au bonheur des dames 500
A vida mudou
mcr, 31-5-6
Dois anos de pandemia com uma guerra por cima (já lá vão quase 100 dias...) alguma mudança haviam de trazer.
A começar por um claro empobrecimento de certas zonas do mundo, sempre as mais frágeis, sempre as do costume, as mais evidentes.
A crise ucraniana (até eu já me esqueço da guerra...) tem, para já uma consequência grave: Países importadores de cereais não os terão ou terão muito menos e a muito maior preço.
Uma frota de navios piratas no Mar Negro, proíbe, aniquila ou rouba o que poderia sair dos porto do sul da Ucrânia. Como se o poder arrogante e criminoso da Rússia proclamasse que mesmo não conseguindo desembarcar não permitirá nenhum embarque.
A arma da energia, mormente do petróleo e do gás russos na Europa poderá virar-se contra o fornecedor mas, a curto (e mesmo a médio) prazo isso encarecerá a produção industrial sobretudo no caso dos países sem acesso directo ao mar.
(no meio disto tudo, que nos toca também e de várias maneiras, uma coisa surpreende: ontem e anteontem a campanha de recolha de alimentos do Banco alimentar bateu o recorde anterior: as pessoas pagaram mais por mais alimentos doados. É verdade que a situação em Portugal melhorou mesmo se os indicadores ainda não cheguem aos de antes da crise. Mas isso, essa percepção de que as coisas estão lentamente a voltar ao sítio, não justifica este pequeno mas honrado arroubo de solidariedade. Demos mais e mais caro!
Chamem a isto o que quiserem, caridadezinha por exemplo, mas é isto que num curto prazo resolverá momentaneamente problemas herdados da pandemia, da perda líquida de empregos.
Não chega? Claro que não chega mas neste capítulo é a generosidade e a boa vontade que primeiro se chegam à frente. )
Os leitores desculparão as linhas entre parêntesis aí em cima mas, para alguém que sempre aponta o dedo à ferida há pequenas coisas que devem ser apontadas. Mesmo se o sentimento não substitui as medidas de fundo que tardam.
Entretanto, eu dizia que a vida mudou. Nada de muito forte, nada de extraordinário mas há pequenos sinais. Pelo menos cá em casa.
Perdemos uma empregada (e uma amiga) de mais de vinte anos de bons e leais serviços. A pandemia e os anos atiraram-na para a reforma mais que merecida. Como temos sorte e porque pagamos bem acima do salário mínimo encontramos que nos quisesse dar dois inteiros dias de trabalho. Não é a mesma coisa mas é o que há e estamos bem contentes. Para os restantes dias encontramos soluções várias. Agora recorremos muito ao take away local e à encomenda de géneros. O peixe chega, fresquíssimo, pela mão do sr José Manuel, já pronto a cozinhar. E pelo mesmo preço da concorrência!
Fruta e legumes também são cá entregues sem que isso, esse trabalho que me poupam (sou o moço de recados desta família), se afigure mais caro do que antes. A roupa é toda passada fora e a CG jura que isso se traduz numa economia dupla: de tempo e de electricidade. Às terças a D Maria vem buscar a trouxa e às sextas traz tudo num brinquinho. Ou vice-versa, já nem sei...
As contas que entretanto a CG foi fazendo indiciam que a despesa não aumentou o que já me basta. Claro que se conseguíssemos alguém por uma ou duas manhãs isto ainda correria melhor pois entre a CG e o pó e o lixo (real ou imaginário) a guerra tem anos e pelo menos um acusado: eu!, o autocrata de serviço, o encarregado das compras diárias, de todos os recados em troca da permissão de saída para um café e a leitura do jornal na esplanada.
Homem sofre!