estes dias que passam 670
Unilateral, dizem eles...
mcr, 23-03-22
Dedico pouco tempo aos noticiários televisivos portugueses. Em boa verdade limito-me, fundamentalmente aos da noite (SIC ou RTP2)
Com isso ganho tempo para Euronews, a RAI, a TVE, a TV5, o Sky e, de longe em longe, algum canal alemão. E também nestes devo dizer que os não vejo a todos mas que vario consoante os dias e que me calha no zapping.
Tenho-me, por isso como razoavelmente informado e, certamente, muito mais informado do que a esmagadora maioria dos portugueses. Consumo e pago, como já aqui indiquei vários jornais e revistas de vários países e de um leque ideológico, social e político alargado.
Sobre esta miserável e infame guerra que está a ocorrer creio-me tão informado quanto possível, quanto mais não seja porque sobre os contendores e sobre os seus vizinhos tive, ao longo de uma já longa vida, tempo, pachorra e curiosidade (muita) para me informar, para lhes conhecer a história de sempre e sobretudo a recente , a do século passado e deste.
Esta é uma das inestimáveis vantagens de saber línguas, pelo menos ao nível da informação mais fácil (a televisiva). Todavia, não falo, não leio e muito menos aprendi rudimentos das línguas eslavas, ou das escandinavas para não ir mais longe. Fora da Europa apenas conheço duas ou três centenas de palavras todas dos léxicos vernáculos de Moçambique, aliás só de dois o makua e o changane, um do norte, outro do sul.
Devo, também, acrescentar que o não saber russo, árabe ou chinês é uma característica que partilho com centenas de autores que andaram por essas geografias e escreveram abundantemente sobre elas e, pelos vistos, ainda hoje, são autoridade citada(!!!...)
Portanto, como qualquer jornalista dos muitos que conheço, tenho alguma dificuldade em distinguir os limites da veracidade dos mais insidiosos da propaganda.
Ora, ontem, por mero acaso, passei uns minutos na RTP 1 onde numa mesa redonda um jornalista (de que ocultarei o nome porque foram poucas as palavras que lhe ouvi) a afirmar do alto da sua experiência que nesta guerra entre um agredido e um agressor (esta pequena distinção é absolutamente fundamental) quase só (ou mesmo só!...) se tinha a visão de um dos lados o que, segundo o ilustre preopinante limitava o espectador, impedia um justo conhecimento das coisas (pelos vistos os cadáveres espalhados nas ruas, as filas de refugiados, as bombas a devastar prédios civis, seriam mais do que imagens verídicas – ele não negava a veracidade, suponho- imagens que serviam a propaganda dos ucranianos. Isto, aliás, sem contar com as reportagens in loco de uma boa dúzia de jornalistas portugueses que de Odessa, Kiev ou Lviv nos vão entrando todas as noites em casa. E sem contar com a centena de jornalistas estrangeiros. Incluindo os dois últimos da AP que, ontem, abandonaram Mariupol!
Eu pasmo. Parece que o reputado jornalista ainda não reparou num pequeno inútil insignificante pormenor: as tropas tussas no terreno não trazem jornalistas consigo, nem russos nem de qualquer outra origem. Na Rússia, é proibido por lei (e sujeito a penas gravíssimas) o simples facto de chamar guerra à guerra. De “divulgar notícias” da frente de combate que não passem pelo filtro “democrático” do ministério da defesa.
Portanto, e para começar, não há, não pode haver informação fidedigna, sujeita a controlo das fontes e contraditório. O pouco que há, e é cada vez menos dado o controlo e apagamento de redes sociais é o que a televisão estatal transmite. Foi assim que vimos um estádio cheio de gente e bandeiras onde um Putin jovial dizia que era preciso “purificar” a pátria dos maus elementos. Vimos tropas russas em territórios alegadamente libertados mas não identificados a distribuir por meia dúzia de mulheres todas idosas, de resto, pacotes de comida, ou pelo menos era isso que eles diziam. Vimos duas mulheres agradecer aos seus benévolos libertadores mas nem sabemos se são ucranianas ou russas, ou russófonas, nada! Vimos filmagens de drone com alvos ucranianos a ser abatidos. Vimos o régulo a Bielorrúsia a abraçar Putin e a garantir, sem se rir, que a Ucrânia iria invadir o seu país vassalo o que só não ocorreu porque os russos atacaram primeiro! Claro que também vimos, mas passada aos direitos, imagens de gente a ser presa por protestar contra a guerra, uma idoso em S. Petersburgo com um cartaz anti guerra e, ó céus!, uma audaciosa jornalista a interromper o noticiário do 1º canal russo. E vamos vendo o senhor Lavrov, um clone quase perfeito de Molotov, a dizer coisas sobre os encontros entre russos e ucranianos. Não vemos algumas pequenas televisões russas independentes porque foram encerradas, não temos acesso a pequennos órgãos de informação russos porque foram fechados, auto-suspenderam-se ou estão sob ameaça.
Ah, é verdade: dois canais de propaganda do governo russo foram proibidos na europa. Não por serem canais noticiosos mas apenas por serem conhecidos desde sempre por por meros instrumentos de propaganda. As almas piedosa e mesmo outras entenderam que isso era um ataque à liberdade de iinformação. Poderia ser mas tudo o que se conhece dessas dois r2respeitaveis” canais não abona a informação de que seriam informativos e mais que acentua a ideia de que eram meios de propaganda disfarçados. Provavelmente, a sua interdição foi um erro, aliás replicado (e nalgumas vezes antecipado) na Rússia pela proibição de rádios e televisões estrangeira. Queiram os russos ou não, há sobre esse imenso país um black-out quase total de notícias vindas do resto do mundo (exceptua-se a da televisão bielorussa suponho).
Falar de propaganda, de notícias só de um lado, é apenas pornográfico ou, melhor, é apenas um truque disfarçado dos relativistas. Eles não querem ser informados. Eles querem claramente que uma das partes ganhe e não é a agredida. Eles acham, e dizem-no, até na AR que é a NATO, a Europa e os EUS quem está a puxar os cordelinhos desta guerra imposta à Rússia, coitada, que apenas quer viver tranquilamente, tocar balalaika, beber os seus copinho de vodka, e deixar em paz os seus desventurados oligarcas a quem uns miseráveis querem roubar os apartamentos, os clubes de futebol, os iates, as colecções de automóveis...
Eu não sei se o senhor jornalista que ouvi a queixar-se de só ter notícias de um lado, abundou nessa afirmação e noutra com o mesmo fim claro e objectivo. Por isso oculto-lhe o nome não vá o homem depois ter dito coisas sérias, razoáveis naturais.
Todavia, há outros comentadores na praça (hoje uma comentadora já se atreveu a dizer que afinal havia agressão russa! Até que enfim!) que à falta de outro qualificativo são filhos de Putin.
Quanto a esse governante que pretende calçar as chinelas de Ivan o Terrível, Pedro e Catarina ambos grandes, Lenin e Stalin, o pai dos povos, apenas lhe desejo a sorte de Nicolau II, o último Romanov. E depressa, muito depressa, para ontem se fosse possível.
(uma última nota: os filhos de Putin estão sempre a agitar o facto de na Uccrânia existir um partido (ou mais mas sem representação parlamentar – 1 deputado) de extrema direita. Pelos vistos nada disso existe na Rússia(!!!...) nem nos nossos países ocidentais onde essa praga prospera nos exactos territórios que estiveram durante décadas nas mãos da Esquerda (Portugal incluído). Começo a temer que os russos, logo que resolvida a intervenção especial na Ucrânia, ocupada a Moldávia, protegidas definitivamente as populações russas da Letónia e da Estónia, entrem por aí fora e nos venham libertar do Chega. Quiçá da Iniciativa Liberal, com jeito do PSD e mesmo do PS que, como afirmam o comunistas mas não só, tem tiques de direita e veleidades de a associar ao pode... Francamente!...