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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

au bonheur des dames 444

d'oliveira, 29.11.21

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Mulher. Negra. Artista de variedades. Resistente. Heroína.

No Pantheon !

 

Eu creio que alguma vez aqui terei escrito sobre Josephine Baker, uma grande senhora do music hall francês, cidadã de duas pátrias, resistente quando isso implicava perigo de morte, mãe adoptiva de uma boa dúzia de crianças de várias cores, raças e credos, em suma um símbolo de tudo o que conforta a alma do cronista e, supõe-se, de muitos leitores.

Resumindo, JB foi uma talentosa dançarina de burlesque, negra e americana que cedo percebeu que na sua pátria não era mais do que uma “nigger”. Desandou , como aliás muitos dos melhores nomes do jazz americano para as mais clementes paisagens europeias, fundamentalmente para França onde em pouco tempo se tornou a coqueluche  do tout Paris de entre guerras. Vibrante, inteligente, sensual e talentosa ousou tudo e tudo lhe correu de feição. Multidões aguardavam-na nas digressões por capitais europeias, Viena e Berlin incluídas. É verdade que com ela vinha um perfume de escândalo, de nudez, de “bal négre”. Mas tudo isso revestido do seu extraordinário talento, da sua voz (cantava muito bem) e do seu imenso humor.

Por duas ou três vezes tentou regressar aos Estados Unidos de onde o racismo dominante a expulsava.

Quando a guerra chegou, estava no auge da fama e disso bem se aproveitou para, militando na Resistência (foi uma gaulista da primeira hora, a hora dos bravos, dos mortos e dos heróis), e nas suas deslocações artísticas servia de correio importantíssimo da França Livre.

Quando estava em casa, um castelo, diga-se de passagem, acolhia judeus fugidos e aviadores aliados derrubados e em fuga. A todos protegeu desvelada  e corajosamente. No final da guerra, ei-la alvo  das melhores condecorações  francesas, (tornara-se entretanto cidadã francesa)  E foi assim, fardada como tinha direito que, compareceu ao lado de Martin Luther King na memorável jornada de Washington. Compareceu e foi a única mulher a discursar!

Não vou fazer aqui a biografia desta extraordinária artista de variedades  que hoje é nome de rua, de estação de metro, sei lá do que mais.

Entra, agora, no Pantheon  por pleno direito. E acarinhada pelo reconhecimento unânime dos franceses e lembrança do Presidente Macron. Os grandes cabarets de Paris estão em festa, como se esta entrada na imortalidade oficial uma vez mais celebrasse Paris, a alegria de viver a par da honra, da dignidade, da coragem.

 

 

 

 

 

estes dias que passam 605

d'oliveira, 28.11.21

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Guardado estava o bocado...

mcr, 28-11-21

 

Há muitos, demasiados, anos um dos meus parceiros de bridge, João Gama, amigo desde Coimbra e dos tempos do CITAC, militante da ala social-democrata do PPD, explicou num intervalo entre dois “rubbers” o que o partido pensava de Rui Rio que se tinha apresentado como candidato surpresa à Câmara Municipal do Porto: “vocês não sabem nem metade da história. O Rio é, para grande parte do partido, um chato. Um tipo que vai contra muitos interesses instalados, teimoso quem duas mulas espanholas. Agora que vai ter pela frente o Fernando Gomes, vai finalmente afocinhar. E duma penada, po partido fica livre dele e dos da mesma laia.”

Como se sabe, se é que ainda alguém se lembra, Rio atirou Gomes para as cordas e ganhou por mais duas vezes e por maioria absoluta a Câmara do Porto. Na hora da despedida ainda conseguiu empontar Meneses e fazer eleger Rui Moreira. Depois, ganhou o PPD e andou estes anos pelas ruas da amargura, coisa que ocorre muito com quem está na oposição. Em Portugal, estar fora do Governo é uma cruz, um desastre, um horror. Não tem poder, ninguém lhe liga nenhum, não tem cargos para distribuir, suscita invejas, mal entendidos, suspeitas e pequenos ódios. Tudo internamente, já se vê. No caso do PPD/PSD a coisa piora porquanto há desde sempre baronias históricas que se digladiam forte e feio.

Eu, em boa verdade, não aprecio Rio seja por que ângulo for. Porém, sempre lhe reconheci algum faro, muita perseverança e inteligência q.b.

Portanto, quando assisti, com alguma surpresa, ao desafio de Rangel, um homem culto, com muito mundo, bem falante, com provas dadas no Parlamento europeu, não me attevi a dar o prélio por acabado antes de começar. À imagem desgastada de Rio opunha-se estoutra mais fresca de alguém  com talento para escrever, à vontade nas televisões e nos debates, algumas ideias que, não sendo novas, pareciam pelo menos frescas.

Todavia, a história pregressa do incumbente que vinha lastrada de vitórias começadas ainda na associação de estudantes da Faculdade de Economia, que não vivia da política (e este ponto importa...) suscitava-me uma dúvida permanente sobre quem seria o vencedor.

É verdade que para o PPD/PSD estas directas vieram no pior momento. E nisso, Rio tinha alguma razão. Porém, deixar para depois a resolução da questão parecia ser ainda pior (um ponto a favor de Rangel).

Ao meu genro confidenciei que a ter algum palpite este caía mais para Rio mas sem que isso tivesse qualquer razão de fundo a não ser uma certa e conhecida ojeriza aos aparelhos partidários.

E Rio somou mais uma vitória! Curta, é verdade, mas vitória. Com uma consequência que não é despicienda; do lado de Rangel apela-se a um cerrar de fileiras pois há, mesmo que distante, alguma hipótese de bater o PS.

De certo modo, como me diz W, um dos velhos, velhíssimos amigos e cúmplices de outros carnavais políticos, o BE e o PCP tinham a mesma desconfiança: apontaram desde cedo as espingardas contra Rio como se quisessem dizer que Rangel era mais confiável. Note-se o verbo  “se quisessem”. Se era ou não isto não vale a pena discutir. À vista desarmada, o que me parece é (pelo menos para mim...)

A tarefa interna de Rio está facilitada. Conhece as pessoas, as situações locais, pode preparar com tranquilidade (alguma, pelo menos) os dois meses que se avizinham. Não creio que vá ter, para já, muita rsistência interna. À vista da carniça ou, pelo menos, da sua hipótese, até os urubus se acalmam e e concordam em esperar para ver.

Costa, se porventura se lembra do malogrado Fernando Gomes, que se acalme. Cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal nem a doentes nem a sãos. As eleições, apesar do suicídio da Esquerda  mais dura não estão ganhas. Ou não estão ganhas à altura das ambições do PS. A líder do BE ainda ontem vinha prevenir contra algo que de perto ou de longe se parecesse com um bloco central. Alguma coisa a senhora percebeu ao longo destes anos. Tarde, provavelmente, pois teve a possibilidade de emendar a mão e não permitir a crise.

Se tudo ocorrer como poderá ser mais previsível, as perdas quase certas do BE e do PC poderão equilibrar as que, também muito previsíveis, o PS sofrerá ao centro. Por outro lado, a menos que o “povo de Direita” seja mais burro do que por vezes parece, há a hipótese de haver uma vaga de voto útil à Direita. Com duas consequências: reforço do PPD/PSD e não enchimento do Chega. As bravatas de Ventura começam a cansar alguns dos seus apoiantes. Há, ou parece haver, alguma erosão no partido. Gá, também, muito poder pessoal demasiadamente concentrado e isso pode ter consequências. N caso do CDS a loucura do rapazola que o dirige poderá desviar votos muito naturalmente para o PSD/PPD. Aos liberais não parecem ser alternativa e o discurso virulento do Chega afecta os democratas cristãos (se ainda por lá andam).

O que, se tudo isto for certo, só confortará Rio.

E a pandemia, a falta de matérias primas, as dificuldades em quase todos os sectores industriais também ajudam mais Rio do que Costa.

A ver vamos como dizia o cego.

 

(nota: aprovei, como sempre fiz, aliás, os dois comentários de leitores ainda sobre a vexata quaestio da ministrada saúde. Nada tenho a acrecentar ao que já disse e que está escrito. Os comentários, julgo, podem ser integralmente lidos (comoalguém mais sabedor do que eu me informou) sem necessitar de os trazer ao texto do folhetim. 

Eu não exerço qualquer censura sobre o que os leitores, amavelmente ou não, tem a dizer. Isto é um espaço de liberdade onde a censura não põe, pela minha mão, o pé negregado. Para censura bastaram-me os anos em que o que escrevia na Vertice ou no Comércio do Funchal era afundado pelo lápiz aul. Acho que 90% da minha pobre produção naufragou nessas águas. E o pior é que nemcópias tenho pois umpequeno incêncio em casa levou isso que não era senão sentimentalmente importante e duas gavuras de Picasso asinadas e numeradas (ai...) além de outra de outros cavalheiros menos importantes e menos caros. 

  

estes dias que passam 604

d'oliveira, 27.11.21

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Três comentários cuidadosamente transcritos para que não se julgue que o bloger se furta ao diálogo ou esconde opiniões divergentes

E duas breves notas sobre as criaturas que aqui foram comentadas.

Eu não estou só mas  antes demasiadamente acompanhado no que diz respeito ao que disse a srª Ministra e que, pelos vistos, por muita gente foi entendido. Não me louvo na opinião do Bastonário, do Sindicato sequer do Se. Presidente da República. Por mero acaso, ainda ontem o ex-“governo sombra” (SIC, pela meia noite) dedicou ao tema alguns minutos bem mais duros do que a minha prosa. Os jornais já desmontaram com clareza as declarações da referida senhora pelo que não vale apena chover em chão molhado mesmo se com lágrimas...

Finalmente nunca pretendi que a Ministra fosse estúpida, que não é, longe disso, mas apenas imoderada n comunicação E súbita e imoderadamente ideóloga!

E já que alguém acha que é a ela que eu (e o leitor..) devemos a vida devo dizer que a devo a muito mais e mais próxima gente, nacional e estrangeira. Àos  da primeira  linha, se bem que nunca cai no hospital nem fui contaminado, às recomendações da OMS mesmo se tardias, a uma vaga cultura histórica do que foram outras e piores epidemias Os cuidados de que me rodeei, mesmo sem ser exagerados, foram os suficientes tanto mais que só usei a máscara quando finalmente ela apareceu nas farmácias (e lembro que se chegou a dizer que a dita era desnecessária ou que induzia a um excesso de confiança – e isso veio do MS!- ); aliás não fiz mais do que a enorme maioria dos portugueses: protegi-me, confinei-me até poder ser vacinado. Aliás, cheguei mesmo a fazer uma muito generosa doação monetária para um hospital de campanha que praticamente foi desnecessário. E não me arrependi desse gasto razoavelmente exorbitante para o comum das minhas despesas. Ninguém me deve nada e eu, garanto-o. Não devo nada a ninguém Ministra incluída. De resto, que diabo!, que se espera de um ministro seja ele qual for, senão que faça o que tem de fazer. E bem, já agora.

Arrumo de vez o tema Marta Temido e não voltarei a ele para alimentar uma discussão que vai muito para lá da actuação concreta e tenta entrar noutros campos, mormente ideológicos.

Sobre Caxias e as minhas estadias nessa estância, mais outras noutros locais e sempre graças à PIDE, devo dizer que fiz o que achei altura, e acho ainda hoje, devia fazer. Não quero medalhas nem especial reconhecimento público mas também não me esqueço que à boleia do “anti-fascismo” muita e muita gentinha se passou de um lado para o  outro e blasona de resistências que ninguém viu (e nem preciso de dar exemplos pois, volta e meia aparecem criaturas que, mesmo estando possivelmente no jardim escola já eram combatentes pela liberdade... E isto sem falar de muitos políticos subitamente reconvertidos em democratas depois de carreiras bem sucedidas no Estado Novo. Ou de outros que, nem sim nem não, fazem do antigo e contumaz silêncio uma espécie de prova de oposição No final dos anos 70 e logo a seguir ao 25 de Abril, muitos militares, muitos intelectuais e outra gente descobriram uma “estrada de Damasco”, aliás uma venida por onde desataram a marchar iluminados pela Luz e devorados pela ambição de se tornarem em apóstolos da Verdade subitamente revelada para melhor combaterem os infiéis onde antes se movimentavam muito à vontade. 

Todavia, de duas coisas me gabo: nunca , direta ou indirecta, dei o nome de alguém e nunca pretendi opor ao regime do Estado novo outro que também não tivesse em grande consideração os Direitos Humanos, todos os Direitos Humanos e políticos, incluindo o multipartidarismo, a liberdade de opinião e crítica e o repúdio por qualquer espécie de policia política ou ideológica. Sempre entendi a Liberdade como um valor supremo e a Democracia tal qual a conhecemos como o menos imperfeito meio de vivermos a primeira. Da URSS à África do Sul, da Coreia do Norte ao Chile sempre julguei infames e intoleráveis os regimes que mantiveram milhões de pessoas em cativeiro por professarem ideologias diferentes ou, às vezes , nem isso: bastava não seguir à risca o que o partido único, ou a pretender-se, como tal entendia. E posso garantir, por experiência própria, que isto não era pera doce. R nunca aceitei que a luta pela Liberdade e pela Democracia utilizasse métodos terroristas fosse em Espanha, na Itália, em França ou na Alemanha para só citar países onde uma deriva trágica do Maio de 68 levou ao que se sabe (ou ao que devia saber-se mas que agora pudicamente se finge esquecer)

 

  • Caro Doc , na sua infinita generosidade utiliza termos como "governo" , membros do dito , criaturas que fazem de "ministro/a" ...quando todos sabemos que se trata de uma quadrilha ou, numa forma benigna, da famosa e sempiterna "choldra" queirosiana...Os habituais cpmts.JSP

Desconhecido a 26 de Novembro 2021, 18:

Comentário no post estes dias que passam 603

Eu que sou o " leitor sensato e generoso " que , por ignorância informática , não consegue identificar-se nominalmente , hoje decidiu escrever algumas coisa : uma é a de que tenho um profundo respeito por quem esteve em Caxias pois a esses homens devo uma boa parte da liberdade que , neste momento , disfruto , sem recear que essa " prestimosa " instituição que foi a PIDE me venha incomodar ; conheci , e tive a estima de alguns que já tem referido , a maioria dos quais já partiu ; por essa , e outras razões seria incapaz de pensar que tem algum ódio a quem quer que seja . A minha expressão foi apenas de índole mais , ou menos retórica ; mas tudo que antecede não me impede - pelo contrario exige - que discorde de si e das sua posiçõchadocadoes , sendo porventura a que mais me motiva um certo desprezo que flui dos textos sobre os " Gerais , e por aquilo que , apesar da época , nele se aprendia ; outro , na mesma linha , ressalta das suas opiniões sobre quem, passou a vida nos Tribunais , de toga , tentando que , pelo menos , alguma Justiça fosse feita ; algumas das pessoas a que me me referi foram gente como Sá Carneiro Figueiredo, Mário Brochado Coelho , ou aquele gigante - falecido há poucos anos e cujo nome teimosamente me escapa neste instante - exemplos de dignidade e probidade . Agora o caso da Ministra da Saúde parra lhe dizer , desde já , que se a senhora fosse tão incompetente como a qualifica , provavelmente , já não estaríamos s dois vivos ; e certamente a senhora não é burra ao ponto de ter afirmado algo que o inefável , e omnipresente Bastonário dos Médicos , classificou como uma tentativa de " escravatura dos médicos" ; todos os mais atentos sabem do " grande amor " que ele tem ao SNS e do grau de acerto das suas profecias ; não raras vezes o dito foi mesmo um tanto mal educado em relação a Ministra ; e também sabemos de quão é defensor do SNS o presidente dessa curioso Sindicato Independente dos Médicos , designação que só por ironia podemos aceitar; para finalzar quero dizer-lhe que a minha experiencia com a vacinação, seja da gripe , seja do Covid é diametralmente oposta a sua . Por hoje e por aqui me fico , esperando que não perca este comentário , e porventura possamos continuar este " combate " 

Desconhecido a 27 de Novembro 2021, 00:30Ler Aprovar Apagar

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Comentário no post estes dias que passam 603

Caro senhor mcr, lido e relido o seu escrito, atenho-me à seguinte passagem do mesmo, para não sobrecarregar o comentário: "...Esse leitor citava sobretudo a srª Ministra da Saúde que já aqui foi referida um par de vezes. Ele a achar que eu era injusto e a criatura a fazer uma discursata onde punha os médicos do SNS em causa. Por falta de resiliência, palavrão recente que encobre tudo e um par de botas. Hoje o jornal relata umas desculpas esfarrapadas onde a referida senhora jura que não disse o que disse. Que ela aré estima muito a classe médica, que sempre a amou devotadamente, que isto e que aquilo. Até o sr Presidente da República reparou na coisa e criticou brandamente a responsável ministerial.Ora, segundo li no JN, a senhora ministra disse isto na comissão de saúde: "Estes profissionais são, de facto, chamados a profissões extraordinariamente exigentes. E também é bom que todos nós, como sociedade e isto envolve várias áreas, pensemos nas expectativas e na seleção destes profissionais. Porque, porventura, outros aspetos como a resiliência são tão importantes como as suas competências técnicas. Estas são, de facto, profissões que exigem uma grande capacidade de resistência, de enfrentar a pressão e o desgaste e temos de investir nisso". Se assim foi, explique lá, preto no branco, qual é a parte da conversa da ministra que o leva a concluir que a dita senhora pôs em causa os médicos do SNS.É que, honestamente, não vejo como possa extrair-se tal conclusão das ditas palavras.Provavelmente, o alarido à volta do discurso da ministra é do domínio das "perceções" ( palavra irritante e igualmente em voga no âmbito desta comunicação social cada vez mais analfabeta e nada desinteressada) sugeridas para levar a água a algum moinho.De facto, ainda segundo o JN, são dos dirigentes do SIM e do bastonário dos médicos as declarações que haveriam de criar todo este alarido e a dita "perceção", como convinha.Que admiração!!! Luta política pura e às claras, em período eleitoral. No caso, o único erro (político) da ministra foi ter-se sujeitado a um pedido de desculpas descabido.Finalmente, quando trás o senhor Presidente da República à liça, talvez conviesse ter em conta o que escreveu em recentíssimo texto, pois a ajuizar pelas considerações aí vertidas, e bem, não garantirá a justeza da opinião que agora expende.Saudações democráticas .JAPS.

concordo consigo que é sobre os Poderes clássicos que deve ser exercida o essencial da nossa vigilância, mas hoje há outros "poderes" que não devemos menosprezar. . A declaração suscitou uma reação imediata do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) que interpretou das palavras da ministra a necessidade de contratar médicos mais resilientes. "Afirmar que têm de ser contratados médicos mais resilientes é uma imperdoável ofensa que os médicos portugueses, exaustos por centenas de horas extraordinárias (já agora, sendo obrigatórias... em exemplo não reproduzível em toda a administração pública) não mais perdoarão e esquecerão", afirmou o SIM em comunicado. Também a Ordem dos Médicos considerou "inqualificáveis" as declarações da ministra da Saúde, afirmando que "perdeu toda a credibilidade" e que os clínicos saberão dar resposta à "atitude totalmente inaceitável". Convenhamos que, num momento em que os alarmes começam a tocar desenfreadamente por cá, a tolice ministerial passou de singular a dupla, quanto mais não seja pela falta de oportunidade. 

Na gravura: Caxias , melhor dizendo o portão que, pelo menos uma vez, foi arrombado por um carro bde luxo blindado que serviu de veículo de fuga fde um grupo de presos comunistas. Na altura a "malta" toda riu-se a bandeiras despregadas.

 

 

estes dias que passam 603

d'oliveira, 26.11.21

Francis Smth 1.jpg

 

 

Repetindo até me entenderem 

mcr, 26-11-21

 

Escrevo neste blog desde finais de 2005. Na altura, o blog era muito jurídico, muito ministério público. Por razões que nunca consegui discernir, entenderam os responsáveis convidar gente que não ó não trataria de questões conexas com o Direito mas até estavam longe dessa área. 

Eu, “pobre homem de Buarcos” apanhara com a dose completa do Direito, incluindo, para meu espanto um curso completo de Direito Comparado onde me diverti como um cabinda, o antigo e reservadíssimo 6º ano de que me salvei graças a uma (mais uma, a quarta...) estadia na universidade de Caxias, em mais um curso de práticas subversivas e oposicráticas. A coisa durou uns meses e saí com mais um processo que nunca chegou a mau termo porque entretanto veio o 25 A.

Depois disso, ainda advoguei uns escassos tempos mas, tendo sido chamado para salvar a pátria e gerir uma instituição de segurança social, consegui com algum esforço, muito entusiasmo e pouco apreço pela profissão, escapulir-me dessa maçada de aturar clientes, enfrentar colegas, ouvir doutíssimos juízes & assimilados. 

Nunca mais abri um calhamaço jurídico, fugi do Direito como da peste e confesso que me senti muito bem. 

Claro que o Direito, pelo menos o que se aprendi soturnamente nos “Gerais”, em Coimbra pega-se à pele e por mais que um se coce nunca sai de todo. 

É por isso que ainda hoje, tantos anos passados, ao escrever, tenha o cuidado de não fazer acusações descabidas ou deixar de tentar usar algum bom senso nas opiniões que, enquanto cidadão interessado, vou emitindo.

Quem escreve quase diariamente como se um diário se tratasse tem por força de opinar contra muitas vezes. Contra os maus hábitos nacionais, contra a pacatez e a preguiça de pensar, contra algumas elites (enfim o que por cá se passeia como tal)que se governam desgovernando-nos e devem pensar que vivem num outro e diferente país. 

Há um velho dito figueirense que assegura que “dizer bem é supérfluo”. Não é bem assim ms andar por aí a louvaminhar a “boa” governação parece-me lavar o que está limpo. Quem governa deve governar bem; é para isso que lá está e não para depois de uns anos na governação ir descansar à sombra da bananeira  sentadinho à mesa do orçamento ou numa pingue empresa privado a que se fizeram favores. 

E foi por isso, e só por isso, que à vista de erráticas posições no Ministério da Saúde (da nossa saúde, daquela para que pagamos - não todos, provavelmente, nem sequer a maior parte, mas seguramente alguns, eu incluído), eu critique quem lá manda e não o contínuo que está `porta, ou o motorista de S.ª Ex.ª

Um leitor, generoso e sensato perguntou-me se eu tinha algum  #odio de estimação” aos abencerragens a que, de longe em longe, vou alfinetando. Não tenho, era o que mais me faltava!

Guaro os meus “ódios”, aliás poucos mas definitivos para, três ou quatro criaturas com quem cortei relações há muitos, muitos anos. E , aliás, nem ódios são mas apenas desprezo e uma definitiva vontade de os não conhecer. Nem me lembro delas. Isto é como no imortal livro de Orwell – ou será do Huxley?- passaram à categoria de “non persons” estão num limbo escuro onde os meus cansados olhos não entram. 

Esse leitor citava sobretudo a srª Ministra da Saúde que já aqui foi referida um par de vezes. Ele a achar que eu era injusto e a criatura a fazer uma discursata onde punha os médicos do SNS em causa. Por falta de resiliência, palavrão recente que encobre tudo e um par de botas. Hoje o jornal relata umas desculpas esfarrapadas onde a referida senhora jura que não disse o que disse. Que ela aré estima muito a classe médica, que sempre a amou devotadamente, que isto e que aquilo. Até o sr Presidente da República reparou na coisa e criticou brandamente a responsável ministerial.

Convenhamos que, num momento em que os alarmes começam a tocar desenfreadamente por cá, a tolice ministerial passou de singular a dupla, quanto mais não seja pela falta de oportunidade. 

Em relação a outros cavalheiros mantenho as mesmíssimas razões. Exceptuo por inepto absoluto, o sr. Cabrita. E por pensar que nada, nele, se comove com a verdade nua e crua. Há um pobre operário atropelado numa auto-estrada há meses e ainda ninguém conhece o relatório do acidente a cargo de uma instituição dependente do Ministério por onde o cavalheiro se passeia majestosamente. Aqui a culpa não vao morrer solteira mas virgem, absolutamente virgem  viciosamente virgem se possível.

 

Outros há em todos os lados do espectro político e não só. A mim o que mais me incomoda é a inconsequência, o fala-baratismo, o constante rosário de promessas ue nunca por nunca se cumprem. E o atirr de cculpas sempre, mas sempre, para os outros. E acontece que esses outros, se nacionais, são sempre os que pagam a facturadas experiências sociais alucinadas, os que são esmagados pelo terrorismo palavroso  e mais, ainda, pela clara percepção que aquela prosápia, aqueles arrebatamentos são falsos que estamos em frente de cachorrinhos caseiros que fingem ser lobo

Um velho e desaparecido amigo de Coimbra, num tempo em que a palavra trazia pesadas consequências para quem , e eram raros, a usava, se referia a “canzoada” que de longe ameaçava mas que nunca se atrevia a chegar a vias de facto.   

Ora é isso, esse deprimente espectáculo, esse faz que anda mas não anda, essas promessas continuamente adiadas, que indigna qualquer um. É isso, politicamente, que provoca o fastio eleitoral, a descrença e a fuga às urnas, o afunilamento crescente das nossas opções.

E devo dizer que, para quem lhe cresceram os dentes na luta contra o Estado Novo, pelo voto livre, pelo pluralismo partidário, pela democracia e pela liberdade, este caminho que trilho desde há 16 anos de blog pode não ser o único mas é o que me resta. E vou continuar assim. Tal e qual enquanto tiver cabeça para pensar autonomamente.

Isto não é uma promessa. É um modo de vida ou, se quiserem, um vício antigo mais forte que o tabaco e de que já não vale a pena libertar-me. 

Só tenho um pedido, leiam-me mas discutam comigo caso lhes dê na veneta.  É a falar que a boa gente se entende.   

na ilustração : Francis Smith , um pintor "apagado" pelo tempo mas que começa a reaparecer e a suscitar interesse ecríticas elogiosas. 

 

au bonheur des dames 443

d'oliveira, 25.11.21

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Isto é gozar com o pagode!

mcr, 25-11-21

 

O sr. Rendeiro e o seu ainda advogado devem ter uma curiosa e diferente percepção do português que falamos. Vejamos:

O prófugo (andava há anos com esta palavra engatilhada; finalmente vou usá-la!) banqueiro acha-se vítima de uma monstruosa conspiração, jura que vai pôr o Estado em tribunal e avisa que só regressará à ditosa pátria bem amada se o Presidente da República o indultar. Queixa, ameaça e condição!

A peregrina ideia de, depois de condenado e com mais uns processos às costas, pôr o Estado em Tribunal só pode ser paranoia pura, loucura mansa, estupidez crassa /ele que escolha...)

Propor um indulto para si próprio eis outra aberrante ideia apropriada provavelmente a um estado temporário ou definitivo de doidice ou apenas fruto de um fraco conhecimento desse expediente.

A criatura deve julgar que a pátria e, sobretudo, os que ele vigarizou, está fervorosamente à espera do seu regresso não num dia de nevoeiro mas de sol resplandecente. Tirando os juízes que o condenaram e os beleguins que o poderiam gostosamente conduzir a uma enxovia, não se vê mais nenhum interessado na sua presença. Nem sequer os vizinhos da quinta Patiño ou as três “cadelinhas, três amores” da esposa amantíssima que não conseguia separar-se dos bichinhos...

E o distinto advogado que “não sabe em que país está o cliente mesmo que confirme ter com ele conferenciado várias vezes recentemente?

O surpreendente causídico indignou-se por o cliente ter afirmado que foi industriado pelo advogado quanto à fuga, processos de a realizar e países a que se acolher.

O eminente membro do foro acha naturalíssimo ensinar as legislações mais ou menos simpáticas de países igualmente acolhedores onde um condenado a pena de prisão se possa acolher. Nõ lhe passou pela cabecinha sonhadora que essas informações servissem para o seu atento ouvinte escolher local seguro onde se esconder e espacpar da mão justiceira que o tinha na mira.

A ingenuidade deste jurista prova bem que o estado de catatónica inocência existe e é estimado e preservado mesmo no obscuro e difícil mundo da advocacia.

De todo o modo, o advogado já anunciou que irá deixar de representar o sr Rendeiro por este o difamado afirmando que foi ele, advogado, a tratar de todos os pormenores da fuga.

A ver vamos quando o fará. Porventura só depois de receber os devidos honorários pelos seus inestimáveis serviços jurídicos mesmo se a indicação de países benevolamente tolerantes com criminosos condenados pareça exceder o âmbito das competências da defesa...

“já vi tudo!”, gritava o ceguinho depois de lhe atirarem com um penico devidamente cheio do que  é usual meter em tal continente.

Rendeiro, por um lado e o agora seu ex-advogado também. E nós na plateia espantados com tudo isto que nos é oferecido pela novíssima CNN em português.

Em boa verdade vos digo, vivemos num tempo espantoso.   

(ao pé disto, as aventuras rocambolescas do  futebol, do seu opaco mundo, os dinheiros que por lá andam aos baldões, é mera crónica para revistas cor de rosa. DE todo o modo, ainda vamos ver que também ali, é tudo boa gente, pessoal sacrificado, ao serviço do bem e do desporto nacional. E condecorado, claro está por quem condecora a torto e a direito...)

au bonheur des dames 442

d'oliveira, 24.11.21

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404 !!!

mcr, 24-11-21

 

 

Calma, leitores mais supersticiosos! 404 ainda não é o 666 número diabólico por excelência, como a sapientíssima igreja grega firma.

404 é um mau número mas meramente nacional. É, ou era há poucos dias, o número total de médicos que abandonaram o SNS desde Maio deste ano.

E abandonaram aquele utilíssimo instrumento por várias razões que vão desde a falta contínua de meios, ao grotesco número de horas extraordinárias que lhes cai em cima, às remunerações, ao estatuto medíocre da profissão, ao custo de vida em certa cidades e zonas (Lisboa e Algarve), ao comportamento errático do Ministério, enfim a quase tudo.

Interrogado o MS sobre esta debandada tremenda, disse nada. Ou disse duas parvoejadas piores ainda do que silêncio envergonhado com que deveria encarar este naufrágio.

E, notem bem, os “desaparecidos em combate” não atiram as culpas à pandemia onde se portaram com incalculável coragem e dedicação. Simplesmente estão fartos.

Cá fora ganham mais, tem mais meios, melhor material, melhores horários, mais tempo para a família e, o que não é despiciendo, melhores remunerações.

Algo está podre no reino da Dinamarca, digo Portugal. A situação rebenta por todas as costuras. Ainda ontem se noticiava que Leiria, uma pequena capital distrital, vi ter um hospital CUF. Isto no mesmo momento m que uma cabazada de directores de serviços pede a demissão no hospital público!

O tema saúde diz-me bastante. Venho de uma família de médicos. Desde o trisavô Ernst Richard, ao bisavô Oskar (esse farmacêutico e inventor de medicamentos), ao meu pai, um João Semana dos que já não se fabricavam, um romântico incurável, sempre com o juramento de Hipócrates nos lábios, ao meu irmão também médico (no SNS até à reforma) à minha cunhada enfermeira e professora na respectiva faculdade. E na geração mais nova há notícia de mais uma estudante de enfermagem.

Pela minha parte limitei-me a ter de estudar, pouco e mal, Medicina Legal e a assistir a um par de autópsias. Mas sou amigo de longa data, desde os tempos de faculdade, de muitos e muitos médicos porque em Coimbra as faculdades estavam todas no mesmo sítio e era fácil, quase obrigatório conhecermos malta de outras faculdades.     

 E a queixa é geral, absoluta, ultrapassando as barreiras partidárias: isto está um caos!

E, já que estou com a mão na massa, vou arriscar uma constatação: a vitória da vacinação deveu-se não só ao inexcedível zelo, generosidade, patriotismo e empenhamento dos profissionais de saúde (todos desde médicos a enfermeiros e restantes agentes) mas ao facto de as Forças Armadas terem emprestado umas dezenas de profissionais para assegurar a logística. Ou seja, enquanto o MS começou por designar uma incompetência tonitruante que andou sempre nos píncaros obscuros da governação sustentada por boys, o descalabro foi tal, as ordens tão confusas, que goi mister recorrer a militares que num prazo de poucos dias puseram a casa em ordem e tudo em pratos limpos.

Por isso convém não misturar a água do banho com o menino acabado de lavar. Foram os da “frente de combate” e a máquina da task force os que nos tornaram, como país, um exemplo.

E não foram poucas as vezes em que a task force teve de se impor à pequena multidão político-sanitária que tentava furar as regras e salvar o coiro, à custa de outras e inermes vítimas do vírus.

E mesmo agora, é o coronel que ainda comanda a pequena força que, felizmente, ficou que se tem esforçado por ultrapassar a confusão de decisões, a falta de comunicação, a errática política ministerial ou dependente (o que vem a ser o mesmo) da DGS.

Eu sou utente (e pago forte e feio!) da ADSE. No auge da pandemia (Fevereiro deste ano), vi-me obrigado a recorrer com urgência absoluta ao serviço de oftalmologia da CUF (e afora, graças às burrices supinas da ADSE do Hospital dos Lusíadas). Em dois dias estava a ser marcada o primeiro par de injecções intra-oculares de que necessitava desesperadamente. Sempre fui atendido a horas, quase ao minuto, sempre recebi antecipadamente, aviso do dia e hora marcados. Ainda ontem lá me telefonaram a relembrar a consulta de amanhã...

Mesmo com a comparticipação da ADSE, sai-me do bolso, claro, mas a verdade é que os meus pobres mas traiçoeiros olhos não pioraram e posso encarar o futuro com alguma relativa tranquilidade. Ainda consigo ler o jornal o que já não é mau. E tudo na horinha certa! Não me marcaram uma consulta para daqui a seis meses, um ano, dois, ou para o dia de S Nunca. Ou para quando estivesse definitivamente cego!...

Pago religiosamente todos os meus impostos. E não são poucos mesmo se pouco é o meu património. Em Portugal a classe média paga à bruta como é sabido. Quero continuar, que remédio!, a pagar o que devo como membro solidário de uma sociedade que em muitos casos se apresenta como insolidária.

Não quero que acabe o SNS, bem pelo contrário. O que, porém, não aceito é que aquilo seja o palco de pequenas vaidades, de criminosas vaidades, de inoperância e desleixo. Não quero que aquilo seja mais um exemplo da triste funçanata pública que é o pasto onde se alimentam partidos que só a engrossam mas nunca por nunca a melhoram ou impõem regras de bom funcionamento. 

Vi, li, fui estudar, os relatórios das PPP no campo da saúde. Como é sabido, graças à independência do Tribunal de Contas – que ainda não foi integralmente domesticado pela máquina partidária- os hospitais públicos que tiveram tais instrumentos provaram que com a gestão meticulosa dos privados, fizeram mais, bastante mais, por menos, bastante menos dinheiro. O saldo final dos últimos três ou quatro hospitais com PPP foi, se bem recordo de 100 milhões de euros mais coisa menos coisa.

A gritaria do BE, do PC e de algumas alucinadas criaturas do PS. Ao pôe em causa tais acordos, deu origem à debandada das privados que se fartaram de ser insultados e acusados. Será bom ir veras contas recentes desses hospitais que entretanto recobraram ao a sua “liberdade” de hospitais públicos. Vai uma aposta, singelo contra dobrado, que as contas já estão outra vez fora de controle?

 

404,agora! Quantos serão amanhã, no fim do mês ou no fim do ano? Alguém se atreve a responder?

 

(ontem as televisões davam conta de várias anomalias mormente nas urgências pediátricas algarvias. Alguém se queixava que os pais assustados logo que a criança espirrava corriam para o hospital. Entupiam o hospital. É verdade mas alguém ja pensou no que é que estes pais aflitos pensam dos restantes serviços (saúde 24; centros de saúde, sei lá o que mais)? E porquê?

É que convinha saber se, no caso das urgências nocturnas – e era disso que se tratava – havia alternativas! E consta que não há!

E convinha saber quais os tempos de espera no Centro de Saúde mesmo de dia. E mais não digo... porque não vale a pena. Entendidos ou preciso de fazer um desenho?)

na vinheta: Amadeo de Sousa Cardozo (não tem que ver com o texto mas é uma bela obra, olá se é!

au bonheur des dames 441

d'oliveira, 23.11.21

“ele” anda por aí

mcr,  22-11-21

 

 

 

O título inspira-se muito no dr. Santana Lopes, um dos cadáveres mais bem conservados da Democracia portuguesa. De facto, o referido cavalheiro mesmo quando derrotado acaba por reaparecer. E numa dessas marés de pouca sorte, depois de um forte castigo dos eleitores, ele comunicou a quem o quis ouvir  que “ia andar por aí”. 

Tanto rondou que voltou à minha martirizada cidade  que assiste desolada às contínuas aventuras e desventuras do PS local. Da primeira vez aquilo cindiu-se em dois e Santana entrou impante. Agora, depois de ter perdido um muito razoável presidente de Câmara, chamado para uma qualquer Secretaria de Estado onde não se notou e onde morreu, eis que Santana numa das suas costumeiras reviravoltas, regressa ao “sítio onde foi feliz” (sic) . E ganhou. Bastaram-lhe as vitórias em duas das catorze freguesias do concelho para voltar a poder sentar o dito cujo no gabinete presidencial. 

Parece que, desta feita, quer pôr a Figueira da Foz no mapa. A ver vamos, como dizia o cego que nele audaciosamente votou.

Porém, o folhetim de hoje não é sobre esse flagelo que assola a pátria há quarenta anos, mais coisa, menos coisa. 

É sobre o  covid que também, pudera não!, ronda e sobre o Ministério da Saúde que por vezes parece ter perdido duas letras (precisamente da segunda sílaba) e estar a tentar transformar-se no “mistério” das indecisões.

Já ontem, o dr. Marques Mendes referiu que ´é difícil perceber a linha de rumo daquela agremiação. Hoje diz uma coisa, amanhã outra, depois dá um saltinho para o lado, boceja qualquer coisa e por aí fora. Desta vez, e como de costume, bolsou mais duas coisas, aumentou o número de pessoas que deveriam ser vacinadas rapidamente (pelo expediente de encurtar o prazo da terceira dose por um lado e por uma qualquer prestidigitação que mete a vacina da Jansen e a rapaziada mais nova.

Entretanto, já tinham fechado um par de centros de vacinação que, parece, deverão reabrir. Uma trapalhada! Marques Mendes piedosamente fala em “erros de comunicação”

Eu acrescentaria, problemas de miopia. Há semanas que por toda essa europa o vírus volta a atacar. E forte e feio! Pelos vistos, e como é triste hábito, ninguém reparou. 

Agora, que o Natal está a um mês de distancia, que os hospitais vão tendo mais internados, eis que a DGS e quem nela manda e superintende, gritam “aqui d9el rei!”

Vá lá que ainda não começaram a acusar a task force residual que todos os dias se vê perante mais problemas. Os militares, como é sabido, não são especialmente queixinhas mas o coronel que comanda aquela missão já foi obrigado a avisar que há que dar meios, tempo e ão atrapalhar o que já. De per si, é complicado. 

As notícias filtradas pela mesmíssima DGS fizeram já afluir aos centros pequenas multidões que, entretanto, se defrontaram com a “falta de regulamentação das medidas anunciadas”. 

Tudo isto, e muito mais que nem vale a pena referir, causa confusão no público, na informação dos mass-media, irrita quem é escorraçado porque, afinal, ainda não é a sua vez.

Dava jeit, seria até simpático, uma palavrinha de conforto às pessoas e um tímido pedido de desculpas pela confusão provocada. Alguém viu isso?

Eu também não!

o leitor (im)penitente 226

d'oliveira, 21.11.21

Para acontecimento, é um dos grandes.

Enorme!

mcr, 21-11-21

 

 

 

20.000 páginas! 1.700.000 palavras. 700.000 ocorrências! 

Estes três números dizem muito, mesmo muito, da obra que pelos vistos aparece agora em e-book

São os diários de Salazar, 35 anos, dia pós dia. Nove anos de trabalho de uma abençoada arquivista, uma senhora arquivista, de seu nome Madalena Garcia.

 

Mesmo que em livro o número de páginas desça para metade, vá lá um terço, quiçá um quarto,  teríamos no mínimo, 5000 páginas, isto também é tudo em função do tamanho da letra, claro. 

É evidente que, para nós, leitores vulgares e mais interessados na “carne da perna” talvez três mil páginas chegassem.

Todavia que está aí um trabalho colossal , está, E de que maneira, tanto mais que a letra do eremita de Santa Comba Dão não parece ser “pera doce”. 

Eu, que vivi 33 anos (quase tantos quantos os cobertos pelo diário...) sob a férula da criatura, tenho uma enorme curiosidade por saber deste dia-a–dia minucioso e íntimo, sem filtros nem considerações de posteridade.

É que são raras as obras históricas que abordem o homem e o político desapaixonadamente, factualmente sem o peso da admiração babada ou da inimizade ideológico. 

Eu sei que o que peço é difícil, provavelmente quase impossível mesmo quase sessenta anos depois da morte do ditador. Uma das raras aproximações a um narrativa menos agressiva ou hagiológica é devida a Ribeiro de Meneses, um historiador radicado (suponho) no Reino Unido. Depois, há estudos esparsos, aqui e ali, que trazem aboradagens cautelosas a diferentes aspectos da sua política. E a documentação em bruto, sobretudo as “Cartas”, menos os “Discursos” que eram longamente meditados para o presente e para ..o futuro. 

Dir-se-á que o mesmo ocorre com outros líderes mundiais ou portugueses (e destes poucos há como de costume)

Oitenta por cento da 1ª República está por esclarecer e estudar, pior só mesmo com a defunta fase final da Monarquia. Do Estado Novo, dos seus próceres também não aparecem estudos em quantidade e, sobretudo, em qualidade. Ou então, mesmo se escassas, há um par de hagiologias sobre alguns políticos que prepararam ou fizeram o 25 A e os primeiros anos do novo regime. Pelos vistos ainda é cedo!

Por isso este gigantesco esforço da dr.ª Madalena Garcia merece aplauso e gratidão. 

Até eu, um info-excluído vicioso, terei de fazer o esforço de tentar desbravar o tal e-book esperando que ele apareça. Não faço sequer ifeia de deverei comprar um maquinismo que permita ler com comodidade e letra bem grande a coisa. Ou, pior, se me atreverei. Por mim, um resumo das partes mais interessantes já bastava desde que o/a autor/a fosse de confiança. De todo o modo, aí está u instrumento fundamental para ajudar a fazer a história de um período da vida nacional e também de da vida de uns dois/três milhões de portugueses, os que ainda sobrevivem dessa época sombria que, de certo modo, ainda “assombra” a nossa história actual. 

(um leitor não identificado fea-me uma pergunta interessante. Respondi longamente e, subitamente, ai esta mala pata!, perdi tudo, pergunta e resposta. 

vou tentar recuperar isso e publicar o resultado dessa conversa. Se alguém me quiser dar uma dica sobre um processo de resupera a coia, melhor!)

 

 

au bonheur des dames 440

d'oliveira, 20.11.21

Falsa informação

mcr, 20/11/21

 

O sr. Presidente da República é, muitas vezes, mais rápido do que a sua sombra. Uma espécie de Lucky Luke do comentário político!

Há uns dias afirmou sem deixar margem a dúvidas de que, na atitude de reserva do Ministro da Defesa, havia pareceres jurídicos que o impediriam de tornar conhecido dos seus superiores um extravagante situação de tráfico de diamantes levada a cabo por soldados do contingente destacado na República Centro-Africana.

Agora, o mesmíssimo Presidente vem dizer que errou, que não havia pareceres nenhuns, que o Ministro até tinha tido uma visão juridicamente fiável do que deveria ou não deveria comunicar. 

Com base na informação presidencial produzi dois textos onde exprobava a atitude do Ministro. Não só não seria a primeira “argolada” mas sobretudo parecia ser algo de inconcebível.

Afinal não há pareceres, o ministro apenas tinha sabido de dois casos de polícia que só depois cresceram até ao que hoje se sabe.

O Sr. Presidente, sempre generoso e justo (!!!), entendeu justificar o Ministro e dar o caso por encerrado e bem encerrado.  

Ora, não é bem assim. Com base no que Sª Exª o “Comandante Supremo das Forças Armadas” afirmou peremptoriamente eu pari duas crónicas a zupar no magro costado do Ministro. De resto, nem fui só eu, aliás. 

Todavia, na parte que me toca, fui enganado por Sª Exª. 

Toca-me agora, vir a terreiro dizer isso mesmo e penitenciar-me por, uma vez sem exemplo, ter acreditado no antigo inventor de factos políticos. 

É oque faço sem problemas de qualquer espécie. Não embarquei em boatos ou suposições. Muito menos em antipatias pessoais ou políticas mas apenas no que parecia ser uma pungente evidência. 

Vou ter mais cautela, para o futuro e passar cada declaração presidencial, tonitruante ou melíflua por um decanter, quiçá mesmo dois. Todas as cautelas são poucas sobretudo se a fonte das notícias é de bica aberta se prolixa.

E, já agora: a rede faraónica descoberta é mesmo como a descrevem ou afinal aquilo é apenas um grupo de pequena bandidagem? 

 

 

au bonheur des dames 439

d'oliveira, 19.11.21

Baixas no parlamento e não só

mcr, 19/11/21

 

 

Uma série de (alegadas) personalidades já anunciou a sua saída da Assembleia da República. Entre os absolutamente previsíveis figuram deputados do CDS e, neste cao, os mais relevantes e que mais se impuseram na tribuna e junto da opinião pública. O Xiaozinho fica sem gente que fará muita falta ao partido e cuja ausência não beneficiará o medíocre líder actual, 

Eu, sobre o CDS actual, partido que nunca frequentei de perto ou de longe, lembro-me sempre d uma frase: “de vitória em vitória até à derrota final!”

Há, naquela formação pelo menos na sua versão actual uma vaga ideia de que aquilo é uma pequena coluna de lemmings a correr desesperadamente para o precipício. 

As sondagens, valendo o que valem, indicam isso. As urnas dirão se estou ou não certo. 

No PS anunciam-se, hoje, duas baixas. Ferro Rodrigues abandona os trabalhos parlamentares e não se recanditará e a actual Ministra da Justiça também já afirmou que não voltará ao Governo.

Esta senhora, cuja carreira no MJ ficará marcada (generosamente) pela absoluta discrição, terá dito que aquilo (o mester ministerial, não é a sua profissão. Tem toda a razão, não é nem nunca foi. Estes quatro anos foram pontuados por um par de “casos”, basta lembrar o caso da procuradora ultrapassada na “secretaria”  por alguém que teria argumentos que à dita senhora faltavam, a saber, as simpatias de quem mandava.

Quanto a Ferro, é de aplaudir a sua decisão: não foi, nos últimos tempos, um Presidente acima de toda a crítica, desde os apelos futebolísticos em plena pandemia, até ao seu desastrado comportamento face à criatura pestífera do Chega. De cada vez que Ferro o interpelava, o homem ganhava votos e simpatias...

A procissão ainda vai no adro e é provável que à AR faltem ainda mais deputados presentemente em exercício. Quando digo deputados, falo dos que fazem a diferença e nunca dos “levanta e baixa o cu da cadeira à voz de quem manda”. Esses tentarão sofregamente manter o lugar que o “aparelho” lhes outorgou em troca de uma fidelidade canina. 

Ns Ministérios, agora que se anuncia uma forte redução de cargos, era bom que se desse uma varredela valente. Desde o senhor Cabrita, um verdadeiro caso de patologia política, até mais alguns/algumas colegas que fizeram nestes quatro anos mera figura de presença. 

Eu , se a memória me não falha, ouvi/li alguns/algumas a dizer que tinham saudades da sua vida de todos os dias. Se assim é, força, desandem! 

É verdade que ser Ministro não é tarefa de todo o repouso mas também não convém que seja um sacrifício de Tântalo, que diabo. Estar ali a fazer das tripas coração faz mal às vísceras e, sobretudo ao corpo da pátria  que, coitada, assiste ente envergonhada e irritada aos fracos esforços daquela gente. 

Esta crise, que aliás, verifiquei agora, eu previa desde há vários meses, é a oportunidade única de uma boa barrela que deite fora a água do banho sem empandeirar, também, a criança. 

Valeria a pena recomendar aos que vierem duas ou três pequenas coisas. Viajar menos dentro do país. Não vale a pena andar a duzentos à hora para inaugurar uma grua num porto; fazer menos declarações fantasiosas e ambiciosas e prometer apenas o que, na realidade, pode ser  prometido e é factível; assumir responsabilidades sem atirar continuamente as culpas para os anteriores Governos, para os adversários políticos, para a pandemia, ou para o uso imoderado de coca cola. E ouvir com orelhinha atenta o murmúrio manso do povo. É que a mansidão tende a esgotar-se nem que seja a longo prazo.

E ficamos por aqui. 

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