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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 682

d'oliveira, 30.04.22

  

 

Sempre, sempre ao lado do povo

mcr, 30-o4-22

 

 

A prestimosa Câmara Municipal de Setúbal (que faz parte do já reduzido grupo de autarquias que estão sempre ao lado do povo e dos trabalhadores, como se estes não fossem povo ou o povo não trabalhe) tem um gabinete chamado LIMAR (Linha Municipal de Apoio aos Refugiados) destinado a “ajudar” os emigrantes que demandam a capital sadina. 

Neste gabinete a que já se dirigiram mais de 160 emigrantes ucranianos recém chegados  ao nosso país trabalha uma senhora russa, esposa devotada de um cavalheiro russo, amigo da embaixada russa e com ligações claras ao actual poder russo. 

A senhora era até ontem ou anteontem funcionária da autarquia justamente para receber os ucranianos em fuga, tendo o seu prestabilíssimo marido como auxilir benemérito.

Pelos depoimentos obtidos pelo “Expresso” (órgão óbvio do grande capital imperialista e monopolista e explorador do povo, dos trabalhadores e das massas mais carenciadas) e já antes denunciados pela embaixadora da Ucrânia, verifica-se que a singular recepção aos ucranianos, aliás ucranianas, tem surpreendentemente um rol de perguntas sobre os familiares que ficaram na terra, sobre o que fazem e que meios lá terão. É pelos vistos um longo questionário a que se junta a fotocópia de elementos documentais, passaportes incluídos, cujo destino não parece claro. 

As denúncias da embaixadora feitas há já algum tempo, caíram em saco roto mas a primeira página do Expresso foi fatal. 

Agora toda a gente se mexe, todos se afligem, desde o SEF até à impoluta Câmara que terá mesmo  “dispensado” os serviços da devotada esposa do dirigente de associações russas ele mesmo benemérito voluntário na recolha destas informações. Entre a CM de Setúbal e o Governo há até uma troca de galhardetes que fundamentalmente se reduzem ao seguinte: o Governo nega qualquer aval às solicitações dos “funcionários camarários” e à cobertura da associação Edintsvo uma organização pró-russa putinista com claríssimas relações com a embaixada. 

Não admira que algumas das entrevistas pelos jornais se recusem a revelar o apelido e não consintam em ser fotografadas

 

A CM de Setúbal nega que as informações recolhidas tenham qualquer destino especial mas o simples facto de serem recolhidas por cidadãos russos permite pensar que no caso em apreço nem sequer é preciso enviar um ofício com os dados recolhidos à embaixada russa. Eles próprios o farão graciosamente. 

Pelos vistos, o cidadão russo em causa foi até nomeado representante dos emigrados ucranianos num qualquer conselho que por aí existe! 

Ontem, camaradas dos dirigentes camarários afirmaram que tudo isto é mais uma manobra dos inimigos do PCP e que é tudo uma gigantesca mentira. Ou seja, é provável que nem sequer haja um senhor chamado Igor  Kashin muito menos a amorável esposa. Pois tudo ão é mais do que outro conluio nacional contra a abnegada Câmara e contra o PCP sem esquecer o povo e os .trabalhadores, a causa da paz e o anti-imperialismo 

 

Há uns dias referi a participação da embaixadora ucraniana numa manifestação do dia 25 de Abril. Afinal essa manifestação tinha também como tema a solidariedade com a Ucrania pelo que muitos ucranianos e, naturalmente, a embaixadora entenderam dever corresponder ao convite endereçado pela IL. 

Assim se vê como uma inquisidora portuguesa, proprietária do 25 A e das festividades conexas, afinal estava enganada na sua denúncia. 

Aliás eu suponho que nada impede qualquer cidadão estrangeiro de participar em manifestações legais, autorizadas e festivas. É sinal que a data também os toca, os comove os mobiliza.  

Pela parte que me toca, participei em manifestações em Espanha, na Alemanha, em Itália, na França  e até na Holanda. Manifestações políticas, esclareça-se ou meramente festivas. E os meus amigos desses países agradeceram a solidariedade, tanto mais que, em alguns casos, partilhei com eles as costumeiras e dolorosas bastonadas policiais... E nenhuma palerma me açulou os cães ou pretendeu expulsar-me da grande família cosmopolita, europeia e progressista em que sempre me movi. 

Só cá é que há deste tipo de sicofantas que conseguem ter assento em jornais e outros meios de comunicação. Arre!

estes dias que passam 681

d'oliveira, 29.04.22

Tarde e a más horas

mcr, 29-04-22

 

 

Este é o género de textos que detesto escrever. Todavia, faço-o por imperativo ético e porque ouvi algo que me pôs os cabelos em pé.

E começo por aí: ontem, o sr. Secretário Geral da ONU afirmoiu que “este é o momento certo para vir a Moscovo e a Kiev”.

Sª Ex.ª deve estar a zombar de nós e sobretudo dos seus hospedeiros ucranianos.

A guerra tem dois fartos meses, leva largas dezenas de milhares de mortos civis, um ror de cidades destruídas, cinco milhões de fugitivos, outro tanto de deslocados e este foi o momento certo? 

Eu já não digo que ao primeiro tiro, ao primeiro morto, aos primeiros mil refugiados, o sr. eng. Guterres largasse tudo e se metesse no primeiro avião para Moscovo,  Kiev, Vladivostoque ou Cabeceiras  de Basto. Dou-lhe aliás as  duas primeiros semanas mesmo se ao terceiro dia já se adivinhasse a sangueira que iria ter lugar, as destruições gigantescas que desde logo a invasão bárbara começou a provocar 

No entanto, ao fim de dois longos meses, depois de uma dúzia de chefes de Estado ou de Governo terem estado no terreno, depois de alguns outros se terem deslocado à Rússia ou tentado entrar em contacto com Putin, vir dizer que este é o momento certo, suscita uma série de perguntas e nenhuma delas benévola. 

Deixemos de lado todas quantas apontam para uma súbita (ou não) incapacidade de discernir o que, desde o primeiro momento ,estava em causa mesmo se já houvesse declarações insensatas dos russos sobre a inexistência da Ucrânia, sobre a “não invasão” sobre a “libertação” de territórios e de pessoas  que se recusam (viu-se ainda ontem em Kersten ocupada, uma manifestação  - a quinta ou sexta desde a tomada da cidade – contra o ocupante) a se libertadas, desnazificadas, des-ucraneizadas”.

Quando todos pensavam (e eu com eles) que, numa semana, máxime dez dias, a Ucrânia morderia o pó,, eis que está de pé, entre ruínas, luta, não se rende, tem alguns sucessos militares apesar da terrível desproporção de forças frente ao agressor em todos os aspectos (população, riqueza, armamento etc...).

Até os filhos de Putin, apoiantes do autocrata, arautos dos pensamento múltiplo e da paz a qualquer miserável preço, incluindo a servidão, já andam por aí calados como ratazanas, jurando que nunca simpatizaram com a Rússia, com a balalaika, com os cossacos do Don mesmo quando cantam a “Kalinka” ou com o ballet do Bolshoi.  Eles os bondosos, os mais puros que a água destilada (e tão insossos como ela) apenas querem uma discussãoo séria, objectiva, tendo em conta todos os factores, incluindo o mirífico “Rus de Kiev”, e todas as patacoadas que, partindo do facto incontroverso da agressão ter início em 2014 (e já aí de haver clara intromissão no Donbass e ocupação pela força da Crimeia), afirmam que o “conflito” tem duas partes que ambas terão os seus pecados ao mesmo tempo que esquecem , os inocentinhos, que há um claro agressor e um claro agredido, ponto final, parágrafo. 

A missão de um Secretário Gral da ONU não é a ficar a ver a televisão, a pensar intensamente no que se passa, à espera da Primavera para finalmente se decidir a ter duas palavrinhas com os contendores. E  tê-las depois de toda a gente perguntar vezes sem fim para que serve a ONU e sobretudo o cavalheiro que a secretaria geralmente.

O sr Secretário Geral espera que da sua ida a Moscovo, mesmo depois do que ouviu não só de Putin mas sobretudo dos seus porta-vozes e da canzoada que ladra ainda mais alto, suceda um milagre: um corredor humanitário de Mariupol para o território ucraniano não ocupado.

Prometo ir a Fátima com o sr engenheiro, ou a outro santo da devoção dele, se isso acontecer.  Infelizmente para os ucranianos todos, civis e militares, para as mulheres, crianças e idoso na Azovstal, para os feridos civis ou militares, julgo que será preciso um milagre bem maior que o das Rosas, o de Ourique, ou os do sol a fazer piruetas em Fátima, para isso acontecer. 

O sr. Secretário Geral foi aos trancos e solavancos até Moscovo e Kiev, empurrado pelo tsunami de vozes que, de há semanas  a esta parte, o acossavam pela inacção.

Poderia, apesar de tudo, para além dos narizes de cera que usou nas cidades destruídas ao ver uma realidade que tem também ela dois meses de infâmia, ter dito algo no género, desculpem só agora ter vindo mas não sabia o que fazer, ou tentava em segredo conciliar os inimigos irreconciliáveis, enviar mensageiros secretos aqui e ali, enfim o que lhe desse na real gana. Porém, dizer que este é o momento certo não é só uma mentira rotunda, uma burrice supina, um descaramento impensável. É uma desculpa de mau pagador, uma confissão de impotência  que roça a desumanidade. 

Vir dizer que naqueles prédios esventrados poderia estar a sua família, os netinhos, seja quem for é quase obsceno. Porque não estavam nem estariam, porque estão longe, porque quando os que lá estavam e já não estão entre os vivos, não houve uma voz de um secretário geral, ou de uma secretaria de pinho, a dizer isto é um crime de guerra. Ou se houve foi tão em surdina que de nada serviu excepto para fazer rir os russos que entretanto o brindaram com um par de misseis como quem diz "se quizessemos, ias desta para melhor" (isto no caso de terem mesmo apontado para ali e não para o local do encontro com as autoridades ucranianas ,pois já se sabendo que em questões de pontaria os russos não são propriamente uns génios)

A ONU com o seu conselho de Segurança de opereta que faz o que quer e veta como quer (e até nisto há um sinistro record de vetos onde a URSS, primeiro, e a Russia, agora, são responsáveis por mais de 80%), corre o risco de implodir. É como um barco muito grande cheio de rombos em alto mar.  Só ainda se não afundou porque, justamente, é muito grande. E mesmo assim é bom lembrar o Titanic, insubmersível, que se foi no espaço de dois suspiros...

Eu nada tenho de especial contra a criatura Guterres. Até o apoiei quando se candidatou a primeiro ministro. Estive mesmo no Conselho Coordenador dos Estados Gerais, troquei um par de palavras com ele. Ele não se lembrará de mim, coisa que, de todo, não me incomoda , e eu, em boa verdade, não vejo razões para o lembrar como primeiro ministro. Via-se, viu-se ao fim de dois, três meses, que não tinha estofo para aquilo, que era uma clara demonstração do “princípio de Peter” que ultrapassara bastamente o seu nível de competência. Quando se demitiu, denunciando o “pântano” provou isso mesmo, tanto mais que contribuíra, e de que maneira, para o mesmo terreno alagadiço. A carreira internacional veio provar uma coisa: dá imenso jeito ter umas personalidades que já não servem no próprio país, para preencher uns cargos que não devem ser atribuídos a pessoas oriundas dos países mais poderosos. A campanha para Secretário Geral provou exactamente isso. Ele era o candidato mais cândido possível, o que pisaria menos calos, o que menos ondas faria. E foi reeleito exactamente por isso, por ter feito da mansa resignação e do não movimento um princípio de acção. Imóvel, claro.  

Tudo isso pode não ter especiais e gravosas consequências se as coisas correrem normalmente. Todavia uma guerra na Europa, e não nos confins da Ásia ou nos sertões distantes de África, é uma maçada. Mexe com tudo a começar com uma imprensa livre e combativa, com opiniões públicas esclarecidas e habituadas a vociferar. E com a NATO, a UE e os aliados ocidentais...

E isto, o que se passa, já não é uma guerra local, nem a Ucrânia é um Kossovo qualquer. Há a sombra temível da antiga URSS ou até do antigo império dos czares. Há uma clara ameaça a vários países a começar pela Moldova e a continuar nos bálticos que sabem de que farinha são feitos os vizinhos russos. Não é por acaso ou por uma súbita e inusitada paixão que a Suécia e a Finlândia de repente discutem a sua adesão a um bloco que as defenda (e aliás a Rússia, pela voz de um par de criaturas fora do Kremlin mas claramente “his master’s voice” já abundam em avisos ameaçadores. Ainda ontem, e por muito menos, alguém da banda russa se indignava por o Kazaquistão não querer celebrar o 9 de Maio!... E, entredentes, ameaçava... 

Tudo isto para reforçar a ideia deste texto que nunca pensei ter de escrever: O sr Secretário Geral ainda não percebeu em que mundo vive, para que serve e, muito menos, quão inqualificável é a sua frase “vim no momento certo”. E das duas uma: ou está convencido disto e então é um perfeito incapaz, ou usou esta desculpa de mau pagador e então não é pessoa séria e muito menos adequada para o cargo que ocupa. 

A terceira opção, falta de coragem (ética, política, moral) também poderá ter o seu quê de verdade. 

Mas não apaga as duas anteriores. Antes se lhes acrescenta!

au bonheur des dames 492

d'oliveira, 28.04.22

Frágeis sinais de primavera

mcr, 28.04.22

 

(há 96 anos (mas em Maio) o sr. general  Gomes da Costa, trepou para os costados de u cavalo branco e partiu de Braga rumo a Lisboa alvoroçando populações, convocando guarnições militares que prontamente se lhe juntaram e devagar, prudentemente, foi conquistando o país sem dar um tiro. 

Esperavam-no em Lisboa o almirante Mendes Cabeçadas e mais um par de militares que pensavam ser os comandantes da revolução. Rapidamente perceberam que o não eram e Gomes da Costa governou sozinho até ser diligentemente arrumado como marechal mas sem poder.

Há 53 anos (e também em Maio, daqui a um mês) um nutrida multidão de estudantes de Coimbra, realizou nos jardins da Associação Académica uma Assembleia Magna que decretou a única greve estudantil vitoriosa de que há memória. Saravah, companheiros, amigos e colegas dessa jornada!

 

Isto apenas pretende provar que as datas se sobrepõem ao sabor de movimentos por vezes distintos)

 

Hoje entrei no supermercado sem máscara e também sem máscara fui atendido com gentileza pelos empregados já velhos conhecidos. 

Ao lado do super, numa pastelaria encerrada há dois anos, retiraram os anúncios de proposta de arrendamento. Um porteiro do prédio abaixo do meu informou-me (o que é que um porteiro competente não sabe?) da próxima abertura desse estabelecimento cuja porta fica a 20 metros da saída da garagem da primeira cave do meu prédio e a 100 da porta principal. A trezentos e tal metros numa transversal, sempre dentro do bairro, anuncia-se a abertura de um florista numa loja que também estava encerrada desde o início da pandemia. 

Do lado da esplanada abriu um “salão de estudo” e, pelos vistos, já há clientes. E por aí fora...

São sinais de que a vida económica recomeça a dar sinais de ressurreição, o que está de acordo com o tempo post-pascal que, infelizmente, não ocorreu na Ucrânia apesar do piedoso Putin ter ido receber a bênção de um pope que mais parece um sargento mor do que um religioso. Ou de como as cruzadas ainda estão na moda naquelas paragens longínquas e perigosas. 

O governo quer ajudar à festa contratando agora, e à pressa, cinco mil professores. A iniciativa peca por tardia porquanto este governo sucede a um anterior da mesmíssima cor que, pelos vistos, não amava demasiadamente s escolas e sobretudo os alunos. A reviravolta do ME foi tão repentina que até o sr Nogueira, um profissional de sindicalismo que não vê uma sala de aulas há pelo menos trinta anos, ficou sem palavras. 

Uma querida, boa e bela amiga de que não tinha notícias há muito diz-me agora que vai lendo os meus textos. É seguramente a Primavera a chegar. 

 

 

au bonheur des dames 491

d'oliveira, 27.04.22

Cada cavadela cada minhoca

mcr, 27.04.22

 

Na falta de carne mais apetecível, ama articulista entendeu questionar um desfile  festejando o 25 A por este ser da iniciativa da “Iniciativa Liberal” e por, segunda razão, a embaixadora da Ucrânia ter participado nele. 

No que toca ao primeiro aspecto parece que só os organizadores da tradicional descida da Avenida da Liberdade tem direito a manifestar-se! 

Pelos vistos, e segunda a criatura,  esta “descida” é a única boa pois junta pessoas  e partidos de várias proveniências além dum grupo de antigos militares de Abril. Seria, portanto, uma manifestação “unitária” onde caberiam todos os que se sentem democratas e agradecidos pela chegada da liberdade. 

E assim sendo, não se vê a que título os militantes (ignoro se muitos se poucos) da IL se dão ao trabalho de desfilar festejando uma data que, alegadamente, eles entendem que qualquer pessoa poderia juntar-se, tem lugar.

Eu não vejo nada de mal no facto desta data poder ser recordada por diferentes grupos de pessoas que se sentem mais livres do que no tempo da outra senhora. De resto, e já o escrevi, também não condeno os que fazem do feriado  - e logo deste no prolongamento do fim de semana – um momento de evasão, de mini-férias, de descanso particular. 

Os feriados servem também para isso e boa parte deles não convocam seja quem for para as ruas, para a “luta”, para o patriotismo (o caso específico do Primeiro de Dezembro) para recordar as glórias passadas ou as comunidades (o 10 de Junho) ou o nascimento de um regime já secular (o 5 de Outubro). Duvido que o “Corpo de Deus”, o 8 de Dezembro por exemplo sejam apenas ocasiões para católicos militantes saírem à rua. Do mesmo modo os “santos populares” (que seguramente são os feriados mais partilhados –não incluo o Natal e a Páscoa que mesmo parecendo celebrar datas puramente cristãs são por todos aproveitadas-) não pedem maior esforço do que comer sardinhas, dançar nas ruas, encher-se de cabrito assado e tudo o resto (e mais não digo, eu que festejei o S João de todas as maneiras e sobretudo das que não entram no folhetim por via dos leitores mais pundonorosos, se é que os há e, havendo, não consentem que a carne, que é fraca, se liberte das cadeias que uma moral judaico-cristã mais pesada impõe).

Os feriados são momentos de fuga o quotidiano que é para isso que a democracia  e a liberdade existem.  

No caso em apreço, qualquer pessoa que se sinta grata pela data é d minha família, da minha tribo, do meu particular grupo de amigos. 

Todavia, nem sequer me digno censurar os que nesse dia se vestem de luto, fazem jejum ou cobrem a cabeça de cinza (isto no caso de haver quem o faça, coisa de que duvido pois sei, de ciência certa e segura que qualquer criatura indígena esquece a ideologia e ala que se faz tarde, para a praia, para o campo, para o que muito bem lhe entender. Por outras palavras nunca vi ninguém fazer má cara a qualquer feriado nem protestar  por não poder ir trabalhar para um qualquer patrão nesse dia).

A “Iniciativa Liberal” não quer,  ou não lhe convém, misturar-se com a Esquerda desfilante na Avenida? Está no seu direito e isso não lhe retira o carácter festivo mesmo se obviamente lhe define a orientação política

Como excatamete acontece com quem desfila entre o PC, o BE e alguns independentes de esquerda (incluindo alguns militares de Abril). Este desfile não é um desfile de todos os que se posicionam no campo das liberdades e da democracia mesmo que tente mostrar que e uma frente muito ampla. Nada disso deslustra qualquer organização ou pessoa que, de cravo ou sem ele, entende vir afirmar o seu apoio, o seu reconhecimento ao actual e bevindo regime político em que vivemos.

 

A segunda questão prende-se com o facto de uma embaixadora, a da Ucrânia entender mostrar o seu apreço pelo país que recebe milhares de ucranianos, que envia medicamentos e armas e autocarros para o país infamemente invadido. Claro que a srª embaixadora poderia enviar uma carta, pôr a florinha ao peito, cantar um fado ou a eterna Grândola.  Tudo para dizer do seu apreço à democracia e à liberdade, do seu agradecimento a Portugal e aos portugueses. Nada a impede porém de “fazer” a avenida “pedibus calcantibus” pois que, na minha modesta opinião nesta festa da liberdade cabem todos os que estão neste mundo de boa vontade. Sedesfila com a IL em vez do BE não tem qualquer importância: desfila com quem celebra! E basta (para não dizer chega que agora parece provocação mesmo se essa gente enche a boquinha com a democracia e com a condenação da Rússia invasora). 

A criaturinha de que falo e que comenta os factos quase quotidianamente tem uma insofismável vocação para polícia das consciências, de inquisidora ou até de guarda prisional. É com ela. Mas sair-lhe ao caminho é, seguramente, com qualquer democrata e sobretudo com quem no verdadeiro 25 A estava lá! E eu  com uma montanha de amigos que tentavam resistir ao Estado Novo, estava lá mesmo sem saber se a coisa correria bem ou para o torto.

Celebrámos o 25 A antes dele ser uma festa mas tão só um risco. Já demos para o peditório  de muito “adesivo” e, de mais ainda, de uma multidão de vira-casacas.

 

au bonheur des dames 490

d'oliveira, 26.04.22

Em que terra vivemos?

mcr, 26-4.22

 

 

Na intervenção que lhe cabia como representante do PC,  a actual dirigente da bancada, veio (não se riam, por favor...) insurgir-se contra o “pensamento único” de que, segundo a excelsa criatura, o seu partido é vítima!

Pergunto-me se a pobre senhora acredita mesmo no que a mandam ler ou se estará apenas a divertir-se à custa do pagode tão enorme é a toliçada que solta boca fora.

 

O dr. Pacheco Pereira perora desde há anos, muito, nas televisões num programa que se chamou quadratura do circulo, circulatura do quadrado (oh imaginação!) e não sei que mais. 

Esta longevidade televisiva deve ter-lhe dado a volta às meninges pois só assim se explica que tenha há dias afirmado, com um ar sério e profético, que há em Portugsl um movimento, muita gente, presume-se, que quer erradicar o pc da vida política ou mesmo da vida tout court.  D política entenda-se, supondo que o bom senso a que JPP tem direito, ainda não o levou a asseverar que se pretende exterminar radicalmente o partido e os seus militantes. 

Pessoalmente, dado o curso descendente e declinante daquela organização, em militantes, mandatos e influência (inclusive na rua), acho que a profecia do biógrafo de Cunhal (obra que começada em 1999, vai no IVº volume datado de 2015- há já 7 anos!..) tem frágil base e, sobretudo, não vislumbro por aí uma furiosa cruzada contra Jerónimo sequer contra a deputada Paula acima referida. 

Aliás, basta um dos dirigentes comunistas aparecer para uma chusma de jornalistas e curiosos se precipitarem sobre ele não com intuitos homicidas mas apenas com a malévola intenção de descobrirem mais uma pérola marxista-leninista-jeronimista para gáudio de leitores e aumento de circulação do jornal.

 

A menos que se trate de uma metáfora tirada a ferros do espírito cintilante e jocoso de PP (que não é exactamente alguém dotado do que chamaríamos humor, sequer ironia) a frase parece idêntica à da deputada comunista na tribuna da AR e já acima referida.

 

A comentarista Afonso oferece mais outra pérola (vagamente artificial) no artigo “em cada esquerda um amigo” (Público) que de bom apenas tem a referência à cantiga de José Afonso que merecia melhor comentadora.

Eu já não tenho esperança alguma em campanhas de alfabetização política de adultos, mormente no que concerne à história da Esquerda. A verdade é que em Portugal não abundam textos sobre a  história das Internacionais. E as línguas ditas estrangeiras resumem-se a um inglês básico que, provavelmente, não é usado para ler e estudar seja o que for.

Todavia, e partindo apenas da figura de Marx, esta senhora aperceber-se-ia de nunca houve uma (mas várias) Esquerda fraterna e sorridente para com as heterodoxias, as seitas, as correntes, os desvios. Bem pelo contrário e é por isso que me socorro do velho filósofo que zurzia sem piedade em qualquer criatura que nas mesmas fileiras ousasse discordar dele. (A coisa menos grave que me ocorre é a acusação de “utópico” a Proudhon). Depois é o que se sabe Kaustsky ficou para sempre “renegado”, Bernstein é “revisionista” e por aí fora. O PCF, tinha mesmo um extenso catálogo de insults um dos quais nunca olvidei “víboras lúbricas”. Vishinsky esse imortal procurador da URSS legou-nos uma extensa listas de apodos a adversários todos traidores, todos trotskistas, direitistas et j’en passe, de fino recorte literário político. Por cá também houve uma pequena diarreia de insultos que não foram apenas pertença do pc mas de todos os restantes grupos e “grupelhos” “esquerdelhos” que pulularam a partir de finais de sessenta. Geralmente eram apenas traduções de literatura política estrangeira especialmente chinesa ou albanesa. 

(sobre este artigo de franciscana pobreza não vale a pena gastar mais cera. É igual ao que a senhora vem esforçadamente produzindo dia sim dia não na última página do Publico (ai que saudades do Rui Tavares...)

 

O sr Putin, um ex-oficial superior da ex- pide soviética, veio dizer (ou alguém por ele) que “o fornecimento de armas à Ucrânia, é contrário à paz e só vem prolongar a guerra e o sofrimento das pessoas”.

Isto, quase ipsis verbis, não vos recorda nenhuma declaração política recente?

Será que Putin pagou direitos ao PC pelo argumento?

E assim chegámos ao 63ª dia de intervenção armada especial que nunca foi uma invasão e menos ainda um acto de guerra.   

 

 

Au bonheur des dames 489

d'oliveira, 25.04.22

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Uf! Que alívio!...

mcr, 25.4.2

 

58 contra 42!  É uma vitória “confortável, mais que confortável sem ser esmagadora mas aproximando-se disso.

Só por ignorância atrevida é que, no caso da França, se pode menosprezar estes 16 pontos de diferença. Eu aconselharia os comentadores de sofá a melhorar o seu francês, a ler os jornais, a ouvir as opiniões dos franceses (e ontem eram multidão) mesmo do francês que na SIC explicou a duas sumidades locais e indígenas algumas pequenas nas duras verdades. 

A segunda questão a que se deve prestar atenção é esta: a extrema direita francesa tem muitos e muitos anos de vida, existiu sempre , não é de hoje, de ontem ou anteontem. Basta lembrar o século XX, a longa presença contínua que vai dos inimigos de Dreyfus aos croix de Feu, a Vichy e por í fora.

Ao lado coexistiu sempre uma Direita moderada, que se dividia entre os radicais e outras espécies autóctonas. A partir da Vª  República, de Gaulle federou por largos anos a Direita ms teve sempre uma extrema direita a combate-lo, incluindo com atentados sob a marca da OAS. 

Por seu turno, a Esquerda francesa sempre teve um partido socialista, a SFIO, ou sja a Section Française de l’Internationale Ouvriére, fracções radicais , o PCF (a partir do Congresso de Tours, um peueno mas ágil partido trotskista e, já nos anos 60 diversas facções maoístas, ecologistas e anarquistas.

As eleições presidenciais, na Vª República sempre dividiram a França em dois . Não é de agora, de ontem (as anteriores presidenciais que viram Macron despontar), nem de hoje estes dois campos. Chirac precisou de uma “união sagrada e republicana para bater o pai Le Pen e nessa altura ninguém uivou que vinha aí o lobo...

Ou seja, no sistema eleitoral francês, houve sempre dois campos e a extrema direita sempre apostou num, enquanto a extrema esuerdase inclinava para o outro mesmo se, e aqui há um ponto importante, sempre tivesse havido sob diveras desculpas uma tendência para não escolhr o seu campo. Não é de hoje que alguma extrema esquerda se refugia na abstenção à segunda volta. 

O que é mais recente, e isso ontem viu-se, é uma fracção da extrema esquerda (leia-se melenchonista ) virar-se para o regaço da srª Le Pen (e foram 20% dos eleitores da “France insoumise”  darem esse passo fatal e inacreditável!).

E no capítulo dos quês se abstiveram lá esteve também uma bela fatia de adeptos de Mélenchon.

Portanto, o campo lepenista contou com os já tradicionais e reais 15-20% de adeptos puros e duros de sempre, com todos os votos de Zemour,  “lebre” oportuna e útil da candidata que, pelo mero facto de existir, e de ser ultra-radical, quase a tornou frequentável, os rapazes e raparigas “jovens” e desiludidos bemcomo estractos importantes vindos da classe média que se sentem marginalizados pela globalização, pelo custode vida, pelar reformas urgentes e necessárias de Macro que tentou acabar com privilégios extraordinários e inconcebíveis numa sociedade moderna  (desde a idade da reforma até aos estatutos corporativos de uma boa centena de profissões ou empresas – caso SNFC p. ex.)

Uma quarta  questão que cá abriu a boca a ignorantes, é a da abstenção. A abstenção nas presidenciais atingiu 28/29%, um máximo em muitos anos. Comparem-na com a de cá e depois a gente conversa.

A alegada “atribulada” vitória de Macron, na versão lusitana, parece fazer esquecer que ganhar um segundo mandato é algo que há muito não se via em França! Pelo menos, e sem ter de ir pesquizar, recordo que nem Sarkozy (Direita) nem Holande (Esquerda)  conseguiram este resultado. Percebem ou é preciso fazer um desenho.

Eu escrevi aqui não há muito tempo que desta vez as coisas estavam complicadas e havia uma forte incerteza  quanto ao desfecho. Mesmo com Macron à frente, é verdade que Le Pen e Mélenchon o seguiam de perto. E também é verdade que o último nunca deu um apoio claro ao vencedor mesmo se, depois de muito instado, lá se aventurou a dizer que votar na Direita era inaceitável. E isto quando os seus jovens admiradores pintavam de igual os dois finalistas!  

É bom lembrar que o re-eleito Presidente, apanhou com o covid, com os coletes amarelos, com a atual guerra, com a guerrilha dos eternamente insatisfeitos (e na França isso é mais do que uma vocação).  

É por isso que volto a repetir: foi uma grande vitória, uma vitória saborosa, extremamente confortável, num cenário de incerteza e de flutuação do eleitorado que, por sua vez,  fez evaporar partidos tradicionais desde o socialista aos gaulistas ou o pcf...

É obra!  Por muito menos se perderam eleições noutros países.

Pessoalmente sinto-me aliviado, contente, de parabéns. Por mim, egoisticamente, por Portugal, pela Europa e pela Ucrânia. 

(quanto ao sr Putin, ele que engula a derrota de uma amiga do peito que, aliás, financiou. E já isto é outro, e bom motivo, para achar que ganhei o dia de ontem e tenho mais um motivo para celebrar o de hoje que também é meu por muitas e sólidas razões como fartamente narrei em vários folhetins quase todos publicados por estas alturas.

E é altura, mais uma vez, para relembrar comovido mas alegre, dois amigos que nesses dias 24 e 25 se dispuseram a arriscar muito: Rui Feijó e Jorge Delgado, (mortos há anos) que fizeram pelo 25A mais do que eventualmente uma resma de futuros medalhados pelo Sr. Presidente da República.

*na imagem, um dos meus locais favoritos desde sempre. A esplanada do "Les deux magots" a que nunca falho. Um "express", o jornal "Le Monde" a vista da praça de St Germain des Prés e ala que se faz tarde para uma boa dúzia de livrarias, duas das quais a poucos metros de distancia. Espero estar lá daqui a um par de semanas que quase tres anos sem Paris foi horrível!

 

 

 

 

 

 

estes dias que passam 680

d'oliveira, 24.04.22

Com uma vénia a Shakespeare

mcr, 24 de Abril de 2022

 

(a posição do PCP é coerente e honrada” Jerónimo Sousa)

 

 

Permita-se-me que chame à colação o dr. Álvaro Cunhal, não só por ter sido secretário geral do PCP mas também por, ao longo da sua vida ter eventualmente sido leitor de Shakespeare, ou pelo menos seu tradutor. De facto, durante um dos períodos em que esteve preso, AC traduziu o “Rei Lear” e essa traduçãoo acompanhada por desenhos seus chegou a ser publicada em fascículos por uma editora que se chamaria Scarpa. Se a tradução foi feita  partir do original ou, do francês (como na época era moda) não sei. Também desconheço se Cunhal limitou o seu conhecimento de Shakespeare a este título (de todo o modo uma das principais e mais famosas do autor)  ou se era um leitor, quiçá um admirador do notabilíssimo dramaturgo.

Tudo isto para afirmar que no caso da “operação militar especial “ russa e do entendimento que dela faz o PC, usasse o adjectivo “honrado”.

É que ao usá-lo, remeteria sempre para o extraordinário discurso de Marco António, na versão shakespeareana, claro 

Deixo no final um excerto dessa peça oratória que é um dos trechos mais citados (e eles são multidão e todos magníficos) do homem de Stratford upon Avon)

Em resumo como verificarão, Marco António, no discurso fúnebre sobre César afirma, preto no branco que Bruto mente ao acusar César parasse defender de ter sido um dos mentores do seu assassínio. E há uma repetição extraordinária da frase “mas Bruto é um homem honrado”  que funciona no texto exactamente ao contrário.

Eu, já aqui disse, que duvido que Cunhal partilhasse a inacreditável certeza opinativa do PC e seus subordinados e aliados, quanto à  “operação” criminosa da Rússia que, mesmo depois de tudo o que se tem visto, continua a acusar a Ucrânia de tudo o que a Rússia a acusa e a defender que só o diálogo leva à paz. Mesmo quando se verifica que o diálogo é impossível sobretudo se enquanto ele se realiza as bombas continuam a destruir tudo, a matar gente, sobretudo civis. 

O PC, na voz dos seus dirigentes, melhor dizendo na cassete que repete até à exaustão, continua a esquecer que há um agredido e um agressor. É verdade que jura pelas barbas de Marx, Engels e Lenin (e pelo bigode farfalhudo de Stalin..) que nada tem a ver com a “Rússia capitalista” mas apenas serve os interesses da paz e recusa “o belicismo, a xenofobia” ucranianos e mais ainda a intrínseca maldade americana, europeia e da NATO, tudo criaturas, nações, organizações interessadas em apostar na guerra mundial, ou sectorial e tudo às ordens de gente ávida que negoceia armas e é objectivamente o réu mais importante deste conflito. 

Jerónimo de Sousa parece ter esquecido o horror da guerra, ele que esteve no “ultramar” integrado no exército português que combatia as aspirações independentistas africanas. Eu desconheço (nem me interessa já) qual o seu papel nesse longo conflito. Sei apenas que, para quem enche a boca de anti-colonialismo e passa a vida a acusar tudo e todos das mais sórdidas acções contra o povo, os pobres, a paz, os trabalhadores e tudo o resto, seria bom verificar cuidadosamente se não tem telhados de vidro. 

Aliás, corrijam-me se estou errado, Jerónimo de Sousa nunca usa a palavra “invasão” e deixa no ar sempre a suspeição de que as duas partes se equivalem, como se a Ucrânia tivesse tentado ocupar Moscovo, Smolensk ou Volgogrado, como se tivesse chacinado milhares de civis indefesos e destruído casas, fábricas, escolas,  hospitais como ocorre um pouco por todo o território ucraniano.  

Há nisto matéria para não uma mas três peças de um dramaturgo da força de Shakespeare, para se poder aquilatar desta “peregrinatio ad loca infecta” (se me é permitido citar um título de Jorge de Sena). E tudo isto envolvido numa afirmação “tenho muito orgulho em ser português” (e talvez um bocadinho russo, na versão soviética, a que ocupava países, oprimia a Hungria e a Checoslováquia  para citar apenas duas realidades ocorridas já quando Jerónimo era crescidinho. Ou para retalhar a Geórgia, na época já só russa mas igualmente bestial e infame. 

Como se o PC ou quem por ele fala, fosse cego, surdo ou pelo menos vesgo. A menos que apenas estejamos perante um caso de má fé absoluta, de tentativa de enganar os tais portugueses que numa maioria assombrosa se apiedam do país agredido, se mobilizam para o ajudar de todas as maneiras possíveis, recebendo refugiados e condenando sem apelo nem agravo os vilões desta barbaridade que mansamente o PC (à imagem e semelhança do seu “irmão” russo, uma coisa que vive às ordens de Putin e que foi responsável por uma proposta de lei na Duma para reconhecer as repúblicas títeres do leste da Ucrânia, e provavelmente para propor a sua absorção pela federação russa)  é absolve dizendo por junto que é contra o regime capitalista russo.

Valerá a pena dizer, citando, que Jerónimo é um homem  honrado?

 

O nobre Bruto  contou-vos que César era ambicioso. Se ele o foi, realmente, grave falta era a sua, tendo-a César gravemente expiado. Aqui me encontro por permissão de Bruto e dos restantes — Bruto é César foi meu amigo, fiel e justo; mas Bruto disse que ele era ambicioso, e Bruto é muito honrado. César trouxe numerosos cativos para Roma, cujos resgates o tesouro encheram...

Para os gritos dos pobres tinha lágrimas. A ambição deve ser de algo mais duro. Mas Bruto disse que ele era ambicioso, e Bruto é muito honrado.

SE o vistes nas Lupercais: três vezes recusou-se a aceitar a coroa que eu lhe dava. Ambição será isso? No entretanto, Bruto disse que ele era ambicioso, sendo certo que Bruto é muito honrado. 

Contestar o nobre Bruto não pretendo; só vim dizer-vos o que sei, realmente. Todos antes o amáveis, não sem causa. Que é então que vos impede de chorá-lo? O julgamento! Foste para o meio dos brutos animais, tendo os humanos o uso perdido da razão. Perdoai-me; mas tenho o coração, neste momento, no ataúde de César; é preciso calar até que ao peito ele me volte."

 

 

Eu não tenho nenhuma edição de Shakespeare em Português  e a preguiça impediu-me de dar aqui uma feita por mim. Servi-me da internet e entendo que esta que usei é razoavelmente  fiel. Entretanto cortei alguma parte mesmo se reconheço que isso só diminui a enorme qualidade do trecho.

 

 

 

 

au bonheurs dames 489

d'oliveira, 22.04.22

Aventuras com computadores 

mcr, 22-4-22

Já por várias vezes aqui o confessei: sou um analfabeto informático.

Um info-excluído! Um caso perdido. Conseguir ter um mail, enviar correio, escrever um blog, consultar a internet, fazer compras on line é um prodígio e, creiam-me, uma façanha para mim.

Todavia, à minha ileteracia não foi suficiente para evitar quepejasse esta casa de computadores. Sempre fui um usuário "apple" e desde que comprei o primeiro instrumento nunca mais quis outro.Isso, nos anos 90 (e  fins de 80) foi um desafio. todos os meus amigos, os que poderiam dar-me uma ajuda, ensinar qualquer coisinha. O que eu sofri!...

A apple tinha nesses anos e até há uma dúzia de anos outro defeito: não havia mercado de usados. Isto significava que sempre que eu me deixava seduzir por uma nova e melhor máquina, ficava com a velha. Nalguns casos despacheia-a para pessoas que sem pagar um cêntimo sempre ficavam mais bem servidas. De todo o modo, foram-se acumulando. além de um icónico imac dos de bola, mais três portáteis. Um, foi vítima de um banho na esplanada e perante o escandaloso preço do arranjo foi imediatamente substituído pelo seguinte. Depois, sei lá porque razões, apareceu um terceiro portátil (este macbook air). Entretanto, a santinha da ladeira lá terá influenciado o meu genro que depois de insistir para ver o finado por afogamento, chegou-lhe um dedo ameaçador e aquilo voltou à vida como se nada fosse. É o meu computador de rua. Contas feitas há quatro computadores mesmo se um, o de bola apenas sirva para jogar bridge. De facto o software de bridge que uso é, até à data, o melhor que encontrei mas infelizmente não há versão capaz para computadores mais modernos. 

O outro  ( um macbook pro) vai prestando honroso serviço  e está ancorado no que chamamos escritório 2. 

Em suma três portáteis, um de mesa além de outro portátil com mais de 25 anos  estacionado em casa da minha mãe e também adequado ao bridge. 

Ora acontece que há dois dias (provavelmente) terei num gesto elegante e moscovita mexido onde não devia e causado assim uma avaria (um "bug", raio de ingliche!) que não sendo de proporções ucranianas, me cortou o acesso à internet. A coisa começou num e pouco a pouco passou para os restantes sem eu perceber patavina do que se passava.

Felizmente, tenho desde há vinte anos, mais dia menos dia, uma empresa familiar que me presta assistência. Já os sinto mais como amigos (excelentes) do como fornecedores de um serviço. Tenho por mim, e fundado na abalizada opinião de um desses génos da apples, que o técnico Rui Silva é do melhor que há por aí. 

Claro que me precipitei ao primeiro sinal para a loja e hoje, depois de verificar que o desastre atingia os restantes continuei nessa peregrinação. 

Obviamente, ao fim de fazer vários testes, aliás demorados, o sr Rui Silva descobriu o motivo daquela desgraça e com uma diplomacia que falece a muita e muita boa gente, sempre me iformou que algum gesto mais distraído meu tinha feito não sei que maldades a uma firewall (!!!???###) e isso passara subtilmente de um compatador para os restantes . Resolveu o problema, mandou-me passar um bom feriado com um sorriso e dnão permitiu que eu, o perigoso manipulador de computadores inocentes mas imperialistas, belicistas e xenófobos, pagasse! 

Eu, entretanto tinha escrto mais uma vez sobre três criaturas negacionistas da guerra. E tinha até um título enorme ("cristalizar no ortorrômbico ou os antidiluvianos "pretendendo significar que esta gente ou parou nos piores anos da guerra fria ou ainda não percebeu que o muro de Berlin caiu e que a URSS implodiu. Para quem confunde agressor e agredido tudo é possível)

Agora, resolvi pôr o texto na lista dos "borrões" e deixar este testemunho muito mais ligeiro das minhas proprias inépcias. Estas têm pelo menos algo de menos mau: não prejudicam ninguém apenas ferem o meu escasso amor próprio no capítulo informático e são também sinal da idade que me fez chegar tarde à revolução informática. Demasiado tarde... 

Festejem o 25 A como acharem melhor. Ninguém é obrigado a fardar-se de cravo vermelho ou a desfilar pela avenida mas se o fizer também ninguém, e eu muito menos, o olhará de soslaio. A democracia é isto: fazer o que nos dá na real gana sem prejudicar quem quer que seja e, se possível, aumentando o nível de felicidade próprio e dos outros. Ai a liberdade é algo de maravilhoso...

 

 

diário Político 233

d'oliveira, 21.04.22

A”ajuda”

d’Oliveira fecit, 20 de Abril de 2022

 

O cavalheiro da gravata vermelha, de seu nome Jean Luc Mélenchon  apela aos seus votantes para “não darem um único voto que seja.  à sr.ª Le Pen” (sic).

Também terá dito “não se abstenham” (cfr “Público” 20-4-2022). 

Convenhamos que isto, este súbito e tardio despertar para parte  (só parte) da realidade  é melhor do que nada.

Porém, mesmo as duas frases juntas não dizem “votem Macron” que além da Le Pen é o único candidato em liça. 

Candidato democrático, ninguém se atreve a pôr isso em questão, com uma governação que teve bons resultados económicos, de política internacional e claramente aumentou o prestígio da França, parece que Macron tem a tarefa mais facilitada. 

Ora, apesar de tudo, isto não significa que os rapazes e raparigas que ainda há dias invadiram a Sorbonne e a pixaram de frases e tags tontos,  não resolvam no segredo do “isoloir” votar no capitão Marvel ou pretinho da Banania, se é que tal criatura ainda povoa o universo publicitário francês. 

O jornal afirma que Mélenchon é a “única grande figura da Esquerda francesa” o que diz muito, senão tudo sobre a ruína da mesma Esquerda e sobre a confusão ideológica que por lá prospera.

Eu lembraria, caso o sr Jerónimo de Sousa permita, o dr. Álvaro Cunhal durante o duelo Soares/ Freitas do Amaral na eleição para a Presidência da República. 

Cunhal não gostava de Soares que lhe retribuía a mesma falta de carinho. No entanto, naquele caso, e numa eleição que não tem a mesma importância da francesa, o velho dirigente comunista nem hesitou e afirmou a todos os seus camaradas que se fosse preciso engolir um elefante (ou um sapo, já não recordo) que o engolissem, votando de olhos fechados e lavando depois a mão pecadora com muito álcool etílico,   em Mário Soares.

É isto que distingue uma grande figura de Esquerda (o caso portuguesa) daquela caricatura francesa. 

Pena é que a lição do “intransigente”  Cunhal tenha sido esquecida tão depressa. Se o não tivesse sido, o PC talvez não tivesse averbado uma tão estrondosa derrota nas últimas eleições e talvez não estivesse tão entalado como está no que diz respeito à sessão da AR com Zelensky. 

É porém sabido que às águias sucedem muitas vezes perus que tentam voar como se fossem pavões... e dão com a cabeça no cão como qualquer vulgar galinha pedrês.  

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