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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 325

d'oliveira, 18.06.19

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Sim, mas...

mcr 18.06.19

 

Deve ser “esta a vez primeira” (oh recordação terna e antiquíssima dos meus companheiros de cela em Caxias, no longínquo ano de 61. A “charamba” era cantada pelo José Orlando Bretão, desaparecido demasiado cedo na sua Terceira natal deixando um punhado de excelentes estudos sobre o folclore da sua ilha) que chamo o PAN (Pessoas, Animais Natureza) à colação.

O PAN começou por parecer uma coisa simpática mesmo se para o público aquilo parecesse mais uma organização de bons sentimentos em relação aos animais domésticos. O resto, as pessoas e a natureza, era pouco visível quer nas palavras quer nas acções. De todo o modo, já se afirmava como um partido ecologista diferenciado daquela coisa chamada “os verdes” (cópia descarada de uma sigla internacional, sobretudo alemã) e que em Portugal só são verdes por fora. No resto não passa de um satélite menor do PC.

Todavia, a entrada no parlamento e a consciencialização crescente (e urgente!) de que há que dar uma volta às políticas ambientais e ao desenfreado ataque à natureza, fez emergir o PAN que obteve um bom resultado nas europeias. De certo modo, começa a ser olhado como um refúgio para os descontentes com a voracidade do PS, o conservadorismo do PC, a inércia da Direita e as farroncas do BE.

Ora o PAN desdobra-se esforçadamente em propostas às vezes irrecusáveis, outras utópicas mas sempre generosas. Dentre elas, destaca-se a da punição do descontrolado arremesso de “beatas” para a rua.

A ideia em si mesma é boa. Os restos de cigarros, mormente com filtro, demoram imenso tempo a desaparecer, atafulham sargetas, sujam praias e parques e poluem forte e feio. A propositura de multas pesadas (200€) para quem atire a beata para o chão deveria ser dissuasiva do gesto. Deveria, digo, mas não é. É que a multa depende de um agente da autoridade, seja ela qual for, que multe rapidamente o infrator. Isso pressupõe um exército (para já não falar no que generosamente chamarei de motivação. (Como a que levou umas criaturas do fisco a parar carros em rotundas para verificar se os proprietários tinham os impostos pagos...)

Eu ainda recordo um dos desportos favoritos do tempo do Estado Novo: o uso de isqueiro. Era obrigatória uma licença e obviamente, naqueles tempos insultuosos e difíceis, havia um grupo de criaturas que andavam à caça dos não licenciados.

Da mesma época, recordo também uma lei que previa multar as pessoas que atravessavam as ruas fora das passadeiras (uma inovação de finais dos anos cinquenta). E ainda uma outra disposição que obrigava as pessoas a circular calçadas. Na Figueira da minha infância as rijas peixeiras de Buarcos traziam uns tamancos (ou algo do mesmo género) atados ao pescoço e quando viam um polícia lá se calçavam. No resto do caminho voltavam ao pé andarilho e rapado.

Conviria explicar ao esforçado deputado do PAN que a multa, dissuade apenas quando está presente. Porém isso não inibe a tentação nem substitui a necessária consciência cívica que impõe respeito pelos outros, pela natureza e pela higiene (pessoal e pública).

Não deixou de ser curiosa a recepção da ideia. Houve mesmo um(a) parlamentar que achou exagerada a quantia a comparou à multa por circular acima do permitido nas vias públicas.

Recordaria ainda que vigora, desde há anos, a proibição de falar ao telefone enquanto se conduz. “Cadé” as multas ou, pelo menos, as multas pesadas e em número suficiente para fazer desaparecer essa prática criminosa?

E finalmente: se é verdade que as beatas incomodam e prejudicam, que dizer dos milhares de cães que donos devotados passeiam diariamente por todo o espaço público e que fazem o seu cocó tranquilamente? Haverá multas? Ou o respeito a outrance pelos fieis companheiros permite essa libertinagem excrementícia dado que o PAN dedica todo o seu carinho aos excelentes bichos?

A coisa (o desrespeito pelos outros peões e passeantes) é de tal ordem que quando se vê alguém apanhar o cocó do cãozinho pensa-se que estamos frente ao novo milagre das rosas. Para não ir mais longe: n zona onde moro há um jardim agradabilíssimo no meio dos prédios. A zona (classe média alta!) abunda em cães. Pois só uma vizinha nossa é que se dava ao trabalho de recolher as fezes dos seus bichos. Todos a achavam uma excêntrica!

De tudo o que venho dizendo só se retira uma conclusão: não é mais uma lei que vai modificar os (péssimos) hábitos dos indígenas. Quanto mais não seja porque está praticamente garantida a impunidade dos que desrespeitam. E as leis que se não cumprem levam ao incumprimento das outras. A uma cultura que começa nas pequenas (más) maneiras e acabam no escândalo da corrupção quase generalizada, exactamente essa que começa no desenfreado hábito da pequena cunha e acaba nos banqueiros que concedem generosas subvenções a arrivistas e bos autarcas que governam os municípios a seu bel prazer.

 

Au bonheur des dames 488

d'oliveira, 12.06.19

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Remember Ruben

mcr 12.06.19 

Aproveito o título de um belíssimo livro de Mongo Beti (escritor cameronês, desparecido no princípio do século) para me despedir do Ruben de Carvalho que conheci logo nos inícios de 60 nas lutas associativas estudantis. Acho que, da primeira vez, ele ainda seria liceal e membro da pequeníssima pro-associação dos liceus de Lisboa, aliás a única que existia. Não sei porquê mas associo-o a umas aventuras (modestas) com malta das RIP (reuniões inter propaganda) por altura da crise e que terminavam sempre, se a memória me não trai (coisa que começa a ser frequente...) na Portugália, à volta de umas imperiais. Durante alguns, poucos, anos ainda nos encontrávamos sempre por via de questões estudantis e/ou políticas. Todavia eram encontros breves, quase fortuitos, tanto mais que eu era de Coimbra e o Ruben lisboeta assumido.

A partir dos anos 70 só fui sabendo dele pelos jornais e por alguma esporádica aparição na televisão. Conservo, porém, uma boa recordação dele e, mesmo sem nunca ter partilhado as suas opções ideológicas e partidárias, estimava-lhe a maleabilidade, a cultura e a boa disposição. Agora, sei, de ciência certa, o que sempre suspeitei. Era a ele que se devia o programa diversificado da Festa do Avante, pelo menos no que toca à música. Até nisso se podia perceber o grau de liberdade (de heterodoxia?) de que o Ruben gozava. E gozava-o porque era respeitado e porque se sabia fazer respeitar.

Amigos ou conhecidos comuns que navegavam nas mesmas ou próximas águas do Rúben isso mesmo me confirmavam. Gabavam-lhe a inteligência, a cultura, a amabilidade, o humor e...a firmeza.

Morre agora, com 74 anos, uma vida cheia e, suponho, uma maleita sacrista e pertinaz. A morte colhe as vítimas cegamente e não tem quaisquer escrúpulos na hora de escolher. Fica-nos uma memória, no meu caso bastante ténue mas abençoada pela alegria daqueles anos tumultuosos em que qualquer escolha encerrava perigos e a aventura estava proibida. Éramos poucos, muito poucos, “we jfew, we happy few we the band of brothers”, que, paulatinamente, o peso dos anos vai inexoravelmente reduzindo. E o Ruben era um dos mais novos...

* na gravura : Mnemosine a deusa da memória e as musas

Estes dias que passam 324

d'oliveira, 11.06.19

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“l’autunno sará caldo” *

ou

As omeletas fazem-se com ovos 

mcr 11.06.19

 

(e um pouco de sal, manteiga ou óleo e, mesmo uma frigideira. Isto sem falar numa escumadeira para virar os ovos e dar-lhes forma).

Desculparão os leitores mais atentos este exórdio (bonita palavra!) mas eu só começo assim porque, se pudesse, era o que diria ao sr. Primeiro Ministro.

Eu sei que ele é um cozinheiro de mão cheia (é que a amantíssima esposo e os filhos extremosos afirmam) mas talvez com esta imagem culinária consigamos entender-nos. É que tudo isto vem a propósito dos transportes públicos que estão pelas ruas da amargura. Pode S.ª Exaª afirmar que “uma família de Sintra poupa em transportes mais de cem euros mês” coisa de que eu jamais me atreveria a duvidar pois os primeiros ministros nunca mentem. Todavia, e nisso há sempre a maçada de um “mas”, diabos levem conjunção adversativa.

Quando numa fanfarra triunfante e pré-eleitoral o Governo anunciou formidáveis descontos nos transportes, logo houve um coro de elogios e um arruído de protestos. Os pró governamentais salientavam a bondade da iniciativa e o profundo amor que ela revelava pelas classes laboriosas e periféricas. Os (obviamente invejosos) da oposição viram nisso uma pura e atempada manobra eleitoralista.

Raros foram os que saudando a ideia logo chamaram a atenção para o facto de uma descida de preços poder levar o caos a uma insuficiente rede de transportes que já rebentava pelas costuras. De facto, os comboios eram já escassos, as locomotivas e as carruagens padeciam dos males da idade avançada (avançadíssima!!!), da falta de manutenção e esta da falta de pessoal especializado há muito denunciada por sindicatos e administrações da CP.

Foi aquele extraordinário Marques (agora felizmente longe na Europa para futura vergonha nossa) quem anunciou o novo milagre das rosas. Nisto de anúncios bombásticos a criatura excedia-se, desdobrava-se, ultrapassava-se continuamente para regozijo de basbaques e aflição das oposições.

Pelos vistos ninguém fazia contas, a aritmética, terror da minha antiga escola primária, andava esquecida e as promessas valiam de per si. Os comboios hão de vir (virão?) daqui a uns anos se é que já foram contratados e encomendados. A manutenção essa depende da entrada imediata de uns centos de profissionais especializados (onde estarão? Como serão preparados e quanto tempo isso vai exigir?).

Também não há navios para a travessia do Tejo e quanto a autocarros, eléctricos ou metropolitano estamos na mesma: hão de vir como D Sebastião numa manhã sem nevoeiro mas inevitavelmente futura. E o futuro, este futuro mede-se em anos ou seja nem na próxima legislatura (cujas eleições provocaram este aluvião de novidades e de progresso) estarão por aí. O que está, é o novo preço! Indubitavelmente mais barato é verdade mas pelos vistos impraticável. Os comboios passam, cheios que nem um ovo e nem parar podem. Isto quanto aos que passam pois todos os dias as televisões anunciam supressões de composições. Prece que em Maio e só no Algarve houve 185 comboios a menos. O mesmo, com números semelhantes ou superiores, ocorreu nas linhas suburbanas de Lisboa. Quando algum chega eis que multidões desvairadas se lançam ao seu assalto. Ist parece Tóquio, o Tóquio antigo, em que cenas desse género também ocorriam e onde havia mesmo uma categoria de trabalhadores cuja missão era empurrar sem grande suavidade os candidatos a passageiros para dentro da “lata de sardinhas”.

O Metro, sempre inventivo anuncia a retirada de mais alguns assentos. De pé cabe sempre mais um. Os reis do apalpão rejubilam: agora é que vai ser um fartote!

O público viageiro e sempre ingrato protesta que as coisas pioraram e que chegar tarde ao emprego passa a ser a regra. Quando se chega, claro.

E nisto de chegar há uma linha férrea extraordinária: a do Oeste ou seja a que liga(va) a Figueira da Foz a Lisboa e servia, entre outros destinos, Torres Vedras, Caldas da Rainha e Leiria. Servia, digo, e muito bem, porque agora já não serve ou só serve de quando em quando. Há estações desactivadas e há trafego ferroviário suspenso entre outras por vezes substituído por autocarros. De todo o modo, já não chega a Lisboa, ficando-se por Sintra e daí, se não houver muitas supressões (e isto é um voto pio mas fervoroso) , é aproveitar a “exemplar” linha de Sintra que, em funcionando, permitiria a cada família uma poupança (não de tempo) de cem euros por mês.

Ou seja: nesta omeleta faltam ingredientes mormente os ovos, as frigideiras são do tempo dos afonsinos e as escumadeiras não passam de uma saudade.

Isto mesmo foi dito pelo Governo que penosamente rezou uma espécie de acto de contrição e confessou alguns ligeiros pecadilhos mas que atribuiu a um finado governo anterior toda a responsabilidade!

Os governos anteriores, sobretudo se forem da oposição são muito úteis pelo menos para carregar com os pecados capitais (e mesmo com os veniais). Vamos lá a ver se o futuro Governo que se afigura da mesma cor e substância resolve as coisas. Aceitam-se apostas mesmo se a casa jogue cinco contra um na impossibilidade de, em quatro anos, se notarem melhorias. No fim logo se verá a quem se apontam as responsabilidades.

(hoje mesmo, 11 de Junho está em curso uma greve dos transportes rodoviários da margem sul. Um dirigente sindical afirmava eufórico que a paralisação estava a ser cumprida a 95% e que ninguém ou quase iria conseguir chegar o seu emprego em Lisboa. Ignoro se são transportes públicos ou privados mas relevo desde logo que uns e outros estão sob a mesma tabela e que se isso ocorre em empresas privadas bom seria perguntar ((mesmo se isso me parece pura retórica pois estou convencido de que não)) se os patrões já receberam do Estado a compensação pelo grande desconto que efectuam em cada viajem).

Uma medida pode ser boa em abstracto (e esta é-o) ms no concreto pode correr mal. É evidente que ao embaratecer visivelmente os preços dos transportes públicos, já se sabia que a procura deles iria aumentar fortemente. Conhecendo-se, igualmente, as disponibilidade da frota pública, dever-se-ia pensar que os operadores privados teriam maior número de passageiros. Como os preços novos significavam um custo acrescido dever-se-ia ter agilizado significativamente os pagamentos a estes operadores. E mesmo assim, dado o inevitável aumento da procura haveria que pensar como é que as frotas podem ser prontamente aumentadas. E isso significa também para qualquer privado uma despesa de investimento importante que pode não ser viável a curto prazo. Dizendo-o de outra maneira: o Estado deveria prever, avaliar e tomar medidas para responder prontamente a este brutal afluxo de modo a evitar o caos, e o desastre diário que se verifica.

Pelos vistos, e pelas desculpas esfarrapadas, que ora se ouvem, tal não aconteceu. “O Verão –mesmo com férias- e sobretudo o Outono serão quentes, muito quentes” como há cinquenta anos se gritava ameaçadoramente pelas ruas italianas.

* l’autunno sará caldo!” foi uma expressão cunhada em 1969 em Itália pela esquerda extra-parlamentar e pelos sindicatos e anunciou uma vaga crescente de greves e de manifestações sobretudo no norte industrial

** a imagem: o outono quente em Itália

 

 

Au bonheur des dames 487

d'oliveira, 09.06.19

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Fazer dos outros parvos

mcr 9-06-2019

 

1) Eu não queria falar do dr Victor Constâncio. E não queria por uma velha velhíssima razão. Há muitos, sei lá quantos, anos, um velho amigo meu ao saber que eu não estava inscrito num partido, entendeu insistir durante semanas para que entrasse no PS. Na altura o PS andava na mó de baixo, o meu amigo dava-me cabo do pouco juízo que tinha de modo que lá me inscrevi. Descobri, estupefacto, que tendo saído de um agrupamento em que fervilhava a discussãoo ideológica, o PS era um remansoso local onde ninguém se dava a tais práticas. Na secção que me foi destinada, o mais político que ouvi da boca de uma senhora que fazia de responsável foi que os militantes machos fumavam que nem carvoeiros e que ela tinha de varrer a sala das cinzas e até de uma que outra beata deixada cair por algum camarada menos cuidadoso. Não vou contar a minha vida partidária mas sempre acrescento que subi de vento em popa e um mês depois de entrar já era delegado a um congresso federativo, candidato sem o saber a um lugar no respectivo secretariado e mais não sei o quê.

tudo isto porque na campanha que opunha Constâncio a Jaime Gama, escolhi como de costume o lado errado e defendi Constâncio um par de vezes ( “minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa”). Constâncio ganhou e na direcção do PS cometeu o erro trágico de se deixar seduzir por uma iniciativa do PRD (Partido Renovador Democrático, criado à sombra quarteleira do senhor general Eanes e organização estrafalária e populista até dizer chega que fundamentalmente se apresentava como redentora.

Na altura o Senhor professor Cavaco Silva era primeiro ministro e estava à frente de um Governo minoritário . O PRD (18% ds votos) entendeu propor uma moção de desconfiança e o PS (21 ou 22%) apoiou a ideia. Cavaco caiu. Convém lembrar que até o dr Mário Soares mandava recados ao partido advertindo que em caso de vitória da moção haveria eleições e que as perspectivas não eram as melhores para o PS.

O PS e Constâncio não acreditaram pois pensavam que no último momento seriam chamados a formar Governo. Não foram. A partirdaí Cavaco ganhou com maioria absoluta dois mandatos sucessivose o PS andou pelos corredores esconsos de S Bento a falar sozinho. Entretanto o PRD, essa fantasia pretensiosa, desapareceu sem deixar rasto nem saudades. Vitor Constâncio lá se resignou a abandonar o lugar no PS e o cargo de deputado. Pode dizer-se que nesta fase sombria não se distinguiu nem pelo génio político, nem pelo talento oratório.

Entretanto, este cronista, depois de ter tentado por todos os meios convencer os seus camaradas da loucura de votar com o PRD, desandou do PS, explicando numa cartinha tudo o que pensava daquela aventura. Todavia, poupava Constâncio que “teria sido mal aconselhado”! Ingenuidade minha, claro.

Mesmo assim, custa ver alguém por quem demos a cara a fazer-se de sonso, de desmemoriado, de ignorante, de inocente útil e parvo. Constâncio, pelo que afirmou na Comissão da AR, não se lembrava, não tinha de saber, não sabia enfim, o Governador do Banco de Portugal que ele era andava por lá como na política: às cegas, aos baldões, aos tropeções a apanhar calduços ou cachaços dos malandrins que gozavam o gordinho que passava.

Uma tristeza!

 

2 A digna sucessora dos senhores João Soares, o “esbofeteador” e de Castro Mendes o “fantasma desconhecido”, Doutora Graça Fonseca, a propósito da lista de obras desaparecidas do acervo do Ministério, afirmou, sem tentar ser irónica, que tais obras apenas estavam por localizar. Patético! Ou ridículo, se preferirem...

Conviria lembrar à distinta senhora que qualquer desaparecido está por localizar, É assim nos comunicados de guerra ou sobre desastres: "há mortos, feridos e desaparecidos." Infelizmente, muitos destes últimos nunca parecem ou aparecem já cadáveres. Os americanos até tem uma sigla:MIA (missing in action”).

Portanto as obras “por localizar” estão desaparecidas. É aliás provável que continuem “inlocalizaveis” perdoe-se a palavrinha inventada e abstrusa. São quase 200 as vítimas deste inexplicável nevoeiro. Ou melhor: quem conhece os labirínticos corredores dessa coisa pomposa chamada Ministério da Cultura, desconfia mesmo da veracidade da lista. Estará completa?

Em tempos que lá vão, aquilo era uma balbúrdia. As peças circulavam livremente por todo o lado, não havia um registo seguro do comprado, do recebido como oferta, sequer do eventualmente deteriorado.

Ainda recordo, uma excursão feita à garagem do Ministério, estava este ainda na Avenida da República. Em vez de carros, havia pilhas enormes de livros. Tratava-se de obras editadas com o apoio do Instituto do Livro e que numa certa percentagem eram entregues ao MC. Ali chegavam e ali estadeavam sem préstimo nem destino. Semanas, meses, anos. Recordo igualmente, uma gigantesca partida de livros  adquiridos a uma(s)editora(s) em risco que o ME, na sua versão Secretaria de Estado tentava impingir às instituições que os quisessem.  E foram raras as que, depois de prevenidas, acorreram a levantar os livros...

Recordo também, um livro sobre Camilo Castelo Branco, publicado a expensas do Ministério pela comissão das comemorações do centenário de CCB em 1991, chamado “Imagens Camilianas” Tratava-se de um belíssimo álbum, com caixa própria que reproduzia em mais de 60 páginas, imagens do escritor. Uma vez publicado, foi enviado para a Delegação Regional do MC no Porto e mais uma vez os montes de livros ficaram por lá sem serventia. Que se saiba nunca foram distribuídos sequer vendidos. Uma pequena pesquiza revela alguns exemplares à venda no OLX, e em dois alfarrabistas do Porto. Recordo que no local onde estavam depositados houve uma inundação que destruiu alguns exemplares. Os restantes bem como uma série de obras de pintura transitaram para Vila Real, destino escolhido pelo dr Santana Lopes (outra luminária cultural feita Secretário de Estado!) para a DRN . Nesse lote ia o original de “A liberdade está na rua” (Vieira da Silva) e um belíssimo desenho de Fernando Lanhas. Ao todo seriam duas ou três dúzias de peças, incluindo algumas esculturas. Nem quero pensar no que lhes terá sucedido. Pela parte que me toca (bem como aos dois anteriores Delegados Regionais) tive o cuidado de ao deixar o cargo, pedir quitação e inventário do que passava para a criatura que me substituiu(dinheiros e obras de arte. Cautelas e caldos de galinha nunca são de mais, tanto mais que eu saía daquela casa depois de me demitir  do cargo e em claro enfrentamento com o inglório fundador desse partido largamente derrotado nas últimas eleições ).

Voltando à doutora Fonseca, especialista gorada em eufemismos e desastrada responsável da Cultura nacional, a sua reacção à notícia do Expresso diz muito do estado a que chegou cultura democrática e a ideia de responsabilidade que deveria presidir aos actos e às palavras de quem momentaneamente (e mal, pelo que se vê) governa a pobre pátria. Ainda por cima, o desaparecimento ou, pelo menos, notícias dele, tem anos. De facto há muito tempo telefonou-me alguém que já na altura andaria na peugada das peças. E já havia várias (pelo menos das que estavam na DRN) que estariam em Alcácer Quibir prontas a regressar com o rei D Sebastião numa eventual manhã de nevoeiro.

Na origem deste mistério “doloroso” ou “gozoso” (é só escolher) está o estranho facto de as peças artísticas andarem sempre a mudar de poiso e de não haver um registo claro dessa deambulação ou sequer haver uma ficha decente da peça (com fotografia, preço, data de aquisição. medidas, e demais dados pertinentes. Recordo que na DRN (mais uma vez!) isso foi feito com enorme rigor por Manuel Matos Fernandes, um grande funcionário entretanto falecido. E que tal inventário foi, devidamente enviado, para “conhecimento” ao Ministério. Não me lembro entretanto se alguém de lá se deu ao trabalho de acusar a recepção. E uso o “não me lembro” apenas porque me custaria dizer que pura e simplesmente se estiveram nas tintas. Como já nesses anos do fim do século, ocorria com frequência, displicência e falta de consciência...

na gravura: “A poesia está na rua” (Vieira da Silva)  

O leitor (im)penitente 210

d'oliveira, 06.06.19

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Na morte da Sibila

mcr Jun 2019

Diz-se, com algum exagero, que “Cem anos de Solidão” fagocitou toda a restante obra de Garcia Marquez. Não é exctamente assim mas, na verdade, nenhum dos livros posteriores (e alguns de grande qualidade) ultrapassou aquele cometa.

No caso de Agustina, um destino idêntico, envolve o enorme romance “A Sibila”.

Há obras que suscitam um tal interesse e um tal entusiasmo que se tornam incómodas para o próprio criador. Como se os leitores se arrogassem do direito de exigir, a cada novo livro, uma outra obra maior, incomensurável, um outro arrebatamento duradouro.

Nada disto diminui, bem pelo contrário, Agustina. Mas a quem a conheceu via “A sibila”, toda e qualquer obra posterior sabe a pouco (um pouco agustiniano, claro, nada a ver com a mediocridade contentinha que por aí reina. Ou com o “mainstream” tão comum na literatura portuguesa dos últimos cinquenta anos do século XX.)

Conheci mal Agustina, cruzámo-nos poucas vezes e em nenhuma delas tive oportunidade de estabelecer um diálogo sério e proveitoso. De certo modo, dei-me mais com alguns familiares com quem, por razões diversas, tive muito maior contacto. Destaco, desde logo, o dr Alberto Luís, um advogado de grande qualidade, um homem cultíssimo e um excelente conversador. Vezes sem conta mos encontrámos na livraria Leitura onde íamos quase diariamente por novidades literárias. A Leitura, um pouco mais tarde do que Alberto Luís, acabou e com ela fechou-se um ciclo de oiro de livrarias portuenses mesmo se algumas subsistem. Em boa verdade, a procura de livros e a atenção de livreiros esforçados minguaram conjuntamente. A grandes superfícies livreiras estão entregues a um par de comerciantes que entendem que ganhar dinheiro pode ou não ser compatível com vender livros por atacado.

Hoje, pode ser mais interessante visitar um alfarrabista (ou melhor ainda: frequentar os seus leilões) do que uma livraria reduzida a estantes cheias de best-sellers e de livrinhos fabricados por estrelas da televisão e da sociedade cor de rosa. As criaturas do jet-set tem êxito assegurado seja qual for a paupérrima redacção que apresentem. Os chamados valores consagrados continuam a disputar as montras e os expositores mais em evidência relegando para os sítios mais esconsos algumas verdadeiras pérolas. Ainda recordo a miserável recepção que os livrinhos de Raduan Nassar por cá tiveram. Acabaram por ser vendidos a preço vil numa espécie de feiras-saldo . E, mesmo agora, que o prémio Camões lhe deu mais visibilidade, consta que vende pouco. E neste vender pouco vai muito, visto que o número de exemplares por ediçãoo baixou vertiginosamente.

Além do marido, conheci e privei, com gosto e reconhecimento, com a filha Mónica que foi minha colega no Ministério da Cultura. Vi-a dirigir com competência, zelo e êxito o Museu da Literatura, primeiro, e o Soares dos Reis depois. Mais tarde acompanhei-lhe os primeiros passos literários (primeiros e seguros, diga-se para já) e fui o pior associado do Círculo Agustina Bessa Luís, obra que tem tanto de qualidade como de devoção e piedade (no sentido bom e antigo) familiar.

Gostaria, desde longe, de lhe dizer que tem aqui, mais do que um admirador, um amigo grato, dela e de todos os seus.

Aproveitando a boleia seguramente generosa de Agustina, lembraria agora que, mesmo na sombra persistente do preconceito e da desmemória literária e cultural deste país que não lê, há um grande grupo de mulheres escritoras cujas obras valem ou ultrapassam as dos seus congéneres masculinos. E, citando apenas as desaparecidas, bom seria ver aparecerem de novo leitores e leitoras para Irene Lisboa, Isabel da Nóbrega (ai o “Viver com os outros”!...) Maria Judite de Carvalho que está em reedição (não percam, pelas alminhas, “Tanta gente Mariana), Fernanda Botelho (idem pela “A gata e a fábula). Poderia juntar-lhe mais uma meia dúzia de mulheres que escrevem muito bem, que são inteligentes e que merecem mas espero que estes quatro exemplos suscitem a curiosidade de alguns. E que essa curiosidade leve a outras descobertas, incluindo a de escritoras ainda vivas e que isso comece a recentrar o papel das mulheres escritoras portuguesas.

Isso não diminui Sofia ou Agustina, bem pelo contrário.A literatura portuguesa, a boa, entenda-se, não parou em Florbela, em Irene Lisboa em Sofia ou em Agustina. Não passa é sem elas que a engrandeceram, que em muitos momentos a vivificaram, a robusteceram. Eu sempre achei que há mais (e melhores) leitoras que leitores. Vi isso ao vivo na Póvoa ou em Matosinhos onde asmulheres eram multidão em relação aos leitores. Poderiadizer que é a curiosidade o que as faz correr estantes, livrarias e bibliotecas mas, mesmo que entenda a curiosidade como algo de optimo, de refrescante qualquer coisa que faz avançar o mundo e a civilização, isso só não chega. Sensibilidade? Desejo de perceber o mundo e o outro? Responda quem souber ou quem quiser. E leiam, leiam muito estas (e outras) belíssimas autoras. Há todo um mundo à vossa espera.

Em boa verdade, até MaoTse Tung ou Mao Zedong (é como quiserem) escreveu com alguma justiça (não sei se sincera) "As mulheres são metade do céu". Só metade, grande timoneiro, só metade?

 

 

Au bonheur des dames 486

d'oliveira, 04.06.19

erico_verissimo_todos_nos_somos_um_misterio_para_o

Ah, se isto fosse um romance policial...

mcr 4.06.19

 

Mas não é. É apenas Portugal, minhoto, bisonho e metido nas negociatas. Vejo no jornal (eu faço parte da minoria que lê e compra jornais. Vários e de papel. Para ver se não desaparecem de vez!) que o senhor Joaquim Couto já não fica em prisão preventiva como se anunciava e, com toda a probabilidade, se previa.

E não vai porquê?

Não vai porque o o juiz entendeu que ao renunciar a todos os cargos públicos e partidários a prisão não se justificava. De todo o modo o acusado terá de pagar uma caução de quarenta mil euros o que sempre é um dinheirinho respeitável.

A renúncia fora anunciada domingo e, à cautela, os documentos comprovativos foram entregues ao Tribunal mesmo que isso não fosse exigido. Na altura, um dos advogados do ex-autarca veio dizer que “a renúncia não significava uma confissão” mas apenas se destinava a salvaguardar o prestígio da Câmara e do Partido Socialista fortemente beliscado pelo que consta da acusação.

Na altura ninguém percebeu tão pronta e (para uma minoria) louvável actuação. Agora percebe-se. O sr. Couto não bate com os costados na cadeia o que seria, mais do que um desconforto, um aborrecimento em véspera de férias de Verão.

Criaturas perversas e de má índole tentaram já afirmar que isto cheira a negociata. Duvido, não tanto ao nível das intenções do demissionário mas antes da análise do Tribunal e do Juiz de Instrução. Este acautela-se com a caução e com as restantes medidas já tomadas ao mesmo tempo que aceita parte das explicações da defesa (custos de uma viajem pela Austrália no seguimento de uma ida oficial a Timor. O que é que Santo Tirso tem a ver com Timor é outro mistério digno de Agatha Christie mas já se viram coincidências mais surpreendentes.

Aliás, neste imbroglio nortenho tudo sucede. O director do IPO pediu a reforma. Também escapa às grades. Mais notícias deste folhetim só para semana.

 

O 2º mistério desta trilogia é a resposta do sr Carlos César ao sr Marques Mendes. Este deixou no ar a ideia de que o primeiro gostaria de ser Presidente da Assembleia da República mesmo que isso fosse ofensivo para Ferro Rodrigues. Eu pessoalmente só acho extraordinário o facto de César ter chegado onde chegou e de uma forte maioria de cidadãos açorianos o ter eleito várias vezes para Presidente da Região. Desde a sua primeira aparição fiquei esclarecido quanto às suas capacidades oratórias (exíguas) e à sua argumentação política (medíocre).

Entretanto o sr César mesmo chamando “comerciante político” ao sr Mendes não exclui a sua candidatura. Apenas diz que o futuro só ao futuro pertence. Está-se mesmo a ver que se está a pôr a jeito para o que der e vier. Por pouco que se aprecie a actual estrutura do Parlamento convenhamos que César na presidência dele não ajuda em nada o prestígio daquela assembleia onde deputados eleitos à molhada e na generalidade desconhecidos dos desgraçados eleitores sentam o dito cujo ou levantam-no à ordem dos respectivos cabos eleitorais. Volta Júlio Dinis e traz contigo o Joãozinho das perdizes. Por onde andas, Eça e as tuas magníficas descrições das sessões parlamentares?

O Sr. Presidente da República, travestido de 2professor Marcelo, comentador político, entendeu anunciar uma “crise da Direita”. O principal visado, dr. Rui Rio não o nega mas prefere o termo “crise do regime”. O dr. Centeno acha que não e dispara uma resposta ao lado que não aquenta nem arrefenta. (o dr Centeno é mais para números do que para análise política e gosta de baralhar o jogo. É contra a austeridade em abstacto e usa-a – e de que maneira!- na prática).

Este modesto folhetinista acha que a crise vem de longe e que, sem reformas drásticas, as coisas não melhorarão. A começar por uma que belisca todos os poderes instalados: acabar com as listas de deputados ao magote e tornar fácil e claro para cada eleitor saber em quem realmente vota. É assim que se faz nos países civilizados e até à data a coisa não tem corrido mal. E os deputados preguiçosos ou subservientes não duram muito.

Será que algum dos leitores conhece já não digo todos os candidatos mas apenas metade dos que se propõem no seu círculo? O lisboeta conhecerá ao menos dez dos candidatos? O do Porto oito, os de Coimbra Braga, Aveiro ou Setúbal, seis? Já nem falo dos substitutos e nem sequer refiro o facto de alguns dos felizes eleitos deslizarem mansamente para outros cargos.

E, muito menos, falo da possibilidade de escolha dos deputados de um partido mas de todos os eventualmente elegíveis no círculo (e já excluo os dos pequenos partidos, por vezes bem mais visíveis do que terceiras e quartas figuras dos partidos tradicionalmente assentados no hemiciclo.

De todo o modo, que é que deu ao Sr. Presidente? É que para falar da Direita que, sem dúvida, conhece e que muito frequentou, poderia, já agora, estender a sua lição ao que se passa na Esquerda, quanto mais não seja ao Partidão que anda na mó de baixo roído pelo BE e pelo envelhecimento natural da sua base eleitoral.

É que assim, só dando pela Direita, poderá parecer, Deus nos livre, Santa Bárbara nos acuda, que S.ª Ex.ª se está a posicionar para a corrida a um novo mandato. Credo!, Jesus, Maria José, va de retro Satanás...

 

* A gravura: ao procurar uma ilustração para mistério deparei-me com Erico Veríssimo, escritor notabilíssimo, um dos grandes, muito grandes, do Brasil.

Leitor(a)  ler "O Tempo e o Vento", uma trilogia extraordinária situada no Sul do Brasil é uma obrigação. E um gosto, um prazer, um divertimento. Veríssimo é um escritor de mão cheia e. quando se chega ao fim desta trilogia, só nos apetece outra de igual tamanho ou maior.  

 

Diário político 219

d'oliveira, 03.06.19

Pior a amêndoa do que o sorvete

d'Oliveira fecit  3/06/19

Eu não sei se algum(a) leitor(a) conhece este fraco trocadilho que na minha meninice repetíamos amiúde. Baseava-se na expressão “pior a emenda do que o soneto” e pretendia dizer que às vezes, quase sempre, vale mais deixar estar do que vir com desculpas de mau pagador.

Estava eu descansado depois de um fim de semana quente efestivo quando oiço na televisão novidades (enfim novidades não que ninguém acredita nas histórias da carochinha que a administração pública e, sobretudo, a fiscal, nos tenta impingir.

Aquela gentinha, arrogante até dizer basta, trata o povo miúdo como o hortelão trata as ervas daninhas: `À porrada, à sacholada, cortando, queimando, destruindo. E se alguém se queixa tem primeiro de pagar e depois reclama.

Faço parte dos maus portugueses que nunca acreditam nas declarações oficiais sobretudo depois de se descobrir uma asneira de grosso calibre.

Sempre me pareceu impensável que as armadilhas nas estradas a contribuintes incautos fossem obra de um só cérebro mal orientado. E a televisãoo mostrou com documentos claros e definitivos que as camapnhas imaginativas para extorsionar os pagantes tinham sido propostas a quem de direito.

Alias não só estes assaltos nas estradas mas também outras acções “intrusivas” tais como varejar casamentos, festivais à procura de receitas fugidas ao fisco, ao big brother.

A senhora Directora Geral terá despachado o documento que seguramente chegou aos deus domínios e que alegadamente não leu. Das suas uma: ou a mulherzinha é analfabeta ou não lê o que lhe vai ao gabinete.em qualquer dos caos não presta e deve ir já embora por ignorância, incúria, denegação de direitos o que se quiser.

E, mesmo assim, sou bondoso: não que ilibe sem mais ministro e secretários de Estado mas aceito, sobre forte reserva. que estas minúcias atentatórias dos Direitos Humanos, da Lei, da Ética e mesmo da Constituição não alcancem os círculos mais centrais da teia de aranha. Mas há que prova-lo.

Face a este desenvolvimento, até o propagandista nº 1 do Governo que, no século, dá por Marques Mendes, encheu o peito e declarou salomonicamente que a dita senhora deveria ir dar uma volta ao bilhar grande. De motu próprio, acrescente-se, para salvar a face. Isso foi dito na SIC, onde perora o clone do professor Marcello mas hoje, segunda feira (de manhã...) ainda nada soa dessa sábia decisão

Eu desconheço se Mendes falou em nome próprio ou por procuração do Senhor Presidente. De todo o modo, suponho, sem provas, mas com alguma suspeita, que esta declaração mendista tem o aval de Belém. Antecipado ou sucessivo...

A ver vamos, como dizia o ceguinho. A ver vamos...