liberdade vigiada 92
liberdade vigada 92
para férias com frio
(ou quase...)
mcr, 31 de Julho
Isto de fazer férias no Norte, junto do mar frio, com nortada, tem muito que se lhe diga. À uma o tempo não está propriamente quente, o que suscita alguma reserva quanto a banhos de mar. Depois, esta coisa do certificado ainda não está suficientemente aclarada, ou melhor ainda o não temos se bem que estejamos vacinados há bastante tempo. Vamos tratar disso na última hora! Como de costume. De todo o modo, o restaurante onde há dois anos jantávamos (bem) não tem esplanada (a menos que já a tenham feito...) pelo que o incómodo é natural.
Finalmente vou submeter.me a uma pequena cirurgia que de algum modo me estraga o plano de férias, sobretudo por que me obriga a ir ao hospital num sábado para fazer o teste covid!
E depois, na segunda quinzena irei para Oeiras acompanhar a minha Mãe pois o meu irmão, que vive perto, vai para férias. A excelente senhora nunca pede companhia mas, na verdade, ficamos mais descansados e ela fica contente. Cem anos são cem anos e também não podemos desperdiçar estes dias que não sabemos por quanto tempo ainda a teremos viva, lúcida e bem disposta entre nós.
E já que falamos nos imponderáveis da vida, não posso omitir que o país perde população. Neste caso, há em relação ao anterior censo, 200.000 portugueses a menos, o interior continua a ver partir gente para o litoral e, no primeiro semestre do ano. nasceram quatro mil quatrocentas e setenta e quatro crianças a menos do que no ano passado! E para o défice demográfico não há bazuca que nos valha.
A notícia vem hoje escarrapachada no jornal mas, entrados na silly season, ninguém vai prestar muita atenção.
E em Setembro temos as autárquicas que provavelmente monopolizarão todas as atenções. Aliás alguns actores já deram os primeiros tiros, a começar pelo dr. Costa que quer ganhar todas as Câmaras do distrito do Porto. claro que todos os líderes querem ganhar tudo mas assim de repente meter ao bolso todas câmaras parece-me um tanto o u quanto irreal. Tanto mais que, no caso do Porto, o PS apresenta um candidato física e politicamente macilento e fraquinho que eventualmente ultrapassará o do PPD, outro desconhecido que só será “confiável” aos olhos do dr. Rui Rio. Todavia, como há quatro anos aconteceu, a caça a Rui Moreira recomeçou. Desta vez, um juiz de instrução entendeu fazer exactamente o contrário do anterior. E onde Moreira escapava de julgamento agora terá de ir a tribunal. Note-se que foi o actual Presidente da Câmara do Porto quem pediu a intervenção judicial...
Só conheço do processo o que os jornais noticiam pelo que me é difícil aquilatar a importância da razoabilidade
das provas contra Moreira. Todavia, e a exemplo das criaturas que, no caso Sócrates, avisavam que até ao transito em julgado da sentença ele era inocente, também eu dou a Rui Moreira, que mal conheço, o benefício da dúvida e irei, provavelmente, dar-lhe, outra vez, o meu voto, não por ser o melhor candidato mas tão só por ser, de longe, o menos mau o que o põe na posição de candidato razoável entre criaturas inexistentes, medíocres, desconhecidas ou disparatadas
Entretanto, a pátria prepara-se para ir a banhos. Pelos vistos, e os políticos em primeiro lugar a ideia é “fazer férias cá dentro”, fundamentalmente no Algarve onde as temperaturas dão dez graus a mais do que o Norte.
Ir a banhos significa literatura Light, jornais Light, política idem. Hoje, o sr Presidente da República vai ao Brasil visitar o ressuscitado Museu da Língua Portuguesa. Encontrará dois antigos presidentes e o actual, bem como dois ou três presidentes dos Palop. Não vai, portanto e para já, “a banhos”. Os repórteres fotográficos brasileiros não terõ a sublime oportunidade de verem um presidente a esbracejar no mar revolto mostrando de que têmpera antiga e náutica é feito o povo português ou, pelo menos, o seu mais importante cidadão. Isso, esssa quase ode marítima e triunfl reserva-a o Dr. Rebelo de sousa aos habitantes e turistas da vila e corte de Cascais.
Nesta deslocação bem poderia o Presidente dar por findo e enterrado o acordo sobre a ortografia que de acordo só tem o nome e cuja inutilidade e prejuízo são manifestos. E teria, sabe-se o aplauso dos africanos que nunca o subscreveram. Mas não o fará, evidentemente. Como também Soares, Cavaco ou Sampaio o não fizeram . Ninguém se lembra, claro, mas estes quatro cavaleiros do apocalipse da nossa escrita foram vencidos ou convencidos pela insignificante figura de um certo Malaca Casteleiro um académico sem especial importância ou projecção e desastrado autor de um dicionário que nunca viria a ser reeditado dadas, segundo o editor, as “falhas e imprecisões” de que sofria. Foi um encarniçado propagandista do acordo sem que, todavia, dos seus argumentos se tirem razões que permitam dignificar um acordo feito às três pancadas que desfigura a ortografia e sobretudo a língua.
A menos que a reinauguração do “Museu da Língua Portuguesa” queira, de facto, significar que a nossa língua, como o latim, já só é uma peça de museu morta e sem uso que a dignifique.
*na vinheta: o “museu da língua portuguesa”, instalado na antiga Estação da Luz, em edifício construído nos finais do sec. XIX para a São Paulo Railways