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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

diário político 260

d'oliveira, 31.03.22

Quem te avisa...

d'Oliveira fecit , 31-03-22

 

Decorreu ontem a cerimónia da tomada de posse do Governo. Longa e chata como de costume. Muita gente qie ninguém quer faltar ao beija mão ministerial . aos beijinhos, abraços e restantes cumprimentos. Em Portugal é assim: todos empertigadamente solene, veneradores e obrigados. 

Depois há os discursos.

Sempre longos, sibilinos e sujeitos a intensa análise e escrutínio. Desta vez, o PR avisou que os mandatos são de quatro anos. Isto, porque à cautela, lá foi prevenindo que uma ida para a Europa,  como foi o caso de Durão Barroso, obrigaria a eleições. Em boa verdade, o PR apenas aplicou uma longínqua proposta do PS que Sampaio, mal, não ouviu. 

Por isso tivemos um governo Santana Lopes que foi derrubado por uma frase de Cavaco (“a má moeda afasta a boa”) mais do ue por qualquer outra razão. Os leitores talvez já não se lembrem mas Ferro Rodrigues, na altura secretário geral do PS demitiu-se em protesto à solução arranjada por Sampaio. Diz-se que este queria provar ao mundo a incapacidadede Santana ser melhor do que parecia. Lá provar provou mas quem amargou com aquele governo trambolhofomos nós os paisanos. Se as coisas tivessem corrido com Ferro queria talvez se tivesse adiado ou abandonado a solução Sócrates que, no caso em apreço foi pior do que acicuta. 

Desta feita, o aviso veio a tempo e cristalino: o mandato é para cumprir. Tanto mais que com maioria absoluta só a falta de imaginação é que pode tramar o novo Governo. 

Portanto um governo pronto a consumir. Tudo a favor, para já. A começar pelos mundos efundos do PRR e a acabar na incapacidade de a oposiçãoo se impor. Ainda porcima são duas, três ou mais as oposições. Alguém vê o PC aliado ao PSD contra Costa. Ou os  dois mais o BE e a IL todos juntos a votar melodramaticamente algum desde logo perdida moção de confiança?

Em poucas palavras : há dinheiro, há tempo há um país à espera, quase não há oposição credível e, muito menos, eficaz. 

Que se pode pedir mais?

A resposta matreira é fácil: competência! É preciso competência. 

Ainda é cedo para se começar a medir esta mas conviria reparar que na composição do Governo há um parde situações esquisitas: O Ministério dos Negócios Estrangeiro  está manco dos “Assuntos europeus”!!!

O inventor do PRR não é o responsável pela sua aplicação. 

Até nova ordem o Orçamento é o que foi reprovado mas o seu autor desapareceu do mapa. O mesmo sucedeu ao ex ministro da economia, um sólido e competente (para variar) amigo de Costa

Entre os ministros que continuam temos o delegado geral da falida TAP, aquela senhora da Agricultura que queria vender qualquer coisinha à China e a srª Temido que, pelos vistos, é incontornável na Saúde.

Costa, no seu discurso, afirmou que este Ministério não tem sequer o privilégiode umpar de meses em “estado de graça”. Está enganado. Tem-no sim senhor e muitos de nós estamos dispostos a esperar o tempo necessário para ver os ministros novos ou em novos ministérios perceberem como as coisas estão.

Se algo se provou com este longo interregno político é que as coisas lá foram andando sem especiais percalços mesmo com os ministros com poderes diminuídos e  o parlamento à meia luz. E a pandeia ainda chateava, a guerra acendia-se os preços das matérias primas ameaçavam subir. A vida continuou, graças eventualmente, ao conhecido bom senso do povo português que provou ser capaz de se mexer sem ser aguilhoado pela estridência da rua, pela facúndia discursiva e pela conspirata dos aparelhos políticos. Nem sequer os que costumam engrossar a voz, a engrossaram demasiadamente. Ou porque não quiseram, não puderam ou porque, de facto, já não lhes reste força suficiente para alanzoar ameaças

Só o clima se mostrou contrário: no choveu coisa  que se visse, é provável que  a seca seja violenta mas já há quem garanta que não faltará água para os campos de golfe, instrumentos incomparáveis para o dinamismo turístico..

“Eles” lá sabem....

As balizas de Augusto Santos Silva no Parlamento

José Carlos Pereira, 30.03.22

 

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Augusto Santos Silva foi ontem eleito, com uma ampla maioria de apoio, como presidente da Assembleia da República. O seu excelente discurso no início do exercício do cargo foi uma bela amostra do que se pode esperar do seu mandato, traçando as balizas naquilo que entende dever ser o uso da palavra na casa da democracia.

Académico prestigiado, Augusto Santos Silva dedicou boa parte da vida à intervenção política e foi sendo requisitado pelos vários líderes do Partido Socialista para funções governativas de relevo. A sua eleição para segunda figura do Estado foi muito acertada e o significativo número de votos favoráveis que colheu em outras bancadas demonstra a forma como é reconhecido em diferentes quadrantes políticos.

Conheço Augusto Santos Silva há muitos anos, ainda ele não era figura pública, por via de amizades comuns, e retenho desde esses tempos o seu fino humor e a sua inteligência superior. Foi ao longo destes anos um dos mais bem preparados governantes portugueses e, estou certo, deixará uma marca indelével como presidente da Assembleia da República.

au bonheur des dames 480

d'oliveira, 30.03.22

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Táxis e  touradas ou vice versa

mcr 29.03.21

 

Manuel Sanchez llamó al toeo

ay nunca lo huvuera llamado

por el pico de una illarga

toda la praza arrastrado

 

 

se o leitor está a estranhar o titulo do folhetim peço-lhe que não se incomode. É que um novel ministro daquela coisa que por cá passa por Cultura, entendeu há uns tempos, ainda o inebriante perfuma do ministério não lhe atormentava a carninha e o coração exaltado, afirmar que não concebia viver num país “sem taxistas nem touradas”!

Poderia ter sido um desabafo brincalhão, um esquisito jogo de palavras, uma mera patacoada mas não. Por ais três vezes como S Pedro de que herda o nome, falou do seu acrisolado amor pela tauromaquia, pelo que devemos dar à inicial fórmula todo o seu peso e significado.

Perguntar-se-á  que vem aqui fazer os taxistas. A pergunta pode ser boa mas a resposta, lamento muito, é pouca: não sei.  Menos que o jovem ministro pense que os taxistas são os toureiros da estrada,  ou que os toiros depois de corridos podem ser reconvertidos em motoristas de carros de aluguer, coisa, aliás, que se me augura dificultosa senão impossível, não atino com nenhuma explicação.

Em boa verdade, das vezes em que me foi concedido o sofrido prazer de ouvir o dr. Adão e Silva perorar, fora um tom de explicador de aritmética nunca lhe ouvi coisa profunda quer no capítulo do toureio quer noutro qualquer. Todavia, avia uma televisãoque lhe pagava os devaneios vagamente políticos, dois parceiros de conversa e, seguramente alguma audiência, espero-o.

Em boa verdade a minha constancia de ouvinte era, no mínimo, irregular, Era bo intervalo das séries policiais do FOX crime que eu fazia o zapping por um par de estações, evitando a profusão de novelas ou concursos idiotas. Portanto, não me vou alargar sobre a profundidade das elocubruções do sr dr Adão e Silva. Posso ter perdido momentos altos, algumas genialidades, acaso algum conselho para ganhar o totoloto, dada a pressa do zpping e a maia das séries policiais.

Ei-lo agora ministro. E ministro de um ministério onde o tema tourada escalda, agita, revolve, vocifera e condena.  A agora única deputada daquela agremiação PAN já dez a habitual e esperada berrata, claro.  Porém, na imensa solidão , os seus protestos caem em saco roto.

Eu, sobre touradas  pouco digo: não aprecio, não frequento nem atinjo o supremo grau da arte. Claro que o defeito é meu mesmo se em pequeno, bastante pequeno, aliás, tenha assistido a uma ou duas lides no coliseu figueirense. Chateei a família, pedia para ir fazer xixi nos melhores momentos (se é que os havia) e cedo fiquei dispensado de ir ver maltratar um pobre toiro. Digo que, uma coisa apreciava. As pegas quando o toiro sacudia dois ou três valentões vestidos À ribatejana e os mandava pelo ar. Convenhamos: eu era impatrioticamente a favor do toiro e adorava ver o rabejador com as mãos cheias de merda taurina.

Confesso que esta minha pouca predisposição para a “arte de Linares” não é suficiente para me meter em manifestações anti-touradas pelo simples motivo que julgo, acaso erradamente, que a coisa em Portugal está em acentuado declínio. Mais uns anos e mor.re de morte natural. Ficar-nos-á Manolete  (que aliás morreu em Linares, executado pelo touro “Islero” que bem merecia uma estátua) e o nome de uma toureira, porventura amazona, Conchhita Cintron, que depois de uma gloriosa carreira se dedicou à criação de cães de água portugueses. A esta senhora foi atribuída a “medalha do Mérito Cultural” o que só vem provar o bem fundado da escolha de Pedro Adão e Silva para o Ministério que atribui tal condecoração.

De todo o modo não invejo a sorte do ministro surpresa. Vai ter muito que tourear naquela  nave de loucos. Vai ser-lhe necessário muito jogo de cintura, muito sangue frio e muita, mas muita, sorte. e não será preciso outro “isleñro” para o abater: no circuito cultural-artístico todas as noites são noites de facas longas...

Cá estaremos para apreciar as faenas.

 

*na epígrafe: estrofe de “Los Mozos de Moreón”  belíssima peça da literatura popular espanhola

 

 

au bonheur des dames 479

d'oliveira, 29.03.22

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Nem sempre a generosidade é oportuna

mcr29, 03, 22

 

 

Todos sabemos que o sr Presidente da República é tão frenético quanto inteligente.

Essa sua característica é conhecida desde os primórdios da democracia e sobretudo desde que exerceu (ainda mais freneticamente) de presidente do PSD. Sem especiais resultados neste último e curto episódio da longa vida política.

Todavia, desde que se apanhou na Presidência da República (por mais que expressiva margem devo salientar mesmo se nunca contou com o meu pobre voto) essa qualidade (ou defeito) tornou-se, se me permitem, “pandémica”.

Eu nada tenho contra um PR interventivo desde que se limite aos seus deveres constitucionais. Também não me desagrada que, enquanto “supremo magistrado” ele vá estando atento ao que se passa na pátria. Aliás se problema há é apenas este: S.ª Ex.ª está sempre demasiado atento, excessivamente atento, às vezes tão atento que mesmo antes de algo acontecer já o vemos a agitar-se e a preiar, lembrar, comentar o que ainda não acontecu ou o que mesmo estando a acontecer ainda não revela os precisos contornos do acontecimento.

Não há cão nem gato, desde que português, nacional, íncola, que por dá cá aquela palha não seja saudado, abraçado, condecorado às vezes por apenas cumprir o seu modesto dever.

Para alguém, corrijam-me se estiver errado, que prometeu usar de cautela na atribuição de condecorações, julgo que temos assistido a um tsunami delas. Das du uma ou Portugal está a viver uma nova idade de ouro ou anda por aí algum exagero.

Claro que esta intensidade presidencial é relativamente inócua. Aliás, as pessoas, algumas, muitos porventura, ficam deliciadas. Ver o presidente em perpétuo movimento, a posar para milhões de selfies a distribuir beijinhos por toda a bochecha que lhe passe ao alcance tem sido uma característica quiçá amais marcante do seu mandato.

Desta feita, ganhei uma aposta: quando se soube do “enxame” de sismos na ilha de S Jorge, apostei com um amiga que o Presidente não demoraria três dias em ir lá. Demorou dois mas isso não alterou para melhor como conviria o postado.

Ora bem, eu acho muito bem que o PR se preocupe com os Açores, terra que segundo Eça, teve durante séculos como mostra do afecto metropolitano, o envio de juizes ou algo do mesmo género e substância. Agora já lá vão ministros e o PR- Sempre é um progresso mesmo se isso não se traduz em melhorias mais substanciais e úties.

Desta vez, S.ª Ex.ª foi tranquilizar os habitantes de S Jorge  que temiam e temem algum vulcão mal disposto, algum tremor de terra mais violento.

Convenhamos, o dr. Marcelo Rebelo de Sousa é um político, um professor de Direito Constitucional, e mais um par de coisas todas boas e saudáveis. Não é, de todo em todo, um especialista em movimentos tectónicos, especialidade em que os experts são raros e demasiado cautelosos.

Ir a S Jorge acalmar a malta não aquece nem arrefece qualquer habitante das Fajãs ou de Velas. Ir até lá é no pior dos casos uma bravata, no melhor uma cândida aposta na bonomia dos movimentos do magma terrestre.

Os siemos e restantes calamidades ocorrem sem que os poderes fácticos possam fazer o que quer que seja excepto, obviamente acautelar, ajudar reconstruir

Por muito profunda que seja a influência do PR na sociedade portuguesa (Açores e S Jorge em especial, incluídos) não creio que aquela breve vista, aquela meia dúzia de frases inócuas a abater tenham seja de que modo for, influenciado o desenrolar dos acontecimentos que, aliás, se esperam o menos maléficos possível.

Imagine-se, agora, por um momento, que enquanto se dava a visita, o diabo do magma resolvia vir até à superfície, e vir com brusquidão. Já viram a barraca que era? A desajuda que a visita teria representado?

Um presidente pode morrer no cumprimento do seu dever (provavelmente Zelensky poderá desaparecer ou “ser desaparecido” assim) mas ir desta para melhor por via de um vulcão que se anuncia com milhares de sismos não me parece adequado nem obrigatório.

É claro  que a visita ao local foi obviamente precedida de estudos e eventuais garantias de que a coisa não iria rebentar. Todavia, nunca fiando!

Depois, S.ª Ex.ª perdoará mas o seu curto e ousado passeio por terre ameaçadas não acalma ninguém pois ninguém acredita que isto se previna com visitas mesmo presidenciais.

A minha amiga e apostadora agora vencida, jurou-me que teria sido bonito uma morte no meio da catástrofe de lava e movimentos de terras a fugir para o mar. Algo de profundamente nórdico, islandês, por exemplo que aquilo é terra se sagas tremendas, de súbitas cóleras mais de homens que de deuses, um inferno.

É o que se chama um Gotterdammerung, coisa tremenda  pouco aplicável ao jardim à beira mar plantado mesmo se o terramoto, o velho, o terrível, também tenha ocorrido sem ninguém o esperar.

Fomos, apesar de tudo, poupados a isso malgrado a má vontade da apostadora vencida que não se conforma com a derrota. O PR regressou, está salvo, irá lá mais para o verão nadar no mar açoreano e tudo acabará em bem. Q E D...    

au bonheur des dames 478

d'oliveira, 28.03.22

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Se isto foi assim!...que desastre"

mcr, 28-o3-22

 

 

A deputada Constança Urbano de Sousa confiou ao Público que houve pressões fortíssimas (“ao mais alto nível” sic) por parte de “senadores do PS para que e não tocasse na lei dos sefarditas.  Para tal moveram “mundos e fundos” para travar quaisquer alterações à lei que, de per si, era um amontoado de incongruências, uma caricatura péssima da lei espanhola e uma porta escancarada a doa a espécie de manigâncias.

Como agora se constata claramente a partir da nacionalidade concedida a om oligarca russo que, à vita desarmada não preenche nenhuma das condições já de si generosas para entrar no rol dos descendentes de judeus expulsos no século XVI.

Em boa verdade, apurar os descendentes de judeus portugueses que viviam em Portugal no reinado de D Manuel já não era fácil. Todavia, sabe-se com alguma exactidão que os proscritos se dirigiram para a Holanda, para Marrocos, para Veneza e, uma minoria, para Istambul. Sabe-se também que por altura da guerra havia uma comunidade judia alegadamente portuguesa no norte da Grécia, paredes meias com a Turquia. Há mesmo notícia que as autoridades nazs, confrontadas com a reivindicação de nacionalidade portugueses destes judeus terão contactado o governo português que terá feito orelhas moucas ao lancinante pedido de ajuda desta pequena comunidade que terá perecido nos campos de extermínio.

Há também, conhecimento de raros exemplos de famílias judias que conservavam patronímicos portugueses, falavam vagamente o “ladino” e, até, conservavam as chaves das casas que tinham sido obrigadas a abandonar.

Todo o resto é mais problemático. À uma porque passaram por Portugal, nessa mesma época grandes multidões de judeus “espanhóis”, expulsos pelos reis Católicos. Falariam igualmente o ladino ou a versão espanhola deste. Estiveram em Portugal alguns anos até serem de novo expulsos dadas as ambições do rei à coroa de Espanha. Distinguir uns de outros já começa a ser difícil numa situação que nunca teve nada de fácil.

Eu percebo, mesmo com alguma dificuldade, este arremedo de súbito arrependimento com cinco séculos de atraso. Bastou a Espanha dar om passo e logo por cá um tropel de generosas e ignorantes criaturas, o tentar imitar.

Como de costume, ao copiar a lei, esqueceram-se das necessárias condições da sua aplicação. Pode até ter acontecido que, como de costume em boa parte das leis que saem do Parlamento, nem sequer tenham previsto as consequências, as possibilidades de falcatrua, o labirinto das provas.

Digo isto com sincera pena pois sou amigo de três dos quatro visados por Constança Urbano de Sousa. A Maria de Blém foi minha colega de curso, o Manel Alegre é um amigo desde 1960 e o Alberto Martins um companheiro de várias lutas. Como é que eles caíram nesta esparrela é que não percebo. Como é que terão insistido tão veementemente na defesa de um dispositivo legal tão imbecil ultrapassa a minha imaginação. E entristece-me profundamente, mesmo que não creia que tivessem qualquer interesse menos legítimo nessa acirrada defesa daquele mau esfregão jurídico.

De resto, os resultados práticos da lei (90% dos nacionalizados foram-no por intermédio da comunidade judaica do Porto, agora em plena suspeição dado o caso Abramovitch: a imensa maioria dos “novos portugueses” não vive cá, não fala português, não tenciona vir a falá-lo e menos ainda a habitar solo nacional. São numa forte maioria cidadãos de Israel que ou estão apavorados com os palestinianos ou apenas pretendem o melhor de dois mundos e viajar pelo espaço Schengen com um passaporte português.

Ainda por cim, pelo que se vai sabend, as “provas” de ascendência portuguesaparecem mínimas se sequer a tl ponto conseguem chegar.

Impõe-se, pois, uma forte barrela, uma investigação a sério, um re-exame rigoroso de todos os casos sem excepção. Vai nisso, entre outras coisas, o bom nome do país, o combate à corrupção e à fraude, doa a quem doer.

Duvido, porém, que haja coragem política para dar este passo necessário e higiénico. Erguer-se-ão as habituais vozes contra os anti-semitas, as comparações com os anos da guerras mesmo se, até nestes, não tivesse havido um forte movimento nacional de apoio aos refugiads. Não foi apenas Aristides, cônsul em Borfeus, form pelo menos mais três diplomatas. Foram s populações das zonas de acolhimento dos fugitivos (desde a Figueira da Foz até às Caldas da Raínha, sem esquecer zonas fronteiriças (Vilar Formoso, por exemplo) que até clandestinamente, acolheram fugitivos. Bastar visitar os pequenos museus existentes para saber das histórias de solidariedade, ajuda de muitos portugueses decentes e humanos que abriram as portas da sua casa ou os cordões da sua bolsa par minorar a desgraça dos recém chegados.

É justamente em nome desses milhares de cidadãos desses anos difíceis que agora se exige um total esclarecimento desta história estranha e mal contada.

Por muito que pese aos “senadores” do PS e a quantos colaboraram na feitura de uma lei desastrada para não dizer palavra mais forte, muito mais forte.

 

*na vinheta filme Casablanca (Michael Curtiz, real) a actriz Madeleine Lebeau que no filme canta a Marselhesa. Esta actriz passou por Portugal como refugiada como acima se escreve. E torou-se famosa pela sua pequena mas fundamental interpretação no filme

 

 

Jantar-debate sobre a guerra na Ucrânia

José Carlos Pereira, 27.03.22

Na noite da passada sexta-feira, participei em Matosinhos num jantar-debate muito interessante sobre a guerra na Ucrânia com a participação, entre outros, de actuais e antigos responsáveis políticos, a nível governamental e parlamentar, membros da Igreja, académicos, agentes do sector cultural, consultores, empresários e jornalistas.

Conversa fluida (atenta e preocupada) a partir do conhecimento de alguns dos presentes sobre aquela zona da Europa e as disputas geopolíticas que estiveram na origem da guerra.

au bonheur des dames 477

d'oliveira, 27.03.22

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Os malefícios do tabaco

mcr, 27-03-22

 

Aproveito a boleia de Tchekov, apeaar de uma propagandista russa, mais imbecil do que é permitido, andar por aí a esbracejar que se quer destruir a cultura russa.

 

Quem destrói a cultura russa é quem faz o possível por sujar o rasto luminoso de escritores, pintores, músicos e bailarinos com uma guerra suja, provavelmente inútil e claramente inimiga da civilização.

Pela minha parte limito-me a aproveitar o título de uma pça em um acto do velho Anton, um dramaturgo genial e, sobretudo (a meu ver), um contista de excepção.

E a que vem esses malefícios agora reclamados pelo título do folhetim? Pois muito simplesmente a uma conversa com uma amiga fumadora ao ar livre fora da protectora esplanada onde, todos os fias me acolho para çer o jornal e aviar dois cafés.

Esta excelente e antiquíssima amiga (espero que ela me não leia ou então que perdoe o  “antiquíssima” que, de todo o modo, remete para uma amizade de mais de quarenta anos)´uma fumadora inveterada, transige em tomar café e palrar meia hora desde que possa dar ao pulmão. O que é extraordinário é que ela, entretanto ainda anda cheia de precauções anti-covid, pregou-me um autentico sermão quaresmal  sobre o bicho, o “rh” e mais um par de coisas que me assustaria se eu não soubesse donde vinha o discurso.

Claro que, os velhos pulmões e, quiçá, outras  vísceras minhas  que já tem uma idade sólida, ressentiram-se da frecura da manhã e eis-me e pingo no nariz que não me dá tréguas e que produz um caudal maior do que algumas das nossas barragens que sofrem a tal seca severa.

Já ando a tomar um par de mezinhas receitadas por uma conspícua mas jovem farmacêutica mas os resultados ainda demoram a chegar. Gasto lenços de papel à fartazana, papel de cozinha quando estou lá ou aré papel higiénico quando os lenços acabaram e estou longe de nova remessa. Isto sem galar dos guardanapos de papel da esplanada... Um desastre: o dique papeleiro para a minha enxurrada do nariz parece impotente. E não posso culpar ninguém, sequer os russos ou, como prescreve o sr Jerónimo de sousa, a NATO e a América que pelos vistos invadiram a Ucrânia por interposta criatura.

O mundo está depernas para o ar, o agressor passa a vítima, os de fora passam a infames comanditários das atrocidades e os que se defendem apenas tentam prolongar a guerra, o massacre dos seus cidadãos e as dores de cabeça do PCP que, obrigado a tantos malabarismos corre o risco de se estatelar no meio do chão.

E o Tchekov a pregar no meio do deserto dobre os malefícios do tabaco. Arre que já ter pouca sorte. Há um largo par de anos saiu ou esteve para sair um artigo sobre Tchekov em que este era referido como o autor da “mudinha”. A coisa causou pasmo e na tentativa de perceber o que queria o articulista houve alguém com mais vião e sabendo os tratos de polé da cultura indígena lá percebeu que o sábio nacional confundira duas palavras francesas (muette e mouette, respectivamente muda e gaivota. Afinal tratav-se de “A gaivota” um bela peça do malogrado russo que lida num franciú discutível e bastardo deu nessa confusão. Durante muitos anos, se calhar ainda hoje, há muita tradução (ou algo que passa como tal) que, em vez de ser feita da língua original, vem da versão francesa. Os russos, os escandinavos, os húngaros, os restantes eslavos e os gregos passavam todos pela refinadora francesa  que, já se si, não era segura, para a versão portuguesa. Um pagode!

É por essas e por outras que o meu pobre apêndice nasal pinga que repinga. Traduz a gentileza de me dar ao luxo de acompanhar uma fumadora ao frio das manhãs de Março.

Por aqui me fico que tenho de me ir assoar.

au bonheur des dames 476

d'oliveira, 26.03.22

 

 

 

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Muda a hora. E a vida?

mcr, 26-o4-22

 

A pergunta do título nada tem de retórica, sobretudo nestes tempos sombrios que atravessamos.

Não vale a pena falar da guerra que se trava nos limites da Europa pois aquilo parece estar para durar. Com um desperdício absoluto de vidas humanas, de um país semi-destruído de outro que parece ter perdido a alma, uma alma que no século XIx e parte do XX pareceu  estar em consonância com o melhor do que a europa tinha. Mesmo o interregno soviético teve os seus momentos na poesia, no cinema, na música e na pintura. Teve, digo, porque rapidamente a “ordem” se impôs e essa imensa criatividade foi convenientemente amordaçada, perseguida e destruída. Ou quase: já aqui referi essa imensa trilogia poética (Akmatova, Tsetaieva e Pasternak) que resistiu, persisttiu sobreviveu a uma sorte temível que se resolveu nos gulags, no suicídio na auto-censura ou pura e simplesmente no silenciamento forçado e imposto. (des)graças a Jdanov e aos seus imitadores apareceu algo de repelente a que se chamou arte e cultura soviéticas que se esvaíram na mediocridade, no servilismo na cumplicidade com um poder ilimitado e castrador.

É verdade que, em certos e reduzidos círculos muito próximos da clandestinidade, a chama se conservou. Mas, como, eventualmente, hoje, essa ténue resistência (mesmo se corajosa e teimosa) funciona praticamente em circuito fechado, em “samizdat”, temos um povo anestesiado desconhecedor do mundo exterior, conservado numa espécie de casulo temporal, à mercê da poderosa máquina de propaganda (que lá tem a alcunha de “informação”) oficial, do habitual fatalismo que impregna, ou parece impregnar, o modo de vida russo. Não deixa de ser curioso que os momentos de c rise sejam adivinhados por a televisão desatar a passar ininterruptamente os grandes ballets russos, os de sempre, mesmo que convenientemente  depurados da novidade e da provocação que Diaghilev e outros lhes pretenderam dar.

E há, curiosamente, paralelos com o que se passou em outros Estados autoritários, por exemplo na Alemanha. Neste último caso, foram as próprias autoridades nazis que depois de decidirem queimar os livros “maus” (uma infinidade a que nem “Emílio e os Detectives” escapou por  ser escrito por um Erich Kastner, escritor maldito no 3º Reich) entenderam (!!!) expor as pinturas e esculturas  de uma série de artistas também malditos. Foram as célebres exposições de “arte degenerada” que terão atraído as atenções de muita gente que “viu claramente visto” o vício da genialidade de umas dezenas de grandes artistas que tinham iluminado os anos 10e 20 alemães.

NA União Soviética (um pseudónimo da Rússia e respectivas colónias) o poder não arriscou. Fechou a arte nova a sete chaves, baniu os livros das bibliotecas e tratou exemplarmente os autores confinando-os exilando-os  ou eliminando-os sem grande maçada e muito menos processo jurídico.

Ora, agora, um senhora comissária não sei bm de quê, veio declarar a quem a quis ouvir que a arte e a cultura russas estavam a sofrer tratos de polé por todo o mundo. Artistas e criadores perseguidos, contratos rescindidos, livros retirados do mercado quando não destruídos, acordos entre museus desfeitos, enfim um auto de fé tremendo e sem precedentes.

Ora, se é verdade que, em certos meios se cancelaram espectáculos de artistas por estes serem personagens próximas do Kremlin, se, de facto se despediu um director de uma prestigiada orquestra alemã (pelos mesmos motivos, aliás) não menos verdade é que a grande maioria das temporadas musicais não sofreu cortes nem alterações, que as editoras continuam a publicar os grandes clássicos russos de sempre e que, por exemplo, e localmente, em Lisboa se dê início a uma grande temporada de celebração da música russa!

Ontem ou anteontem  a RTP2 passou um filme russo (de resto medíocre ou apenas sofrível) sobre a resistência russa em Estalinegrado  e o canal internacional de música “ARTE” esteja desde o início do mês a transmitir óperas russas...

Também, ontem, a televisãoo mstrou uma reportagem sobre o abraço comovido de duas intérpretes (uma russa e outra ucraniana) de “Aida” acabada de apresentar.

Estamos pois, mergulhados em pleno delírio: o da perseguição da cultura russa, da de sempre, obviamente. E a pobre população russa, desprovida autoritariamente de redes sociais, de canais de televisão estrangeiros, vê-se eventualmente à mercê desta gente que mente com quantos dentes tem e pretende (e se calhar consegue) exacerbar o sentimento patriótico, justificar uma “intervenção especial” cujo fim é evitar uma agressão (!!!) e libertar (uma população  aterrorizada por quadrilhas neo-nazis, anti russas e anti igreja ortodoxa).

Claro que há uma minoria que, por ser jovem, culta e receosa do que lhes poderá cair em cima, que se exila pelas fronteiras que ainda permanecem abertas (desde a Finlandia até à Quirguizia, à Arménia ou a Geórgia). É a esse auto-exílio que Putin chama “purificação” da Rússia que aliás será aumentada pela repressão interna contra os que, mesmo poucos mas corajosos, se manifestam nas ruas.

A hora poderá mudar entre hoje e amanhã mas a hora dos russos essa manter-se-á tão igual e pesada como a de ontem.

na vinheta: obra de Kazimir Malevitch. Curiosamente, e por mero acaso, Malevitch nasceu em Kiev mas trabalhousempre entre Moscovo e S Peersburgo onde morreu, ainda jovem, pobre e hostilizado pelas autoridade e pelos donos da cultura dita soviética.

  

 

au bonheur des dames 475

d'oliveira, 25.03.22

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O segredo  não é a alma do negocio

mcr, 25/03/22

 

 

A minha vontade seria rir, rir às escancaras, rabelaisianamente, troçar, rebolar-me pelo chão à gargalhada. Porém, sou português e mesmo que se diga que les portugais sont toujours gais, esta historieta não tem graça.

Então a lista dos ministros, lista que Costa garantia  guardar a sete chaves, é conhecida primeiro pelo Pópulo e só depois pelo Presidente da República que a terá ouvido a televisão?

Que diabo de república bananeira é esta? Como é possível tal escândalo? Porque, deixemo-nos de coisas, é um escândalo!

Como é que uma televisão apanha a lista? Alguém, seguramente lha entregou. Alguém seguramente da maior confiança do chefe do Governo., do seu círculo mais íntimo.

O Presidente, desta feita, justamente incomodado e irritado deixou transparecer isso mesmo. Anulou a entrevista com o indigitado 1º Ministro  tal qual eu anularia uma conversa com o rapaz que serve o café na esplanada e o traz tarde, frio e a más horas.

Tudo isto sem referir a “falta de chá”, a má educação, a grosseria que obviamente recaem quase certamente sobre um inocente, Costa, claro.

Note-se que não ataco a estação televisiva que apanhou esta “caxa”. Mesmo que a tenha pago e bem pago. O problema aqui não é o comprador, é o vendedor.

Quem pôs a boquinha no trombone? Porquê? A troco de quê?

Estes conflitos institucionais desacreditam muita coisa e fazem-nos passar por gente de maus hábitos e piores costumes. Que diabo ainda há um protocolo de Estado a cumprir.

Costa, interrogado por um jornalista disse duas coisas que também não abonam muito. Primeiro que seria “normal” o Presidente ficar irritado (poderia ter dito que lamentava profundamente o sucedido mas nem isso) depois avisou que ia lanchar com a amantíssima esposa.

Alguém acha normais estas duas pobres frases?

Eu lembro-me de em pequeno ouvir dizer quando alguém apanhava duas bolachadas na cara”isto não ficaassim!” e a inevitável resposta do alegado agressor. “pois não, incha!”

O tom enfastiado da resposta de Costa é no mínimo desajustado.

Mas, pior e mais  grave: o dr. Rebelo de sousa bem que pode vir dizer que o que passou  está passado.  Aliás que poderia ele dizer a mais?

O problema é que o antigo e famigerado fazedor de “factos políticos” não é exactamente uma alma caridosa, alguém que ofereça a outra face depois de receber o tabefe na primeira. Basta ler as memórias de Balsemão para se apreciar o que este diz do seu antigo colaborador no “Expresso”.

Conviria não deixar o Presidente da República, em pleno 2º mandato, frente a uma maioria absoluta, em rofa livre. Sobretudo porque a pessoa é inteligente, demasiado inteligente, dizem alguns. E gosta de se meter em tudo. E, pior, mete-se. Usa a sua indisfarçável habilidade de comunicador a torto e a direito. Pode “chatear o indígena” à fartazana. Numa época em que havia necessidade de profunda, amigável e leal colaboraçãoo, pode ocorrer que um grão de desconfiança emperre o maquinismo.

Claro que me dirão que está tudo bem que aquilo foi um azar, que costa (e isso quero acreditar) não meteu prego nem estopa nesta parvoejada televisiva.

Eu, que não vou para novo, que tenho o dito cujo mais calejado do que o do macaco, não creio que a poeira tenha assim assentado tanto. Aliás, mesmo a poeira assentada e bem assentada pode esvoaçar com uma brisa mais forte...

É por isso que me não rio como faria se isto se passasse, por exemplo, nas Maldivas, ou no arquipélago de Tonga...

Passou-se cá, envergonha qualquer um  indicia uma  cultura de desresponsabilização maligna.  O país não sai engrandecido deste fait-divers grotesco.

Estes dias que passam 671

d'oliveira, 24.03.22

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O que une e o que fractura

mcr, 24 de Março de 2022

 

 

 

Há sessenta exactos anos, dia por dia, apanhei no lombo pela medida grande. No Campo Grande, ainda por cima, ia eu incauto a caminho de uma jantarada que o Reitor da Universidade de Lisboa ofereceria, à estudantada expulsa da zona universitária pela polícia de choque. Inda por cima nem sabia para onde fugir pois não conhecia Lisboa. Valeram-me duas raparigas de que perdi o rasto que me guiaram até ao CUJ (Clube Universitário de Jazz, onde escutei pela primeira vez gravações de uma nova música africana, o “Kuela” ou (Kwela). Tenho a ideia de que o conferenciante seria Jorge Calado mas a tantos anos de distância é-me impossível confirmá-lo.

Depois foi o que se sabe (ou não) e durante anos continuei a peregrinar até Lisboa e a sofrer as consequências dessa minha pequena audácia.

Já na altura, a resposta estudantil coimbrã à repressão foi mais do que notável mesmo se os historiadores foquem sobretudo os acontecimentos de Lisboa.  Todavia, à conta da revolta malhei com os costados em Caxias por algumas semanas, o que me salvou de duas coisas: não fui expulso de Coimbra porque me perderam o rasto (estava preso!) e não fui reinspeccionado pela tropa  por alguém, bendito seja!, ter entendido que, um rapazola preso “não era digno de pertencer ao brioso corpo de oficiais milicianos! (sic) Pouco tempo depois, os “indignos” eram despachados o batalhão disciplinar de Penamacor e enviados para a guerra como simples soldados  ou cabos já não recordo.

Safei-me da guerra mas não das prisões que me foram caindo em cima com alguma regularidade e cada vez por mais tempo. De todo o modo, acho que tive sorte mesmo se de certeza e se fosse chamado para o serviço militar, “daria o salto”. Não foi preciso mas, em compensaçãoo, nos últimos anos do regime defunto, fui “passador” ajudando um par de desertores ou de simples opositores políticos a sair clandestinamente de Portugal.

Ontem, pelos vistos, bateu-se um record: já há mais dias de democracia do que de ditadura. Como sou da década de quarenta essa contabilidade não me apanha pois há uma boa dúzia de anos que tenho mais tempo de vida em liberdade do que em “estado novo” (que aliás tresandava a velho).

Celebrado que está esse dia também “inicial e luminoso”, vamos as futuras celebrações.

Pelos  vistos, o nóvel e esperançoso ministro da Cultura provou estar à altura dos seus antecessores. Esse imberbe político, nascido em 74, nunca tendo vivido e, muito menos, percebido o que é viver sob a ameaça da perda de liberdade, entendeu achar que não se devem celebrar as datas fracturantes (a palavra pegou...) e deu como exemplo o dia 25 de Novembro (que em Coimbra, e no seio da Academia, celebra a “tomada da Bastilha”, ou seja a ocupação da primeira sede da Associação Académica, sendo considerado o “dia do estudante de Coimbra”).

Convenhamos que o sr dr. Adão e Silva, meteu a pata na poça. Vê-se que nada sabe, nada aprendeu desses dias tumultuosos que correram entre Março e Novembro de 1975. Não faz a mínima ideia do clima que se respirava, os tumultos diários, dos assaltos às sedes dos partidos de “esquerda” fossem eles o PC ou a UDP, nunca passou, nem podia, por Rio Maior da terra dos tipos com mocas, não viu um país partido ao meio, com as tropas de todo o Norte prontas a caçar os esquerdidatas e similares, as manifestações gigantescas, a começar pela da Fonte Luminosa e a terminar no cerco ao quartel de Gaia. Não sabe de vários militantes comunistas ou aparentados que fugiram a meio da noite de muita terra do interior por se sentirem ameaçados. Não viu, nem sequer na Tv, as tontas e tresloucadas afirmações dos que juravam ser a “muralha de aço” e que desapareceram como o orvalho da manhã em dia quente logo nas primeiras horas do 25N. Ninguém lhe terá contado do cerco da Assembleia constituinte, da palhaçada doa manifestação do “é só fumaça”, da greve de um Governo, das ocupações selvagens,, do pobre Duran Clemente a titubear tontices na TV e a ser desligado, do ataque ao jornal “República” dos expurgos noutros órgãos de comunicação social, da destruiçãoo à bomba do emissor da Rádio Renasceça, da frenética procura e aquisição de armas, de quaisquer armas, de um par de embuçados que juravam ser muitos e desapareceram também eles na manhã de 25 de Novembro (refiro-me a uns alegados SUV, “soldados unidos vencerão” que não venceram coisa alguma se é que sequer tenham existido em número suficiente para formar um pelotão...)

Eu, sobre esta criaturinha muito televisiva, nunca senti  especial simpatia. Sempre o achei enfático, pomposo a namorar o poder. Como agora se vê e comprova.

Devo, entretanto, dozer que assisti ao 25 de Novembro sem surpresa, sem agrado e sem desagrado. Previa aquele desfecho desde Agosto.Escrevi-o na longa, longuíssima carta com que anunciava ao partido onde militava a minha desvinculação. Nunca pensei em abandonar o país mas preparava-me para eventuais tempos dificeis. Aliás, amigos italianos do grupo “Il manifesto”, com quem partilhei alguns dias em Roma, aconselharam-me a ficar por lá pois as notícias (e eles estavam excelentemente informados, como informado e alarmado estava o PCI  que mostrava as mais fundadas reservas ao que se passava em Portugal) Uma grande revista italiana, onde pontificava, entre outros Umberto Eco titulava num dos números de Agosto, na capa: Portogsllo: colonello , falce e martelo”.regressei à pátria suspeitando que os dias difíceis iam regressar mesmo se, duvidasse da eficácia dos radicias na construção de um qualquer socialismo. 

Estas coisas tem de ser vividas e eu, por razões profissionais, tinha de ir constantemente a Lisboa pelo que assisti a tudo, participei em reuniões (incluindo uma a convite de Jorge Sampaio e amigos sobre o que eles chamavam “o golpe de Lisboa(a exemplo do anterior e temível de Praga..Recordo que nessa altura, teria dito que Praga era longe e que, de onfe vinha, se tal golpe se desse serviria de rastilho a uma guerra civil  pois a “revolução” estava confinada a Lisboa  arredores e nem aí a tropa parecia muito convencida, ou sequer convencida a embarcar em aventuras. O que, aliás, se verificou: no 25 N  nem Otelo, nem ninguém resistiu os sequer fez menção de resistir. O 25 N foi apenas o rebentar de um abcesso mais que localizado.

Nesse exacto dia, convenci um velho amigo meu, mais próximo dos vencidos, a ir almoçar a um restaurante chamado Ziriguidum onde se pavoneavam vários dirigentes de partidos moderados encantados com o desenrolar dos acontecimentos.  Alguns que eu conhecia ter-se-ão espantado  (pelo menos foi o que me contou um deles) com a nossa presença pois éramos conotados com o MES mesmo se, e no meu caso, eu já tivesse dito adeus a esse carnaval político  em inícios de Setembro. O MES fora a todas, integrara algo extraordinário chamado FUR (acho que aquilo se chamava frente de unidade revolucionária) que num primeiro momento federava grupúsculos revolucionários e contava com a bênção do PC que entretanto se afastou pois percebeu a inanidade daquele amontoado. Se não erro, o MES também apadrinhava imenso os SUV ou seja algo de fantasmático e/ou inexistente ou insuficiente.

Dizer que o 25 N foi fracturante (que inclusive dividia gente do 25 A, o que sendo verdade nem sequer é significativo dada a crecente e imparável deslocação de meia dúzia de “revolucionários” para as FP25 e quejandos)  é uma tontice. Desde Costa Gomes a Eanes, de Melo Antunes a esmagadora maioria do MFA, do PS e de Soares  a todo o leque político à direita, incluindo muito provavelmente alguns esquerdistas  (a começar pelo MRPP e a terminar nos rapazes do “castelo de Guimarães, “uma espinha na garganta de Cunhal” ((sic))  e vários militantes do MDP ou até do PC  que nem tugiu nem mugiu e por isso foi premiado pelos vencedores), o 25 foi o modo mais económico e mais pacífico de cortar um nó górdio  que em boa verdade também não passava de um castelo de cartas.

Ver o nascido em 74 a alardear estes patacoadas e, ao mesmo tempo, a aceitar pressuroso uma pasta num governo PS partido que foi o pilar do 25 N é entusiasmante.  temos um fartote à nossa frente!

Previdentemente, António Costa convidou-o para um lugar onde se tem comprovado o intrínseco valor de uma série de luminárias todas piores umas que as outras desde  Santana Lopes ou Carrilho até hoje. Está no sítio certo, já disse as palavras certas e seguramente apreciará os concertos de violino de Chopin de gloriosa e lusitana história.

Ou como dizia o outro: a História repete-se... Etc...

 

*  na vinheta: o heroico cerco da Assembleia constituinte, um momento alto do ano de 1975 cuja histtória  o fracturentee e traiçoeiro 25N veio miseravelmente  interromper.

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