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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 655

d'oliveira, 28.02.22

 

 

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Spassibo!

mcr, 28-02-22

 

o título do folhetim de hoje é a transcrição possível da palavra russa que significa obrigado e tem muitos destinatários

comecemos pelos mais óbvios, os ucranianos que lutam desesperadamente contra o avanço dos mais de 150.000 invasores. Estes esperavam, pelos vistos, ser acolhidos como libertadores dos “irmãos ucranianos” e nunca como o que realmente são: meros invasores (e já agora, como a reportagem televisiva do assalto a uma caixa multibanco por dois soldados russos, ladrões. É esta gente que desperta a simpatia entusiástica do sociólogo SS já famoso por se enternecer com a personagem ridícula de Maduro. Agora, perde-se de amores por Putin, o que é um progresso no caminho infamante que vai laboriosamente trilhando).

O segundo obrigado é para os milhares (na manhã de ontem já eram 4600 os detidos) de manifestantes russos que saíram às ruas em protesto contra esta medonha infâmia. Como se sabe, basta aliás ver como Navalny vai coleccionando condenações, arriscam além de maus tratos(que a televisão vai mostrando) a penas de prisão severas.

O terceiro agradecimento vai para milhares de eslovacos, romenos, moldavos e polacos que se tem desdobrado em cuidados e solidariedade para receber os já mais de 380.000 refugiados. Vê-se que esses países saídos ainda há pouco da orbita soviética e da pata russa, se lembram do que passaram.

Um quarto grupo é o das multidões ocidentais que tem saído à rua para demonstrar solidariedade com um povo agredido.

Em quinto lugar, os dirigentes da União Europeia tem mostrado com crescente vigor a sua vontade de ajudar a Ucrânia não só com acções de carácter sancionatório e financeiro mas também com efectiva ajuda militar. Não sei se esta vai a tempo mas aí está.

Estou  a tentar averiguar direcções na net de organizações ucrnino-portuguesas para onde enviar uma pequena contribuição financeira. Isto não pode, pelo menos para mim, ficar nas palavras. Vamos ter uma enchente de refugiados mesmo por cá tão longe (e felizmente!) que estamos.

Há ainda que agradecer oblicuamente a Putin, esse ex-coronel do KGB onde há de ter manchado as mãos em tortura de dissidentes nos “bons velhos tempos” da URSS, do GULAG, da perseguição a dissidentes de todas as cores  e, destacadamente, a intlctuais.

Desta feita o véu, aliás transparente, que lhe escondia as fauces  caiu. Finalmente, percebe-se sem ambiguidade de qualquer espécie que criatura é, que planos sórdidos foi alimentando.

Vê-se finalmente que, ao mesmo tempo que anunciava a retirada para quartéis dos contingentes em “manobras”, os aumentava significativamente. Por cá, e por todo o lado, um pouco, afirmava-se que era a histeria anti-russa, da NATO e dos RUA que inventava uma hipótese de invasão.

Vê-se que, no exacto dia em que garantia que ainda havia espaço para conversações, ultimava os planos da invasão em três frentes.

Nos idos de 37/39 do século passado, outro ditador, jurava a pés juntos uma coisa e fazia rigorosamente o seu contrário. Enganou Chamberlain, um pateta crédulo e Stalin, um criminoso endurecido que viu no pacto germano-soviético uma maneira de ocupar os países bálticos, meia Polónia e zonas limítrofes da Roménia. Stelin tinha uma tal confiança no “amigo” nazi que se recusou a ouvir todos os seus espiões (sorge à cabeça) e ainda horas antes da invasão da URSS mandava comboios carregados de alimentos, combustível, aço e outras bens indispensáveis ao esforço de guerra alemão contra a França, o Reino Unido, o Benelux ou a Dinamarca e a Noruega. No meio de tudo isso, teve tempo para aniquilar a estrutura de topo do Exército Vermelho, devolver refugiados judeus à Alemanha e liquidar cerca de 40.000 oficiais e dirigentes polacos eterrados à pressa em Katyn e desenterrados pelos alemães que, já em guerra com os soviéticos, se apressaram a publicar fotografias dos cadáveres (e, provavelmente a perceber que um fono crematório era sempre melhor, mais económico e mais “limpo” do que a vala comum

Por cá, mas não só, houve umas criaturas (hesito em classifica-las de ingénuas ou apenas estúpidas) que garantiam que Putin se contentaria com uma garantia de que a Ucrânia nunca  aderiria à NATO, situação que, de resto, não estava na ordem do dia.

Por pouco que não afiançavam que a Ucrânia estava prestes a invadir a Rússia, a Bielorrússia, a Crimeia e as zonas sublevadas de leste!

Eu nem me refiro ao PCP que, como de costume, se atirou de cabeça para o delírio total. Tenho a forte convicção que se isto se tivesse dado antes das eleições o seu número escasso de deputados seria muito menor mas, como se sabe, a História não se reescreve. Ou melhor só é reescrita por Putin e a sua gente. (E com o apoio de Maduro, Lukashenko – que só se aguenta no poder, à sombra dos russos). Menos ainda ao citado SS cuja característica mais simpática é uma péssima obrinha em versos pindéricos e estafados que oscilam entre o mau e o abaixo de medíocre.

 

Não sei o que vai acontecer hoje, para além de umas conversações “sem condições” que provavelmente nada resolverão.

Não sei por quanto tempo a Ucrânia resistirá, se as prometidas armas chegarão a tempo, se os russos registarão baixas suficientes para parar e pensar. Para já, apenas sabemos que a censura foi instaurada em todos os meios de comunicação russos, que a população é mantida na mais completa ignorância do que se passa no terreno.      

Os adversários ocidentais da NATO já devem ter reparado que isto, esta crise, este crime, lhe deu novas e mais fortes asas, uma segunda vida. Que até a Alemanha mudou de filosofia, tenciona rearmar-se e dedicar 3% do Orçamento a reafirmar a sua defesa. É de crer que os restantes membros da UE também entendam dever reforçar os seus  aparelhos militares, tanto mais que a Rússia, agora, agita o espantalho do seu poderio nuclear.

A União Europeia viveu todo este tempo com a ilusão de que lhe bastava o guarda chuva defensivo americano. Mesmo que isso ainda seja real não há nada como por trancas à porta contra o “lobo mau” da história dos três porquinhos.

Isso a independência energética, e a reindustrialização começam a estar na ordem do dia.

A pandemia já tinha mostrado que não poemos deixar nas mãos de outros o fabrico de  meios de combate a doenças, mesmo se mais baratos. Como não se pode deixar nas mãos de terceiros a indústria dos semi-condutores que aflige a indústria automóvel (e não só) europeia.

Não irei ao ponto de agradecer a Putin mas não deixa de ser irónico verificar quão verdadeiro é o ditado “quem semeia ventos colhe tempestades”

Venham elas. Antes agora que mais tarde e piores.  

 

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nas vinhetas: detenção de uma manifestante: outra manifestação

ambas na Rússia

  

Mário Soares, Putin e a Ucrânia

José Carlos Pereira, 27.02.22

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Há menos de sete anos, Mário Soares lembrava que Putin era um homem perigoso e imprevisível, evocando já nessa altura as suas responsabilidades pelo que se passava no leste da Ucrânia com o apoio aos separatistas pró-russos. A escalada desta semana, com a invasão da Ucrânia e a morte de civis indefesos, merece uma resposta firme e sanções muito duras da Europa e do mundo ocidental.
 

estes dias que passam 654

d'oliveira, 25.02.22

 

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Ukraína...Ukraína!...

mcr, 25-02-22

 

 

A D. Alexandra é uma das empregadas de minha Mãe e teria como tarefa dormir cá em casa (estou na casa materna) mas desde que chegou há já quatro ou cinco anos ainda não o faz. A old lady, do alto dos seus cem anos (!!!) endtende que ainda não ´altura e continua a viver sozinha. A D Alexandra aparece pelas 10 e sai depois do almoço . Contrato melhor não há, visto que já recebe como se passasse também as noites.

Esta senhora é moldava e ainda por lá tem familiares embora a filha, genro e neta já sejam praticamente portugueses sem qualquer desejo de voltar à antiga pátria.

Ontem, quinta feira suspirou, murmurou o       ue serve de título . Usou uma voz amortecida como se nos quisesse  dizer que teme pela independência do seu país natal. Ela abe que, se a Ucrânia for anexada, a Moldávia engrossará o império russo, num abrir e fechar de olhos. Também lá há uma minoria russófona (cerca de 10%) o que é mais que suficiente para Putin.

Não serei eu quem discorde da negra profecia da D Alexandra. Aquele território (e sobretudo a Bessarábia) já anda em bolandas desde o século XIX ora pertencendo à Rússia, ora caindo para o lado romeno, logo que o Império turco se desfez (aliás até antes...) Há, mesmo, uma coisa chamada Transnistria que se proclamou república independente depois do fim da URSS e que só a Rússia (e algum aliado espúrio desta) reconhece.

Devo acrescentar que, até ontem, apenas temia, como hipótese meramente académica, um ataque da Rússia. Direi que tal ataque o visualizava como algo de limitado aos territórios de leste (Donetz e Lugansk) porquanto a rebelião pró-russa não os ocupara inteiramente. 

Vê-se que, apesar da idade, apesar do que vi durante a minha já longa vida, continuei a ser um incorrigível e ingénuo optimista.

Afinal, os americanos não eram assim tão alucinadamente alarmistas como por aí alguns, os do costume, afirmavam.

A invasão estava a ser meticulosamente preparada, as frentes de ataque a ser identificadas desde o satélite bielorrusso até à Crimeia ocupada há vários anos.

(eu sobre esta península já aqui disse que, de certo modo é verdadeira a expressão “ a Crimeia está empapada de sangue russo” -aliás na maior parte das vezes ucraniano porquanto as tropas imperiais de Ptemkin eram recrutadas localmente-

Deveria ter acrescentado “ e de sangue tatar (ou tártaro) pois eram estes os primitivos habitantes da zona e nela permaneceram depois da conquista russa. Durante o infame consulado de Stalin, e sobre as ordens de Beria, cerca de 200.ooo (ou seja a quase totalidade desta população) foram deportados para o outro extremo da URSS. Estima-se em 30.000 o número de mortos logo no primeiro ano.

Foi já durante a soberania ucraniana que alguns tatars conseguiram regressar. Em má hora o terão feito pois sujeitam-se a ser reenviados para o lugar onde penaram pais e avós deles.

 

Voltando aos propósitos da invasão em grande escala, não me atrevo a futurar seja o que for.Pelos vistos, o propósito anunciado por Putin é triplo, desarmar completamente a Ucrânia, impedir a sua incorporação na União Europeia e, especialmente, na NATO, criar na região um governo  “amistoso” que perceba o quão russos e ucranianos são “irmãos”.

A irmandade russo-ucraniana iniciou-se pouco depois da formação da URSS, aquando da constituição forçada de kolkhozes. Para além de umas dezenas (ou centenas) de milhares de deportações, a colectivização brutal dos meios de produção e da terra levou a um autêntico genocídio. Morreram, pela mais baixa estimativa três milhões de ucranianos. De fome!

É notar que nada fazia prever esta tragédia. Os ucranianos da recém proclamada República foram aliados inestimáveis d Exército Vermelho e sozinhos liquidaram vários exércitos “brancos” que foram forçados a retirara derrotados para a Polínia.

Mais tarde, durante a 2ª Guerra se é verdade que houve mutos ucranianos que a princípio não hostilizaram (ou mesmo festejaram) os invasores alemães, mais tarde foram também ucranianos a suportar o peso das contra-ofensivas soviéticas. Estima-se que um terço dos soldados soviéticos mortos  fosse de origem ucraniana.

Conviria ainda recordar que o território ucraniano foi durante muito tempo pertença da Polónia ou da Lituânia ,mesmo se Kiev tenha sido um do berços da Rússia.

A tese revisionista de Putin sobre a História recente omite que mais de 80%do território russo é de conquista recente, a famosa marcha para leste.   

Mesmo o Cáucaso só entrou na soberania russa tardiamente, em pleno século XIX e,  como ocorreu em vários dos seus territórios foi sempre trado como colónia (a começar pela Tchetchénia cuja última rebelião foi sufocada por dezenas de milhares de mores e destruição maciça de boa parte do país e a terminar na Geórgia, pátria de Stalin, que já foi amputada de dois territórios (agora repúblicas fantoches: Ossétia e Abkásia)

Em face deste panorama, desta história recente e menos recente (sec. XX) é impossível adivinhar qual o fim desta situação de guerra, totalmente criada pela Rússi.

Para quem viveu toda a “guerra fria”, viajou um pouco no paraíso leste europeu (Hungria e Polónia, sem falar na RDA e na Jugoslávia), viu “in loco” quais a miseráveis condições de vida existentes (a ponto de o Portugal dos anos 6.0 parecer um país rico!...)  o futuro daquela região é pelo menos, dramaticamente duvidoso.

Entretanto na Rússia, ontem ainda, já se contabilizavam 1190 detenções de pessoas que protestavam. Par um só dia é uma média honrosa mesmo num país que conheceu a NKVD e o KGB (de que Putin foi alto quadro...)

Voltando ao lamento da D Alexandra apenas posso dizer que não sei como a consolar ou acalmar

*o título reflete, tanto quanto possível, o nome do país que, só em português (?) é que soa diferente

** a vinheta d+foi escolhida por mero acaso. De todo o modo, é terrível ver que a vida destas pessoas cabe toda numa mala !

estes dias que passam 653

d'oliveira, 23.02.22

 

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A leste, o paraíso... (???!!!)

mcr, 23-o2-22

 

 

Em tempos que já lá vão, corria entre meios da Oposição não comunista um dito sobre o PCP que rezava assim: o PCP não está à Esquerda nem à Direita. Está a Leste!

Nós, e falo da gente que, como eu,  tentava furar a espessa rede repressiva da época, indignávamo-nos, mesmo os que não eram militantes ou simpatizantes. Achávamos que aquilo era uma conspiração do velho “reviralhismo”, dos raros sobreviventes do socialismo, dos “democráticos” enfim do que restava de não-apoiantes do Estado Novo, dizimados por dezenas de anos de lutas inglórias, de prisão, de perseguição profissional.

Todavia, reconhecíamos (e mais reconhecemos a partir da “Primavera de Praga) que o PCP mantinha uma inalterável, rígida lealdade à União Soviética, a ”pátria do socialismo real”, o “sol” (ou o sal?) da terra.

A história pregressa depois de 1945, afirmava  que a Guerra tinha sido ganha praticamente só pela URSS, que os Aliados pouco se tinham esforçado, que depois de ocuparem a Alemanha tinham feito tudo para derrubar a fantasmática RDA, que os acontecimentos do Berlin a 17 Junho de 1953 tinham sido fomentados por agentes da CIA (note-se que se está a referir uma maciça mobilização de mais de um milhão de pessoas num total de 16/ 17 milhões de alemães orientais), que a revolta da Hungria (1956) fora uma nova conspiração ocidental, que o 1º Ministro Imre Nagy fora sempre (mesmo enquanto militante e dirigente comunista !!!) um agente dos imperialistas, um contra-revolucionário, enfim o costume.

Em 1969, foi a vez da Checo-Eeslováquia invadida novamente por tropas russas. De nada valeu o facto de o Governo ser dirigido por militantes comunistas de sempre (Dubcek) e ser notória a incompetência do anterior governo.

Anteriormente, já a URSS se incompatibilizara com o governo da Jugoslávia, também ele acusado de tudo, inclusive de trotskismo, nota recorrente e infamante usada contra qualquer espécie de dissidente.

Em todos estes casos, o PCP foi sempre um incondicional apoiante da direcção do PCOS (Partido Comunista da União Soviética).

É verdade que, de longe em longe, e sobretudo nos anos que se seguiram à crise checa e ao conflito sino-soviético, aparecia um responsável comunista, desiludido e expulso do “partido” que criticava os métodos, as escolhas, o alinhamento cego do pcp com a direcção russa (ou soviética que quase o mesmo, ou até apenas o mesmo, basta compulsar os nomes e a “nacionalidade” dos mais conhecidos e mais influentes dirigentes do PCUS).

A implosão da União Soviética foi um drama duramente sentido para militantes mais ingénuos mas, ao contrário do que se passou em países onde os PC eram robustos, influentes e com forte implantação (França ou Itália, para não ir mais longe)

De certo modo, o PCP foi uma excepção no universo comunista ocidental mesmo se, como se vê a olho nu, o seu declínio seja constante ainda que lento. O pcp de 2022 ´é uma pálida e esbatida imagem do Pc dos anos 70/90. Mesmo tendo mais um deputado do que o BE teve menos votos e foi ultrapassado pelos dois recentes partidos da Direita que, no caso do Chega, até o atacam nos seus bastiões tradicionais.

Tudo isto vem a propósito do actual momento político internacional.

Se curiosamente se esperava uma certa posição recatada do Chega (sabido como é que Putin e a Rússia são olhados com indisfarçável simpatia pela Extrema Direita europeia (que eventualmente, aqui e al, vai beneficiando do apoio de Moscovo) que não aconteceu, eis que o PCP, através do seu “gabinete de imprensa” publica uma nota em que acusa a Ucrânia, a Nato, os EUA e a Europa de fomentarem uma agressão à Rússia que, coitada, contra-vontade teve de reconhecer a “independência” de territórios ucranianos onde milícias apoiadas, autorizadas, armadas pela Rússia estão desde há oito anos em claro estado de rebelião.

Quando se esperava (enfim alguns esperavam) que o PCP criticasse a visão distorcida da criação da Ucrânia por Lenin , crime lesa Rússia de sempre levado friamente a cabo pelos bolcheviques ,desesperados por uma oportunidade de se defenderem dos “russos brancos” (que curiosamente foram vencidos com o fortíssimo apoio dos nacionalistas ucranianos e dos corpos anarquistas de Makhno), verifica-se que os comunistas de cá engolem mais esse sapo, essa injúria sacrílega e cerram fileiras à volta do companheiro Vladimir Putin e eventualmente se fazem garantes de outra e renovada “muralha de aço”. É obra!

Ou, nem sequer isso: o PCP continua a louvaminhar a “democrática” Coreia do Norte, a olhar com ternura a Venezuela,  a defender a indefensável Cuba e a entender que a China com o seu nutrido exército de multimilionários (sempre membros do PCC, obviamente) e a sua evidente política económica de fachada socialista mas mais capitalista e selvagem do que a de qualquer outro país dito capitalista, são exemplos de uma sociedade de futuro.

Tudo isto, esta postura de simpática compreensão pelas exigências russas levam os que ainda se lembram à recordação do estatuto do antigo Pacto de Varsóvia que assentava numa ideia de “soberania limitada” por parte dos países do leste europeu. Se observarem com alguma atenção é exactamente isso o que a Rússia exige à Ucrânia. E, pelos vistos, a todos os países saído dos ventre infecundo da antiga União das Repúblicas socialistas Soviéticas

*a vinheta :emblema do pacto de Varsóvia

 

 

estes dias que passam 652

d'oliveira, 22.02.22

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Não há novidades sob a roda do sol

mcr, 2202-o2-22

 

 

A menos que depois se passou na Geórgia com o aparecimento das repúblicas “independentes” da Ossétia do Sul e da Abcásia.ainda alguém se espante. Estas zonas foram  fraudulentamente retiradas graças a sublevações “espontâneas” prontamente reconhecidas pela Rússia e por mais três ou quatro Estados (Nicarágua, Venezuela, Síria e Nauru!!!). Depois a Rússia enviou para essas zonas “forças de manutenção de paz” , expulsou  os georgianos  E deixou cair uma férrea cortina de silêncio sobre os territórios.  A seu tempo serão integradas na Federação russa sempre por livre vontade unânime dos seus habitantes.

Agora tocou a vez A duas regiões do leste da Ucrânia também já reconhecidas pela Rússia. E também já podendo contar com a entrada de forças de manutenção de paz para evitar tropelias do exército ucraniano.

Daqui a algum tempo, a minoria russófona da Letónia, queixar-se-á  de maus tratos, rebelar-se-á e   irá engrossar  a lista de territórios autónomos à volta da mãe pátria russa. 

Tudo isto com o aplauso unânime da Extrema Direita europeia, do “partido comunista da Rússia” infame autor da proposta de reconhecimento dos novos países.

Por cá, iremos seguramente ter quem apoie esta libertação à`Direita e à Esquerda.

Já ontem, em comentário, duas senhoras, uma do BE e outra de uma coisa parecida, acusavam os EUA e os imperialistas europeus  de não quererem a paz. Estas escerebradas criaturas, nascidas provavelmente depois de 74, nunca devem ter ouvido falar da década de 30 do século passado, das contínuas cedências a Hitler que o levaram de anexação  em anexação à 2ª Guerra. E muito menos terão notícia da gula da então União Soviética que, de conluio com a Alemanha nazi, engoliu parte substancial da Polónia e os três pequenos países bálticos ao mesmo tempo de tentava retirar (como retirou) a Carélia à Finlândia. Finda a guerra, eis que a URSS se instalou na antiga Prússia Oriental onde permanece, com o aval de todos,  desde essa época. Nada na história deste território teve alguma vez algo a ver com a Rússia czarista, mas tão só com a Alemanha. A Polónia e a Lituânia.

Nesta história medonhadevoracidade imperial, verifica-se que nada mudou naquele enorme país, desde os tempos do czar Ivan. A mesma sede de terras, de súbditos (súbditos sempre, jamais cidadãos) o mesmo desprezo pelas etnias não russas, outra (ou  mesma) espécie de sub-humanos sejam eles tatars ou chetchenos ou quaisquer outros que na famosa, longa, sangrenta caminhada paa o leste foi a colonizaçãoo russa. E a mesma doberba autocrática que espreita de lá dos muros do Kremlin uma realidade quase imutável a que, pelos vistos nenhuma democracia chega ou comove.

Haverá, seguramente, entre os leitores, alguém que tenha vontade de me lembrar a grande literatura de Toslstoi a Soljenitsin ou Brodsky, a grande música a pintura extraordinária como se eu a não tivesse em conta. Tenho, caro leitor, tenho, como também tenho a história trágica de um grande número deles, exilados, presos, deportados, privados da nacionalidade, desaparecidos na voracidade dos grandes expurgos, na imensidão os dos campos gelados da Sibéria. Também a Alemanha  os teve e desde sempre, também ali, a barbárie ultrapassou  a imaginação.  Kant, para não ir mais longe e para recordar um habitante do que é agora território russo, liberto de populações alemãs nativas, não desculpa Himmler nem sequer o faz compreender. O suicida Maiakovsky  não salva Beria nem Brodsky limpa Brejnev.

Estamos já preparados, habituados a ver surdir grandes homens de países invitáveis para uma boa parte dos seus indígenas.

Neste exacto momento, enfim , nestes dias, assistimos a mais outra acusação do dissidente Navany que provavelmente, certamente, lhe duplicará a pesada pena de prisão que já o atingiu. Não morreu do envenenamento  morrerá na cadeia.

Se os cidadãos são assim tratados porque haveria de  ser melhor a sorte dos estrangeiros, sequer dos ucranianos que, na revisão histórica de Putin são afinal russos ou quase russos desleais à grande mãe pátria  que já Stalin citava aflito e assustado pela invasão dos seus até ali fieis amigos nazis.

Ao contrário da Bielorússia onde um ditador de opereta mas ditador na mesma e sangrento, a Ucrânia, expulsou o homem do Kemlin que fazia as vezes de presidente. Imperdoável! Intolerável...

A história sem fim, recomeça . Ou isto é parado já, ou, como dizia o poeta (alemão e comunista) amanhã a sorte caberá aos que hoje se calarem.

(ainda há dois três dias, alguns “comentadores” “isentos”  e amantes da paz, afirmavam que os americanos exageravam na profecia de uma real ameaça de invasão russa. Agora só lhes falta uma encenação como a de Dantzig)

 

 

         



 

au bonheur des dames 470

d'oliveira, 21.02.22

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O medo guarda a vinha    

mcr, 21-o2-22

 

Uma senhora comentarista entende que os portugueses “movidos por imperativo ético”… por “convicção que adoptassem teriam t impacto na vida colectiva” levaram a cabo um confinamento e restantes medidas mesmo antes de isso ser tornado obrigatório pelo Governo.

Convenhamos que isto é uma visão cor de rosa, cor de rosíssima da situação e das motivações de quem a viveu.

Vivo numa zona com cafés, restaurantes e demais comércio de proximidade e assisti aàs mais variadas reacções ao impacto inicial da pandemia mesmo antes de serem afoptadas medidas de qualquer espécie. Vi angústia, medo, surpresa, rara indiferença e muito menos conhecimento do que se passava. Note-se que nesta zona de classe média alta e eventualmente informada por jornais ou pela televisão, as reacções mais rápidas apenas traduziam receio e espanto. Cada um procurou salvar a pele, atordoado pelas notícias que vinham de outros sítios e, nomeadamente, da Itália onde eram evidentes os efeito devastadores do primeiro assalto do vírus.

Uma boa maioria das pessoas e alguns dos estabelecimentos sentiu a necessidade imediata se se barricarem em casa ou de fechar portas mas, ao que me iam informando era o medo do contágio, da hospitalização, a clara compreensão da falta de meios eficazes de combate à nova e desconhecida doença o que movia as pessoas. Vira agora dizer que o primeiro sentimento foi o da solidariedade só por extrema boa vontade em acreditar nas virtudes republicanas que diariamente se espezinham alegremente. 

É provável que, no decurso dos acontecimentos, algum sentimento nobre tenha, entretanto, invadido a cabeça das pessoas mas e bastava ler os jornais, ouvir a televisão para perceber que se uns cumpriam as regras impostas (e em Portugal há esse arreigado hábito de obedecer a quem manda sem perguntar por quê, para quê e por quanto tempo) começaram ao fim de poucos meses a verificar-se constantes desobediências ao regulado sobretudo no que dizia respeito ao transito a pé nos fins de semana ou no acesso às praias anas proximidades do Verão.

E isto, esta pouca atenção às instrucções da DGS, da polícia, do Governo, não foi apenas cá mas um pouco em toda a parte. É possível que em algum país nórdico (Suécia excluída)   tivesse havido uma pequena maré de solidariedade e responsabilidade partilhada sem que os governos a tenham imposto ou sequer ameaçado com sanções os incumpridores.

Mais tarde, as multidões jovens que repovoaram as noites do Bairro Alto ou da baixa portuense  provaram à evidência que o sentimento dominante, pelo menos nos grupos etários mais jovens e(presumia-se) menos atingíveis pelos piores efeitos da doença, era a de aberta rebelião.

E os mais velhos, aterrados pela ceifa violenta que o covid fazia sobretudo nos maiores de sessenta anos, continuavam a fechar-se a sete chaves.

Esta realidade que qualquer consulta a uma hemeroteca ou aos arquivos da televisão torna evidente, não se coaduna com a tese acima descrita.

É verdade que, entre nós, a confiança nos governantes não é especialmente forte. Todavia, há uma longa, dolorosa e histórica experiência no que toca à desobediência cívica e ao protesto. Partilhamos esses contrastados sentimentos com outros países do Sul europeu, nomeadamente, a Espanha, a Itália ou a Grécia, curiosamente (ou talvez não) países onde a ideia democrática demorou longamente a estabelecer-se, enraízar-se e entranhar-se nos hábitos e na vida de todos os dias.

As pessoas podem ser alegres, bem dispostas, prontas a viver a vida sem especiais dúvidas existenciais, prontas a gozar o sol de que generosamente disfrutam durante quase todo o ano. Apesar de religiosas, a religião que usam é menos severa, menos exigente e mais, muito mais paganizada. O catolicismo (na Grécia, a ideia ortodoxa)  é vivido muto tu cá tu lá com os santos, com o folclore mariânico, com padres foliões e santos populares e bonacheirões. A Inquisição com que fomos atormentados quando desapareceu, deixou mais beatos que crentes disciplinados e sempre atreitos a pecar com a vaga certeza que no fim uma extrema unção rápida e despreconceituosa nos leva para o paraíso.

Como se seguíssemos a lição de Prévert:

notre pére qui êtes au cieux

restez-y.

Et nous resterons sur la aterre...

Infelizmente, hoje, os comentadores por muita sociologia que tenham aprendido não leram os poetas  e treleram Rousseau. Daí este ledo engano sobre a motivaçãoo dos portugueses em tempos de v´írus maléfico

*na vinheta: Jacques Prévert um dos mais amados poetas franceses

 

 

 

estes dias que passam 651

d'oliveira, 20.02.22

 

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Jogar às escondidas com a História

mcr,  20-02-22

 

 

Há em Portugal um velho hábito de esconder o lixo debaixo do tapete. Com um problema que não é de somenos: o lixo acumula-se, cheira mal, infecta o ambiente e começa a ser visível mesmo escondido. Aquele alto debaixo do tapete cresce e em algum momento haverá que resolver a situação.

Durante treze longos anos, mantivemos, todos, repito todos (e aqui incluo os poucos que desde o primeiro dia se opuseram mas que foram obrigados a combater – e foram dezenas de milhar!...), os que viveram esses anos medonhos.

Não  devo exagerar ao dizer que cerca de um milhão de jovens portugueses fizeram o seu serviço militar entre 196 e 1974/5. As respectivas famílias, as namoradas, os familiares próximos, alguns amigos sentiram de diferentes formas o peso da contenda. Recebiam cartas, fotografias, ouviam os que vinham de licença, trataram os feridos e choraram os mortos. 

Até bem tarde, 66/67 houve um vasto consenso nacional sobre a razão da presença em África, alicerçada tamvém pelo facto de outro milhão de portugueses lá viver, por vezes há gerações

(note-se que falo de um país que teria no máximo nove milhões de habitantes)

Por outro lado, os efeitos da guerra foram fortíssimos. Comecemos por algo que raramente vejo citado: a entrada maciça de mulheres no mercado do trabalho para substituir a mão de obra mobilizada e (nunca esquecer) a fortíssima vaga de emigração para a Europa  (e também pra África, note-se)Dezenas ou centenas de profissões “femininizaram-se” o que também trouxe profundas modificações de mentalidade, de costumes, de situação das mulheres.

Ao contrário de alguns ignorantes comentadores, esses anos sessenta foram de prosperidade justamente por via da guerra, das transferências das soldadas das transferências dos emigrantes, de uma curta abertura ao que se passava na europa.

E depis do inicio da descolonização, houve que receber centenas de milhar, provavelmente um milhão de “retornados” que, ao contrário do que se passou em França se integraram com grande rapidez numa terra quase estrangeira, em todo o lado, em aldolas perdidas do interior ou nas grandes cidades. Relembro a título de exemplo os casos de vários presidentes de Câmara oriundos dessa v aga aflita de refugiados (o caso mais conhecido foi o de Évora), o forte empurrão dado por “retornados” a muitas economias locais, incluindo à restauração (té me apareceu um caril de lampreia!...). A cozinha africana e indiana (por via de Moçambique)instalou-se rápida   e duradouramente em Portugal. A guerra, para surpresa de alguns provocou uma forte emigração para as colónias, ou melhor para Angola e Moçambique. Normalmente eram ex-militares que seduzidos por África, pela vida africana, pelas oportunidades , decidiam, finda a comissão de serviço, instalar-se definitivamente. E isto, porque, apesar de tudo, a partir de finais de 63 a guerra era “de baixa intensidade” e muito circunscrita  a certas partes dos territórios.

Ora, tudo isto, todo este passado que não é glorioso nem deixa de o ser (é apenas, e só passado), de repente, ficou submerso nas brumas de uma memória forçada e artificial (vício velho desde o nevoeiro de Alcácer Quibir). Esse passado recente (e o menos recente, convém acrescentar) foi obliterado pela euforia (nem sempre  genuína) do post 23 de Abril.

Vitoriavam-se os militares “revolucionários” apontava-e o dedo a um pequeno punhado de reaccionários como se as malhas que o Império teceu fossem não uma obra razoavelmente colectiva mas uma conspiração de uma minoria contra o “povo” português.

Seria bom lembrar que boa parte (quase todos) os “militares de Abril” eram oficiais no activo, formados nos anots cinquenta e participantes activos em todas as operações militares  levadas a cabo depois da revolta africana. E quando digo todos ou quase quero significar isso mesmo pois foram apanhados ainda subalternos e tiveram de marchar para “o mato” nos anos dificílimos do inicio dos combates. A única, ou uma das poucas, excepção foi a de Spínola que era já coronel ou tenente coronel mas entendeu ir para a frente de combate. O feneral costa Gomes foi um dos principais (e dos melhores...) artífices da estratégia portuguesa em Angola, outros igualmente conhecidos membros da Junta de salvação Nacional e sucedâneos, andaram no meio dos tiros arriscando a sua vida, matando para não morrer.

Na Oposição política portuguesa destacaram-se vários importantes líderes republicanos (cunha Leal por todos) que defendiam a integridade do território nacional “do Minho a Timor”. É verdade que concordavam na necessidade de reformas, condenavam a inacção colonial mas, no fundamental, era-lhes estranha a ideia de independência das colónias, nisso se distinguindo do PCP que a advogava . todavia, mesmo no caso deste partido, a regra geral era a do cumprimento do serviço militar nas colónias, ao contrário do que em finais de sessenta ou mais precisamente em princípios de setenta era o mote de pequenos grupos “esquerdistas” (havia mesmo um que proclamava as virtudes da “deserção com armas” mesmo se se ignore quantos o fizeram). Arnaldo Matos ou Jerónimo de Sousa estiveram no ultramar como militares o mesmo sucedendo a outros destacados militantes políticos do PS como António Arnault que, num comício durante as eleições de 69, se apresentou como ex-combatente em África.Todavia, toda a história pregressa dos militares eex-militares em África, foi varrida para a obscuridade durante dezenas de anos. Agora, dezenas de anos depois, começam a surgir as histórias, os documentos, as cartas, alguns depoimentos . Começam a fazer-se exposições e uma realidade antiga e tumultuosa (e dolorosa) reaparece à luz crua do dia. Em boa hora!

A História de um país, deuma comunidade não se faz apenas do que a cada momento é conveniente mostrar. Todos tem esqueletos no armário e o mais saudável é traze-los cá para fora, areja-los, dar-lhes sepultura condigna. Talvez assim possamos perceber que país somos, que povo, e que futuro queremos ter. E isso, o futuro só existe quando há presente

 

 

diário político 256

d'oliveira, 19.02.22

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Isto não é a Suíça, que diabo

d’Oliveira, fecit (Fevereiro de 2002)

A  sr.ª presidente da ANMP (associação nacional dos municípios portugueses) que é também presidente da CM de Matosinhos parece ser uma entusiástica adepta da regionalização.

Eé tanto assim que faz propostas bizarras para que o processo seja levado a bom fim. Propõe que desapareça da Constituição (poe ajuste, notem bem, e não por revisão) a exigência de haver pelo menos 50% dos eleitores a votar. A intrépida autarca “não corta cavilha”, ou seja, entende que a  “crescente taxa de abstenção torna problemática aprovação da regionalização!...”

Vai daí o melhor é aceitar qualquer resultado...

Depois, a referida entusiasta da regionalização de um país que mal tem dez milhões de habitantes, dos quais três quartos no litoral compreendido entre o Porto e (vá lá) Setúbal, acha que os eleitores (esses ignorantes...) não tem de se pronunciar sobre o mapa visto que a divisão entre as actuais CCDR está “consolidada”.

Eu recomendaria a esta senhora, pelos vistos conhecedora profunda do país e da constituição, que mais lhe valia propor que nem sequer se sujeite o povo a essa maçada do referendo (sempre por “ajuste” da Constituição, clato9 .

Os leitores recordarão que há vinte anos, malgrado a intensa campanha a favor da regionalização o povo, esse ingrato” não a aprovou. Em boa verdade, na altura (e agora será provavelmente o mesmo) os adeptos da partilha de cargos chorudos e poderes e sub-poderes cada vez mais locais, dividiam-se em múltiplas tendências regionalistas. Se ão erro chegou mesmo a propor nove ou dez em alguns casos. Era a multiplicação não dos pães mas dos esfomeados!

Tive oportunidade, de por períodos razoáveis, viver em países ditos regionalizados. A Alemanha, exceptuando as famosas e antiquíssimas cidades-estado, as regiões correspondem a populações com vários, bastantes (`às vezes mais do que a inteira população portuguesa)  milhões de habitantes, por um lado, a Itália, por outro tem. Além do mais uma longa tradição histórica de regiões que estiveram independentes, que criaram uma fortíssima consciência regional. Por outro lado, na vizinha Espanha, regionalizou-se a torto e a direito, havendo agora, se não erro, dezassete (17!!!) autonomias que, na maioria dos casos a nada ou a muito pouco correspondem. Se a Galiza, o País Basco e a Catalunha correspondem  a existência  de línguas diferentes do espanhol (o castelhano que todos sem excepção usam quando precisam de dialogar com o exterior) ainda permitiria fundamentar qualquer coisa, já o resto é pura tolice (que diferença há entre as Castelas e Madrid? E entre a Andaluzia e Valência? A que título as Astúrias são uma região? E por aí fora. No caso da França a primeira regionalização já encolheu e não pouco. E mesmo assim tirando casos absolutamente especiais (A Corsega) o progresso feral devido à regionalização é altamente inferior aos custos e sobretudo ao conseguido na descentralização de um Estado que a Revolução francesa unificou.  

Irão os transmontanos, os alto-durienses, os beirões (alto e baixos) os minhotos,  os ribatejanos, ganhar algum protagonismo nesta negociata onde Braga provavelmente não aceitará a tutela do Porto, Viseu e Aveiro a de Coimbra ou Beja a de Évora, só para recordar exemplos recentes? A única vaga região natural  seria o Algarve, o reino dos Algarves, com uma vaga tradição histórica e claras e bem definidas fronteiras com o Alentejo. E as ilhas, claro onde, aliás, conviria investigar minuciosa e  politicamente o que é que o estatuto de região trouxe aos seus habitantes. Enquanto Jardim jardinou o seu jardim, a pedinchice, a exigência, a insolência e a ameaça separatista foram o pão nosso de cada dia.

É verdade que o Estado, num país como Portugal, sem especiais (e muito menos profundas) raízes democráticas, com uma história pesada de pequenos autocratas a partir de Lisboa (o que não quer significar que todos ou mesmo a maioria fossem de lá originários) foi sempre cioso dos seus poderes e tratou o resto do território como mera paisagem (nem sequer protegida). :as isso resolve-se com o fortalecimento dos concelhos (e são mais de trezentos), com a atribuição de poderes e financiamento adequado a cada câmara. Não há, felizmente quaisquer especificidades regionais, quaisquer diferenças substanciais num país antigo, com uma língua comum, com fronteiras externas mais que definidas há séculos que exija mais outra autarquia entre o Estado e as já existentes. As províncias nunca foram importantes mesmo quando tinham população abundante afora desaparecida com a emigração interna e externa. Os distritos viram sem incómodo algum desaparecer os governadores civis que, aliás, eram agentes do Estado . As comissões de coordenação apenas devem ter o carácter técnico que a especificidade local exigir, o resto é para discutir entre as Câmaras e o poder central que pode sem perda de prestígio ou de natural influência, perder prerrogativas  que só alimentam um exército de funcionários que, em muitos casos deveriam estar mais que descentralizados e distribuídos pelo território. Aliás, essa gradual mudança para os locais onde forem necessários poderia inverter em parte a desertificação crescente a que se assistiu nos últimos 30/4o anos. Aliás, está por provar que a regionalização (sobretudo se feita nos moldes propostos pela ambiciosa autarca de Matosinhos) tenha qualquer espécie de eficácia no repovoamento de dois terços do país (e digo dois terços para não dizer três quartos ou, quiçá quatro quintos.... Basta olhar para um mapa...)

Finalmente, as cautelas regionalizantes da referida autarca evidenciam bem quão incerto é o eventual resultado de uma escolha popular, desde que claramente informada e sem truques políticos. Um país, qualquer país não andar de vinte em vinte anos a brincar aos referendos quando, ainda por cima, em questões fundamentais foge a eles  mais depressa que um rato a um gato esfomeado.              



au bonheur des dames 469

d'oliveira, 18.02.22

Práticas “culturais”

mcr, 18-2-22      

 

à falta de política que se vise, de guerra (felizmente),de escândalos sexuais ou desportivos, a semana acabou por ser marcada por um estudo sobre práticas culturais dos portugueses.

Convenhamos: nada do que lá vem me surpreende. Que a leitura seja algo de estranho a três quartos dos meus concidadãos que, não terão lido um único livro no ano que passou, ou que as bibliotecas sejam territóris desconhecidos de quatro quintos dos indígenas é algo que eu já sabia ou adivinhava.

E, no último caso, está por verificar se quem entrou numa biblioteca o fez para ir ler um livro do espólio da instituição ou apenas lá penetrou para estudar, prática que se usava muito nos meus tempos de faculdade. A Biblioteca Geral era confortável e, para além da maçada de ter de requisitar um livro que nem aberto era, ninguém perturbava o estudante aplicado que vivendo em maus quartos ou não gostando de estudar em cafés, procurava ali refúgio. Nem vou perder tempo a falar na frequentação de galerias de arte, museus ou exposições em geral. Não vale a pena.

Os meus amigos alfarrabistas queixam-se da falta de gerações intermédias (entre a minha que está de pés para a cova e  os maiores de 55/40 anos. Vivem ou sobrevivem desta velhada, cada vez mais rara mas, pelos vistos, ainda entusiasmada pelos livros.

Quando vou à feira do livro, é verdade que vejo gente e mesmo compradores de livros atraídos pelo desconto que nunca vai além dos 10/2o% em livros recentes.

(anda por aí um projecto de lei que para proteger as edições recentes proíbe descontos maiores por dois anos. Não lhe vejo utilidade, sequer perspectivas de melhoria para os títulos editados. E, pelos vistos, os editores também não )

Quanto a concertos, exceptuando os festivais de Verão e similares a novidade também não existe. A música clássica, a ópera os recitais vivem no seu pequeno nicho  coisa que piora se nos lembrarmos do teatro: um desastre. Eu confesso que ainda não percebi de que vivem os actores de teatro e as companhias ditas independentes.

(alguém, nos meus tempos de Ministério ou Secretaria de Estado da Cultura, afirmava que independente, independente só o escasso teatro comercial que ainda existia. O resto, os chamados independentes dependiam totalmente do Estado!...)

Não tenho números fiáveis sobre a compra de discos, de filmes, e menos ainda de suportes de actividades menos frequentes, bailado ou teatro, por exemplo. Todavia, oiço queixas de que cada vez vale menos a pena porque há plataformas que, de uma forma ou doutra, tornam a audição ou a visão de espectáculos mais barata.

Os jornais (com a excepção do Expresso, um jornal quase exclusivamente lido por uma elite cultural e económica) apresentam tiragens anormalmente baixas (incluindo os desportivos) quase todos com excepção dos periódicos dedicados à bisbilhotice e à descrição destemperada  da vida dos “famosos”.

Não vale a pena falar de revistas literárias ou genericamente culturais. O que subsiste (p.ex. a “Colóquio” paga pela Fundação Gulbenkian ) tem baixas tiragens. Há todavia um fenómeno curioso: vendem-se muitos títulos sobretudo de História, mesmo se eu ignoro  em que quantidade. Mas a verdade é que, nos quiosques e tabacarias se encontra uma boa dúzia de títulos diversos incluindo variadas edições em português (desde a “visão” à National Geographic).

A imprensa estrangeira pode encontrar-se escassamente em Lisboa ou Porto mas desde há uns anos é notório o desaparecimento de títulos (El País, la Republica,  ou a edição cultural do ABC... .)

 

Longe de mim, vir fazer a apologia do “antigamente” mesmo se recorde que havia várias revistas (Seara Nova, Vértice, Rumo, O tempo e o Modo) mensais que subsistiam unicamente com o apoio de leitores e assinantes. O mesmo se passava com os cineclubes (só no Porto existiam dois) com as sociedades de concertos (também no Porto duas, ou, e na mesma cidade, um círculo de cultura Teatral com companhia própria, o TEP sustentado apenas pelos sócios e espectadores.) Isto numa época de proventos magros, de forte analfabetismo, de repressão cultural e política, de censura.

O que aconteceu a essa pequena mas enérgica multidão que ia   às livrarias, ao teatro, aos concertos, à opera (no Porto bastante popular a pontos de encher uma das maiores salas existentes (Rivoli)? 

Não estou a tentar dizer que agora existam menos pessoas interessadas do que há cinquenta/setenta anos. Apenas me parece que o número não aumentou  e que toda uma comunidade cultural parece esperar que a cultura que quer consumir lhe seja oferecida de mão beijada pelo Estado.

Aliás, é verdade que actualmente há bibliotecas em muitos mais concelhos que houve uma tentativa de manter, conservar salas de espectáculos. Todavia, pelos números revelados, o resultado é dramático. Salas vazias, ausência de esprectáculos fora dos grandes circuitos (onde, de resto, sempre estiveram) e uma aposta perdida na leitura pública. As bibliotecas e os museus estão, o público, os usuários é que fazem falta.

Depois, há nos números globais umapequena possibilidade de erro. Para oa grandes festivais de música popular (e eles são em número apreciável) há público, publico jovem mas animado e em grande número. Para o resto é que falta.

Só mais um exemplo: há ainda cinemas e exibição comercial. Todavia, o público total é pouco superior a metade do que se registava entre os anos 50 e 60 do século passado. As salas em número poderão dar a imressão que aumentaram. São, todavia, pequenas salas com capacidades muitíssimo inferiores às antigas. É verdade que os horarios de projecção são mais mas há que convir que isso não traz à grande maioria dos espectadores grande benefício. As pessoas, lembremo-nos trabalham, não estão disponíveis senão à noite ou em feriados e fins de semana. E a televisão é um grande concorrente mesmo se, só com muito boa vontade, se possam considerar as novelas dadas em profusão como consumos culturais. E mesmo essas são batidas por programas de uma indigência indizível tais como “quem quer casar com o agricultor”, “big brother” e outros semelhantes. Chamar a estas torpes ofertas “cultura” só revela o que é que começa por estar errado quando se tentar falar de cultura.

 

 

estes dias que passam 650

d'oliveira, 17.02.22

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Os votos do vagão jota

mcr, 17-02-2

 

pelos vistos há na Europa cerca de 1,4 milhões de eleitores devidamente registados. Tem direito a 2 deputados o que não deixa de ser surpreendente para não usar as palavras escandaloso ou ainda ridículo.

Por razões de segurança, quando o voto não é presencial exige-se fotocópia do bilhete de identidade do eleitor. Éa lei, pura e simples.

Todavia, numa reunião os partidos entenderam que tal exigência não era para cumprir! As extravagantes criaturas meteram-se a elas próprias e aos partidos que representavam na mais tola, absurda e grave ilegalidade.

Parece que o PPD percebeu a tempo a burrice supina e recuou no seu apoio a tão alucinada decisão.

Os votos, entretanto chegaram e muitas dezenas de milhares estavam desacompanhados da referida fotocópia. O PPD protestou e os partidos, melhor dizendo, as criaturas das mesas de voto meteram votos bons e maus no mesmo saco tendo daí resultado que oitenta e tal por cento dos votos recebidos foram directamente para o caixote do lixo. O PPD voltou a protestar, desta feita por se terem misturado alhos com buglhos, ou seja votos bons e votos maus.

O Tribunal constitucional viu-se imperiosamente obrigado a fazer o que fez: anular tudo e mandar repetir as eleições.

A posse do Governo ficou adiada por duas ou três semanas, coisa que a mim me espanta porquanto seja qual for o sentido de voto trata-se apenas de dois deputados o que em nada modifica o resultado eleitoral. Provavelmente, a lei obriga a uma contagem total e por isso a posse ficou para as calendas.

De toda esta fantochada bananeira, além da vergonha, da verificada incapacidade da CNE , de mais um exemplo de lei feita às três pancadas fica que os deputados da emigração custam uma quantidade de votos inacreditável, enquanto um deput ado do PAN ou do LIVRE é eleito por meia dúzia de votos dado o círculo eleitoral (Lisboa) que dá direito a quarenta e várias celebridades locais ou nacionais.

Do que fica isto: o voto emigrante é para inglês ver, não aquece nem arrefece, não representa cerca de doze por cento da população total.

Eu se fosse emigrante nem sequer votava. Para quê? Qual o peso da minha pobre decisão?

Isto, esta exígua representação, é, permitam-me, gozar com quem se dá ao trabalho de votar por correio ou pessoalmente lá nas estranjas.

O circo continua, os palhaços já nem sequer dizem graçolas, o público rareia mas ninguém põe cobro a isto.

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