estes dias que passam 666
Quem provoca quem?
Quem é responsável?
Quem quis a guerra?
mcr, 14-3-22
Faço parte das pessoas que condenam sem apelo nem atenuante de qualquer espécie a invasão da Ucrânia. Vem-me de longe esta ojeriza a agressões. Se bem recordo era ainda raºaz quando a URSS invadiu a Hungria, algo que, à época foi escandaloso e levou muitos milhares de comunistas ocidentais a abandonar o “partido”. A invasão (estúpida e ainda por cima mal feit de Cuba foi o segundo momento de condenação. aDepois, foi a intervenção no Vietanam mesmo se, rapidamente se verificasse que o Norte enviara para o Sul dezenas de milhares de soldados para “robustecer” o Vietcong, ou seja a resistência às diferentes ditaduras dos governantes sulistas. Porém, aí a “intervenção” americana teve sempre contra ela boa parte da opinião pública estado-unidense, a juventude universitária, a maioria dos intelectuais americanos e a imprensa. A guerra, servida em casa todos os dias graças à televisão, fez mais pela retirada militar americana do que o milhão de homens vindos do Norte. Na Europa, a malta do meu tempo mobilizou-se, manifestou-se e mais tarde, assistiu acabrunhada ao desastre dos boat-people cuja desgraça juntou, depois de muitos anos de zanga, Sartre e Aron. Em 1969 assistimos sem acreditar à Primavera de Praga e à infame invasão dos aliados do pacto de Varóvia que vinham salvar os checos dos perigos da democracia. Na voragem, lá foram presos homens que tinham dedicado uma inteira vida ao PC Checo (Dubcek, Svoboda e outros). Segiuy-se mais uma gigantesca revoada de síadas dos pc ocidentais (até mesmo do exíguo partido português já abalado pelo conflito sino-soviético). As tragédias (“socialistas” subsequentes, solidarnosc, muro de Berlin, queda da URSS, eram já claramente previsíveis mas, de outras partes do mundo continuavam a surdir acontecimentos temíveis, desde a bancarrota ideológica que foi a Revolução Cultural, acrescida pelos milhões (muitos) de mortos que envolveu até a absoluta barbárie do regime kmer vermelho e do genocídio (não há outra palavra) praticado por Pol Pot e sequazes.
O fim da Jugoslávia, uma guerra sangrenta em certas zonas do ex-país, a intervenção de terceiros mostrou uma vez mais que a guerra não saíra totalmente da Europa. É bom lembrar que esse conflito entre eslavos do sul custou muitos milhares de mortes, destruições em massa de cidades, independências quase milagrosas de pequeníssimos países.
E agora, depois da Tchechénia e da Geórgia, eis que chegou a vez da Ucrânia.
Almas caridosas e “neutrais” vão-se chegando à frente. Incapazes de negar a evidência da agressão, apressam-se, porém, a realçar que os ucranianos deveriam ter aceitado “dialogar” com a Rússia. Não o fazendo, parece que são tão corresponsáveis quanto os primeiros nesta catástrofe. (isto para já não falar nos responsáveis habituais, a NATO, os EUA e a Europa, o costume...)
Parece que estas alminhas gentis ainda não repararam que foi em 2014 que esta guerra começou. Com a ocupação da Crimeia e a sublevação dos territórios de leste. Na Crimeia a Rússia mostrou os dentes como é sabido. Foi o exercito russo que ocupou a península. Já nos territórios de leste, arranharam-se à pressa uns milhares de nacionalistas russofonos que foram armados até aos dentes pelos seus protetores, que sempre tiveram uma retaguarda de onde tudo lhes vinha desde armas e restante equipamento bélico até abastecimentos de toda a espécie. E, finalmente, poucos dias antes da “operação especial”, o PC fusso propôs e Putin magnânimo aceitou que se reconhecesse a independência dessas duas republiquetas.
Mas mesmo assim, deveria ser a Ucrânia a aceitar negociações que a amputavam de uma parte do território anteriormente reconhecido inclusive pela Rússia mas também da perda de outro tanto em Luganslk e Donbass (provavelmente mesmo Marupol), de outra neutralização militar, além da acordada na separação (e lembremos que, nessa altura, a Ucrânia renunciou às armas nucleares que detinha no seu território), da garantia de não adesão à NATO e idêntica não adesão à UE. E, pelos vistos de especial protecção À religião ortodoxa (!!!) e à língua russa.
O último abencerragem desta postura equânime é o dr. Miguel Sousa Tavares, um marialva urbano, defensor de touradas, da caça e de sei lá mais quantas singularidades. Não está sozinho, bem pelo contrário: acompanham-no outras criaturas desde uma académica comentadora de televisão que afirma sem corar que agora Zelensky vai ter de se sentar à mesa das negociações e aceitar o que antes negara e que- notem bem- obrigara um contrafeito Putin a mandar umas tropas para impor a paz.
E como d costume, tudo isto, de mistura com a cassete habitual da culpa do Ocidente.
Claro que quando se fizer a história destes tempos terríveis alguém vira dizer que o Ocidente fez de Chamberlain mais uma vez, que deveria ter secretamente armado a Ucrânia dos mésseis que lhe fazem falta, as armas anti-aéreas que no Afeganistão puseram a aviação russa em sentido, enfim de tudo.
Agora, é uma opinião pessoal, é tarde. Mesmo que ainda cheguem os stinger milagrosos, os mísseis anti-mísseis, as armas anti-tanque, pois, por muito que os ucranianos acreditem, estes não se detém com coctails molotov caseiros.
È verdade que as tropas russas no terreno parecem ter uma mais que duvidosa eficácia, que há soldadinhos imberbes (mas virão aí os mercenários sírios!) a morrer e a render-se, que os bombardeamentos de alvos civis mesmo verdadeiros também se devem à inabilidade dos atacantes que, humanitariamente só queriam libertar os irmãos ucranianos num passeio tranquilo que já vai no 19º dia e em mais de 2 milhões de refugiados.
Ao longo de uma vida qu também já vai sendo longa, habituei-me a não me entusiasmar. Eu sou pouco de heróis e muito de bom senso. É verdade que me está a surpreender a resistência dos que defendem a sua casa, os seus parcos bens, o seu país e os seus idosos que não tem para onde ir. Mas não tenho nenhuma ilusão sobre como isto vai acabar. Vai acabar numa sangueira tremenda, numa derrota medonha, no desaparecimento de milhares e milhares de ucranianos, numa versão russa e melhorada do “Nacht und Nebel”, mormente da elite que se tenta defender. Já vi este filme vezes sem conta e mesmo que espere que as sanções produzam efeitos importantes e duradouros na Rússia, nos seus poderosos, nos oligarcas e associados e cúmplices, sei bem que será o povo miúdo a sofree mesmo sem sequer ter percebido o que se está a passar. A maior arma de Putin é o silenciamento da imprensa, de todos os meios de comunicação, a prisão dos que protestam, a fuga dos que conseguem escapulir-se. Na Rússia ( e também na China, o povo desconhece aquilo que nós todos vamos vendo.)
E, como já conheço esta música, de tão repetida que tem sido, eu, se fosse moldavo ou georgiano, punha as barbas de molho pois os seus pedidos de adesão à UE (e eventualmente à NATO) irão ser avaliados e obviamente punidos. Suponho que os neutrais de cá expliquem a coisa como o castigo de uma insensata provocação a Putin e aos russos. Vai uma aposta?
(este post tem o n´666 que parece que o número do diabo. Mau prenúncio para os ucrananos)