au bonheur des dames 469
Ano que vai, ano que vem
mcr 31.12.18
É apenas uma convenção, mais uma, esta da passagem de um ano para outro. Ou, melhor, a convenção estará na ideia de algo vai mudar quando, ao fim e ao cabo, o Inverno está aí, vai continuar nós por cá andamos e iremos, espera-se, andar por aí, como o dr Santana Lopes, agora , e finalmente, na pele de líder partidário o que seia uma boa anedota não fosse o facto de ser verdade. Já não nos bastava o PAN, aquela coisa vermelha por dentro e verde por fora que são “os Verdes”, o futuro partido de uma criatura chamada Ventura, para já não falar de um par de cadáveres políticos herdados do PREC que, de eleição em eleição reaparecem mais velhos, mais cansados, mais falho de ideias.
Sobre o ano que passou o tal que começou sob o signo do fim da austeridade e termina austeramente, o tal que começou como uma espécie envergonhada de “frente popular” e que acaba numa polvorosa de greves em que a correia de transmissão do PC é predominante, o ano em o que o verniz entre o 4º pastorinho e o “habilíssimo” Costa vai dando de si.
2019 vai ser eleitoral. Já o é aliás e, de resto, foi-o durante todo o 2018. Surpresas houve poucas e não haverá, para já, muitas. Quando se pensou que Dezembro rebentaria em coletes amarelos, viu-se a montanha a parir um rato. Isto não é a França e, mesmo aí, a coisa tem mais contornos de “jacquerie” do que de revolução. Os franceses que, genericamente, são bastante conservadores, adoram falar de revolução a pretexto de tudo e de nada ou de muito pouco. Os “gillets jaunes” que durante vários sábados pintaram a manta em Paris (e destruíram muito pequeno comércio, permitiram roubos em série –de que alguns cavalheiros de cara destapada se gabaram perante o pasmo das televisões) e passaram de dezenas de milhares nos Campos Elíseos a oitocentos no último sábado. Abalaram Macron, entusiasmaram alguns pequenos chefes da extrema esquerda (ou do que se considera como tal) e apresentaram um número crescente de reivindicações desorganizadas.
Em Portugal houve também um borborigmo coletinho amarelo muito pálido que deveria ser punido por três razões: foi um fiasco, foi uma imitação caricatural e apresentou sete ou oito exigências que se contradiziam. As poucas criaturas que deram a cara pareciam vindas de um mundo de inocentinhos retardados e, sobretudo, davam a tristíssima ideia de que não percebiam o mundo onde, por erro ou desleixo, pareciam locomover-se.
E, todavia, não deixa de haver razões para alarme social, pese embora o argumentário do PS e do Governo. E os truques: desde o défice a tender para o zero à custa de cativações que rebentam os serviços públicos (o SNS é o caso mais notório), a ideia de que há investimento público quando o pouco investimento que se vê é privado e nem sempre o mais produtivo (o caso das estruturas turísticas que em breve serão demasiadas), as distorções que permanecem – a principal será a que distingue a situação dos funcionários públicos da outra bem mais dramática dos trabalhadores privados – a famosa Dívida Pública que se mantem lá pelas alturas.
Todos os governos tentam mostrar-se na sua melhor forma e atirar para os anteriores todos os males que sobrevivem. Entre nós, o dr. Passos Coelho (que aqui foi diariamente zurzido) continua a ser o culpado de tudo mesmo dos êxitos que pouco a pouco (e também não são assim tantos) se lhe reconhecem. O armário está cheio de esqueletos e não é a agradável ideia de que Vara E Duarte Lima estão com meio pé na cadeia que nos faz esquecer os srs Ricardo Salgado e José Sócrates que eventualmente poderão malhar com os ossos na prisão coisa que, eventualmente, só ocorrerá depois da minha morte (e não estou a chamá-la). Isto se, entretanto, a instrução do processo não estoirar como ocorre muitas vezes com decisões do meritíssimo juiz dela encarregado e que tem sido notícia pelas vezes em que os tribunais superiores lhe negam razão.
A ver vamos, como dizia o cego. E a Justiça, todos o sabemos, é uma senhora semi-nua, de epada na mão e uma mama ao léu. E os olhinhos vendados...
Entretanto, o dia avança, os reveillons perfilam-se e o povo espera ansioso com uma taça de espumante numa mão e doze uvas noutra. Amanhã os noticiários abrirão com as imagens sempre cómicas de selectos bailes de passagem de ano em que madames vestidas a rigor e cavalheiros de calva reluzente fazem danças em bicha com ar de grande felicidade. Um medonho espectáculo que diz tudo sobre a efeméride.
E amanhã, vida nova. Nova? A sério? Sequer recauchutada ou nem isso?
De todo o modo, daqui vos desejo tempos melhores, paciência e saúde. Iremos precisar disso tudo.