estes dias que passam 640
“Jorge podes voltar, mamã enfim morta!”
mcr, 31/01/22
Eu, de dias 31 de Janeiro, tenho a memória de concentrações no cemitério, cargas policiais, jantares comemorativos que, a partir do “25 A, deixei, aliviado, de frequentar.
Sempre achei doentio comemorar derrotas e a “revolução republicana de 31 de Janeiro” sempre me pareceu uma toliçada. Chagas dizia que ali “tinham andado uns dinheirinhos da polícia” e ele, foi oautor de uma história daquela subida acidentada da rua de Sto António conta a Guarda Municipal lá do alto a varrer a tiro certo quem se atrevia tem mais ar de drama de faca e alguidar do que imitação da Comuna, mas enfim, nos tempos do Estado Novo, tudo servia para dizer NÃO.
Hoje mais dum século depois, esquecida a jornada, mortos e enterrados os sus velhos celebrantes, é o tsunami eleitoral que ocupa o dia. Abram os jornais e vejam se por lá há alguma menção à revolução (que aliás pouco passou de arruaça). Nada!
Como é que de um “empate técnico” se passou à maioria absoluta?
Eu para explicar tal fenómeno apenas tento citar Alexandre O’Neil (autor do título em “Poemas com endereço” Morais ed, 1962).
O’Neil inventou um slogan eleitoral para o PS que eu adoptei vezes sem conta: “Ele não merece mas voto PS” Eventualmente foi o que sucedeu para um número mais que expressivo de cidadãos que, contra tudo, contra até a realidade mais cruel, preferem votar à Esquerda.
E com isso, no caso em apreço, entenderam punir sem complacência os dois partidos que votaram contra um Orçamento para cujas premissas tinham largamente contribuído e que nada, rigorosamente nada, de importante, de essencial, permitia um voto de recusa.
PC e BE averbam duas derrotas violentíssimas bem maiores do que a de Rio cujos malabarismos também não convenceram quem quer que fosse. E com idêntico resultado. Perde e até admite ir mimar o gato Zé Albino como Costa lhe sugeriu.
É verdade que no caso de Rio, aparece uma Direita a reconfigurar-se mas o somatório de deputados conquistados também não permitiria ao PPD governar mesmo em coligação ”geringoncional”.
Tudo isto, esta monumental derrota das sondagens faz lembrar o longínquo primeiro governo minoritário de Cavaco silva. Também, nessa altura, um partido saído do nada, populista, feito à medida de um homem (Ramalho Eanes), promovido pela sua mulher e juntando desordenadamente descontentes de vária ordem averbou um resultado extraordinário que o levou ao terceiro lugar pouco atrás do PS.
Em certo (e funesto) momento estas criaturas encantaram-se com a hipótese de defenestrar Cavaco. Vai daí, convenceram um PS atoleimado, dirigido por Constâncio, um sofrível economista e mais do que medíocre político, a “fazer a folha” ao odiado ppd. Soares, então Presidente da República, bem tentou acalmar os ânimos dos seus correligionários mas foi em vão. Já nessa época perpassava pelo partido uma espécie de pedro-nunismo tão deslavado quanto o actual tão politicamente incapaz como este e, sobretudo, arrogante.
Foi o que se viu: o, Governo caiu e das eleições que se lhe seguiram saiu a primeira de duas maiorias absolutas e crescentes de Cavaco!...
Foi no fatídico (pelo menos para mim) ano de 1987. Agora trinta e cinco anos depois, repete-se a aventura verificado que está que, em política, há sempre uns partidos incorrigíveis e propensos ao bota-abaixismo sem cautela.
Hoje, cúmulo da inocência!, o líder do Livre veio recordar ao vencedor Costa a promessa que este fizera de falar com toda a gente. O sr Tavares, que deve a sua eleição a Lisboa e só a Lisboa e a freguesias medio-burguesas ainda não acordou do seu sonho governativo... Há de acordar, claro... e dizer da sua decepção. Eu tenho por mim que ele ainda não percebeu que deve o seu lugar de deputado a desiludidos do BE e que tem menos votantes do que o naufragado CDS. Convenhamos que, para historiador, não vê muito bem o que se passa. Ou não quer ver...
Não vale a pena falar dos Verdes ou do PAN. Os primeiros nunca existiram fora do ventre acolhedor do PC, nunca existiram para além dele e, menos ainda, discordando dele. Paz à sua alma. O PAN perde dois terços da sua representação e, surpresa (ou nem isso) a sua actual líder não entrega a pasta. Nisso está solidária com Catarina Martins. De certeza que não é por serem mulheres mas que é estranho lá isso é.
Finalmente e para que os derrotados (e muitos outros, aliás) bebam o cálice de fel até à última gota, eis que o PS se prepara para eleger como segunda figura do estado a inefável senhora Edite Estrela. Pior do que se fosse com Ana Gomes...
(uma aposta: para que gordo e confortável lugar irá agora o sr Cabrita, caso escape à condenação que se lhe augura no caso do atropelado da autoestrada?)
na vinheta : a corrida dos lemmings para o abismo. Dedica-se ao PC eao BE