estes dias que passam 655
Spassibo!
mcr, 28-02-22
o título do folhetim de hoje é a transcrição possível da palavra russa que significa obrigado e tem muitos destinatários
comecemos pelos mais óbvios, os ucranianos que lutam desesperadamente contra o avanço dos mais de 150.000 invasores. Estes esperavam, pelos vistos, ser acolhidos como libertadores dos “irmãos ucranianos” e nunca como o que realmente são: meros invasores (e já agora, como a reportagem televisiva do assalto a uma caixa multibanco por dois soldados russos, ladrões. É esta gente que desperta a simpatia entusiástica do sociólogo SS já famoso por se enternecer com a personagem ridícula de Maduro. Agora, perde-se de amores por Putin, o que é um progresso no caminho infamante que vai laboriosamente trilhando).
O segundo obrigado é para os milhares (na manhã de ontem já eram 4600 os detidos) de manifestantes russos que saíram às ruas em protesto contra esta medonha infâmia. Como se sabe, basta aliás ver como Navalny vai coleccionando condenações, arriscam além de maus tratos(que a televisão vai mostrando) a penas de prisão severas.
O terceiro agradecimento vai para milhares de eslovacos, romenos, moldavos e polacos que se tem desdobrado em cuidados e solidariedade para receber os já mais de 380.000 refugiados. Vê-se que esses países saídos ainda há pouco da orbita soviética e da pata russa, se lembram do que passaram.
Um quarto grupo é o das multidões ocidentais que tem saído à rua para demonstrar solidariedade com um povo agredido.
Em quinto lugar, os dirigentes da União Europeia tem mostrado com crescente vigor a sua vontade de ajudar a Ucrânia não só com acções de carácter sancionatório e financeiro mas também com efectiva ajuda militar. Não sei se esta vai a tempo mas aí está.
Estou a tentar averiguar direcções na net de organizações ucrnino-portuguesas para onde enviar uma pequena contribuição financeira. Isto não pode, pelo menos para mim, ficar nas palavras. Vamos ter uma enchente de refugiados mesmo por cá tão longe (e felizmente!) que estamos.
Há ainda que agradecer oblicuamente a Putin, esse ex-coronel do KGB onde há de ter manchado as mãos em tortura de dissidentes nos “bons velhos tempos” da URSS, do GULAG, da perseguição a dissidentes de todas as cores e, destacadamente, a intlctuais.
Desta feita o véu, aliás transparente, que lhe escondia as fauces caiu. Finalmente, percebe-se sem ambiguidade de qualquer espécie que criatura é, que planos sórdidos foi alimentando.
Vê-se finalmente que, ao mesmo tempo que anunciava a retirada para quartéis dos contingentes em “manobras”, os aumentava significativamente. Por cá, e por todo o lado, um pouco, afirmava-se que era a histeria anti-russa, da NATO e dos RUA que inventava uma hipótese de invasão.
Vê-se que, no exacto dia em que garantia que ainda havia espaço para conversações, ultimava os planos da invasão em três frentes.
Nos idos de 37/39 do século passado, outro ditador, jurava a pés juntos uma coisa e fazia rigorosamente o seu contrário. Enganou Chamberlain, um pateta crédulo e Stalin, um criminoso endurecido que viu no pacto germano-soviético uma maneira de ocupar os países bálticos, meia Polónia e zonas limítrofes da Roménia. Stelin tinha uma tal confiança no “amigo” nazi que se recusou a ouvir todos os seus espiões (sorge à cabeça) e ainda horas antes da invasão da URSS mandava comboios carregados de alimentos, combustível, aço e outras bens indispensáveis ao esforço de guerra alemão contra a França, o Reino Unido, o Benelux ou a Dinamarca e a Noruega. No meio de tudo isso, teve tempo para aniquilar a estrutura de topo do Exército Vermelho, devolver refugiados judeus à Alemanha e liquidar cerca de 40.000 oficiais e dirigentes polacos eterrados à pressa em Katyn e desenterrados pelos alemães que, já em guerra com os soviéticos, se apressaram a publicar fotografias dos cadáveres (e, provavelmente a perceber que um fono crematório era sempre melhor, mais económico e mais “limpo” do que a vala comum
Por cá, mas não só, houve umas criaturas (hesito em classifica-las de ingénuas ou apenas estúpidas) que garantiam que Putin se contentaria com uma garantia de que a Ucrânia nunca aderiria à NATO, situação que, de resto, não estava na ordem do dia.
Por pouco que não afiançavam que a Ucrânia estava prestes a invadir a Rússia, a Bielorrússia, a Crimeia e as zonas sublevadas de leste!
Eu nem me refiro ao PCP que, como de costume, se atirou de cabeça para o delírio total. Tenho a forte convicção que se isto se tivesse dado antes das eleições o seu número escasso de deputados seria muito menor mas, como se sabe, a História não se reescreve. Ou melhor só é reescrita por Putin e a sua gente. (E com o apoio de Maduro, Lukashenko – que só se aguenta no poder, à sombra dos russos). Menos ainda ao citado SS cuja característica mais simpática é uma péssima obrinha em versos pindéricos e estafados que oscilam entre o mau e o abaixo de medíocre.
Não sei o que vai acontecer hoje, para além de umas conversações “sem condições” que provavelmente nada resolverão.
Não sei por quanto tempo a Ucrânia resistirá, se as prometidas armas chegarão a tempo, se os russos registarão baixas suficientes para parar e pensar. Para já, apenas sabemos que a censura foi instaurada em todos os meios de comunicação russos, que a população é mantida na mais completa ignorância do que se passa no terreno.
Os adversários ocidentais da NATO já devem ter reparado que isto, esta crise, este crime, lhe deu novas e mais fortes asas, uma segunda vida. Que até a Alemanha mudou de filosofia, tenciona rearmar-se e dedicar 3% do Orçamento a reafirmar a sua defesa. É de crer que os restantes membros da UE também entendam dever reforçar os seus aparelhos militares, tanto mais que a Rússia, agora, agita o espantalho do seu poderio nuclear.
A União Europeia viveu todo este tempo com a ilusão de que lhe bastava o guarda chuva defensivo americano. Mesmo que isso ainda seja real não há nada como por trancas à porta contra o “lobo mau” da história dos três porquinhos.
Isso a independência energética, e a reindustrialização começam a estar na ordem do dia.
A pandemia já tinha mostrado que não poemos deixar nas mãos de outros o fabrico de meios de combate a doenças, mesmo se mais baratos. Como não se pode deixar nas mãos de terceiros a indústria dos semi-condutores que aflige a indústria automóvel (e não só) europeia.
Não irei ao ponto de agradecer a Putin mas não deixa de ser irónico verificar quão verdadeiro é o ditado “quem semeia ventos colhe tempestades”
Venham elas. Antes agora que mais tarde e piores.
nas vinhetas: detenção de uma manifestante: outra manifestação
ambas na Rússia