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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

au bonheur des dames 414

d'oliveira, 27.08.20

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Adeus Nikias!

mcr, 27 de Agosto

 

Descobri-o cedo, já não sei bem onde e quando. Na “Brasileira” do Chiado, talvez, se ele já lá estava exposto no ano de 62. Ou noutro sítio qualquer mesmo se, para um estudante em Coimbra, não fosse fácil qualquer espécie de convívio com a pintura que se fazia em Portugal, ou seja em Lisboa e (muito menos) no Porto.

De todo o modo, logo que tive possibilidades,  elas só chegaram. embora escassas, já na vida prática, e comprei a serigrafia que serve de ilustração. Se bem me lembro, aquilo, mesmo um múltiplo, custou-me muito mais do que a minha advocacia permitia num mês. Nikias Skapinakis era já um nome consagrado, justamente consagrado, e os galeristas, sabiam-no bem.

Depois, tudo o que fui vendo dele estava fora do meu alcance e, aliás, passava-se em Lisboa, onde, mesmo indo com certa frequência, era difícil ver exposições que obviamente tinham um horário de funcionamento que coincidia com o meu horário de reuniões.

Por isso, mas também por preguiça, incúria ou outra desrazão qualquer, só muito tarde, e por um desses bambúrrios que às vezes nos caem em cima, é que consegui adquiri uma bela obra intitulada “5 Imagens para Nemésio”, uma edição, de cinco serigrafias, tiradas de outros tantos guaches originais (Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1983, tiragem de 200 exemplares).

Sempre me fascinaram o seu jovial uso da cor, os retratos amáveis de conhecidos e desconhecidos, as paisagens re-inventadas, e certos temas (o circo por exemplo).

Morreu agora já com oitenta e muitos. O “Público” a que só hoje voltei, já farto de férias sem jornal, dedica-lhe uma página que irei ler mais logo. Não sei se outros jornais, ou a televisão se darão a idêntico trabalho, é provável que não, a “cultura” deles é outra...

Nunca me ouvirão dizer que a morte de um pintor quase aos noventa é uma terrível perda. Os artistas, deixam a obra e isso terá de bastar-nos e, de facto basta.

Mas não é sem comoção e um nostálgico sentido de falta que o lembro, modestamente, aqui.

A vinheta Nikias Skapinakis, serigrafia, 55x33, ex 20 numa série de 200.

A fotografia é miserável mas eu nunca tive jeito para fotografar fosse o que fosse.

Um Verão algo diferente

José Carlos Pereira, 24.08.20

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Terminaram as férias de Verão, este ano com as limitações e os constrangimentos impostos pela pandemia. Deu para viver um Algarve com bastante menos afluência no início de Agosto, crescendo paulatinamente o número de turistas à medida que o mês avançava, com hotéis encerrados e outros a abrirem portas em Agosto ou poucas semanas antes e restaurantes a viverem dos clientes portugueses e a fazerem recurso de novas esplanadas no exterior.

A subir a costa vicentina e alentejana, já era notório um maior número de turistas estrangeiros, sobretudo dos apaixonados pelo surf e pelo auto-caravanismo. Um turismo diferente, à procura de aventura e de experiências mais ousadas.

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Mais a Norte, uns dias a usufruir da beleza natural de Marco de Canaveses reconciliam-nos com a tranquilidade, o calor de Verão e a excelente gastronomia. Aparentemente, com menos emigrantes do que habitualmente. E também com menos turistas do que seria merecido pelo Tâmega e pelo Douro, pelas serras e pelo património.

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No Centro, o apelo do leitão da Bairrada justificou (mais do que) uma incursão que culminou com uma visita, ao fim de muitos anos, à Praia da Costa Nova e aos seus palheiros característicos.

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A terminar estes dias de férias, um mergulho no Minho profundo para um convívio com amigos em torno da mesa. O que queremos mais?

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Família, amigos, sol, praia, mar, rios, gastronomia, convívio, num Verão diferente, mas sempre retemperador.

Au bonheur des dames 412

d'oliveira, 23.08.20

O galo que faz serenatas

mcr, 23 de Agosto

A vida numa quinta, mesmo convertida em alojamento local não escapa ao que a rodeia Nesse contexto (não ministerial, como está na moda – e quem sou eu, velho e descartável, por enquanto escapado à tragédia dos lares, sejam eles quais forem, para não assumir patrioticamente a definição da senhora Godinho?) um galo, que confunde a noite com a madrugada, não é nada de excepcional. Provavelmente, é a maneira do galináceo protestar conta a invasão do interior pelos prófugos lusitanos temerosos das multidões estivais e marÍtimas, atemorizadas pelas recomendações por vezes ilógicas da DGS ou de alguns opinion makers apressados (e não me refiro a nenhuma figura nacional como alguém, cavilosamente, poderia acusar-me). De todo o modo, não me posso queixar da escolha do local de férias, mesmo se a palavra férias não seja a melhor para se aplicar ao meu caso. Em férias estou eu há anos, depois de ter suado as estopinhas servindo um patrão que, não premeia o mérito mas apenas, e mal, a antiguidade e a subserviência política. Todavia, a família tem a força que tem e um neto ainda mais. Força e irrequietude se é que a palavra existe: como é que um menino de dois anos e meio consegue escapulir-se à mínima distração de quatro adultos prevenidos é que é um mistério dos gordos. Mas, de facto, o pequeno guerrilheiro aproveita qualquer vago indício de distração e ei-lo que corre desabaladamente em direção à piscina. É duvidoso que, uma vez lá chegado se precipite nas águas mas nestes casos não se pode confiar nas nossas dúvidas metódicas ou não. E lá vai um adulto em corrida célere para o apanhar... Os dias passam sem pressa nem outros sobressaltos. Aqui acaba por haver tudo ou quase. Falta o jornal (o Público) que estranhamente só é recebido ao domingo! Porquê ao domingo eis outro mistério. Entretanto, informaram-me que, antes do covil chegava todos os dias. Agora é o que se vê. Vamos lá que o Expresso também aparece! No meio disto tudo e deste dolce farniente, estou a aclimatar-me ao I Pad. E não é coisa assim tão fácil, habituado que estou aos Mac que uso. Eu já sabia disso mas, desta vez, nem hesitei. Aproveito a companhia caminha entrada e do meu genro e lá vou tentando. Este é primeiro post dessa nova era informática. A ver vamos como sai. À cautela termino aqui Bom Verão para vocês que me aturam

estes dias que passam 485

d'oliveira, 19.08.20

no Minho 

mcr, 19 de Agosto

 

No coração do Minho Entre Barcelos e Ponte do Lima, sob a chuva e com vista para um mar de milho. Não será à sombra deste, que está verde, muito verde, que namorarei alguma cachopa. A CG desespera com este inverno no meio do Verão que, aliás já se anunciava, ontem, no Porto, quando partimos. A minha vontade secreta seria atribuir ao Covid, à sr.ª ministra da Segurança Social, ou ao “camarada” Lukaschenko este arreganho invernoso que se já é difícil de suportar quando estamos em casa, é pior em férias. A minha enteada, sempre prática, corrige: trata-se de uma depressão, a depressão Helena e amanhã já estará longe. Estará? Eu, nas previsões meteorológicas, estou como os sábios sobre o Covis: sim, não, oh quem dera. De todo o modo, preveni-me, Vim armado de computador, digo de computadores. Este e um antiquíssimo i-book G-4 onde jogo bridge. Esta é uma história antiga e surpreendente. Há muitos anos (25 talvez) encontrei o “microbridge companion (Bridge Baron) que ainda se vendia em cassetes. Instalei-o em apples compatíveis e perdi o diabo da cassete. Nunca mais encontrei uma versão seguinte e melhorada do jogo e, por isso, conservo os computadores onde ela foi instalada pois, por razões misteriosas, não é possível transferir o jogo para computadores mais recentes. O que me apareceu (e comprei em Paris, no Club de Bridge Français) foi o Bridge Baron 25 (instalado neste computador, mas pouco usado que, francamente, é inferior à versão qantiga muito mais fácil de usar ecom mais alternativas e possibilidades). Por esta razão ainda transporto o matacão do i-book, coisa que arrepela o sr. Rui Silva meu competente salva-vidas de computadores: “ Senhor dr., isto é do século passado!” –“Também eu!”

Com isto, aguento quaisquer férias perdidas pela chuva. Vieram, também, meia dúzia de livros, uma mão cheia de folhas manuscritas do inventário de cds para passar a limpo. Com isto, não vento nem chuva que me desanimem, Nem a ausência do “Público” no café onde hoje fui por uma bica, Havia sete ou oito títulos mas o “Público” não chega aqui. Paciência... que estamos em férias...

estes dias que passam 484

d'oliveira, 17.08.20

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Os dias da peste

Jornada 150

The end

mcr,17 de Agosto

 

this is the end...

... the end of laughter and soft lies

the end of nights we tried to die

this is the end.

 

Chega ao fim esta série de textos que foi diária durante praticamente cinco meses e que constitui, também ela, um quase diário meu que nunca fui pessoa de escrever um diário. A preguiça, esse feio pecado capital, nunca foi vencida e grande espanto é ter, durante cento e cinquenta dias, aguentado este fardo que por vezes, não muitas, foi difícil de levar.

Agora, quando o tempo está insuportável quase invernoso, vou para férias. Não para as que projectara mas para as possíveis, no interior (logo eu que sou da praia!), numa casa que me garantem agradável, com ar condicionado, wifi, piscina, paisagem idílica no meio do verde Minho, perto de tudo o que preciso, desde jornais a um café decente. E com a família mais chegada que agora gira à volta do Nuno Maria que está que ferve. Pelos vistos, agarrou em toda a sua roupa, meteu-a numa mala que apanhou a jeito e passeia essa pesada bagagem pela casa dizendo que vai para férias. Temo que, na descrição haja algum exagero que um petiz de dois anos e meio não é assim tão desenvolto. Se a família lê isto, estou frito!

As férias, mesmo estas, são um bom pretexto para cessar essa tarefa diária, fundada longinquamente no senhor Bocácio que da peste de Florença tirou um dos grandes livros de sempre. Fique claro que não me comparo seja de que maneira for a esse príncipe das letras. A única parecença é eu ter imitado o sub-título “jornada” que achei mais do que adequado ao dia a dia que vivi tentando chegar a um par de leitores. E foram bem generosos alguns deles que além de terem tido a trabalheira de me lerem, me escreveram simpaticamente. Bem hajam!

Para este último texto eu gostaria de ter coisas interessantes a relatar mas a realidade pode muito e não é assim tão gentil. A começar pelas estatísticas sobre o SNS tão falado pelos seus entusiastas mais fanáticos. Se é verdade que o SNS é uma boa, muito boa, ideia, também não deixa de ser verdade que, para acudir à emergência covid, muito ficou por fazer, O “Público” de hoje noticia que há mais de cem mil utentes que já esperam (e desesperam) há mais de um ano por consulta e, pior, por uma intervenção médica. Há zonas do país onde, pura e simplesmente os atrasos se medem em anos, mesmo se, por serem zonas do interior, não seja enorme o número de utentes afectados. Todavia, são portugueses, como eu , como vocês leitores eventualmente citadinos e do litoral. E são cidadãos mais desprotegidos, mais frágeis, mais pobres, mais abandonados.

Por outro lado, houve, e já está provado, um forte aumento de mortes (extra-covid) em relação a períodos idênticos do ano passado. A coisa andará pelos quatro mil o que não é despiciendo. Porém, o mais intolerável é a afirmação da certas “autoridades” da saúde (incluindo ministeriais) que atiram para o calor excessivo o aumento da mortalidade. Só que quatro mil mortos de calor é numero em que ninguém honrado acredita. É uma mentirola que, ainda por cima, tenta fazer de nós todos uns parvos, uns trouxas, uma espécie de sub-gente!!! Irra que assim é de mais!

A segunda notícia com foros de escândalo é o discurso do sr. Jerónimo de Sousa, abundantemente visto nas televisões. Já nem refiro a arrogância mas tão só a esfarrapada desculpa de que aquilo, a “festa” é, fundamentalmente, um acto político que por isso mesmo não pode ser condicionado pelas medidas de prevenção sanitária em curso. A segunda intrujice é a de que a “festa” não tem nada a ver com a recolha de fundos para o “partido”. Por pouco, ainda diriam que, coitados, até perdem dinheiro... A terceira que seria cómica se não fosse cínica é a ideia de que a festa é feita para transmitir esperança!

A quarta é insistir que este ajuntamento (já reduzido a 30.000 pessoas) se realizará com distanciamento social como se fosse possível – mesmo que formalmente se façam no chão divisórias pintadas- evitar que as pessoas se juntem e confraternizem.

Depois, o PC (e Jerónimo) voltam à velha técnica de serem perseguidos por todos quantos entendem a situação irresponsável. Querem homiziar o PC! Querem confiná-lo!

E falam nos “festivais” que, entretanto, se estariam a realizar. Onde? Quando? Com que participantes?

E nas praias que, “e muito bem” (sic) estariam demasiado cheias. Eu ainda não vi nenhuma praia cheia. A televisão, sempre atenta ainda não deu sinal de tal escândalo mesmo se, é legítimo suspeitar que, alguma(s) vez(es) uma que outra praia possa ter tido, momentaneamente, mais gente do que seria razoável. Só que, nesses casos, se os houve, trata-se de movimentos desorganizados de pessoas e não de algo tão disciplinado quanto os futuros festejadores da Atalaia.

Há quem diga que esta atitude de continuado desafio serve para, no momento preciso, o PC poder denunciar mais um atentado à democracia e à liberdade de que ele, como é sabido, é o único e vero campeão.

Outros afirmam que este tipo de declarações tonitruantes são apenas uma dura pressão, diga-se uma chantagem, sobre a DGS e restante comandita.

Ou ainda, uma maneira de descolar da geringonça ou de tornar mais caro o acordo que Costa quer.

A única coisa que o PC não pode dizer é que o estão a isolar. É o PC que se está a isolar e de que maneira! É provável que o autismo dominante nessa organização não permita dar por isso mas esse é um problema deles e não do país e dos milhões de pessoas que, sem vontade, com pouca ou nenhuma alegria e rara esperança, vão cumprindo as regras de distanciamento, aturando as máscaras e o mais que aí vem.

* a citação é, obviamente, de "the end" de Jim Morrisson (e um pouco) dos Doors, cantor e grupo míticos e da minha geração. 

** a vinheta: é um quadro de John Waterhouse e, há que dizê-lo, não está à altura da obra de Bocácio. Teria sido preferível uma imagem do filme (da extraordinária trilogia de Pasolini, claro) mas não encontrei nenhuma a meu gosto. 

 

Alguém entendeu pôr um desconchavo imbecil e ultra-reaccionário no meu texto 479! Eu respondo a tudo mas tem de ser a algo que diga respeito ao que escrevo. O que não é o caso. Portanto, recuso o texto mais por cretino do que por reaccionário. E por ininteligével e mal escrito. 

estes dias que passam 48'3

d'oliveira, 16.08.20

Os dias da peste

Jornada 149

Os relatórios são meros papéis

mcr, 16 de Agosto

 

 

Não conheço a Sr.ª Ministra da Segurança Social de lado nenhum e, até há pouco tempo, nunca tinha ouvido falar dela nem da sua carreira na área do turismo. A nomeação para ministra não me surpreendeu pois, de há muito, que me habituei a este género de malabarismos em que alguém com conhecimentos fortes num sector vai para outro que não parecia ser a sua chávena de chá.

Eu não sou dos que entendem que para ser ministro de um determinado sector se deva ter uma forte preparação nesse campo mas não tenho nada contra a escolha de técnicos capazes e conhecedoras para tutelar uma área em que sejam especialistas.

Parece, porém, que a escolha da dr.ª Godinho para um ministério tão sensível como este se deve mais a razões políticas e ao facto de Costa querer ter aí alguém em que ele possa mandar. Será assim?

De todo o modo, a dr.ª Godinho lá foi regendo discretamente o seu ministério que, nos tempos próximos passados, registava um digno torpor próprio dos anos sem grandes problemas imediatos. Que eu visse, o Ministério, não sofreu nenhuma transformação importante mas, também isso, se tudo continuasse a correr de feição, podia esperar. Uma ministra novata deve ter cuidados extremos que aquilo, o labirinto da Segurança Social, tem muito que se lhe diga. Nem vale a pena falar dos interesses instalados, da pressão sindical, das guerras corporativas travadas por diferentes sectores de funcionários. Só isso dava para três crónicas...

Todavia, o vírus, sempre ele, veio interromper o meigo ronronar do Ministério e interpelar violentamente os seus deveres de tutela, mormente nos lares de idosos.

Não gostaria de falar da minha experiência neste assunto, porquanto ela limitou-se a um breve período de alguns meses em que, tive de intervir numa Misericórdia e, por arrastamento. no lar por ela (mal) gerido. Foi, de certa maneira, o último desafio, não mais complicado que outros, mas com maiores implicações na vida de pessoas. Não digo que a pequena batalha, mais guerra de guerrilha continuada, tivesse sido sempre fácil, não foi, mas consegui ganhar alguns apoios desde a autarquia até aos poderes eclesiásticos e ter um vago apoio de muitos “irmãos” afastados violentamente pela Direcção que se apoderara da Instituição.

Nunca respondi aos desafios dos titulares da Misericórdia que, freneticamente, se esforçavam para me encontrar e, eventualmente, enredar num conflito que não era meu, não era dos utentes nem do interesse público. A ideia era isolar essa Direcção que aliás fazia tudo para isso, e depois, com rapidez e segurança e respeito pelos internados no lar, varrê-la definitivamente. O que foi feito para gáudio dos jornais locais e nacionais e da televisão que me imortalizou trepado a um muro a discursar às massas.

Não vou dizer o que encontrei pois não encontrei nada. Dinheiro evaporado, vendas de bens imóveis sem qualquer autorização, actas desaparecidas, pessoal sem contratos, uma necessidade extrema de recorrer ao Banco alimentar. Felizmente, terei caído no goto dos poderes locais e de alguns filantropos de modo que, dois dias depois, de ter expulsado a anterior direcção, já exonerada pelo bispo (que tardou mas lá se resolveu), já tinha em meu poder uns bons milhares de contos (dos antigos, pré euro) e pude ir-me embora, regressar à minha instituição de origem, a Segurança Social. Tudo isto depois de ter entregue no Tribunal que me nomeara um relatório final. A breve fama adquirida, alguns louvores da autarquia e de personalidades da terra bem como do Tribunal granjearam-me a sólida desafeição do pobre diabo que geria a minha instituição. Foi o momento em que decidi que o que era demais, era demais e preparei a minha saída daquele mundillo mesquinho.

Na minha vida, bati várias vezes com a porta e não me arrependo de nenhuma. Os tempos foram-me dando razão, o meu número de amigos aumentou, continuei a dormir bem só me faltou enriquecer.

Portanto, ao recordar o mau passo da ministra que não lê relatórios sei do que falo se isso refere lares de idosos, designação simpática de depósito de cadáveres adiados.

(parece que agora a afirmação da ministra – não tinha (ainda) lido um relatório da Ordem dos Médicos sobre um lar onde pereceram, até ao momento. dezanove pessoas, está agora a ser modificada. Que a publicação onde isso foi tornado publico, “descontextualizou” o brilhante depoimento ministerial, enfim o costume. Em Portugal, descontextualiza-se à fartazana, um horror, um hooorroooor!!!

Curiosamente, nunca nenhuma das vitimas da descontextualização entendeu pregar com um processo nas ventas do agente malvado que a pôs, sem mais nem menos, inocentemente, a descontextualizar... Mistérios da política nacional...

Esta tempestade, em plena silly season, pode ser de curta duração. O futebol (ai aqueles 8 a 2 contra o Barça!!!, o que os de Madrid se devem rir, mesmo se nem a este estádio da Champions chegaram), a façanha (e digo-o, uma vez sem exemplo, com respeito, simpatia e admiração) do nadador salvador Marcelo Rebelo de Sousa (MRS é o 2º Marcelo a salvar alguém no mar. Este modesto Marcelo, vai para sessenta e tal anos, salvou na praia da Figueira uma jovem que era a namorada do grande ciclista Alves Barbosa. E tive a honra insigne de ser abraçado por ele – teria preferido a namorada. Mas enfim...- e de durante muito tempo ter tido o privilégio de usar as bicicletas do estabelecimento de aluguer das mesmas, do seu pai, à borla! Bem que me aproveitei!)

Convenhamos, já que estamos de regresso à leitura do relatório que da afirmação só uma coisa se salva: o facto da confissão. Todavia, isso, não chega, que raios! Morreram dezoito ou dezanove criaturas, provavelmente à beira do passamento, seguramente doentes, porventura imprestáveis e já sem vontade de votar, mas sempre eram 18 ou 19 almas de Deus, tinham filhos, netos, parentes que agora, desconsolados, verificam que a ministra da tutela nm concedeu aos seus tempo de leitura, meia hora, uma, talvez.

Há partidos que pedem a cabeça da dr.ª Godinho. Não conseguirão nada. Costa só empandeira alguém quando corre o risco de ser devorado na voragem. A dr.ª Godinho não deve ser do género daqueles antigos políticos que entendiam um gesto de demissão como uma prova de honradez e de arrependimento. Ela, coitada, não leu. E pronto.

E, provavelmente, voltará a não ler só que da próxima terá o cuidado de o omitir.

“ler é maçada, estudar é nada”. Se Fernando Pessoa o disse que há de uma ministra acrescentar, mesmo que nunca o tenha lido – como ele implicitamente- aconselha?

Basta-lhe ser Ministra. E enterrar os mortos. E cuidar dos vivos como mandava o sr. Marquês de Pombal.

estes dias que passam 48'2

d'oliveira, 15.08.20

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Os dias da peste

Jornada 148

Ferragosto!

mcr, 15 de Agosto

 

“libiamo, amore fra i calici

piu caldi baci avrá”

 

Este ano tinha decidido fazer duas semanas na Toscana, fundamentalmente para mostrar à CG Florença, Pisa e Siena. Em Janeiro ainda hesitava quanto à escolha da data. O verão não é a melhor altura para a viagem porque coincide com muitas outras de muitos outros. Todavia, uma saudade antiquíssima fazia-se suspirar por mais uma vez apanhar o “palio”, o 2º palio, o do meio de Agosto.

Eu explico: amigos antigos de Siena desafiaram-me a visitá-los durante a festa e eu, nem hesitei. Apresentei-me em Siena dois dias antes, vindo de Pisa onde fora pela primeira vez. Fui alvo da curiosidade geral da “contrada” (bairro histórico) dos meus hospedeiros porque naquele tempo, apesar de já haver muito turismo, não era evidente aparecer um português que imediatamente tomasse partido numa festa tão especial. Os mei amigos eram da Oca (ganso) e eu da Oca me tornei. E tanto me tornei que durante anos, enquanto houve transmissão da corrida pela RAI na televisão, eu assistia entusiasmado e leal aos meus amigos suspirando pela vitória da Oca, o que aliás ocorreu um par de vezes se é que a memória não me está a pregar partidas.

Não voltei a Siena, desde então, nem sei porque razões. Ou melhor: eu tinha muito que descobrir na Itália pois sou uma espécie de turista milimétrico, quero ver tudo, descansadamente, atentamente. E ouvir o dialecto local, se possível num bairro popular, a comer a comida local e não pizzas e spaghetti para turistas tontos. Nem sabem o que ganhei com a experiência...

Ora nas duas ou três vezes em que repeti o Verão em Itália, estava demasiado longe da Siena (e do palio). Uma delas, a que recordo melhor, o “ferragosto” (o feriado do dia 15) apanhou-me em Roma, numa Roma deserta, sufocante, hospedado num pequeno hotel perto de Santa Maria Maior, hotelzinho barato, apropriado ao meu dinheiro que não era muito.

O Ferragosto é um dia estranho porque, de repente toda a gente desapareceu para férias ou ainda não regressou das mesmas. A maior parte dos estabelecimentos (e nisso incluo cafés e restaurantes) está fechada devido ao feriado e até comer é um desafio. Ou seria, não fosse dar-se o caso dos proprietários do hotel me terem tomado sob a sua especial protecção. A verdade é que eu, de certo modo, merecia essa pequena atenção. Naquele tempo, oh quantos anos se passaram!, raro era o turista que falava, isto é: que  tentava falar italiano. E eu tentava-o de facto e, mais do que isso, perguntava, queria aprender as palavras, a entoação (não vou dizer o “sotaque” romano que o há, mas apenas a maneira de falar daquela zona popular). No pequeno “albergo” havia gente de todo o lado, mormente franceses, alemães e ingleses mas nem um sequer sabia dizer grazie. Ou não queria...

Por isso, nesse dia, aviei uma almoçarada que nem vos digo nem vos conto. No meio de uma família alargada, vinham parente de outros bairros e até de fora, com vinhos e doces esquisitos e formidáveis. E depois o meu nome, cheio de ressonâncias italianas, ajudava. Foi aí, nesse dia glorioso que descobri o verdadeiro sentido da expressão fare il portuguese que em nada ofende a nossa gente. Na verdade, quando a grande embaixada ao Papa chegou a Roma, carregada de mil presentes riquíssimos, de animais exóticos, o Sumo Pontifice ordenou aos habitantes ricos que hospedassem os viajantes generosos que chegavam. Parece que alguns italianos se disfarçaram de portugueses para se aboletarem nas opulentas casas  dos hospedeiros romanos e aí comerem e beberem à tripa forra. Eram eles os que fingiam ser portugueses, faziam-se de portugueses, e não a comitiva lusitana que foi benvinda na cidade.

Para a noite desse dia, os meus hospedeiros anunciaram-me que nas termas de Caracala haveria opera, Aida de Verdi e para lá partimos em alegre grupo juntando-nos aos milhares de romanos, os “últimos entre os últimos”, os que nem férias tinham (no dizer de um qualquer apresentador popular do espectáculo). E ouvi uma “Aida” porventura não a mais brilhante, a mais bem cantada mas seguramente a mais aplaudida e cantada pelos espectadores que em tudo o que era coro, obrigavam à repetição para cantarem em conjunto a formidável música de Verdi.

E recordo um primo dos donos do hotelzinho, jurar que Verdi era romano. Eu espantei-me: “mas ele não era da região de Parma?”, "Vagamente", respondeu o romano, "mas sentia-se romano” “E fazia música como um romano” acrescentou outro. Optei por aceitar essa extraordinária versão sobre as “verdadeiras” raízes do enorme músico e já no hotel, cantámos a plenos pulmões, com alguma desafinação e muita paixão tudo o que sabiam eles de Verdi. E era muito, muitíssimo.

 

Tantos anos passados e hoje, ao tentar tomar a bica da manhã, dei-me com uma cidade entorpecida pelos chuviscos recentes, deserta ou quase, mas sem música. E sem Verão.

Mas com o covid a espeitar em cada esquina...

* a citação do início é, obviamente da Traviata e nada tem a ver com a ilustração que apenas dá cor a uma recordação inesquecível. 

(como este blog anda descontrolado, ou sou eu que não sei controlar, informo a leitora Isabel que li, agradeço  respondi ao seu comentário. Um beijo, m.)

estes dias que passam 48'1

d'oliveira, 14.08.20

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Os dias da peste

Jornada 147

As petições

mcr, 14 de Agosto

 

 

anda por aí um forte burburinho à conta do destino a dar às petições que entram no Parlamento. E sobretudo à conta do número de assinantes que uma petição deve ter para ser considerada.

Este critério, na aparência muito democrático, esconde um vício absoluto. De facto, há causas, pouco ou nada populares que, entretanto, merecem ser discutidas. O problema é que, para o efeito, têm de encontrar subscritores em número considerável que defendam a sua entrada no Parlamento.

Por outro lado, há causas que só por ignorância de quem as subscreve trazem atrás delas uma multidão. Eu recebo, de quando em quando, mails a pedir a minha adesão a petições sobre assuntos que ou me não interessam de todo ou, sobre os quais não consigo ter uma opinião que me permita saber se vale ou não a pena pedir um exame atento da questão.

O Parlamento, a meus olhos, merece não ser alvo de uma enxurrada de petições que pouco ou nada acrescentam à cidadania, ao bem público ou que sejam o reflexo de preocupações gerais e sensatas.

Ainda há pouco tempo, circulava uma petição que exigia que a Câmara Municipal do Porto, chumbasse o projecto de instalação do “Corte Inglês” num terreno propriedade desta empresa e situado nos “escombros” (não há outra palavra melhor) da antiga estação de caminho de ferro da linha da Póvoa desactivada há um largo par de anos.

Os peticionários alegam que nesse local, a cem, duzentos, metros do Jardim da praça Mousinho de Albuquerque, vulgo Rotunda da Boavista, se deveria erguer um jardim!

Há aqui algo de aflitivamente imbecil. Na realidade o jardim que cerca o monumento sobre a guerra peninsular é um deserto que, nem sequer serve de passagem especial para quem usa as oito ruas e avenidas que entroncam na enorme praça. Fora, uma que outra animação natalícia ou sãojoanina nunca vi a praça animada. Em tempos, já distantes, ainda aí se realizava a feira do livro que, depois, migrou para a Avenida dos Aliados e agora habita com mais conforto e sombra (e estacionamento, mesmo se pago) no Jardim do Palácio de Cristal. Se bem m recordo, a queixa dos feirantes era a da fraca afluência de público mesmo se a zona tinha uma enorme quantidade de transportes públicos e uma forte densidade de cafés, restaurantes e pastelarias nas proximidades imediatas. Preferiram a Avenida dos Aliados onde à tarde o sol torrava impiedosamente os eventuais compradores e os vendedores mesmo se estes estivessem fracamente protegidos pelas barraquinhas que se transformavam em autênticos fornos.

Mais tarde, apareceu outro projecto tonto e ridículo: propunham umas tantas ou quantas almas que na rotunda se erguesse uma “casa de chá”, pastelaria ou confeitaria. Isto quando na própria praça, na rua Júlio Dinis, na Avenida da Boavista e em mais um ou dois arruamentos existiam dúzia e meia de estabelecimentos com os mesmíssimos fins!!!

Agora, as mesmas almas ou outras similares embirraram com o “Corte Inglês” e o seu projecto de construcção de raiz dos armazéns e de um hotel, num terreno, aliás particular e onde só crece mato, se injectam drogados e se despeja lixo.

Dir-se-á que o edifício, feio, baixo e nada sugestivo da antiga estação merecia ser poupado como memória. Nem isso. Aquela estação nada tinha de interessante, de arquitectonicamente valioso e nem sequer era algo de especialmente memorável. Pior, nunca ninguém apareceu interessado nos diferentes imóveis abandonados da zona que não se restringem aos terrenos da estação.

Mesmo a construção da “Casa da Música” não aliciou investidores embora os espaços imediatamente circundantes sejam frequentados por jovens que utilizam as rampas existentes para acrobacias com os skates. De todo o modo, nenhum deles atravessa a rua para gozar o arvoredo das larguíssimas e desérticas veredas da rotunda.

Indo um pouco mais longe: a zona da Rotunda da Boavista tem uma ocupação francamente terciarizada. Há evidentemente alguns moradores mas a a ocupação humana predominante é de estabelecimentos comerciais e escritórios. O que significa que o jardim solicitado nunca seria logradouro de vizinhos ou de crianças. Argumentar-se-á que, mesmo assim era um “espaço verde” um pouco na continuação do jardim da rotunda. Convenhamos que é pouco, que é caro e que, de qualquer modo nunca teria dimensão que se visse.

Resta saber quem são os peticionários. Vizinhos? É duvidoso dado que como se apontou aquela zona é fundamentalmente de serviços. Restam os do costume, os que peticionam porque sim, porque isso é divertido, os distrai ou porque fica bem assinar uma petição.

É evidente que não sugiro que todo e qualquer abaixo assinante faça em documento anexo a sua declaração de interesses. Basta o alegado interesse público que, porém, e no caso vertente, é dificilmente entendível.

(declaração de interesses: gosto de espaços ajardinados, eu mesmo os frequento, aliás, na zona onde vivo e por extraordinária sorte, metade do espaço urbanizado é um jardim, desde o início. Não me canso de diariamente o ver enquanto tomo café e escrevia antes este blog que por razões de covid está exilado em casa, perto de uma varanda transformada em pequeníssimo (3 m2 ) jardim de inverno. Não sou um frequentar assíduo do Corte Inglês, mesmo se aprecio bastante a sua livraria e o seu supermercado. Também não sou um frequentador regular da rotunda ou da sua zona circundante. Quando quero ar puro vou para a Foz onde há mar e uma escolha enorme de esplanadas. E, finalmente, irritam-me sobremaneira os peticionistas por dá cá aquela palha. São eles os causadores das propostas de desqualificação das petições)

 

* na vinheta: imagem aérea da rotunda da Boavista

estes dias que passam 48'0

d'oliveira, 13.08.20

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Os dias da peste

Jornada 146

as vacinas do nosso descontentamento

mcr, 14 de Agosto

 

 

Sobre as vacinas possíveis contra o vírus já disse tudo e o seu contrário. Todavia, trata-se de algo demasiado importante para grandes sectores da população humana e, por isso, convém alinhar meia dúzia de parágrafos.

A primeira questão a sublinhar tem a ver com os “tempos” requeridos para a investigação, descoberta e comercialização de uma vacina.

Não se duvida de que no primeiro dos casos a tarefa requer tempo, anos provavelmente. Porém, o que até agora se afirmou tinha como base o passado. E, em boa verdade, ninguém se lembrou de analisar esta coisa muito simples. Neste momento, a mobilização de cérebros e de recursos é a maior de sempre. Mais: não há comparação possível com quaisquer outras investigações científicas tais são os recursos mobilizados, a gigantesca chamada de investigadores (os números são, suponho, de tal amplitude que bem podemos falar de exércitos chineses, americanos e europeus, unidos na mesma corrida mas separados quanto ao objectivo que é, digamo-lo sem ambiguidades, o ganho financeiro que está em jogo. Em boa verdade, o bolo dá para todos, divida-se, ou não, por dois, três ou seis, a quantia a entrar nos cofres das grandes farmacêuticas empenhadas.

Claro que a vontade e o número de cientistas e os recursos alocados não resolvem tudo. Mas que aceleram o processo não há quaisquer duvidas.

Portanto, quando aparecem umas alminhas simpáticas, seguramente de boa fé e certamente conhecedoras das voltas que a Ciência dá ou pode dar, referindo que há ou houve vacinas que necessitaram de dez anos de trabalho, esquecem que os tempos são outros, os meios são outros, a velocidade da comunicação é outra e só isso (como já se viu no que toca a investigação científica militar) modifica os dados do problema e permite, teoricamente, pensar numa aceleração importante da investigação.

E é este o factor mas importante. Descubram a coisa que para fazer os ensaios, tantas vezes quanto forem precisas, poderemos ter a certeza que se baterão recordes.

A terceira parte deste problema tem a ver com o fabrico em massa, a comercialização e a distribuição da vacina.

Alguém duvida que as fábricas nascerão como cogumelos depois da chuva? Que os circuitos de distribuição se transformarão e crescerão tanto quanto for necessário e a fabulosa miragem do lucro propuser?

Mais: pelo menos alguns dos grandes países europeus, os EUA e a China já devem ter preparados os meios para rapidamente receberem, distribuírem e aplicarem a vacina. É que não é apenas a saúde dos cidadãos que está em causa mesmo que piedosamente aceitemos que os governos estão preocupadíssimos com ela. É a ECONOMIA, estúpido, a economia a que nem um sistema ultra autoritário como o chinês está imune.

E as pessoas se, de facto se mexem por via da saúde também se mexerão e com a mesma rapidez por via do emprego, da casa, do conforto, do bem estar.

Eu não me estou a armar em Pangloss e a jurar que tudo está bem ou que tudo vai correr bem. As coisas vão correr porque as pessoas, depois de meses de pandemia, estão fartas, ansiosas, indignadas e animadas, Mais uma vez, a globalização tem aqui um efeito multiplicador, acelerador, violento.

Depois de tudo isto, não vou arriscar uma data para a vacina. Mas também me parece ligeiramente presunçosa a opinião que pelos vistos é predominante no Ocidente sobre a “vacina russa” que até já foi aplicada a uma filha do senhor Putin.

Não faço parte da coorte de admiradores pasmados da ciência russa, sobre a qual sei zero, vírgula zero. Nos tempos da outra senhora, a do poder soviético mesmo com a surpresa do Sptunik, sempre me moderei quanto ao “avanço imparável da ciência soviética” que nos era prometido dia sim, dia não pela imprensa e pela propaganda socialistas.

Já houvera anúncios extraordinários e falhanços ainda mais evidentes nesse domínio. O próprio sistema demasiado hierarquizado, politizado, “militarizado” e sofrendo a constante intromissão dos comissários políticos não conseguia, a la longue, competir com a ciência dita capitalista que recorria à desenfreada competição e à miragem da fortuna para os vencedores.

De todo o modo, esse passado passou, permita-se a expressão. Num país grande, enorme, populoso, dotado de importantes instituições científicas tudo é possível e pouco se me dá que o processo até agora se tenha mantido pouco visível. O culto do segredo na Rússia, depois do trauma soviético, é ainda atávico pelo que me parece sofrer de alguma ligeireza o coro de críticas que se fez ouvir. E, mesmo sem me pôr a dançar o “kalinka” alguma suspeita me invade de que, neste vozear do ocidente, possa perpassar um que outro interesse das grandes farmacêuticas que estão na corrida.

A mera e elementar prudência manda que se aguarde para ver. Sem efusões nem apressadas reservas rotundas.

Quanto às opiniões sobre a “descoberta” russa dos habituais comentadores e especialistas que temos aturado nestes meses basta-me dizer que deles já ouvi tudo, absolutamente tudo, excepto uma simples desculpa pelos muitos enganos em que foram caindo ao longo dos meses.

Aquela gente é como os antigos bonecos “sempre em pé”: quanto maior o soco mais depressa se levantam. Não vale a pena gastar mais cera em tão ruins defuntos.

 

(e uma nota: a senhora Ministra da Saúde reapareceu para dizer que a “festa do Avante” terá de respeitar as consabidas regras de distanciamento e prudência. Ou seja que a lotação da Quinta da Atalaia deverá ser reduzida,. É pouco, e a srª Ministra deveria sabe-lo: nos concertos e nos comes e bebes essa regra desfar-se-á como uma bola de sabão.

A verdadeira questão é esta: não se permitiram festivais de Verão, não se permitem discotecas nem bares, os restaurantes fecham cedo e admite-se, nem que seja só em teoria, uma festa das dimensões da do Avante?

Será que está tudo com medo de o PC ocupar a rua em protesto, coisa que sabe fazer como ninguém? Será que a nova “geringonça” que se adivinha estar a caminho permite mais este frete?

Um cavalheiro cínico e bem instalado na vida, dizia há dias no Chiado (quase deserto, às onze e meia da manhã!!!) que se devia permitir a festa pois, de uma só vez “nos livrávamos de umas centenas ou milhares de comunistas tão idosos quanto assanhados” (sic)

Não creio que os círculos governamentais partilhem o mesmo entendimento e a verdade é que a DGS destacou funcionários para discutir “questões técnicas” com emissários do PC. Trata-se de um mau sinal ou de um sinal pouco prudente tanto mais que a nebulosa expressão “questões técnicas” dá para tudo e, pior, será aproveitada para tudo. Incluindo uma recusa final que dará ao PC um papel de vítima quando tudo o que fez foi o de provocar essa decisão que qualquer pessoa mediamente inteligente sabe er a única como aliás sucedeu em França quando os amigos franceses do PC local, suspenderam a sua festa que a do Avante copia há quarenta e tal anos... )

  

 

estes dias que passam 479

d'oliveira, 12.08.20

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Os dias da peste

Jornada 145

Estou farto!!!

mcr, 13 de Agosto

 

 

 

Convenhamos: viver sob a permanente ameaça do covid, sob a constante dança das opiniões de “peritos”, de ignorantes, de comentadores, de políticos. De membros do mesmo Governo que, volta e meia se contradizem!

Que diabo, sou um vulgar cidadão que paga impostos bastante pesados num país onde esse privilégio não ultrapassa os 40% de pagadores; acato as leis, os regulamentos, as posturas municipais, mesmo que, e não poucas vezes, perceba a sua razão de ser.

Assisto entre espantado e confrangido ao espectáculo mediático com que as televisões nos brindam diariamente. Surpreende-me que sejam raros os cidadãos que reclamam contra o tom baço dos noticiários, contra as estridências de pequenos grupos organizados que a coberto de uma qualquer fórmula vagamente política “fazem a lei (da selva)” dão medalhas de cidadania a uns e vituperam muitos mais em nome do progressismo, do anto-fascismo, das mais amplas liberdades, da pátria ameaçada, do país escravizado pela Europa, de uma Europa mítica que ninguém descortina, de um passado glorioso cheio de egrégios avós que raras vezes nos conduziram à vitória...

Nem me atrevo a comparar o clima intelectual e/ou mediático do “jardim à beira mar plantado” (de eucaliptos) com o que outras televisões de outas línguas e geografias me vão mostrando.

Não é que, para lá dos Pirenéus, comece o paraíso de que, à nascença nós peninsulares, fomos afastados. Mas a verdade, a verdade que dói, é esta; eu viveria melhor com os males dos outros do que cá com as maravilhas com que se pintam os actuais governantes e, sobretudo, o senhor Presidente da República que percorre o país de ponta a ponta de beijinho em beijinho, de selfie sobre selfie e se baba de entusiasmo com a final da Champions, prova viva e universal de quão excelentes somos.

Já não ponho os cansados pés num bar há mais de vinte anos. O mesmo se passa com discotecas, o barulho atordoa-me, as músicas são-me desconhecidas, os amigos andam desaparecidos quando não (e quantos, meu Deus quantos!!!) já se passeiam entre nuvens, anjinhos papudos, huris de Mafoma, o Nada que Antero cantou.

Todavia, ainda não percebi exactamente um par de coisas: será assim tão difícil, sobretudo ameaçando, com multas pesadas, proprietários e clientes deixar aquilo abrir? Que diabos, um bar ou uma discoteca é facilmente visitável por dois polícias e um fiscal. Não há assim multidões dispostas a provocar o vírus e a atulhar esses espaços, mesmo sabendo que é gente nova a enchê-los. Entra-se, vê-se quem tem e quem não tem máscara, atenta-se na tal distância social , tiram-se três fotografias e pimba, multa a torto e a direito se as coisas não estiverem nos conformes.

E digo isto porque, pelo que vou vendo, tudo parece preparar-se para dar via livre aos cem mil do “Avante” que, numa espécie de milagre da multiplicação dos pães e dos peixes ao contrário, vão estar distanciados e precavidos nas barraquinhas de comes e bebes, nos concertos e demais eventos desse “grande evento político e cultural”.

A DGS anda em conversações “técnicas” com os quadros do PCP que, pelos vistos, são todos doutorados em segurança sanitária marxista leninista! Proibiram-se todos os festivais de Verão, centenas, ou milhares de festas e romarias, foram canceladas, a “ordem dos médicos” ou alguém por ela ameaça com a obrigatoriedade de máscara nas ruas, cheias ou desertas, a extraordinária OMS que já disse, desdisse e contradisse tudo e o seu contrário, oferecendo o flanco a uma anormal chamado Trump, depois de solenemente avisar contra os perigos da máscara que dava um falso sentimento de segurança, agora fala nas virtudes miraculosas da mesma, fingindo não perceber que as pessoas usam a mesmíssima máscara vezes sem conta, isto quando a compram (ou seja quando tem dinheiro para a comprar...) agora recomenda-a fervorosamente. E é sempre o mesmo cavalheiro de nome impronunciável que debita a nova ordem do dia perante as televisões embasbacadas. E ninguém lhe diz nada? Ninguém lhe pergunta nada? Ninguém lhe recorda o que afirmou ontm, há uma semana, há um mês?

 

A srª Directora Geral da Saúde vem todos os dias (ou quase) expor-se à televisão. Como muitas vezes nada tem a dizer, perde-se em banalidades, narizes de cera, vulgaridades e, custa-me dizê-lo uma espécie de patetices patéticas. Melhor andou a Ministra que percebeu (finalmente!) que, todos os dias na televisão a matraquear mais do mesmo, era excessivo e desapareceu (felizmente) dos ecrãs mandando o sr Secretário de Estado. Este, mais calmo e mais sabedor (vê-se que é médico) lá vai dizendo o que pode. Há dias, comoveu-se e deixou correr “una furtiva lágrima” por num certo dia não se ter registado nenhum óbito.

Percebo-lhe a emoção mesmo se a acho descabida. Em primeiro lugar, ainda teremos de fazer a contabilidade dos três a cinco mil mortos a mais (comparando períodos idênticos de 2019 e 2020) por não ter havido SNS que chegasse para tudo. Depois porque a lágrima adequava-se mais, e diariamente, ao rosário de mortes que aliás continuou

“Cielo si puó morir

di piú non chiedo.”

E atrevo-me a achar descabida ainda, porque de todos os lados (excepção feita da Quinta da Atalaia ...) se fala num Outono ameaçador, numa segunda vaga, em medidas cada vez mais restritivas (a máscara, a mordaça, o açaimo, a injunção para ficar entre quatro paredes a enlouquecer lentamente) nos lares ainda se morre como tordos (e o de Reguengos parece um matadouro, e ninguém desde os de lá, da instituição, da terra, da câmara até à tutela não têm culpa nenhuma, como é costume).

Nas televisões circulou e circula a infame afirmação de que o desastre de Lisboa e arredores nada tem a ver com transportes públicos atulhados! E parece que a srª dr.ª Graça Freitas avalizou esta opinião. Isto é: devemos andar de máscara pelas ruas perigosíssimas quase sem gente mas dos transportes cheios como latas de sardinhas não vem mal ao mundo!!!

 

Acho que por hoje já vomitei fel que chegasse. Amanhã há outro suculento motivo: as vacinas, a russa do Putin, a brasileira, as chinesas e as americanas. E claro, a OMS a debitar conselhos... Raios partam todo este circo!  

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