Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Au bonheur des dames 477

d'oliveira, 29.03.19

images.png

Lemos e não acreditamos ou

No desconversar está o ganho

 

mcr 29.3.19

 

Temos um país todo sal, sol e sul (O’Neil) que, ao que dizem é a inveja dos estrangeiros que nos visitam. Vê-se que eles apenas passam, “leve, levemente” (Augusto Gil) e pouco se demoram. Ou quando se demoram refugiam-se no Algarve mais profundo, um pouco na zona de Cascais e, agora, alguns no Alentejo. Gozam uma velhice tranquila como os alemães em Maiorca, num terra onde as suas reformas valem bem mais do que na pátria longínqua e fria.

Eu que, por breves períodos, habitei noutras latitudes europeias, bem os percebo. O sol, o peixe do Atlântico, a natural gentileza das gentes, os baixos preços desculpam muitas coisas e entre elas o analfabetismo político sobretudo quando este se mistura com a espertalhice saloia.

Vem tudo isto a propósito de uma algazarra defensiva soltada por segundas e terceiras figuras do PS (Carlos César, Ascenso Simões ou Pedro Marques.

Supondo que ninguém desconhece estas estes abencerragens, basta-me recordar a questão que, sem qualquer gosto ou prazer, me faz citar estas criaturas é a famosa endogamia governamental e o desenfreado clientelismo que parece vigorar em nomeações longe do escrutínio público de familiares para cargos ditos de “confiança” (chefes de gabinete, assessores, adjuntos, consultores e o que mais vier).

O primeiro a intervir foi Carlos César, cavalheiro sem chama e menos qualidade oratória que desempenhou o cargo de presidente do governo regional dos Açores (e sempre que recordo isto vem-me à memória um famoso texto de Eça sobre o arquipélago e a política da metrópole em relação a ele que vivamente recomendo aos leitores. Estará na Campanha Alegre e, como de costume é um mimo) e é actualmente deputado, chefe da bancada socialista e “presidente do partido”.

. Li algures que vários familiares seus, eventualmente uma boa meia dúzia, desempenham cargos relevantes sempre na velha base da nomeação.

Este César (não confundir com o Borgia ou o Júlio) acha naturalíssima a presença de familiares no mesmo Governo e, já agora, as nomeações de familiares de responsáveis governativos para cargos de “confiança política” para os gabinetes. Tem até uma bizarra teoria para esta surpreendente acumulação de políticos todos eles familiares. Parece que há famílias em que a res política vive com grande intensidade e contagia todos rebentos da mesma gens. Desconheço se César atribui isso a um especial ADN, à Providência Divina, ao “grande arquitecto ou ao mero acaso. A verdade é que ele parece acreditar piamente nesta coincidência porventura científica que faz de uma série de desconhecidos ligados pelo sangue uma espécie especializada no cursos honorum político, seja ele local, regional ou nacional.

No meio da defesa das peripécias governamentais, terá (no que depois foi exemplarmente seguido) citado o caso de deputados que são parentes. César, ou esquece que um deputado é, mesmo no actual sistema de “tudo ao molho”, eleito pelos cidadãos 8e não empossado num cargo político por “confiança”, ou propositadamente chama à colação os eleitos para confundir a opinião pública. No primeiro caso é mera ignorância – indesculpável no seu caso) e no segundo é manifestamente uma tentativa pouco hábil e mainda menos inteligente de deitar areia para os nossos olhos.

Pedro Marques, que de ministro sem obra foi alcandorado a cabeça de lista para as europeias, descobriu fortes doses de misoginia nos comentários: de facto, muitos dos reparos aparecidos tinham como alvo uma extremosa filha de ministro e duas “belas, inteligentes e mais não sei quê” esposas de responsáveis por pastas. Não se no lote também incluía a mulher do ministro Cabrita. Se sim, faz mal. No caso vertente é ele que, muito naturalmente está na sombra da mulher que já tinha um sólido percurso. Fora esta originalidade, Marques fica-se dentro do modestíssimo perfil que se lhe reconhece. Não descobriu a pólvora, nunca a descobrirá mas se atendermos ao que fanfarrona, já vai na energia a hidrogénio... A Europa que se ponha a pau.

E finalmente, cereja no bolo, Ascenso Simões. Ao que sei, ainda antes dos trinta aninhos, esta luminária já emprestava todo o seu charme à vida política. E pelos vistos nunca mais de lá saiu. Um exemplo típico de político lusitano!

Indo pelo seu currículo, verifica-se que além de múltiplas outras coisas há uma forte produção literária (14 títulos, sendo um provavelmente poético e outros – eventualmente- pequenos folhetos). Todavia, não é este o aspecto mais impressionante. Contas feitas, para alguém nascido em 1963, temos que aos vinte anos já era membro da Assembleia Municipal. E com 24 já exercia de vereador. Tudo antes de terminar a sua briosa carreira académica (presidente de uma AE em 1991). A deputação só veio em 2005 mas antes já se tinha passeado por S Bento (adjunto do presidente da AR entre 1995 e 2002). Ao Governo chegou em 2005 e por lá perdurou até 2009, percorrendo, se não erro, três Secretarias de Estado.

É bonito! E exaltante!...

E passemos à sua intervenção na polémica cavilosa que espíritos mal formados lançaram contra o Governo actual. O “Público” (não sei de má fé ou apenas por chalaça) deu-lhe uma inteira página na passada quinta feira, 28 de Março. E aqui Ascenso ascende ao Olimpo não direi das belas letras mas pelo menos da inenarrável confusão. O texto chamado “Manifesto anti-Rangel” pretenderia citar o manifesto anti-Dantas de Almada. Só que...só que não é Almada quem quer mesmo que saiba escrever a onomatopeia “Pim!”Para isso seria necessária uma prosa interessante, uma ironia cortante e algum contexto. Nenhuma destas três modestas condições concorrem num arrazoado que se lê mais espantado que contristado tanto e tal é o disparate. Para Simões, a tese rangeliana (e só quem leu Rangel é que percebe que isto é uma diatribe contra ele...)significaria que da sua condenação do ensimesmamento familiar governamental se pode deduzir uma condenação geral de todo e qualquer laço familiar na sociedade portuguesa.

Comecemos pela singela constatação de que Simões confunde o facto de duas pessoas com laços familiares serem deputados, ao mesmo tempo ou em épocas diferentes, com a existência no mesmo governo e num determinado momento de vários familiares (marido e mulher, pai e filha) E já nem refiro os assessores, chefes de gabinete & assimilados que são parentes e pululam por lá ou lá perto. Ascenso ainda não percebeu que o simples facto de alguém ser eleito significa que passou pelo crivo do escrutínio popular, cidadão e republicano. Em teoria, os eleitores sabem quem é quem que lhes pede o voto. Por isso terão votado duas irmãs (Mortágua) pelo mesmo partido ou dois irmãos Portas por partidos diferentes e convenhamos claramente antagónicos (CDS e BE). No mesmo registo temos (e cito sempre as pessoas que a criatura trouxe à baila) os irmãos Horta. Ou ainda, pasme-se os irmãos Moreira da Silva (um ministro e um vereador!). Tambem na temível lista de Simões aparece um casal igualmente eleitos (Amandio Azevedo e cônjuge) e mais extraordinariamente ainda um ex-casal (os Roseta, ele ministro PPD ela deputada PS!!!). Mota Pinto aparece na lista mesmo se Ascenso pareça não entender que o filho que foi deputado só o foi mais de dez anos da morte do pai.

Ascenso, num desatino onde falece o mais elementar bom senso, vem depois trazer à baila dois prestigiados médicos e irmãos (os Gentil Martins). E nessa onda insana acrescenta mais três pares de irmãos, desta feita militares (os Cabral Couto, os Espírito Santo e os Reis e Fonseca) que no que Ascenso atribui a Rangel nunca deveriam ter chegado a generais !!!

E no capítulo irmãos lá conseguiu ainda mobilizar os irmãos Lopes que ele identifica como quadros do PC.

Finalmente revela que um jornalista Sebastião Bugalho é filho de uma jornalista Patrícia Reis. Também neste registo filial há uma menção a Rui Machete que foi ministro de vários governos até 2014 e Pedro Machete actual juiz do Tribunal Constitucional onde chegou após cooptação de todos os restantes membros desse alto tribunal.

Ascenso pretende dizer que a “doutrina” Rangel nunca permitiria nenhum destes casos mesmo se as situações nada tem a ver com nomeações. Em boa verdade, Ascenso deve achar que Rangel é uma amiba ortorrômbica!

Vai longa a parlenga mas convém realçar aqui que citação de Almada (um texto aliás divertidíssimo) não encobre o facto do manifesto ter tido origem numa crítica de Júlio Dantas (médico e político republicano - da 1ª República) ao então jovem futurista que anos mais tarde será um talentoso pintor e escritor apesar de, a partir do 28 de Maio ter sido um entusiasta do Estado Novo com que colaborou desde logo com o primeiro cartaz a favor da Constituição de 1933. E se é verdade que, muito mais tarde, Salazar terá torcido o nariz a algumas das suas propostas pictóricas não menos verdadeiro é que foi um claro artista do regime por muitos e bons anos. Não foi caso único, antes pelo contrário, mas é conveniente que se dê o seu a seu dono. E o futurismo não foi sempre, nem principalmente, um movimento democratizante como algum néscio poderia pensar ao babar-se com o “manifesto”. Mas ninguém, eu muito menos, exige de Ascenso qualquer luz de conhecimento histórico ou estético.

Pim, Pam, Pum!

Cada bola mata um

Prá galinha e pró peru

Quem se livra és tu!

 

(declaração de interesses: não conheço o dr Rangel. Identicamente não conheço nenhum dos senhores políticos citados pelos media. Também não me apetece conhecê-los. Já basta uma pessoa ter os achaques da idade e ler resignadamente os políticos que se metem a articulistas. Credo!

Fui duas vezes nomeado para cargos de certa monta por pessoas que eram minhas adversárias políticas e que, por mim, foram prevenidas disso. Recusei três nomeações honrosas e financeiramente vantajosas com que amigos meus quiseram brindar-me. Suponho que eles perceberam as minhas razões. Pelo menos, continuam a cumprimentar-me amavelmente. Provavelmente sofro de orgulho a mais (feio pecado, e mortal) e de escrúpulos que estarão fora de moda. Tenho de viver com isso e igualmente de morrer com isso que já é (muito) tarde para mudar. Nunca aceitei cunhas ou as meti. Pelas mesmas razões. O espectáculo a que assistimos é doloroso e pouco edificante.

 

Ai Portugal se fosses só três sílabas...

...meu remorso

meu remorso de todos nós...

(Alexandre O’ Neil)

 

estes dias que passam 391

d'oliveira, 23.03.19

 

 

Nós gostamos de viver

(anónima moçambicana)

 

mcr,  21/3/19

Não há palavras que consigam descrever com um mínimo de fiabilidade a tragédia que se abateu sobre o território de Sofala, desde a Beira até à fronteira com o Zimbabué. As imagens medonhas que a televisão nos oferece ficam sempre aquém da realidade.

De facto, o solo está empapado, quando não está completamente submerso. As chuvas violentas, as cheias dos rios (os casos do Pungué e do Búzi) a iminência de novas e fortes descargas nas barragens do outro lado da fronteira, ameaçam a sobrevivência dos sobreviventes (passe a expressão: é que quem ainda não morreu está em forte risco como se verá adiante).

E ameaçam por várias razões que se multiplicam umas às outras: as estradas estão cortadas; há pontes destruídas; o mar continua tempestuoso e as condições climatéricas desde o vento, às chuvas tornam ainda mais difícil a já de si penosa e escassa chegada de socorros.

Não há água! Ou melhor, não há água potável. Pior a água parada é um vector crítica da malária que, ninguém duvide, vem aí e em força.

Não há casas, ou quase: na Beira mais de dois terços do edificado está em ruínas. Mesmo a cidade do cimento, notem bem. Nem me atrevo a pensar nos imensos bairros periféricos, o “caniço” que acolhiam mais de 80% da população.

O ciclone levou tudo incluindo boa parte da resignada esperança: móveis, alfaias agrícolas, celeiros, excedentes – parcos, paupérrimos – agrícolas, economias, roupa, tudo. Dói ver a imagem de um homem carregando uma pobre cadeira de plástico (dessas que cá, à mínima esfoladela, ninguém quer e deita ao lixo. O nosso lixo é uma cornucópia de abundância naquelas terras devastadas.)

Seria fácil e tentador criticar os poderes públicos, a má governação, pela falta de meios, de manutenção, de cuidados de que a Beira sofre desde há décadas. Tudo isso é verdade mas nada disso importa agora. Sobretudo, porque as vítimas, e estamos a falar de centenas de milhares, de mais de um milhão, quiçá de vários, não são responsáveis pela desatenção, pela inépcia ou pelo desgoverno dos governantes. São, numa esmagadora maioria camponeses pobres, trabalhadores humildes na cidade que sempre tiveram pouco se é que alguma vez tiveram algo.

A urgência agora é enterrar os mortos e cuidar dos vivos, como diria o tirânico mas enérgico marquês. E até isso é difícil: ainda não foi possível encontrar todos os que morreram debaixo das casas, das árvores das ruínas, da água.

Os vivos, e nisso incluo os “ainda” vivos, aparecem nos noticiários em cima de telhados abatidos, de árvores, na bancada de um pequeno campo de futebol, errando por rios de lama e destroços, sem outro rumo do que uma possível   -mas longínqua (inalcançável?) – salvação.

Como essa mulher moçambicana que confidenciava à reportagem: “Precisamos de tudo, de uma manta, de comida que só comemos uma vez e não há nada para a noite. É que nós gostamos de viver... “

Mesmo no meio da mais profunda miséria, esta mulher, estas crianças, estes homens, este povo, gostam de viver. Mesmo se, aqui, essa vida pareça um longo e dramático caminho das pedras...

Eles não conhecem nada melhor e o pouquíssimo que tinham, mesmo se insuficiente, se injusto, era melhor do que nada. Vejam bem: a Beira e a sua região interior sobreviveram à guerra civil, às dezenas de milhares de minas terrestres que ainda há pouco matavam quase diariamente homens e bichos. Como a Gorongosa (que já foi um dos maiores e melhores parques de África e que, graças a um americano maluco e amante da África estava a renascer) onde o desastre ia cicatrizando...

Vivi em Moçambique entre o terceiro e o fim do quinto ano do liceu. Voltei lá por três vezes em férias longas de Verão. Aprendi alguns rudimentos (escassíssimos) das línguas vernáculas das zonas onde vivi. Na medida do possível tentei saber mais da história dessa sequência de terras que agora se chamam Moçambique. Tenho em casa alguns, muitos, centos de livros e revistas sobre a região. Em tempos longínquos, que não renego nem esqueço, tentei perceber melhor a situação colonial. Assinei, levantando as suspeições do costume, nas polícias do costume, algumas publicações legais (entre outras “O Brado Africano”) ou nem isso. Já aqui descrevi (testemunhando na medida do possível) a iniquidade dos sistemas de “contrato”, de culturas obrigatórias (sisal, copra, tabaco, algodão, sobretudo), da obrigatoriedade de identificação especial para se circular na cidade e de muitas outras que nem é preciso citar. Li com paixão (que mantenho) o Zé Craveirinha, a Noémia de Sousa ou o Rui Knopfi, sem esquecer o meu querido colega do liceu Salazar, Manuel Fernando Magalhães, autor de uma surpreendente novela “três vezes nove vinte e um”, sátira contra a militaragem em Moçambique (claro que foi preso).

 

A talho de foice, refiro outros dois autores moçambicanos: Luís Bernardo Honwana, autor de um exemplar conjunto de contos, “Nós matámos o cão tinhoso” (1964) e Luís Carlos Patraquim que, além de poeta, é jornalista e escreveu o que foi, para mim, a grande revelação da nova e arriscada ficção moçambicana: “A canção de Zeferias Sforza”, um retrato desconsolado de um país independente, de um partido na realidade único e uma concentração do poder (a todos os níveis) nos militantes mais obtusos mas mais obedientes.

 

Deixemos, porém, o domínio da escrita a que, em havendo tempo, voltarei, para nos concentrarmos no essencial: como ajudar? Como ajudar, já?

 

Basta ir ao multibanco em pagamentos, entidade 20999 e depois marcar 999 999 999 (nove noves, atenção) e doar o que puder. Claro que há muitas outras instituições (Cruz Vermelha, Caritas, Câmaras Municipais, corporações de bombeiros, o que se queira mas esta é simples e rápida. Por pouco que se dê, é muito para quem nada tem mas que “gosta de viver”.

Não estamos a ajudar um Estado ou um país mas tão ó um povo que não merece ser tão desventurado.

Não os deixemos morrer por incúria, indiferença, egoísmo ou preconceito que eles gostam de viver.

Kanimambu!, leitoras eleitores, kanimambu!, obrigado, kotchapela! Zikomo!, Kani! Bongile!, Eja! Assante!

*estas expressões tiradas de diferentes vernáculos moçambicanos querem todas dizer o mesmo : obrigado que é também moçambicano na medida em que o português é a língua oficial.

O maior centro de congressos da Europa?!

José Carlos Pereira, 22.03.19

Anunciou esta semana o "Expresso" que a FIL - Feira Internacional de Lisboa vai quase triplicar a sua área nos próximos 10 anos. Dos actuais 41.000 m2 passará para 110.000 m2, num investimento próximo dos 150 milhões de euros. Como sabemos, tudo à boleia dos compromissos para a manutenção da Web Summit em Lisboa.

Nada foi revelado ainda quanto à modalidade e aos responsáveis por tão elevado investimento. Quem paga? Quem fica dono de quê? Quem será responsável no futuro pelos enormes custos de operação e manutenção? Qual o retorno do investimento a médio e longo prazo?

O desregulado mercado de feiras, congressos e eventos ficará no futuro ainda mais desequilibrado entre Lisboa e o resto do país, como se não fosse já suficiente o efeito centrípeto da capital, da proximidade do Governo e demais instituições do Estado.

Passado o compromisso da Web Summit, sobre a qual também muito se poderia questionar, para que precisará o país do "maior centro de congressos da Europa"?!

Au bonheur des dames 476

d'oliveira, 20.03.19

No século passado

mcr 19.3.19

 

 

O dr Pedro Nuno Santos já se tinha distinguido em 2011 quando, sem pestanejar e, muito menos sorrir, assegurou que, no que tocava à dívida pública indígena, Portugal possuía a bomba atómica. Bastava dizer que não se pagava e as pernas dos banqueiros alemães começariam a tremer.

Era um delírio, provavelmente devido à mocidade da criatura e, sobretudo à sua falta de experiência de vida, de vida vivida, de vida a sério. PNS foi sempre político desde a sua filiação na Jota socialista até aos dias de hoje. Vê o mundo pelos óculos bem escurecidos, dos cargos políticos e duvida-se que saiba, mesmo vagamente, o que é trabalhar no duro para um qualquer patrão ou o que é andar na profissão liberal a começar a tentar obter nome e clientes.

Depois, também se viu que não sabia o que era a Alemanha, os alemães, banqueiros ou não (por favor mandem-no para lá três mesitos que ele talvez comece a perceber. Aliás, poderá mesmo ir para qualquer outro destino europeu para ver como as coisas acontecem. Poupo-o a uma ida a África pois aí seria bem mais penosa a aprendizagem do mundo.

Agora, volta à ribalta noticiosa por via de um fait-divers. A sua mulher foi nomeada chefe de gabinete de um senhor Secretário de Estado. Parece que ambos, a senhora e o secretariante cavalheiro se conheciam desde a Câmara Municipal de Lisboa e, provavelmente, dos labirínticos corredores do aparelho partidário.

Reinava nessa pouco longínqua época a confiança política e pessoal de um na outra e por isso, só por isso, o primeiro logo que se viu membro do Governo entendeu a que devia entregar a chefia do seu gabinete à senhora em questão.

 

A justificar a decisão estava o facto de a senhora em questão ser eficiente e de merecer toda a confiança do nomeante.

PNS veio a terreiro afirmar que a sua cônjuge merece ser tratada como qualquer outro cidadão/ã e não pode ser menorizada por ser casada com ele.

É comovente este apelo aos direitos humanos, mormente da mulher mas esbarra num escolho difícil de ignorar e que desde a antiguidade tem assombrado os políticos. A famosa frase À mulher de César não basta ser honesta, tem de parece-lo” atribuída a César para justificar o divórcio de Pompeia. De facto, diz a história que Pompeia organizara uma festa exclusivamente reservada a mulheres mas que um seu suposto apaixonado tentara itrodir-se no ágape disfarçado de tocadora de lira. Não conseguiu sequer aproximar-se da anfitriã pois foi rapidamente descoberto e expulso da casa de César. Todavia, este, quis o divórcio e justificando-o com a famosa frase.

A senhora Gamboa pode ser um génio, uma criatura leal, e uma trabalhadora incansável. Merece ter umacarreira política autónoma do marido. Porém, estando ele no Governo, poderá, com ou sem razão, ficar na opinião pública a ideia que só vai para “chefe de gabinete” (de outro membro do Governo) por ser cada com é.

A este propósito relembro uma história antiga muito glosada por um PS também antigo. Num governo PPD houve duas cônjuges de responsáveis ministeriais que também foram para “chefe de gabinete”. Uma das senhoras em causa foi para a Secretaria de Estado da Cultura e era casada com um ministro importante (eventualmente Dias Loureiro). Da outra perdi-lhe o rasto que isto ocorreu no século passado lá pelos anos 80/90. Durante um par de meses foi uma festa de ditos, de piadas, de acusações, enfim o costume.

Mais recentemente, e num exemplo “a contrario” temos que um cavalheiro de seu nome Jorge Simões, presidente do Conselho Nacional de Saúde, se demitiu logo que a mulher, Marta Temido foi indicada para Ministra da tutela.

Relembra-se que Jorge Simões já estava no cargo, que anteriormente passara, como presidente, pela entidade Reguladora da Saúde. Ou seja este professor prestigiado de Higiene e Medicina Tropical há muito que andava nestes domínios (inclusivamente durante o anterior Governo) e era reconhecido como uma autoridade na matéria.

Todavia, entendeu que mesmo estando há tempos no cargo não devia continuar porque sua mulher ia ser Ministra. Bem sei que no mesmo ramo mas o simples facto de já lá estar não poderia ser usado contra ele ou contra a Ministra.

Não vou afirmar que o Professor Doutor Jorge Simões merecia “não ser menorizado por ser casado com é” mas o pudor e o bom senso e uma certa ideia de sentido de Estado levaram aquele profissional reputado a optar por se retirar, reafirmando assim que é honesto e que parece ser honesto.

Este pequeno exemplo deveria servir para o senhor dr Pedro Nuno Santos estar caladinho e não vir para cá para fora a justificar algo que mesmo legal é dificilmente entendido pela opinião.

Ma ao cavalheiro que não percebe os alemães este género de argumentos não convence, se é que sequer os percebe.

Asim Deus (ou o diabo, a escolha é dele) o ajude, se bem que para isso tem ele, primeiro, que se ajudar.

(em tempos que já lá vão, fui convidado - e aceitei - para ser presidente de uma instituição pública. Tive, imediatamente, o cuidado de solicitar à Ordem dos Advogados a suspensão do meu mandato para não poder ser acusado de servir a dois senhores ou de confundir os interesses da instituiçõ com os do meu ofício de advogado. Já nessa altura, uma estadual e secretariante criatura me mostrou o seu espanto porque "nada me obrigava a tal decisão. Tive de lhe explicar com fria cortezia que uma coisa era a lei outra a ética e a vontade de estar em paz com a consciência. Claro que perdi dinheiro que me fartei. Mas dormi sempre bem...)

Au bonheur des dames 475

d'oliveira, 15.03.19

Unknown.jpeg

Instantâneo na cafetaria

mcr (nos idos de Março)

 

Odeio a apalavra “cafetaria”: trata-se de um espanholismo mais do que dispensável mas que se impôs devido ao desuso de “café”. Hoje, os estabelecimentos do género foram desaparecendo ou transformaram-se em pastelarias-padarias, com um vago serviço de refeições que, elas mesmas, não são exactamente almoços e, muito menos, jantares, mas apenas um desafogo da fome que nos dá por volta do meio-dia, uma hora.

Eu, que já não me posso considerar uma novidade (eis outra palavra decaída: dantes novidade era bem mais do que uma notícia acabada de chegar. Significava também alimentos frescos, da estação, entre muitas outras coisas. Novidade era frescura, algo que, no capítulo da alimentação também já vai carecendo de sentido) ainda recordo os grandes cafés de antigamente, aqueles a que se era fiel toda uma vida, onde se podia até receber o correio e recados variados.

Havia cafés que além dos salões de jogo e dos bilhares ainda ofereciam outros serviços. O “Montecarlo” em Lisboa até tinha barbeiro, vejam lá. Para já não falar dos engraxadores, oficiais de ofício humilde mas útil que nos davam um ar novo e resplendente ao sapato. Hoje, também, os sapatos de couro vão desaparecendo, melhor dizendo, vão-se reduzindo a uma clientela rica, a única que pode dar-se ao luxo de comprar sapatos portugueses de grande qualidade e preço compatível.

Mas os cafés lá vão acabando, tornando-se mais pequenos, mais cafetarias, já quase não há bilhares e os que há são de snooker, ou melhor de uma variante do snooker que é bem distinta e mais fácil do que aquela modalidade que o Eurosport oferece amiúde e me põe doente só de ver como aqueles jogadores dominam a arte. Eu tenho cá por casa uma mesa de bilhar, bilhar francês , versão normal, nada daquelas grandes mesas onde se jogavam partidas “às três tabelas”. Mesmo assim, já não tenho parceiros e contento-me em jogar sozinho contra mim próprio o que, convenhamos, é pouco interessante.

 

Mas, como escrevia, estou na “cafetaria”. Contra o costume é agradável, o serviço é eficiente, há algumas ofertas originais para petiscar e, no inverno, há uma lareira enquanto que, no verão há ar condicionado. E fica mesmo em frente da porta da garagem...

 

Ao meu lado, uma senhora escreve com a mão esquerda. Canhota, portanto. Que inveja lhe tenho. Sou canhoto, canhotíssimo faço tudo com a esquerda, menos escrever. Naquele tempo, a escola primária (que alguém dizia que era “risonha e franca”) não estava preparada para meninos canhotos. Fui obrigado a aprender a escrever com a mão direita. Nem sequer me passou pela cabeça queixar-me em casa. Quando, muito mais tarde, falei disso, o meu pai perguntou-me porque é que eu calara aquela horrenda violência. Tarde piei...

Durante anos a minha caligrafia era mais indecifrável que o linear b. Tive de aprender a desenhar a letra. E tão bem o fiz que toda a gente ma gabava. Só eu me queixava de tantos anos de tentativas e de não ter aprendido a escrever com a mão que faz tudo.

Nem imaginam quanto me custa ver outros a usar a esquerda para escrever. E parece que se multiplicam esses canhotos felizes, raios os levem.

É verdade que (com grande dificuldade, há que dizê-lo) consigo escrever com a esquerda mas o que sai é uma caligrafia miseravelmente infantil, sinal indelével de um tempo outro em que, sob outro nome, já havia um politicamente correcto provavelmente menos perigoso e imbecil que o actual.

Vivemos, como afirmava o poeta, tempos realmente extraordinários, em que tudo parece possível e, ao mesmo tempo, extremamente perturbantes: há por aí alguém que seja capaz de me explicar o que se passa com os ingleses, melhor dizendo, os britânicos? Que é que aquela gente quer? Se é verdade que irlandeses e escoceses (e boa parte das classes mais educadas e jovens) votaram contra o Brexit, se como tudo parece indicar, a vida tornar-se-á mais complicada ecara para todos, como é que houve tanta gente a preferir sair da Europa?

O caso mais extraordinário é o do País de Gales grande beneficiário dos fundos europeus e maioritariamente contra a mão que trazia uma cornucópia de euros. Também não deixa de parecer extravagante que seja um pequeno partido do Ulster p principal apoio da senhora May uma fraca cópia de Margareth Tatcher, a dama de ferro. Uma fronteira a sério nessa ilha poderá trazer (ou trará inexoravelmente) a guerra civil larvar que ausou milhares de mortos e consequente miséria mesmo à minoria protestante irlandesa. Sobretudo, quando se vê actualmente uma República da Irlanda próspera e liberta da férula católica que a asfixiava. A Grécia, há pouco tão incensada, por alguns radicais portugueses (que entretanto já não podem ver o senhor Tsipras, herói decaído das senhoras mais representativas do BE (será que o substituíram pelo grande burguês Varufakis ou mais tolamente ainda pelo venezuelano Maduro ou pelos resquícios autoritários do sandinismo que atormentam a Nicarágua?)

E já que se mencionou a Venezuela, então o famoso apagão da semana passada é obra dos americanos? Isto quando se sabe que a principal central eléctrica (Guri) esta sem manutenção há mais de dez anos e reduzida a um terço ds suas possibilidades, como desde há dez anos já se afirmava. Se não foi o traiçoeiro Trump foi o senhor Guaidó... espantalho conveniente num país one há anos falta tudo excetpo a fome, as prisões políticas e os mortos em manifestações pacíficas.

Eu, que já não sou uma novidade, ainda me lembro de um famoso apagão em Nova Iorque que teve consequências tremendas. Olha se os americanos se tivessem lembrado dos mais recentes inimigos vietnamitas (a guerra durou até 1975) ou do “inimigo interno” (estudantes protestatários, black panthers ou outros grupos negros de direitos civis) o que não se teria então dito. Pelos vistos, agora, a versão de Maduro obtém o assentimento beatífico de meia dúzia de cidadãos portugueses, alguns dos quais piedosamente calados durante o Estado Novo. Naquela época o silêncio destes agora buliçosos indignados e venezuelófilos (o neologismo é da minha responsabilidade) permitia conservar os empregos na função pública e escapar ao serviço militar nas colónias, nas frentes de guerra activas e perigosas.

Raios me partam, canhoto que sou, não percebi que estar calado poderia ter-me evitado tantos dissabores e, ao mesmo tempo, permitiria apresentar-me, hoje, de cara lavada e impecável (mas imaginativa) folha de serviços anti-fascistas, anti-imperialistas e anti mais qualquer outra coisa que me viesse à ideia ou estivesse na moda.

Dia seguinte:

Entretanto, mudei de poiso matinal. Na esplanada de sempre com vista desafogada para o jardim. O sol (primavera antecipada que iremos pagar com uma valente seca lá mais para o verão) entra pela vidraça do teto e acerta-me em cheio na cabecinha pensadora. O sr. Luís, dono do pequeno local jura que já encomendou uns panejamentos de lona para proteger a clientela mais sensível a estes excessos luminosos. Só que... ”o sr. dr. Já sabe. Neste país tudo é para se ir fazendo e nada para se fazer já. A encomenda foi feita no ano passado e já vamos em Março...”, lamenta-se.

É bem verdade. Vivemos de projectos, de promessas, de antecipar o futuro para melhor prolongar o passado pegajoso, lento e ineficaz que trazemos no ADN.

Veja-se, para não ir mais longe, o triunfo daquela triste criatura que comanda a lista do PS às europeias. No seu mandato, as promessas acumularam-se. No que toca à ferrovia foi o que se viu. A realidade, sempre essa miserável que só faz desfeitas aos políticos, é menos buliçosa: faltam comboios, falta pessoal de manutenção, as linhas do Oeste (Figueira da Foz –Lisboa), do Algarve e do Sueste funcionam ao pé coxinho, melhor dizendo com os dois pés coxinhos. Em todas as circulações eliminaram-se comboios e, mesmo assim, o atraso é a regra. As linhas de Sintra e de Cascais que carreiam para Lisboa, centenas de milhares de trabalhadores, tem horários rarefeitos tem menos composições, e as que ainda circulam já deveriam estar retiradas por terem ultrapassado há anos o prazo de validade. Um dia destes há uma desgraça e vai-se a ver nunca aparecerão responsáveis. Ou aparecem os do costume, uns desgraçados que não mandam nada, que ganham uma miséria e que são obrigados a conduzir aquilo, aquelas latas de sardinha sobrecarregadas sob pena de, se o não fizerem, se reclamarem, se denunciarem o previsível naufrágio, serem despedidos.

Os polícias manifestaram-se: parece que no que toca a aos de serviço perdidos ainda estão pior que os professores. Parece também que não há subsídio de risco, que não lhes é reconhecido o estatuto de profissão de desgaste rápido, que as esquadras (ou uma significativa parte delas continuam a ter deploráveis condições, para já não falar na falta de viaturas e de outros meios. Felizmente que os criminosos indígenas são mansos e, muito portuguesmente, pouco activos. A apregoada segurança dos cidadãos deve-se não à capacidade policial mas apenas à frouxidão endémica do crime local de baixa produtividade o que, aliás, está de acordo com as mais recentes estatísticas sobre o trabalho nacional. Há males que vem por bem!

* a ilustração: acidente de comboios em Alfarelos. 

 

"Descentralizar o Estado, Reforçar as Regiões"

José Carlos Pereira, 13.03.19

Participei esta semana na conferência "Descentralizar o Estado, Reforçar as Regiões", que assinalou o início das comemorações dos 50 anos da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte. Entre as intervenções que marcaram a conferência estiveram as de Luís Valente de Oliveira, Luís Braga da Cruz, Miguel Cadilhe e Eduardo Ferro Rodrigues.

A defesa convicta da regionalização atravessou os discursos, com Miguel Cadilhe a defender que a legitimidade dos futuros dirigentes regionais impõe a sua eleição directa e o presidente da Assembleia da República a defender que o processo da regionalização deve ser retomado depois do ciclo eleitoral que decorrerá ao longo deste ano.

Calou fundo na plateia a intervenção do presidente da Junta da Galiza, Alberto Núñez Feijóo, que enalteceu a cooperação transfronteiriça com o Norte de Portugal e, sem querer imiscuir-se no debate nacional sobre a regionalização, revelou dados relevantes sobre a evolução daquela região. Sublinhando que a autonomia pressupõe uma total lealdade ao estado espanhol, referiu nomeadamente que o PIB regional cresce mais do que o PIB de toda a Espanha ou que a dívida pública e o desemprego na Galiza são inferiores ao total espanhol.

Quanto ao investimento público, Alberto Núñez Feijóo adiantou que 50% é realizado pelas regiões autónomas, 25% pelos municípios e os restantes 25% pelos estado central espanhol. Números que devem fazer reflectir todos os que pugnam pelo desenvolvimento harmonioso e integrado do país.

 

Sou do tempo em que o sindicalismo era uma actividade nobre, de intervenção…

JSC, 12.03.19

Sou do tempo em que o sindicalismo era uma actividade nobre, de intervenção…

Nos dias de hoje olhamos para muitas práticas sindicais e só podemos concluir pela perversão do movimento sindical, tomado de assalto por pessoas que, verdadeiramente, nunca foram confrontadas com o problema da perda do emprego, com a exigência da pontualidade, da produtividade. Estou a falar de pessoas que têm no sector público a sua zona de conforto, exactamente o sector onde não se observa, directamente, o confronto entre o dono do capital e o trabalhador em si mesmo.


Deve ser por isso que é neste sector que estão a surgir as maiores aberrações sindicais. Os partidos, todos os partidos, não podem continuar a fechar os olhos a esta realidade perniciosa, que acabará por ser contrária ao próprio movimento sindical e aos princípios que deve prosseguir.


Há dias um presidente de um sindicato decidiu fazer uma greve de fome. Onde? À porta do Presidente da República.


Hoje, um presidente de outro sindicado decide iniciar uma greve de fome. Onde? À porta do Presidente da República.

 

Como parece óbvio, estas pseudo greves de fome não passam de um reality show, a clamar a atenção do Presidente e, em especial, dos tempos televisivos.

 

Por se tratar de um reality show, não nos devemos preocupar com o assunto, até porque o estado de saúde destes grevistas não correrá perigo, em momento algum.

 

O que nos deve mesmo preocupar e levar a questionar os decisores políticos é como é possível que os contribuintes paguem, ano após ano, mais de 36 mil dias de faltas ao serviço para que milhares de policiais desenvolvam a sua actividade sindical? Só na PSP há 17 sindicatos, 3680 dirigentes mais os delegados sindicais.

 

Quando ouvimos (e ouve-se demasiadas vezes) um destes sindicalistas dizer que as esquadras não têm agentes para fazer rondas, para reforçar a vigilância, não seria de lhe perguntar quantos polícias, nesse dia, nos últimos dias, faltaram ao serviço para desenvolver actividade sindical? E, já agora, que actividade é essa que obriga milhares de agentes?

 

É para esta realidade que se deveria olhar e tratar. O show da greve de fome é isso mesmo, um episódio de televisão.

Diário Político 214

d'oliveira, 08.03.19

382694.jpg

 

para que o mcr não fique aqui sozinho

d'Oliveira, fecit, 8 de Março

La Lega

 

A oilì oilì oilà e la lega crescerà
E noialtri lavoratori, e noialtri lavoratori
A oilì oilì oilà e la lega crescerà
E noialtri lavoratori vogliam la libertà

 

Sebben che siamo donne
Paura non abbiamo
Abbiam delle belle buone lingue
Abbiam delle belle buone lingue


Paura non abbiamo
Per amor dei nostri figli
Per amor dei nostri figli
Sebben che siamo donne
Paura non abbiamo


Per amor dei nostri figli
In lega ci mettiamo

A oilì oilì oilà e la lega crescerà

(este é um lohgo excerto da canção "la Lega", tão do nosso gosto naqueles anos difíceis. A ilustração é, obviamente, uma gravura dos tempos da Revolução Francesa)

























 

 

Au bonheur des dames 474

d'oliveira, 08.03.19

images.jpeg

o oito de março devia ser todos os dias, há de ser todos os dias

mcr, 8.3.2019

 

Se l'operaia non va in paradiso, non va in paradiso è perché
Non sa come andare avanti
se la prende coi padroni, se la prende coi padroni e con i santi
E dio si arrabbia e non la vuole più.

Se l'operaia non va in paradiso, non va in paradiso è perché
Sta a guardare le signore
e si chiede che cos’hanno, e si chiede che cos’hanno di migliore.

Non ha tempo per i figli
Crescono in casa come conigli
Si lamenta del suo stato
Produrre, far l'amore e fa’ ‘l bucato.

Se l'operaia non va in paradiso, non va in paradiso è perché
ha perduto la pazienza, 
non le va di fare più, non le va di fare più la riverenza
E Dio si arrabbia e non la vuole più.

 

para Anna Maria O., florentina, ourives, a quem num momento de estravagante mas nunca lamentada loucura amororosa ofereci "Portogallo mio rimorso" de Alexandre O' Neil . Demorei mais de trinta anos a reencontrar o livrihoe outros tantos a não esquecer este amor de verão su la spiagia, stessa spiagia, stesso mare...

(leitoras - se as há, a letra da canção vai no original pois parece fácil de traduzil e  mais de entender)

*na gravura: "maternidade" etnia Bulu 

Nós, os outros e a recessão (ou o Diabo...)

José Carlos Pereira, 07.03.19

De há uns meses a esta parte assistimos a um coro de vários comentadores políticos e económicos de direita, que quase fazem apostas sobre o momento da chegada de nova recessão económica. Bastou um pequeno abrandamento de alguns indicadores nos últimos trimestres para logo virem criticar as opções seguidas nos últimos anos.

Para esses comentadores, é certo que um novo ciclo recessivo está à porta, pelo que o caminho a seguir seria não abrandar a austeridade, não devolver rendimentos retirados a trabalhadores e pensionistas, em suma, não deixar os portugueses "respirar".

A última edição do "Expresso" veio, no entanto, deitar um balde de água fria a esses comentadores e a alguns políticos. De uma assentada, Christine Lagarde, directora-geral do FMI, Olaf Scholz, vice-chanceler e ministro das finanças alemão, e François Villeroy de Galhau, governador do Banco de França, em diferentes entrevistas, defendem que não estamos perante a iminência de uma recessão. Reconhecem, é verdade, que há um abrandamento das taxas de crescimento da economia global, fruto sobretudo de alguma incerteza geopolítica, mas o "Diabo" da recessão não está para já à vista.

Pág. 1/2