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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 640

d'oliveira, 31.01.22

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Jorge podes voltar, mamã enfim morta!”

mcr, 31/01/22

 

Eu, de dias 31 de Janeiro, tenho a memória de concentrações no cemitério, cargas policiais, jantares comemorativos que, a partir do “25 A, deixei, aliviado, de frequentar.

Sempre achei doentio comemorar derrotas e a “revolução republicana de 31 de Janeiro” sempre me pareceu uma toliçada. Chagas dizia que ali “tinham andado uns dinheirinhos da polícia” e ele, foi oautor de uma história daquela subida acidentada da rua de Sto António conta a Guarda Municipal lá do alto a varrer a tiro certo quem se atrevia tem mais ar de drama de faca e alguidar do que imitação da Comuna, mas enfim, nos tempos do Estado Novo, tudo servia para dizer NÃO. 

Hoje mais dum século depois, esquecida a jornada, mortos e enterrados os sus velhos celebrantes, é o tsunami eleitoral que ocupa o dia. Abram os jornais e vejam se por lá há alguma menção à revolução (que aliás pouco passou de arruaça). Nada!

Como é que de um “empate técnico” se passou à maioria absoluta?

Eu para explicar tal fenómeno apenas tento citar Alexandre O’Neil (autor do título em “Poemas com endereço” Morais ed, 1962).

O’Neil inventou um slogan eleitoral para o PS que eu adoptei vezes sem conta: “Ele não merece mas voto PS” Eventualmente foi o que sucedeu para um número mais que expressivo de cidadãos que, contra tudo, contra até a realidade mais cruel, preferem votar à Esquerda.

E com isso, no caso em apreço, entenderam punir sem complacência os dois partidos que votaram contra um Orçamento para cujas premissas tinham largamente contribuído e que nada, rigorosamente nada, de importante, de essencial, permitia um voto de recusa.

PC e BE averbam duas derrotas violentíssimas bem maiores do que a de Rio cujos malabarismos também não convenceram quem quer que fosse. E com idêntico resultado. Perde e até admite ir mimar o gato Zé Albino como Costa lhe sugeriu.

É verdade que no caso de Rio, aparece uma Direita a reconfigurar-se mas o somatório de deputados conquistados também não permitiria ao PPD governar mesmo em coligação ”geringoncional”.

Tudo isto, esta monumental derrota das sondagens faz lembrar o longínquo primeiro governo minoritário de Cavaco silva. Também, nessa altura, um partido saído do nada, populista, feito à medida de um homem (Ramalho Eanes), promovido pela sua mulher e juntando desordenadamente descontentes de vária ordem averbou um resultado extraordinário que o levou ao terceiro lugar pouco atrás do PS.

Em certo (e funesto) momento estas criaturas encantaram-se com a hipótese de defenestrar Cavaco. Vai daí, convenceram um PS atoleimado, dirigido por Constâncio, um sofrível economista e mais do que medíocre político, a  “fazer a folha” ao odiado ppd. Soares, então Presidente da República, bem tentou acalmar os ânimos dos seus correligionários mas foi em vão. Já nessa época perpassava pelo partido uma espécie de pedro-nunismo tão deslavado quanto o actual tão politicamente incapaz como este e, sobretudo, arrogante.

Foi o que se viu: o, Governo caiu e das eleições que se lhe seguiram saiu a primeira de duas maiorias absolutas e crescentes de Cavaco!...

Foi no fatídico (pelo menos para mim) ano de 1987. Agora trinta e cinco anos depois, repete-se a aventura verificado que está que, em política, há sempre uns partidos incorrigíveis e propensos ao bota-abaixismo sem cautela.

Hoje, cúmulo da inocência!, o líder do Livre veio recordar ao vencedor Costa a promessa que este fizera de falar com toda a gente. O sr Tavares, que deve a sua eleição a Lisboa e só a Lisboa e a freguesias medio-burguesas ainda não acordou do seu sonho governativo... Há de acordar, claro... e dizer da sua decepção. Eu tenho por mim que ele ainda não percebeu que deve o seu lugar de deputado a desiludidos do BE e que tem menos votantes do que o naufragado CDS. Convenhamos que, para historiador, não vê muito bem o que se passa. Ou não quer ver...

Não vale a pena falar dos Verdes ou do PAN. Os primeiros nunca existiram fora do ventre acolhedor do PC,  nunca existiram para além dele e, menos ainda, discordando dele. Paz à sua alma. O PAN perde dois terços da sua representação e, surpresa (ou nem isso) a sua actual líder não entrega a pasta. Nisso está solidária com Catarina Martins. De certeza que não é por serem mulheres mas que é estranho lá isso é.

Finalmente e para que os derrotados (e muitos outros, aliás) bebam o cálice de fel até à última gota, eis que o PS se prepara para eleger como segunda figura do estado a inefável senhora Edite Estrela. Pior do que se fosse com Ana Gomes...

 

(uma aposta: para que gordo e confortável lugar irá agora o sr Cabrita, caso escape à condenação que se lhe augura no caso do atropelado da autoestrada?)

na vinheta : a corrida dos lemmings para o abismo. Dedica-se ao PC eao BE 

 

 

 

 

 

 

diário político 255

d'oliveira, 31.01.22

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Os ovos todos no mesmo cesto

d’Oliveira, fecit 31deJaneiro 2022

 

 

 

Um velho, querido e saudoso amigo meu, afirmava, nos anos seguintes ao PREC, já com eleições a sério e sem as fantasias “revolucionarias” da época, que “nunca se deviam pôr todos os ovos no mesmo cesto”.

Ele tinha por certo que, numa república democrática e com um parlamento, havia que procurar o máximo consenso comum para evitar o maior divisor também comum.

A História desmentiu-o com a Aliança Democrática mas esta pouco resistiu às mortes de Sá Carneiro e de Adelino Amaro da Costa (o verdadeiro artífice político e ideológico do CDS, na altura uma “democracia Cristã” importada da Itália e não confundível – como os detratores queriam – com uma extrema Direita. 

Não me atrevo a dizer que vem daí, dessa época, um espantalho eleitoral que se persigna sempre que alguém fala em maioria absoluta. 

Pessoalmente, e sobre as maiorias absolutas, apenas digo que podem ou não ser benéficas. Aliás, a sua existência traduz sempre a vontade popular, dificilmente sai de conspirações ou arranjinhos pré eleitorais. Uma maioria destas pode permitir finalmente o avanço de reformas profundas, de quebra de acordos eleitorais mínimos que não andam nem desandam, como ocorreu com estes seis anos de uma caricatural “frente popular”  em que, como é tradição neste género de falsas unidades, vícios redibitórios constantes e com severas consequências. 

Costa (e assessoriamente  o PS, nesta exacta ordem)btem a oportunidade histórica e provavelmente irrepetível a curto e médio prazo, de fazer andar o país para a frente, de acabar com estrangulamentos, práticas antigas (e especial destaque para a corrupção) e reformar quer a justiça, quer a saúde, quer o trabalho e a administração pública. São muitos trabalhos de Hércules e pesa no horizonte o conhecido “amiguismo” peculiar de Costa, o que como o sono da razão criou monstros como Cabrita ou Sócrates (de quem Costa tenta fazer passar a ideia de nunca ter sido ministro dele).

Esta maioria absoluta, criada expressamente pelo BE e pelo PC que agora uivam inocências e perversas endemoninhadas  conspirações Costa/Marcelo, traz também algumas salutares novidades. 

Á uma acabou com o mito “juvenil” a dirigir partidos. Aquele pobre diabo do CDS conseguiu o que até agora ninguém tinham conseguido: rebentar com um partido que sempre esteve no Parlamento. Foi exterminao pelo Chega e pela IL sem dó nem piedade. O CDS é agora um moribundo sob respiração artificial e não se vislumbra com clareza se consegue sair do coma. 

Depois, começa aperceber-se, cada vez mais nitidamente, que o PC começa a dar de si cada vez com mais violência. Sempre que um velho alentejano morre é menos um voto, como se verifica com a tremenda derrota do delfim Oliveira em Évora. Mesmo assim, o PC averba uma pequena mas consoladora vitória, está à frente do BE em deputados. E merece, digam lá o que disserem. 

Os Verdes (por fora e vermelhos por dentro) passam pelo cano. Sempre foram um logro, algo vagamente muleta e  História não registará grandes lágrimas por eles.

O BE é outro caso flagrante de suicídio colectivo. Vê-se que nunca perceberam realmente o que aquilo era: um partido de protesto, um lugar de refúgio para descontentes urbanos que não suportavam já o PC nem se atreviam a entrar no PS. 

Serem ultrapassados pelo Chega e pela Iniciativa Liberal deve ser um pesadelo que os vai assombrar por muitos e bons tempos. 

A Sr.ª Martins bem que pode esperar por uma conversa com Costa como audaciosamente prometia. Talvez um pequeno banho de realidade lhe limpe o ouvido político e a cabecinha sonhadora. A pequena e média burguesia urbana que andou com o BE ao colo cansou-se das tropelias e prefere o colo gordo, burguês e confortável de Costa. 

Aliás, parte dos votos que se escapuliram permitiu ao LIVRE voltar ao Parlamento mesmo depois do absoluto desastre Joacine. De todo o modo, o LIVRE e a PAN casa um com o seu deputado, são irrelevantes e é duvidoso se alguma vez acrescentaram algo ao debate político nacional. De todo o modo, o castigo do PAN é mais do que merecido depois de se declarar apto a aliar-se com quem quer que fosse. A falta de espinha dorsal é algo que nem nos animais ajuda, quanto mais nos bípedes humanos.

O caso do PSD também não traz especiais novidades. Pela primeira vez, e a sério, Rio morde o pó. É verdade que os dois partidos emergentes na Direita retiraram-lhe importantes franjas de apoio, sobretudo a IL pois o Chega terá engordado sobretudo `custa do falecido (ou quase) CDS. 

A mansidão suave de Rio não convenceu os adversários do PS, antes o beneficiou. Alguém terá pensado que se era para viabilizar um Governo de Costa mais valia deitar logo o papelinho nele. O PSD vi ter de continuar o seu caminho das pedras e tem quatro anos para tal a menos que o PS cometa algum erro colossal.

Finalmente o PS.

É verdade que Costa pediu e despediu a maioria absoluta, que prometeu tudo a todos, que falou de maçanetas e portas mais do que um marceneiro mas, por ele, tinha o ar de vítima  coisa que o povão adora. Traído, enganado pelos parceiros de Esquerda que nunca perceberam quem Marcelo era ou podia ser, Costa mesmo “sem vontade” (como alguns acusaram) lá foi fazendo o seu caminho.

Os portugueses, combalidos pela pandemia, intrigados pela tactica do PPD (onde até Santana Lopes, essa velha ave agoirenta compareceu!!!), recordados dos anos dourados pré pandemia, alvoroçados pela dinheirama que virá da Europa preferiram “antes asno que me leve do que cavalo que me derrube” como bem ensina Mestre Gil na farsa de Inês Pereira.

A última grande derrota da noite foi o sucessivo desenrolar das sondagens do empate técnico. Nem a ligeira descida da abstenção justifica tal dislate. Alguém anda a enganar alguém... 

  

 

estes dias que passam 639

d'oliveira, 30.01.22

O “galo” dos Correia Ribeiro 

mcr, 30-01-22 

 

 

Cedo, enfim, relativamente cedo (eram quase 9-30) fui votar numa escola secundária a dois passos de minha casa.

Devo dizer que esta proximidade da assembleia devoto é recente pois durante uns bons trinta anos, passante, fui votar quase nos antípodas, enquanto boa parte dos meus vizinhos o fazia numa outra escola não a dois mas a três passos daqui. 

Ainda hoje me pergunto qual a razão do meu desterro eleitoral para a escola Maria Lamas que, só por mero acaso ainda fará parte da minha freguesia. A CG, apoiada por boa parte da família, jura que é castigo divino mas eu inclino-me para o facto de quando abriram as inscrições para eleitores ter sido dos primeiros a aparecer. Como de costume, são sempre os mais lambões os afastados par o cu de Judas mas com o andar dos anos, e a morte da maioria lá se amercearam de mim e transferiram-me para aqui.

Portento batidas que eram as nove e trinta estava já no pátio da escola à frente da porta do pavilhão desportivo onde se concentrava uma boa dúzia de mesas de voto. De longe, só se via uma esquálida fila de duas pessoas. “querem ver que é a minha?”, resmunguei para os meus botões. Claro que era! 

Chama-se a isto em linguagem comum, o “azar dos Távoras” mas no meu caso é dos CR, e segundo o meu amigo Álvaro é um azar dos antigos, dos malvadinhos. “Aliás, explicou-me ele, isso não apenas azar. É galo ou mesmo “crespo” que é o mais virulento dos galos imagináveis.

Bom, fiz das tripas coração, lá me enfileirei com a paciência dos votantes entristecidos e desiludidos e ao fim de um quarto de hora estava despachado. Ou quase, porquanto, à saída, uma menina pediu-me para votar de novo no seu computador, acho que para a TVI. 

E desandei, não para uma esplanada mas par o supermercado que fica em frente da garagem para um café rápido que a manhã ainda estava demasiado fresca para me aventurar à beira mar .

 Este diabo de inverno, seco e frio, cheio de sol só começa a tornar-se suportável lá para as onze, onze e meia. A ânsia de uma bica não me permite esperar tanto tempo, o súper mesmo modernaço e com um espaço de restauração decente não me convida a grandes estadia. Recolhi a penates aviei mais outro café da máquina nespresso e deitei mãos à obra bloguista. 

E quando pensava sair para uma incursão pelo litoral eis que o meu garagista me avisou que virá ver o que se passa com a bateria do carro que não tuge nem muge. Ao domingo, a coisa é um gesto de amizade. 

Agora, é aguardar pelos resultados que, confesso, me preocupam mais do que eu esperava. 

 

E continuo a achar que a propaganda da Comissão Nacional de Eleições é uma prova absoluta de burrice. Isto de vir solenemente garantir que não há qualquer risco na vinda até às Assembleias de voto é uma mentirola e, esperemos, que se não traduza em mais um pico de infecções. E se assim suceder, logo ouviremos umas desculpas esfarrapadas, igualmente mentirosas que, para isso, esta gente tem vocação. E, sobretudo, ninguém lhe irá à mão...

 

E terminemos citando o Papa: bom almoço para os homens de boa vontade (e votantes). E para os outros também.  

 

 

 

estes dias que passam 638

d'oliveira, 29.01.22

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Reflectir sobre a reflexão

mcr, 29-o1-22

 

 

E pronto, é um alívio vermo-nos livres das notícias sobre a campanha, sobre as arruadas, sobre os “sueltos” e as graçolas dos líderes partidários que, coitados, ainda não perceberam que nem toda a gente (aliás, muito pouca) consegue gracejar e fazer sorrir os pacatos e obrigados (via tv) ouvintes.

Só por isso o dia da famigerada “reflexão” merece um elogio.

Tdavia, convenhamos, pensar que este dia (sempre um sábado) é para os eleitores (os propriamente ditos, ou seja uma cada vez mais ampla minoria dos cidadãos) se dedicarem a conversar com os seus botões sobre as vantagens da candidatura X e os males da Y, tudo na mansidão dos seus lares, imersos em esforçados debates quase como se estivessem de jejum e penitência,  parece-me mais do que forçado.

Os pais (e mães) da Constituição, desta gigantesca Constituição que porém deixa passar carros e carretas entre as suas malhas, deviam ter do povo, do sofrido povo, uma noção um tanto ou quanto vexatória.

Pelos vistos não só se apelava a um inteiro dia de elevado e patriótico pensamento eleitoral mas sobretudo, tentava-se, mal e cada vez menos eficazmente, livrar as inocentes criaturas eleitoras ao sufoco dos requestos dos candidatos.

Como se os cidadãos não fossem capazes de resistir ao canto das sereias partidárias, à sedução, aos slogans marteladamente repetidos, ao ulular de meia dúzia de populares pagos para numa berraria infrene tirarem o sono e o descanso a quem prudentemente reflete...

Eu sei que há países que seguem o mesmo esquema enquanto outros deixam que a campanha (ou o que lhe quiserem chamar) vá quase até às portas da assembleia e voto.

Por mim, preferia que não houvesse uma imposição mas tão só uma sugestão de descanso propagandístico. Sobretudo porque, agora, há meios que ninguém previa há quase cinquenta anos. As redes sociais e quejandos não param, não se deixam manietar   e enchem-se de mensagens, apelos, mentiras, conselhos.

Mas, pesando melhor e muito egocentricamente, isto é para meu máximo comodismo, o dia das proibições é ótimo. Tudo depende de como o preenchemos depois do arruído intenso e desconforme das últimas semanas.

E amanhã, a partir do meio dia, começarão os noticiários a martelar-nos com reportagens mais longas que a espada do Rei fundador e muito mais chatas que a dr.ª Ana Gomes, com notas do estado das filas, breves respostas de cidadãos acabadinhos de votar, opiniões de politólogos (e eles são uma imensidão...) sobre as virtudes da eleição, da democracia, da cidadania, enfim algo que poderia ser nobre mas soa a patacoada de três por vintém.

Apartir das seis da tarde o nervoso miudinho apodera-se das televisões e até às oito horas mal batidas é um frenesi. E vem as projecções...  E por aí fora.

Eu, de projecções já estou como os comentadores desportivos: previsões só depois do apito final do árbitro. E mesmo assim... que já vimos Carlos Moedas ganhar já a noite eleitoral ia longa...

 

Irei votar logo pela fresquinha, oito e meia, pouco mais. À uma porque me levanto cedo, depois porque quero ler o jornal tranquilamente, na santa paz do senhor, com um par de café à frente, se possível e o dia e o sol (e o frio) permitirem diante do mar numa esplanada simpática e confortável

A minha teoria é que assim me despacho rapidamente. Já o meu irmão, médico experimentado antiquado, acha que à minha hora haverá um “rush” de cidadãos aflitos com os infectados (que nada obriga a votar à tardinha, convém relembrar) que querem safar-se desta chatice o mais depressa possível. Ele, declaraou-me com solenidade, irá lá para a uma da tarde, depois de ter feito os seus largos quilómetroe pelo paredão de Oeiras, depois dos café, enfim depois da sua longa (nunca percebi a sua lentidão!...) preparação higiénica que lhe rouba uma boa hora, for o pequeno almoço wm que ele gasta uase outro tanto mais em preparativos do que em quantidade de alimentos.

 

Quando chegar à minha esplanada dos domingos, terei um pensamento uito cristão pelo leitor JMM que, como de costume, estará a presidir a uma mesa de voto. Deus lhe pague pelo sacrifício, pela cidadania, pela boa vontade. E, já agora, que lhe pague em dobro que estas eleições um tanto ou quanto pandémicas, não são pera doce. Um abraço caro JMM, boa sorte, bom domingo e, por favor, mantenha-se livre do bicharoco.

E olhe que eu sei, devido a uma antiquíssima experiência, nos tempos medonhos do antigo regime, o que é estar numa mesa de voto. Arre, valente chatice!

Que seja para desconto dos seus pecados que não serão poucos, dado a sua condição de desesperado leitor. Quem lê, lê sempre algo de perigoso, torna-se perigoso e livre pensador. Ou seja peca por pensamentos, palavras (escritas) e obras /o simples facto de abrir um livro, seja ele As diabruras de uma perceptora inglesa em caso do conde libertino ou o Eclesiastes.

Ler é sempre um risco,  mesmo se for apenas este folhetim que nada mais quer do que fazer a fotografia breve de um instante de vida de um velho do Restelo mais fel do que mel, mais desenganos do que anos.

E terminemos citando o Papa: bom almoço para os homens de boa vontade (e votantes). E para os outros também. 

(nota para o leitor Z O : respondi mastenciono explorar a sua belíssima contribuição em post próximo. Obrigado e abraço)

estes dias que passam 637

d'oliveira, 28.01.22

 

 

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A África deles

mcr, 28-01-22

 

Burkina Faso, Mali... quem se seguirá? Os golpes de Estado em África não são excepção mesmo se ainda não são propriamente a regra. Entre Estados falhados (e são uma multidão, apesar do que piedosas criaturas tentam dizer) Estados em permanente conflito civil (desde a República Centro Africana ao Congo), Estados de partido único, é difícil encontrar  exemplos virtuosos e credíveis.

Entendo que esta situação é a fonte de muita da desesperada imigração que se aventura por mar aberto em chegar à Europa, a tal Europa colonialista, racista e, por vezes, muitas vezes, negadora de entrada.

Tirando as ex-colónias portuguesas, cujo retrato (excepção feita a Cabo Verde) neste contexto não é brilhante, a descolonização operpu-se há pratiamente oitenta anos, tempo que pareceria suficiente para criar estruturas saudáveis, desenvolvimento económico e social, o melhorar o nível sanitário e social,  eliminar o analfabetismo, entre outras funções que competem a um Estado moderno.

Não vou afirmar que nada foi feito mas vou, sem qualquer hesitação, dizer que se poderia ter feito muito, mas muito, mais. Todavia, muitas das novas elites sociais, políticas e culturais destes países enquistaram-se num poder absoluto, despótico, opressivo e ignoraram a maioria da população que vive ou sobrevive uase como nos tempos em que o colono branco fazia e desfazia a sua lei. Há mesmo zonas em que o colonialismo é uma saudade, de tal modo as condições de vida pioraram (e nem vale a pena referir o Zimbabué...).

É isso, e não a herança do colonialismo, que fundamenta a fuga precipitada de jovens mais instruídos, de famílias inteiras abandonadas no meio de campos de batalha aberta ou latente, enfim o desespero e a perda absoluta de esperança em viver em África.

Ora, na mesmíssima Europa que para todos os refugiados económicos sociais raciais (que há também conflitos éticos inexplicáveis) é uma meta, é que se levantam as vozes de alguns europeus e africanos contra as condições de vida e o menosprezo dos africanos que sobrevivem em ghettos,     que tem os piores empregos e acusam os europeus, os países europeus, enfim a sociedade ocidental de todos os males mas sobretudo de racismo.

Eu lembraria que esse diminuto grupo de africanos (de que o sr Mamadu Ba é um claro exemplo) desertou dos seus respectivos países, não constando que fosse alvo de qualquer tipo de perseguições.

Desistiram dos seus países, também eles levados pela miragem de um paraíso além mar mesmo que nem sequer tivessem os mesmos motivos dos que, vítimas de tudo, se metem ao mar em esquifes infames pagando somas absolutamente exorbitantes a mafias africanas (é bom chamar a atenção para este pormenor) que prosperam nas zonas de risco e são, porque africanas e a operar em África, inalcançáveis pelas polícias europeias.

Bem para a europa como missionários não reparando que nos seus próprios países reina em muito maior grau o mesmo (ou semelhante) especto de defeitos que encontram nas terras que os acolhem e protegem.

Quanto aos seus cúmplices europeus não vale a pena qualquer referência especial. O masoquismo político e social é uma das doenças das velhas civilizações e acaba por refletir de um modo vagamente rouseauano um conservadorismo tacanho e alguma incapacidade de enfrentar os problemas de modo a resolvê-los. São “penitentes” de um mundo a que se não habituam e julgam que o reino dos céus se obtêm assim. É com eles que, em boa verdade, o reino dos céus se alcança. Basta a pobreza de espírito.  

na vinheta: máscara Bwa,  povo Bwa (BurkinaFaso) 

 

 

Leis mais duras para os partidos que se travestem

José Carlos Pereira, 27.01.22

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Nas eleições que decorrem no próximo Domingo, temos pelo menos dois partidos que chegam a 2022 com designações, siglas e princípios políticos bem diferentes dos que animaram os fundadores dos partidos que lhes deram origem.

A ADN (Alternativa Democrática Nacional), cujo líder se distinguiu no debate televisivo em que participou com um discurso negacionista e algo patético relativamente à covid-19, foi a designação adoptada em Setembro passado pelo partido que nasceu em 2015 como PDR (Partido Democrático Republicano), criado pelo antigo bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto. De um discurso algo populista sobre a justiça e o sistema político, chegou-se a um partido negacionista da direita pura e dura.

O percurso do Ergue-te é ainda mais curioso. As suas raízes, pasme-se, estão no PRD (Partido Renovador Democrático), criado em 2015 sob o impulso do então presidente da República, Ramalho Eanes. Após o êxito alcançado nas lesgislativas de 1985, o PRD encetou uma descida abrupta e em 1991 já não elegia deputados para a Assembleia da República. Em 2000, o partido foi tomado de assalto pela extrema-direita, que mudou o nome para PNR (Partido Nacionalista Renovador) e em 2020 passou a adoptar a actual designação: Ergue-te.

Em ambos os casos, grupos movidos por interesses distantes dos partidos originais criaram condições para decidir sobre o destino de organizações que tinham definhado, que estavam até em falência financeira, no caso do PRD, mas que permaneciam legalmente activos. Foi fácil, assim, tomar deliberações no seio desses partidos, mudar-lhes estatutos e designações e submeterem-se a eleições sem precisarem de percorrer o escrutínio da legalização inicial junto do Tribunal Constitucional (TC).

Parece-me evidente que a legislação tem de ser alterada e que os fundadores de um partido devem ter obrigações acrescidas perante o TC, de modo a prevenir casos como estes, em que partidos são abandonados e deixados à mercê dos piores oportunistas políticos. Por outro lado, o TC deve ter instrumentos e leis que permitam impedir esta facilidade em mudar radicalmente estatutos e orientações políticas de uma determinada entidade, que acaba por surgir mais tarde travestida com outro nome, defraudando os eleitores que em tempos concederam o voto a esses partidos.

au bonheur des dames 462

d'oliveira, 27.01.22

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Pôr a escrita em dia

mcr, 27-01-22

 

 

Por razões que desconheço mas que seguramente são fruto de erros meus (e má fortuna que o amor ardente não é para aqui chamado) a numeração dos textos com que vou azucrinando leitores amáveis é, pelo menos (e vou ser benevolente em causa própria) fantasiosa.

Sempre o foi, vá lá o diabo saber porquê. Mesmo nos saudosos anos em que a querida Kamikaze governava este batel, eu perdia a conta aos textos e, zás!, lá repetia um número, saltava dois, diminuía três. Um labirinto. 

Desta feita, por razões ligadas à série “o leitor (im)penitente) descobri saltei uma boa quarentena de números, fora os repetidos , enfim uma salgalhada infame que provavelmente não incomodará leitores ocasionais mas que irritou três (3) leitoras que me exigem ordem (e progresso?, como no Brasil) e rigor. Vou dedicar-me a essa nobre tarefa, coisa que não irá ser pera doce pois ando nesta vida desde 2006. Há que varrer mês a mês, ano trás ano, , tentar ordenar os textos respeitando as datas, quando eles as tiverem.

Aliás já fiz o mesmo com séries mais curtas  mesmo se tivesse desistido de entrar no blog propriamente dito. Nem sequer sei se conseguiria fazê-lo sem estragar mais do que já estraguei.

E tentar resolver e destrinçar as produções mcr das do compadre d’Oliveira.

Até para mim mesmo, isto poderá certamente, ser útil pois ao escrever com demasiada frequência posso voltar a tocar em assuntos já referidos.

Ah, se fosse rico, contratava uma criatura para me fazer um índice cuidado e temático. Sem isso, como aliás Umberto Eco notava, corre-se sempre o risco da repetição. Ele aliás, ia mais longe: o risco da contradição.

Todavia, esse é um risco menor porquanto ao escrever a quente sobre qualquer situação, arriscamo-nos a ter pouca, ou errada, informação. Depois, há a evolução  normal do mundo, das convicções, das opiniões, do modo de ver as coisas. Só os tolos  -ou os fanáticos- é que nunca mudam. E o resultado está à vista: quanta causa a princípio generosa e honrada se converte com a usura dos tempos, a força das reacções e a inércia em repensar  e rever conceitos, em pequenas monstruosidades.

Para não ir mais longe: o século XX assistiu ao nascimento e crescimento de pelo menos duas ideologias que, mesmo quando foram adversárias se cruzaram, se aliaram e finalmente se combateram. Quantos grandes espíritos se perderam na obediência a cânones que pareciam à partida justos, progressivos, libertadores!

Quantas denúncias, quantos arrependimentos, quantas acusações povoaram a história intelectual da Europa para não mais longe!

Ao meu pequeno nível, talvez me convenha reler o que escrevi, perceber onde fui feliz, onde me enganei onde futurei com sorte qualquer coisa.

E tudo isso, graças a esta revisão da numeração que vai ser mais chata do que o Nanaia nos seus piores dias e mais longa do que a espada do D Afonso Henriques que , para leitores mais novos ou para vimaranenses mais arreigados, foi o nosso primeiro rei e afinal terá nascido (como avisa José Mattoso) em Viseu.

 

( o mais bizarro disto tudo é que este texto segue uma numeração que nada, rigorosamente nada, garante que esteja certa.

au bonheur des dames 461

d'oliveira, 26.01.22

Publicidade enganosa

mcr, 26-01-22

 

 

anda pelos jornais (e não só) um apelo ao voto no próximo dia 20. Pelos vistos a entidade (provavelmente a CNE) publicitante entende que votar nas actuais circunstâncias mesmo antes de se atingir o famigerado “pico” (previsto para a 2ª ou 3ª semana de Fevereiro) das infecções ´é seguro”.

Não sei em que se baseia essa estranha agremiação mas os desmentidos vindos de organizações de saúde (mormente de médicos, enfermeiros e outros) com o aval de especialistas são tolices!!! 

Há cerca de um milhão de pessoas mais ou menos confinadas. Tudo indica que tal número de afectados não irá diminuir até ao próximo domingo. Há mesmo a hipótese de aumentar coisa que não custa a crer dadas as arruadas em que todos os partidos se comprazem.  

Eu nunca percebi para que servem essas passeatas, entre bandeiras e gritaria, com beijinhos e, em alguns casos,  oferta de brindes baratuchos e risíveis. Será que alguém ao ver passar a caravana descobre, súbita e fatalmente, um intenso amor pelo partido que desfila? 

Será que há votantes indecisos que esperam com ansiedade esse momento vagamente festivo, decididamente folclórico (agora até os caretos de Podence entraram no  curcuito!!!), para se sentirem absolutamente viajantes na estrada de Damasco e, como Paulo, descobrirem finalmente luz? 

Francamente...

O esparvoado anuncio deque é seguro votar enferma de duas ou três patetices. Primeiro, as pessoas raramente observam as conhecidas distâncias recomendadas entre criaturas numa bicha; Depois, essa distância com máscara e tudo o mais, reduz-se absolutamente no momento de votar quer ao entregar o BI quer ao entregar o boletim, há ainda que observar que , se chover, lá se vai a tranquila bicha pelo cano pois a pressa em chegar a zona abrigada recrudesce. 

Já não falo do receio generalizado que percorre o país quanto à possibilidade de pessoas infectadas poderem sair de casa para votar. Sei que estão atiradas para as duas últimas horas do dia mas a boataria do costume, a tendência para o abuso e para o incumprimento dessa regra vão assustar o já desgastado corpo normal de votantes. 

Pelo que sei, houve muitas baixas na constituição das mesas de voto no dia 20. E já se sabia que seria pequena (como foi com apenas 30/35% das inscrições previstas) a afluência. “O medo guarda a vinha”, como é sabido e esse temor não só não se dissipou como pode até aumentar. 

Tenciono, apesar de tudo, e contra toda a razão e lógica (basta lembrar-me da idade venerável que tenho) ir votar, cedo, pela fresca (e frígida!!!) manhãzinha, no pior dos casos até às dez. Mesmo ao domingo, o lancinante apelo da bica matinal não me permite adiar por mais tempo o pequeno prazer de abrir o jornal diante de um ou dois cafés.

Irei (com a esperança burra de quem pensa que vai descobrir a pólvora) confiado em que serão poucos os eleitores a essa hora, sobretudo porque haverá muitos tímidos ou desconfiados. 

Voto numa escola secundária a cerca de setenta metros de minha casa(mesmo se esses escassos metros correspondam à saída dos eleitores que para entrar terei seguramente de percorrer uns bons duzentos e tal metros. 

Durante quase toda a minha vida de votante, era atirado para quilómetros de distância mas com uma reorganização levada a cabo pela Junta de Freguesia (suponho que terá sido esta entidade autárquica a minha benfeitora) agora estou nas minhas sete quintas, é uma rapidinha! A CG recomenda-me que leve um frasco com nebulizador carregado de desinfectante para aspergir-me e aspergir generosamente à minha volta quem se atrever a aproximar-se.- “E como sulfatar videiras...”, acrescenta a maliciosa que, claro, se recusa a votar nestas condições.         

É pena não haver livro de reclamações na Assembleia eleitoral para eu poder la escarrapachar com dureza a imbecilidade do “voto seguro”. Seguro, o tanas e o badanas”, há algum risco obviamente mas a mim custa-me deixar por uma vez que seja de cumprir este meu direito. Provavelmente, votarei em branco mas votarei de todo o modo. A campanha vai em toada miserável  (mesmo se Rio seja uma surpresa) as promessas partidárias são (sobretudo à esquerda, mesmo se da outra banda também as haja) ou irrealizáveis dada a falta crónica de dinheiro ou absurdas dada a rasoira com que se mede a realização de certas propostas. 

Então agora com a notícia dos dinheirinhos vindos da Europa, a coisa estoitou. Vamos estar ricos mesmo se, se verifica que continuamos a ser ultrapassados pelos últimos países da Europa. Vai ser um fartote! Por pouco tempo, claro, mas uma festa e uma desbunda para já não falar nos “pardaus que correndo por terras de Basto”, desaparecerão sem deixar rasto (á de Miranda que me desculpe o uso e abuso do seu estro).

 

 

Lições do caso Selminho - Rui Moreira

José Carlos Pereira, 25.01.22

A recente absolvição do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, no caso Selminho, em que era acusado do crime de prevaricação, fez-me reflectir sobre a minha posição de sempre acerca de políticos acusados pelo Ministério Público e alvo de despacho de pronúncia de um juiz.

Sempre defendi que um político em exercício de funções deveria demitir-se ou, pelo menos suspender funções, em caso de acusação, de modo a preservar o bom nome do órgão que integra e a não contaminar essa entidade com o curso normal da respectiva defesa em Tribunal. Defendi essa tese muitas vezes, em benefício da sanidade do própria sistema político, inclusivamente perante casos conhecidos que acompanhei de perto quando fui autarca em Marco de Canaveses.

Contudo, este caso de Rui Moreira, que desde cedo me pareceu muito pouco consistente, em função do que era do domínio público, veio colocar a questão num outro patamar. Se porventura Rui Moreira tivesse suspendido funções e não se tivesse recandidatado à presidência da Câmara do Porto, pelo facto de estar a aguardar julgamento, estaria agora afastado da autarquia portuense, com o fraco consolo de se ver absolvido com o voto unânime do colectivo de juízes. O processo conduzido pelos magistrados teria produzido efeitos políticos, afastando o titular do cargo para que fora eleito, pese embora vir a resultar num flop jurídico, como foi o caso (pese embora o Ministério Público já tenha anunciado a intenção de recorrer da sentença).

Com aquilo que se conhece, concluo que Rui Moreira fez bem em não suspender funções e em manter a sua recandidatura. A partir deste caso, serei menos definitivo em reclamar o afastamento de políticos acusados. Afinal, cada caso é um caso e é preciso perceber bem os termos da acusação, a sua amplitude e o impacto causado na gestão dos processos e dos dinheiros públicos.

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d'oliveira, 25.01.22

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O “conciliador” e o “rabugento” 

d’Oliveira fecit 25 de Janeiro

 

 

Este texto vem apenas relembrar um outro escrito há três anos e onze meses, mais exactamente em 20 de Fevereiro de 2018.

Intitulava-se o post : “Notícias fúnebres só depois da pessoa estar morta” e trazia como subtítulo “diário político 224

Não vale a pena estar agora a resumir o que então escrevi bastando-me apenas citar a última frase :”Vai uma apostinha que Rui rio está para durar?”

Por razões de vária ordem (que não de simpatia ou de voto) segui com alguma (mas não demasiada)  atenção a carreira política de Rui Rio, sobretudo a partir da altura em que ele foi “secretário geral” do PSD .

Por essa época, tornou-se notado por levar a cabo uma cruzada interna radical contra os barões e demais establishment do partido, começando uma espécie de refiliação, acabando com o acumular de militantes (dezena e até centenas numa só direcção) tentando impedir que, em vésperas de congresso aparecessem centenas ou dezenas de pagamentos de quota efectuadas por uma única pessoa, enfim um rol de tropelias que exasperou meio mundo e  tornou uma espécie de “ódio de estimação” nos circuitos dos grandes patrões do PPD.

Quando entendeu candidatar-se à Câmara do Porto hpuve um tremendo frémito de regozijo na cidade. Não porque ele parecess ser um vencedor mas justamente porque todos, sem excepção, apostavam que o candidato socialista Fernando Gomes o estralhaçaria.

De resto, essa era também a ideia que passava nas hostes do PS. Gomes praticamente chegou a gabar-se que contra aquele adversário nem valia a pena fazer campanha.

Quando toda a gente esperava uma estrondosa derrota de Rio, eis que o homem ganha com um confortável resultado que, não terá chegado à maioria absoluta mas lhe permitiu governar a cidade. E nos dois mandatos seguintes foi o que se viu: maiorias absolutas e crescentes.

 

Enquanto Presidente da Câmara, rio também se malquistou com um formidável adversário: o Futebol Clube do Porto e o seu presidente, o sr Pinto da Costa. A causa foi ridícula mas interessante: rio recusou receber a equipa campeã do Campeonato (o Porto) nos Paços do Concelho como sempre acontecera. Não caíram o Carmo e a Trindade mas temeram a Sé e a torre do Clérigos!. Houve choro e ranger de dentes e Pinto da Costa uivou  ameaças medonhas e, a partir daí tornou-se um fervoroso adepto do PS ou de qualquer força que corresse com rio. Não correu.

Quando Rio chegou ao limite dos mandatos  municipais, apareceu, dentro do PSD uma candidato    que trazia já duas vitórias na Câmara de Gaia,  Luís Filipe Meneses, estrela nortenha, cruzado contra a mourama elitista de Cascais, ferrabrás vitorioso de muitos prélios políticos.

Rio, como é seu costume, torceu o nariz, achou Meneses demasiado enfatuado e, sobretudo pouco portuense. Se alguém deu uma mão a Rui Moreira foi ele, Rio. Moreira, evidentemente tinha (e tem poderosos apoios na cidade, pertence aquilo que se costuma chamar “homens bons da cidade”, vem da alta burguesia tripeira, fora presidente da Associação Comercial, enfim era já um candidato com possibilidades mas o não de Rio a Meneses trucidou este último.

(que agora Rio e Moreira não estejam em boas relações é algo de natural, Rio é assim, sempre foi assim, mesmo que no actual momento Moreira tenha o apoio dos vereadores social-democratas.)

Na CMP, Rio também entrou em forte conflito com algumas (mas não todas) entidades culturais oo que lhe criou  uma má fama de inculto. Mas mesmo aí averbou algumas vitórias inclusive no caso da “Rivolição”, situação em que uma dúzia de contestatários ocupantes da sala saíram ao fim de escassos dias nem sequer aureolados por uma entrada (que se não verificou por vontade de Rio)violenta da polícia. Saíram vencidos, humilhados e tragicamente sozinhos naquela tola aventura que pensavam heroica.  

Depois de sair da Câmara do Porto (onde pelo menos deixou contas certas e boas), foi à sua vida de cidadão privado mas voltou depressa para discutir a liderança do partido.

Como de costume, ninguém lhe augurava uma vitória clara mas ele lá foi fazendo o seu caminho, tropeçando aqui, levantando-se ali e ganhando  pulso uma batalha mais do que incerta Montenegro ou Santana morderam o pó à conta do homem do norte de que ninguém parecia gostar muito. Já no ano passado, foi à luta com um candidato capaz, inteligente, deputado europeu, culto com uma tribuna semanal no Público. Contra Rio, parecia estar todo o aparelho, as “distritais”, enfim, o poder do mundo. Mas Rio, o intolerante, mais uma vez saiu vencedor, depois de ter apelado ao voto militante.

Agora, numa corrida que todos (ou quase, ou cada vez menos) davam antecipados parabéns a Costa, eis que Rio lá vai amealhando ponto aqui, ponto acolá, mais outro além, aproximando-se de um contendor que aspirava à maioria absoluta.

Não sou adivinho, não me fio em sondagens, sei que a tecla costista (e verdadeira) da vitimização, digamos da traição dos parceiros da geringonça (que aliás também nunca terão percebido que arriscavam demasiado... mas isso é com eles que agora se arrepelam de uma possível queda de votos e de deputados) ainda permite pensar numa vitória não muito grande do PS. Mas, Rio, que é cuidador de um gato parece ter aprendido com o bichano o que é ter sete vidas.

Quem tem gatos à sua guarda sabe que estes pequenos carnívoros são indomáveis, solitários (como a maioria dos felinos) e levam a sua avante sem grandes dificuldades. Quando os comparam com cães, é bom lembrar que com estes (aliás simpáticos) animais o homem fez trinta por uma linha: há cães grandes, médios, pequenos ridículos bonito e feios. Só por boa vontade se pode comparar um lebreu ou um serra da estrela com um chiuahua. Ora qualquer gato é igual a qualquer outro mais pelo menos pelo. Mesmo em questões de tamanho a diferença nunca ultrapassa  quinze, vá lá vinte centímetros.

Portanto quando Costa arrisca uma piada sobre gatos depressivos é bom que saiba que mesmo assim os bichanos tem unhas e que unhas...

Não sou jogador de casino, por junto aposto no totoloto sabendo contudo que só um bambúrrio me trará os apetecidos milhões, porém, se vivessem Inglaterra e tivesse um bookmaker capaz, era menino para arriscar cinco libras em Rio. E não vou votar no homem...

No dia 30 se verá.

(quando referi a nega de Rio ao FCP lembrei-me da tola história de costa e Medina metidos na “comissão de honra” daquele cavalheiro benfiquista, Vieira, se bem recordo...         

E que, ainda por cima, os correu da lista depois do pequeno escândalo!..

 

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