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mcr, 20-04-22
A guerra, aquela guerra rápida e indolor que se travestia de “operação especial” já vai em mais de 50 dias. É provável que também já vá em mais de 50.000 mortos. Bastaria poder contabilizar com um mínimo de segurança as baixas no exército invasor russo que alguém razoavelmente credível já estimou em mais de 20.000. Juntem-lhe os mortos já confirmados e o número supera a horrenda estatística apresentada.
Todos os dias nos entram casa adentro, imagens de destruição que só tem paralelo em Alepo na Síria e em Grozni na Tchechénia (que não por acaso foram perpetradas por heroicas tropas russas, amantes da paz, do progresso e da humanidade.).
Em Portugal, umas criaturas vindas da banda da Esquerda, viram-se na necessidade de se proclamarem vítimas do “pensamento único” (sic), da afrontosa propaganda dos belicistas defensores da culpada Ucrânia, apenas por apontarem, vejam lá, as “evidentes, antigas e redobradas culpas” dos americanos, da NATO e da União Europeia.
Hoje, uma comentadora no “Público”, Maria João Marques, num notável texto (os males do pensamento único e a sua acidental razão”) vem apontar o dedo aos “russistas” e aos seus queixumes: apesar de escreverem onde querem e quando querem, eles vêem-se acusados. Acusados pelas imagens, pelos mortos, pelas runas, pela gigantesca onda mundial de simpatia pelo invadido. Seria caso para perguntar se alguma dessas nefelibáticas criaturas foi insultada na rua, agredida, impedida de escrever (e de receber os seus trinta dinheiros de estipêndio pela escondida propaganda do agressor) onde quer que seja.
Em boa verdade, estas alegadas vítimas do terrorismo intelectual pró-ucraniano (e cada vez mais evidentemente pró-europeu...) já não sabem como fugir com o dito cujo à seringa. Tinham apostado tudo numa guerra rápida e “limpa” questão de oito dez dias no máximo, com uma Ucrânia caída de joelhos e esmagada pelo “amigo” russo.
Tinham apostado tudo no silêncio da NATO, no encolher de ombros dos europeus, na velha tradição americana do não intervencionismo, tão avançada pela retirada do Afegnistão (onde milhões estão ameaçados pela fome, de par com a falta de liberdades básicas), pelo indecente abandono dos curdos na Síria, depois destes terem sido os principais destruidores da infâmia islâmico-terrorista, pela desastrada aquiescência à ocupação da Crimeia (território que, dizia-se estaria empapado de sangue russo, quando na verdade se sangue lá há e muito pertence aos Tatars vencidos e posteriormente expulsos da península para zonas longínquas, pois foram ucranianos sobre as ordens de Potenkine que fizeram o frete da guerra como aliás era normal-ninguém iria buscar tropas a centenas de quilómetros se ali já tinham soldados experimentados)
A grande verdade, é esta e vergonhosa: toda a gente assobiou para o lado quando a Rússia auto-proclamou as duas republiquetas seccionistas do leste e num golpe de mão ocupou a península. “Ninguém queria morrer pelos sudetas ou por Dantzig, digo por estas terras no fim do mundo e nos limites da Ucrânia.
As tímidas e modestas reacções ocidentais, um par de sanções económicas e o não reconhecimento do fait-accompli, bastaram para encorajar o autocrata, a sua corte, o seu séquito de militares corruptos e brutais.
Os ocidentais fingiram que a Rússia, aquela Rússia, era igual em questões de democracia cidadã, imprensa livre ao que no Ocidente, bem ou mal vem vigorando. E que nesse país, devastado pela corrupção, atravessado por diversos e poderosos movimentos de extrema direita, governado por ex-pides , digo ex-kgb (que é o mesmo ou, eventualmente, pior), com uma tradição de eliminação de adversários políticos, jornalistas inconvenientes ou meros protestários pelo eficaz método do envenenamento, os ocidentais, dizia fingiram que estavam a lidar com um seu igual, com direcções políticas que se renovavam através de eleições livres e democráticas como se Putin e o seu títere Medvedev não se passassem o poder num pingue-pongue ridículo e pornográfico.
Os russistas engoliram tudo isto na ànsia de condenarem o seu inimigo interno de estimação, o capitalismo, o liberalismo, a democracia parlamentar e os direitos humanos. Numa palavra, identificaram, como sempre, os EUA, a NATO, a UE. Ou seja, recorreram à langue de bois antiquíssima, à casste de todos os dias, na esperança que o conformismo, o receio de uma guerra bastassem para silenciar as vozes de quem está em desacordo com eles.
Agora, a cada dia, a cada vala comum, a cada bomba que cai e entra pelas nossas casas via tv, já não sabem a que santo se votar.
Os sacanas dos soldados, treze exactamente, que mandaram o navio russo à puta que o pariu estragam tudo e ameaçam os filhos de Putin com a tirania do pensamento único.
O que ainda por cima é mais extraordinário, e que estas almas cândidas, puras insípidas, inodoras e incolores como a água destilada, sabem pertinentemente que o poder russo apoiou continuamente, por todos os meios, incluindo os financeiros a extrema direita europeia e americana, as Le Pen, os Trump, os Salvini et alia. E que, paralelamente, através da pirataria informática (oficial mesmo se dependente dos serviços secretos), tentou por todos os meios desorganizar grupos e organizações democráticas, semeando boatos temíveis sobre a candidatura democrática de Clinton e mais tarde de Biden para não ir mais longe.
Vê-se que aquela antiga e patusca acusação que esteve na moda no MRPP nos anos em que aquilo ainda parecia um partido, a saber a acusação de “agitar a bandeira vermelha para melhor destruir a mesma bandeira” (a que juntou depois a campanha da bandeira vermelha contra a bandeira negra, num processo que já na China maoísta tivera eficaz e trágico resultado, mantem, na actualidade, mesmo na sub-desenvolvida actualidade de uma certa e auto-proclamada Esquerda portuguesa, os seus fiéis, os seus acólitos, os seus tristes imitadores.
Não estou a apontar para nenhum jornal mais tímido mas tão só ao que quer no Expresso quer no Público (que são praticamente os únicos jornais que levam a sério a diversidade de colaboradores e comentadores) se pode ler. No primeiro, em artigo maçador e longo (como de costume) até já faz a apologia da paz, de uma paz com “custos” (claro) para a parte invadida, a saber a resignada aceitação de mais perdas de território a juntar às de 2014. E continua-se a acusar a NATO, ou melhor a hipótese de adesão à NATO como razão para a “libertação” dos pobres cidadãos governados por nazis ou quase!, por anti-russos, por anti-ortodoxos, por perseguidores da língua e cultura russas!!!
E tudo, claro, em nome da luta contra o pensamento único!
*a vinheta: antes que me acusem de pensamento único sempre adianto que isto que parecem valas comuns é apenas um conjunto de canteiros de flores semeadas pelos bondosos ocupantes russos desta região. ao que a propaganda armamentista, belicista, capirtalista e anti russa chega!