estes dias que passam 470
Os dias da peste
Jornada 136
Com amigos destes...
mcr, 1 de Agosto
Em Portugal os animais não são especialmente bem tratados. Melhor: não são bem tratados. Ponto, parágrafo.
Dito assim, isto choca muitas e boas almas que têm animais de companhia, mormente cães ou gatos. Cá em casa, por exemplo há gatos, aliás gatas. Mesmo grande, a falta de jardim, inibiu-nos de ter um ou dois cães. As gatas, essas, tem espaço para tudo e passeiam-se triunfalmente pela casa toda a pontos de a CG andar sempre aflita: “Viu a Kiki? Onde é que anda a Ingrid?”
Costumo responder-lhe que se calhar a Kiki saiu para tomar café e a Ingrid foi ao cabeleireiro mas a CG não desarma e não descansa enquanto não encontra a desaparecida. Elas, as gatas, bem que a ouvem chamar, suplicar, ameaçar mas nada. Ela que nos encontre, homessa! Se calhar pensa que é nossa dona! Ah, os humanos...
Todavia não é das gatas de cá e de muitas outras e outros que pretendo falar.
E a ocasião é a mais adequada. O Verão começou e, mesmo com pandemia, muita gente desanda para férias. Que fazer À bicharada doméstica? Pois abandoná-la. No Verão são às centenas os animais que donos inescrupulosos levam para longe e largam. Abandonam, depois de, por uns meses, os terem habituado a depender dos humanos.
A segunda questão que faz com que se deva falar dos animais de companhia é, obviamente, o infame, horrendo espectáculo de Santo Tirso.
Umas centenas de bichos indefesos, fechados num espaço imundo, famélicos e sem poder fugir das chamas que lavravam perto. Que intoxicaram muitos, que queimaram ainda mais, que feriram outros tantos.
Tudo isto nas barbas de uma Câmara Municipal que conhecia o estado miserável dos animais. Tudo isto já comas chamas à porta perante a indiferença de bombeiros, guarda republicana, protecção civil que os pariu e muito povo.
Até que um punhado de pessoas, invadiu o sacrossanto terreno privado e salvou (momentaneamente, repito: momentaneamente...) os desgraçados bichos sobreviventes. As imagens da televisão são medonhas na sua eloquência. Só se viam cães, eu só vi cães com um ar resignado, triste, apavorado e uma extrema docilidade a deixarem-se salvar.
E o que fizeram as “autoridades” locais e nacionais: apontaram umas para as outras numa espécie de sinistro jogo dos quatro cantinhos, tentando salvar o coiro das críticas indignadas. A GNR não tinha “ordens”, os bombeiros andavam a combater o fogo e a salvar casas, o presidente da Câmara presidia como lhe compete e por í fora. Tudo a fugir com o dito cujo à seringa.
A cereja no bolo foram os senhores ministros a uivar indignações longínquas, a crocodilar lágrimas fingidas e a atirar para cima da Direcção Geral de Veterinária com culpas que, ao que tudo indica, ela não tem. Não só porque está longe mas sobretudo porque já dera instruções suficientes para proibir esses canis e gatis clandestinos, fraudulentos, esses campos de concentração que matam à fome e à doença animais que, noutro tempo, teriam sido abatidos justamente para lhes evitar sofrimentos deste tipo, morte lenta, lentíssima por falta de tudo.
A lei antiga, não era genial mas a actual que proíbe o abate de animais abandonados a negra e triste sorte é pior. Condena-os a prisão perpétua e maus tratos perpétuos. Porque são muitos, porque não há instalações para os acolher, porque tudo isso, num país pobre, é caro e cada vez mais caro e porque ao fim e ao cabo tida a gente se está nas tintas. Estão-se borrifando. Estão, com licença de vossas senhorias, cagando. Querem lá saber!
Com amigos destes, os cães e gatos portugueses não precisam de inimigos.
No meio disto tudo, aparece um culpado sinistro: o PAN, essa esdrúxula inventona de alminhas que gostam imenso da natureza e dos animais desde que isso não lhes vá ao bolso. Esse grupo de aventureiros vagamente políticos que já andam ao murro uns com os outros, com demissões e acusações tão imbecis quanto eles próprios que só existe no parlamento porque algumas criaturas fartas de votar nos mesmos entenderam dar-lhes o voto pensando que votavam em gente boa, capaz, inteligente e com ideias novas.
As medidas que o PAN vai apresentando são, coitadas, uma mixórdia vendida ao preço de um bálsamo redentor e caríssimo. E uma delas, a abolição do abate sem precaver meios para manter milhares, dezenas de milhares de animais fugidos, abandonados já merecera de organismos e de profissionais conhecedores e responsáveis a crítica clara que hoje parece de uma evidência atroz.
A qualidade de vida dos animais não melhorou. A natureza não melhorou. Os abandonos não cessaram, bem pelo contrário e os fogos vingativos que cada Verão nos acusam pela inércia, pela falta de políticas sustentáveis, pelo abandono do interior, pela não limpeza da floresta, vieram mostrar claramente que não são do PAN, nem dos Verdes, dos Verdinhos e dos outros.
Este ano de todos os malefícios vai no meio. O desastre ainda vai no adro mas já se pode garantir que em 2020 haverá o dobro ou o triplo de animais abandonados porque muita gente, pura e simplesmente, os não pode sustentar, tratar, manter.
O senhor Director Geral da DG de Veterinária sentiu-se e desistiu. Foi a única pessoa a portar-se com decência e honradez. Voltou para a sua Universidade para dar as aulas que lhe competem e deixa para trás o “saco de gatos” que em má hora aceitara. Há de certeza um boy do PS pronto para lhe suceder. Ou uma girl que nisto de ambições descontroladas há uma absoluta igualdade de género.
Tudo o resto, todas essas personagens de pacotilha que nomeei andam por aí, dormem sem pesadelos, não há um covid misericordioso que as infecte e continuarão a pensar que a culpa morreu solteira. Não era com eles...
Há dias em que me apetece desatar aos tiros. Infelizmente nunca tive uma arma, não sei como é que essa merda funciona e sou como os cães que ladram: não mordo.
Os que foram incinerados também já não mordem. Nem uivam! Nem miam. Estão mortos. Felizmente, porque irracionais, não sabem que muitos outros irão morrer queimados ou de morte lenta.
A gorducha do PAN que volta que não volta vem guinchar para a TV essa nenhum fogo a apanha. Pudera! Está a bom recato. E já percebeu que se o covid não rebenta com os bolsonaros ou os trumps ou os outros (os ortegas, os maduros e os da bielorussia) então também não a beliscarão.
Deus não passou por Santo Tirso. O então, parou, escutou, olhou e fugiu a correr muito.