au bonheur des dames 517
A verdade é sempre revolucionária
mcr, 30-7-22
A frase que dá título ao folhetim será da autoria de Gramsci, um intelectual italiano e figura inquestionável do PCI.
No caso que hoje me ocupa, temos que uma prisão situada no território separatista de Donetsk foi bombardeado. Os russos afirmam que o bombardeamento foi feito pela Ucrânia e que matou uma quarentena de prisioneiros de guerra ucranianos. Também informaram que nenhum, nenhum – notem bem – dos guardas foi sequer ferido! Prodígios da guerra moderna e dos mísseis de precisão!...
Temos assim que, não contentes em perder soldados, os ucranianos eliminam os seus homens que se deixaram aprisionar !!!
Isto, aliás, no exacto momento em que os mesmos ucranianos mostram e julgam os prisioneiros de guerra russos. Por razões que me escapam estes prisioneiros inimigos são poupado se estão vivos.
Também se sabe, mas isso não foi negado, que mísseis russos de longo alcance atingiram os portos ucranianos de onde, segundo um acordo solene, sairiam barcos carregados de cereais para várias partes do mundo.
Os russos, desta feita, limitaram-se a dizer que esses bombardeamentos (dois dias seguidos, sem se saber se hoje voltaram a acontecer) não se destinavam aos silos de cereal mas a infra-estruturas militares ucranianas! Parece que as alegadas infra-estruturas estão intactas e que os misseis atingiram outras áreas mas não os cereais...
Aliás também se ouvem sempre o alto comando russo anunciar diariamentenotáveis progressos no bombardeamento de depósitos de material de guerra inimigo. Costas feita, por um amigo meu que tem uma evangélica paciência, levam-me a crer que só dos novos lançadores de mísseis fornecidos pelos americanos já foram abatidos 47! O que não deixa de ser interessante se soubermos que ainda não foram entregues sequer quarenta. E, pior, se soubermos que alvos russos, quer no Donbass quer na zona confinante com a Crimeia, são diariamente atingidos pelos eventualmente inexistentes mísseis !...
Também, e sempre nesta onda mansa de verdade revolucionária ficamos a saber que os milhares de alvos ditos civis ucranianos e atingidos pela artilharia, aviação e mísseis de longo alcance russos, eram afinal tremendo quartéis, carregados de armas. Mesmo quando vemos escolas em ruínas podem estar certos que aquilo que parecem carteiras de meninos são afinal espingardas, metralhadoras, bombas e outros malévolos artefactos destinados a matar os libertadores enviados por Putin, o novo pais dos povos.
Bem faz o PCP, os seus filiados, os “amigos” e a restante comandita progressista e amante da paz entre os povos, incluindo os “russistas” nacionais, que pretende que esta guerra ão é uma guerra, que as duas partes (ditas agressor e agredido) são iguais, capitalistas e fascistas e que nunca a antiga pátria dos falecidos sovietes (aliás mortos e enterrados por Lenin como se sabe) seria incapaz de levar a guerra sequer a uma colónia de vespas asiáticas quanto mais a “povos irmãos”.
Ese falei em sovietes é porque, a URSS também usou os mesmíssimos argumentos quando desencadeou a repressão do 17 de Junho em Berlin, quando invadiu a Hungria ou sufocou a “primavera de Praga”. Isto sem falar da fraternal invasão do Afeganistão...
Aliás, basta recordar as posições do PCP nestas alturas para verdadeiramente se entender que não houve nada de repressivo na actuação do exército e do partido comunista soviéticos...
Temos, pois, que a morte dos prisioneiros de guerra ucranianos (mas não dos guardas) foi perpetrada pelas hordas sinistras da Ucrânia que, como se sabe não foi invadia mas invadiu a Rússia e, provavelmente também a Bielorússia (de onde saíram, em Março passado, mais de 20.000 soldados russos rumo a Kiev.
Resta averiguar o caso de centenas de cidadãos ucranianos das cidades a norte da capital e que apareceram em valas comuns. Ainda se provará que foram também eles executados pelos nazis ucranianos que, desde sempre, tentaram destruir Moscovo ou S Petersburgo. Felizmente o camarada Putin benevolente ex-coronel da pide soviética vela pela paz e pelo progresso da Federação russa e, já agora, pela felicidade dos irmãos portugueses que o PCP (com a desinteressada ajuda de alguns intelectuais acima de toda a suspeição, tão dignamente representa.
A “verdade, a áspera verdade” (Danton) opõe-se assim à verdade sempre revolucionária ou, traduzida em português e em calão à “verdade a que temos direito” (slogan do falecido jornal “O Diário” -1976-1990- , falecido após doença prolongada e exacerbada falta de leitores ).
* a vinheta : ilustração da famosa frase “gato escondido com o rabo de fora” Os amáveis bichanos não tem culpa nenhuma mas como se sabe há verdades que de tão verdadeiras acaba escondidas com o rabo de fora...