Nos 60 anos de J. M. Coutinho Ribeiro
O meu amigo Joaquim Manuel Coutinho Ribeiro, responsável pela minha entrada no Incursões e editor deste blogue durante vários anos, completaria hoje 60 anos. Para evocar a data e também o seu percurso, escrevi um texto no jornal "A Verdade", de que foi fundador e primeiro director, publicado hoje na sua edição online e ontem na versão em papel do jornal:
"No dia 31 de Julho, o advogado, jornalista e político marcoense Joaquim Manuel Coutinho Ribeiro, primeiro director deste jornal, completaria 60 anos de idade. Falecido precocemente em 2014, deixou nos seus familiares e amigos, bem como em todos os que o conheceram de perto, uma marca indelével. Irreverente e inconformado, Coutinho Ribeiro foi sempre um espírito livre, muito exigente consigo próprio e incapaz de ceder nos princípios e valores que norteavam a sua vida e a sua relação com os outros.
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, exerceu advocacia durante mais de 25 anos. Enquanto jurista, dedicou particular atenção à lei de imprensa e ao estatuto do jornalista, tendo publicado duas obras de referência: “A nova lei de imprensa face ao novo código penal”, em 1995, e “Lei de imprensa (anotada) e legislação conexa”, em 2001.
Nesta vertente, colaborou com vários cursos de ensino superior nas áreas do jornalismo e do direito da comunicação. No início da carreira profissional, foi professor do ensino secundário.
A paixão pelos jornais e pela comunicação social fez-se sentir desde a juventude, o que levou Coutinho Ribeiro a interromper algumas vezes o curso normal dos seus estudos universitários. Distinguiu-se como jornalista sobretudo nos extintos jornais “O Comércio do Porto” e “Semanário”. No diário portuense conduziu a investigação sobre o denominado caso “Sãobentogate”, relacionado com a corrupção na Polícia Judiciária, que abalou os meios políticos e judiciais na segunda metade da década de 80 do século passado. A cobertura jornalística da visita de João Paulo II a Portugal foi outra experiência que o marcou sobremaneira.
Coutinho Ribeiro manteve ao longo dos anos colaborações regulares com a RTP, Porto Canal, NTV, TSF, Rádio Nova e vários outros órgãos de informação de âmbito nacional e regional. Em Marco de Canaveses, foi também o primeiro director do jornal “Voz Marcoense”. Nos últimos anos de vida, alargou a sua intervenção a alguns dos mais respeitados blogues de expressão local e nacional, com uma escrita mordaz e interventiva.
A política foi outro eixo que se destacou na vida pública de Coutinho Ribeiro. Tendo vivido ainda muito jovem o período revolucionário pós-25 de Abril, integrou as fileiras do CDS entre finais dos anos 70 e inícios dos anos 90. Foi dirigente nacional da Juventude Centrista e candidato por esta organização à presidência da Associação Académica de Coimbra. Foi vice-presidente da Comissão Política Distrital do Porto e candidato ao Parlamento Europeu, em 1989, numa lista encabeçada por Francisco Lucas Pires, uma personalidade que admirava e em quem se revia em termos políticos.
Como autarca, Coutinho Ribeiro foi presidente da Assembleia de Freguesia de Soalhães (1982-84) e vereador da Cultura da Câmara Municipal de Marco de Canaveses (1984-85), ficando intimamente ligado à criação do Museu Municipal Carmen Miranda. Neste período, acreditou convictamente que a liderança e o espírito empreendedor de Avelino Ferreira Torres provocariam as mudanças necessárias para agitar consciências e colocar Marco de Canaveses no trilho do desenvolvimento, ultrapassando as amarras de algumas elites locais mais conservadoras. Não demoraria muito tempo a perceber que o caminho seguido se afastava do que projectara, sofrendo mais tarde na própria pele as arremetidas do poder que ajudara a criar.
Coutinho Ribeiro acabaria por aderir ao PSD na segunda metade da década de 90. Integrou como assessor o gabinete do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares no XII Governo Constitucional e em 2001 candidatou-se à presidência da Câmara Municipal de Marco de Canaveses, assumindo em seguida o cargo de vereador sem pelouros. Em 2009, foi o mandatário da candidatura do PSD à autarquia marcoense.
Os amigos que o recordam dos anos da juventude lembrar-se-ão ainda do ciclista promissor, que manteve sempre um particular entusiasmo por esta modalidade. Foi presidente do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Ciclismo e tinha sido o primeiro presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais. Foi também vice-presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação de Basquetebol do Porto.
Joaquim Manuel Coutinho Ribeiro teve uma vida curta, mas plena. Os familiares, em particular os seus dois filhos, e os muitos amigos que fez tiveram sempre a seu lado alguém muito dedicado, atento e preocupado com o bem-estar dos que o rodeavam. Tinha ainda muito para dar aos seus e à sua terra natal, com a espontaneidade, a irreverência e a entrega que o caracterizavam. A sua presença faz falta. Faz-me muita falta."