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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 666

d'oliveira, 14.03.22

Quem provoca quem?

Quem é responsável?

Quem quis a guerra? 

mcr, 14-3-22

 

Faço parte das pessoas que condenam sem apelo nem atenuante de qualquer espécie a invasão da Ucrânia. Vem-me de longe esta ojeriza a agressões. Se bem recordo era ainda raºaz quando a URSS invadiu a Hungria, algo que, à época foi escandaloso e levou muitos milhares de comunistas ocidentais a abandonar o “partido”. A invasão (estúpida e ainda por cima mal feit de Cuba foi o segundo momento de condenação. aDepois, foi a intervenção no Vietanam mesmo se, rapidamente se verificasse que o Norte enviara para o Sul dezenas de milhares de soldados para “robustecer” o Vietcong, ou seja a resistência às diferentes ditaduras dos governantes sulistas. Porém, aí a “intervenção” americana  teve sempre contra ela boa parte da opinião pública estado-unidense, a juventude universitária, a maioria dos intelectuais americanos e a imprensa. A guerra, servida em casa todos os dias graças à televisão, fez mais pela retirada militar americana do que o milhão de homens vindos do Norte. Na Europa, a malta do meu tempo mobilizou-se, manifestou-se e mais tarde, assistiu acabrunhada ao desastre dos boat-people  cuja desgraça juntou, depois de muitos anos de zanga, Sartre e Aron. Em 1969 assistimos sem acreditar à Primavera de Praga e à infame invasão dos aliados do pacto de Varóvia que vinham salvar os checos dos perigos da democracia. Na voragem, lá foram presos homens que tinham dedicado uma inteira vida ao PC Checo (Dubcek, Svoboda e outros). Segiuy-se mais uma gigantesca revoada de síadas dos pc ocidentais (até mesmo do exíguo partido português já abalado pelo conflito sino-soviético). As tragédias (“socialistas” subsequentes, solidarnosc, muro de Berlin, queda da URSS, eram já claramente previsíveis mas, de outras partes do mundo continuavam a surdir acontecimentos temíveis, desde a bancarrota ideológica que foi a Revolução Cultural, acrescida pelos milhões (muitos) de  mortos que envolveu até a absoluta barbárie do regime kmer vermelho e do genocídio (não há outra palavra) praticado por Pol Pot e sequazes.

O fim da Jugoslávia, uma guerra sangrenta em certas zonas do ex-país, a intervenção de terceiros  mostrou uma vez mais que a guerra não saíra totalmente da Europa. É bom lembrar que esse conflito entre eslavos do sul custou muitos milhares de mortes, destruições em massa de cidades, independências quase milagrosas de pequeníssimos países.

E agora, depois da Tchechénia e da Geórgia, eis que chegou a vez da Ucrânia. 

Almas caridosas e “neutrais” vão-se chegando à frente. Incapazes de negar a evidência da agressão, apressam-se, porém, a realçar que os ucranianos deveriam ter aceitado “dialogar” com a Rússia. Não o fazendo, parece que são tão corresponsáveis quanto os primeiros nesta catástrofe. (isto para já não falar nos responsáveis habituais, a NATO, os EUA e a Europa, o costume...)

Parece que estas alminhas gentis ainda não repararam que foi em 2014 que esta guerra começou. Com a ocupação da Crimeia e a sublevação dos territórios de leste. Na Crimeia a Rússia mostrou os dentes como é sabido. Foi o exercito russo que ocupou a península. Já nos territórios de leste, arranharam-se à pressa uns milhares de nacionalistas russofonos que foram armados até aos dentes pelos seus protetores, que sempre tiveram uma retaguarda de onde tudo lhes vinha desde armas e restante equipamento bélico até abastecimentos de toda a espécie. E, finalmente, poucos dias antes da “operação especial”, o PC fusso propôs e Putin magnânimo aceitou que se reconhecesse a independência dessas duas republiquetas. 

Mas mesmo assim, deveria ser a Ucrânia a aceitar negociações que a amputavam de uma parte do território anteriormente reconhecido inclusive pela Rússia  mas também da perda de outro tanto em Luganslk e Donbass (provavelmente mesmo Marupol),  de outra neutralização militar, além da acordada na separação (e lembremos que, nessa altura, a Ucrânia renunciou às armas nucleares que detinha no seu território), da garantia de não adesão à NATO e idêntica não adesão à UE. E, pelos vistos de especial protecção À religião ortodoxa (!!!) e à língua russa. 

O último abencerragem desta postura equânime é o dr. Miguel Sousa Tavares, um marialva urbano, defensor de touradas, da caça e de sei lá mais quantas singularidades. Não está sozinho, bem pelo contrário: acompanham-no outras criaturas  desde uma académica comentadora de televisão que afirma sem corar que agora Zelensky vai ter de se sentar à mesa das negociações e aceitar o que antes negara e que- notem bem-  obrigara um contrafeito Putin a mandar umas tropas para impor a paz.

E como d costume, tudo isto, de mistura com a cassete habitual da culpa do Ocidente. 

Claro que quando se fizer a história destes tempos terríveis alguém vira dizer que o Ocidente fez de Chamberlain mais uma vez, que deveria ter secretamente armado a Ucrânia dos mésseis que lhe fazem falta, as armas anti-aéreas que no Afeganistão puseram a aviação russa em sentido, enfim de tudo.

Agora, é uma opinião pessoal, é tarde. Mesmo que ainda cheguem os stinger milagrosos, os mísseis anti-mísseis, as armas anti-tanque, pois, por muito que os ucranianos acreditem, estes não se detém com coctails molotov caseiros.

È verdade que as tropas russas no terreno parecem ter uma mais que duvidosa eficácia, que há soldadinhos imberbes (mas virão aí os mercenários sírios!)  a morrer e a render-se, que os bombardeamentos de alvos civis mesmo verdadeiros também se devem à inabilidade  dos atacantes que, humanitariamente só queriam libertar os irmãos ucranianos num passeio tranquilo que já vai no 19º dia e em mais de 2 milhões de refugiados.

Ao longo de uma vida qu também já vai sendo longa, habituei-me a não me entusiasmar. Eu sou pouco de heróis e muito de bom senso. É verdade que me está a surpreender a resistência dos que defendem a sua casa, os seus parcos bens, o seu país e os seus idosos que não tem para onde ir. Mas não tenho nenhuma ilusão sobre como isto vai acabar. Vai acabar numa sangueira tremenda, numa derrota medonha, no desaparecimento de milhares e milhares de ucranianos, numa versão russa e melhorada do “Nacht und Nebel”, mormente da elite que se tenta defender. Já vi este filme vezes sem conta e mesmo que espere que as sanções produzam efeitos importantes e duradouros na Rússia, nos seus poderosos, nos oligarcas e associados e cúmplices, sei bem que será o povo miúdo a sofree mesmo sem sequer ter percebido o que se está a passar. A maior arma de Putin é o silenciamento da imprensa, de todos os meios de comunicação, a prisão dos que protestam, a fuga dos que conseguem escapulir-se. Na Rússia ( e também na China, o povo desconhece aquilo que nós todos vamos vendo.) 

E, como já conheço esta música, de tão repetida que tem sido, eu, se fosse moldavo ou georgiano, punha as barbas de molho pois os seus pedidos de adesão à UE (e eventualmente à NATO) irão ser avaliados e obviamente punidos. Suponho que os neutrais de cá expliquem a coisa como o castigo de uma insensata provocação a Putin e aos russos. Vai uma aposta?

(este post tem o n´666 que parece que o número do diabo. Mau prenúncio para os ucrananos)

estes dias que passam 665

d'oliveira, 13.03.22

O menino é “rabino”... 

E o rabino é o quê?

mcr, 13-03-22

 

 

Há uma dúzia de anos, a comunidade judaica do Porto vegetava: poucos membros, não havia rabino, a sinagoga estava quase sempre encerrada. 

Subitamente, uma lei mal feita (como de costume) apesar de copiada de outra, espanhola, muito melhor, transformou o patinho feio e magro num cisne branco e gordo.

A lei destinava-se a “reparar” a infausta expulsão dos judeus no reinado de D Manuel I, mesmo que, a partir de inícios do sec. XIX Portufal voltasse a admitir judeus no território nacional e, sobretudo, a tornar a prática religiosa legal e sem entraves. E se digo isto, é porque nesse capítulo o lugar português acaba por ser honroso no concerto das nações. 

Nos termos da lei, votada unanimemente, preceituava-se que, em fazendo prova de origem portuguesa qualquer cidadão judeu poderia candidatar-se `s nacionalidade portuguesa.

Claro que a referida prova nã era especialmente fácil porquanto passados 500 anos as raízes portuguesas perdiam-se quase que totalmente. Havia, evidentemente, o pormenos de nomes de família portugueses (ou espanhóis idênticos...), a prática da língua ladina (com problemas idênticos ou documentos que só por milagre tivessem passado incólumes por inco séculos de história movimentada.

De todo o modo, o milagre da multiplicação dos pães aconteceu. Dos quase quarenta mil processos de concessão de nacionalidade, cerca de 90% (!!!) foram certificados pela exígua comunidade portuense. Se isto já era admirável, incrível, inacreditável, o processo Abramovitch tornou-o exposto a tudo. 

Eu nada tenho contra o sr Abramovitch, incluindo a sua imensa fortuna, os iates, as casas, as mulheres, enfim tudo o que quiserem. Nada, excepto o facto da criatura ser da privança próxima de Putin. Depois as informações que correm dão Abramaovitch com origens ba Ucrânia e até com uma avó lituana. Nada que, de perto ou de longe, seja susceptível de indiciar um dos conhecidos destinos da diáspora sefardita portuguesa (Marrocos, Holanda, Veneza, Istambul ou mesmo Tessalónica). Pelos vistos, ao que conste também nunca ninguém, excepto o rabino do Porto e, eventualmente, um advogado da mesma cidade e membro da direcção da comunidade judaica portuense. 

Acresce que o sr Abramovitch já usufruía de pelo menos duas outras nacionalidades, a russa e a israelita. Nãi frequentava a ocidental praia lusitana, não conhece a língua, não se lhe conhece um gosto especial pelo fado, pelo bacalhau com todod ou pelas sardinhas assadas. Nem pela alheira!...

Parece que nem sequer tentou um visto gold comprando algum casarão caro e luxuoso entre Lisboa e Cascais. Mesmo se, como afora se começa a saber, muitos oligarcas russos pouco fiados no novo czar de todas as Rússias, trnham começado a comprar propriedades a partir de territórios fiscalmente paradisíacos, em nome de sociedades fantasmas e, até com nomes emprestados por esses mesmos locais . O dinheiro pode tudo e uma nacionalidade, mesmo a portuguesa, a três / quatro mil quilómetros de Moscovo, acaba por ser atraente e sobretudo barata, mesmo com comissões gordas a intermediários indígenas.

Houve, porém, uma  precipitação, uma imprudência e mesmo forte impudência (não confundir com a anterior): por um lado o número  extraordinário de processos despachados pelo Porto em curto espaço de tempo, por outro o facto de Abramovitch  ser o dono do Chelsea, agora em venda (e à beira da falência, diz-se). Acresce que o Reino Unido não terá em grande conta o multimilionário russo. Consta que nem sequer um visto de residência lhe terão renovado. Ingratidão inglesa  ou mera manobra de adeptos de clubes adversários do Chelsea? 

Algum(a) leitor(a) recordará que neste blog já tinha levantado esta questão. 

E por outro lado, o escândalo pareceu tão enorme que as autoridades lá entenderam abrir um processo. Esse processo terá levado a PJ a resolver-se (arriscar-se seria mais verdadeiro) a incomodar o rabino no exacto momento em que a criatura se preparava para ir dar um passeio por Israel. À cautela foi detido e intimado a ficar por cá a apanhar este chuva rala mas incómoda ate se ver melhor o que acontece. A sua situação é a de mero arguido. Logo se verá e isso se transforma em algo mais duro e se algum eventual julgamento comprova as acusações, e são várias, que se lhe fazem.

Fossem os processos de certificação menos números , digamos 10, 20%, a coisa passaria, mas 90% há que convir que brada aos céus. 

Acresce ainda que se teráo descoberto algumas contas bem chorudas em nome dos principais indiciados. A ser verdade a coisa complica-se. 

Eu bem sei que isto, mesmo tratando-se de um amigalhaço de Putin, é um mero fait-divers no momento ultrajante e infame que se vivr. Todavia, “est modus in rebus”, isto cheira que tresanda e, pior, pode prejudicar a imagem de uma comunidade portuguesa que, seguramente, nada terá a ver com isto. Mas que sai prejudicada, ai isso é como ginjas...Sai e de que maneira!

diário político 258

d'oliveira, 12.03.22

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Desnazificação, dizem eles...

d’Oliveira, fecit 12 de Março de 2022

 

 

A Rússia, pela autorizada voz de Putin, afirmou que um dos objectivos da “operação especial” (!!!) era desnazificar a Ucrânia agressora.

É bom lembrar que, em termos de partido da extrema direita, há apenas um deputado no parlamento ucraniano. Bem menos do que a idêntica representação de partidos extremistas de direita na Duma. Ironias da nova história  sicut Putin e seus epígonos portugueses que os há e nos mais insuspitos lugares, desde um académico coimbrão até comentadores pacifistas cujos nomes não se revelam por mera medida de higiene.

Como essa gentinha não conhece ou finge desconhecer a História é bom regressar aos anos 1939-1941, época de guerra na Europa em que a Alemanha nazi e a URSS viviam uma lua de mel perfeita, à custa da Polónia, dos países bálticos da Roménia e da Finlândia.

O pacto germano-soviético que foi celebrado até por Stalin que veio beber `saúde de Hitler,deu à Alemanha a oportunidade de não ter de se preocupar com a fronteira leste de onde, de resto, lhe chegaram abastecimentos de toda a espécie em quantidades enormes.

Foi essa garantia russa de não alinhar com os Aliados  que permitiu aos exércitos nazis, ocuparem a Holanda, Bélgica, Dinamarca, Noruega e França

Todavia há mais e pior. Até ao exacto dia do começo da invasão da URSS houve um gigantesco trânsito de comboios carregados de matérias primas essenciais ao esforço de guerra nazi e de alimentos  saídos da URSS com destino à Alemanha.

É de registar, não vá alguém fazer-se de parvo e esquecer que os partidos comunistas europeus alinharam todos pela posição soviética, declararam que a guerra Alemanha-Aliados era uma guerra imperialista e, nos territórios rapidamente ocupados deixaram-se estar quietinhos e calados mesmo quando já se esboçavam diferentes formas de Resisttência. Em França, e pela mão de Duclos, um dos mais importantes membros do CC do PCF os comunistas  chegaram a solicitar ao ocupante nazi, autorização para publicar o seu jornal oficial ,”L’Humanité”. Tal situação que sógenerosamente se apelida de trégua (e não de colaboração) só terminou com a invasão da URSS

A surpresa de Stalin com a invasão foi inacreditável tanto mais que ele tinha sido avisado por ingleses e americanos bem como por uma enorme rede de espiões em que se destacou o lendário Sorge. Stalin (como agora Putin?) não levou a sério os avisos constantes. Aliás, é bom recordar, que num dos habituais, paranoicos e sangrentos expurgos que rechearam a história infame do despotismo estalinista . No caso específico, ficou famoso o processo contra a cúpula militar soviética o que teve como consequência não só a decapitação do Exercito Vermelho mas sobretudo permitiu o gigantesco desastre militar das primeiras semanas da invasão.

 

Não vale a pena insistir neste capítulo da História soviético-russa. Para quem fala em desnazificar, estes dados chegam tanto mais que há milhares d e livros (incluindo russos e da época soviética)-

Passemos, agora, às relações soviético-americana durante a época da invasão nazi da URSS.

Pelos vistos, os “nossos” adversários do imperialismo, do capitalismo, da NATO dos EUA e da Europa, fingem desconhecer que entre 1941 e 1945  os Estados Unidos entregaram 3.964.000  toneladas de bens diversos, sobretudo militares e para militares. Tal ajuda efectuou-se através de vários “corredores” (Corredor do Ártico,-78 comboios- corredor do Pacífico e corredor persa, este último com ajuda britânica).

Ou, por outras palavras: os malvados imperialistas americanos deram um contributo precioso, vital à resistência da URSS.

Claro que isto faz parte do “esquecimento” histórico (há quem lhe chame mistificação) do PCP & assimilados.

 

A História é uma maçada, os factos são os factos,  e na Europa post fim da 2ª Guerra, os principais acontecimentos para-bélicos, tirando o conflito jugoslavo, tiveram sempre o selo da Rússia ou da URSS, desde a repressão do 17 de Junho berlinense, à defenestração de Praga, à invasão da Hungria, ao bloqueio de Berlim, ao muro da vergonha e à repressão da primavera de Praga.

Só a implosão da URSS, que caiu, roída por dentro, empobrecida incapaz de manter a ficção do pacto de Varsóvia por mais tempo é que terminou um estado de coisas cadaveroso e de pobreza persistente da população é que mudou este estado de coisas na Europa.

E também será útil não esquecer que a Extrema Direita europeia tem sido alimentada pela nova Russia e que os sobressaltos iliberais tem quase todos origem nos territórios onde o alegado “socialismo” durou umas dezenas de anos. Isto  para não falar onde é que a Direita pura e dura se tem implantado nos países ocidentais. Lugares onde os pc perderam eleitores não se tornaram democratas mas sim autênticos viveiros da Direita (basta ver o que se passa na França e na Itália, para não referir como a AfD prospera nos territórios da extinta e artificial República Democrática Alemã, uma prisão de onde ninguém se escapava )

O PCP numa única coisa acertou. A Rússia é um Estado imperialista, de capitalismo selvagem e corrupção ilimitada.. Já agora informa-se esse partido de trabalhadores que foi do pequeno e residual Partido Comunista Russo que partiu a proposta de reconhecimento da independe

ncia das duas repúblicas irredentistas do leste da Ucrânia. E que esse “reconhecimento” só russo foi um dos momentos altos de preparação da invasão da Ucrânia. 

Parece, entretanto, que o pc russo não esteve de acordo com a “operação especial” mas que, nem por isso, a condenou fosse onde fosse (rua ou Duma).

Les beaux esprits se rencontrent...

 

na imagem: assinatura do pacto germano-soviético com Stalin presente e wuase sorridente

estes dias que passam 663

d'oliveira, 10.03.22

 

 

 

 

 

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Justificar o injustificável

Defender o indefensável

Mcr, 10-2-22

 

 

No jornal que leio há um princípio que não contesto: dar a palavra a quase toda a gente. Por mero acaso(?) só a Direita pura e dura carece de representante/comentador. No resto do leque partidário há para todos os gostos (e desgostos)

Não serei eu quem critique esta opção que, todavia, não me satisfaz particularmente. Aliás, e desde que me interesso por estas coisas, procurei sempre conhecer o pensamento dos meus adversários. Confesso que nunca consegui levar o meu rigor ao ponto de ler o que dizia a extrema direita, mesmo no ponto de vista cultural. Em tempos que já lá vão, enterrados e bem enterrados, cheguei a ler os primeiros números de “Tempo Presente” uma revista animada pela Direita salazarista (e até anti-salazarista, no sentido em que alguns dos seus corifeus glorificavam  algo semelhante ao fascismo). Desisti ao fim de três números e ficaram por ler os restantes vinte e quatro. Aquilo extinguiu-se por falta de leitores e assinantes, ao mesmo tempo que a “Vértice”, a “Seara Nova” e mais tarde “O Tempo e o Modo” conseguiam sobreviver e manter-se por muitos e bons anos que acabaram já depois deAbril de 1974.

Parte da minha geração ainda lia o francês pelo que eu além do “Le Monde” mantive forte fidelidade ao “L’Éxpress” que, malgrado o seu honroso passado a favor da Argélia, se foi tornando um semanário relativamente conservador, melhor dizendo de centro-direita. Com os anos, fui consumindo mais imprensa internacional a começar pelo “Paese Sera”, jornal conotado com o Partido Comunista Italiano. Quando apareceu “Il manifesto” substitui o anterior por este e mais tarde passei ao “La Republica.” Em Espanha comecei por ser leitor da excelente revista “Triunfo” e depois desta terminar passei (logo que apareceu) a “El país”que agora já cá não chega. Juntamente com este, e apenas por causa do suplemento de cultura  comprei sempre “ABC” que entretanto desapareceu da circulação em Portugal (pelo menos a edição com o suplemento).

Tudo isto para dar uma ideia incompleta das minhas fontes noticiosas. Além desta meia dúzia de títulos tenho que confessar que durante anos e anos me enchi de revistas culturais, italianas, francesas e, sobretudo, espanholas. Vi morrer muitas, perdi o rato a outras sobretudo porque não aparecem por cá. Quando saio para Espanha, França ou Itália, é um regabofe, venho carregado com leitura para meses ou anos!...

Nos finais de 60 e nos setenta e oitenta (inícios) li com alguma atenção uma boa série de jornais ditos “esquerdistas” franceses e italianos.  E li-os quase até ao último suspiro deles, devo dizê-lo. Não por especial simpatia mas porque a minha curiosidade pelos ínvios caminhos da Esquerda me obrigava atentar perceber o estado da arte.

Em Portugal a oferta foi sempre escassa, nem sempre feliz e demasiadas vezes medíocre no que toca a imprensa de Esquerda.

Todavia, e era aqui que queria chegar, raras vezes encontrei textos recheados de má fé, de mentirolas, de descaramento.

Volta e meia, aqui fui dando conta, dessa estranhíssima cruzada de comentadores que misturavam alhos com bugalhos, defendiam o indefensável e tentavam aproveitar a ignorânciahistórica dos leitores para alavancar os seus argumentos.

Hoje, no Público, e como de costume, um cavalheiro que pelos vistos presume de sociólogo  e que se distinhuiu como mais chavista que Chaves e mais madurista que Maduro,  entendeu vir sustentar uma tese que além de falsa, é miserável e infame.

Entende essa criatura que no momento actual um encontro entre russos e ucranianos é inútil e que seria muito mais útil ocorrerentre A Russia de um lado, a Europa, os EUA e a NATO por outro.

Ou seja, um Estado sobrano, reconhecido por todos, com uma presença (discutível mas aceite) na ONU desde o fim da 2ªGuerra Mundial, é obliterado pelo comentador  a exemplo, diz ele  do que ocorreu entre os Estados Unidos e a URSS aquando da crise dos misseis em Cuba! E acrescenta ou pergunta se Fidel de Castro foi chamado a essas conversações.

Só  por grosseira interpretação da história desse período é que esta afirmação poderia ser usada.

É verdade que a crise dos mísseis existiu, que os EUA fizeram parar e retroceder uma frota soviética com mais mísseis para instalar em Cuba e nas negociações que se seguiram retirar os misseis que estavam instalados a menos de 100 quilómetros  da costa americana. Misseis com ogivas nucleares, já agora.

Também é verdade que, os EUA estabeleceram um  bloqueio a Cuba que em muitos aspectos ainda dura e que só acentuou a dependência deste país em relação à URSS. E o desastre que se sucedeu quando a URSS implodiu.

Não é menos verdade que a administração republicana anterior à eleição de Kennedy preparou , mal e porcamente, uma invasão de Cuba (Baía dos Porcos) que se saldou numa estrondosa derrota  dos invasores.

Eu não me lembro de ver o denodado cruzado madurista a protestar nesse tempo contra esta aventura imbecil e criminosa. E tenho não só boa memória como fiz parte dos que protestaram  com os parcos meios da época. Pessoalmente e durante o curto espaço de tempo que durou fui leitor de muita imprensa cubana distribuída pela embaixada (e recordo com saudade e admiração alguma imprensa cultural da altura, sobretudo a revista “Bohemia” rapidamente suicidada pelos dirigentes cubanos, com boa parte dos seus redatores presos ou exilados)

Os acordos, russo-americanos, foram um êxito para os soviéticos, uma  felicidade para Cuba e para Fidel e sobretudo pouparam a ilha às atrocidades que agora se podem ver na Ucrânia

Os EUA entraram depois em várias guerras  e, em todas , que me lembre estive contra, disse-o alto e bom som, coisa que não recordo do sociólogo madurista que lá foi prosseguindo a sua vidinha, à sombra do Estado Novo, do funcionalismo deste sem problemas nem dramas.  Nem perseguições de qualquer ordem, sorte que não tive, porventura por ser um mau carácter.

Nesta questão crucial para a Europa e sobretudo para Ucrânia (quiçá para a Moldávia e eventualmente para outros ex-satélites da URSS ou antigos membros dela (p.ex. a Geórgia) o artigo miserável do sociólogo torna indistinta uma questão: a Rússia invadiu (ao invés dos americanos durante a crise dos mísseis) , matou, metralhou e faz ultimatos irrazoáveis.

Nao se prova que a NATO tenha andado a acirrar a Ucrânia, a armá-la,a propor que esse país desafiasse a Rússia que, entretanto e desde 2014, lhe ocupou território, armou, financiou e apoiou de todas as formas as “repúblicas independentes” do leste.

Enquanto que, na América de Kennedy a imprensa e todos os meios de comunicação relataram a crise, ouviram os adversários (como mais tarde no conflito vietnamita o fizeram a pontos de haver uma forte percentagem de comentadores que afirmam que os Estados Unidos perderam essa guerra em casa graças às televisões americanas, O que hoje vemos da agressora russa é que não só foram fechados meios vagamente independentes de comunicação como a invasão é nos comunicados oficiais é obrigatória e modestamente apelidada de intervenção especial. O processo de silenciamento interno, de justificação mentirosa, de proibição de notícias é, aliás, idêntico ao que o regime de Maduro impôs à Venezuela, como se sabe.

Não admira que os prosélitos deste último sejam agora os justificadores de Putin. Veremos o que amanhã dirão de Bolsonaro ou de outras personagens do mesmo jaez. É só esperar...

 

 

 

au bonheur des dames 471

d'oliveira, 09.03.22

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Trinta anos? De certeza?

mcr, 9-3-22

 

 

Em grandes parangonas, o jornal reproduzia uma frase bombástica: “A pandemia atrasou trinta anos a a marcha das mulheres para a igualdade.

Convenhamos, a pandemia atrasou tudo, desde o crescimento económico ao aumento da natalidade.

Entre nós produziu feridas eventualmente insanáveis no turismo, o que nem sempre poderá ser considerado negativo. Na verdade, os alugueres low cost conseguiram a miserável proeza de expulsar centenas ou milhares de inquilinos das suas casas. E, normalmente, foram, como sempre, os mais pobres e os mais idosos a pagar a factura.

Este obrigatório movimento dos mais frágeis para periferias cada vez mais longínquas fez-me lembrar o que nos anos sessenta e setenta ocorreu em Paris. O centro histórico desde a ile Saint Louis ao Marais a certas zonas do Quartier Latim ou Montparnasse  viram desaparecer veneráveis lojas, outros tantos ofícios sem falar no que o aumento brutal de preços fez à habitação.  A cintura vermelha cresceu desmesuradamente, construíram-se em grande quantidade HLM (habitations a loyer modere) criando zonas feias, de prédios enormes raros espaços verdes, enfim uma antevisão do que mais tarde se converteria em zonas violentas sem qualidade de vida. Na cidade, o preço do imobiliário subiu em flecha. Paris, aliás, perdeu habitantes.

Em Lisboa, nos anos imediatamente anteriores à pandemia, sucedeu qualquer coisa de semelhante. Gente pobre, muitas vezes iletrada nem sequer se pode, ou se soube, defender. Especuladores e senhorios gananciosos aliaram-se para despejar lojas antigas de rua ou habitantes.

 

A pandemia veio agravar a situação, sobretudo no que toca aos pequenos comércios, muitos dos quais obrigados a fechar  por falta de clientes c(confinados) de gente na rua. Este movimento de desertificação teve num meio que muito me toca consequências dramáticas. Em meia dúzia de anos fecharam cinco ou seis livrarias alfarrabistas entre o Chiado e o Largo dito da Musericórdia...

 

Todavia, e no que nos interessa, está por provar que a situação das mulheres tenha voltado a finais de 1980.

Não tenho dúvidas que algumas profissões mais humildes (por exemplo, no serviço doméstico, tenha havido desemprego. Como no turismo no que toca sobretudo a restaurantes, bares cafés e similares onde a presença feminina estava em claro crescimento. O mesmo se terá passado na hotelaria. Hotéis fechados é sempre empregados no olho da rua. Lojas fechadas, idem- Mas trinta anos é muito ano e duvido que se possa sequer estabelecer termos válidos de comparação. A pandemia afectou o emprego, quase todo o emprego, não poupou  homens ou mulheres.

É verdade que, bem antes do vírus irromper nas nossas vidas, já se notava uma forte tendência par o desaparecimento de certos postos de trabalho. Basta citar o sector bancário que vem fechando balcões, reduzindo o pessoal nos que continuam em serviço.

 

É verdade que a representação parlamentar feminina portuguesa regista menos mulheres no próximo parlamento está por saber qual será o peso delas no futuro Governo. Não é bom sinal mas isso deve-se sobretudo aos partidos, às militantes que não reivindicam o lugar que lhes compete nas listas, `lei que é obscura no que toca à paridade. De todo o modo, em vez de se atender apenas à política, domínio em que o progresso é demasiadamente lento e, aliás, transversal a todo o leque partidário. Nem a Esquerda se salva como é fácil verificar.

Diga-se em abono da verdade que o mito de uma Esquerda mais inclusiva não passa disso mesmo, de mito. Bastaria, caso se queira, regressar aos tempos “heroicos” da Revolução Russa. Entre uma boa centena de revolucionários, passaram à história quatro ou cinco mulheres.  E delas não ficou especial rasto, desde a Krupskaia, mulher de Lenin,  até Inessa Armand, alegada amante do mesmo. Depois Clara Zetkin uma activista fogosa, famosa e agente importante do Komintern (o seu papel na fundação do  partido comunista francês é conhecido e, aliás, fortemente discutido) e a única teórica deste grupo, Alexandra Kolontai que deixou alguns textos importantes exactamente no domínio das questões femininas e do lugar da mulher na Revolução. Fora da Rússia, há, mesma época e nas fileiras revolucionárias , apenas, mas importantíssimo, o vulto de Rosa Luxemburgo que, entretanto, nunca foi especialmente apreciada por soviéticos e aliados. De resto, a sua aura foi duramente atingida pelo seu papel na revolta espartaquista, um erro dramático de profundas consequências na história posterior da esquerda alemã. 

Na China, fora a famosa e perigosa viúva de Mao, Jiang Qionú, não há notícia de mulheres com relevante papel político, ao invés das vizinhas Índia e Paquistão que tiveram mulheres como influentes primeiras-ministras.

Nos Estados Unidos e a partir do anos setenta oitenta do século passado, começou a ser visível uma clara mas lenta ascensão de políticas desde a derrotada Sara Palin, a Hilary Clinton (também derrotada e por duas vezes) até à actual vice-presidente Kamala Harris ou à quase inamovível presidente democrata da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, destacando-se ainda três juízas (com uma quarta a caminho) no Supremo Tribunal que, como se sabe, tem nove elementos.

Entre nós, a tradição política de mulheres em lugares políticos começou, ironicamente, com o consulado de Salazar que, ao contrário dos republicanos, percebeu que ao Estado Novo convinha mostrar mulheres na Assembleia Nacional. E se o pensou, rapidamente, o concretizou, permitindo o voto das mulheres  fazendo eleger, nos anos trinta, poucas mas devotadas fieis a Salazar. Ao fazê-lo, o Estado Novo canalizou em seu proveito e durante bastante tempo o voto feminino, entre o escasso e controlado corpo eleitoral. É bom lembrar que nas primeiras eleições da República, houve uma mulher que, por ser chefe de família, se atreveu a votar, tendo o seu voto sido posteriormente anulado pelo Congresso!...

Seria, portanto, mais conveniente tentar determinar com alguma precisão quais os factores que, num país como o nosso ( c que nos últimos dez anos viu o número de estudantes universitários e de licenciados começar a apresentar um maior peso de mulheres do que de homens) quais as razões para a sub-representação ao nível parlamentar e autárquico. De todo o modo, a ideia de que aqui terá havido um recuo de dezenas de anos é de certeza um crasso erro de cálculo. Aqui e no mundo, apesar de tudo.

 

(de todo o modo, entendo que mais do que a justíssima representação de mulheres nos órgãos de poder, talvez fosse mais importante ir tentando com coragem e determinação acabar com autenticas chagas sociais como a violação, os maus tratos, a inércia dos tribunais (onde na primeira instancia já há mais mulheres do que homens)  a este respeito. Pela parte que me toca, anda por aqui mais de uma dúzia de posts versando o assunto. E que saiba, ou recorde, trelativamente  desacompanhado...)

 

estes dias que passam 662

d'oliveira, 08.03.22

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O começo do fim ou o fim do princípio?

mcr, 8-3-22

 

O titulo não é meu mas apenas uma vaga transposição de uma declaração de Churchill por alturas da guerra.

Isto aclarado, é de presumir que em breve desfilarão pelo Tribunal outros e, eventualmente mais importantes, réus.

É que, de facto, estou a referir-me ao banqueiro ricardo Salgado e, já agora a mais um par de criaturas, entre gente da banca e gente (e que gente!...) da política.

Sei, porque apesar de tudo ainda sou jurista (não praticante), que há sempre a possibilidade de recurso da condenação de Salgado a seis anos de prisão efectiva.

Mas esta sentença é um primeiro e enorme passo numa caminhada que pretende julgar  o forrobodó´ que assolou o país entre fins do século XX e as duas primeiras décadas do actual.

Os portugueses comuns, os que pagam impostos, os que muitas vezes tem dificuldade em acabar o mês calmamente, tiveram ontem um primeiro sinal que nem sempre os grandes se escapam. É pouco? É mas como o título do folhetim propões é já qualquer coisinha.

Sei que toda a gente anda preocupada com a a infame guerra que a Rússia desencadeou perante o aplauso de qutro ou cinco criaturas que se fingem equidistantes como se isto fosse apenas o jogo dos quatro cantinhos que descambou mal. Todavia, essa guerra que vi mudar a nossa vida quanto mais não seja pelos efeitos colaterais nos preços de matérias primas e combustíveis, não pode fazer esquecer que há mais vida para além disso (mesmo se para os ucranianos tudo pareça traduzir-se em menos vida, mais perigosa e mais desafortunada). E o caso Salgado, como sliás  a pandemia e o seu esperado fim, fazem parte dessa outra realidade que subitamente abalou o mundo e especialmente a Europa. E com ela, dentro dela, solidário com ela, o nosso país, agora considerado “hostil” pelos fautores da guerra, os que agridem baseados em futuras ameaças não concretizadas.

A queda, ou o princípio da queda de Salgado permite pensar que outras quedas se seguirão, pelo menos entre nós.

Festejar esta sentença no dia internacional da mulher  não significa que se esqueça essa “metade do céu”, uma das poucas coisas boas e decentes que surdiu da cabeça despótica do Presidente Mao, outro que tal mas em mais grave, mesmo se neste tipo de questões a morte de um inocente ou de um milhão tenham o mesmo significado anti-humanidade

O dia da mulher celebra-se pois ao som das sirenes, das bombas, dod gritos entre o desespero de dezenas ou centenas de milhares de mulheres que, com os filhos e uma pobre mala fogem desamparadas da sua terra, da sua casa, deixando para trás maridos, irmãos, filhos já crescidos, pais e outros familiares.

Eu não sei se os antolhos ideológicos dos dois eurodeputados do PCP e dos seus colegas de “Unidas podemos” lhes permitiram ver e perceber a tragédia imensa que ainda vai no início do princípio. Provavelmente não! Algum dia a sorte lhes tocará à porta e depois convém que não venham com lágrimas de crocodilo pedir a bossa compreensão.

A justiça, diz-se que é cega. Sem dúvida. E demora a chegar, bem que o sabemos. Mas, cedo ou tarde ela acabará por aparecer. É isso que se deseja para os Salgad3os  nacionais e internacionais como para os émulos dos czares que, erradamente pensávamos ter desaparecido.

*a vinheta:: a caixa de Pandora. Ai de quem a abre...

 

 

estes dias que passam 661

d'oliveira, 07.03.22

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Aproveitando o pé da Luisinha Carneiro

mcr, 7-3-22

 

 

Os leitores estarão certamente recordado do “pé desfeito” da Luisinha Carneiro (Eça de Queiroz) Em duas palavras: alguém lia em voz alta as notícias do jornal. Um vulcão em Java, um naufrágio na África, uma epidemia em qualquer lado, enfim, um rosário de calamidades que se iam aproximando, segundo a a leitura, da Europa e do “torrãozinho de açúcar”

Os ouvintes manifestavam , se é que manifestavam, já não recordo essa excelente crónica, alguma levíssima e compaixão, compaixão polida, digna de pessoas educadas num ambiente burguês, a meio da tarde, entre chá e torradas. De súbito o leitor atirou um grito, as pessoas sobressaltaram-se e mais emocionadas ficaram quando, em voz cava, o leitor anunciou que a Luisinha Carneiro tinha desfeito um pé (suponho que seria torcido). Foi uma lufa-lufa, os cavalheiros começaram a escrever febrilmente cartões de visita, desejando prontas melhoras, as senhoras acordaram em ir rapidamente visitar a enferma, sei lá que mais.

 

Tudo isto para referir que as notícias, qualquer notícia, aliás, nos afectam de forma diferente. No caso a inconveniência de meter o mimoso pé nalgum desvão  do soalho fez esquecer as tremendas notícias anteriores mas longínquas. 

No caso que actualmente enche os noticiários de todo o mundo, há, de longe em longe, comentadores que, a pretexto de mostrarem coragem, desafio ao burguês estabelecido e reaccionário, entendem igualar duas realidades distintas, a saber num lado está um gressor, noutor um agrdido. Com o “picante” do agressor ter um longo historial de agressão e o agrdido esta apenas a tentar defender-se. Com mais outro “picante”: é tal a disparidade de forças em presença, de armas, de soldados, de meios, de riqueza, que  nem sequer se pode falar de um combate equilibrado.

Mas, antes de tudo, há um agressor e um agredido. Ponto final, parágrafo.

Os dubtis comentadores isentos como a água destilada, entendem, porém, ir procurar “pelo em obo de galinha”, ou seja razões que fortaleçam o agresso e confundam o agredido.

Então vejamos:

Parece que na Ucrânia há um partido ou vários de extrema direita. Dificil seria que a Ucrânia fosse uma excepção na Europa onde tais partidos existem e, por acaso, mero acaso, foram durante anos subsidiados pelo Kremlin.

Todavia, há mais: na Rússia há exactamente como no restante mundo partidos de extrema direita, que aliás apoiam a “intervenção”. Não sei se são mais ou menos de extrema direita que o congénere do país “intervencionado”.

A segunda linha de argumentação é esta: a Rússia (que por acaso e na sua versão soviética e na anteriorczarista ocupou, vigiou, interveio e puniu países da sua zona de influência) teme um cerco da NATO. Ou seja um país com onze fusos horários, com o maior arsenal nuclear do mundo, treme como varas verdes à vista da NATO. A sua maior fronteira terrestre mesmo por interpostos protectorados em alguns casos, é com a China com quem durante dezenas de anos teve confrontos fronteiriços sangrentos, para além de um inacreditável diferendo ideológico que, parecendo apontar, para diferentes interprestações do evangelho marxista-leninista, ia bem mais alémesignificava o que hoje é evidente: a China com armas nucleares também ela (mesmo se muito inferiores em número) cresce desmesuradamente na economia e de há vários anos que ultrapassou a Rússia. Fora esse formidável vizinho .temos as fronteiras com a Noruega, a Finlândia, com alguns países caucasianosque escaparam da sua órbita, p.e, a Geórgia, com uma protrectorado a caminho de se integrar nela, a Bielorússia, com a Ucrânia, com a Mongólia , a Coreia do Norte e  os três pequenos estados bálticos. Alguns destes países são neutrais  (caso da Finlandia e da Mongólia) outros pertencem a NATO desde sempre ou recentemente (os bálticos).

Numa época de misseis intercontinentais, recear os vizinhos ´só pode ser por medo de uma invasão terrestre. Convenhamos que , num país onde o “general Inverno” provou contra dois formidáveis exércitos  inanidade de uma invasão deste tipo e, mais ainda de uma guerra prolongada, deita abaixo este terror.

Aceitemos, porém, e  por breves momentos que o receio da NATO é suficientemente forte para tirar o sono a Putin. Recordemos, no entanto, que, nos últimos dez vinte anos, a NATO mesmo fortalecida pela adesão de países saídos da órbita soviética, estava arrumadinha a um canto, ronronando sem saber exactamente qual o seu papel num mundo que se deslocava a largos passos para o Pacífico.

Não pretendo que a NTO era inútil fo ponto de vista militar mas os novos dadod geo-políticos e a nova estratégiamilitar tornavam-na quanto muito uma vaga aliança defensiva, um fardo para os europeus que se recusavam a encarar a ideia de um reforço da sua defesa colectiva e singular, embevecidos pela ideia, tragicamente destroçada pela actual invasão, de que lhes bastava um chapéu de chuva americano.

E recordemos que os mesmíssimos americanos, estavam de novo encantados com a antiga ideia isolacionista e retiravam sem especial glória de várias frentes de combate, fossem elas a Síria, o Iraque ou o Afeganistão para onde tinham em diferentes momentos dido convocados pelo Daesh e pelo novo terrorismo árabe. E pelo choque brutal dos ataques ao World Trade Center.

Lembremos também que pelo menos de dois desses cenários a saída americana foi acelerada, desorganizada e não deixou boa recordação em vários dos seus aliados, alguns dos quais (os curdos, p.e.)  se sentiram abandonados senão traídos (caso de muitos afegãos)

Não irei ao ponto, porque sempre entendi que para além do pé ferido da Luisinha, havia outra e mais sinistra realidade, de dizer que a NATO era um tigre de papel . Não era e bastaria acordá-la da sua meritória sesta para o verificar. Mas que dormitava, lá isso dormitava.

Não se vêem nem adivinham quaisquer factos que sequer indiciem que a Ucrânia era um perigo , vá lá um motivo de susto, ou sequer uma noiva traidora de Putin.

É verdade que, muito provavelmente, as minorias russófonas tivessem razões de queixa. Mesmo num país e numa comunidade onde o russo era falado   praticamente por toda a gente pode ter havido um menosprezo pela minoria que desconhecia o ucraniano.

Também não é difícil pensar que a Crimeia, território “empapado de sangue russo” como é costume dizer-se fosse um espinho cravado na consciência grande-russa que tem em Potemkine um dos seus mais gloriosos chefes militares e em Catarina uma czarina  cuja fama é idêntica à de Ivan o terrível ou de Pedro o Grande-

Seria, aliás interessante, verificar que sangue russo empapou a Crimeia pois tudo indica que foram soldados recrutados na região (que sempre forneceu tropas especiais e aguerridas ao Império)  quem conseguiu vencer e expulsar os tártaros que ali habitavam. E quanto a sangue vertido também valeria a pena citar a estúpida e trágica carga da Brigada Ligeia, um famoso corpo de cavalaria britânico que, em Balaclava, na Crimeia, perdeu em poucas horas dois terços dos seus efectivos depois de uma carga estúpida contra forças superiores e muita artilharia.

A guerra da Crimeia foi uma das mais inúteis e estúpidas guerras levadas a cabo  no século XIX mas apesar de tudo garantiu à Rússia a passagem livre pelos estreitos e iniciou a independência de certos países balcânicos que a Rússia ambicionava tornar seus.

Os alemães também chegaram à Ucrânia que ocuparam e à Crimeia e se é verdade que num primeiro momento tenham sido percebidos como libertadores (a Ucrania perdera milhões de habitantes durante os anos 30 graças à política impiedosa de Stalin que condenou literalmente à fome  quase dez milhões de pessoas, sem galar nas purgas sucessivas que o país sofreu desde 1917 ) não menos verdade é que um terço do total de soldados soviéticos mortos era de etnia ucraniana o que demonstra bem o seu papel na guerra “patriótica” . Terá sido por isso que o Gverno da URSS e o PCUS entenderam transferir a Crimeia para a soberania da Ucrânia que, entretanto apesar de pertencer à URSS já fazia parte (com a Bieolorrúsia ) da ONU num alarde de independência que tinha fortes limites como se calcula. Esta é a Hstória que Putin não conta e que os “neutralíssimos” comentadores cuidadosamente evitam conhecer

É verdade que o mundo não se divide irredutivelmente em branco e preto. Mas também é verdade que, no afã de se dar a conhecer como Salomão , há gente que reduz tudo a cinzento e mete no mesmo saco agrdidos e agressores, fortes e fracos, doldados armados e mulheres e rianças em guga. E isso, caros leitores é uma infâmia provavelmente tõ grave quanto a guerra que esconde o nome

E sobretudo não foam os EUA, a Europa, a NATO ou o macaco Simão que atacaram o solo sagrado da Rússia que continua indemne ao que tudo indica. Foi esta que, sem qualquer dialogo atacou Que o atacado se defenda com o pouco ou quase nada que tem não devia surpreender ninguém. Morto por um morto por mil . 

estes dias que passam 660

d'oliveira, 06.03.22

Falemos então de coragem 

mcr, 6-3-22

 

 

Pelos vistos, e segundo uma senhora de sua graça Carmo Afonso, o PCP ao fazer as afirmações que faz quanto aos “acontecimentos” da Ucrânia prova a sua conhecida coragem. 

Vai contra a corrente, não se preocupa com a perda eventual de popularidade neste momento, enfim, aquilo mais parece uma reunião magna da Távola Redonda do que um partido político .

Entretanto, temos assistido ao coro inusitado (mesmo se eu o compreenda e eventualmente o aplaude) de condenações ao que o sr Ventura diz sobre ciganos, emigraçãoo e outras questões desta feita muito relacionadas com a vida portuguesa.

A Ventura ninguém, muito menos (que eu saiba) a sr.ª Afonso, chama corajoso. O homem diz “barbaridades”, arrisca-se a ser posto no pelourinho da opinião pública e ninguém lhe dá sequer a oportunidade  de o achar corajoso!

Uns acham que aceitar que uma agressão qualificada, uma invasão sem declaração de guerra, o silenciamento dos meios de comunicação internos, a proibição de manifestações contra a guerra, o agravamento de penas contra quem discorde ou se manifeste, a interdiçãoo de rádios e televisões consideradas “não favoráveis ao regime, como é o caso do PCP é uma atitude corajosa. Os mesmos entendem que as parvlhadas de Ventura são coisas horrendas, Critérios!...

É claro, infelizmente, que mesmo com tais afirmações Ventura alcandora-se ao 3º lugar nas eleições legislativas enquanto o PC mesmo antes da guerra (que sorte teve!) cai para 6º lugar. 

Isto em eleições livres ao invés do que ocorre na Rússia pís que costuma acarinhar os movimentos de extrema direita europeus. 

Há aqui, nestes qualificativos da srª Afonso um qualquer confusão-. E permite-me mesmo pensar se a tal propalada coragem em adular um criminodso de guerra e as suas acções (pois é exactamente isto o que o PC faz mesmo tratando a Rússia de país capitalista mas recusando aceitar que se trata de uma invasão cujas culpas magnanimamente divide entre a NATO, os EUA, a Europa e uns alegados neo-nazis que o pc vê, neo ou antigos, em cada esquina, armados até aos dentes e “provocadores”)i inimigos  duma curiosa paz que um conselho fantoche  que fechou os olhos à Tchetchénia (coio de bandidos!),  à Geórgia (pais provocador e agressor que maltrata ossetas e abkases)e protegeu um assassino de um povo (o sr Assad, da Síria)...

Convenhamos: a srªª  Afonso merece,  pelo menos, a vice presidência do esclarecido - se bem que praticamente ignorado – Conselho português para a paz e a cooperação.  

Fique claro que não pretendo ver a srª Afonso fora do lugar onde exerce desde há pouco a sua magistratura de influência. Tem direito à sua opinião. Exactamente como o cavalheiro do Chega, à volta do qual se pretende levantar um muro sanitário. 

No que a mim me toca, bastou-me o muro de Berlin que conheci em todo o seu esplendor  e que atravessei largas dezenas de vezes no longínquo ano de 1970. Ao fim de quase 900 mortos, o muro caiu ao som do violoncelo de Rostropovitch  um exilado da URSS perseguido por um regime abençoado e adorado pelo pcp e, porventura, pela srª Carmo já citada. 

Entretanto outros muros se vão levantando, entre eles o dos espantalhos fautores de guerra que, mesmo sem invadirem sequer um quintal para roubar galinhas acabam por ser os principais réus de um desastre que se está a produzir diante dos nossos olhos.

Um muro de falácias, de apelos ao equilíbrio, ao diálogo entre agredidos e agressores,  como se tudo fosse uma e a mesma coisa. Seria risível se não houvesse tantos mortos, um milhão de pessoas em fuga, milhares de manifestantes anti guerra presos e a ameaça de alguém se servir de armamento nuclear. 

É pró que estamos... E viva a coragem  dos cúmplices da agressão.

(fique claro que considero o sr Ventura um oportunista sem vergonha, autor de propostas abjectas e um eventual perigo para a democracia. Não é o único, como se vai vendo...)

estes dias que passam 659

d'oliveira, 05.03.22

 

 

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A paz, catrapaz

mcr, 5/3/22

 

nova escalada no confronto militar que tem tido lugar na Ucrânia desde 2014 e à intervenção militar por parte da Federação da Rússia neste país.

 

é necessário que a NATO abandone a intenção de se expandir ainda mais para o Leste da Europa, nomeadamente através da integração da Ucrânia, e reduza os seus meios e contingentes militares junto às fronteiras da Federação Russa.

 

 É essencial a reativação de acordos, que os EUA abandonaram unilateralmente.

 

 

não é com mais militarismo, ameaças e sanções que se defende a paz. Esse foi, aliás, o caminho que conduziu à presente situação

 

 

Em negrito estão partes do comunicado do Conselho Português para a Paz e Cooperação

Esta fantasmática instituição de que se desconhece o número de associados, quais as ligações partidárias (mesmo que seja evidente a “correia de transmissão” com o PCP, omite cuidadosamente (à imitação de quem?) a palavra invasão, a palavra agressão e trata as partes simetricamente .

Depois, sempre na mesma linha malabar de “equilíbrio” à maneira dela, remete a origem do conflito para ambos com repartidas culpas. Pelos vistos a Ucrânia terá invadido ou, pelo menos, ameaçado território russo.

E também será culpada por não aceitar a perda da Crimeia ou dos territórios de leste que se terão rebelado sem ajuda de ninguém e ameaçado ocupar as regiões vizinhas onde russófonos se recusam a a seguit o caminho dos insurrectos...

E, finalmente, cereja no bolo, a NATO! Esta é a verdadeira culpada, a espada de Dâmocles na cabeça da Rússia, o maior país do mundo que abarca territórios contíguos com uma superfície de quase 18 milhões de quilómetros quadrados ou seja, quase o dobro dos Estados Unidos!

E com um gigantesco arsenal nuclear!

A má fé do famigerado Conselho, um mero satélite, ainda por cima antiquado, do PCP é apenas o reflexo dos motivos que levaram à sua criação nos alvores do PREC: uma relíquia, presidida por outra relíquia, a vereadora Ilda Figueiredo  que incansavelmente repete há duas dezenas de anos o mesmo discurso. Se alguma vez a palavra “cassete” foi útil para definir a linguagem deste partido, Ilda Figueiredo pode considerar-se a sua melhor intérprete.

De notar que exerce cargos políticos desde 1979, incluido deputada, vereadora, deputada europeia .Aos  71 anos bem que merecia um descanso misericordioso ma, pelos vistos, continuará na brecha  por mais alguns anos. É provavelmente um dos mais antigos elementos do CC do pCP  partido onde a velhice também é um posto, como se sabe. Melhor dizendo, a velhice quando conformada e enformada pela ortodoxia mais severa....E pelos vistos, ainda não se esqueceu dos tempos gloriosos do “sol na terra” da “pátria do socialismo” e de outras maravalhas de um partido e de um regime que pacificou nos gulags ou nos seus satélites que se fartou.

 

Como seria de esperar ninguém encontra naquele copioso e entediante comunicado a palavra invasão. Também ninguém lerá, agora, e porventura alguma vez, referências ao so

rimento dos invadidos à fuga de mais de um milhão de mulheres e crianças, aos mísseis que atingem bairros residenciais ou ao inacreditável ataque a uma central nuclear. Por mero milagre nenhum reactor foi atingido mesmo que alguns fogos perigosos se tenham registado. Isto porque, a falta de pontaria que faz arder zonas residenciais é exactamente a mesma que ali ocorreu. Ou, então é pontaria a mais, desta vez sem a medonhas consequências que se adivinham.  

O Conselho bem que podia olhar um pouco mais para norte e para leste para ver que defensores da paz, gente que arrisca tudo (ou quase) são presos diariamente apenas por quererem a tal paz de que o Conselho pensa, pobre dele, ser proprietário. Mas não, tal nunca ocorrerá porque o Conselho míope como é, social e politicamente, só vê o dedo que aponta a lua mas nunca esta.

 

 

na vinheta: "pacífica" explosão em Kiev 

estes dias que passam 658

d'oliveira, 04.03.22

 

 

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A palavra liberdade é muito traiçoeira

mcr,5-3-22

 

Faço parte dos que acreditam na liberdade de imprensa e na necessidade de impedir seja que censura for aos meios de comunicação.

Convirá, porém, estabelecer o que é e o que não é um meio de comunicação informativo.

Seguramente que um produto jornalístico de publicidade a uma marca a de propaganda a um sistema económico, religioso ou político não tem nada a ver com informação livre, sujeita a contraditório, fiável  e dando relevância igual a todos os seus aspectos.

E é aí que entra o problema gerado pela determinação pelo Conselho europeu de proibir  os operadores de telecomunicações de  a difusão de quaisquer conteúdos dos canais televisivos Russia Today e Sputnik por entender que estes canais não são informativos mas meramente propagandísticos.

Acresce que, nas suas emissões, não se tem coibido de ir mais além da habitual defesa cerrada das posições do Kremlin para, além disso, abundar nas mais disparatadas acusações à Ucrânia e ao seu governo, sempre neo-nazi, sempre agressor como igualmente agressores parecem ser a UE e a NATO sem falar já dos EUA.

Um comentador do jornal Público acha que isto é “censura prévia”. Eu não sei se este senhor se recorda (como eventualmente deveria) do que era a “censura prévia” por cá nos anos que existiu (e também em certos momentos do PREC (quando começaram os cercos ao jornal República ou as expulsões de jornalistas do Diário de Notícias para não falar na “vigilância revolucionária” quanto a conteúdos da RTP ou da EN))

A Informação (jornalística, radiofónica ou televisiva) é sempre alvo das imposições do poder, seja ele qual for. Nos países autocráticos é infinitamente mais forte e nos ditatoriais já nem informação existe.

Ora, no momento actual, parece ser meridianamente claro que há na Rússia um cerco severo no que toca à informação geral sobretudo no que diz respeito às “operações militares” na Ucrânia, esse país irmão, essa “parte indissociável da nação cultura e espiritualidade russas” (sic).

Ou, por outras palavras, há neste momento, e dentro da Rússia, claras medidas de proibição de informação que de algum modo seja passível de ser considerada traição à pátria e ao esforço militar ou simplesmente ao Governo.

Por isso, e por maioria de razão, os canais habituais de propaganda da Rússia estão, mais do que nunca, longe de qualquer critério que lhes permita serem considerados órgãos informativos. A “informação” que distilam destina-se não a ajudar a perceber o que se passa mas apenas a oculta-lo ou, pior, a manipular os eventuais usuários de modo a que estes encarem aquele conflito como uma “libertação” dos oprimidos ucranianos, primeiro dos russófonos que, maioritários em Karkhov continuam a defender a cidade dos libertadores, depois dos outros todos e são quarenta milhões, que enganados resistem contra toda a espectativa ao avanço das esmagadoras colunas militares russas.

Eu, pobre blogger sem espaço no jornal que, todavia, leio desde o primeiro dia, não quero dar lições ao comentador encartado e pago pelo mesmo jornal. Apenas me pergunto e lhe pergunto  se proibir a mera propaganda pode ser considerado um atentado à liberdade de informar. E se esta se pode de algum modo reconduzir a algo  tão funcionário de propaganda externa como esses canais.     

 Há em certas criaturas que não se atrevem a tomar posição, ou que a esconde atrás de sofisticados subterfúgios e de olímpicos distanciamentos (au dessus de la melée...)uma vontade de salomonicamente (com os resultados que se conhecem de tal prática)dividiram as culpas, as responsabilidades, quiçá as consequências.

A Ucrânia não invadiu nenhum vizinho, não se proclamouirmã, prima ou sobrinha de nenhuma outra potencia de língua e costumes semelhantes. Existe que se saiba, mesmo com todas as aspas que quiserem, desde a fundação da URSS como aliás Putin já reconheceu. É membro da ONU desde a sua fundação, mesmo se enquanto a URSS durou sempre tenha votado (e como não?) de acordo com ela. Não foi a Ucrânia que ocupou a Crimeia mas apenas aceitou (nem podia ser de outra maneira, naquele tempo) a inclusão da península no seu território. A decisão pertenceu ao Governo da URSS e ao Comité Central do PCUS. Quando a URSS implodiu, as fronteiras da Ucrânia foram reconhecidas solenemente pela Federação Russa e assim se mantiveram até 2014, altura em que tropas russas invadiram a península ao mesmo tempo que, por interpostos nacionalistas russofonos ocupavam parte dasregiões de leste de maioria russofona. E é bom recordar que mesmo no seio dessa maioria, mais de metade dos seus componentes permaneceram na Ucrânia, sentindo-se ucranianos, lutando como ucranianos como actualmente se verifica. Ou será que os misseis, as bombas os tiros que sofrem muitas localidades da região de Mariupol a Karkhov são beijos de mor, flores e carinhos enviados pelos irmãos libertadores?

Conviria perguntar se foram a NATO, a UE ou os EUA quem decidiu de alguma forma os destinos da Russia e da Ucrania desde a independência de ambas ou apenas elas e, sobretudo, a mais forte, cuja população é quatro vezes maior, cujo armamento convencional é vinte vezes maior sem falar no facto de só ela ter armas nucleares.

Também seria útil perguntar porque razão é que da Letónia à Roménia, passando por todas as Repúblicas que fizeram parte do tratado de Varsóvia, entenderam pedir a adesão à NATO? Terão sido maleficamente obrigadas, hipnotizadas, compradas pela plutocracia americana? Ou temiam, desrazoavelmente, segundo o PCP e amigos, alguma improvável agressão por parte da Rússia?

 

Não tenho a mais ligeira esperança num sucesso militar da Ucrânia, como não o tive no momento da primavera de Praga, nem sequer na altura em que multidões gigantescas se manifestavam na RDA contra o governo fantoche desse país que se evaporou  no momento em que um imprudente alto-funcionário do SED disse que se podia passar o “muro” sem autorização. Em poucas horas mais de um milhão de pessoas o passou, regressou e desfez aquele paraíso socialista e unificou sem derramamento de sangue Berlin. Depois, foi o que se viu. Ou o que só o jovem João Oliveira não viu nem lhe contaram.

(sei perfeitamente que esta luminária considera a Rússia um estado capitalista, ao serviço de oligarcas e que houve uma invasão. Todavia, entende que essa “invasão” – palavra que o PCP oficialmente nunca empregou- tem antecedentes na NATO, NA UE, nos EUA enfim no Ocidente que permite ao mesmíssimo Oliveira viver livre, falar livremente e considerar-se irmão ou primo dos norte coreanos, dos eritreus, e de outras exemplares criaturas.

Aliás valeria a pena perguntar ao mesmo sr Oliveira se a China é um país capitalista ou socialista. Adorava ouvir a resposta dele...

*a vinhetq: mulherrussa de 77 anos, sobrevivente do cerco de Leningrado (1000 dia)  protesta contra a invasão da Ucrânoa. Foi, obviamente, presa