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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 539

d'oliveira, 10.02.21

MSP figura em madeira. - cópia.JPG

Os dias da peste 175

Histórias de família

mcr, 8 de Fevereiro

 

Durante anos, muitos, felizmente, ouvi a Velha Senhora (a minha avó materna) falar enternecida e saudosa do “avozinho”. Ao que parece ela foi a primeira neta de José da Costa Alemão “Coimbra”( como adiante se explicará).

De facto o meu trisavô José nasceu no Brasil, no seio de uma família portuguesa e em princípio estava destinado a ser médico- Para o efeito veio para Coimbra, onde um tio era Reitor da Universidade. No penúltimo ano do curso zangou-se com o familiar e desandou para o Brasil sem acabar o curso.

Depois de um par de aventuras que até meteram uma longa e penosa exploração terrestre por zonas praticamente desconhecidas, regressou a S Paulo e estabeleceu-se como fazendeiro e enriqueceu.

Tudo corria bem excepto uma incómoda guerra com o Paraguai. O governo brasileiro pretendeu arregimentar os portugueses emigrados para as suas tropas, coia que foi repudiada por bom número de conterrâneos nossos. A revolta foi tal que muitos regressaram a Portugal depois de hostilizados por brasileiros. Outros, algumas centenas recorreram ao Marquês de Sá da Bandeira e em navios enviados por Portugal rumaram ao sul de Angola, trazendo no séquito família, amigos e escravos. Toda esta gente desembarcou em Moçâmedes (hoje Namibe) que na altura era menos do que uma aldeola perdida à beira mar.

O trisavô veio na segunda leva, comandada por ele e por um cunhado e uma vez em terra resolveu refazer a sua próspera fazenda brasileira, desta vez na Chibia (entre Moçâmedes e a futura Sá da Bandeira (hoje – e antes – Lubango). O seu espírito irrequieto entretanto ainda lhe permitiu explorar territórios da zon tendo sido ele o primeiro português a cartografar o rio Bembe desde a nascente. Isto, esta faceta, devo-a a Rui Duarte de Carvalho que menciona o facto suponho que em “Vou lá visitar pastores” Círculo de Leitores, 2000. (o “suponho” deve-se a que, agora, poupo os olhos o mais possível pelo que não fui folhear o livro à procura da página exacta.) Aliás, numa homenagem ao Fernando Assis Pacheco, em Coimbra, tive a sorte de conhecer este originalíssimo escritor e ele prometeu-me (mas não teve tempo) enviar-me uns apontamentos sobre outras aventuras do trisavô.

A fazenda na Chibia prosperou muito a pontos de o general João de Almeida (um dos homens fortes da ocupação do sul da colónia) a mencionar no seu “Sul de Angola – relatório de um governo de distrito 10908-1910”, Agência Geral das Colónias, 1936, 3ª edição (de novo omito a página pelas anteriores razões. De resto foi o meu irmão quem descobriu a menção porquanto JA menciona a “excelente fazenda de Alemão “Coimbra”.

Este sobrenome “Coimbra” que filhos e netos usaram deve-se ao facto do trisavô recordar com ternura a cidade onde estudara. Aliás, naqueles cafundós,  exerceu de médico mesmo faltando-lhe o último ano da faculdade.

Perdi a conta ao número de filhos porque, naqueles ásperos tempos, morria-se com facilidade. Assim se foram, pelo menos, duas esposas legítimas. Dos filhos do avô só conheci o tio Tito Lívio (2’ casamento, em que os três filhos tinham nomes da antiguidade clássica. Os irmãos chamavam-se Horacio e Castorina, A esta ainda a conheci quando passei por Luanda ) que era mais novo do que a sobrinha e que também tivera uma vida cheia de aventuras pois fora batedor do exército colonial, razão pela qual veio a Lisboa nos anos sessenta para relatar os feitos bélicos em que estivara metido. Este tio bisavô era engraçadíssimo e quando se reuniu com a sobrinha (minha avó) começou por lhe dizer “Lili tu eras muito bonita, um pêssego!, um pastel de nata!” A Velha Senhora, contente apesar da provecta idade (já ia nos 70) sorria emocionada.A minha primeira mulher estava deliciada e sussurrava-me que o Tio Bisavô era um "charme". E devia sê-lo pois, na sua longa estadia lisboeta teve que fugir de pensão pois uma criada jurava que o velho a tinha engravidado. O ancião negava com tão pouc convicção que eu e o meu tio Quim ficámos sempre com uma forte suspeita. 

Tito Lívio regressou a Sá da Bandeira e durante a descolonização, a perdemos-lhe o rasto mesmo sabendo que terá guiado um pequeno comboio de aflitos colonos até à Namíbia.

O cunhado do trisavô chamava-se Pedro e era criatura com entrada nos gabinetes e político. A certa altura, já em Angola, apaixonou-se por uma senhora casada e muito bonita e fugiram romanticamente para Lisboa. A esposa abandonada rogou uma praga à roubadora do marido. “que aqueles lindos olhos azuis se apaguem!”. E não é que nem seis meses eram passados e a pobre criatura cegou!

Durante a guerra dos boers, muitos desesperados fugiram da África do Sul, atravessaram a Namíbia e só pararam nosul de Angola. A Velha Senhora contava que o “avozinho” recebeu hospitaleiramente os prófugos, indagando se entre eles havia solteiros pois tinha na parentela que o acompanhara várias casadoiras. E assim nos aliámos a uns Van der Keller que se multiplicaram por terras da Humpata, da Huíla, e de Sá da Bandeira.

O velho senhor já com avançada idade entregou a gestão dos seus bens a um filho também chamado José e este arruinou-o completamente. Tenho por cá, perdida, uma fotografia da Igreja de S Pedroda Huíla tirada por um José Costa Alemão. Encontrei-a num alfarrabista de Lisboa e obviamente comprei-a. Procurei-a mas depois de ter levado com duas injecções intra-oculares desisti. Os meus pobres olhos ardem que se fartam. Das picadelas não me queixo mas o ardor faz-me soltar algumas pérolas domais fino e vivo vicentino de Buarcos, arre!

Assim a vinheta vai com mais um peça de Manuel Sousa Pereira (madeira, 37 x 7 cm. meados anos 80. O alucinado fez esta escultura só para se entreter durante um par de horas. Tinha-a a um canto do atelier e eu, nem uma nem duas, pilhei-a sem dizer água vai. Depois, ofereci-lhe uns livros e ele ficou emocionado não com a oferta mas por eu gostar daquela peça. Era assim o Manel. 

 

 

 

 

 

estes dias que passam 538

d'oliveira, 09.02.21

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os dias da peste

uma carta perdida 

mcr, 9 de Fevereiro

 

como os leitores sabem, os funerais em Nova Orleães tem dois ritmos: para o cemitério a música é lenta, grave, triste. Uma deitado o corpo à terra eenterrado, o regresso é feito num ritmo vivo, alegre, pois o morto está já junto de Deus e livre de incómodos.

Assim se quer este texto que não é mais do que uma carya enviada ao Manel Sousa Pereira em 1988 e que, ao que sei, ele nunca recebeu, Procurei-a a pedido dele, anos a fio, no meio da confusão dos meus arquibvos em papel e nos computadores. Nisso o MSP era bem melhor durante anos imprimiu os meu folhetins com uma paciência de santo e a generosidade de um amigo. 

Vai a carta agora pata onde quer que seja e para quem quer que seja: antigas mulheres e numerosíssimas namoradas, amigos, conhecido e leitores pacientes. Em ritmo vivo e alegre, se posível. E assim vou fazenfo o luto

 

 

Exmo. Senhor

Escultor MSP

a/c Joãozinho Simas

 

 

Já não sei a que Santo me votar, a que bruxa acudir, que remédio (droga, elixir, drageia, xarope, clister, vasectomia...) requerer ao meu médico assistente para quebrar o enguiço que entre V e este seu antigo amigo se ergueu.

 

Forte coisa há-de ter sido para V me ter cortado as voltas, a palavra e as visitas. Bem sei que a pobre mas honrada casa onde descanso o futuro cadáver ao fim de um dia de estrénua labuta intelectual é pequena e situada em local pouco recomendável. Sei ainda que, as mais das vezes, tudo nela falta para receber um hóspede de gabarito: é grande a crise de bailarinas do ventre (todas, ou quase, reconvertidas em agentes do Ayatolah Komeini), as grandes cortesãs dedicam-se apenas aos telefonemas eróticos ou reciclaram-se em escort-girls e, no que toca a jovens púberes de frescos peitos, é o que se sabe: Népia!!!

 

Todavia, tempo houve em que, apesar de tudo, V. era assídua visita da minha garçonnière onde sempre foi servido de leite Agros em quantidade, música de jazz sem restrições e o eterno Frank Sinatra a trinar "strangers in the night..." . Dizem-me mesmo, e disso tenho vaga recordação, que, a horas mortas, estando eu recolhido no meu catre, V entretanto, insone e resoluto, se dedicava a desviar, no meu salon, jovens pecadoras, sabedor que é da máxima amigo não empata amigo e que, por isso, eu jamais me levantaria para lhe perturbar os folguedos eróticos que V, com surpreendente audácia e evangélico silêncio, levava a cabo em minha casa.

 

Parece que tudo isso o vento levou para citar um filme que ambos, há muitos, muitos anos, vimos. De V nem novas nem mandados! Black-out total! Perdido na imensidão do deserto, na frialdade dos gelos polares, na selva espessa e amazónica ou, mais prosaicamente, no labirinto inextricável de Vila do Conde, V terá optado pela velha sentença pas de nouvelles, bonnes nouvelles.

 

Acontece contudo, il.mo e dig.mo escultor, que não estamos nas Franças e Araganças mas apenas, ahimé!, em Portugal, neste rectângulo de mar e vento abandonado pelos deuses imortais e pelos emigrantes, que se recicla em estância de férias de pequenos burgueses da CEE ou em mercado abastecedor de espanhóis fronteiriços.

 

Num país destes cai mal o silêncio e a ausência. As gentes sentem-se órfãs e desprotegidas, suspeitam abandonos e traições, criam rugas e remorsos, desconfiam que caíram em desgraça, coçam as partes pudendas temendo herpes, hemorroidal, impigens, porventura lepra ou tinha. Isto quando as não assola o receio do mau hálito...será? Não será? Cruel suspeita, dúvida terrível, acabrunhante incerteza!

 

Poder-se-ia também temer algum gesto, palavra, acção ou omissão que Vos tenha mortalmente ofendido. Ele há agravos infamíssimos, injúrias imperdoáveis, avanias celeradas, ultrajes inapagáveis que nem um canalha hereditário por parte do pai e da mãe pode suportar sem um gesto de desafronta, sem uma bengalada, um tiro, uma maldição, enfim uma resposta. Nada me pesa, porém, na consciência a não ser uma breve recriminação por não ser alvo de visita Vossa. Mas mesmo essa pundonorosa admoestação foi polvilhada com amigável bonomia. Mais: continuo a defender com unhas e dentes o Fernando Pessoa que cá tenho para oferta e as Vossas obras continuam a ocupar os locais de honra de minha casa. Tudo como dantes quartel em Abrantes.

 

Namoradas também não Vos roubei nenhuma que me lembre. E se, porventura, isso tivesse sucedido não seria tal facto causa de grande guerra: é que, desde o rapto das Sabinas, nós sabemos que as mulheres não representam, para um cavalheiro que se preze, objecto de propriedade imutável e perpétua mas, tão somente, algo de efémero que nos vai acontecendo: uma figura na paisagem, um arco-íris, um breve oásis entre preocupações seriíssimas tais como os resultados do futebol ou a resolução de um problema de palavras cruzadas. Esses débeis seres que só têm alma desde o concílio de Trento não poderiam nunca semear a zizania entre nós. Há que chegue, benza-as Deus Nosso Senhor, e de todos os tamanhos e feitios!

 

Subsiste, apenas, como razão insuficiente e mesquinha de Vosso afastamento algum vitória mais cruel ao "crapaud" ou nas damas chinesas. Disso me penitencio rasgando fervorosamente quatro bons baralhos da afamada litografia Maia. Mais não posso fazer: o azougue, a rapidez, a inteligência, o golpe de vista (e o golpe de asa...),a técnica subtil e empolgante e os favores da Fortuna são consubstanciais à minha personalidade, à minha Weltanschaung como diria aquele reboludo intelectual que V. tanto preza. De resto que mal há em ser vencido em jogos de tavolagem? Acaso o não são também os Brandões (macho, fêmea e cria, quando tiver idade...) , familiares, os Simas bem como os restantes frequentadores da mansão forrada a cimento?

 

Abespinham-se eles por isso, ou, pelo contrário, repegam nas cartas, baralham e voltam a dar, teimosa mas enganadoramente convictos de que alguma vez será ? E quando, por mero acaso, ganham, que festa!

Que alarido! Que empáfia! Que sorrisos de orelha a orelha! Que baba de puro gozo!

 

Eis-me, pois, perdido no mar proceloso da ignorância sobre Vossas motivações, agarrado aos destroços mesquinhos do batel naufragadíssimo, salgado como um bacalhau norueguês, perdida a esperança de ver terras de Espanha areias de Portugal, rodeado de ignominiosos tubarões e evanescentes alforrecas que só esperam o último desfalecimento para me meterem o dente na carne martirizada. É um novo capítulo da história trágico-marítima que ora começa por obra e graça do Vosso desprezo e desatenção.

 

Comino-Vos, portanto, em nome dos mais sagrados princípios (meios e fins...), de Santa Rita de Cássia padroeira, de Staline (que está vivo em nossos corações), de Marilyn Monroe (a quem, porco dio, nunca chegámos) e do spaghetti alla bolognese, a uma resposta, um sinal, um tiro, um foguete de lágrimas. Tudo me servirá -mesmo um bilhete usado do jardim zoológico de Lisboa ou uma pia imagem de santinho já desactivado pelas novas e perigosas doutrinas do concílio Vaticano II.

 

Que se passa? Que se não passa? Passas do Algarve? Pássaras novas na vila, a quem tendes de apaparicar para melhor depois as abaterdes no atelier ou em casa à luz tenória de um quarteirão de velas, passepartout de um engano das ledas e inseguras virgens (?) que, doidonas, ainda se maravilham com Vossas cãs e Vossos passes de chá-chá-chá (ou de chacha?...). Pôssa pró tango Sô Tôr, que eu não mereço tantas e tais afrontas!

mcr

(1988 ) 

* na vinheta: MSP e mcr  em Moledo na casa fraterna da Laurinda e do Manuel SimasSantos. data desconhecida ,as anterior a 2000 ("Tão amigos que nós éramos", titulo de um filme que adorávamos)

estes dias que passam 537

d'oliveira, 08.02.21

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Os dias da peste 173

Como se fora um irmão...

mcr, 8 de Fevereiro

Hoje, pelas oito da manhã, morreu o Manuel Sousa Pereira Escultor, professor, activista cultural, leitor de excelência, amicus certo in re incerta, homem de múltiplas actividades, foi vitimado pelo covid. O Pedro, um filho de que ele se orgulhava sobremaneira (aliás repartia esse orgulho pela Leonor a filha) quis telefonar-me, alegando recear que “eu viesse a saber pela internet”. Enfim ternura por um velho amigo do pai. Aguentei dois minutos até desatar a chorar. Em boa verdade, eu deveria ter conhecido o MSP em Coimbra mo longínquo ano de 1961 por ocasião do proibidíssimo “1º Encontro Nacional de Estudantes”.

O Manuel fazia parte de um aguerrido grupo de estudantes do Porto cujo autocarro foi impedido de circular na zona da Mealhada. O autocarro parou, que remédio mas aquela malta entendeu que havia de chegar a Coimbra pelo que botaram pés ao caminho. Chegaram tarde, mas chegaram entre efe-erre-ás da multidão estudantil concentrada na Praça da República. Já não sei como regressaram-

Porém mesmo que possivelmente nos tenhamos cruzado, só nos encontramos de facto en finais de 74, princípios de 75. E ficamos amigos quase instantaneamente. Se não foi no primeiro, foi no segundo dia que ele mais alguns outros amigos, apareceram na “casa azul” o meu primeiro apartamento aqui a cem metros de distância. Claro que, já todos íamos na quinta ou sexta bejeca e o Manuel já tinha aviado dois pacotes de leite (um remédio contra uma imaginária úlcera que ele tratava com desvelos de mãe cachimbando doses inauditas de tabaco holandês), quando se atreveu a dizer que não gostava de jazz.

Lá tive que, para gáudio dos restantes, lhe dar um curso breve começando obviamente por New Orleans. E tudo explicadinho, desde as letras algumas em cajun até à música de funerais. Quando lhe apresentei Jerry “rol” Morton ele já estava rendido, em parte pela anedota da alcunha em parte por perceber (o MSP tinha uma curiosidade elefântica e gostava de perguntar). Com mais um disco de Ellington já dançava. E que excelente dançarino era ele...

Dois dias depois apareceu-me com a famosa “black box” da Verve, uma antologia do melhor que havia de jazz num conjunto de meia dúzia ou mais de discos LP . Alguém lhe oferecera aquilo mas ele nunca sequer ouvira e entendia que era eu quem devia estrear a audição da caixa que, aliás me oferecida. Recusei a oferta, passei tudo a cassetes num exercício de pirataria de que nunca me arrependi. Hoje tenho tudo aquilo em cd mas comovo-me cada vez que oiço, recordando o gesto desse meu recentíssimo amigo.

A partir daí foi sempre a abrir. Deu-me a enorme honra de ser eu a escrever para o seu primeiro catálogo de exposição individual e até aí exagerou. Enviei-lhe o texto para Vila do Conde onde dava aulas e antecedia-o com uma breve carta. Mal eu adivinhava que nem esta escapava. Em vez de uma apresentação levou com duas “porque”, explicou-me “ gostei dos dois textos!”

O Manuel desenhou-me todas as estantes desta casa, pendurou quadros, fez de marceneiro inúmeras vezes e bebeu-me hectolitros de leite e de café. Tinha um jeito de mãos espantoso a que aliava um bom gosto, um conhecimento e uma cultura absolutamente invejáveis. Ao longo de uma vida que já entrou nos oitenta (fiz 79 há quase três meses...) não serão mais de uma dúzia os artistas que conheci com uma preparação igual ou superior à dele.

É que ele saía da caixa, metia-se em tudo e, em tudo, saía-se bem, com graça, com humor e com uma inigualável ternura. A vinheta aí em cima ilustra uma das suas obras, quiçá a mais importante. Trata-se de um grupo escultórico, encomenda da Câmara de Vila do Conde e inaugurado em 1 de Maio de 2002.

O Manuel está vestido a rigor (a única vez que o vi de gravata!). O cavalheiro grande é o conselheiro do STJ Manuel Simas Santos, amigo do peito e igualmente amigo absoluto do MSP. Eu, uma vez não são vezes, vim sem a gravatinha.

Vi crescer este grupo desde o primeiro barro, ao gesso e por aí fora. Discutimos cada pormenor, melhor eu perguntava e ele explicava. E o tema, trabalhadores da construção civil mostra bem de que farinha era feito o autor. Um profundo respeito e uma total solidariedade com os pequenos, os de baixo, os que são personagens mudas da história. Leitores, desculpem este texto às três pancadas. É que hoje não só levei a paulada da morte do Manuel mas também tenho os olhos como tamancos pois estive a fazer exames desde as três da tarde e já são oito e acabei de chegar à casa cansado, dorido, e a ver as coisas um tanto ou quanto distorcidas. Mas tinha que começar a fazer este luto, o luto por um gajo que reclamava ser meu herdeiro da banda desenhada X. Afinal deixou-me para aqui, só desamparado e triste, muito triste.

A vida prega-nos cada uma! 

estes dias que passam 535

d'oliveira, 07.02.21

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Os dias da peste 172

15% (e uma referencia a uma revolta esquecida)

mcr, 7 de Fevereiro

 

 

Já antes ouvira (ou lera) esta afirmação que ontem, novamente, e repetidamente, apanhei num noticiário televisivo: 15% dos doentes covid com mais de 75 anos morrem. Assim, à bruta: quinze por ccnto.

Nos outros grupos etários a coisa anda pelos dois ou reês por cento.

A informação não é recente bem pelo contrário. Tem meses e terá sido verificada e confirmada no Verão passado.

Aliás, terá sido essa a razão para em quase toda a Europa se ter fixado a barreira dos 75/80 anos para incluir os velhos no primeiro grupo de pessoas a serem vacinadas. De resto, isso mesmo foi exaustivamente visto nas televisões inglesa ou italiana entre outras.

E por cá? Pois por cá, mesmo tendo-se assistido à mortandade em lares, a famosa task force do sr Ramos pretendeu pôr a velharia no terceiro grupo. Foi preciso a gritaria feral e, sobretudo, as intervenções de Marcelo e Costa ( um deles até falou em “tolice”!) para adiantar os macróbios para o 2º grupo e, no caso de terem passado a barreira dos 80, para estes meses.

Este é o rasto, do cavalheiro que tem vivido a saltar de cadeira em cadeira sempre que isso signifique poder. (aliás, e já agora: se a criatura era assim tão excelente, porque é que tendo sido secretário de Estado da actual Ministra, deixou de o ser?).

Portanto, e deixando alguns pormenores demasiadamente nauseabundos, pode dizer-se que a caça aos idosos está aberta: claro que não é exactamente como na Torre Bela mas é igualmente feia.

Andava eu na escola primária de Buarcos e no livro de leitura da quarta classe figurava a história de um homem que conduz o pai para o monte onde o deixará para morrer. Quando lhe entregou o lençol que o protegeria dos frios da noite, o velho disse-lhe que o rasgasse ao meio para mais tarde o filho o usar quando fosse a sua vez de ser abandonado. Aturdido o filho, agarrou no pai e no lençol e voltaram para casa juntos.

Agora já não se levam os velhos para o monte. Deixam-nos nos hospitais! Sobretudo, em alturas de férias ou de épocas festivas. Largam-nos lá e ala que se faz tarde.

Está a acontecer neste momento, segundo a televisão. Parece que alguns familiares alegam que a casa não tem condições para um convalescente. Isto quando se dignam responder aos instantes pedidos do hospital.

O Estado está desarmado perante esta miserável situação. Desconhecem-se propostas claras para ela. De todo o modo, muitos destes “idosos” são doentes pelo que o melhor é não os deixaram na mão dos extremosos familiares e procurar criar estruturas de apoio (cuidados continuados?) que respondam a este estado infame de abandono de pessoas.

Ao ler isto haverá, decerto, alguém que pensará que estou a defender uma causa própria. Que só agora, que estou numa idade avançada (há quem lhe chame bonita mas não partilho essa ideia) é que me deu para mais esta cruzada.

Lamento desapontar quem assim me interpreta mas não é o caso. Pertenço a uma família que, regra geral, sempre teve pessoas muito avançadas em anos por perto. Mesmo agora tenho ainda felizmente vivos quatro tias, a minha mãe e um tio. Tudo nos noventas! A minha avó morreu aos 97 e mae dela que foi vítima de acidente mortal morreu quando eu tinha vinte e cinco anos. E se a memória não m e falha a trisavó morreu quando eu tinha oito anos. É verdade que não conheci a última e só uma vez contactei a penúltima mas todos os restantes e alguns tios recentemente falecidos foram pessoas que contactei constantemente. O meu avô paterno morreu, em casa de meus pais, tinha eu quarenta anos. O pobre senhor tinha um Parkinson tremendo que o horrorizava e o fazia passar um mau bocado. Mas morreu serenamente, de noite, rodeado de cuidados e carinho familiares.

Metade dos meus parceiros de bridge tinham mais do dobro da minha idade e alguns duraram mais do que se esperava. Nem a doença os afastava da mesa de jogo mesmo que tivessem de ser ajudados. Habituei-me a essas presenças, desde cedo e descobri nesses velhos tesouros de toda a ordem. Ainda hoje me arrependo de não os ter chateado mais para poder saber mais de quase tudo, desde a história da colonização do sul de Angola até à história do PC e da oposição portuguesa desde o tempo do salazarismo. Agora só a minha mãe resta para contar coisas da vida familiar e de sucedidos há mais de oitenta anos. Dentre essas histórias recordo uma a da revolta do coronel Genipro de Almeida, chefe do Estado Maior de Angola contra o governador Filomeno da Câmara (um dos da revolta dos Fifis) que se escafedera de Luanda para Benguela (ou Lobito) para o Lobito deixando nas mãos do tenente Alfredo Morais Sarmento documentos em branco mas assinados para proceder a prisões de opositores (entre eles, possivelmente, como assegura Caldas Xavier em “o 20 de Março ou A revolta de Angola”, Luanda 1930, de kuribekas ou seja filiados na maçonaria). A fuga do Governador (alto comissário) e a entrega ilegal de plenos poderes ao azougado Morais Sarmento, levaram o coronel Genipro a fomentar um golpe de Estado colonial levantando todas as guarnições militares do norte da colónia. Ora a minha mãe assistiu à partida das tropas comandadas pelo meu avô em direcção a Luanda. Quando me contou esta aventura político-militar resolvi pesquizar (daí a razão da compra do livro de Caldas Xavier) e descobri que ela tinha uma memória prodigiosa desses dias que aliás terminaram com a morte de Morais Sarmento e a retirada para Portugal de Filomeno da Câmara. O vencedor Genipro não teve grande sorte pois também terminou aí a sua carreira politico-militar tendo regressado à “Metrópole” e provavelmente passado à reserva. Salazar não estimava rebeliões de qualquer espécie. Quando ouvi esta história desesperei-me por não ter interrogado melhor a minha avó que sabia tudo sobre estas querelas.

Tudo isto para explicar o meu interesse na velhada (de que já vou fazendo parte) e de como muitos deles são testemunhas vivas de um mundo desaparecido ou a desaparecer. Boa parte das toliçadas agora perpetradas por diferentes políticos seriam evitadas se houvesse alguém que lhes lembrasse exemplos passados mas não tão longínquos.

Entretanto, e agora, são os velhos quem mais pena e que, curiosamente ou não, quem percebeu melhor a pandemia e quem se está a defender melhor nestas segunda e terceira vagas. Perceberam que com ou sem Ramos eram eles que tinham de se proteger à falta de protecção devida mas incerta dos que detém o poder de vacinar ou não os mais frágeis.

*ma vinheta: capa do çovro de Caldas Xavier citado no texto. eu vem queria pôe uma imagem da revolta mas devo ser um nabo nisto de andar à pesca na internet .

PS o leitor que me lê pela manhã pode ter perdido a serie "o jovem montalbano" qie passa hoje, domingo , na 2 pelas 18.15. 

estes dias que passam 534

d'oliveira, 06.02.21

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Os dias da peste 171

algumas notas avulsas

mcr, 6 de Fevereiro

 

 

O dr. Ramos, ao ter conhecimento dos desvarios no Hospital da Cruz Vermelha de que é presidente desde Novembro ou Dezembro entendeu demitir-se d task force da vacinação, organização que nada tem a ver com o HCV. Aliás, o escândalo CVP sucedeu a um bom par deles com mais ligações ao aparelho de Estado (o HCV é tutelado pelo Ministério da Defesa e pertence maioritariamente à Santa Casa da Misericórdia ) Desentendo assim a razão da saída da task force. A menos que as suas absurdas e continuas declarações políticas tenham feito com que alguém avisado e prudente lhe tenha dado uma palavrinha.

Suponho que também terá posto o lugar de Presidente da Administração do Hospital à disposição. Aí sim, teria toda a razão mesmo se o que aconteceu se deve exclusivamente ao facto dele ser um presidente ausente. Parece que essa “ausência” não terá pesado porquanto a SCM terá reafirmado a sua confiança nele. Pelos vistos não acharam a eventual ausência coisa de importância...

 

O Dr. António Costa entendeu louvar o esforço dos hospitais privados, reconhecendo que, desde Março passado (notem bem: desde Março de 2020!!!) acolheram doentes covid. Actualmente terão pelo menos 300 nas suas enfermarias e UCIs. Antes rarde do que nunca. Ao lado a famosa ideóloga Marta Temido ouvia calada e respeitosa o sermão de Costa.

A verdade mesmo quando expulsa pela porta, entra na casa trepando pela janela.

 

Parece que alguns hospitais vacinaram toda a gente, aproveitando sobras e uma melhor exploração das embalagens das vacinas. Quem porventura passou por hospitais sabe, viu perfeitamente que a divisão entre prioritários da primeira linha, e outros funcionários que frequentam as instalações é frouxa e pequena. Naquele universo fechado as pessoas cruzam-se constantemente umas com as outra e sobretudo com doentes que podem ser assintomáticos mas perigosos...

Mais houve hospitais que já há algum tempo criaram listagem de suplentes para vacinação sempre com regras que, ao que li, me parecem criteriosas.

Isso nada tem a ver com as espertalhice saloias de Portimão ou Setúbal ou Reguengos

 

Escrevi aqui que não sabia ao certo se havia vagares na inoculação das vacinas ou se eram estas que só chegavam lentamente. Pelos vistos é o segundo caso. Resta-nos esperar que o ritmo de entregas pelas farmacêuticas se acelere. E muito. Para consehuir ter 70% da população vacinada no fim do Verão é preciso quintuplicar o número de inoculações por dia. E mobilizar mais meios, mais edifícios com superfície generosa e grandes áreas livres cmo se fez durante as eleições.

 

Há uns meses, depois do pedido de auxílio para a criação de um hospital de campanha, abri os cordões à bolsa e mandei uns milhares de euros. Aquilo fechou. Será que não vali a pena reactivá-lo para o efeito vacina? É preciso mais dinheiro? Quanto mais depressa se responder a isto, mesmo com escassez de vacinas, melhor. Sou tão parvo que desembolsarei outra vez alguns maravedis. Egoisticamente, quero ver o filho da puta do vírus pelas costas, quero sair, quero ir tomar café, ir comer sardinhas na época delas, quero viver o tempo que me resta (e também ele começa a escassear), quero voltar a ir a Lisboa uma vez por mês para estar com a minha praticamente centenária Mãe que aguarda pacientemente (e com uma formidável lucidez !) a sua vez.

 

Continuo a pensar que a srª von der Leyen é um grande mulher. Hoje, assina (com Elisa Ferreira) no “Público”, - um artigo que merece ser lido

Elisa Ferreira está a mostrar o que vale. Ainda bem. E relembro a eurodeputada Mª Manuel Leitão Marques que também não pede meças a ninguém. Ainda não percebi porque razão não foi a cabeça de lista do PS nas eleições para o Parlamento Europeu. Ou, se calhar, percebi demasiado bem...

Também mão percebo raspas de medicina, menos ainda de vacinas. Todavia, não valeria a pena pedir ao Reino Unido um relatório sobre os efeitos da Astra Zeneka nos milhares de idosos já ´vacinados? Sei lá uma simples verificação da quantidade e qualidade dos anti corpos que a vacina terá gerado. É que estão para chegar uns milhões de doses ...

E eu, que pertenço à brigada dos que já estão a cair da tripeça, gostava de saber com que linhas me vou coser...

Leitores cuidem-se, as coisas parecem ligeiramente menos graves mas “enco un effort siv ous voulez voou sen sortir...” ( a citação não é exactamente esta mas serve para provar que mcr tem as suas leituras...)

* na vinheta: o famoso opúsculo do "divino marquez" de onde pilhei a ultima citação. Eu recomendaria a leitura de Sade mas arreceio-me dos filisteus, portanto leiam a srª condessa de Ségur

 

 

estes dias que passam 533

d'oliveira, 05.02.21

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Os dias da peste 170

Os amigos do Donald

mcr, 6 de Fevereiro

 

 

Há já muitos anos, estava eu a dar os primeiros passos neste blog, uma amiga minha veio do México com notícias surpreendentes sobre um líder político de lá que prometia grandes coisas, entre elas a renovação da Esquerda. Eu, macaco velho de rabo pelado e caloso, sempre desconfiei deste tipo de anúncios. Que o PRI (Partido Revolucionário Institucional) mais parecia um cadáver insepulto era mais do que claro. Que urgia uma mudança nas instituições anquilosadas do México onde uma elite instalada governava a seu bel prazer, era evidente.

Todavia, no senhor Lopez Obrador, a mais recente estrela do firmamento mexicamo, eu não via (e depois de me ter informado, não vi) esse sinal de esperança que a minha amiga anunciava.

Os tempos passaram, anos e muitos anos, e Lopez Obrador chegou à Presidência do México. Mo exacyo momento em que o vizinho do Norte era (des)governado pelo extraordinário e bizarro fenómeno, digno de Barnum, Donald Trump.

Vai haver bernarda”, previ ingenuamente. “Estes são como o cão e o gato

Provavelmente, já na altura via mal porque à medida que Trump fanfarronava com o muro, com a ameaça de expulsões maciças, parecia ver-se da parte de Obrador um assentimento mudo, uma disfarçada simpatia que alguns, nanja eu, não esperavam.

Trump foi defenestrado mais pelas burrices próprias do que pelos resultados eleitorais significativos. Mal ou bem, obtivera uma votação record mesmo se Biden o tivesse largamente ultrapassado.

Percebe-se que clamasse contra uma derrota inesperada, fruto muito de um voto que os pais (ou padrastos) da pátria teimam em não consignar na Constituição, o voto postal. Se, porém, tivesse agido com o mínimo de civilidade ( já não se pede elegância coisa provavelmente estranha ao universo esdrúxulo de Trump) poderia ter saído da Casa Branca pela porta grande. Haveria, certamente quem lhe louvasse as virtudes republicanas, mesmo se quatro anos de estridência alucinada e de patacoadas grossas e grosseiras já lhe tivessem minado a estatura presidencial.

Saiu, no entanto, a uivar vingança, a jurar traições e trapaças e, parece, ainda anda a recolher dinheiro para continuar a campanha jurídica que já perdeu e de que forma.

As suas declarações, tecidas de mentiras, de ameaças, de grosserias levaram as redes sociais onde destilava o seu veneno, a cortarem-lhe o acesso depois de múltiplos avisos.

Ora, pelos vistos, agora, Obrador e Bolsonaro (uma tradução, para o português, caricata e em calão de Trump) resolveram entender-se para lançar uma campanha internacional de defesa de Trump, um desgraçadinho vítima do Facebook & similares.

Eu não me facebooko nem, aliás, frequento qualquer rede social exceptuada este do blog. Estou-me marimbando para a sorte das ditas redes e nem sequer me dou ao trabalho de tentar perceber se são úteis ou inúteis. Aliás, nem sequer sei como funcionam. Por junto, sei que se alguém gostr de alguma declaração trata de carregar no botão “like” (se é que sequer percebi isso). Convenhamos que é pouco e não anima nenhum diálogo mas isso é com quem anda por essas redes e se contenta com tal.

Todavia, ao que sei, Trump foi varrido desses territórios por usar sistematicamente de mentiras e de insultos. Parece que, inclusivamente, foi alvo de repetidos avisos aos quais não ligou. Claro que foi corrido quando já estava em fim de mandato e com prognostico eleitoral desfavorável. Ao leão ferido até o burro dá coices...

Bolsonaro e Obrador já tem nos respectivos países problemas mais que suficientes. Em ambos os casos, não se vê que, até à data, tenham tido grande sucesso, bem pelo contrário. Tenho mesmo a ideia que no México mandam mais os gangs da droga que o Presidente. De todo o modo, este está constitucional proibido de se recandidatar e é duvidoso que consiga impor um sucessor pela célebre política do “dedazo”, isto é de o apontar. Isso teve êxito durante décadas de PRI mas parece ter caído em desuso.

Quanto a Bolsonaro, não há expressão que o descreva pelo menos sem cair num vicentino soez e ordinário que, bem que custa, não pratico nem sei usar convenientemente.

Agora, juntarem-se os dois à esquina a tocar concertina e dançar o solidó , e que me parece bizarro. Les beaux esprits se rencontrent dizem os francius “Et les mauvais aussi” reponto eu num gaulês impecável e digno de melhor sorte e melhores personagens.

 

As leitoras apreciarão o facto (facto e não fato!) de hoje não ter atacado o Governo (coisa que venho fazendo desde os tempos de Sócrates (o José!...) e Passos Coelho). Mais, vou publicamente louvar uma declaração da dr.ª Temido que, e muito bem, disse perante os deputados europeus que “ na questão das vacinas, o desafio já não é a eficácia mas a capacidade de as produzir “. Como os meus olhos estão sob vigilância pouco mais li da sua intervenção. Todavia registo que, agora, a Ministra valoriza e agradece os apoios que tem recebido e os que ainda vai receber . Antes tarde do que nunca.

Lembraria, apesar de tudo, que o Centro Europeu de Controlo de Doenças, considera Portugal “o pior no mapa europeu da covid 19” (Público, pag 3)-

E, já agora, saiu uma notícia de que Portugal regrediu no capítulo das liberdades e direitos democráticos e que é considerado uma “democracia com falhas”. Parece que alguns indicadores nos são (enquanto país) desfavoráveis. Aceito que a passagem dos debates semanais para quinzenais no Parlamento, e o caso da substituição do Presidente do Tribunal de Contas mereçam censura. Já no que respeita ao confinamento e às restrições temporárias que comporta, gostaria de ver como é que se evitam mais mortes do que as que desgraçadamente já temos (+-300/dia). E a verdade é que, desde que começou este novo período baixou significativamente o número de infecções )Ainda não sei os números de hoje). Não sei quem são os avaliadores da democracia que nos baixaram de lugar mas tenho uma vaga ideia de que talvez não saibam exactamente o valor da liberdade. É que eu passei 33  anos (trinta e três, a idade de Cristo) sob a pata de um governo não democrático. E como sou (ou era) um mau carácter, levei uns largos pares de safanões dados a tempo e a destempo. Claro que me custa não poder ir beber a bica à esplanada, conversar com amigos. E detesto andar com açaime. Ou com mordaça se preferirem! Máscaras nem pelo carnaval, mesmo o de Veneza.

Cuidem-se, aguentem, leiam, não se resignem nem chateiem demasiadamente os familiares mais prócimos que, como vós estão metido nesta fossa até ao pescoço.

Na vinheta: o “muro” na fronteira americano-mexicana.

 

PS varios/as leitores/as e amigos mandaram-me mails ou telefonaram inquietos com os meus olhos. Comovida e ternamente agradço a simpatia e o desvelo. eu não me rendo facilmente. Tenho medo mas a alternativa às injecções nos olhos (brrr,  arre!) é ir cegando. Portanto lá estari intrépido e com um aperto no coração, para a primeira dose. Se fosse americano e crente diria God bless you all. Como não sou digo-o à mesma e com o mesmissimo sentimento de gratidão.

estes dias que passam 532

d'oliveira, 04.02.21

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Os dias da peste 169

Vacinas a menos ou vagar a mais?

mcr, 4 de Fevereiro

 

Segundo o “Público”, a manter-se o ritmo de vacinações actual, só atingiremos a imunidade de grupo no dia 10 de Agosto de 2024!

Para conseguirmos chegar a esse objectivo em fin ais de Agosto deste anos teremos que sextuplicar o ritmo, ou seja teremos que vacinar qualquer coisa como 60.000 pessoas dia.

Antes de começar a vociferar contra o Governo tenho de perguntar se isto, este “vagar” se deve à falta de vacinas ou à falta de efectivos humanos para inocular os pacientes. Destes apressados não deve haver falta pois corre que já ultrapassa os 300 os casos de espertalhões que se meterem à frente como ocorreu com o hospital da Cruz Vermelha e que levou em boa hora o famigerado dr. Ramos para a sua vidinha. (eu ontem escrevi que esta criatura não passava de um pavão arrogante. Os pavões que me desculpem mas o que eu queria realmente dizer é que ele é um vago peru que julga ser pavão. O facto de ser ter demitido devido ao escândalo do HCV não o torna melhor. Fez o que devia, o que se impunha e, provavelmente conseguiu livrar-se do sarilho que a sua errática gestão estava a provocar. Em boa verdade, de cada vez que abria a boquinha, agravava o seu caso e mais uma vez provava que o Principio de Peter é verdadeiro)

Eu não tenho uma escrita actualizada do número de vacinas chegadas ao “torrãozinho de açúcar”. Esse é o trabalho da Ministra e dos seus funcionários.

Portanto, e para abreviar: se estamos a progredir a passos de caracol há que saber se estamos a consumir todas as vacinas disponíveis a cada momento. Se, pelo contrário, andamos numa valsa lenta, lentíssima, então conviria saber onde reside a falha.

 

Está explicado o título do folhetim de hoje. Já agora, explico o título de ontem. Por preguiça e para poupar estes maltratados olhos (cfr o mesmo texto) relembro que o filme “O cão andaluz” tem um par de fotogramas alucinantes onde se vê um olho humano a ser cortado ao meio. Sou um admirador devoto de Buñuel mas nunca esqueci estea imagem do seu primeiro (suponho) filme, um ensaio audaz de fazer o surrealismo entrar no grande ecrã.

 

O que nada tem a ver com estas erráticas digressões cinematográficas é a chegada de pessoal médico militar alemão que vem ajudar a combater o pico da crise.

Será num hospital privado que estes médicos e enfermeiros trabalharão sob a coordenação de uma alta patente do Exército alemão. O hospital da Luz não só fornece enfermaria UCI mas todo o apoio hospitalar à equipa alemã e, pela notícia, esta unidade disporá de mais de uma centena de camas dedicadas ao tratamento do covid. O silêncio dos críticos da “mercantilização da saúde” é ensurdecedor. Aliás, o silêncio quanto às questões mais melindrosas tem sido a regra o mesmo se podendo dizer no que toca a negociações para ajuda internacional. Até ao momento, e recorrendo de novo, o meu francês de trazer por casa, estes temas tem saído du bout des lévres de Marta Temido. O raio da realidade tem-lhe caído em cima com força e a pobre criatura faz de conta que nunca clamou contra “os privados” nem nunca os afastou de uma solução que era imperativa para salvar vidas e salvá-las depressa e bem. E mesmo agora, quando são bastantes as unidades provadas que recebem e tratam doentes covid, há um silêncio constrangedor nas boquinhas oficiais mesmo se, à socapa, mandam para lá familiares e amigos. Ou seja, uma prática comum em todos os países onde há serviço estatal de saúde e serviços provados que se conseguem unir e harmonizar na cruzada da saúde, é em Portugal ignorada e/ou hostilizada.

Essa hostilidade estende-se ou parece estender-se às 1500 farmácias deste país que, segundo o desaparecido Ramos não pareciam necessárias par vacinar pessoas atemorizadas e sem amigos no sítio certo (o das vacinas “sobrantes”...) Contas por baixo, uma farmácia poderia vacinar vinte, trinta até cinquenta pessoas por dia. Partamos do primeiro número. Isso poderia significar trinta mil pessoas dia ou setenta e cinco mil no caso de se conseguir vacinas para cinquenta Trinta mil pessoas dia, numa semana de apenas cinco dias dá cento e cinquenta mil por mês no patamar mais baixo. Não serve? Acham que as farmácias que vacinam desde sempre as pessoas contra a gripe não conseguem isso ou mais, ou muito mais?

Ou não querem?

Deixo a resposta convosco, caros leitores que, provavelmente, como eu, aguardam paciente mas ansiosamente (passe o paradoxo) o dia D da invasão dos produtores de anticorpos. Até lá, saúde, muita

 

* na vinheta máscaras contra a peste dos médicos venezianos

 

estes dias que passam 531

d'oliveira, 03.02.21

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estes dias que passam 167

como o cão andaluz

mcr 3 de Fevereiro

 

 

isto hoje vi curto grosso, a despachar. Já contei que fiz uma operação às cataratas, no caso, só uma, no olho esquerdo. Correu tudo bem mas...

Mas descobriu-se agora que eu também tenho lesões em ambos os olhos, uma doença degenerativa que só se travará com umas injecções intraoculares, de quatro em quatro semanas sabe-se lá por quanto tempo. A professora que me atendeu disse-me com uma brutalidade que lhe agradeço que tem um doente desde 2006!

Portanto, “o melhor, afirmou, é começar quanto antes com o tratamento. Se quiser é já hoje”. Aturdido, assustado mas intrépido, respondi-lhe: “vamos a isso”. O medo dá-me forças que eu ignoro. Todavia, descobriu-se que, como eu tinha ido para o hospital a guiar, não convinha sobretudo porque as injecções não deixam nenhum olho de fora. Portanto, para daqui a oito dias, pels 14.45 lá estarei. Com medo claro, mas com mais vontade inda de continuar a ler, mesmo com conta e medida. E a jogar bridge no computador. E a escrever estas balivérnias (ia a dizer que hoje a coisa é mais lamúria que o costume mas o caso não é para menos). E a chatear esta gente que nos desgoverna, estes intelectuais que escrevem para o umbigo, estes críticos que são sobretudo crípticos e tutti quanti.

Ia-me esquecendo dos cineastas indígenas que todos os anos dão ao mundo um par de obras primas que ninguém vê e são sempre rotundos fracassos de bilheteira. A culpa é, claro, do público boçal, da falta de visão de quem devia ajudar o cinema, o costume.

Co teatro já nem falo uma vez que vi uma audaciosa encenação do Frei Luís de Sousa em que a pobre da Maria aparecia semi-nua e apalpada pelo criado enquanto o romeiro rosnava que não era ninguém.

Tirando dois ou três casos sérios e honrados, o teatro que se faz é inexistente. Não se produzem as grandes peças do repertório porque exigem muitos actores e não há orçamento que aguente. Quando por acaso se afirma que se está a traxer um clássico à cena, o resultado é apenas uma vaga interpretação pessoal e pindérica e ignara do que o autor teria pensado e nunca o que realmente escreveu.

Há mais actores, encenadores, técnicos do que espectadores. Assim a miserável subvenção estatal não chega tanto mais que o bolo tem de ser dividido por muitos. Estes muitos, se preteridos, armam um escândalo dos diabos, que a imprensa faz ecoar. Convido os leitores que tiverem pachorra a inventariar o número de companhias de teatro que se constituem. Depois, veja-se qual o orçamento para o sector e digam-me da vossa justiça.

Mas finalmente, o que hoje me tira do sério são os miseráveis olhos cansados e tristes que envelheceram num dia dez anos. Depressa vacinem-me que estou já no grupo prioritário. E com jeito também sou hipertenso, obeso e diabético. E as vacinas estragam-se se não forem aplicadas.

 

(ia acabar ali em cima mas tive a feliz noticia da demissão do senhor Ramos que, na minha modesta opinião mais parecia um pavão arrogante . Bon debarras, como dizem os franceses.

O dr. Costa diz que os que furaram as regras da vacinação devem ser punidos. Em boa hora: comece pelo cavalheiro de Reguengos, dê um salto a Setúbal e continue por Portimão onde uma senhora da Comissão Nacional do PS. Logo veremos se falou a sério...)

*ma vinheta : uma imagem de “um cão andaluz” do genial Luis Buñuel e de Salvador Dali

estes dias que passam 530

d'oliveira, 02.02.21

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Os dias da peste 167

Habilidades a sul

mcr, 2 de Fevereiro

 

Eu bem qque queria encerrar o capitulo das espertalhice saloias mas que querem? Aquilo sogre mutações mais depressa que o covid inglês, aliás já lhe chamam a variante portuguesa.

Desta feita foi no Algarve: uma excelentíssima presidente de Câmara de seu nome Isilda e membro do Secretariado Nacional do PS. A referida senhora alistou-se como voluntária num hospital de campanha onde tem a função de “intermediar” chamadas telefónicas entre doentes e familiares. Note-se que o apostolado laico se desenvolve em zona onde não entra doente. Segundo a prestimosa criatura, ela tem direito à vacina não só pelo seu altruísmo mas porque tem actividades eventuais na protecção civil também porque é obesa e tem hipertensão o que a coloca bnum grupo de risco. E tão grande é este que foi vacinada mesmo antes de enfermeiros esses sim na linha da frente. Há aliás uma colega intermediadora que por ser eventualmente esbelta não cheirou a vacina nem de perto nem de longe.

A pressa nem sempre é boa conselheira porque bastar-lhe-ia esperar até hoje e já entraria num grupo prioritário, o dos presidentes de Câmara pois descobriu-se que eles são também elementos da protecção civil

Os caros/as lei tores/as vão de certeza assistir ao desfilar de familiares das ditas notabilidades locais a serem vacinados porque que sim, por que não ou quem dera. Vai ser um fartote tanto mais que está dado o mote. A conhecida luminária que exerce de Secretário de Estado da Saúde recusou-se a comentar o caso Isilda por não o conhecer em pormenor, por não estar habilitado, por não querer interferir, por isto, por aquilo e por aqueloutro. Este cavalheiro poderá não ser especialmente competente como governante mas numa coisa pode vir a ser campeão: a fugir com o rabo à seringa. Note-se que a seringa em causa não será a da vacina, claro que dessa, pelos vistos ninguém foge antes se precipitam de braço ao léu clamando “Também eu, Também eu!”

Noticiou-se entretanto que o Ministério Público abriu ou vai abrir inquéritos a estes sobressaltos sanitários. Não duvido que os inquéritos sejam abertos mas ponho em dúvida ue alguma vez sejam fechados não só pelo número que já se conhece de vacinados mas sobretudo pelas ligações destes com o Poder. Isto vai ser um mega processo de arromba que terminará mais com a morte por qualquer causa dos vacinados do que perante um juiz

Y, o meu amigo que vive no Alentejo, retirado num monte sem cuidados especiais de administração (tem sociedade com a empresa que lhe vai cortar a cortiça, há um negociante de porcos que trata dos bichos que pastam livremente e acolheu uns hippies alemães reformados que lhe tratam da horta e do jardim contra o alojamento gratuito numas casas do monte e parte do produto da terra. Com uma obrigação: banho diário. ”Heinzie disse-me ele, aquilo até boa rapaziada mas não se podia chegar a meia dúzia de metros deles.

Agora andam limpinhos, as crianças vão à escola e tomam banho na piscina e os mais velhos podem levar livros da biblioteca. Até os encapam com um papel de embrulho para não os estragar. E houve um que se ofereceu para fazer o catálogo informático da livralhada...” (Pedi-lhe pelas alminhas que aceitasse e informasse o perito em catalogação que andam por aqui 25000 volumes à espera de tratamento idêntico e pago pelo preço que pedir).

Y, dizia eu, antes de me interromper tão grosseiramente, tem uma teoria: ”Não penses que são só os boys & girls do PS a mamar. Há provedores de Misericórdias, padres no activo e no passivo, gente bem, todos ao mesmo. O que os distingue é que uns estão na mó de cima e é mais fácil deitar a mão ao bolo. Os outros tem de se esforçar. Eu bastava-me oferecer dois ou três porcos já desmanchados e prontos a consumir, presuntos, paios, salpicões, chouriços e tudo o resto. O diabo é que a vacina que eu queria era para a erecção rápida e duradoura. Com sorte o covid nem sabe onde é que vivo !”

Não vos vou dizer o comentário que fiz mas dada a provecta idade que já tenho decerto perceberão. É bem verdade que quem já viveu não tem muito que se queixar, mas em algumas coisas eu ainda era capaz de viver mais um par de vezes. Paciência, como dizia a hidra, ou o Zé Afonso, já nem sei.

Amanhã, se for possível, continuarei o relato desta conversa com velhos amigos apresentando a minha imperecível e improvável amiga Jujú Cachimbinha e a sua bisneta Zaida das pistolas. Vão ver que nisto de dizer mal, o mulherio é impiedoso. Ui!

Na vinheta: um bronze (39x15) do Manuel Sousa Pereira, o escultor que cá em casa fazia de carpinteiro, marceneiro, bebedor de hectolitros de leite e jogador de bilhar. Está no hospital com o vírus filho da puta. Parece que este, atacou brandamente, mas atacou, e o MSP já não é nenhuma criança. Vai safar-se, espero-o ardentemente ,e voltará para nos quilhar a paciência com o “strangers in the night”, o Fred Astaire e o filme “Por mais um punhado de dólares”, Aguenta isso Manel, salut e forza nel canut!

estes dias que passam 529

d'oliveira, 01.02.21

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Os dias da peste 166

para acabar com a conversa fiada

mcr, 1 de Fevereiro

 

 

As presidenciais já nem novidade são mas ainda há quem as comente como se tivessem ocorrido em Marte. Só assim, a essa distância medonha, é que se explica que haja quem insista em ver ainda menos do que eu que saí duma operação às cataratas e ainda não tenho s lentes definitivas.

Eu tenho estima, leio-me dia sim dia não, pelo historiador Rui Tavares. Discordo dele muitas vezes, o que aliás também sucede com o seu companheiro de página José Miguel Tavares. Mas leio ambos com simpatia porque acredito na sua honradez jornalística e na vontade de elucidar os leitores e debater lealmente pontos de vista.

O problema é quando as opções eleitorais, no caso a candidatura de Ana Gomes. Tavares (Rui) resolveu apoiá-la, no âmbito de um mirífico projecto de unidade de Esquerda que ele vem perseguindo sem êxito desde há muito. Aliás contraditoriamente como a história recente demonstra: Tavares foi euro-deputado pelo BE, zangou-se e, em vez de sair entregando o lugar a um substituto, fez todo o resto do mandato como independente, Depois fundou o “LIVRE” projecto tão generoso quanto fora da realidade. Nesse capítulo teve a a aventura daquela candidata que levou ao colo entre juras de amor partidário e que lha pregou bem pregada. Recentemente, andou a apelar a uma unidade da Esquerda como se, historiador que é, não percebesse nada da história destes últimos dez anos (não são precisos mais) em que a Esquerda nunca se encontrou, antes andou ao encontrão, mesmo se para ultrapassar uma notória derrota do PS tivesse inventado a Geringonça.

Todavia, o ano passado, essa fugidia unidade levou “para tabaco” culminando com a bizarra – e uso uma expressão suave – questão do orçamento. O BE votou contra e o PC limitou-se a abster-se, o mesmo é dizer que nenhum deles concordava com o orçamento do parceiro socialista. Com amigos assim não parece necessário andar à procura de adversários.

Entretanto, as eleições estavam no horizonte. Tavares relembra que preveniu que deixar o terreno livre a Marcelo sem ter em linha de conta uma Direita Radical era um risco temível. Vai daí, meses depois, anunciou com estrondo que, face à inexistência de um candidato do PS e ao aparecimento de Ana Gomes estaria com esta última (uma das razões porque simpatizo com os dois Tavares é porque eles remam contra a corrente e apoiam perdedores. Com uma diferença: eu sei que são perdedores e que vão inexoravelmente perder.).

Pelos vistos, Tavares ainda esperava ou sonhava com uma concentração de votos na candidata, como se o PC e o BE se pudessem dar ao luxo de não ir a jogo para marcar posição.

É verdade que, provavelmente, Ana Gomes canibalizou alguma da esperada votação em Marisa Matias o que foi suficiente para ter mais um pequeno punhado de votos do que o candidato Ventura.

Vejamos isto mais em pormenor:

Em primeiro lugar nisto de presidenciais só vale o primeiro lugar. O resto é fantasia, não há prémios de consolação, não há prémio da “montanha” nem Taça europa. Ponto, parágrafo.

Segundo: avançar com o desiderato de, numa eleição deste tipo, travar o candidato da Direita é pobrete, não alegrete e não tem sentido nenhum. À uma porque não se trava coisa nenhuma, depois porque, só longinquamente se podem tirar ilações fazer transposições do voto para autárquicas (as próximas) ou legislativas que estão longe.

Terceiro, ter mais votos que o dito candidato é tão pueril (ou estúpido) quanto a aposta daquele (bater a Esquerda Reunida, entendo nesse salsifré PC, BE e Gomes ou seja ter mais de 21%).

Quarto, vir vangloriar-se do facto da candidata ter tido mais uns escassíssimos milhares de votos do que a personificação do diabo, esquecendo que muitos desses votos foram “roubados” a Marisa, numa espécie de tentação pelo “voto útil” e um engano de alma ledo e cego ou enganar os leitores.

É evidente que, depois de Costa, com a sua habitual habilidade táctica (mas sempre sem estratégia consistente), ter afiançado o voto maioritário do PS em Marcelo (o seu melhor aliado possível e o eu principal sustentáculo), este ganharia as eleições limpamente, sem apelo nem agravo, à primeira volta.

Em suma, inventou-se uma corrida que nada tinha a ver com a real de modo a tirar dos pobres resultados qualquer coisinha para dourar a pílula.

Portanto, e para abreviar: Ana Gomes não ganhou coisa nenhuma, não travou o Ventura, não lançou o pedronunismo, não fez o pleno dos “não constistas” do ps (Isabel Moreira correu votar no candidato do PC e não terá sido a única) Inclusivamente não conseguiu como o seu pretenso adversário, sequer ir à 2ª volta, voto pio ridículo atentas as realidades em jogo.

Eu não sou adivinho, menos ainda uma Cassandra, para vir dizer que Ana Gomes já foi, perdeu a última possibilidade – ja tem 66 aninhos!!! – de riscar, mas também não lhe antevejo um futuro político radioso. Já tinha uma forte dose de anticorpos na sociedade portuguesa mas o “roubo” de votos ao BE não deve ter melhorado as coisas. De resto, ao fim de uma campanha que resta do discurso político de Gomes? Quem souber que responda.

 

A tempo: uma livraria alfarrabista on line chamada “narrativaobvia” tem uma campanha de venda a bom preço de livros de poeasia (entre eles notei o “Fel” de José Duro mas há mais, muito mais) E anda por aí um novo livro de Miguel Manso (“Estojo”). Vale (muito) a pena.

? Na vinheta: máscara Bembe, usada pela sociedade Bwami” ligada aos ritos de iniciação). Pigmentos vermelhos, brancos e castanhos, madeira 60x20 cm. Sº/3º quartel do sec XX. A etnia Bembe habita o nordeste da República Democrática do Congo, um território onde se imbricam, miscigenam e confundem várias etnias. Esta máscara é a última a aterrar cá em casa

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