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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 622

d'oliveira, 31.12.21

Ano que vai, ano que vem… 

mcr, 31-12-21

 

 

estas datas são sempre férteis em ilusão e e esperança desvairadas. Isto, sabe-se, desde que o mundo é mundo e os votos e promessas de novo ano, vida nova se inventaram.

Porém, todos prosseguimos teimosamente nesse caminho e, de certo modo, ainda bem. Ao menos que uma vez por ano se queira que as coisas melhorem ...

Daí que o escriba também se junte à multidão (de que , aliás, faz parte) e estabeleça três metas para 2022: 

que o ano seja pródigo em algo tão simples quanto o bom senso; 

que o politicamente correcto vá, mesmo que paulatinamente, mirrando; 

que a miséria em Portugal vá desaparecendo (digo miséria pois não me atrevo a pensar para já no fim da pobreza. Bastar-me-ia saber que a miséria foi ou começou a ser seriamente erradicada. É um objectivo difícil mas para tudo há um começo. Saber que umas dezenas  (ou centenas, que sei eu?) de milhares de pessoas saíram desse patamar seri a, desde logo, algo de espantosamente formidável. 

No que toca ao politicamente correcto, basta pensar que essa moda importada por medíocres, usada por incompetentes é também ela uma das armas mais perigosas da estupidez e da maldade. No domínio do cultural, campeia alegremente e até já tem honras de páginas de jornal, até dos mais decentes ...

O bom senso vale por si mas recomenda-se especialmente aos decisores políticos, económicos e financeiros, governamentais ou particulares. Também aqui se daria um passo de gigante em prol de uma sociedade portuguesa mais livre, mais consciente, mais culta e, porque não?, mais ambiciosa. 

O ano que hoje acaba não foi bom, mesmo que pudesse ter sido ainda pior. Esperamos que o próximo não repita os  maus passos deste e nos evite outros que, a natureza humana é fraca estão seguramente à espreita.

Bom ano para todos, leitores e companheiros de blogues. 

Até Janeiro, mês de gatos, de luares magníficos e frio. Um mundo novo pode começar a despontar. 

 

(e paz na terra aos homens de boa vontade) 

 

 

 

au bonheur des dames 454

d'oliveira, 30.12.21

como-a-paranoia-infantilizada-da-ameaca-comunista-

Um fantasma ronda o país

mcr 30-12-21

 

Os leitores desculparão esta descarada pilhagem a Marx  mas o caso não é para menos.

Há não um mas um milhão de fantasmas inscritos nos cadernos eleitorais. Um milhão!

Claro que este número absurdo deita abaixo não apenas as previsões mas mesmo as votações pelo menos em certos distritos (ou até em todos) onde o número de eleitores condiciona o número de deputados a eleger.

Ninguém percebe o mistério da permanência deste gigantesco número de criaturas extintas. Que diabo, então não há um raio de um computador, um programa informático, qualquer coisa do mesmo género e substância que actualize (ainda que aproximadamente)  multidão eleitora?

Já não nos basta a situação absurda de nos grandes centros urbanos termos de escolher uma molhada de criaturas, das quais se conhecem apenas cinco , seis, vá lá dez, para enfeitar S Bento de umas esquálidas e cinzentas presenças que levantam e baixam o dito cujo à voz de mando da direcção parlamentar?

Será que os deputados  mais idóneos (ainda há disso) não se sentem mal ao saber-se eleitos como se fossem matéria fungível, todos a valerem o mesmo, todos substituíveis, todos medidos pela mesma rasoira?

E já nem falo da pequena multidão bloco-centralista (e não falo de todos os eleitos PS ou PSD, claro mas de uma boa parte que, à pala das simpatias aparelhísticas e sem profissão ou projecção social, profissional ou política lá aparecem em carreirinha como carneiros) mas apenas daqueles que pelo trabalho, pelas ideias, pela probidade se distinguem.

Como de costume, aparecemos no sistema parlamentar europeu como uma quase excepção. Noventa por cento (estou a ser generosos...) dos eleitos não deixarão recordação alguma, sequer entre os que os escolheram para servirem de “his master voive

Estou à vontade para o afirmar pois fui por duas vezes convidado a integrar listas e, na altura, expliquei as razões por que recusava: rigorosamente estas e o facto de, sendo eleito a monte, não poder responder individualmente perante os meus eleitores  como seria (e se impunha) desejável.

Mais uma vez, daqui a um mês iremos colaborar numa farsa ou numa mistificação. E depois queixar-nos-emos outra e outra vez.

“E la barca va”

 

 

Fin che la barca va lasciala andare)
(Fin che la barca va tu non remare)
(Fin che la barca stai a guardare
)

A Marinha (e os políticos) à deriva

José Carlos Pereira, 29.12.21

O processo de substituição do Chefe do Estado-Maior da Armada não podia ter corrido pior. Jogos de sombras, promessas e entendimentos privados, ambições desmedidas, nada faltou. Aliás, faltou, sim, o pleno esclarecimento público de um processo, iniciado com surpresa há alguns meses e que deixa mal o Presidente da República, o Governo, as Forças Armadas e, em particular, o prolixo Gouveia e Melo, que, deslumbrado com os aplausos recebidos, julga-se pau para toda a colher.

estes dias que passam 621

d'oliveira, 29.12.21

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Jesus não faz milagres

 mcr, 28Dez 21

 

Pelo menos este que de há uns tempos até hoje tem andado na berra. Esta historieta seria risível (e de certo modo, um modo português e fadista, é-o) não fora o facto de tudo o que mexe com o futebol  mexe com o país.

Melhor dizendo, os meios de comunicação, e no caso em apreço, sobretudo, deram um tal destaque a esta defenestração  do treinador que tudo o resto ficou para traz.

O mais bizarro disto é que há semanas que se previa que o Jesus desta crónica, de seu prenome Jesus,  ia causar um rebuliço. A história dos enviados do Flamengo para pedir o regresso do mister, os silêncios deste, os jantares deste com eles, os silêncios do Benfica, tudo anunciava um cacharolete  de acontecimentos dignos do fogo de artifício da Madeira.

Pelos vistos o mister (ah este título tão saborosos, tão ingliche, tão provinciano...) entendeu apimentar a coisa pondo-se a discutir com um jogador de quem presumivelmente não gostava ou com quem se teria malquistado. As derrotas, e do Porto foi crudelíssima, os ziguezagues, a suspeita de que a direcção benfiquista também já não acendia velas ao treinador, traziam o país futebolico em transe.

Feitas as contas, o Flamengo sai de cena com outro treinador, que aliás terá de enfrentar os seus actuais patrões, Jesus sai pela porta pequena ou mesmo pelo postigo, o clube terá de lhe pagar até Maio ou Junho, os jogadores descobriram que podem forçar situações, a direcção anda por aí sem saber exactamente o que fazer.

Para fim de ano, a pandemia até empalideceu, a TAP continuou em terra, o senhor Salgado terá de inventar um tutor (se ainda for a tempo...) .

E o tempo vai melhorar: clima quase primaveril nestes próximos dias. O público testa-se em força para poder apanhar tranquilamente o vírus depois dos festejos, ou durante. E durante mais um ou dois dias o mundo , versão portuguesa e televisiva, discutirá gravemente esta magna questão.

au bonheur des dames 453

d'oliveira, 28.12.21

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“grandeur et servitude…”

mcr, 28-12-21

 

 

Esta crónica vem a propósito da tomada de posse do almirante Gouveia e Melo que , se não teve momentos altos, abundou em baixos mesmo só durando dois minutos (parece que terminou mesmo antes da hora marcada para o seu início).

Foram mais notadas as faltas do que as presenças o que, de si, já diz muito sobre uma polémica inútil, inteiramente criada pelo Governo e, especialmente , pelo Ministro.

O dr. Cravinho poderá ser tudo o que quiseram mas é, sobretudo, canhestro. E autoritário mais do que é suportável.

Eu sou um pobre paisano, mesmo se, como me aconteceu, tenha passado um par de anos da minha adolescência em meio militar. Já tinha idade suficiente para perceber que a tropa não é exactamente homogénea mesmo se à superfície o pareça.

O meu pai foi episodicamente médico militar e por isso e nessa altura estivemos instalados num bairro militar (em Lourenço Marques), frequentávamos o Clube Militar onde aliás comíamos . O círculo paterno contava com diferentes oficiais todos com a paixão do bridge, o que, de certa maneira, os tornava bastante civilizados.

Fizemos bons amigos que duraram para ávida inteira (deles)e ainda hoje, a minha Mãe tem como amigas mais antigas um par de viúvas desses tempos que eram suas companheiras constantes de “canasta”, jogo a que se dedicavam com notório entusiasmo, perseverança e saber. O meu maior êxito entre essas amigas da minha Mãe  deve-se ao facto de, uma vez, ter participado com uma amiga da minha idade, a Zeca Garção, num torneio. Para gáudio nosso e pasmo das empedernidas “canasteiras” ficamos em 2º lugar, batendo todas as veteranas. Ainda hoje me verberam essa proeza com gentileza e carinho.

Quando fui “às sortes” (poucas semanas antes do início da guerra de África) o médico que me inspecionou perguntou-me em surdina se eu queria ser tropa. Respondi-lhe que não e ele falsificou elegantemente os meus dados do índice de Pignet de tal modo que fiquei “livre”. De vez em quando uma criatura de Deus tem sorte e esta, há que dizê-lo foi   “grande”. De todo o modo se escapei a esse horror, a política atirou-me para outro “serviço patriótico”, a saber a frequência das cadeias políticas do regime, onde, pelas minhas pobres contas penei o mesmo tempo.

De todo o modo, e para mim, a profissão militar nunca foi algo de admirável mesmo se também nunca me declarasse anti militar fundamentalista.

Depois, nunca perdoei aos militares, o 28 de Maio e o 25 de Abril não é desculpa suficiente para os endeusar como vi fazer durante anos e anos , PREC incluído.

Foi difícil livrarmo-nos da tutela militar, foi duríssimo experimentarmos as veleidades golpistas de um Utelo ou o tom jactancioso de outros de sina.l diferente.

Portugal, a partir das invasões francesas, foi vítima de várias tutelas  caserneiras a começar por Beresford um inglês que (como governante) tentou ser o émulo de Junot. As guerras civis trouxeram outros generais, depois marechais, à ribalta e todos eles (talvez com a excepção do duque da Terceira) não melhoraram significativamente a situação da pátria. Na república, se é verdade que Pimenta de Castro ou sidónio são apontados, a verdade é que os civis quase todos “afonsistas” não eram melhores.   A militaragem saída das fileiras pouco gloriosas do Corpo Expedicionário Português na Flandres, não foi brilhante antes causou estropícios de toda a ordem que acabaram no golpe militar. Claro que terá havido excepções, patriotas, gente séria, disciplinada e respeitadora da Constituição (fosse ela qual fosse) mas de tudo isto focou para a História e  para a consciência nacional, um mito de salvador da pátria que vários antigos adeptos de Salazar passados à “oposicrática” encarnaram (Norton de Matos, Quintão Meielas, Henrique Galvão ou Humberto Delgado, incluindo no lote Botelho Moniz e Craveiro Lopes, todos igualmente ineficazes na luta contra o astuto filho de Santa Comba Dão.)

Recentemente, verificou-se que um militar, a todos os títulos distinto e bom profissional, conseguisse com a direcção da campanha de vacinação a rara proeza de agradar a gregos e troianos. Linguagem clara, rigor, autoridade deram a Gouveia e Melo uma merecida aura que a tolice do Ministro (e do Governo) conseguiu desgastar severamente.

Havia um compromisso de manter o anterior CEMA até meados do ano que chega. É bom lembrar que quando foi reconduzido no cargo, mereceu dos sectores governamentais fartos elogios. Eu não conheço o senhor mas esta pequena vilania, esta desfeita repetida que lhe fizeram  deslustram o perfil do novo CEMA. Esta pressa em nomear Gouveia e Melo traz água no bico e mostra à saciedade duas coisas: a primeira é que o Governo (e o desastrado e rancoroso Ministro ) não suporta qualquer crítica. A segunda é que ao praticar o feio acto de demitir sem quaisquer razões um CEMA torna o seguinte muito vulnerável e faz pensar que esta nomeação (porventura justíssima, como espero) é um truque de baixa política. O governo tenta, desesperadamente, a poucos dias de se extinguir sem chama nem glória, criar um espaço de simpatia ao nomear alguém que os portugueses (e muito justamente) consideraram a figura do ano.

As ausências na tomada de posse, a posição há meses assumida por todos os vice almirantes a favor do anterior CEMA, fazem temer um mandato difícil e particularmente incómodo.

Eu não sei se Gouveia e Melo poderia eximir-se ao convite. Provavelmente e pelo que conheço das suas posições, é de acreditar qu nunca lhe passaria pela cabeça não aceitar um cargo que ele entende dever ser assumido por um militar.

Os dois minutos da tomada de posse foram uma crua visão do que pode acontecer. O poder recluído na solidão é um fardo insuportável que nem a “grandeur et servitude militaires”  mesmo pela pena de Vigny justificam.

(nota; a obra de Vigny chama-se “servitude et frandeur militaires” mas vai dar ao mesmo sobretudo porque a expressão passou ao uso público para definir uma função e um estado de espírito)

estes dias que passam 620

d'oliveira, 27.12.21

Isto vai dar “raia” 

 mcr, 27-12-21

 

 

O sr ministro Pedro Nuno, o Governo, e os saudosas das glórias imperiais deitam foguetes: a União europeia  deixou passar a TAP. 

Deixou mas  com umas pequenas exigências e um buraco de 3500 milhões fora o que ainda aí pode vir. 

É curioso que  poucos referem o escândalo daquela coisa no Brasil que nunca foi rentável, excepto paa os bolsos de alguns que, também ninguém refere. 

A perda de slots  1ue seguramente cairão na escarcela de alguma concorrente melhor, mais barata e mais rentável também não aflige ninguém.

Lembremos que, nos restantes aeroportos importantes e m conjunto mais turísticos que Lisboa nunca a TAP fez algo de jeito e nem por pelo que vir agora clamar que se salvaram milhares e empregos ligados aos aviões e ao turismo não tem qualquer significado.   Nunca estariam perdidos porque nunca dependeram da TAP. De resto, com qualquer outra companhia também estariam quase todos a salvo visto que as dormidas, as estadias, o catering a venda de combustível tudo ficaria igualmente protegido.

Pior ainda: este esforço medonho que é suportado pelos contribuintes vai no sentido de salvar algo que, mais cedo ou mais tarde vai cair no bolso de uma grande companhia (a Lufthansa, por exemplo) onde a bandeirinha portuguesa servirá tão só de enfeite. Tanto condenaram o governo Passos por privatizar e agora ninguém, o Pedrinho à frente, confessa o que é óbvio. Estão a salvar uma companhia falida para a entregar de mão beijada a quem a saiba gerir. 

A peregrina ideia de que as “comunidades portuguesas” na diáspora se babarão de patriótico gozo por viajar na TAP é uma pura miragem. Esses portugueses que, em boa hora, foram procurar futuro lá fora, sabem o valor do dinheiro e embarcarão na empresa que a menor custo lhes proporcione um serviço idêntico ou melhor.

Os PALOP outra miragem imperial e saudosista só precisarão da TP se outra companhia  não procurar os seus aeroportos. Aliás, o “palopismo” desenfreado que anima o neo-colonialistas imperiais só existirá enquanto Portugal for refúgio das elites ladras, local de emigração de alguns pobres e entrada mais ou menos franca na Europa 

Dir-se-á que esses países acolhem trabalhadores e técnicos portugueses. É verdade mas a questão que se põe é esta: quem mais, brasileiros incluído, fala português?  Alguém vira,  muito luso-tropicalmente, dizer que os portugueses se integram bem. É o velho argumento do “império” mesmo se parcialmente verdadeiro. Com mais um empurrãozinho haverá quem diga que os “tugas” são uns gajos porreiros, misturam-se sem problemas  com os locais e são baratos. Mais um esforço e dirão que os portugueses praticamente nunca foram colonialistas ou racistas, o que teria algo de verdadeiro se os compararmos com belgas, alemães, ingleses que nesse capítulo apenas foram superados calvinistas holandeses que inventaram o apartheid.

(e mais não digo, embora – e só com os meus botões – me  vá rindo com o embaraço dos que, de quando em quando, cá tem um acesso de virtuosa indignação anti-racista e colonialista.)

O ministro rejubila, as pessoas de bem acham que teve uma vitória mas o meu problema é, exactamente, o mesmo de Pirro: quanto é que ma vai custar esta vitória?

Quanto ao dinheirinho empatado até ao momento, por mim dou-o por perdido. Isto de já ter visto outros negócios da China tem esta nefasta consequência:: incredulidade redobrada..

2022 está a bater à porta. Esperemos que o ano comece melhor do que este, que a pandemia seja menos gravosa para a saúde e a vida dos portugueses. E lembremos que, finalmente, ontem, pela voz de Marques Mendes, sempre foram apresentados os resultados da vacinação nos internamentos e nos óbitos.

A percentagem de vacinados em ambas as situações é como se previa baixam muito baixa, em relação aos desenvoltos adversários das vacinas que, pelos vistos, começam a perceber que a burrice e a histeria conduzem às UCi, a valentes chatices nas enfermarias e mesmo ao cemitério. Lamento dizer-lhes: boa viagem já que aprendem à sua custa, mesmo infectando outros, que os anseios de liberdade gritados tolamente dão nisto. 

Sei que a quadra pediria mais generosidade mas relembro que até a bíblia recomenda que “a paz na terra” seja “para os homens de boa vontade”. Isto é, não para todos mas tão só para os que se esforçam por ser solidários...

 

estes dias que passam 619

d'oliveira, 24.12.21

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Natal com sombras

mcr, 24-12-21

 

 

 

Não são apenas os dias que estão feios, cinzentos e desanimadores. A nova variante do vírus avança impetuosa e, ontem, apenas na Europa, havia três milhões infectados (ou de novos casos, nem sei bem).

Conviria, porém, reflectir sobre estes números, sobretudo pelos portugueses (cerca de 6-000 novos infectadoa).

Eu não sei quem fornece os números às televisões mas lamento ter de dizer que ao fornecer apenas os que são noticiados presta um mau serviço às pessoas, alarma desnecessariamente quem já anda inquieto e, de certa maneira, mesmo sem o querer, falsifica a realidade.

É óbvio que com a gigantesca quantidade de testes (ontem terão sido quase 180.000), o número de casos positivos sobe!

Ora, seis mil casos em cento e oitenta mil, dá uma taxa de pouco mais de 3%.

E é este número que se deve comparar com os outros, mesmo os do mesmo dia do ano que passou ou de Fevereiro ou Março deste ano.

Igualmente, deveriam os portugueses ser informados sobre as idades, as doenças e mais factores de risco dos mortos bem como dos internados em UCI.

Já repararam que praticamente desconhecemos o número de doentes não vacinados (por estupidez, por ignorância crassa ou por negacionismos obtuso) que estão hospitalizados?

Ainda ontem, o meu amigo Manuel Vitorino, ex-jornalista, cinéfilo de toda a vida e camarada de vários carnavais políticos, me conta que uma feroz negacionista, tomou finalmente a estrada de Damasco, após quinze dias de coma induzido por causa do covid. Agora, que viu a luz, é uma tremenda apóstola da vacina, parece mesmo que a pretende tornar obrigatória!!!

Num pais que tem cerca de 14& de habitantes não vacinas (incluo crianças, de menos de 5 anos, o mais natural é que seja neste grupo que o ómicron se ceve alegremente.

Portanto, talvez valesse a pena reorganizar os critérios informativos. A menos que, como de costume, a DGS e o MS continuem a achar que é mais fácil pastorear os cidadãos como se de ovelhinhas se tratasse.

Também, já agora, não percebo porque é que festas em grandes espaços dão permitidas e sejam proibidas nas discotecas onde só se entra com vacinação e teste. O que ouvi, as primeiras são consideradas “eventos culturais” sendo as segundas pura desbunda erótica.

Eu devo confessar que não ponho o meigo pézinho em discotecas há mais de cinquenta anos, não sou parte interessada (bem que gostaria...) na coisa mas desentendo esta disparidade. 

 Todavia já estou por tudo, neste carrossel de disparates.

Outra situação que já me não surpreende é a da nova directiva da DGS sobre a aplicação da 3ª dose a toda a gente. Ou seja, a opinião pública, muita gente informada, especialistas incluídos clamavam por ela. Das duas uma: ou as vozes de burro já chegam ao céu ou os burros (com perdão dos pobres animais) estão noutro lado.

A ver vamos se o pai Natal, o menino Jesus, as renas ou o piedoso familiar esmoler e generoso se puderem. Mesmo se o novo vírus parece menos chato, mais vale deixá-lo para quem não se vacinou, não que lhes queira mal mas apenas para que aprendam um pouco o que é viver e deixar viver tranquilamente os outros e, sobretudo não confundir as liberdades fundamentais e essenciais com esta da recusa à pica.

E acarinhem especialmente os meninos (esta é a época deles) e os velhos que se sentem especialmente mais sós e estrangeiros num mundo que, pelos vistos, não parece ter sido feito para eles. 

estes dias que passam 618

d'oliveira, 23.12.21

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Natal com os dois avós

mcr, 23-12-21

 

A mais antiga lembrança de Natais familiares prede-se com os meus dois avós (paterno e materno, mais o primeiro que o Segundo porque durou mais anos, muitos mais anos)

O meu avô materno, Manuel era oficial do Exército Colonial. Assim mesmo: exército colonial. Na verdade fizera toda a sua carreira nas colónias.

Destinado, por vontade de sua mãe, a bisavó Mariana, alentejana dos quatro costados, religiosa e muito tradicional, destinara-o para ávida sacerdotal visto ser o filho mais novo. O mais velho, o tio Joaquim, que nunca conheci, irai para doutor, advogado para não só continuar a gerir o património familiar intacto mas sobretudo porque esse era o vero espelho do êxito em Nisa.

(em boa verdade o tio Joaquim não se formou ficando-se por professor primário e morrendo muito cedo. Todavia, já o irmão, farto de seminário e pouco dado aos exercícios espirituais, fugira para Lisboa e aos dezoito anos mal feitos, assentou praça exactamente no Exército Colonial provavelmente para tornar mais difícil a tutela maternal. Inteligente e com estudos rapidamente chegou a oficial, tanto mais que era corajoso, organizado cumpridor. Casou-se com a neta de um magnata do Sul, vindo do Brasil, também ele fugido à Universidade onde cursara quase até ao fim, Medicina .

Já na reforma, instalou-se na Figueira e, durante a guerra, asilou-nos e à minha Mãe enquanto o meu pai, jovem médico, estava mobilizado nos Açores. A imagem que guaro dele é a de um velho cavalheiro, fumador inveterado com o meu irmão mais novo ao colo e eu pela mão.

No natal, a enormidade de doçaria que se fazia, era guardada no enorme quarto dos avós, para tentar salva-la de dois ratoneiros, os meus tios Quim e Manuel, ainda rapazes.  De pouco servia porque os dois pequenos gatunos, entravam à socapa, de gatas, no quarto e rastejando chegavam ao local da bolaria e enchiam a mula.

O avô morreu com sessenta anos, de um cancro tremendo devido, seguramente, a uma vida de fumador inveterado. Conservo porém esta terna recordação dele, sempre a cuidar dos dois pequeninos netos. Diziam-no austero mas com os netos era uma perdição.

 

O avô Alcino era, por seu turno um completo paisano. Nascido no mesmo ano do outro avô, destinava-se à Medicina mas o ano sabático feito no fim do seu curso liceal, uma estadia na Alemanha, sobretudo em Wurzburg onde fez um curso de químíca vinícola, desviou-o para o negocio familiar, a exportaçãoo de vinho do Porto. E foi, novíssimo, para o Brasil, representar a sociedade  Corrêa-Ribeiro & filhos que tinha uma numerosa freguesia por toda a América do Sul. Conheceu uma jovem amadora de literatura e artes em geral, filha de uma família germano-brasileira e casou-se. Durou pouco o casamento pois a jovem Dora Martins Heinzelmann foi levada pela epidemia de tufo que sucedeu à gripe espanhola, teria o meu pai três anos.

Cinco anos passados  voltou a casar com a avó Beatriz que, para nós, os netos, era a única imagem possível de avó paterna. O avô Alcino era, também ele, homem austero a quem a ostentação da riqueza apavorava. A única excepção era os carros, sempre enormes, americanos e um alfinete de gravata com uma pérola negra ou algo parecido.

Dele, a imagem natalícia é bem outra. O avô achava que ninguém sabia fazer umas rabanadas decentes. E, em boa verdade, as que ele fazia eram ou assim me lembro admiráveis. Era vê-lo a oficiar de cozinheiro, em colete mas engravatado, algo a proteger a roupa – e a gravata e o respectivo alfinete- com um instrumental adquirido em Inglaterra (onde passava algum tempo pois a firma dele tinha lá uma sucursal com um sócio inglês) que consistia num par de escumadeiras (?) de formas caprichosas (as únicas que, segundo o velho senhor, eram apropriadas à confecção das rabanadas). O meu pai, a avò, a minha mãe, a criada enfim toda a gente, tinha o dever de assistir respeitosamente . Nós, o meu irmão e eu, éramos mandados para uma escadaria exterior de pedra para partir as nozes (e roubar uns bocadinhos) que haviam de rechear as passas de figos.

Quando acabávamos a gostosa tarefa os adultos fingiam não perceber que tínhamos dizimado (exactamente: dizimado) as nozes. Era o espírito de Natal a proteger dois traquinas dotados de um forte apetite para os frutos secos...

Não sei porque é que me veio à memória este par de recordações antiquíssimas, provavelmente mais velhas do que qualquer leitor que faça o favor de me aturar. Talvez o facto de ser, também eu, agora o feliz e embevecido avô de um guerrilheirinho de quatro anos que, obviamente, pediu como prenda uma pistola e várias coisa “de polícias” (ah menino desnaturado! A lembrar ao avô antigos e dolorosos “safanões dados a tempo” nos seus juvenis lombos...)

 

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