensivo aos seres mais queridos e mais próximos, já tiveram a precaução de registar o seu “testamento vital”? Não pergunto, para não embaraçar nenhum/a dos deputados/as favoráveis aos projectos chumbados, se algum/a sequer se lembrou dessa pequena, fácil formalidade?

Se não erro, ainda não há vinte mil portugueses registados. Vinte mil num universo de nove (mas que fossem só oito...) milhões de adultos! Ou seja: perante a hipóteses de serem atingidos por doença ou acidente com consequências mortais e intenso sofrimento (para não falar na hipóteses de uma agonia lenta e extremamente onerosa para o próprio e para os familiares), apenas uma pequeníssima, insignificante minoria decidiu dar um passo, fácil e gratuito. Dispor que, em caso de impossibilidade futura de manifestar a sua vontade, o cidadão recusa tratamentos inúteis e nomeia simultaneamente um ou mais procuradores que velarão pelo respeito da sua vontade livremente tomada em plena consciência. Vinte mil, ou um pouco menos!

Esta é, para já, a imagem de uma sociedade que mais de cem auto-proclamados políticos afirmaram compreender, defender e representar. Não vou perder tempo e palavras com muitos, a grande maioria dos que no Parlamento lhes fizeram frente. Nem sequer, piedosamente, desejar que algum dia estejam perante o dilema da morte piedosa, seja a deles ou dos seus entes queridos. Não vá suceder como aquando do aborto em que à janela o atacavam e no quarto dos fundos ou numa clínica cara, o praticavam. Como bem prega frei Tomás: Olhai para o que diz e nunca para o que faz.

Mas isso é já uma outra guerra...

(nb Também não queria recordar um pequeno pormenor que parece ter escapado a muitos, senão a todos: Na União Europeia apenas três países, Holanda, Bélgica e Luxemburgo legiferaram sobre o tema. Por outras palavras, apenas 10% dos europeus da UE... Mesmo sendo um principio (com já 15 anos), é pouco. E revelador do estado da discussão ou do receio de a iniciar. Convém avisar que, justamente, nestes países, iniciadores da UE, existe uma excelente taxa de cobertura médica e de cuidados paliativos e continuados. Nada que lembre Portugal...)

* Na imagem: Nª Srª da Boa Morte  (Igreja de S Roque?)

14 anos de Incursões

José Carlos Pereira, 31.05.18

Encerra hoje o mês de Maio, o mês que viu nascer o Incursões há 14 anos. As notícias sobre a morte anunciada dos blogues foram manifestamente exageradas e nós por cá continuamos a escrever e a reflectir sobre a realidade que nos cerca, procurando também ir ao encontro de quem nos lê.

A este propósito, as estatísticas evidenciam que no último mês tivemos cerca de 3.000 visualizações, predominando os leitores de Lisboa e do Porto e, fora do país, do Brasil, seguido a larga distância por Moçambique e Angola.

Os leitores e colaboradores do Incursões ao longo destes 14 anos são merecedores de um cumprimento especial.

 

Estes dias que passam 372

mcr, 29.05.18

Nem sim nem não

 

mcr 29.V.18 

 

 

O Parlamento chumbou as propostas de legalização da eutanasia. Porém, o grande problema do distinto areópago era outro: nenhum dos senhores e senhoras deputados/as estava mandatado para se pronunciar sobre esta questão. Retificando: o PAN teria colocado a questão no seu programa eleitoral. Os restantes, nada.

Percebe-se, aliás, a razão, desta omissão tremenda da defesa dos direitos humanos: há custos, altos custos, eleitorais neste tipo de propostas fracturantes. 

A senhora coordenadora do BE já disse que voltará ao Parlamento com proposta idêntica. Espero que, dessa vez, o faça confortada com o voto dos seus eleitores. O mesmo desejo para os restantes. É bom, é salutarmente democrático, que os eleitores saibam o que farão os deputados com os votos por aqueles conferidos. Espero, mesmo  com fortes dúvidas, que todos os que vierem solicitar o nosso voto tenham a coragem de em plena campanha se assumirem como defensores ou opositores da eutanásia. 

Pessoalmente, quero ser eu a decidir sobre a minha morte. Recuso-me, todavia, a obrigar quem quer que seja, mormente médicos ou enfermeiros do SNS, a aceitar a minha decisão e a (eventualmente) violar a sua consciência.Em segundo lugar, devo advertir que a famoa discussão pública foi escassa, quase inexistente. 

E, já agora, gostaria de saber porque raio não me é permitido pedir a um par de amigos que me atirem ao mar. Parece que isso, com ou sem eutanásia, é proibido. Notem que nem falo de um pobre vivente mesmo em coma inexorável e em grande sofrimento: falo do meu desditoso futuro cadáver. 

Ou será que alguém pretende proteger as funerárias que à falta de se poderem cevar no morto, cobram balúrdios aos vivos que sobram? Senhores deputados, esta causa não é fracturante, não defende especiais direitos humanos mas tambem não ofende as crenças de quem quer que seja.O mar dá-se melhor com um cadáver do que com o plástico, o lixo, os óleos contra o sol e outras porcarias do mesmo tipo. Desejo-vos boa vida e, se possível, melhor morte.

 

 

O Congresso do PS

José Carlos Pereira, 29.05.18

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 Tiago Miranda, "Expresso"

 

O PS realizou no passado fim de semana o seu XXII Congresso e dele não saiu nada de verdadeiramente novo. Como quase sempre acontece quando um partido está no poder, não houve disputas efectivas de liderança nem guerras em torno da representação nos órgãos nacionais. A candidatura minoritaríssima de Daniel Adrião mais não fez do que marcar figura de presença e garantir alguns lugares na Comissão Nacional para os seus apoiantes.

António Costa geriu os três dias do Congresso como pretendeu e, ao adiar para 2018 as decisões quanto às próximas eleições europeias e legislativas, seja no que diz respeito a compromissos programáticos, a metas eleitorais ou aos protagonistas dessas mesmas eleições, esvaziou de polémica a reunião magna dos socialistas. Claro está que a isto não é alheio o facto de ainda ter pela frente a negociação do último Orçamento do Estado desta legislatura com os partidos que suportam o executivo, o que tornava de todo inconveniente qualquer exercício de avaliação da relação com PCP, BE e PEV ou mesmo de discussão sobre as bandeiras eleitorais para os próximos anos.

Restava verificar como é que os congressistas iam reagir ao confronto de ideias entre visões diferentes do posicionamento ideológico do PS, afirmadas nas semanas anteriores nas páginas dos jornais por personalidades como Augusto Santos Silva ou Pedro Nuno Santos, e como seriam capazes de lidar com o processo que envolve o antigo líder José Sócrates, na sequência do recente divórcio entre este o partido. Pois bem, tudo correu como António Costa desejaria.

A relação com José Sócrates esteve sempre mais presente na cabeça dos jornalistas e dos comentadores do que na dos congressistas. Motivou uma ou outra intervenção genérica sobre a necessidade de incrementar a luta pela transparência e pelo combate à corrupção e à má gestão dos dinheiros públicos, mas sem se poder dizer que houve um caso José Sócrates no Congresso. O partido parece ter virado a página, aguardando pela evolução do processo judicial.

A discussão ideológica ocorreu, permitiu ver que há opiniões divergentes até entre os principais dirigentes do partido, mas isso será algo para debater (e preocupar?) mais à frente. António Costa, o pragmático, sabe que tem de reservar para si a liderança do espaço do centro-esquerda e manter as pontes abertas para eventuais entendimentos com os partidos à sua esquerda, sem hipotecar a possibilidade de entendimentos estruturantes com o PSD, como sucedeu recentemente sobre os fundos comunitários e a descentralização. Como eleitor do espaço político do centro-esquerda, prefiro ver o PS reservar para si a autonomia de, a cada momento, decidir o que é melhor para o país.

Diário político 226

d'oliveira, 29.05.18

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É com certeza uma casa espanhola (e modesta...) 

 

O senhor Pablo Iglésias é, como se sabe, secretário geral da organização “Podemos”, força política radicada na extrema Esquerda espanhola e herdeira, pelo menos em avultado número de militantes, da fantasmática IU e de diversas pequenas, e praticamente desaparecidas, formações de Esquerda. Também recebeu o apoio (e integrou) avultado número de antigos militantes do PSOE. Neste momento é a quarta força política de Espanha depois de durante algum tempo ter ameaçado os socialistas. Desde a fundação até hoje, o Podemos já misturou muita água no seu vinho o que, justamente, lhe terá conseguido uma melhoria na quantidade de votos que tem obtido.

De todo o modo, não é fácil definir com exactidão o programa do novel partido justamente porque, como se sabe, é a prova do poder que finalmente traça as verdadeiras fronteiras da ideologia e da real intervenção política.

Todavia, não é a isto que vimos.

Há uns tempos atrás, em 2012 , o anterior ministro da Economia de Espanha (hoje no BCE) entendeu comprar uma casa por 600.000 euros. Tal facto originou um violento ataque de Pablo Iglésias que não só achava que quem gasta tal soma numa casa é “milionário” e por isso indigno de ser ministro, sobretudo da Economia, mesmo s Guindos tivesse tido excelentes lugares regiamente pagos antes de entrar na política. Iglésias, aliás, também declarava que uma casa de tal preço era um lixo disparatado e ofensivo.

Nas últimas semanas, Iglésias e a sua companheira, entenderam comprar exactamente pelo mesmo preço (ó ironia das ironias!...) uma casa situada numa zona privilegiada para aí viverem e educarem os filhos que estão prestes a nascer.

Estalou o escândalo entre a opinião pública espanhola. Iglésias pecava tanto ou mais que Guindos. Ainda por cima, recorria a uma hipoteca que representa exactamente 90% do preço da futura casa pagável em prestações mensais durante trinta anos, o que atira o fim da dívida do casal para os setenta e poucos anos. Fora o ordenado de deputados que ambos recebem, desconhecem-se outros meios de subsistência, mesmo se Iglésias tivesse sido professor e colaborado nuns simpáticos mas quase desconhecidos programas de televisão.

A militância “podemos” que aplaudira freneticamente a denúncia contra Guindos ficou entalada. A s críticas vieram de todo o lado e especialmente do presidente da câmara de Cadiz, o senhor “Kichi” que, pelos vistos, fez voto de pobreza e vive num apartamento minúsculo de 40 m2, situado numa zona popular e alugado.

Perante o arruído ensurdecedor e a geral gargalhada da restante classe política, Iglésias, sempre hábil recorreu a um estratagema: um referendo interno entre os apoiantes de “Podemos”. Dois terços votaram (como no?) no líder e casal hipotecado até às orelhas já pode dormir descansado na sua nova mansão que, por ser de revolucionários já não é nem uma vergonha nem um luxo.

(lembremos para os ex-amigos íntimos do Siriza grego que já o senhor Varufakis se deixara fotografar numa belíssima mansão com vista sobre a Acrópole: a revolução é sobretudo óptima e aconselhável para os outros, para os paisanos e demais patas ao léu que, embevecidos votam nos exemplares e humildes profetas do futuro radioso e dos amanhãs que cantam ((pelo menos para eles, acrescento eu)).

* na gravura a "casinha" em que questão. Fonte: internet

O Congresso, Sócrates e os Jornalistas

JSC, 26.05.18

É natural que Sócrates  seja, ainda, notícia por razões que se prendem com o andamento do processo judicial e com a gestão que a Justiça faz do mesmo.

 

Contudo, os jornalistas não abandonam o Sócrates na política. Nos últimos dias Sócrates é tema central para os jornalistas. Os jornalistas, sem qualquer mandato, insistem em dizer queos portugueses querem saber”.

 

Mas, querem saber o quê? Segundo eles, agora queremos saber se Sócrates vai ser o “elefante no meio da sala do congresso”; queremos saber se Sócrates vai ser o ”grande tabú”, e coisas igualmente importantes para a cabeça dos jornalistas, mas que nada acrescentam ao interesse dos portugueses sobre o assunto.

 

Depois de ouvir a resposta de vários congressistas, questionados sobre a presença do “caso” Sócrates, só se pode concluir que Sócrates só é tema com interesse para os jornalistas. E quando todos responderam que “não há tabu”, que não há elefante”, que “a justiça dará a resposta”, mesmo assim, uma jornalista, no caso da RTP, conclui: o elefante está lá mesmo que muitos não o queiram ver. Ou seja, só a grande visão da jornalista vê o elefante onde todos dizem que não há elefante.

 

Sempre que ouvirmos os jornalistas, à falta de melhor argumento, dizerem “os portugueses querem saber”, só podemos concluir que eles estão a enviesar a conversa, a forçar o entrevistado a dizer o que eles querem que ele diga. E se o entrevistado não cai na esparrela, então, não têm pejo em transformar parcelas das respostas ou até das perguntas para forçarem o sentido do que disseram. E a Entidade Reguladora, qual o seu papel?

 

Os últimos Congressos do PS têm sido marcados por “casos”. Casos que aparecem aos trambolhões e, por coincidência, caiem na véspera do Congresso. O mais recente é o “caso” do Ministro Siza Vieira.

 

Compreende-se que seja noticia, que já tivesse sido noticia. O que já não me parece certo é que as noticias não digam que a tal empresa não teve nem tem qualquer actividade, não facturou. Os jornalistas tratam isto como se fosse a burla do século, negócio de milhões e com isso estão a “lavar”, a pôr no mesmo saco as fraudes, os crimes efectivos muitos dos quais passam pela Justiça e terminam com brandas condenações cobertas com o manto da “pena suspensa”.

 

Os jornalistas deveriam definir melhor os alvos. Dar relevo ao que merece ter relevo e não tratar por igual o que não é igual. Acima de tudo, os jornalistas deveriam cobrir acontecimentos, dar notícias e não quererem transmitir o que pensam dos acontecimentos, das noticias. Por sua vez, a Entidade Reguladora não pode ouvir, ler e calar como se nada se passasse.

 

Não precisamos da opinião do jornalista para formar opinião.

au bonheur des dames 453

d'oliveira, 23.05.18

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Todos os dias alguém morre.

Todavia, há mortos e mortos.

mcr, 23.05.2018

 

Júlio Pomar, 92 anos, muito (e bem) vividos, é já uma imensa saudade. Eu, admirador confesso seu, passei anos, décadas, à espera de uma oportunidade para comprar uma peça que me agradasse e que estivesse ao alcance da minha minguada bolsa. Mesmo fazendo sacrifícios, claro, que foi o que fiz para quase todos os objectos de arte que me enchem a casa.

Porém, nunca lhe cheguei. Se fosse um desses colecionadores do costume, desses que só querem ter o artista lá em casa sem cuidarem do seu gosto pessoal mas apenas da perversa fama de amadores de pintura, poderia eventualmente ter comprado alguma peça, quanto mais não fosse um múltiplo. Mas nem isso. Devo ter gostos caros, pelo menos caros para os meus rendimentos. Vi muitos, óptimos quadros de Pomar mas, logo que os lobrigava, a dúvida instalava-se: será desta? Não era. Nunca foi.

Talvez por atávico horror a comprar a crédito, a prestações, nunca tive qualquer hipótese!

Certa vez, num regresso de Paris, tive como companheiro de viajem um “marchand” vagamente conhecido. A criatura trazia na mão um rolo enorme. Sabendo que eu, na época, trabalhava para o Secretaria de Estado da Cultura, confidenciou-me que vinha ali, cautelosamente enrolado um magote de “Pomares”. “E o preço?”, perguntei-lhe, prometendo com tal pergunta calar-me perante a alfândega que nos aguardava. “Ai vai ter de ser compatível com o risco que corro... mas a si, por consideração posso fazer um desconto...”

Não sei porquê, ou aliás sei, a coisa não me cheirou bem e nunca fui pelo negócio. Ou pela negociata. Trinta anos depois, não me arrependo. Ou arrependo-me durante cinco minutos e deixo de me arrepender por mais uma longa temporada. Trabalhar na SEC tinha, para mim, algumas limitações. Por exemplo, nunca comprei pintura no “atelier” do artista mas só na galeria que o expunha. Isso significava um acréscimo de preço na ordem dos 30% (Hoje é o dobro!!!). Custa muito manter a fama de honradez. Ou de estupidez, como várias vezes me disseram. Que querem? Burro velho não aprende línguas nem enriquece.

Com a morte, anunciada aliás, de Júlio Pomar fecha-se o último ciclo de alguma pintura aparentada, mesmo que só por um escasso período de tempo, com o neo-realismo. Pomar nunca se deixou aprisionar por escolas e menos ainda por ideologias. Reinventou-se constantemente mesmo se, com o tempo e com paciência, possamos descortinar um caminho claro na sua pintura. E uma enorme alegria, um amor pela vida e um conhecimento profundo pela história da pintura. Nunca envelheceu. Ou melhor: envelheceu como os bons vinhos.

 

* Na gravura: Pomar no "metro" de Lisboa. Ou a grande arte pública para todo o público. 

Abandonados por todos

JSC, 19.05.18

Israel é um Estado abençoado pelos poderes ocidentais. Israel faz o que faz porque o ocidente resguarda-lhe as costas, permite-lhe todos os atropelos às leis internacionais, às dezenas e dezenas de condenações na ONU, os governos de Israel reagem com desdém e fazem o que sempre fazem, alargam a ocupação nos territórios palestinianos, encurralam as populações, condenam todo aquele povo ao degredo, ao exílio, à morte em crescendo.  A ONU vê-se desautorizada e só tem a dizer ou a pedir para que sejam mais brandos, não tão desproporcionados no uso da violência, violência que cresce, como cresce a hipocrisia que acumula com as palavras do Papa.

O Governo de Israel tem um enorme manto negro que cobre a sua acção. Chama-se Hamas. Matam e matam gente desarmada? É porque são do Hamas. Colocam drones a gasear populações que estão no seu território? É porque são do Hamas. Quem quer que discorde da acção do Sr. Netanyahu? É porque é apoiante do Hamas. Veja-se os seguintes casos:

 

« Natalie Portman recusa 'Nobel judaico' e prémio de dois milhões de dólares»

 

Recusou-se a receber o prémio para que não confundissem com o seu eventual apoio às políticas do governo de Netanyhau.

A reação oficial não se fez esperar. Foi acusada de estar a apoiar o Hamas…

 

«Tiago Rodrigues, actor, encenador, dramaturgo e director do Teatro Nacional Dona Maria II, cancelou esta quinta-feira a sua participação no Israel Festival, em Jerusalém, que deveria acontecer nos próximos dias 4 e 5 de Junho

 

De imediato, o Embaixador israelita em Lisboa acusouTiago Rodrigues de ser apoiante do Hamas…

  

Com bem escreve Alexandra Lucas Coelho,

«Israel não tem a menor intenção de aceitar um estado palestiniano, a menor intenção de fazer a paz, a menor intenção de descolonizar, ao contrário. Se não pressionar Israel, o mundo é co-autor deste inferno. Israel tem de ser boicotado.

Poupem-se entretanto os desconversadores, e poupem-me, às acusações de anti-semitismo. Isto não tem nada a ver com anti-semitismo, e nada a ver com o Holocausto, aliás, só na medida em que o Holocausto tem sido vergonhosamente instrumentalizado pelo Estado de Israel para os seus desmandos, a sua imunidade, o seu estatuto especial entre as nações.»

 

Enfim, O mundo, as Nações Unidas, estão dependentes das opções dos Estados Unidos e estes estão dependentes dos ditames do governantes de Israel. Tudo o que mexe é para ser abatido. O Hamas justifica todos os crimes e o encarceramento de um povo. A Europa finge que intervém mas não mexe no quer que seja. Para a Europa Israel é Europa. Eis a explicação para a tolerância!

Estes dias que passam 371

d'oliveira, 16.05.18

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  1. Alguém acredita?

 

Alguém acredita que cinquenta malfeitores de cara tapada, urrando como possessos. Entrem portas adentro do Centro de Estágios do Sportinge comecem a desancar toda a gente com que se cruzam, sobretudo jogadores (“meninos mimados” segundo o execrável presidente do clube), treinador, restante equipa técnica e mais uns avulsos pertencentes ao pessoal?

Alguém acredita que, depois terem severamente espancado as suas vítimas e rebentado com o mobiliário, se retiraram em autêntica ordem militar, como um gang bem organizado mesmo se a GNR tenha já encontrado uma vintena de canalhas?

Alguém acredita que tudo isto, esta autêntica conspirata que faz ir de vários sítios para Alcochete os gloriosos cruzados da invencibilidade do clube o tivessem feito espontânea e livremente, inspirados tão só pela indignação gerada por uma derrota (ainda por cima justa) no Funchal, frenta a um clube que raramente permite que os adversários ganhem no seu terreno?

Alguém acredita que a campanha contínua (nas redes sociais) do senhor Bruno de Carvalho é apenas uma mera coincidência? Que as ameaças explícitas ou implícitas a jogadores e treinador (alegadamente ameaçado, ontem mesmo, de “processo disciplinar) não produziram na cabeça esparvoada e façanhuda dos trauliteiros sportinguistas, o efeito perverso que conduziu ao raid às instalações?

Alguém acredita que os disparates e tolices avançadas no “Expresso”, neste último fim de semana pelo presidente do Sporting não tiveram efeito nestes perigosos pobres diabos que em alcateia entenderam fazer justiça?

Será que ninguém tem acompanhado a campanha tonitruante e em crescendo do dito Carvalho que dispara em todas as direcções, desafia tudo e todos e ameaça meio mundo jactando-se de ser um vago familiar do almirante que mandou à merda os manifestantes da construção civil nos tempos nada gloriosos do PREC?

Ninguém viu como os estádios e as suas redondezas são cada vez mais palco de violência entre adeptos, contra adeptos (o caso famoso do polícia que espancou miserável e cobardemente um pai indefeso à frente do filho)? Ninguém viu o que as televisões mostraram há escassos dias em Guimarães quando quatro imbecis atacaram um cidadão que mesmo derrubado no chão continuou a ser alvo de pontapés?

Ninguém viu o que se passou nas garagens do estádio quando outros inflamados sportinguistas entenderam insultar, ameaçar e agredir várias pessoas?

Será que ninguém se recorda já do adepto assassinado por atropelamento junto de um estádio? Ou daquele outro assassinado dentro do estádio por um engenho lançada da bancada adversária?

Ou das dezenas e dezenas de agressões praticadas em campeonatos inferiores por adeptos que atacam árbitros, ferem árbitros, ameaçam-nos e às famílias? Tudo isto e muito mais tem sido mostrado até à exaustão e ao vómito pelas televisões.

E nestas, é ou não verdade que num desses programas de discussão de futebol longos, maçudos e gritados, houve já quem em plena emissão resolvesse passar às vias de facto. Volta que não volta, e apenas para recarregar as minhas baterias de indignação e anti-futebolísticas, passo por essas medonhas exibições de parvoíce, de auto-suficiência, de gritaria e imbecilidade. Domingo passado, num delas havia uns vociferantes que uivavam e se interrompiam, vermelhos como tomates fora do prazo: ninguém percebia o que queriam pela simples razão de que a tremenda gritaria não permitia perceber fosse o que fosse.

E o moderador que fazia?

Assistia encantado. Provavelmente, a direcção da emissora gosta de escândalo de vitupério de briga. Aquilo sim, aquilo dá mais visibilidade à casa desgovernada que paga a estes maus actores e piores comentadores para que o chinfrim atinja o seu máximo esplendor.

É o futebol. O futebol à portuguesa, traduçãoo em calão de um outro também violento e inglês que pelos seus excessos condenou as equipas britânicas a uma longa ausência das competições europeias.

Num país civilizado, onde os Direitos, Liberdades e Garantias são respeitados e defendidos, todos estes casos teriam resposta pronta e imediata mesmo antes dos morosos processos na Justiça. Os órgãos federativos deveriam, mesmo em fase de inquérito, interditar o estádio ou pelo menos não permitir espectadores nele e, muito menos, transmissão televisiva integral do jogo.

Num país civilizado as imagens degradantes de um presidente a atirar fumo (ou a cuspir) para cara de outro deveria ter imediatas e duras consequências. Não tem. Pelo contrário, os órgãos de informação precipitam-se, avidos e alucinados, sobre qualquer desbragdo que diz o que quer sob pretexto de que assim, como maluco, pode ser ouvido e, pasme-se!, respeitado. Onde é que esta criatura tem a cabeça? Que ética, que moral, que decência o movem?

A infâmia de ontem irá ter alguma consequência? Ou, amanhã, tudo continuará na mesma mansa, resignada, vil e apagada tristeza?

E já agora: um senhor advogado que adora o Sporting mas não a violência, garante que na pátria triste há três milhões e meio de adeptos sportinguistas! Só. Como o Benfica se gaba de ser o maior clube português e o Porto o representante do populoso norte a população nacional há de rondar uma farta dúzia de milhões de habitantes pois há que ter em conta os adeptos dos mil clubes desde o Braga ou os Vitórias até à minha pobre e esforçada Naval 1º de Maio. Anda tudo maluco ou isto é apenas o efeito da primavera que tarda mas incendeia o cérebro de comentadores e jurisconsultos? Antes isso que fogos propriamente ditos que virão inexoráveis atacar populações indefesas que votam pouco e mal e vivem mal e pouco, quase nada. 

diário Político 226

mcr, 15.05.18

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A criatura Bruno de Carvalho devido às suas conferencias de imprensa e aos seus escritos é claramente responsável e cúmplice do gang que atacou o centro de estágio.

Ninguém acredita que os cinquenta cobardes de cara tapada tenham agido sem terem as costas quentes e sem uma palavra de ordem. De onde poderia ela vir senão de quem desde há meses atiça o fogo e o ódio aos jogadores?

A minha proposta é simples: imediata passagem do clube a um escalão inferior, se possível bem inferior. Ninguém pode aceitar que o “fecundo ventre” de onde saíram os agressores apareça nos estádios rodeado dos gangues organizados que vivem por ele, para ele e com ele. Se até o principal e festejado goleador Bas Dost está ferido e impossibilitado de jogar na final da Taça, que é que se pode esperar desta súcia que anda por aí à solta?

(estava eu a escrever este folhetim e eis que a SIC fornece o registo de uma conversa de um responsável (e intermediário) sportinguista que, sem papas na língua, se alarga (e confessa) sobre a tentativa (dele) de corrupção de árbitros de andebol. Estamos num mundo nauseabundo.

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