Notas à margem
mcr 17.07.2019
Emídio, Raio, Edgar, Jesus Correia e Correia dos Santos!
Eu não sei se alguma das leitoras (e leitores) reconhece estes nomes. Provavelmente não! E, porém, eles foram celebres nos finais de 40 e nos 50 do século passado. Fizeram a grande equipa de hóquei em patins de Portugal durante anos e anos. Ganhavam tudo ou quase. Oe relatos radiofónicos eram seguidos por multidões em casa, nos cafés, por todo o lado. Nós miúdos, na escola e depois no liceu, durante quinze bons dias abandonávamos o futebol e disputávamos animadissímas partidas de hóquei (sem patins). Aliás sem nenhum artefacto da modalidade. Não havia, ou se acaso havia algum stick este era caro para uma grande maioria. Que os tempos eram outros, pobres, muito pobres, hoje ninguém se lembra ou, pior, ninguém sabe. Nem sequer a Escola o lembra. Portugal no post-guerra era pobre e maltrapilho. Os ricos escasseavam e muitos deles cuidavam de levar uma vida recatada e sem esbanjamentos. Deixavam isso para os “novos ricos”, para os arrivistas, para os que tinham feito fortunas, nas negociatas da guerra, sobretudo nas conservas e no volfrâmio, no contrabando de café para Espanha (que estava ainda pior do que nós). Uma jornalista chamou ao pais o “paraíso triste” e nunca um nome foi tão bem aplicado. No meio disto tudo, de uma quase geral resignação, o hóquei foi um bálsamo, um foguete luminoso, um arco íris. E os cinco acima citados, foram bafejados pela glória e pela admiração e carinho populares. De todo o modo não enriqueceram nem foram recebidos (que me lembre) pelo Presidente da República. Terão voltado para os seus mesteres habituais e porá lá continuaram. A grande excepção era Jesus Correia que além de exímio no hóquei foi um grande jogador de futebol, do Sporting, onde fez parte dos “cinco violinos”. Terá marcado cerca de mil golos (!!!) e ganhou pelo menos seis ou sete campeonatos. Tantos quantos os de hóquei.
Vale a pena lembrarmo-nos dessa equipa agora que voltámos, depois de um longo jejum, a ser campeões mundiais.
2 Tão pública que ela é (para o anedotário nacional) a CGD, o famigerado banco público, devotado ao alto interesse da pátria e à protecção dos cidadãos, entendeu, depois de outras tropelias tais como fechar balcões a esmo, deixar de pagar juros inferiores a um euro.
Parece uma ninharia mas na verdade, para além de ser um confisco (ou uma ladroeira, escolham o termo) aqueles muitos milhares de importâncias abaixo do euro ainda faziam jeito a muito boa gente. Vá lá que, desta vez, o Banco de Portugal rosnou. E a CGD recuou, pelo menos para já.
Do passado nem falemos: a CGD, o tal banco nosso, público, já nos custou muitos, muitíssimos milhões. E ainda não se sabe o que mais se irá encontrar. Por enquanto só há um ex-gestor na cadeia e não por via da CGD mas por um pequeno e merdoso delito. Por aí, à solta, vagueiam, felizes e contentes, vários cavalheiros. Inocentes, inocentíssimos, claro. E virtuosos... muito virtuosos.
3 mamarrachos
(ou eu hei de ir a Viana...)
O que se passa em Viana com o prédio Coutinho não é sequer um dramalhão de faca e alguidar. É apenas uma vergonha. E conviria deixar de chamar nomes aos moradores que ainda lá sobrevivem, melhor dizendo subvivem que mesmo que a razão estivesse toda do lado camarário (e não está) ou dessa caríssima vianapolis que já vai em duas décadas de pouco serviço.
Relembremos: o prédio foi construído com todas as licenças necessárias. Não houve atropelos à legalidade que se saiba e de nada serve arguir que a coisa começou ainda no antigo regime. Começou mas continuou pacificamente no actual. E se é verdade que o prédio não prima pela beleza, também não é menos verdade que, dentro de Viana com casas baixas há muito pior. Isto sem falar no mostrengo ao alto de Santa Luzia, imitação horrenda do horrendo Sacré Coeur monumento construído em pagamento de uma promessa : se a França se salvasse na guerra franco prussiana (que aliás perdeu sem apelo nem agravo) ergueriam “aquilo”.
Eu percebo que, em Viana, alguém desejoso de passar à imortalidade local começasse uma campanha contra o prédio. De todo o modo, os critérios estéticos são de per si sempre contestáveis, mesmo se numa cidade baixa um edifício com 13 andares parecesse (e fosse) excessivo.
Seria bom e útil, saber quanto custou até agora futura demolição e o realojamento dos quase trezentos habitantes. Mais os honorários da rapaziada da vianapolis, os custos com advogados e tudo o resto. A ideia é que a coisa deve dar uma maquia gorda, obesa, elefântica!
Do ponto de vista moral, simplesmente moral, a guerra desencadeada contra os habitantes, a pressão exercida durante estes vinte anos deve ter sido tremenda. Sobretudo numa pequena cidade como Viana. E foi tal a pressão que muitos, quase todos (mais de 90%) foram desistindo, foram-se rendendo, acossados pela tal sociedade, pela Câmara, pelos media, pelos poderes públicos e pelas boas consciências da cidade. E os habitantes que saíram foram ou realojados ou receberam as indemnizações mais ou menos impostas.
Nestas últimas semanas o zelo medonho dos anti-Coutinho atingiu o auge. Cortaram a água, a luz, o gás, proibiram a entrada de familiares e, preparavam-se para proibir o regresso a casa dos imprudentes que saíssem. Foi vergonhoso e digno do 4º mundo ver os desgraçados velhos que resistem a içar a comida e a água por cordas. É inacreditável que se corte a luz a quem a paga. Por muitas sentenças que se tenham na mão. Aliás não chegam como se viu com este último recurso dos moradores com a providência cautelar.
Agora uma pomposa criatura vagamente amparada pela Administração pública ameaça os moradores resistentes com acções de perdas e danos. Essa pessoa de maus fígados e pior moral deveria, por um breve momento, pensar na angústia de quem vive numa casa a que chama sua, que é sua, que foi legitimamente comprada e vivida durante dezenas de anos.
Isto a que se assiste é o Estado, ou este triste estado de coisas, a usar da sua força contra fracos. Melhor andariam os arautos da estética se começassem a olhar para as inumeráveis criaturas que defraudaram e continuam a defraudar o Estado, o Tesouro público e a rir-se dos cidadãos portugueses. A única diferença é que estes bandoleiros que fazem do país um imenso pinhal da Azambuja, tem poder e tem força.
Claro que isto vai acabar mal para as nove pessoas (todas idosas) que ainda aguentam todo este desacato. Mas a vitória dos vianapolistas é, será sempre, uma triste vitória.
(ainda mais à margem: tudo isto se passa enquanto no parlamento se vota uma lei da habitaçãoo!...
4
o sr. Carlos César abandona o parlamento. Boa viajem e que uma estrelinha o guie. Segundo ele, é “um incorrigível açoriano” e por isso vai à vida. Para os Açores?
As más línguas, que as há sempre, relacionam esta saída com o facto de se ter gorado a ideia de o alcandorar à presidência da Assembleia da República! César jura que não, que nunca pensou nessa possibilidade. Que jamais correria Ferro Rodrigues do lugar. Credo! Logo eles tão amigos! Eu não sei o que é ser incorrigivelmente açoriano. Será que um açoriano pode deixar de ser açoriano? Ou sê-lo temporada sim, temporada não? Que diabo, uma pessoa é da terra onde nasceu. Pode evidentemente, mudar de terra, ser expulso dela, adoptar outra por vários motivos, incluindo o facto de encontrar trabalho e futuro noutro lugar que não o natal. Mas nada lhe tira a naturalidade.
No caso do sr. César (Carlos, de seu nome) o facto de ser deputado pelos Açores já justificava a sua incorrigibilidade. Estava no Parlamento para lembrar ao mundo, a Portugal ou aos restantes companheiros de tribuna, que, no meio do Atlântico Norte, há um arquipélago mais ou menos vulcânico que merece atenção. Nada disto implica com o ser-se incorrigivelmente indígena da Terceira ou da Graciosa ou de qualquer outra ilha açoriana incluindo o ilhéu dos Capelinhos.
Claro que o sr César pode estar farto do parlamento. Até seria uma prova de bom gosto. Mas não. A criatura garante que continuará (para mal dos nossos pecados que, pelos vistos hão de ser muitos e medonhos) a fazer política. A, como outro fantasma, a “andar por aí”.
A menos que, à falta da presidência do parlamento, volte a pensar na da região dos Açores mas isso é com os eleitores de lá...
5 anda por aí muito machismo disfarçado Reza a lenda que Santa Úrsula prometida a um pagão foi morta por Átila (outro pagão) por se recusar a casar com ele. As suas onze (ou onze mil)companheiras todas virgens como ela foram igualmente mortas pelos hunos ou por outros bárbaros do mesmo género e espécie. Tanta mortandade faz pensar que naqueles ásperos tempos não era bom ser mulher. E nos de hoje?
A senhora Úrsula von der Leyen teve contra ela vários cavalheiros que insistiam em acusações antigas que se verificaram infundadas ou em apreciações pouco lisonjeiras sobre o seu último e difícil cargo ministerial (Ministra da Defesa! na Alemanha!!!) mesmo que geralmente se lhe reconheçam excelentes serviços nas anteriores pastas com especial destaque para o Trabalho,
Dentre os críticos, assume especial relevo, o SPD, partido social democrata alemão em acelerada queda junto dos eleitores. Melhor dizendo, e digo-o com profundo desgosto, está a caminho de se tornar uma insignificância na Alemanha. Um pouco como o que se passa em França onde o PS está nos cuidados intensivos. Ou na Grécia onde o PASOK já só é uma triste memória.
Nada tenho contra o anterior candidato, o sr Timmermans, mesmo se também o não achasse nenhum Hércules político. Aliás, a regra não escrita do PE é eleger para este cargo um representante do partido mais votado. E esse partido é, goste-se ou não, o PPE. Claro que das últimas eleições o PPE saiu menos robusto. Mas essa falta de força não se traduziu em ganho para os socialistas antes permitiu a entrada de mais pequenos grupos políticos no PE e algum crescimento dos ecologistas. Isto para não falar dos anti-europeístas que, ontem pela gritaria dos adeptos do sr Farage se mostraram tão educados quanto as antigas claques futebolísticas britânicas
Tenho por mim que a eleição agora assegurada de Von der Leyen tem para já uma imensa virtude: Finalmente uma mulher à frente da Europa. Já não era sem tempo. Do que fui lendo sobre ela e sobre as suas propostas não vi motivo de escândalo. Cumpre os mínimos à vontade e parece-me, por exemplo, bem mais interessante do que Durão Barroso. Aliás, o facto de ter uma sólida formação académica, ser médica e doutorada, aliada ao quase inacreditável facto de, numa Europa que envelhece sem natalidade que se veja, ter sete filhos, é um bom sinal. E ter sido ministra de áreas sensíveis (Trabalho, Segurança Social e Defesa) dá-lhe um bom background. E o discurso foi bom, francamente bom.
Mas, há sempre um mas, von der Leyen é mulher. Mulher num mundo de homens de barba rija. E, pelos vistos, não cedeu nem precisou de certos votos dúbios. Aliás, dúbia foi a inesperada aliança dos anti-europeístas, com a tropa inglesa e alguns ilustres deputados sans peur et sans reproche que votaram baseados unicamente no preconceito ideológico que disfarçava também, e talvez principalmente, muito marialvismo. Parece que, contra a srª Von der Leyen há a acusação de não ter sido eleita deputada ao PE.
Finalmente, aqui, muito entre nós, o cabeça de lista do PS local foi eleito não pelo seu mérito próprio que é inexistente mas porque sim. E à frente de uma mulher competente, Mª Manuel Leitão Marques, que provavelmente faria (fará?) boa figura na lista que a nova Presidente da Comissão vai apresentar numa composição enfim paritária.