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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

au bonheur des dames 412

d'oliveira, 30.09.21

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...Outra na ferradura

mcr, 30-9-20

 

 

Sei bem que o trocadilho que estou a usar não é do melhor gosto mas também sei que, no caso em apreço, o visado não merece mais trabalho.

Vejamos então: correu nos mentideiros habituais que em Portugal são a única fonte possível de notícias descarnadas e sem o tal toque de fantasia com que costumam adornar-se, que o sr Ministro Cravinho não gosta do chefe de Estado Maior da Armada.

Pelos vistos, este, terá sido demasiado sincero quanto a algumas opções ministeriais. Convirá, entretanto, esclarecer que as opiniões expendidas pelo CEMA tiveram lugar no local próprio e altura própria nada transpirando para o exterior. De todo o modo o almirante em questão disse o que entendia dever dizer porque lhe foi pedido/perguntado/sugerido tal

Ora a opinião do representante da Matinha não coincidiu com a do Ministro. Todavia, isto, este desencontro de ideias é exactamente o que pode ocorrer sempre que o sr. Ministro quer saber qualquer coisa. Umas vezes haverá concordância, noutras reticência. É normal e o contrário seria surpreendente.

Portanto, desde há duas três semanas corri o zunzum de que o Ministro queria “despachar” o marinheiro para uma qualquer doca seca e substituí-lo por alguém que parecesse mais concordante.

Entretanto, e paralelamente, começou a falar-se no vice-almirante Gouveia e Melo que estava já de âncora levantada do seu último teatro de operações. Dizia-se té que, caso não se encontrasse tarefa digna deste excelente servidor público, ele teria de passar à reforma por qualquer razão que já não recordo.

As condições para uma tempestade perfeita combinaram-se. Gouveia e Melo, justamente aureolado, pelo êxito de uma missão limpa e honrosamente cumprida, aclamado dentro e fora do país , parecia ser um bom substituto para o CEMA que entretanto só terminaria normalmente o seu mandato em 2023.

E assim, pela calada, o sr Ministro, chamou o CEMA para em conversa privada, sem conhecimento do “comandante supremo das forças armadas” (isto é, do Presidente da República que no caso é sempre chamado a intervir) e informou este oficial superior e, pelos vistos, reconhecidamente competente, que não engraçava com a sua cara, ou com as suas opiniões (sempre estrictamete reservadas) ou com seu modo de fazer a continência.

E sempre pela calada, esperava o senhor governante que o almirante saísse de cena (se possível pelo seu pé...) para espantar o mundo com a nomeação de  Gouveia e Melo.

Ocorre, porém, que o Presidente da República, que é quem nomeia os altos cargos das forças armadas, ficou furioso por, sem lhe dizerem nada, resolverem armar uma borrada em que ninguém ficava bem (Presidente, ministro, demitido e convidado).

Resta saber se Gouveia e Melo sabia disto ou se, na altura certa, seria apanhado na rede  de pesca. Ao Governo convinha muito, uma figura altamente prestigiada e conhecida dos portugueses. Mais: difícil seria para o convidado escusar-se sobretudo se o CEMA saísse por seu pé. Ou por claro desentendimento público com o Ministro (aliás ninguém sabe se há ou não divergência forte de opiniões, divergência insanável que não permite coabitarem juntos no mesmo barco. Por junto, fontes eventualmente próximas do Ministro terão veiculado para fora esses desaguisados mesmo sem os precisar).

O PR que é, eneste caso com razão, muito senhor do seu nariz, interveio com fogo a toda a peça avisando com meridiana clareza que, com ele, não há batalhas navais de papel. Que isso é para meninos rabinos, nas aulas chatíssimas que tem de aguentar.

E está lançada a polémica pelo país.

Disto, desta eventual tonteirada ninguém, ou poucos, saem bem. Mal sai sem dúvida o Ministro que já tinha estado no centro do furacão da nova lei sobre a questão das chefias das forças armadas. Oficiais generais na reserva, incluindo os mais prestigiados, tinham manifestado o seu incómodo. Os oficiais no activo, remetidos ao silêncio dada a especial disciplina que os inibe, calaram-se de tal odo que nem sobre o tempo que faz se pronunciavam. Tanto silêncio, tanta reserva, também acabam por ser ruidosos...

Gouveia e Melo que saiu pela porta grande, está queira ele ou não, metido numa camisa de onze varas que provavelmente não merece.

 Ministro não tuge nem muge depois da declaração bombástica do Presidente. Noutro tempos, uma criatura demitia-se mas agora é o que se sabe. Nem o Cabrita, coitado, tão bombo da festa, se lembra de bater com a porta.

Há neste Governo, como aliás observavam vários comentadores (de Júdice a Pacheco Pereira, de Marques Mendes a Lobo Xavier, entre uma multidão de outros – exceptua-se a srª deputada Ana Catarina Mendes para quem, como Pangloss, tudo corre pelo melhor no melhor dos mundos -) algumas criaturas que querem sair mas não sairão sem um lugar aprazível onde descansar das caseiras governamentais, outra não querem sair nem a tiro e outras que preferem andar aos tiros aos colegas – é o caso do ministro das perninhas alemãs a tremer de pavor -  enfim uma trapalhada. E o dr. Costa impávido e gordinho como lhe compete....

Se alguma coisa, depois, do trambolhão das autárquicas, não convinha a ninguém, mesmo aos que entendem que o Governo está esgotado, fragilizado, encostado às cordas, sem chispa, agarrado à futura bazuca, era que agora se visse alguém na forja a dar uma no cravinho e outra na ferradura.

Mas é o que temos...

 

 

liberdade vigiada 150

d'oliveira, 29.09.21

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Liberdade vigiada 150

Peixe de águas profundas

mcr, 29 de Setembro

 

 

Há muitos, muitos, anos, Mário Soares qualificou assim Jaime Gama, uma esperança socialista  que se retirou da vida política há dez anos. Gama foi quase tudo o que podia ser desde fundador do PS, dirigente estudantil, ministro e presidente da Assembleia da República. Recusou ser candidato a Presidente da República afirmando na altura que apenas desejava ser motorista dos seus seis netos.

Dotado de uma notável inteligência e de um raro sentido político, Gama deixou um futuro político em 2011. Era o principal representante da chamada “direita” do PS mas se formos analisar bem algumas das suas posições deixa muito pseudo esquerdista socialista à distância.

 

Socorro-me da expressão cunhada por Soares para, desta feita, me referir ao vice almirante Gouveia e Melo que deu pntem por terminada as suas funções. Terminada e bem terminada, Gouveia e Melo pegou numa esfarrapada, desorientada e pouco credível organização, imprimiu-lhe regras precisas, sentido ético, profissionalismo e vontade de servir. O pequeno grupo de militares dos três ramos das forças armadas que com ele trabalhou mostrou ser uma formidável máquina, eficiente, capaz, rápida e exemplarmente modesta.

Ontem, vimo-los na televisão há sem camuflado, com as suas fardas melhores e claramente apostados em voltar aos seus quartéis.

Saem da vida pública como vencedores. Saem pela porta grande, dando um especial brilho à classe militar nacional e um exemplo que conviria guardar. Espero que os condecorem como merecem. Foram brilhantes e eficazes. Honraram o país e impuseram-se no estrangeiro. É verdade que é o vice almirante que aparece nas capas das grandes publicações internacionais mas ele, também o símbolo desse punhado de especialistas militares que provam à evidência a qualidade dos militares portugueses. E talvez haja agora quem perceba a necessidade de dotar as FA dos meios necessários para a prossecução de tarefas vitais para o país.

Gouveia e Melo, submarinista, é até por isso um “peixe da águas profundas” no exacto sentido que Soares, um político de rara clarividência, lhe deu.

Não sou mais do que um modestíssimo paisano que atravessou os anos terríveis sem ir `tropa graças ao facto de ter ido às sortes alguns meses antes da eclosão da guerra de África. Nunca ninguém terá pago a “taxa militar” com tão boa vontade quanto eu. Enquanto a pudesse pagar era sinal que a minha vida civil continuaria tal e qual.

Vivi em meio militar entre 1954 e 1957 pois o meu pai, médico foi durante esses anos capitão médico em Moçambique (depois passou à peluda mas manteve sempre fortes amizades no meio militar, sobretudo graças ao bridge- é sabido que os oficiais do activo eram ou ainda são fanáticos deste jogo. Foi o pater famílias e com muitos deles que aprendi a jogar e ainda os relembro com saudade.

Tive ocasião, nessa época, de conhecer a chamada “grandeur et servitude” da vida militar. Provavelmente tive a sorte de apenas conhecer os melhores, os mais devotados, os que aguentaram anos e anos de comissões no “mato”, na Índia, e recordo que foram alguns deles que convenceram o meu pai a vir embora de Moçambique ainda em princípios de 1973. “Isto não tem hipótese” disseram-lhe e ele a contragosto (adorava África, o mato, a caça grossa) fez as malas e retirou-se para uma “metrópole” donde saíra quase vinte anos antes.  E lá ficaram as economias de uma vida, como aliás sucedeu a tantos outros.

Até nisso, o Estado português, provou não ser pessoa de bem. As dificuldades impostas na transferência de fundos da colónia/”província ultramarina” para a “metrópole foram tais que alguém como o meu pai, mais ingénuo do que devia, ficou a ver navios. Muita gente aceitava dar 1oo por 80, comprar casas cá estando lá, carros, comprar ouro. O pater achava isso indigno e jurava que o Estado era uma pessoa de bem! Não era. Não foi e é duvidoso que alguma vez o venha a ser.

Dessa época da minha vida de adolescente, ficaram-me memórias inesquecíveis dos trópicos, dos negros que conheci e um intenso desejo de estudar tudo o que era possível sobre África. Estão por aqui uns milhares de livros sobre África, sobre a colonização portuguesa,, sobre a etnografia e antropologia africanas. E sobre a espantosa arte negra, um termo ue esconde uma profusão de culturas e de conceitos diversos e extraordinários.  

Tudo isso o devo, em parte, às pessoas que conheci, entre elas muitos militares, alguns dos quais deixaram excelentes monografias sobre os povos que conheceram.

Agora, tantos anos depois, quase uma vida, vejo que o vice almirante Gouveia e Melo, nado e criado em Quelimane, faz parte dessas experiencias africanas e honra sobremaneira a profissão que escolheu. Estou-lhe grato e quero disso deixar aqui este testemunho. 

*na vinheta: o primeiro (e melhor!) submarino da minha vida: o Nautilus do capitõ Nemo. Julio Verne dedicou-lhe os três volumes ds  "20.000 léguas submarinas" e volta a fazê-lo aparecer no 3º volume da "Ilha Misteriosa".. Oh, anos de intensa felicidade leitora!  E mais uma vez uma terna lembrança do pai que foi também ele, pela mão do avô Alcino, um leitor atento do grane francês.  Acho que o vice lmirante não se sentirá mal em tão brilhante companhia.  

 

liberdade vigiada 149

d'oliveira, 28.09.21

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Liberdade vigiada 149

Incurável!

mcr, 28.09.21

 

 

Eu também sou, de segundo nome e herdado da mãe, Curado. É um nome alentejano, de Niza, e, de facto, vem de “Mal Curado”, nome/alcunha que uma dúzia de antepassados, tudo pé rapado, usou até chegarem à pequena burguesia urbana.

Ai, mesmo com profissões humildes, lá terão entendido que urgia um nome mais adequado, algo menos povo miúdo. E lá cortaram o “mal” pela raiz. Ficaram em meados do século XIX, Curado! Não se curaram da pobreza, da falta de perspectivas, de algum futuro mais risonho, mas, pelos vistos, curaram-se da alcunha centenária.

E, de facto, por fas ou por nefas, o bisavô Francisco lá encontrou uma Mariana, dos Patrícios, proprietários médios dos Montes Claros que se perdeu de amores pelo belo rapaz de olho vivo e azul, , músico amador, e habitante da vila. A família da noiva opôs-se veementemente a tão desigual casamento mas a jovem era, característica que perdurou nos descendentes, teimosa que nem uma mula e aguentou até atingir a maioridade e desandou nesse mesmo dia para a Igreja e para os sagrados laços.

Aos dois filhos do casal, Joaquim e Manuel destinaram-nos, como mandava a tradição e a vontade de não desfazer a pequena fortuna, a doutor o mais velho e padre o mais novo, o meu avô. O tio Joaquim não se formou mas ficou professor primário e morreu cedo. O avô Manuel não se conformou com o seminário, fugiu montado na mula do reitor (seu parente afastado) e chegado a Lisboa foi alistar-se no então chamado Exército Colonial, Voluntarioso, destemido, teimoso, rapidamente chegou a alferes e, de seguida, casou-se com a avó Aldina Costa Alemão, neta de um dos que do Brasil vieram colonizar as terras do Sul de Angola para fugir à tropa forçada no Brasil então em guerra com o Uruguai (ou Paraguai? Não sei nem me faz qualquer mossa.)

O trisavô veio, criou o seu pequeno império e foi durante anos um espécie de médico pois fizera Medicina até ao quarto ano. Zangado com o tio, reitor da universidade, regressara ao Brasil. Em África, além de médico amador mas útil, explorou e descreveu o curso do rio Bero foi capitão de segunda linha (cfr Rui  Duarte de Carvalh, "Vou la visitar pastores",p.181) dono de uma fazenda modelar (que o Governador João de Almeida assinalou no livro “Sul de Angola”, louvando o sr. “Alemão “Coimbra”. O trisavô nunca esqueceu a terra onde estudou e adoptou o nome Coimbra. As saudades deviam ser muitas.)

A neta predilecta e mais velha  casou com o garboso oficial, com apenas dezasseis aninhos! E foi-lhe dando filhos por todo o território de Angola desde o Dirico , nas terras do fim do mundo, fronteira com a Namíbia, até Santo António do Zaire, nas margens do rio e o mais ao norte de Angola. Os restantes filhos nasceram no meio com excepção do tio Manuel que já nasceu em São Tomé.

É desta gente que venho, dos costa-Alemão cruzados com os Curado alto-alentejanos e da tribo Correia-Ribeiro, gente de Entre Douro e Minho, dedicados à exportação, sob marca própria, de vinho do Porto.

Portanto, dizia eu, antes de me “interromper tão rudemente” (apanhem lá esta... se souberem) sou de meu nome Curado. Mas é um engano. Eu sou é incurável. Já me tinha confessado trapalhão, acrescentei-lhe em tempo, “preguiçoso” (e por isso criatura que tentava fazer bem à primeira para não ter trabalho redobrado) e finalmente incurável. Bem que me merecia continuar a chamar-me Mal-Curado pois em me distraindo dou com os burrinhos na água.

Agora, resolvi, fazer um índice dos textos escritos durante a pandemia. Convenhamos: são muitos, demasiados, nem sempre felizes , se é que alguns  merecem tal qualificativo. Mas é uma experiência que resolvi fazer. Um diário como aliás comecei por chamar a esse esforço, logo eu que sou avesso a coisas desse teor. Todavia, a tentação foi grande, comecei a medo, continuei hesitante, habituei-me, pouco a pouco `disciplina de todos os dias deixar um par de linhas escrito. Algumas vezes apeteceu-me desistir mas, envergonhei-mede ser tão pusilânime, fiz das tripas coração e segui em frente.

E aqui cheguei com 587 textos , mais de 1500 páginas, sendo que há cerca de dez textos vindos de antes, tudo o resto foi feito à unha no próprio dia, nesta mesa que, durante anos e anos de grande felicidade, serviu de poiso a quatro amigos a jogar bridge. Todos eles e outros, muitos, parceiros anteriores ou contemporâneos, já cá não estão, incluindo o Manuel sousa Pereira que aparecia amiúde, bebia um bom litro de leite, assistia divertido às discussões após cada partida, escolhia a música e desenhava.

É bem verdade que com os anos que tenho em cima do fatigado lombo, com os riscos que se corriam, com tudo fechado, semi-fechado, proibido ou a obrigar o uso de máscara, escrever uma espécie de diário era uma distração. Agora, é quase um vício.

Ora, já reparei que por vezes retomo os mesmos  motivos, repito uma que outra história, ou parte dela, para já não falar nos títulos (isto de encontrar um título para cada peça é menos fácil do que parece, tanto mais que o título há de ser um chamariz, um convite, deve significar qualquer coisa.   

    

Foi por isso que entendi dever fazer um índice que, em boa verdade, deveria ser mais do isso. Deveria ser analítico e remissivo de modo a eu poder saber sempre a que se refere um determinado título. E, já agora, com datação e numeração.

Ora bem fazer a lista dos títulos, organiza-la alfabeticamente já é coisa gorda. Porém, uma vez feita o resto, data e número, é o que se costuma dizer “canja”. O problema é o resto. Por exemplo já usei duas vezes (!!!) dois títulos (“dove sieti amici miei” e “ergue-te ó sol de verão”) . Como é que os distingo, de que tratam os textos?

Depois, há sempre um depois, apareceu-me uma velha querida amiga, que encomendou os textos impressos. Parece que ela usa só um I-pad e que por isso não tem como imprimir as minhas humildes redacções. Bem, pensei eu, se há que imprimir uma cópia, imprimem-se duas! E fico com o duplicado que provavelmente nunca irei reler!

E aí vai disto! Nesta casa, há coisas a mais, incluindo computadores e impressoras. Uma pareceu morta durante algum tempo mas ressuscitou. Outra comprei-a e mais tarde descobrindo que havia impressoras que escreviam frente e verso, pimba comprei mais uma.

Por rzões que nem o diabo entende, comecei a imprimir  na que só dava “frente”. Ao fim de vinte impressões, fui ver se não seria melhor imprimis frente e verso. Era, claro. Basta ter algum cuidado (eu sou um info-excluído do piorio!) na “mancha tipográfica2 de modo a sair tudo legível e ao centro. Deve haver algum truue mas não o conheço pelo que lá vou fazendo as coisas assim, um pouco à tos. O mesmo sucedeu com o tipo de letra e o tamanho que finalmente escolhi (Bookman old style, tamanho 12) depois de ter tentado e usado outros. O que significa que cada vez que importo um texto do blog o deva adaptar à “mancha” à letra e ao respectivo tamanho. E também aí andei às marradas à parede.

Em suma, se tivesse tido mais método, mais tino, pouparia tempo e papel. Vá lá que a correcção só atinge 20/30 textos.

Distração? Provavelmente mas sobretudo, falta de método, de profissionalismo (logo eu que detesto a palavra!) e trabalho a mais. Até ao fim destes trabalhos de Hércules ainda irei descobrir outras tontices praticadas.

É nestas alturas que invejo o meu irmão. A criatura é seguramente inteligente, muito mais inteligente do que alguma vez me julguei. É lento. Ou melhor, ponderado. Demora um tempo infinito a analisar o próximo passo, mas quando o dá não há pai! Está tudo certo, tudo pensado, Tudo bem. A lentidão dele, é afinal uma velocidade a que muitas vezes não consegui andar. Raios o partam! Um irmão mais novo deveria seguir as pisadas do mais velho. Eu não lhe vendi primogenitura por nenhum prato de lentilhas (aliás nunca comi nem vi lentilhas...). O caçula não dá, antes recebe, lições!

O grave disto tudo é que eu sempre soube que sou assim. Vou em frente numa corrida, de olhos semi-fechados e Deus que nos ajude1

Incurável, incurável nem sequer mal curado...

 

liberdade vigiada 148

d'oliveira, 27.09.21

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Liberdade vigiada 148

Guardado estava o bocado...

mcr, 27-09-21

 

Quando Calos Moedas, recém chegado à pátria madrasta depois de ter sido um muito razoável Comissário europeu, entendeu candidatar-se a Lisboa não faltaram urubus alucinados pela carniça morta a passa-lhe a certidão de óbito política.

As sondagens (e aqui convém voltar a questioná-las) davam-lhe na melhor hipótese dez pontos a menos que o “imcumbente” Fernando Medina.

Mesmo ontem, durante algum tempo, os comentadores televisivos, apesar de surpreendidos, davam-no como derrotado mesmo se por uma margam mais estreita.

E afinal, foi o que se viu: uma vitória elegantemente cumprimentada por Fernando Medina (e aqui está um bom exemplo a seguir)derrotado mas também ele efusivamente  cumprimentado pelo vencedor.

Eu que não sou votante em Lisboa, não votaria Medina por uma razão tão óbvia quanto ética: o caso da entrega de listas de cidadãos manifestantes à embaixada russa.

Tal facto pode ter custado a CML a Medina que porém é ainda jovem e pode ter um futuro político dentro do PS. Seja qual for o futuro da vereação lisboeta, esta é uma enorme iniludível vitória de Carlos Moedas e uma preciosa ajuda a Rui Rio que, aliás tem em Coimbra uma importante vitória e consegue, no Porto, roubar a maioria absoluta a Rui Moreira.

Dou como certo que, neste caso, a pesada derrota do PS fez transferir para o PC e para o BE boa parte dos votos socialistas.

Neste caso, Rui Moreira, que fez o papel de um contra todos, e conseguiu ter mais votos do que os dois seguintes candidatos ( o que não é despiciendo...) foi acossado pela história da Selminho, oportunamente ressuscitada a alguns meses da eleição. De notar que este assunto fora anteriormente encerrado nas mesmas instâncias que posteriormente  o reabriram. Quem não acredita m coincidências que tire as conclusões que entender.

Coimbra é uma lição como diz a canção e foi-o claramente para o ex-Presidente da Associação Nacional dos Municípios. De nada valeu a tonitruante promessa de Costa que seguramente não enganou o eleitorado conimbricense.

No mesmo distrito, Santana ganha a Figueira por cerca de 600 votos, não consegue a maioria absoluta, não vai ter a vida facilitada (também não a merece!) e deveria agradecer ao PS que, a meio mandato do anterior presidente  o enviou para Lisboa o Há momentos em que as pessoas não percebem que entre ser um anónimo deputado em S Bento ou um Presidente numa cidade média, o último cargo pode valer mais a pena.

Oeiras e Cascais aumentaram (ao contrário de Sintra) as votações nos respectivos vencedores já anunciados. Em ambos os municípios a CDU evaporou-se.

A mesma CDU perde estrondosamente Loures, além de mais algumas câmaras. É verdade que reconquistou aduas ou três, perdidas em anteriores eleições, mas o balanço é duro, duríssimo: a erosão do seu eleitorado é visível a olho nu. Até Jerónimo de Sousa  o  reconhece, ao invés de um par de altos dirigentes comunistas que a meio da noite e do terramoto, ainda falavam em “consolidação” deposições e aumento das mesmas! Ou são vesgos, ou estavam com os copos ou confundem o marxismo com o marchismo mas isso só ocorre no Santo António...

A perda de influencia da CDU ou do PC, para ser mais preciso, é constante ao longo de todas as ultimas eleições. Perde votos, perde eleitores, restringe-se cada vez mais à cintura de Lisboa e ao Alentejo, está a caminho de se transformar num partido regional,

Em Almada, a mal amada, de nada serviu a senhora paraquedista Maria as Dores Meira. É verdade que governou doze anos Setúbal mas pelos vistos não foi suficientemente milagreira a poucos quilómetros de distância. A CDU também perde nas Ilhas (Na Madeira fica mesmo atrás do Chega!). Aqui, o vencedor é o PSD sozinho ou em coligação sendo significativo que, nos Açores ganha mais quatro câmaras ficando ultrapassando o PS que tem nove câmaras.

Se é verdade que o PS mantém o primeiro lugar em Câmaras e Juntas de freguesia, não menos verdade é que o PSD encurtou a distância que os separava, averbando, pelo menos,  mais dezasseis câmaras às que tinha. Neste ponto, Rio cala ou tira voz a muitos opositores internos e acaba por ser um dos vencedores da noite.

O BE perde um considerável número de vereadores, mesmo ganhando um no Porto.

È verdade que nunca teve especial vocação autárquica e que os seus votos se limitam às xonas urbanas mais significativas e com maior densidade de jovens de classe média e com estudos. Não penetra no “povo” apesar das juras de amor de Catarina Martins e dos fretes que o PS lhes faz para obter algum apoio.

Entretanto o Chega estreia-se com onze vereadores (quase sempre no Sul e em Lisboa).  Não ocorreu a avalanche de votos que se previa e o seu líder lá conseguiu u modesto lugar de eleito. Afinal os anunciadores de catástrofes também aqui se enganaram. E redondamente.

O Chega não ficará no quadro dos vencedores justamente porque ganhou muito pouco tendo prometido muito mais.

De todo o modo, mesmo mantendo a maioria em Câmaras e freguesias Costa perdeu absolutamente a aposta. A sua estridente, desajustada, megalómana campanha onde constantemente se confundiram as figuras de primeiro ministro e de secretário geral do PS, teve resultados medíocres. Costa, com Jerónimo, também é um dos derrotados da noite.

Há, finalmente uma outra, formidável, derrota. A enorme abstenção verificada começa a suscitar em certas imaginações mais férteis no capítulo do autoritarismo, a ideias de que deveria ser obrigatória a participação dos cidadãos nas eleições. Sob pena de multa, para já que depois hão de surgir outras sanções (se ainda houver democracia e liberdade...)

Pessolamente, tenho por certo que o que se passa é que os cidadãos já não esperam grande coisa da ida às urnas. Não acreditam no futuro, não veem nos eleitos qualidade suficiente, nem trabalho capaz. Os cidadãos portugueses desconfiam que com eleições ou sem elas nada se modificará substancialmente.

E é nesse estado de espírito que se deve intervir. Há que provar que vale a pena. No caso das legislativas bastaria, provavelmente mudar para a eleição nominal, Ter um deputado a quem pedir contas é outra coisa.

Nas utarquias com a dispersão por pelouros também não se vê exactamente a vantagem de eleger um presidente que depois tem de repartir o seu poder executivo directo. Às vezes por dez, cem, seiscentos votos...

E as juntas de freguesia deveriam ter mais poderes próprios e maior independência da Câmara Municipal.      

Senão não vale a pena...

 

*a vinheta Paços do Concelho do Porto.  que diabo estou farto de ver aparecer os de Lisboa. N~sou bairrista, nem sequer do Porto (nem do FCP!...) mas de wuando em quando dá para ver outra CÇamara. Aqui está.

 

 

 

Autárquicas no Tâmega e Sousa - Análise eleitoral

José Carlos Pereira, 27.09.21

Na noite das eleições autárquicas, estive a comentar os resultados eleitorais numa emissão online do jornal "A Verdade", na companhia da jornalista Ana Regina Ramos e dos ex-deputados Fernando Jesus (PS) e Luís Vales (PSD), ambos com forte vínculo ao Tâmega e Sousa.

Fernando Jesus foi vice-presidente do Grupo Parlamentar e membro da Comissão Nacional do PS, autarca na cidade do Porto e é membro da Comissão Política Distrital do PS/Porto. Luís Vales foi secretário-geral adjunto e membro do Conselho Nacional do PSD, vice-presidente da JSD, presidente do PSD/Marco e autarca em Marco de Canaveses.

A transmissão está disponível para ser revista no Facebook ou no You Tube.

liberdade vigiada 147

d'oliveira, 26.09.21

Liberdade vigiada 147

Politicamente tonto

mcr, 26-09-20

 

 

Aqui para nós que ninguém nos ouve, eu nem sabia que o sr. Brilhante Dias já era membro (menor) do Governo. Também é verdade que não costumo acompanhar de perto a ascensão dos rapazes e raparigas criados nas jotas. À uma são todos iguais uns aos outros, aquilo basta tirar um ao calhas e substituir se ele subir (e sobem todos) para outro poleio melhor. São políticos fungíveis, se é que ainda sei o que é uma coisa fungível... 

Depois, tem todos (e todas, bem entendido( o mesmo discurso redondo, usam os mesmos narizes de cera e obedecem como autómatos à “his master voice, que era uma marca de discos que tinha um cãozinho a ouvir um alto-falante dos antigos.

Mas, quis o destino, a mofina, o mero acaso que eu visse e ouvisse em primeira mão no noticiário a famosa frase da criatura.

Agora parece que há uns bons samaritanos que afirmam que aquilo foi um mero lapsos linguae, uma distracção, algo proferido no calor do entusiasmo.

Ora bem: não foi nada disso. O rapaz fez peito e afirmou: “agora vou ser politicamente incorrecto”. E depois averbou a estúpida, parola e inconcebível ideia de que o covid até tinha tido um vago efeito positivo. Enfim algo no mesmo género e, sobretudo no mesmo sentido.

O cavalheiro Dias parece ter esquecido que o vírus matou, antes do tempo previsto, alguns milhares de portugueses (e entre eles vários amigos meus que me fazem falta). O covid, estrangulou, moeu, derreteu milhares de empresas que desapareceram do mercado. Só aqui no meu bairro, fecharam cinco estabelecimentos, o que, no mínimo, dá uma boa dúzia e meia de desempregados. As consequências da crise ainda nem se viram na totalidade pois , pelo desaparecimento nos últimos três meses de marcas firmes no mercado, é de temer que, até meados do próximo ano, vejamos a procissão aumentar fortemente. E nisto incluo empresas exportadoras (por exemplo, a “Jack Morgan” – calçado – fechou as lojas e pelos vistos faliu. E exportava senhor Brilhante, exportava!)

Eu, sempre me espantei com a arrogância de certos governantes que julgam dever-se a eles o progresso num certo ramo de actividade.  A exportação portuguesa, desde o calçado ao têxtil, é obra exclusiva de trabalhadores e patrões do sector. Com dias ou noites nada se modificaria, felizmente. 

Vir agora um pimpão aviar uma afirmação que ele (e mal) acha “politicamente incorrecta” a tecer uma espécie de auto elogio à actividade dele ou que ele vagamente acompanha, é algo que só me não assombra porque sei, lamento dizê-lo, do que a casa gasta. 

E não se tratou de uma distração, de um arroubo momentâneo. A frase foi pensada, penosamente pensada. A criatura queria mostrar que era brilhante e não apenas de nome. 

Numa mesa redonda de há dias numa estação de televisão, um dirigente socialista, veio em defesa do aspirante a político incorrecto, afirmando que se trata de um excelente moço, muito trabalhador, muito activo, bom militante, sério e mais três ou quatro coisas a abater. 

Quanto não sabemos o que dizer de um pobre diabo, deixamos sempre essas pequenas notas de boa pessoa, muito trabalhadora, zelosa, camarada dos seus. Este género de elogios é quase uma certidão de óbito para  visado. A nota do MNE é também ela própria algo do mesmo género. 

Eu não venho pedir a cabeça deste Eurico que não é presbítero nem herói romântico. Provavelmente não é pior do que algum substituto que arranjasse no serralho jotista. 

Nem sequer me espanto com o facto de a criatura continuar impávida e serena no posto que tem. De há algum tempo a esta parte me habituei a ver políticos a dizer burrices supinas, com o mesmíssimo sorriso parvo, e a continuar impenetráveis à chuva de impropérios que as suas palavras ou acções geram.

Nem vale a pena citar o actual “punching ball” Cabrita que ainda não conseguiu sequer dizer  a quantos quilómetros seguia o carro que o transportava, carro que como se sabe foi abalroado por um imprudente trabalhador que circulava na esquera da via contra tosas as regras do código da estrada e do respeito devido a ministros & similares, atarefados competentes. 

(sobre esta historieta, sobrepõe-se outra, desta feita sem mortos nem feridos mas milagrosa: o sr. secretário geral do PS ou 1º Ministro vá lá saber-se, foi de Lisboa ao Algarve em hora e meia. Os jornalistas bem quiseram perguntar-lhe a que velocidade ia o popó mas S.ª Ex.ª escusou-se a essa minucia. Note-se que se para um 1º Ministro isso já não é nada recomendável, para um mero secretário geral de um partido, é bem mais grave! De todo o modo não há mortos, nem feridos, apenas uma infracção muito grave ao Código da Estrada. Por uns miseráveis 148 km/hora, apanhei quatro meses sem carta, 300 euros de multa e cinco anos de vigilância. Também é verdade que não sou ministro nem ando em campanha eleitoral...) 

 

nota final: este texto, fora  os dois últimos parágrafos, tem dois dias. Hoje domingo, o “Público traz mas ainda não li, um comentário sobre o tema. Fico furioso quando isso acontece mas no caso em apreço a culpa é só minha. Devia tê-lo publicado quando o completei e não só hoje, dia de eleições. 

São onze da manhã, já tomei os cafés da praxe, já votei e já me lembrei do meu leitor JM Morais que, creio, estará a dirigir uma mesa de voto desde as sete da manhã. Terá que fazer até às onze, meia noite. E fa-lo-á como já me disse, com alegria e consciência de dever cumprido. Bem haja pelo seu esforço e pela exemplar cidadania de que dá mostras. A mim bastou-me uma única experiência, ainda no tempo da outra senhora. Em 1969 a oposição foi às urnas e eu, fui delegado numa mesa da freguesia de Santo António dos Olivais em Coimbra. Não me poso queixar de ter sido mal recebido. Trataram-me com respeito, alguma admiração, afinal era preciso ter alguma ousadia para vir desafiar o vencedor anunciado. A PIDE, essa, não esqueceu e lá elaborou a competente informação. Também não foi grave. Era só mais uma depois de tantas outras que se vinham acumulando desde 2961... 

Dessa minha experiência ficou-me a ideia de que aquilo é uma seca. Por isso, tiro o meu chapéu aos milhares de portugueses que hoje vão passar o dia a registar os nossos votos, a conta-los, a elaborar actas. E com eles às inúmeras pessoas ue com eles colaboram desde a que nos indica em que mesa iremos votar a todas as outra que nos encaminham e ajudam. Isto, sim, é que é a verdadeira festa da democracia: o modesto mas imprescindível serviço prestado à comunidade. Bem hajam!  

Hoje não há vinheta: a criatura brilhante não merece o esforço.  

liberdade vigiada 146

d'oliveira, 25.09.21

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Liberdade vigiada 146

A “grande festa”

mcr, 25-09-20

 

Há o hábito de afirmar que as eleições autárquicas são a grande festa da democracia. Aliás, nisto de grandes festas, sempre que um jornalista com falta de inspiração apanha uma eleição, lá vem o chavão. Todavia, amanhã há quase três mil e quinhentas eleições entre câmaras e junta de freguesia. Trata-se dos órgãos mais próximos do eleitor, aqueles em que é mais fácil escolher, dada a proximidade entre candidatos e eleitores. Mesmo nas grandes cidades se é que em Portugal há grandes cidades.

Sobretudo porque se vota fundamentalmente num presidente (de câmara ou de junta), a coisa afigura-se fácil. Confesso que nem sempre é assim porquanto, votante no Porto, não conheço o meu presidente de junta, de modo que votá-lo-ei na lista do da Câmara, tanto mais que também é importante garantir uma maioria na Assembleia Municipal.

A questão mais grave, pelo menos este ano, é que em muitos sítios, provavelmente na maioria, a campanha não esclareceu nada ao nível local. Sobretudo graças ao PS, mas também ao BE, ao PAN, um pouco ao PC  e bastante ao Chega, foram a vida nacional, os temas nacionais, a bazuca – que nada tem com isto – que estiveram na baila. Salvo raras excepções, sobretudo no que toca a candidatos independentes, as questões locais evaporaram-se. Em Matosinhos há GALP, em Lisboa são questões nacionais ou vagamente inter-municipais, em Coimbra é o hospital dos Covões e em varias camas da margem sul há uma guerrilha ps-pc com o segundo a tentar reconquistar bastiões perdidos ou a segurar os que ainda tem (os casos de Almada e de Setúbal são exemplos claros disto). No Alentejo ainda há o picante de saber se o Chega estraga a vida de alguém, do PSD o PC. Pode até não eleger um único vereador mas o simples facto de lá estar pode estragar as contas dos anteriores partidos presentes desde sempre no terreno. Para o Chega e para o PC estas eleições são fundamentais, quase uma prova de vida. O mesmo se poderá dizer do CDS a quem muitos prometeram a o desaparecimento. Aqui a aposta até é simples: se mantiver os anteriores níveis de votação bem que pode cantar vitória.

Dir-se-á que o BE pode produzir o mesmo efeito mas não é seguro. O BE não tem (ou não tinha) vocação autárquica, é produto urbano e urbano do litoral, pelo que, a menos que haja um milagre, pouco interfere nestas eleições. O mesmo se poderá dizer do PAN ou d IL que, até à data, não riscaram no panorama autárquico. Para o segundo esta é a oportunidade de oito. Como não tinha qualquer expressão a nível local (por não existir) todo e qualquer mandato é um progresso. De todo o modo, creio que as espectativas são baixas.  Pois o partido é demasiado recente e, por isso, de fraca implantação local. De todo o modo, o caminho faz-se andando.

Pelo que vem de ser dito, aliás uma mera opinião pessoal, temos que a festa, a haver, pode ser cruel e sair gorada.

A segunda e importante crítica à “festa” reside na abstenção. Mesmo considerando que é nas eleições locais que há uma taxa menor de abstenções, começa a ser preocupante o descaso com que os portugueses tratam esta chamada ao voto. Abaixo de 65& de votantes, a festa perde muito do seu brilho. E a democracia muito da sua eficácia. E do seu direito de existir. Se ninguém se incomoda, tanto faz ser uma comunidade livre como não. E com o andar dos anos, a coisa parece dar razão aos saudosos, que os há, do Estado Novo. Ou, como dizia, o velho Botas:

Se todos soubessem quanto custa mandar antes quereriam obedecer sempre"

liberdade vigiada 145

d'oliveira, 23.09.21

Liberdade vigiada 145

Lá começa o ano escolar... Mal!

mcr, 23-o9-21

 

 

A famosa paixão dos primeiros ministros (e só falar em algo que meta primeiros ministros, é tentar o demo...) anda desde o engenheiro Guterres, num permanente mar encapelado. Melhor no Mar Tenebroso e não há quem se atreva a meter sequer um bote na água.

Alguns leitores não se lembrarão mas Guterres, ainda nos Estados Gerais que levaram à sua eleição depois de duas épocas triunfais de Cavaco Silva.

(É mister recordar essa conturbada época pois há quem tenha olvidado o impacto das asneiras e os seus funestos resultados  - funestos para os vencidos, obviamente, mas eu fui um deles, mesmo se também tivesse sido dos que mais se esforçaram por avisar do tsunami que se avizinhava.

Lembremos que, após uma aventura populista, mas esmagadora, o Parlamento viu aparecer uma coisa estrambólica chamada Parido Renovador Democrático. O dito fenómeno tinha a marca escondida de Ramalho Eanes sendo que sua mulher foi o arauto mais esforçado do movimento, revelando alguma forte habilidade política.

Neste curioso e, aliás efémero, juntamento, preponderaram muitos elementos da Esquerda, desde José Carlos Vasconcelos a José Medeiros Ferreira. Nunca percebi o que os movia mas a verdade é que nas primeiras eleições após a sua formação, o PRD registou 18& dos votos deixando o PS exangue com 22% eo PPD folgadamente à frente mesmo se com maioria  relativa. E Cavaco foi para 1º Ministro. Um terramoto mais sentido ainda d  que a primeira Aliança Democrática, a de Sá Carneiro/Freitas do Amaral/Ribeiro Telles. 

Algum PS de cabeça perdida e todo o PR, entenderam derrubar o relativamente frágil governo cavaquista. Mais uma vez fiz parte dos que entenderam que a aventura era arriscada e que mais valia um Cavaco fraco do que um Cavacão. 

E uma vez derrubado o Governo e realizadas eleições, Cavaco obteve a primeira maioria absoluta. Toma lá que já almoçaste!

Quatro anos depois, à vista de nova chamada dos eleitores tentei explicar ao meu amigo José Rodrigues (o escultor) que corríamos o risco de ver cair-nos em cima nova e esmagadora maioria. Um outro bom amigo meu, deputado socialista, com especiais responsabilidade e um longo historial na Esquerda de antes e depois do 25 A, interrompeu-me e afirmou que eu delirava. Bom rapaz mas politicamente meio atoleimado... 

Espantado e aterrado, nem me dei ao trabalho de votar. Fui para Paris assistir à rentrée e foi o Luís Matias, quem num excelente jantarinho num bistrot da margem esquerda me anunciou, contristado: “Levámos uma banhada!” Segunda maioria, ainda mais violenta! 

Felizmente, a vida continua e o mundo lá vai desandando. E veio Guterres, e nós com ele, nos Estados Gerais. Foi a única vez que me vi, num palco pomposo com mais um cento de personalidades, num Coliseu de Lisboa cheio até o último lugar da geral. Nunca me senti tão mal! Tinha vontade de coçar o nariz, bem ao fundo. Vontade urinar,. Faltava-me o ar. Um horror. Quando houve uma pausa, desertei do meu posto de pequena celebridade e fui fazer coisas mais agradáveis. A um primo socialista e fundador do Partido, expliquei que a aposta estava no papo, a eleição eram favas contadas e que me faltava o ar no palco. 

Todavia, tive ocasião de ouvir Guterres proclamar convicto que “a Educação seria uma paixão do seu Governo”

A coisa pegou e desde essa altura, já lá vão quase trinta anos, a educação tem sido uma paixão de todos os cavalheiros que querem ser primeiro-ministro. Até Santana Lopes, vejam bem ao que a coisa chegou. 

Nem vou comentar o que ocorreu neste domínio, nestas décadas. É verdade que temos imensos doutorados e muitos deles no desemprego, sobretudo nas zonas das ciências humanas. É verdade que as Universidades pariram centenas de milhares de licenciados mas agora, veja o caso dos licenciados em Direito, é a própria Ordem que exige, ou vai exigir um mestrado como mínimo para admissão ao estágio! O desemprego da geração mais bem apetrechada fez com que houvesse uma corrida aos mestrados (caros) e as doutoramentos. Nem falo das post-graduações... 

Ora, no meio disto tudo, da catástrofe do português e da matemática, do desleixo quanto à filosofia e à história, da apagamento do latim e do grego temos que nem nas disciplinas ditas urgentes há um avanço significativo. 

O caso de hoje é extraordinário: faltam, segundo as escolas e a fenprof em uníssono (!!!) professores de informática. Por baixo faltarão, pelo menos, 400 (quatrocentos!...)

Eu com a feia idade que levo (recuso-me veementemente a achar bonita uma idade destas)  considero-me uma espécie de info-excluido. Por junto sei escrever o blog, funcionar com o mail, tirar fotografias, trocar mensagens e fazer pesquisa. No blog só sei publicar textos, vagamente corrigi-los, piratear imagens. Bem que gostava de poder meter músicas mas creio que isso é muita areia para a minha desconjuntada camioneta. 

Vamos, que eu não queria saber programar, era o que faltava. Mas, volta e meia, aparece-me uma dificuldade no uso do computador e lá vou numa corrida pedir ajuda aos irmãos Mónica e Rui Silva, (Oficina dos Neurónios) que me aturam com evangélica paciência e lá me ensinam mais qualquer coisa, uma de cada vez para ver se eu não dou com os burrinhos na água. 

Esta falta de 400 professores, numa época em que a ameaça do covid ainda vagueia por aí e quando os estudantes precisam de ter noções aprofundadas de informática não só para o estudo normal mas também para poder acudir a situações mais complicadas se voltarmos a ter de interromper as aulas ao vivo, é terrível. 

Eu sei que não é de bom tom estar sempre a apontar o dedo aos nossos excelsos governantes, coitados, que se estafam para nos tornar felizes e melhores. Mas cada vez que vejo o sr. Ministro da Educação impante e a fazer declarações risíveis (já nem falo naquela da preparação dos médicos de família para não ter que dizer que há criaturas que nem um veterinário merecem) até quase que simpatizo com o cavalheiro da Fenprof, uma criatura que já não deve dar aulas desde o tempo de Guterres. Felizmente, a criatura abre a boquinha e diz tis coisas que a simpatia logo se desvanece. 

Não sei como caracterizar esta paixão assolapada pela Educação mas quando oiço os lancinantes apelos amorosos dos governantes, fico com a impressão que estou metido numa leitura do pior de Soares dos Passos. É que só sucedem desgraças, desencontros, tragédias, amores de perdição de faca e alguidar. Quase que se poderia dizer dos governantes e da Educação que são eles a dar-lhe e a burra a fugir. 

É  que, quando falo de Educação, só me vem à ideia aquela avalanche de obras que em vez de acudirem a todas as escolas se ficaram em menos de metade, pelo dobro do preço previsto. Agora, que se avizinha a artilharia pesada dos dinheiros europeus, só me temo do que lhes vai dar para gastar os cacaus e ajudar alguns amigos patriotas a fazer pela vida. 

 

Enquanto meditava no que iria hoje escrever, vi passarem a rua umas dezenas de alunos, de uma das escolas que há aqui ao lado. Desertavam da cantina e iam comer junk food ao supermercado. Eu percebo que a escola deva ter comida saudável mas muito me arreceio que resolveram acabar com o oito e ultrapassar o oitenta. E quanto a pedagogia alimentar estamos no mínimo abaixo do medíocre. Ou a proibição de uma série de produtos tem uma contrapartida em oferta de outros atraentes e igualmente saborosos ou a medida falha completamente o alvo.      

liberdade vigiada 144

d'oliveira, 22.09.21

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Liberdade vigiada  144

“Quem se mete com o PS leva”

mcr, 22 de Setembro de 2021

                                        

 

Terá sido Jorge Coelho o autor da frase que dá título ao folhetim. Já não recordo a data, menos ainda a circunstância, mas o aviso/ameaça ficou para a posteridade.

Jorge Coelho já lá vai, os seus sucessores são menos observadores da famosa “ética republicana”. Como alguns estarão lembrados, Coelho era ministro das Obras Públicas quando ruiu uma a ponte arrastando par uma ignorada sepultura meia centena de cidadãos que vinham numa excurso.

A bem dizer, Coelho não teve, neste trágico acidente qualquer responsabilidade. A ponte, aquela ponte nem sequer estava sinalizada como oferecendo perigo. Entre ela e o ministro escalonavam-se várias instâncias que, se bem me lembro, não perderam o lugar.

Todavia, Coelho, assumiu que “a culpa não podia morrer solteira” e bateu com a porta. Para quem, tempos antes fanfarronara a ameaça de tau-tau no rabinho dos marotos que tentariam estragar a vida ao inocentíssimo partido socialista, o gesto foi nobre e fez esquecer o aviso truculento e, além disso, esparvoado.

Actulmente, alguns cavalheiros, sobretudo aquele abencerragem da Administração Interna, não recordam (nem querem recordar) a atitude de Jorge Coelho. As desgraças ocorrem, sucedem-se e ele nada. A criatura sobrevive a tudo até mesmo, aposto, ao vulcão das Canárias se acaso para lá o mandassem. A lava faria uma inesperada curva no seu percurso para o mar, só para não ter o desprazer de o chamuscar.

É verdade que muitos, quase todos, o dão por morto mas ele ali está de pedra e cal sob a asa protctora do sr. dr. António costa, que, neste momento, não consegue distinguir os cargos de Secretário Geral do PS e de Primeiro Ministro.

É bem verdade que, mesmo morto um homem, são precisos quatro para o tirarem de casa. Bo caso do sr dr. Cabrita, desconhece-se o número necessário de gatos pingados que finalmente o levem para um sólido e sepulcral esquecimento.

Entretanto, o cavalheiro que o protege anda alucinado pelo país na campanha eleitoral. Parece, aliás nota-se, que ainda não terá percebido que estas eleições são autárquicas, ou seja que em trezentos e tal municípios e em três mil freguesias se discute a vida de todos os dias, o que está bem e o que está mal em cada terra ou terrinha, quais as soluções e quais as criaturas para responder às tarefas que se entenderem necessárias.

Eu sei que, de todo o modo, destas eleições sai sempre aquilo que poderíamos chamar um diagnóstico da meia época legislativa e governamental. Há mesmo países onde estas eleições costumam servir de aviso para o Poder. Chega-se ao ponto de afirmar que, normalmente, estas eleições correm mal ao Governo mas isso não assim tão líquido quanto parece. Em eleições locais o efeito de proximidade sobrepõe-se ao exame da situação nacional- Só nos grandes centros urbanos é que se poderá notar o inverso, não só porque a entidade camarária é mais difusa mas também porque aí o jogo de forças políticas pode ser mais intenso.

Ora o dr. Costa que anda num reboliço infrene pelo país, dando o exemplo, senão a ordem aos seus ministros e demais governantes, para o imitarem, não tem assim um conhecimento tão aprofundado que possa de per si fazer andar para a frente uma entidade autárquica. Claro que ele sabe isso mas pouco se lhe dá. Ele vem, diz duas a abater e deixa no ar uma ideia (falsa? – A ver vamos) de que com a sua gente na Câmara ou na Junta tudo o que faz falta vai  aparecer feito. Uma “fervurinha” como dizia o primo Amândio Secca quando as cartas no bridge lhe caíam de ficção.

A história rocambolesca da maternidade de Coimbra, algo que anda encrencado há largos anos, é exemplo disso. Em três semanas, jura Costa o incendiário, tudo se resolve que ele há uma bazuca na esquina.

Em Matosinhos, o mesmo Costa mostrou ainda mais peito (ou barriga?): os terrenos da Galp, a malvada, que é disso que finalmente se trata, não vão poder ser alvo de “especulação”.

Convenhamos: desde aquele pitoresco ministro do Ambiente que anda na pregação verde, verdíssima, há anos, que anunciou já lá vão uns tempinhos o fim dos motores de explosão, até outras iluminárias socialistas, todos afinaram pelo mesmo dipasão. A Câmara local, volta que não volta regougava umas ameaças ao grade Satã poluidor (a GALP) e aos circuitos de canalizações da mesma sob o solo sagrado da cidade.

Eu não sou, Deus me livre, um especialista em refinação, mas acredito que que uma empresa só abandona instalações  quando entende  que elas já não são rentáveis. Ou quando entende que lhe basta uma única instalação para servir o país todo.

Ora, e aqui começa a estalar o verniz, já de há muito se dizia que a galp-matosinhos esta em absoluta perda de velocidade, que era desnecessária. Pior, que era cara. Pelos vistos estaria a reduzir a mão de obra.

Os ambientalistas mais talibãs atiravam-se de unhas e dentes (unha fraca e dente cariado mas de todo o modo ameaçadores) ao papão.

Depois, a cereja em cima do bolo: os enormes terrenos da GALP estão em cima da praia, no melhor local possível para continuar a urbanização de Leça à Boa Nova e daí para a frente. Um paraíso a concorrer com outras zonas nobres de Matosinhos e da Foz do Douro (que estão esgotadas)

Eu também não sou empresário cimenteiro nem investidor imobiliário mas, mesmo assim, babo-me só de ver o imenso potencial daquilo. Dá para gastar o que for preciso a despoluir e depois é só abrir uma tendinha para os interessados virem inscrever-se para construir prédios,  quarteirões, sei lá que mais.

Entretanto, depois da GALP anunciar (já lá vai quase um ano) o fim da refinaria sem que o accionista Estado sequer franzisse o metafórico sobrolho, aparece agora Costa a denunciar a falta de ética galpista, o golpismo galpista se quiserem, Até a Comissão de Trabalhadores, notem bm a Comissão de Trabalhadores!, dicou surpreendida. “Pobre, quando a esmola é grande, desconfia” E a CT já veio dizer que durante semanas, meses, tentou contactar o Governo para o informar do desaforo galpista. Sem qualquer êxito. Nada. Bateram a todas as portas e nada, nicles. Ninguém abriu, ninguém espreitou pela fechadura. Zero!      

Num segundo momento, uma agência governamental veio afirmar que contactara a GALP para esta suspender o despedimento, pagar salários e demais alcavalas enquanto a dita agência dava uns cursos ao futuros despedidos para eles se fazerem a outra vida.

A GALP em resposta veio informar que, se o fizesse, prejudicaria os trabalhadores pois deixá-los-ia numa situação que não lhes permitiria requerer o subsídio de desemprego. Além disso, esta é da minha lavra, porque é que a companhia pagaria uma espécie de subsídio por algo que não controlava e cujo efeito é aliás duvidoso. Então, porque é que o Estado através da sua rede de agências não assumiria esse encargo?

Quanto `ás ameaças” de Costa, a GALP, nem se dignou responder. “Eles”  lá sabem que tudo isto, este falar grosso é para inglês (enfim português, de Matosinhos e arredores) ver. Acabada a faina eleitoral, o mundo regressa à normalidade e “tudo como dantes, quartel general em Abrantes”

Costa, previdente (que o homem pode ser muita coisa mas estúpido é que não..) atirou para cima da Câmara o encargo de tornar viva a ameaça. A ver vamos, como dizia o cego.

Quanto tempo irá demorar a perceber que os negócios imobiliários vão florir naquele local?

A Câmara ou a sua Presidente, agora ”incumbente”, já veio dizer que vai requisitar uns terrenos para um “centro tecnológico qualquer coisa”. E porque não? Os terrenos tem profundidade suficiente para construir tal coisa lá bem no interior. Isto no caso de ser necessário o dito cujo centro, o que está ainda por provar.

Esta ladainha costista poderia continuar pois o homem está que ferve. Não para. Há quem diga que ele está apnas a mostrar aos eventuais herdeiros, de que farinha se fazem os líderes. Talvez, tanto mais que ao que se vê os herdeiros não são do mesmo teor e substância. Nem de inteligência, sobretudo o cavalheiro que queria ver as perninhas dos banqueiros alemães a tremelicar.

A alemoagem ficou impassível, nem ouviu, se ouviu não entendeu – nem precisa – o português básico do rapazola. E hão de ter bebido umas cancas de litro da boa cerveja bávara e continuado a contar os euros que lhes entram nos cofres. Portugal é longe e como destino de férias não vale as ilhas baleares. E muito menos a Costa Brava, a Côte d’Azur, a Riviera italiana, as ilhas gregas ou a costa da antiga Jugoslávia.

Quando se começou a falar no PRR, eu macaco com o rabo pelado de tanta calosidade por esperar sentado, desconfiei que aquilo ia ser um momento único e zen.

Ainda não se viu o cacau mas já todos o querem gastar. E Costa que, deixa nas entrelinhas, a avalancha de dinheiros, não lhes diz que esses fundos tem destinos bem definidos, regras apertadas e, pelos vistos, fortemente controladas e não tem como destino a freguesia A, a câmara b ou o parque infantil de São Serapião de Baixo.

Vai haver muito choro e ranger de dentes!

? a vinheta: basta olhar para a fotografia para ver onde está a GALP. Na 1ª linha de pria ! 

 

liberdade vigiada 143

d'oliveira, 21.09.21

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Liberdade vigiada  143

Ai Portugal  se fosses só três sílabas

mcr 21 de Setembro 2021

 

 

Eu sou de manias, mesmo se muitas, demasiadas. Alexandre O’ Neil é uma delas e bem antiga. Deco ao meu querido e desaparecido colega de liceu António Manso Pinheiro, que depois haveria de ser um editor prestigiado (da Estampa) o conhecimento deste autor. Já lá vão sessenta anos, mais coisa menos coisa, desta paixão “oneiliana” que os anos só tem aumentado.

É o autor do título, o primeiro verso de um poema que termina assim: “Portugal, remorso de todos nós”

Até nisto coincido com o poeta. Tenho por esta terra que me viu nascer e há de comer os ossos, um amor assolapado, triste, pungente, inexplicável. Doi-me o meu país, doem-me as suas elites indignas, doi-me o mau gosto das classes médias, a pobreza resignada doas faixas mais populares.

Os portugueses desertam o país `media de 50.000 por ano. Fogem da terra sáfara, d indignidade dos empregos mal pagos, do abandono do interior, dos ghettos das periferias citadinas, da falta de futuro, da incerteza angustiada do presente.

Algumas vezes houve em que as minhas lamentações provocaram reparos neste blogue. Havia quem dissesse que eu não via “as coisas positivas”  que seriam muita e maravilhosa. As mesmas aliás que dezenas de milhares de portugueses em fuga para as franças e araganças também não viam...

Eu nem tentava explicar o que era ver Portugal desde o estrangeiro onde, por sorte (ou por má sina) estive algumas vezes por períodos demorados. Da França, da Espanha da Alemanha ou da Holanda, eu comparava, tentava perceber mas perdia-me sempre. Portugal, tirando um par de cidades, algum litoral, era um navio à deriva, à beira do naufrágio.

Não é por acaso que alguns dos melhores livros de uma literatura que, apesar de tudo, é – de quando em quando- vigorosa, são terríveis descrições do nosso trágico destino.

Leiam, caso estejam interessados, a “História trágico-marítima”, a “Peregrinação”, os Eças e Camilos que entenderem e digam-me o que fica, o sarro fundo e persistente de ser português. Um outro poe ta, desta feita, recente, do século XX, Daniel Filipe, deixou um livro que premonitoriamente se intitulava “Pátria, lugar de exílio”. Está tudo dito!

 

Desta feita, duas ou três coisas merecem atenção. O sr Ministro da Educação, um pobre diabo que não deve saber bem o que está por lá a fazer, veio orgulhoso afirmar que a despesa por aluno do ensino secundário aumentou, em poucos anos (desde 2015), mais de 30%. A dessorada criatura citou mesmo o preço médio anual de cada aluno no sistema público: 6.000 euros (seis mil!!!)

E vejam só: nos três melhores (e eventualmente mais caros...) colégios privados, o custo por aluno é  inferior. Ligeiramente inferior, mas inferior! Se nos lembrarmos que no ranking das melhores 50 escolas, há três públicas e 47 privadas, se atentarmos que as raras públicas estão bem abaixo das vinte primeiras, parece fácil verificar que algo está mal no reino de Portugal.

Eu sei que os rankings são o que são mas algo significam. E esse algo é, apesar de tudo, muito e determina cada vez mais as famílias que podem a entregar as suas crianças ao ensino privado onde as condições ensino são sempre melhores, desde instalações, até actividades circum-escolares.

Nos meus tempos de estudante do secundário andei por liceus e colégios. Tive grandes professores em ambos mas, obviamente, o sistema de internato nos colégios e o facto de as turmas serem reduzidíssimas, dava azo a que o aproveitamento fosse eventualmente melhor. Agora, julgo, não há internato, pelo que o argumento de “estudo obrigatório” já não colhe.

Não sei como é que num sistema de ensino que abrangerá mais de 80% dos estudantes, o que poderia trazer economias de escala, os custos conseguem ultrapassar os do ensino privado (que ainda por cima, tem de dar lucro aos proprietários dos colégios).

 

  A segunda nota tem a ver com o valor médio das pensões: pelos vistos o valor destas na função pública é três vezes o que é pago aos trabalhadores do sector privado, os que criam riqueza!

Eu trabalhei grande parte da minha vida na função pública e vi de tudo, bom, mau péssimo e excelente. Tenho por certo que o Estado tem funções essenciais que só um funcionariato pode desempenhar com qualidade e exigência. Ser funcionário implica um poder dever reconhecido em toda a parte. O que se não entende é a gigantesca discrepância entre ambos os sectores, sobretudo quando assistimos à turbulência sindical da função pública, ao horários de trabalho praticados cerca de 20% inferiores aos do sector privado, a garantia quase eterna de emprego, a constante subida de efectivos, as propostas escandalosas de aumento contínuo de empregos públicos quanto a tarefas que o sector privado poderia levar a cabo.

Claro que a função pública com quase 800.000 trabalhadores é uma reserva de votos para alguns partidos que amam estremecidamente o Estado e a sua rede tentacular.

 

Uma terceira nota para a súbita e eleitoral indignação do dr. Costa, nas vestes de dirigente socialista, contra o encerramento da Galp de Matosinhos.

   Lembremos que o mesmo senhor, envergando a camisola de 1º Ministro, se tinha congratulado pelo fim de uma empresa altamente poluidora que, por acaso, se chamava Galp em Matosinhos!...Isto há meia dúzia de meses.

  Todavia há pior: o senhor secretário geral do PS, ameaçou a Galp e jurou que esta empresa pagaria o desaforo do encerramento. Que a Câmara, uma vez ganhas as eleições, lhe trataria dos terrenos e evitaria “especulações” sobre eles que estão praticamente na primeira linha de costa!

  Eu não sei se este Secretário Geral se confundiu com o     cargo de 1º Ministro, o único (mal, muito mal) habilitado a fazer ameaças.

A Galp (detida em 7% pelo Estado) nem tugiu nem mugiu. Ignorou olimpicamente a bravata eleitoral e provavelmente foi o que fez de melhor. As épocas eleitorais dão para desvarios e a empresa lá terá pensado que “cão que ladra não morde”

 

( nada tenho a ver com a Galp, não conheço lá ninguém, não sei se valia a pena ou não ter uma refinaria no Norte e se há ou não um plano, seja ele qual for, para o futuro dos 200 despedidos. De resto, a responsabilidade primeira de haver ou não tal plano, incumbe ,ais ao Estado do que (legalmente, sublinho) à empresa.)

 

Estes três retratos “a la minuta” permitem o desabafo acima vertido. Nos EUA, yn grande romancista escreveu “este país não é para velhos” . Por cá eu diria que “este país não é para portugueses”.

O diabo é que não temos para onde ir....  

* a vinheta: Há uma edição italiana de poemas de O'Neil intitulada "Portogalo, mio rimorso" (Einaudi, 1966). O primeirao exemplar que   comprei ( em Itália, 1972) acabou nas mãos de uma bela florentina que era ourives e foi um idílio de Verão que eventualmente os versos do poeta alimentaram. Depois, pus-me à procura do livro e, durante 42 anos , foram baldados todos os esforços feitos mesmo com a internet a funcionar. Depois por um mero aacaso, apareceu um alfarrabista italiano que tinha o livriho. A tradução é de Joyce Lussu, uma italiana que esteve refugiada em Portugal e que terá sido a mulher de emilio Lussu, um excelente autor de esquerda. O meu irmão ainda me perguntou se o livro não seria o mesmo que eu oferecera mas tudo indica que não. 

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