Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

diário político 214

d'oliveira, 26.02.19

6705599_orig.jpg

Uma morte ao retardador

D’Oliveira, fecit 26 Fev 2019

 

Morreu o Arnaldo de Matos.

Quem?

O grande educador da classe operaria.

Ah, esse...

 

 

Arnaldo de Matos, 80 anos, militante e, na sombra, dirigente do MRPP morreu há dias. No entanto, a sua morte, pelo menos política, fora há já muito tempo. E em etapas sucessivas. A primeira data dos tempos post-PREC , finais dos anos 70. O MRPP, depois do 25 de Novembro e, sobretudo, depois dos governos militares, foi-se finando tranquilamente pesem embora os murais e toda a iconografia vermelha e amarela com que pintaram Lisboa e arredores. Sem lugar na Assembleia da República (ao invés da UDP que conseguiu manter um deputado tão inútil quanto representativo de uma certa extrema esquerda), batido em sucessivas eleições que cada vez mais o confinavam a Lisboa (mas não à sua cintura industrial), perdida gradualmente a influência nas escolas superiores seus veros bastiões. O MRPP (a quem alguma irónica má língua apelidava de “eme erre pum pum”) diluía-se na paisagem política, entretido em cisões internas (a famosa “linha vermelha contra a linha negra”) e sem ligações internacionais significativas (A China não lhe ligava especial importância, preferindo outros e mais modestos, discípulos lusitanos, igualmente irrelevantes no jardim da Celeste, e, obviamente a Albânia também não).

O fim da China da grande revolução cultural e proletária, o mesmo é dizer, o desaparecimento de Mao Zedong e a lenta, dificultosa mas tenaz caminhada para um capitalismo de Estado controlado pelo partido único, o fim da União Soviética (que, mesmo se criticada pelos ideólogos do MRPP, estabelecia um padrão e uma linha de conduta para a Esquerda de todos os matizes desde os “revisionistas modernos” e/ou “social-fascistas” até aos “verdadeiros marxistas-leninistas” (maoístas), passando pelas diferentes tendências trotskistas, e alentava a ideia de uma outra margem ideológica) tudo se conjugou para criar no público a ideia da irrelevância do também fantasmático Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses nome oficial do mrpp a partir de 76ou 77.

Entretanto, Arnaldo, crismado “o grande educador da classe operária” pelos seus entusiásticos camaradas deixou os cargos dirigentes (pelo menos oficialmente) passando o cargo ao advogado Garcia Pereira que aguentou anos e anos a fio uma organização onde, segundo ele, se conspirava permanentemente contra si. O desaparecido Arnaldo, pelos vistos, advogava para ganhar a vidinha, coisa que de nenhum modo pode ser criticável.  Não é impunemente que sedeixa o palco a outro por longos anos. Esta foi a 2ª ou 3ª morte do personagem de que ninguém ou muito poucos  sabiam. Nos últimos dois, três anos Arnaldo reemerge, ele-próprio e ele-outro sob o pomposo pseudónimo de Espártaco, e vai distribuindo, para um público tão indiferente quanto restrito, elogios –raros-, excomunhões –muitas, e ataques cerrados, quase sempre. E Pereira abandona o barco, como já antes outros conhecidos dirigentes (a começar por Durão Barroso, enquanto menino, ou Saldanha Sanches – o da linha negra – ou Fernando Rosas, um dos pais do Bloco).

Todavia, Arnaldo de Matos, a quem nunca se negou grande inteligência, excelentes dotes oratórios e cultura acima da média, conseguiu –talvez a par de Francisco Rodrigues Martins, o pai da FAP e do comité marxista leninista português e ex-membro do CC do PCP, ser a mais conhecida figura desta extrema esquerda que teve os seus dias de glória entre 1970 e 1976. Antes do 25 de Abril tornou-se conhecido pela campanha pro Vietnam e, menos pela luta anti-colonial. Também controlou algumas associações de estudantes lisboetas e, coroa de glória, a última dúzia de edições de “O tempo e o Modo” que, aliás liquidou pouco depois do 25 de Abril. Ler esse conturbado ano de “o TM” é, hoje, um penoso exercício. Os textos então publicados são de uma grande ferocidade e igual pobreza ideológica. Não foi caso único esta erupção editorial. Os mais curiosos poderão com igual espanto ler alguns dos derradeiros números dos “Cahiers Marxistes Leninistes” (Union des Jeunesses Comunistes Marxistes Leninistes) que eram bem mais rebarbativos. Todavia, neste caso, a maioria daquela malta acabou na “gauche proletarienne” e nos “mao-spontex”. De todo o modo, não se livram da vergonha de terem assumidamente perdido o comboio do Maio de 68 que, pelo menos era festivo e tentava com ingenuidade “changer la vie”

Foi por estes anos, mais precisamente em 68, provavelmente durante a “Tomada da Bastilha” de Coimbra que me cruzei episodicamente com Arnaldo de Matos. Este e mais umas dezenas de adeptos da ainda “Esquerda Democrática Estudantil” mãe putativa do mrpp. A Coimbra, nesse ano, com a AAC já reaberta depois de três anos de miseráveis comissões administrativas, afluíram para a festa uns centos de estudantes maioritariamente de Lisboa. No “plenário” que se realizou, ouvi pela primeira vez Arnaldo de Matos, senhor de um verbo vibrante mas com um discurso totalmente fora da realidade estudantil coimbrã. Curiosamente, nas vésperas da maior e mais bem sucedida greve estudantil portuguesa, alguns dos visitantes entendiam dever trazer a boa palavra aos bárbaros coimbrões que pacientemente e durante três anos de luta não só tinham conseguido manter uma forte unidade mas, nesse ano de 68, tinham infligido à Direita uma rotunda derrota nas eleições associativas. Não deixa de ser irónico que todos estes revolucionários não tenham conseguido sequer secundar a greve de Coimbra.

Depois dos discursos, encontramo-nos mais ou menos casualmente e ele, AM exigiu-me com sobranceria que lhe entregasse uns livros e documentos que me tinham sido oferecidos por um italiano com quem desde algum tempo eu mantinha relações políticas. Já só me recordo do título de dois livros dessa, aliás pequena, remessa: “L’anno degli studenti” de Rossana Rossanda e “Lettera a una professoressa” um texto colectivo alegadamente atribuído aos alunos de uma escola de Barbiana. Qualquer destes livros estava a milhas do discurso dos futuros eme-erres.

A coisa ficou por aqui e nunca mais nos cruzámos. Ou melhor, em inícios de 70 (Fevereiro ou Março) alguém me passou o primeiro número do recentíssimo “Luta popular”. Trazia-o comigo quando desconfiei de umas manobras de um conhecidíssimo agente da PIDE que ao passar pela “Brazileira” me fitou com ar de espanto. À cautela subi as escadas até ao andar dos bilhares e enfiei o jornalzinho muito bem dobrado num buraco da parede escondido pela porta, que estava sempre aberta (era aliás um local que eu e alguns outros conspirativos usáramos durante algum tempo para deixar papéis). Em boa hora o fiz porque pouco depois de ter regressado à minha mesa para tomar mais uma bica, fui ignominiosamente caçado por uma flotilha de pides e posteriormente enviado para Lisboa, primeiro por uns dias para a António Maria Cardozo e depois para Caxias onde estanciei uns meses numa cela com vistas para o mar. Quando regressei a casa, fui pelo jornalinho e lá estava ele bem escondido no buraco de sempre. Infelizmente, o mesmo não sucedeu com umas dezenas de livros que me foram levados e jamais restituídos.

Arnaldo de Matos, já o disse, era inteligente. Porém, era um estalinista convicto e ouvi-lo ou lê-lo era ainda mais chato do qu ler o artigo de fundo da Pekin Information. O seu estreito mundo ideológico era primitivo e parecia tirado a papel químico do “pequeno livro vermelho”. Nada tinha a ver com Portugal, com a Europa e, pelos vistos, nunca melhorou da miopia política de que enfermava. Nem é necessário relembrar as palavras de ordem do mrpp dos “bons velhos tempos”. Basta recordar a justificação infame e criminosa dos atentados jihadistas de Paris. Dignos de Pol Pot!

Dos mortos não deve dizer-se mal mas numa altura em que as boas consciências (que Matos sem rebuço desprezava) se multiplicam em elogios fúnebres, convém recordar estes pequenos factos, a cegueira e rudeza ideológicas. E imaginar por um único instante como seria o país se o mrpp alguma vez tivesse chegado ao poder. Diga-se de boa verdade que o mesmo se passou com o babado elogio fúnebre dos fundadores da ”rote Armée Fraktion” bem como de certos membros das “Brigate Rosse” ou de outros, e tão ou mais sinistros, grupos radicais. Uma vez mortos, são transfigurados em anjos anunciadores dos amanhãs que cantam.

 

estes dias que passam 389

d'oliveira, 26.02.19

images.jpeg

O Carnaval está próximo 2

 

mcr 26/2/19

 

Carlos, o bombo da festa

 

Não conheço o dr Carlos Costa de sítio nenhum e é bem provável que nunca me venha a cruzar com ele. Dele apenas sei o que sabe qualquer cidadão que tenta estar informado. E que tenha acompanhado, desde há um par de anos, a sua trajectória como Governador do Banco de Portugal. Cabelos brancos, ar cordato, fala afável e segura, perfil discreto são bons argumentos mesmo que não sejam suficientes para definir um cargo que, por força de lei (e mais ainda depois das regras adoptadas pelo Banco Central Europeu –BCE-) tem de tutelar prudente mas firmemente o sistema bancário português.

CC começou já há bastante tempo por ser acusado de “não ver” ou ver enviesadamente o que se passava em certos bancos, nomeadamente o Espírito Santo.

A carreira deste banqueiro que passou pela CGD durante um curto período – e não o pior e mais descarado- começou a ser contestada depois de Passos Coelho lhe ter confirmado o mandato para onde fora indicado pelo sr. Sócrates. Ou seja, para certa gente, ele era bom durante o “socratismo” mas mau logo que o passismo despontou! Bizarrias.

Costa foi acusado de nada ter lobrigado no cafarnaum do BES. Tal e qual como Constâncio cuja miopia bancário-política foi idêntica. Só que Constâncio foi para a Europa e Costa ficou por cá a ver o terramoto acontecer.

O segundo (nem falemos da mortal inimizade de Centeno) ataque (aliás pluripartidário) a CC consistiu em tentar embrulhá-lo em financiamentos medonhos da CGD a gente “acima de toda a suspeita”. Aliás, apenas a um visto que o grosso dos desvarios criminosos ocorreu posteriormente com os resultados que se conhecem (se é que já conhecemos tudo!...). Costa teria estado numa reunião alargada (ora toma: eis que a CGD, tal qual o comité central do PC tem também “reuniões alargadas, provavelmente com os mesmíssimos efeitos de encenação vagamente teatral e realmente sem qualquer importância...) E que nessa reunião se teria atribuído a um empreendimento algarvio uma forte soma sem atender ao risco, às garantias e a tudo o resto. Na versão de Costa o que houve foi tão só uma reunião onde sem se conhecer destinatário, se enunciaram princípios que justamente previam a existência necessária de um sindicato bancário e o escrupuloso acatamento do parecer da comissão encarregada de avaliar o risco. Posteriormente, já sem Costa, ma nova reunião mais estricta (ai não!) decidiu o financiamento.

Quando alguém é acusado de algo, compete ao acusador provar sem lugar a dúvidas a acusação. O acusado poderá depois defender-se. No caso de Costa, pelo que se vai sabendo, a versão dele parece ser a mais consistente enquanto a acusação não conseguiu até agora provar a sua participação na efectiva concessão desse mal paradíssimo crédito (lembremos que, na altura, era o dr. Constâncio o homem do BCP, o cuidadoso vigilante das tropelias bancárias...)

 

 

Vai em 19 o número de mulheres assassinadas por maridos, ex-maridos ou companheiros. E ainda não chegamos a Março. A tendência, pelos vistos, é que 2019 seja pior, muito pior que 2018.

Quem me atura a bílis escrita que por aqui vou deixando, recordará que ando nesta cruzada sem fim desde que comecei a colaborar no blog. Primeiro, acho que alei de Espanha onde, na época, era corriqueiro abater a companheira ingrata e insubmissa. Depois – e por cinco ou seis vezes (quase uma por ano) – fui referindo o caso português. Até que me cansei. Falar de violência doméstica extrema parecia-me chover no molhado. Mesmo numa altura em que havia muitos comentários os meus textos sobre esta questão não mereciam grande eco. Ou eu não tinha leitoras. Ou os meus leitores eram marialvas e zupavam nas cônjuges. Ou, finalmente, e mais acertado, eu usava argumentos pobres e uma escrita mais chata do que a espada do D Afonso Henriques o que fazia o mais esforçado/a leitor/a desistir.

Todavia, os casos repetem-se e os escândalos também. Notem que eu não estou a falar do senhor juiz Neto de Moura, criatura que nunca vi, que espero nunca ver, que, aliás, não quero sequer lobrigar mesmo de longe.

Espero que ele também me não leia. Sentir-me-ia ofendido se o fizesse. Não somos iguais apesar da minha licenciatura em Direito, apesar de sermos do mesmo género e termos a mesma cidadania. E vivermos, creio, na mesma cidade.

Nõ vou perder tempo e tinta com esse magistrado. Preferia falar do Maduro da Venezuela ou do lunático que esfaqueou um médico no hospital.

Porem, ainda hoje me soa a escárnio aquela decisão tomada à justa por um só voto –e qualificado!- de ter sido admoestado com repreensão registada!!! Oh que horror!

E gente houve, e muita, que até achou que assim se atacava a liberdade do juiz! A liberdade, a dignidade de uma mulher indefesa perante dois patifes que a atacam com uma moca de pregos não conta. Sorte teve ela, essa adúltera (que já não tinha relação alguma com qualquer dos dois criminosos “bem inseridos na sociedade”). Noutros tempos teria sido apedrejada até morrer, vá lá condenada a pena de cadeia e socialmente desprezada por toda a gentinha. Agora só levou umas pauladas... O mundo melhora não há dúvida.

Eu não sou feminista, Deus me livre. Também não sou machista. Desprezo os macholas que normalmente não passam de ejaculadores precoces e de asnos chapados.

Sou apenas um pobre homem de Buarcos nascido durante a 2ª guerra mundial. Vivi todos estes anos agarrado a um par de princípios (que de vez em quando terei esquecido) vi muita coisa, desde a guerra da Indochina até à do Vietnam, desde, a repressão de Budapeste até à “grande revolução cultural e proletária”, desde Delgado até ao 25 de Abril deste até ao ominoso PREC (de que ainda há saudosos mesmo entre os que não viveram esses anos alucinados). Vi macuas a apanhar com o kuekuero, vi outros a serem inspeccionados para irem para o “contrato”, vi brancos virtuosos, ingénuos e burros pra quem a cor bastava para acharem que todo o negro era um poço de bondade e todo o branco um SS do apartheid. Vi o mundo atrás das grades deuma cela em Caxias, a polícia a carregar sobre uma pequena multidão jovem (isso vi em Portugal, Espanha, França, Berlim e Itália e eu no meio a fugir como os outros, a insultar como os outros e apanhar no lombo como os outros. Vivi, bebi, amei loucamente, insensatamente, abandonei e fui abandonado mas, com uma que outra excepção, juro que tive (e fui tido por) as mulheres mais belas, mais inteligentes mais doces do mundo. Recordo-as todas, especialmente a uma que há sessenta anos me deu pelos meus anos “A Retirada dos 10.000”de Xenofonte na tradução, de Aquilino Ribeiro uma edição “ilustrada” e mais cara que lhe há de ter custado um balúrdio. Que esteja viva e bem, cercada de filhos e netos (quiçá algum bisneto) que arrodeiem de amor e respeito.

Por tudo isto, e muito mais, falar de um julgador português “de que não quero lembrar-me” (Pilar, Madrid, 1975 a oferecer-me uma edição gasta e belíssima do Quijote). Nunca ou. Vá lá, só quando o vir comparecer num tribunal comum que o há de julgar pelo uso que faz do Direito.

 

Pardaus vejo eu correr por Bruxelas

 

As eleições europeias já andam por aí. E a tolice também. O PS do Porto julga “humilhante” o 9º lugar prometido ao seu campeão mas não abre a mimosa boquinha sobre o extraordinário facto de ver Maria Manuel Leitão Marques ser preterida por um pobre diabo, também ele Marques, aliás, que só pode apresentar um currículo de promessas, uma actuação ministerial que nem os mínimos olímpicos cumpriu, enfim algo a que poderia chamar-se “um homem de mão” do grande e omnipresente patrão actual do PS, o tal que invoca a despropósito a cor da pele quando se vê ameaçado.

O PS Porto acha que as sucessivas derrotas do seu campeão, as derrotas do partido no distrito, mereciam um maior reconhecimento e um lugarzinho ao sol (e à luz da cornucópia de euros que um euro-deputado recebe) em Bruxelas.

 

Um cavalheiro de nome Marinho e Pinto vai recandidatar-se ao PE. Vai por um partido fantasma (criado por e para ele) e depois de ter dito cobras e lagartos a propósito do PE, do “escândalo” que era o ordenado e mais um par de balivérnias que dizem tudo sobre o abencerragem.

Ao ouvi-lo nunca esqueço um paupérrimo agricultor que afirmava detestar as fossas mas que corria sempre para elas quando lhe cheirava a merda, tão útil para o seu pequeno campo. O cheiro da trampa é como o do dinheiro: embriaga sempre os falsos moralistas.

 

 

Estes dias que passam 388

d'oliveira, 22.02.19

images.jpeg

O Carnaval está próximo 2

mcr 22/2/19

 

Carlos, o bombo da festa

 

Não conheço o dr. Carlos Costa de sítio nenhum e é bem provável que nunca me venha a cruzar com ele. Dele apenas sei o que sabe qualquer cidadão que tenta estar informado. E que tenha acompanhado, desde há um par de anos, a sua trajectória como Governador do Banco de Portugal. Cabelos brancos, ar cordato, fala afável e segura, perfil discreto são bons argumentos mesmo que não sejam suficientes para definir um cargo que, por força de lei (e mais ainda depois das regras adoptadas pelo Banco Central Europeu –BCE-) tem de tutelar prudente mas firmemente o sistema bancário português.

CC começou já há bastante tempo por ser acusado de “não ver”, ou ver enviesadamente, o que se passava em certos bancos, nomeadamente o Espírito Santo.

A carreira deste banqueiro que passou pela CGD durante um curto período – e não o pior nem o mais descarado- começou a ser contestada depois de Passos Coelho lhe ter confirmado o mandato para onde fora indicado pelo sr. Sócrates. Ou seja, para certa gente, ele era bom durante o “socratismo” mas mau logo que o passismo despontou! Bizarrias.

Costa foi acusado de nada ter lobrigado no cafarnaum do BES. Tal e qual como Constâncio cuja miopia bancário-política foi idêntica. Só que Constâncio, além de ser socialista, foi para a Europa e Costa ficou por cá a ver o terramoto acontecer.

O segundo (nem falemos da mortal inimizade de Centeno) ataque (aliás pluripartidário) a CC consistiu em tentar embrulhá-lo em financiamentos medonhos da CGD a gente “acima de toda a suspeita”. Aliás, apenas a um, visto que o grosso dos desvarios criminosos ocorreu posteriormente com os resultados que se conhecem (se é que já conhecemos tudo!...). Costa teria estado numa reunião alargada (ora toma: eis que a CGD, tal qual o comité central do PC tem também “reuniões alargadas, provavelmente com os mesmíssimos efeitos de encenação vagamente teatral e realmente sem qualquer importância...) E que nessa reunião se teria atribuído a um empreendimento algarvio uma forte soma sem atender ao risco, às garantias e a tudo o resto. Na versão de Costa o que houve foi tão só uma reunião onde sem se conhecer destinatário, se enunciaram princípios que justamente previam a existência necessária de um sindicato bancário e o escrupuloso acatamento do parecer da comissão encarregada de avaliar o risco. Posteriormente, já sem Costa, na nova reunião mais estricta (ai não!) decidiu o financiamento.

Quando alguém é acusado de algo, compete ao acusador provar sem lugar a dúvidas a acusação. O acusado poderá depois defender-se. No caso de Costa, pelo que se vai sabendo, a versão dele parece ser a mais consistente enquanto a acusação não conseguiu até agora provar a sua participação na efectiva concessão desse mal paradíssimo crédito (lembremos que, na altura, era o dr. Constâncio o governador do BCP e o cuidadoso vigilante das tropelias bancárias...).

Bizarramente, o dr Costa também foi acusado de passar férias no mesmo empreendimento turístico. Dez anos mais tarde! Arre que demorou a cobrar algum hipotético favor. A isso, Costa responde afirmando ter pago totalmente a semana ali passada. Competiria aos acusadores provar que lá esteve à borla mas isso, a estes, terá parecido ser supérfluo!...

Quanto ao caso BES, a coisa parece também extraordinária. Passos Coelho, honra lhe seja, não quis acudir ao senhor Espírito Santo. Todavia, é Costa quem merece os ataques desesperaos do senhor Espírito Santo que, pelos vistos, está “bem” acompanhado pela gente que subitamente (terá sobre ela, numa surpreendente noite de nevoeiro, descido o Espírito Santo à semelhança daquela outra vez há dois mil e tal anos?).

Entretanto Costa, António, parece recusar-se a alinhar n companha contra o actual Governador. Primeiro é quase impossível correr com o homem; depois, este está a um ano de terminar o seu mandato; finalmente, as regras do BCE são, em caos deste tipo, claras. Todavia, fundamentalmente, enquanto Carlos vai apanhando de todos os lados, António põe o lombo a salvo e tenta passar por entre as gotas da chuva.

A riqueza da nação

No ano de 2018 houve 29.500 famílias a pedir a intervenção da Deco por não terem possibilidades de pagar as dívidas contraídas.

Estas, em média, atingem os 924 euros (contra 850 no ano anterior)

A média de créditos concedidos anda pelos 62.770 euros (contra 60.500 em 2017)

A taxa de esforço média das famílias que pedem ajuda está nos 80% quando no máximo não deveria ultrapassar 35%

O rendimento médio das famílias nesta situação situa-se nos 1150 euros (menos 50 do que no ano anterior) Isso significa que o rendimento disponível fique em níveis quase inimagináveis:226 euros.

Estes dados foram obtidos no “Público” de quarta feira.

O tremendo retrato que daqui sai deveria preocupar-nos a todos e, sobretudo, os arautos da maravilhosa vida que o país está a ter. Deveria ser esfregado na cara (eu ia a dizer no fcinho) de certas forças políticas que aora andam numa roda-viva pelo país a explicar os benefícios que trouxeram à pátria neste quadriénio que está findar.

Outros sinais (aumento da dívida pública, baixa nas espectativas sobre o défice que não atingiu a meta governamental “por culpa dos estivadores de Setúbal”... ) deveriam ser levados a sério.

Porém, como o inefável Pangloss, Costa (António) apregoa os êxitos e varre para a sargeta tudo o resto. E nele vão mais 30.000 famílias subitamente empobrecidas.

Não vou afirmar que o desvario despesista seja todo culpa de quem governa mas o discurso “irritantemente optimista” destes anos pretéritos alguma mossa há de ter produzido neste desastre, aliás anunciado.

No rol de despesas verificadas há uma componente forte dos débitos pessoais e de cartão de crédito. O crédito à compra de habitação também ocupa um lugar importante, obviamente. E não deixa de ser preocupante o facto de o rendimento médio das famílias ora em causa ter bio de 2017 para 2018 (50 euros).

Faço notar que o artigo (2 inteiras páginas) refere o facto dos solicitadores de auxílio virem da média burguesia, das classes de idade compreendidas entre os 25 e os 65 anos com maior incidência na faixa 40-54 anos.

E, mais grave ainda, entre quem pede ajuda há 33,3% e 39,6% de pessoas com o 2ª ou 3º ciclos. Não se trata pois de ignorantes, de iletrados mas sim de gente com educação. A eles juntam-se 18,7% de licenciados o que complica ainda mais o retrato e aumenta a ameaça de ruptura social.

 

CTT (a regra e a excepção?)

Há 2 semanas zarpei para Lisboa e só quando estava a chegar é que descobri que não trazia qualquer documento (cartão de cidadão, carta de condução, livrete) nem, pior, dinheiro vivo ou os cartões de crédito. A falta de dinheiro, desde que chegasse a casa da família estava resolvida. Aliás fui ao meu banco e obtive um cartão de crédito provisório. No que toca ao resto dos documentos a coisa era mais complicada. Era uma quarta feira pelo que ou os recebia no ddia seguinte ou máxime na sexta ou ficava numa situação difícil. A todo o momento, quem guia pode ter algum acidente e a primeira coisa que nos pedem são os documentos.

Indaguei na estação de correios se havia meio de receber com rapidez os documentos em falta. Havia, graças e louvores se deem a todo o momento ao divino Sacramento! Há um expediente chamado correio expresso que permite receber no dia ou na manhã seguinte até às onze horas (no caso da expedição ocorrer depois do meio dia) o qur for enviado. Até há seguro!

No momento em que os CTT apanham pela medida grande, há que reconhecer que este serviço – não sei se recente se antigo – funciona. E funcionou impecavelmente. Antes das 10 horas da manhã de quinta voltei a ser um cidadão “documentado” e menos angustiado. Sei que isto não tranquiliza quem, em vez de uma estação completa de correios, tem agora uma “loja” cuja eficácia desconheço. Mas convém também noticiar que nem tudo é mau no actual serviço.

 

Que é que ele quer?

O senhor Corbyn não para de me surpreender. Por mais noticiários ingleses que tente ver ainda não percebi se quer sair ou permanecer na Europa. Se ama desveladamente os judeus ou se, como alguns péssimos sinais indiciam, os quer muito longe dele. Se quer derrotar a Sr.ª May ou se alimenta no seu já cansado coração à beira dos setenta anos um derriço pela dama. Se vai fazer –como até agora se verifica – frente comum com a gentinha conservadora do Brexit ou se tem um projecto crível e viável para uma Grã Bretanha cada vez mais irreconhecível.

Já não questiono as suas opções políticas, sobretudo o regresso impossível a um passado socialista que se alimentava da Escócia boa votante e dos sindicatos que burocratas como ele mesmo foram varrendo para o caixote do lixo da História.

A recente deserção de meia dúzia de deputados (a que se junta uma outra desta vez “torie” de três deputadas) e as declarações deles deixa Corbyn ainda mais desconfortável. Digamos que a sua carreira -aliás obscura – no Labour pouco ou nada promete aos britânicos. May, de resto, acompanha-o nesse cortejo fúnebre.

Se a Europa, por uma vez organizada e de acordo, não parece disposta a aturar muito mais tempo a Sr.ª May, tão pouco se agita entusiasmada com Corbyn. Nem sequer os socialistas e social-democratas do Parlamento Europeu.

Basta-me uma pergunta que propõe Corbyn para a fronteira do Ulster com a República da Irlanda?

 

“aperta o teu coletinho

 

O filósofo francês Alain Finkrelkrault foi há dias violentamente insultado por vários “gillet jaunes” que não só o ameaçaram como o tentaram agredir. Um dos seus atacantes é, aliás, uma criatura ligada ao movimento salafista, o mesmo é dizer, um fanático islamista. Ao mesmo tempo, e em vários locais por onde os coletes passaram, apareceram inscrições anti-sionistas (Nem Simone Veil escapou) .

Já por aqui deixei escrito que esta gente que todos os sábados se reúne e se manifesta não passa de um agrupamento ocasional de descontentes que assume a “jacquerie” como se fora uma revolução. Não o é, pese embora a opinião de muitas luminárias “progressistas”, dessas que estão sempre à espera de um terramoto social. Em França, a saudade da revolução é uma constante e, a cada par de anos, anuncia-se um novo e miraculoso movimento salvífico que dura o tempo da estação amorosa dos pirilampos. Não é oiro mas apenas purpurina. Em boa verdade, grande parte dessa inteligentsia francesa que que sente periódica mas subitamente o orgasmo revolucionário, é profundamente reaccionária e acaba sistematicamente nas academias, nas mordomias e na boa consciência. Todavia, o mito revolucionário (basta lembrar os anos da “ocupação”, a vergonha imensa da colaboração que foi quase unânime -nem o PC escapou no primeiro ano!...- ) foi cuidadosamente alimentado por muita da mais lida historiografia oficial e oficiosa. Desde então é o que se sabe: um sobressalto, umas vagas barricadas ou nem isso, gritaria nos media e aí está pret a porter mais uma revolução, sempre a boa, a definitiva.

Desta feita, são os coletes amarelos que pedem tudo e o seu contrário e, pelo caminho, vão – e não poucas vezes – pilhando, destruindo, incendiando o que lhes está pelo caminho. Pouco a pouco mas com segurança vão aparecendo os sinais de uma extraordinária, mas não surpreendente aliança entre a extrema direita e a extrema esquerda (leram bem: extrema esquerda, a França insubmissa e outras patacoadas idênticas) numa clássica condenaçãoo de tudo o que ameaça o modo de vida conformista e conservador francês (ecologia aí compreendida, claro). .

Por cá, houve uma erupção benigna dessa acne revolucionária: apareceram umas tristes e solitárias criaturas que depois do estrondoso anúncio da sua vinda se juntaram num pequeno grupo junto ao Marquês de Pombal. Eram mais os polícias que os manifestantes à volta os lisboetas prosseguiam imperturbáveis a sua vida de todos os dis. Nem os turistas, sempre ávidos, tiraram fotografias. Aquilo era demasiado pobrete, nada alegrete e reles.

Em França, a coletagem já está em maré decrescente mesmo se em certos programas (cfr “28 minutes” /ARTE) ainda apareçam alguns raros exaltados adeptos daquela bagunça ideológica. De facto, e no fundo, bem no fundo, o que dali sobra é o racismo, o nacionalismo exacerbao e uma profunda incultura política. Só.

E esperemos que mesmo nos estertores da agonia, este cego e incerto movimento não acabe com alguma morte que será sempre a de alguém que nada tem a ver com as razões de descontentamento sentidas por quem se vê excluído.

 

diário político 213

d'oliveira, 21.02.19

Unknown.jpeg

Notícia de um naufrágio iminente

d'Oliveira fecit (Fev 2019)

 

(declaração de interesses: sou- ainda- beneficiário da ADSE. Tenho 44 (quarenta e quatro) anos de quotização. Nos primeiros quarenta e dois (42) anos nunca enviei para a ADSE qualquer pedido de pagamento de despesas feitas e pagas por mim. Por preguiça e porque entendia que eram demasiado pequenas para estar a mobilizar aquele serviço. E, passe a modéstia, porque pensei que assim auxiliava o meu seguro de saúde e o mantinha financeiramente robusto. Nestes últimos anos, fiz uma operação ao pé direito (joanete), um exame médico de alguma importância, duas consultas médicas e sou seguido -mas pago 40 euros de cada vez- por via do diabetes. Se tivesse sido recorrido ao SNS, é provável que a operação ainda não tivesse sido marcada pois todos sabemos que o problema é considerado de pouca importância pelo que fica adiado quase sine die, mesmo com sapatos que se deformam ou que –como no caso da minha mãe se têm de comprar com números diferentes, das dores que se sentem). O exame a que acima me refiro foi realizado oito dias depois de ter sido pedido – no SNS esse prazo nunca é inferior a 90 dias e a média sobe para os 140/150 como, aliás me foi dito nos dois hospitais públicos em que tentei informar-me. A consulta bi-anual de diabetes é por mim marcada com oito/dez dias de antecedência e até posso escolher a hora. Consta de uma entrevista prévia com um enfermeiro e da consulta propriamente dita com uma excelente e simpática médica. Como não há convenção específica o hospital (Instituto CUF Porto) cobra-me um preço especial - € 40- cujo recibo posso enviar para ADSE (coisa que até à data nunca fiz por pensar que o posso suportar e para contribuir para as finanças ainda sólidas deste “seguro de saúde” dos funcionários públicos e dos aposentados do mesmo sector). As poucas consultas que fiz foram –me cobradas por um preço praticamente simbólico. No que respeita à parca saúde oral, tenho uma excelente dentista “não convencionada” mas, pelos motivos que muito acima aduzi, também me vou esquecendo de requerer à ADSE a parte que me cabe.

Todavia, mesmo sem praticamente aproveitar, tenho-me mantido fiel à ADSE para onde desconto praticamente 100 euros mensais! O futuro é sempre incerto e a minha idade aumenta assustadoramente e a mais elementar prudência aconselha-me a fazer esse esforço financeiro).

 

A ADSE é um seguro de saúde dos funcionários públicos, abrange mais de um milhão de pessoas (no activo e reformados), nunca entrou em ruptura financeira, bem pelo contrário, e é a inveja do resto dos cidadãos que tendo direito ao SNS estão cada vez mais desprotegidos.

De facto, os hospitais públicos estão saturados, há cirurgias que demoram anos, exames – colonoscopia - que chegam a demorar mais de três anos (ainda ontem, uma paciente de Grândola denunciava o facto no programa televisivo diário “sociedade civil”), faltam enfermeiros, médicos (especialmente anestesiologistas), o quadro de farmacêuticos hospitalares tem um défice de 150 profissionais – pelo que há farmácias hospitalares que fecham ou estão na iminência de fechar - e há especialidades que pura e simplesmente “empurram” os pacientes para o “privado” (o caso da fisioterapia, para não ir mais longe).

Nos últimos anos, o panorama tem-se agravado, não havendo sector que não se queixe (médicos, enfermeiros, técnicos de todas as categorias e especialidades). Já não há conta certa do número de direcções de serviço que se demitem ou ameaçam demitir-se.

Entretanto, e depois de Paulo Macedo, os ministros que se tem sucedido ou saem varridos pelo desastre ou, no caso actual, mentem descaradamente quando afirmam que há alternativas eficazes à eventual denúncia de contrato dos grupos privados. A Cruz Vermelha, os hospitais das Misericórdias e os das forças Armadas não tem capacidade (e é até discutível a sua qualidade) para atender os mais de 600.000 utentes da ADSE que frequentam normalmente os hospitais denunciantes do acordo.

Esta senhora Ministra, chefiava até há pouco um serviço público que (alegadamente) o Tribunal de Contas acusou de falsificar dados. A sanha ideológica que anima a criatura e que tem sido visível a cada nova intervenção pública (pelo menos na TV) faz prever um desastre absoluto. As greves anunciadas ou previsíveis, a continuada falta de resposta aos mais elementares pedidos de reforço em gente, meios, e dinheiro, o desprezo com que são encarados os problemas decorrentes da existência ou não de PPP em hospitais públicos (e o caso de Braga é bem expressivo tanto mais que, ao que parece, houve boa gestão e muito maior eficácia do que em muitos ou todos os hospitais públicos) tem como resposta única e míope (se não cega) a afirmação de que tudo correrá melhor, no melhor dos mundos se só houver SNS.

Todos os especialistas (nacionais ou estrangeiros) afirmam que para um bom e são SNS é necessária a complementaridade privada e social. Só os arautos do naufrágio nacionalizante” (PC e BE) que subitamente se esqueceram da falência absurda, do desastre medonho dos seus modelos estrangeiros, é podem impunemente afirmar que há medidas fáceis, economicamente viáveis, para este estúpido e desnecessário confronto mas, até à data, não propuseram nenhuma medida prática que baseie a sua posição. Nenhuma! Tudo o que deixam no ar, será pago por mais impostos, por muito mais impostos!

Nada tenho contra os hospitais públicos, recordo com profundíssima gratidão e igual emoção, a noite em que o meu Pai chegou em coma (de que não saiu) à Urgência do Hospital Santo António. Vi toda uma equipa médica que, desconhecendo que o paciente era médico, corria velozmente para tentar salvar aquela anónima vida. Um amigo meu estava nesse grupo e depois veio falar-me, prevenir-me, consolar-me. Viva eu mil anos e não os esquecerei. A minha mulher foi, no mesmo hospital, atendida e assistida duas ou três vezes. Bem, muito bem. Exactamente como, actualmente, no Hospital CUF do Porto. Com uma diferença: aqui tudo foi muito mais rápido, as instalações eram muitíssimo melhores e o atendimento exemlar. Sempre que a acompanho lá, posso esperar na cafetaria cuja limpeza, qualidade e serviço é incomparavelmente melhor à dos hospitais públicos que conheci.

Dito isto, vamos ao confronto agora existente e profundamente soprado pelos adeptos da “nacionalização” e da sanha a tudo o que é particular e privado.

A primeira questão que se verifica é que parece que o simples facto de haver lucro na prestação de cuidados de saúde é um crime. Capitalismo puro!

O “negocio da saúde”! Então qualquer médico de consultório aberto anda a “roubar” os pobres doentes. Meu Pai, enquanto exerceu clínica, numa terra pobre referia que só 20% dos doentes pagavam. Os restantes não podiam. Mas saíam do consultório com uma nova esperança, com medicamentos provenientes das “amostras” deixadas pelos representantes dos laboratórios e eram “visitados” em casa se estavam de cama. De borla. O meu pai não era excepção. Mesmo hoje podemos ver médicos a fazer o mesmo. Serão menos mas não é isso que lhes tira grandeza à generosidade e ao empenho.

O que se pede a um hospital, público ou privado, é que trate da melhor e mais adequada maneira quem o solicita.

Tudo o resto é fantasia tonta e ideologia barata.

Continuando: O SNS, melhor dizendo os hospitais públicos abandonaram há muito tempo, determinado número de especialidades que obviamente caíram no domínio da actividade privada. Razões para isso são várias mas podemos sempre começar pelo financiamento (Este actual Governo cativou mais de 150 milhões que obviamente redundam em menos serviço, pior serviço, falta de serviço. Basta isso para levar muitos utentes para o privado), pela falta de investimento, pelo continuado adiamento de reestruturação ou de construção de hospitais novos (o caso do “Joãzinho” no H. S. João do Porto é uma gritante prova) .

Ter o arrojo de afirmar que o sector privado “come” 1200 milhões do Orçamento é uma acusação irresponsável à luz das evidentes limitações do SNS.

Isto num país onde o simples facto de se precisar de uma análise só se consegue em tempo útil recorrendo aos laboratórios privados. Os hospitais só fazem essas análises aos internados e com longo tempo de espera a algum que outro “externo”.

Especialidades como a fisioterapia são, nos hospitais públicos, algo de inacreditável. Novamente, a minha mulher, conseguiu (com uma cunha do tamanho da légua da Póvoa) que, duas vezes por semana, lhe tratassem de uma mão. Ao mesmo tempo, eu, com uma maleita semelhante, recorri a uma clínica privada e convencionada, e em trinta dias e vinte e seis sessões, puseram-me como novo. Ao fim de duas semanas e quatro tratamentos, a cara metade rendeu-se ao óbvio e num prazo de tempo idêntico ao meu lá sentiu as melhoras necessárias.

Toda a gente sabe que, desde há muitos anos, com a notável excepção de Paulo Macedo, houve sub-financiamento crónico, aumento da despesa, problemas de recrutamento (ou melhor de não recrutamento) de profissionais.

Desde há meses, que se vinha adivinhando, este (mais que previsível) embate. Eram as PPP (no caso de Braga, denunciada pelo grupo particular) que mesmo contra a evidência de melhor serviço e maior produtividade, eram crismadas de más, malévolas e contrárias ao interesse público, era a campanha (ainda ontem recordada nas palavras de Catarina Martins) de que os privados sugavam o dinheiro de todos (no caso da ADSE que é exclusivamente alimentada pelas contribuições dos beneficiários não se vê tal situação) o que ou indicia ignorância da líder do Bloco ou simples mas descarada asneira, tenha ou não também má fé.

Agora surge um conflito acerca da exigência da ADSE (ou de quem lá manda e que não foi eleito com voto dos que pagam e são directos interessados) em cortar 40 milhões na despesa e em exigir aos privados 38 milhões “facturados a mais”. O segundo problema está nos tribunais e o primeiro deixa-me estupefacto: para já o país envelhece e isso traduz-se em mais e mais frequentes pacientes; depois, os medicamentos, as próteses e tida a restante parafernália são cada vez mais caros embora de melhor qualidade e eficácia.

Não quero, porém, deixar de fora a famosa questão que o primeiro problema aflora: ninguém, e eu muito menos, entende a disparidade de valores (de medicamentos, de actos cirúrgicos, de próteses) apresentada por diferentes hospitais. Nesse capítulo, também ninguém entende como foi possível a quem geria a ADSE permitir desde o primeiro dia esta aberrante disparidade. Cumpre a uma justiça célere e séria responder já a este problema. Melhor dizendo: cumpriria...

Na falta de solução dos tribunais, há que imediatamente pôr as partes em contacto, se possível à vista do público para, de uma vez por todas, solucionar uma situação que só angustia os utentes da ADSE.

E lembrar aos militantes radicais que a ADSE não é deles mas de quem a paga. E lembrar aos mesmos que a AR tem poder para obrigar o Governo a financiar decentemente o SNS. Antes isso do que mudar o horário de trabalho de Função Pública de 40 para 36 horas (quantos milhões custa isto?), de fazer tábua rasa do IVA a 23% nos restaurantes (para proveito dos turistas estrangeiros), de baixar propinas e assim diminuir o orçamento das universidades (já com graves problemas), de ,por vários meios, criar novos encargos para o Estado e assim malbaratar o dinheiro dos impostos que (convém lembrar) todos pagam e alguns muito mais do que os outros (caso do IRS).

Hoje mesmo, o dr Correia de Campos, antigo ministro da Saúde, veio, no “Público” pôr os pontos nos ii. Leiam-no, por favor. Aliás, quem o devia ler era essa inepta ministra e os fanáticos social-populistas do PC, do BE e de alguma “esquerda” (?) do PS, ideologicamente falida e politicamente ignorante.

No fundo, bem no fundo, há da parte dos alegados amigo do SNS um profundo ódio à ADSE que acaba por passar por uma “regalia” da Função Pública. Volto a lembrar que essa regalia é paga (e bem paga) pelos 3,5% qie todos mensalmente descontam para a instituição!

A rasoira desta gente é sempre a mesma: igualar por baixo, cada vez mis baixo. O crescente empobrecimento ideológico (para não referir o ético, o cultural e o social) acompanha a tentativa de pauperização crescente dos cidadãos.

(a propósito: algumas criaturas com forte desmemória juram a pés juntos pela herança do dr. António Arnault, “pai” do SNS. Assim se esconde uma longa história começada duas décadas antes pelos muitos empenhados e perseguidos cidadãos que fizeram o “Relatório das Carreiras Médicas” e sobretuso se atira para um buraco negro da História o dr Miller Guerra, professor (sempre ao lado dos estudantes – crise de 62, p ex), deputado na ala liberal (onde iniciou o debate parlamentar sobre um serviço nacional de saúde) cargo de que se demitiu em protesto contra o cerceamento das prometidas liberdades do incio marcelista, deputado à Assembleia Constituinte e bastonário da Ordem dos Médicos. Isto não diminui Arnault que, enquanto Ministro, pode avançar – logo que o país alcançou um mínimo de estabilidade- com uma lei que bebia quase tudo no longo e produtivo (e corajoso) combate de Miller Guerra e dos seus companheiros de duas dezenas de anos de luta e sacrifício.

Só por isso, ou também por isso, Miller Guerra é o rosto da gravura de hoje. É uma pequena homenagem do então jovem estudante preso durante a crise académica de 62 e que não esquece o punhado de professores que se solidarizaram com os estudantes

 

Estes dias que passam 387

d'oliveira, 20.02.19

Unknown.jpeg

O Carnaval está próximo (I)

mcr, 20/I/19

 

No Parlamento vai votar-se uma moção de censura. Perdida à partida. Só o CDS e p PPD a votarão pelo que, se a matemática (aliás, simples aritmética) não falha a chamada geringonça derrotará a proposta do CDS. Um jornal usa a feliz expressão “o ppd aplaude de mãos nos bolsos”. De todo o modo, como Rui Rio disse, nunca poderiam abster-se mesmo se esta moção sirva apenas a Cristas. Ao contrário do que afirma um emproado comentarista dominical, a iniciativa não é “um tiro no pé”. Cristas está apenas a tentar manter a base galvanizada, e é aí e no universo dos possíveis votantes do seu partido que ela joga. Passa para a multidão a ideia de que se bate em todas as frentes contra a “frente de esquerda”. Não só não se arrisca a perder votos mas é bem possível que recolha mais alguns.

O PPD, ao invés do que sugeria o mesmíssimo comentarista dominical, nunca poderia abster-se. Ao votar favoravelmente a moção pode não ganhar votos mas evita perdê-los e afasta temporariamente a ideia de que é, implicitamente, “muleta” do Governo. E evita divisões nas baronias social-democratas que se digladiam por tudo e por nada. Numa altura de escolha de candidatos às europeias, Rio não está disposto a fornecer argumentos aos contestatários.

Do lado dos vitoriosos, só o PS ganha verdadeiramente. Primeiro a moção não derruba o Governo; segundo, obriga o PC e BE a votarem por ele. Mesmo se o façam com esfarrapadas desculpas de “não fazer o jogo da Direita”.

(não refiro os Verdes ou o PAN por não terem neste jogo dos quatro cantinhos qualquer importância. De qualquer modo, os Verdes votarão de certeza com o PC e o dos animaizinhos coitadinhos há de encontrar alguma razão para fazer o mesmo).

 

O PC vai avançar com uma série de propostas claramente de época eleitoral. Uma delas diz respeito à gratuidade de medicamentos para pessoas com mais de 65 anos. Desconheço se há algum filtro para avaliar quem pode ou não pode receber essa ajuda. Assim, sem mais, corre-se o risco de ver os ricos (os ricos portugueses que, no resto da Europa não passam de remediados) passarem a ter uma regalia de que em boa verdade não precisavam. É verdade que o PC refere que tal gratuidade diz apenas respeito ao genérico mais barato. Todavia, mantem-se a ideia de que, descontos cegos dão vantagem sempre a quem mais tem.

 

Parece que, à boleia de uma lei do tempo do PREC, se avoluma a ideia de “requisição civil” de unidades hospitalares privadas. Para um momento em que começa a esboçar-se a hipótese de negociação com tais entidades, conviria talvez não deitar gasolina nas chamas.

De resto, a guerra da ADSE/privados começa a deixar perceber que o Governo e os exaltados radicais (entre os quais se encontra a actual Ministra) não dispõe de nenhuma alternativa viável à saída dos privados (o hospital da Cruz Vermelha, os hospitais das Forças armadas e as Misericórdias não estão todos localizados onde é necessário nem dispõem dos mesmos meios técnicos e de pessoal suficiente para suportar o eventual afluxo de pacientes).

Aliás, a estouvada criaturinha da Saúde ainda não percebeu, ou não quer perceber, que muitos dos utentes (pagadores) da ADSE poderão abandonar o instituto público (mesmo que exclusivamente financiado por nós utentes) e fugir para seguros de saúde privados (no meu caso até talvez viesse a pagar menos do que actualmente pago). Assim se concretizaria o sonho maior dos coreano-albaneses lusitanos que sempre detestaram a ADSE em nome de uma utopia estatizante e estalinista.

Sobre o tema, um cavalheiro de seu nome Eugénio Rosa, “representante dos utentes” (quem é que o elegeu? E porquê? Será, sequer, utente?) veio, sem corar, afirmar que os 3 privados que ameaçaram cortar com a ADES apenas representavam 0,003% dos convencionados! A criatura compara três grandes grupos hospitalares com qualquer pequeno laboratório convencionado!!! Isto ou é burrice supina ou mera má fé. O que me admira é que na “votação” que o alcandorou ao lugarzinho sempre apetecível (quanto mais não fosse pelas possibilidades de tentar controlar o organismo) de vogal terem havido algumas abstenções e um voto contra.

 

O meu percurso no ensino secundário (oh!, há quanto tempo!) dividiu-se entre o sector público e o privado (no caso um colégio na cidade onde vivi parte do 5ª ano, e duas estadias em colégios no 7º ano por birra e teimosia de um avô encarregado de educação). Só tenho a dizer em de ambos os sistemas e que tive sempre boas ou muito boas classificações nos exames nacionais a que na altura todos se submetiam. Esses exames eram sempre feitos nos liceus, convém acrescentar.

Ora, saiu, recentemente, mais um “ranking” do ensino secundário. Os resultados são dramáticos. As duas melhores escolas públicas (Clara de Resende –Porto- e D. Maria –Coimbra) aparecem em 33 º e 34º lugares. É óbvio que os colégios arrebanham os filhos dos mais ricos e remediados e a escola pública tem de se haver com os alunos vindos de meios mais carenciados ou menos favorecidos. As duas escolas públicas referidas estão situadas em zonas de média e alta burguesia. Todavia, há escolas públicas em meios pobres que se saem muito bem.

Os “rankings” valem o que valem mas para alguma coisa, mesmo pouca, hão de servir. E neste caso nem sequer constam escolas ditas estrangeiras (Liceu Charles Lepierre restantes escolas francesas, Colégio Alemão ou as escolas inglesas.) Além destas, uma há –cara muito cara: St Julians, Oeiras – que tem resultados estrondosos: os seus alunos entram nas melhores universidades inglesas (Oxford, Cambridge, Imperial College, London University College, p.ex.) sem qualquer dificuldade.

Percebe-se que muitos pais queiram assegurar o futuro dos filhos matriculando-os em escolas deste tipo mas nada disso pode querer significar que o privado seja apenas para “betinhos” como asseverava a filha de um comentador do “Público”.

As duas já citadas escolas públicas, 33ª e 34ª do ranking tem, indubitavelmente, uma frequência proveniente do mesmo estrato social dos jovens que vão para os colégios e isso não significa que os alunos vivam numa “bolha” (sic) que os não prepara convenientemente para a vida futura, como realça o articulista. Os eventualmente futuros licenciados tem toda uma universidade para se homogeneizarem mesmo se vindos de situações muito diversas. Quanto mais não seja pelo facto de à universidade já só chegarem os que querem e podem lá chegar. A alegada falta de estudantes vindos dos meios mais desfavorecidos só se resolve mediante uma séria política social escolar (bolsas de estudo, residências, cantinas, empréstimos e outros incentivos). Tudo coisas que são exactamente o contrário da estúpida redução de propinas que acaba por aproveitar muito mais aos ricos do que aos pobres. As propinas são essenciais para as débeis finanças das Universidades e nem sequer são o principal custo do ensino superior.

Dir-se-á que tudo isto são meros acidentes de percurso no actual Governo de “geringonça”. Que há um futuro radioso mais adiante, bastando para isso olhar para as promessas de investimentos brutais que aí virão. Se vem ou não, já não é coisa para esta legislatura e a próxima sabe-se lá como será. O PS já esteve mais próximo de uma confortável maioria (ou mesmo da absoluta) e agora tem perdido algumas plumas. A remodelação de há dias mostra que Costa adoptou a táctica do “quadrado” e preenche as saídas com gente sua, cada vez mais sua. Ninguém acredita que a saída de Maria Manuel Leitão Marques para o Parlamento europeu fosse necessária (ainda por cima atrás de uma luminária que de saldo governamental apresenta um milhão de promessas e nada realizado. A aparente “esquerdização” tão apregoada pode tirar um par de votos ao BE, e pouco ou nada ao PC, cujos votantes descreem do chamado voto útil. Mas esse caminhar afasta o partido do abstracto “centro” que é onde tradicionalmente se ganham as eleições. Rio ainda não perdeu estas eleições (aliás, que me lembre já ganhou outras bem difíceis) e pode mesmo ficando atrás do PS causar mossa ao partido de Costa. Tudo poderá depender da abstenção e esta, em claro avanço desde há mais de vinte anos, prejudica sempre o “centrão”. Tudo depende da evolução da economia europeia já que a nossa regista resultados bem menos lisonjeiros do que Centeno apregoava. As promessas podem muito mas perdem eficácia quando são em demasia. E por cá não passa dia sem mais uma mão cheia delas. E disso, diz quem sabe, está o inferno cheio.

* a gravura: carnaval brasileiro claro. Os carnavais indígenas são tão clamorosamente pobres e desconsolados que nem um exaltado patriota consegue pô-lo em destaque. 

 

 

 

Quem engana quem?

JSC, 15.02.19

João Vieira Pereira, diretor-adjunto do Expresso, hoje, na SIC, a propósito da quebra do crescimento da economia, à pergunta “onde está o crescimento económico?” reconheceu que houve crescimento económico em 2018 (o PIB cresceu 2,1%), que se cresceu acima da média europeia, que a economia global está a abrandar e que vai continuar a abrandar em 2019, o que terá um impacto significativo em Portugal pelos choques externos sobre a procura, com penalização das exportações, que terá como consequência um ainda menor crescimento neste ano, concluiu (e creio que bem).

 

A dado momento, o jornalista coloca uma nova questão: “Como se explica que o investimento tivesse ficado abaixo das expectativas?


De pronto, a resposta: “O Governo mentiu e tem mentido todos os anos relativamente ao investimento público.” Nunca concretizou as metas do Orçamento de Estado para o investimento.

E prosseguiram, pode-se dizer que não se investe porque não há dinheiro, não é verdade? “o dinheiro está orçamentado, está lá, para se gastar e de propósito o Ministro das Finanças não dá ordem para esse dinheiro ser usado”.

 

O problema ou o erro em que incorrem é que o dinheiro não está lá. Ou seja, no Orçamento de Estado não está dinheiro algum. O que está lá são previsões. Previsões de gastos e previsões de captação de recursos. Só isto. Mais nada.

 

Nem se entende como é que alguém que lida, desde há muito, com matérias económicas e de finanças públicas pode afirmar que o “dinheiro está lá”, no Orçamento. Que é o Ministro que não o deixa gastar.

 

Já agora, as tão faladas cativações orçamentais são um instrumento de gestão orçamental. Se o volume de receita prevista no Orçamento não está a evoluir ao ritmo esperado, a única forma de manter o equilíbrio orçamental, ao nível da execução, é efectuar cabimentações de modo a ajustar o volume de despesa real ao volume de recursos captados.

 

Quando tal não acontece, como sucedeu no passado, em que se gastou o que estava previsto no Orçamento sem cuidar do volume da receita arrecadada geraram-se défices e o progressivo desequilíbrio das finanças públicas que se conhece e nos afecta.

 

Em conclusão: As previsões da despesa (incluindo investimento) estão lá. O problema é que a sua execução deve depender da receita (dinheiro) que venha a ser captada no decurso da execução orçamental, razão porque não se deve condenar um Ministro (este ou qualquer outro) por procurar controlar o défice, a não ser que se elogie todos os Governos e ministros que contribuíram para o avolumar da divida pública porque gastaram descontroladamente, sem terem dinheiro para pagar.

Recomeça (de forma errada) a defesa da regionalização

José Carlos Pereira, 13.02.19

Sou defensor da regionalização porque considero que é a melhor via para a organização política e administrativa do país e para o seu desenvolvimento integrado. A minha experiência profissional e uma reflexão bem ponderada sobre o tema não me deixam quaisquer dúvidas. Acredito que as vantagens para o território e para os portugueses ultrapassam em larga escala os eventuais óbices que se podem colocar ao processo. Por isso defendi e votei favoravelmente o referendo realizado em 1998.

Uma vez que a corrente regionalista tem um forte peso no seio dos principais partidos políticos, esperava-se que o tema da regionalização pudesse ser recuperado, agora que já passaram 20 anos sobre a realização do referendo.

Contudo, não podia ter começado da pior maneira o desiderato de recolocar na agenda política a defesa da regionalização. Depois de assistirmos a uma movimentação legítima e sensata de alguns autarcas nortenhos dos vários espectros políticos, a Comissão Independente para a Descentralização (CID), criada no âmbito da Assembleia da República, tem sido um foco de descrédito, proporcionando trunfos a todos aqueles que se opõem à regionalização.

Uma Comissão (composta por João Cravinho, Alberto João Jardim...) que se torna notícia pela vontade de contratar pareceres a alguns "sábios", entre os quais Diogo Freitas do Amaral, num montante próximo do meio milhão de euros, vira os holofotes  contra si com toda a propriedade. Além de ser também muito discutível a opção de remunerar os seus membros, equiparados para esse efeito a directores-gerais da administração pública. O que se exigia era um trabalho rigoroso e sério, que agregasse  sectores que se opuseram à regionalização em 1998, e não começar a sua intervenção, com os mesmos nomes de sempre, reforçando a desconfiança dos que sempre enfatizaram os custos associados a esta reforma administrativa.

É sabido que a opinião publicada, centralista e lisboeta na sua grande maioria, tem uma má vontade contra a regionalização. Basta ler os articulistas dos principais jornais para reencontrar os mesmos argumentos bacocos de sempre por parte de quem não faz qualquer esforço para entender as razões de quem defende a regionalização. A CID acabou por regalar esses opinion makers com um presente inesperado...

 

Um exemplo a seguir

JSC, 12.02.19

 O Governo, em linha com as confederações patronais, fixou o salário mínimo em 600 euros para o ano em curso.


É provável que algumas empresas já pagassem acima desse valor a todos os seus colaboradores. Contudo, esses casos não são objecto de divulgação pública, não são ou raramente são notícia. Porque será?


Para excecionar a regra, o JN revela que a Empresa Balanças Marques, do grupo José Pimenta Marques, fixou em 650 euros o salário base para os seus trabalhadores, tendo ainda aumentado em 20% o subsídio de refeição para todos os trabalhadores.


Quando ainda há bem poucos anos alguns diziam que aumentar o salário mínimo seria uma desgraça, mais desemprego, mais falências, não só o salário mínimo tem aumentado ano após ano, como ainda há empresas que se superam neste domínio. É o caso desta empresa de Braga.


São um exemplo, um bom exemplo, que bem merecia ser melhor conhecido e multiplicado.

Um partido novo com conversa velha

JSC, 11.02.19

Santana Lopes, na sequência do Congresso do ALIANÇA, foi hoje ao “Jornal das 8”, da TVI.

 

Depois de ouvir o ex-conselheiro presidencial, Paulo Santos, garantir, naquele Congresso, que “estamos a assistir ao início da regeneração política em Portugal” fiquei cheio de curiosidade e com vontade de ouvir o regenerador Santana Lopes. Não falhei o Jornal da TVI.

 

E o que disse Santana?

 

Blá! Blá! Bala! Blá! Blá! Blá! Blá! Bala! Blá! Blá! Blá! Blá! Bala! Blá! Blá! Blá! Blá! Bala! Blá! Blá! Blá! Blá! Bala! Blá! Blá! Blá! Blá! Bala! Blá! Blá! Blá! Blá! Bala! Blá! Blá! Blá! Blá! Bala! Blá!

 

Se Paulo Santos também o ouviu deve ter concluído que a "regeneração política", que anunciou, foi uma ideia passadiça.

Au bonheur des dames 472

d'oliveira, 08.02.19

images.jpeg

Isto é como as cerejas

mcr 7/8 de Fevereiro 

O Sr. Presidente da República foi ao bairro Jamaica porque a) é o presidente de todos os portugueses; b) não pede o cadastro criminal a quem o abraça e se fotografa com ele.

Nada a opor. Nada é um modo de dizer. Corre nos meios próprios um processo sobre o que realmente se passou durante uma intervenção policial. Tudo indica que alguns moradores, mormente uma família jubilosamente fotografada com o mais alto magistrado da Nação, se envolveram num confronto duro com agentes policiais. Segundo uma testemunha do mesmo bairro foi “natural que um dos agressores civis tivesse atacado um ou vários policiais porquanto um (ou vários) destes estariam a agredir um familiar”. Isto passou vezes sem conta na televisão e as imagens não permitem verificar quem começou o confronto. Verdade se diga que essas imagens vem de um habitante local e não é garantido que não tenham sido manipuladas antes de serem dadas à publicidade por alguém.

O sindicato dos polícias terá reagido duramente afirmando que o presidente tomou partido por uma das partes ao mesmo tempo que se tem sistematicamente negado a verificar as condições a que os agentes estão submetidos (desde a miserável situação de muitas esquadras onde não há condições de qualquer espécie até à falta de meios. O sindicato acrescenta que a exígua força policial em causa foi chamada ao bairro para pôr fim a uma zaragata; que qualquer entrada em muitos bairros degradados se torna sempre problemática devido à hostilidade dos residentes; finalmente, que estas situações de embate e confronto resultam sempre em violência bilateral porquanto a polícia, na eminência de uma agressão, reage com violência igual ou superior à usada contra ela.

É perante este cenário complexo que a visita particular do Senhor Presidente não pode ser considerada especialmente oportuna e, muito menos, a fotografia festiva com a família envolvida nos acontecimentos. Provavelmente, houve mais selfies (o Senhor Presidente não é exactamente avaro desse tipo de manifestações conviviais a pontos de eu chegar a pensar que sou o último português a não estar no álbum de selfies presidenciais) com outros moradores mas a que chegou a todas as redacções foi esta. Dir-se-á que nada disto coloca o PR no pelourinho mas também não deixa de ser compreensível a indignação dos polícias. Claro que, mais dia, menos dia, S.ª Ex.ª visitará de surpresa uma esquadra degrada e aí haverá outro festival fotográfico provavelmente sem abraços que os agentes não são exactamente civis mas que poderá ser brandido como resposta a esta pequena querela que, de todo o modo, é significativa da onda populista que o Dr. Rebelo de Sousa, por fas ou por nefas, inaugurou.

Ninguém quer um “presidente ensimesmado em Belém” (sic, Amílcar Correia, Público de 6.2.19) mesmo se a frenética actividade de MRS pareça um tanto ou quanto desajustada da função presidencial, mormente a sua deslocação ao Panamá (oficial ou privada?) por ocasião das jornadas mundiais da juventude católica. O Senhor Presidente de jovem já não tem nada, excepto os netos, a República é laica mesmo se qualquer pessoa de bom senso reconheça que a Igreja Católica tem por cá bastante peso e, sem favor, se posa considerar um dos factores estruturantes de Portugal. Basta lembrar que D Afonso Henriques não descansou enquanto não obteve – a troco de grossa soma de morabitinos ou moeda semelhante – o reconhecimento papal do Reino.

Acho muito bem que MRS dê público testemunho da sua fé, que entre em procissões religiosas ou que comungue amiúde. A religião de cada um é um assunto de cada um e, enquanto isso não importunar a dos outros ou o ateísmo de alguns, parece bem que exista e cresça num clima de liberdade e sadia concorrência com todas as restantes fés religiosas e com a liberdade pessoal de todos e cada um em geral.

Todavia, e para terminar, conviria lembrar ao Senhor Presidente a frase latina (sempre útil e particularmente adequada ao momento) “est modus in rebus”.

 

2 (a cor do rosto)

Num debate pouco pacífico, sempre sobre o Jamaica (o bairro e não a ilha do Caribe onde músicos geniais e corredores de velocidade pura parecem pulular) o senhor Primeiro Ministro respondeu a uma reiterada pergunta da senhor deputada Assunção Cristas que ela ao questioná-lo sobre se condenava ou não as violências ocorridas no bairro, entendeu chamar à colação a cor da sua pele numa (pouco) subtil acusação de racismo da oponente. Cristas ficou espantada, a Assembleia pasmou e Ferro Rodrigues teve mesmo de chamar a atenção do beligerante Costa para a irremediável tolice proferida.

Fora um que outro motorista de táxi, nunca ouvi ninguém chamar a Costa “preto” ou “monhé”. Houve, é certo uma campanha eleitoral em que Costa aparecia rosadinho como um leitão antes de ir ao forno mas isso foi uma burrice do fotoshop partidário que terá entendido não dever mostrar alguém com ligeiros traços de mistura de raças. A cor da pele, em Portugal só é acusação quando o seu portador é pobre (ou cigano, claro mas mesmo aí a coisa não é generalizada). Chineses e indianos (ou nepaleses que agora são muitos) passam despercebidos nesta guerra de cores.

Que bizarra razão terá impelido Costa para vir a terreiro com a sua cor quando há na Assembleia, no governo e nas elites nacionais, várias pessoas “de cor”. Mais: o partido da senhora Cristas teve – e tem – vários cavalheiros de origem indiana, de nomes até indianos, de religião hindu para não falar de mestiços de origem africana. Provavelmente mais, em proporção ou mesmo absolutamente do que o PS (ou o PC ou o BE).

Alguns (míopes) adeptos de Costa juram que Cristas o provocou. Não sou dessa opinião mas, mesmo que isso tivesse ocorrido, um político frio como Costa poderia (e deveria) manter-se impassível e não abrir esta estúpida, inútil e perigosa guerra das cores.

O desnorte da sua resposta deixa-me (e deveria deixar-nos a todos) inquieto. Muito inquieto.

 

Sapateiro, não passes da sandália!

 

O sr. Ministro Matos Fernandes, além de usar barba, é uma pessoa simpática. E tinha, até à data, dado mostras de bom senso e ponderação, qualidades inestimáveis (e pouco frequentes) num político indígena.

Todavia, embalado pela razoável aceitação do pópulo lusitano, entendeu falar do que não sabe nem, aliás, necessita de saber. A saber (perdoem a duplicação): o fim dos motores a diesel.

Disse S.ª Senhoria em tom professoral que os compradores de veículos a diesel deveriam ter juízo e pensar que daqui a cinco anos o valor de troca dos seus veículos seria bem menos razoável do que o que esperariam. Ou seja, o senhor Ministro passou a certidão de óbito destes motores de explosão. “Vem aí o eléctrico”, terá acrescentado.

S.ª Ex.ª exagerou ligeiramente. Quer no futurar, quer na análise do presente. Vejamos:

Em Portugal o peso dos veículos eléctricos é de 1,8% e daqui a um lustro (ai que bela oportunidade para usar esta esquecida palavra!) andará, se o preço baixar muito (muitíssimo) e se a bolsa dos portugueses engordar significativamente, pelos 30/40%. Estes dois “SE” são , há que convir, bastante incertos sobretudo se os quisermos juntos. Digamos, para abreviar, que isso seria a cereja em cima do bolo (estão a ver a pouco subtil referencia ao título do presente folhetim?) mas que os tempos não são assim tão promissores para dar a coisa por favas contadas.

As grandes marcas internacionais não parecem tão seguras. Provavelmente, não tem as luzes proféticas do senhor ministro. Nem a sua presciência... O prazo para as coisas serem como o Ministro Matos Fernandes prediz é, segundo as marcas, mais do dobro.

Mas há mais: ao contrário do que alguns mal avisados seguidores do senhor Ministro afirmam, num arroubo beato de admiração, neste momento a venda de diesel é ainda superior à dos veículos a gasolina. Os “SUV” estarão na base desta escolha mesmo se, de facto, um carro a diesel só seja rentável a partir dos 30.000 km/ano. Porém, uma coisa é economia, outra o gosto pessoal. E a malta anda entusiasmada com os SUV. Não há volta a dar-lhe...

E volta a haver mais, muito mais: o preço (oh medonha palavra!) dos veículos eléctricos!

Mudei, recentemente, de carro. Tenho o péssimo hábito de pagar a pronto (Horroriza-me andar anos a dever dinheiro). E, contas feitas , saio a ganhar.

Ora o carro eléctrico (e não falo dos Tesla ou do Jaguar I Pace, é sempre acima dos € 50.000) como o “modesto” Nissan leaf que andará à volta dos 35.000. Ou seja: estes veículos custam uma pancada de euros. São caros para 98% dos portugueses. Ponto, parágrafo!

E outra vez mais, que isto não para. A autonomia. Os melhores modelos não ultrapassam os 500 km. Ou seja nem para uma ida e volta de Lisboa ao Algarve! Mas, diria o melífluo ministro, há postos de recarregamento!

Há, de facto umas escassas dezenas dessas coisas num par de auto-estradas (A 1 e A 2). Mesmo se estiverem todas em condições (o que não é de todo em todo seguro) há que contar com dois factores: haver um posto livre e aguentar o tempo de carga que é sempre superior a uma boa meia hora (e estou a ser generoso).

A segunda opção (ter um posto de carregamento rápido em casa) também não é exactamente barata, bem pelo contrário.

Ou seja, e resumindo, o automóvel eléctrico ainda tem muito que penar para ser uma alternativa credível.

Continuando: o sr Ministro parece esquecer alguns factos óbvios:

Há em Portugal e em circulação 700.000 (setecentos mil veículos com mais de vinte (20) anos. Para isso concorre a compra anual de usados que chega aos quarenta e muitos mil cada ano.

As novas disposições da UE referentes ao diesel (e aplicáveis já há dois anos) tornam esta opção bem mais limpa do que aquela a que S.ª Ex.ª se referia.

Os transportes públicos ainda não fizeram, cá, pelo menos, a mudança para fontes mais limpas. Pior: abandonaram-se ( no Porto e em Coimbra) os trolleys que nos anos 50, 60 e 70 já eram eléctricos... Os transportes de longo curso idem, aspas.

A alternativa ferroviária foi absolutamente desprezada mesmo se agora, num descarado esforço propagandístico, se anunciem milhões e milhões de compras de comboios que chegarão -se chegarem - daqui a 5, 10 ou mais, anos. Até umas miseráveis automotoras a diesel e alugadas à Espanha vão demorar meses e meses.

Um pai ou mãe de família com filhos em idade escolar não vão seguramente recorrer aos transportes públicos para levar as crianças às diferentes escolas.

Finalmente, e neste capítulo, o carro individual ainda é uma marca de ascensão social e isso demorará uns tempos largos a ultrapassar pese embora a ingénua e escoteira percepção da realidade do senhor Ministro. Digamos, piedosamente, que S.ª Ex.ª falou mais com a ideologia do que com uma ideia mais próxima da realidade.

Parece que há, neste país, uma central eléctrica a carvão. Saberá S.ª Ex.ª que essa central polui tanto como 45 milhões de automóveis?

Por mera cortesia não vou falar na frota automóvel do Estado que está velha e cuja substituição se pauta pela lentidão do caracol. O ministro que tanto filosofa sobre o diesel dos carros particulares (e dos outros de transporte de passageiros ou mercadorias...) não vê os telhados de vidro da sua própria casa. Devem estar sujos pela contínua emissão de partículas produzida pelas viaturas oficiais.

 

Merece parágrafo especial a afirmação do Secretário de Estado João Galamba quando revela que a substituição do diesel não está nos planos do Governo. Já se sabia que no Governo há filhos e afilhados mas não deixa de ser brutal um desmentido feito por um Secretário de Estado sobre as afirmações de um Ministro. Que este fica fragilizado não deixa dúvidas sequer a um menino do jardim escola a aprender as primeiras letras. No PS actual há os que mandam e os que lá vão fazendo aquilo que lhes deixam. Matos Fernandes que, intelectualmente, me parece bem melhor que Galamba, deu um tiro no mimoso pé.

 

Parece que o Ministro da Propaganda, vulgo do Planeamento, será quem encabeçará a lista socialista ao Parlamento Europeu. Merece essa reforma gozosa: andou estes anos todos a prometer obras e obras, investimentos de toda a espécie que só o futuro (problemático) mostrará se tem pés para andar. O indígena paciente já se contentaria se a ferrovia melhorasse como se previa há vinte anos, se a descentralização avançasse com pernas para andar, enfim se 10, 20 ou 30% dos projectos realmente vissem a luz. A europa que aguente mais esta extraordinária contribuição do génio lusitano que não parece deixar saudades por cá. Lembremos que a taxa de realização do anterior plani de investimentos públicos não ultrapassou –até ao momento- 0s 35%! Mesmo assim, já foi anunciado um outro plano ainda mais ambicioso que começará um pouco depois das eleições. Que conveniente!

 

 

PS: descobri, maravilhado, um disco duplo com inéditos do Zé Mário Branco, velho, velhíssimo amigo. Parte das canções ouvi-as, entusiasmado e comovido, num pequeno bar de Paris (onde o CITAC ia representar - no Théatre de l’ Odéon, se faz favor!!!- nos princípios de 68. Tão jovens que éramos. E tão esperançados.

Vai sair um disco com inéditos do Zeca Afonso, outro velho amigo da mesma época. Creio que parte desses inéditos consiste numa gravação de um espectáculo durante a Queima da Fitas de 1968 ( o mesmo ano, outra vez!). Se sim, eu estava lá e bati palmas até as mãos me deixarem de doer. Comigo, o antigo incursionista António Lopes Dias, poeta e amigo, que depois, durante horas discutiu o que então pareceu ser uma (boa, exaltante) inflexão na poesia do Zeca. Durante esse ano e no seguinte, JA veio várias vezes a Coimbra, solidário e generoso. Também ele, indirecta mas firmemente, fez a grande greve de 69 (deixemos nesta breve notícia uma lembrança terna para o António Mendes de Abreu, cedo desaparecido, e um abraço para o João Nazaré, onde quer que esteja. E que esteja bem! Muito bem! E que dê sinal de vida, porra!).

* Vai a crónica, também, para lembrar a Isabel Alves Costa, na altura casada com o Zé Mário. Militante cultural, a ela se deveu o Festival Internacional de Marionetas do Porto. Morreu cedo, demasiado cedo e alguns de nós recordam-na com uma lágrima e muita alegria.

 

 

Pág. 1/2