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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

o leitor (im)penitente 245

d'oliveira, 18.09.22

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 (uma vida através de livros  4

mcr, 18-9-22)

 

Des méritres comparés du saké et du riz (ilustré para un rouleau japon is du XVII siécle)

 

O livro de que hoje  trato é recente na minha biblioteca e o fato de a ela pertencer deve-se mais a uma série de acasos e manias do que a um propósito definido do leitor (im)penitente.

Sou desde há  cerca de trinta anos um admirador da pintura japonesa, melhor dizendo da xilogravura do mesmo país, uma arte que floresceu especialmente entre o século XVII e o XIX embora ainda esteja muito presente nos tempos actuais.

Ao longo dos anos fui pacientemente reunindo álbuns dos grandes mestres, tenho algumas estampas mas não espero ter  alguma vez uma colecção como a de Van Gogh ou de Manet que foram alvo de recentes e sumptuosas ediçoes. Não me limito a álbuns ditos clássicos  mas estendo a minha curiosidade à arte “shunga” ou erótica que em seus tempos fez as delícias de alguma literatura também ela erótica no Ocidente. Era conhecido o famoso convite dirigido a meninas incautas (ou nem tanto) para ir ao apartamento de um sedutor para ver as suas estampas japonesas. Provavelmente virá daí inconscientemente este meu interesse pela arte japonesa com que me cruzei pela primeira vez em Berlin no longínquo e nem sempre. amável ano de 1970 De facto foi aí na kurtfurstendamm que pela primeira vez vi exemplares do Ukiyo-E. Ainda conservo esse primitivo catálogo e sobretudo a sensação de encantamento que terei sentido no meu 29º ano de vida. 

Porém, como dizia, este texto, uma comparação dos méritos do arroz e do saké  (aguardente de arroz), mesmo antigo não me suscitava especial interesse. Sou leitor de clássicos japoneses mas confesso que até ter lido este saboroso e divertido texto em que três criaturas dialogam, nunca me lembraria de o compulsar menos ainda de o comprar. No entanto, a menção a um rolo de estampas em contínuo de 732,5 x31,1 cms encheu-me de curiosidade que, no caso dos leitores é um vício temível, admirável e desejado (e caro!)

E foi assim que este clássico fabuloso me veio á mão numa belíssima edição da conhecida editora Diann.e de Selliers, em co-edição com a Biblioteca Nacional de França onde se guarda o manuscrito.

Além do mais, o pequeno manuscrito vem acompanhado de toda uma série de notas e apontamentos que para um maníaco curioso valem quase tanto quanto a obra em si

Como nota adicional, na reprodução (integral) do rolo há uma cena com jogadores de go, um antiquíssimo jogo de estratégia chinês mas em voga sobretudo no Japão onde tem milhões ou dezenas de milhões de entusiastas e praticantes.

E mais uma vez, a história minha se cruza com um livro. De facto, a partir de 73, graças ao Zé Leal Loureiro, desparecido editor de “A regra do jogo”, comecei, a frequentar uma livraria parisiense “L’Impensé Radical” na rue de Medicis mesmo em frente ao jardim do Luxemburgo. Foi aí que descobri Sun Tzu (ou Zu) o autor dos “13 arigos” (ou Arte da guerra) cuja capa reproduzia um tabuleiro de xadrez. O livrinho anda por aí, perdido no meio de milhares de outros e longe do seu local natural. Com este, descobri vários livrinhos de diferentes tamanhos sobre o jogo do go. E com os livros o jogo propriamente dito de que me tornei adepto. Recordo de ir a um café que se chamaria “le trait d’union”(?) na rua de Rennes onde começavam a ofociar os recém convertidos jogadores de go. Com go vieram outros jogos (sam guoki) editados pela mesma livraria e e pelo incansável Luc Thanassekos, um grego alucinado por jogo de estratégia. Frequentei a livraria durante anos até ela, como uma cinquenta outras em Paris, desaparecer. Acabei por jogar raras vezes por absoluta falta de parceiro. O tabuleiro e as peças, juntamente com as embalagens dos outros está cuidadosamente guardado junto   a outros jogos  (mah-jong, damas chinesas etc)  de que a lei da vida (ou da morte) me tem roubado parceiros. Até para o bridge estou reduzido ao computador... mas esse mesmo antigo está ao meu dispor 24 horas por dia. E é usado diariamente, claro. Mas nada dispensa a jovial presença de um grupo de jogadores que se riem, zangam, disputam e acabam a combinar encontrar-se no dia seguinte para mais uma jogatina...

 

Referencias: “des mérites comparés du riz et du saké (illusré par un rouleau japonais du XVII  sécle)

Bibliotheque nAtional de France  & Diane de Seliers, ed; 2014

247 pp, 30x28 numerosas il a cores, encadernação  cuidados em tela identica à caixa que a encerra, textos de apoio de diversos autores: 185 pp, obra: 27 pp. Ilustrações e comentários sobre o rolo : 95 pp.

 

A latere: sobre o jogo do go

“petit Traité du jeu de go” S. Padovano; “Petit traité du jeu de go , Go Club Sakta; “Traité du jeu de go” Roger G Girault;  todos editados por L’Impensé Radical; Petit Traité invitant a la decouverte de l’art subtil du jeu de go” Pierre Lusson, Georeges Pére et Jacques Roubaud, Chr. Bourgois ed

E uma curiosidade; “ Go et Mao (pour une interpretation de la stratégie maoíst en termes de jeu de go) Scott  A Boorman, Seuil, 1969

 

*Nas vinhetas ilustração da capa e ilustração relativa ao jogo do go constante do rolo.

 

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au bonheur des dames 527

d'oliveira, 14.09.22

 

 

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Caem como tordos...

Mcr, 14-09-22

 

Convenhamos: o capitalismo já não é o que era. Pelo menos na Rússia, onde, nos últimos vinte/trinta anos, tinha aparecido uma nova espécie de milionários muito semelhantes à que cevou nos EUA em pleno sec. XIX e que, na altura, foi crismada como o pouco honroso epíteto de milionários ladrões. (ou piratas ou qualquer outra coisa do mesmo género e espécie).

Ali no ex paraíso dos trabalhadores, na insalubre pátria do “sol na terra”, apelidaram-nos de oligarcas. Este género de criaturas, todas saídas directamente do serralho aparatchik soviético, aliou-se naturalmente ao novo poder /vindo também ele do mesmo sistema fechado mormente dos antigos serviços secretas e da polícia política.

Como ricaços de primeira geração, cedo se mostraram como adeptos de um luxo desenfreado e pouco diferente (há que dizê-lo) daquele estilo que se tornou conhecido com Trump (Donald, não confundir com o amável pato nem mesmo com o tio Patinhas).

O mesmo mau gosto berrante, os mesmos imensos barcalhões, as mesmas acompanhantes femininas, planturosas, jovens, boas até dizer basta.

Ora, por razões que me escapam (ou talvez não, que os negócios requerem paz e harmonia e em vez das guerras inúteis e pouco recomendáveis basta untar, bem untadas, todas as mãos necessárias, para que o business continue as usual ) um número significativo destas criaturas não apoiou com o delirante entusiasmo que se esperava a famosa “operação militar especial russa.

E num regime do tipo do que vigora na “santa” Rússia quem não é claramente por mim é, com um forte grau de probabilidade, contra mim.

Portanto, e ao contrário do indigente PC russo (irmão de um outro nosso velho conhecido) que constitui a vanguarda dos apoiantes putinescos e dos fautores da guerra a qualquer custo, estes cavalheiros (de industria) foram de uma discrição patriótica gritante.

Devem ter esquecido que viver na Rússia, mesmo que vagamente dessoviétizada, é viver no gume da faca. Por lá, e desde há muito (lembremos a picareta de gelo que liquidou Trotsky, inaugurando uma longa série de crimes de Estado), que os inimigos ou os pouco amigos sabem que há sempre um guarda-chuva envenenado, uma bala, um suicídio encomendado, uma queda fatal de um quinto andar, enfim uma panóplia de acasos tremendos e mortais.

Y, sempre ele mas acompanhado de W, K e da Juju Cachimbinha (tudo malta do conhecido grupo “Sétimo  ano de praia com latim e grego por fora” e que ainda respiram sem máscara de oxigénio), ao ler o rascunho deste texto,  propuseram outro título “Está a dar o béri-béri nos oligarcas!”

Eu gosto da palavra “béri-béri” mesmo se sou incapaz de recordar de que maleita se trata. Tenho a ideia que a coisa ocorre sobretudo nos países menos desenvolvidos e com menos teor de vitaminas,  mas fico-me por aí. De todo o modo, cair como tordos significa morrer em grande quantidade e, valha a verdade, é isso que está a suceder na Moscóvia.

As notícias sobre esta pandemia dos ricaços muito ricaços daquelas bandas orientais e semi-asiáticas, já nem causam sensação. “Olha, lá foi mais um!” _””que a terra lhe seja pesada”, retorquimos, enquanto aviamos mais uma bica.  

No entanto, e enquanto não sabemos mais pormenores da paupérrima campanha brasileira ou do “imbrochável” e pasmamos com o conforto sentido pelo Sr. Presidente da República, vale a pena, por mera distração, revisitar a longa lista de inexplicáveis falecimentos de milionários russos. Da internet, e sem especial pesquisa, extraí uma lista incompleta que com prazer (oh, quanto!...) aqui ofereço aos esforçados leitores:

Aleksander Subbotin (encontrado morto após um tratamento contra a ressaca!)

Aleksander Tiullyakov(caído da janela de um hospital

Andrei Krukovsky (caído de um penhasco durante um passeio!)

Leonid Schulman (enforcado)

Mikahil Watford (encontrado morto na garagem de uma casa em Inglaterra)

Ravid Maganov (também caído de uma janela alta do hospital onde estava internado)

Sergei Protosenya (acusado de matar a mulher e a filha cometendo posterior suicídio)

Vladislav Avaiev (encontrado morto ao lado da mulher grávida e da filha também mortas

Vassili  Melnikov (?)

A lista, suponho, já terá catorze nomes mas estes foram os que mais depressa me apareceram. Vale a pena reparar que as mortes já não são tão diversas quanto eram antes. Prova de falta de imaginação como o desenvolvimento da guerra de agressão já comprovava?

A Juju, que não é exactamente uma perita em “kremlinlogia”, avisa que estas mortes foram todas misericordiosas. Quando se trata de oposicionistas políticos mais duros, as autoridades russas recorrem aos velhos e experimentados métodos comprovados desde o tempo dos czares: prendem os oponentes em enxovias horrendas depois de processos infames e humilhantes na directa linha dos dos anos trinta, os famosos processos de Moscovo onde, para além detudo o mais, os réus tinham de confessar que eram agentes nazis, trotskistas, anti-partido, capitalistas  e mais qualquer coisa que o “vichinsky de serviço” se lembrasse. Havia que desonrar primeiro e liquidar depois. Vê-se que os tempos mudaram, apesar de tudo. Mesmo quando se encontram os “suicidados” ao lado de familiares também “abatidos”.  Nourtos tempos não escaparia (como agora escaparam) nenhum membro da família para não falar na hipóteses de irem também na leva amigos, vizinhos e conhecidos...

Logo no início da “operação especial” circulou a notícia que o portuguesíssimo “sefardita” português Abramovitch se propunha doar o produto da venda do Chelsea às vítimas ucranianas. Se eventualmente isso for verdade, temo bem que este cavalheiro, mesmo nacional e nosso, segundo a comunidade israelita do Porto (a quem também não falta imaginação e transbordante!...)  apareça um destes dias mais morto do que uma múmia egípcia da XVª dinastia.

 

 

 

o leitor (im)penitente 244

d'oliveira, 13.09.22

1976-JONAS-QUI-AURA-25-ANS-EN-L-AN-2000-015-100001

2 mortes a marcar o natural desaparecimento de uma geração

(a minha!) E ainda uma terceira...

 

mcr, 13-09-22

 

sou pouco dado a isto de gerações mas quis o acaso que com escassos dias de intervalo morressem Javier Marias (70 anos) e Jean Luc Godard (91)  idades que eu considero sem qualquer fundamento científico as que balizam a minha geração. Estou no meio (80 anos feitos e perfeitos) e sobretudo sgui-lhes com curiosidade, atenção e admiração as respectivas carreiras.

Marias é desde há 30 anos o grande escritor da península ibérica, um prodígio de talento, de invenção, de estilo de tudo. Estava na calha para o nobel ou pelo menos merecia-o inteiramente. Recebeu, entretanto, todos os prémios possíveis e a critica rendia-se a casa obra que publicava. Curiosamente, o público por uma vez sem exemplo estava de acordo com a crítica e Marias foi um autor popular e muito vendido.

O mesmo, ou quase, pode ser dito de Godard, uma espécie de “enfant terrible” do cinema francês, um dos nomes mais importantes da “nouvelle vague”, um crítico implacável que conseguiu deixar quatro ou cinco filmes imperdíveis mesmo se um deles (“la Chinoise”) só mereça ser citado pela insensatez herdada no post-68.

Porém, Pierrot le fou  deux ou trois choses que je sais d’elle, bande a part, a bout de soufle (o acossado) são simplesmente grandiosos.

Não cave aqui, nesta melancólica nota escalpelizar estas peças cinematográficas, basta nomeá-las para lembrar a alguns esquecidos o grande cinema que se fez nos anos 6o e seguintes.

A terceira morte é a de Alain Tanner, tão suíço como Godard de quem comecei por ver, acho que no Festival da Figueira,  Jonas qui aura 25 ans en lán de 2000. Só depois, esporeado pela boa impressão causada é que vi dois outros imperdíveis filmes dele (“Charles vif ou mort” e “les années lumiére”). E cito Tanner também porque se estreou nos anos 60 mas não obteve a aura de menino prodígio e de escândalo que Godard obteve desde cedo.  A lei da vida levou, porventura cedo, Javier Marias que, no entanto deixa uma obra enorme. Godard morreu de suicídio assistido pois era conhecido o seu débil estado físico e as maleitas muitas de que padecia. E Tanner, nascido em 29 também já estava afastado do cinema e bastante da vida de todos os dias.

Estes três homens tão diversos entre si, dão todavia espessura à referida geração de que atrevidamente me reclamo e deixam uma sensação de vidas vividas plenamente  com os altos e baixos que são naturais (e desejáveis). Deixam um enorme espólio de obras imperdíveis, acessíveis em livrarias e fnacs de todo o género. Uma prevenção, porém: estes seus trabalhos podem viciar.

na vinheta: fotograma DE "jonas qui aura 25 anos...

au bonheur des dames 526

d'oliveira, 13.09.22

E nós por cá?

mcr, 13-09-22

 

 

De repente, com o fim da pandemia, eis que regressa a discussão sobre o preço da habitação nas grandes cidades. 

Paralelamente, volta impetuosamente a gritante necessidade de alojamento estudantil em todas (ou quase todas) as cidades universitárias.

Comecemos por aqui.  Em Lisboa, Coimbra e Porto desapareceram  quase 20.000 quartos. Quase todos desviados pelos proprietários para o “alojamento local”.

As prometidas residências universitárias ou ainda estão na gaveta, ou sofreram atrasos monumentais (o que em Portugal não é excepção mas a regra de ferro deste tipo de políticas) ou foram pura e simplesmente esquecidas. 

Os poderes públicos embandeiraram em arco com a eventual chegada de mais de 50.000 estudantes ao ensino superior. Todavia, os Reitores das Universidades alarmam-se:não tem fundos, não tem salas, não tem professores nem laboratórios. Alguém vai ouvir lições de pé,alguém vai ter de aprender praticas laboratoriais por uma sebenta, alguém vai conhecer um professor velho e cansado. 

Note-se que estou a falar apenas do ensino dito superior. De um ensino onde abundam ofertas de cursos com zero empregabilidade e 100%de garantia de insatisfação e revolta daqui a três ou cinco anos. E a eimigração não resilve esse problema. Países que recebem diplomados portugueses querem médicos, enfermeiros, informáticos, engenheiros. Também eles tem demasiados licenciados em ciências humanas e quejandos.

Eu tenho a maior consideração por História, Antropologia, Sociologia Etnografia e por mais meia dúzia de cursos. Todavia, mesmo perante a inacreditável falta de professores do secundário (o Governo confessa 60.000 estudantes sem um ou mais professores, as pessoas sensatas atiram para 100.000) , verifica-se que escasseiam os candidatos ao professorado secundário! 

Ao que parece os professores sentem-se na situação de profissão degradada e isso transmitiu-se às novas gerações que chegam à Universidade. Vamos ter anos duros pela frente. Ou então iremos, como aconteceu nos últimos anos da “ditadura nacional” e primeiros do “estado novo” vamos inventar professores de via reduzida para ocupar as escolas e para ensinar uma pequena percentagem dos jovens que se escolarizavam e que eram uma minoria nas suas classes de idade. 

Um jornalista pergunta porque é que o Estado não trava a desenfreada oferta de AL, não proíbe as vendas “gold” nem controla a fuga cada vez mais rápida para subúrbios cada vez mais longínquos onde, eventualmente, uma renda de casa não esfole uma inteira família.

Eu lembraria a esse ingénuo que os ricaços estrangeiros e os nómadas  informáticos começam por ser relativamente poucos e, sobretudo dirigem-se ao topo de gama construtivo. Não são eles que desertificam os centros históricos ou espantam os cidadãos pobres e de classe média para longe. 

Direi até que a construção de luxo  tem sido a boia de salvação para certas grandes construtoras. 

Faltam habitações a preço moderado, decentes, que a classe média em rápido desaparecimento possa comprar ou sobretudo alugar. E suponho que ninguém vai pedir ao hediondo  “capital” que entre nesse mercado!

Eu lembraria que, desde há cem anos que a distorção do mercado da habitação se tornou regra. Que isso foi lenta mas seguramente, sentido por senhorios que, impotentes, viam os seus rendimentos congelados a decrescer face ao aumento natural do custo de vida. A habitação degradou-se extraordinariamente. É só passear pelos centros das cidades para o verificar. 

Note-se que o problema da desertificação dos centros das cidades, da expulsão dos menos ricos para subúrbios é algo a que se assiste em todo o mundo e sobretudo em todas as capitais. Nos países desenvolvidos, em África ou nas Américas. 

Só um ingénuo compra um prédio para arrendar. E menos ainda se, como agora, se impuser uma lei travão ao aumento de rendas de acordo com a inflação. Claro que, como aqui sugeri (mesmo sem pretender seja o que for), poderá haver compensações para os senhorios em sedo de IMI e de IRS. Resta saber se isso compensa... 

O Estado que mete o bedelho em tudo, desde que isso não lhe dê demasiado trabalho e lhe traga algum benefício, não tem uma política sólida, consolidada e expressiva de construção de habitações. Tem ele mesmo, casas e terrenos ao abandono em toda a parte. 

Abandona cidadãos que precisam de um SNS capaz e eficaz ao fanatismo de um par de ideólogos imbecis que se presumem viver no sol da terra. Sol em ocaso, como se sabe e cada vez menos risonho. 

Agora. ao abandono sanitário vai seguir-se o abandono escolar. Cresce sem margem para dúvidas um ensino privado, caro mas seguro, com professores em todas as disciplinas, com disciplina em todas as salas, bem equipadas e preparadas para receber todos quantos possam pagar. E pagar bem! Mas pagar por um ensino garantido, qualificado e eficaz. 

Eu andei no ensino público desde a primária em Buarcos e recordo, com emoção, saudade e carinho, os professores Cachulo e Mourinha. 

Frequentei os liceus da Figueira, Coimbra e Lourenço Marques de onde recordo alguns professores fora de série. Por motivos d saúde e por ter a família longe frequentei no terceiro ciclo colégios como interno (prisioneiro, diria eu que era rebelde como convinha à minha idade) onde de resto tive também um excelente ensino comprovável pelos resultados em exames nacionais e feitos em liceus públicos. 

Agora, mesmo sem creditar em excesso os colégios privados ou as comparações anuais de resultados com as escolas públicas, sou obrigado a verificar que começa a esboçar-se um ensino de qualidade para ricos e outro  onde esta não bunda ou nem sempre é regra para pobres. Como na saúde.

Como na habitação!

Como na habitação universitária que não existe. Quantos estudantes passarão por notórias dificuldades  por falta de um quarto na cidade onde estudam? Quantas famílias se endividarão para garantir aos filhos a frequência da universidade e o consequente pagamento de pensão para eles? 

Por outras palavras, de quem é a responsabilidade? 

 

(nota: começa a despontar um esforço de criação de residências universitárias privadas com o preço que se adivinha. E provavelmente com qualidade superior à que  teria a residência “oficial”, pública mas inexistente...)

Sei que a muitos dói este retrato a preto e branco (mais preto que branco) do país que temos.

 O problema é que é mesmo um retrato, uma fotografia impiedosa de algo a que não se escapa. 

 

au bonheur des dames 525

d'oliveira, 12.09.22

Eu também não! 

mcr, 11-9-22

 

No Público de Sábado, Pacheco Pereira vem dizer algo que deveria ser óbvio mas, pelos vistos, não é.

Declara que não pede desculpas por Wiriamu por duas especiais razões: porque esteve sempre contra a guerra e porque não faz sentido fazer um povo, um país inteiro responder por um acto criminoso, cometido em tempo de guerra por um reduzido número de soldados.

É verdade que o Governo da altura escondeu tanto quanto pode a história deste massacre numa guerra em que, dos dois lados os houve com fartura. Falo da guerra de África em geral e não de Moçambique em particular. 

Por muitas razões de queixa que a UPA, (arvorando-se de certo modo em representante única das populações angolanas) tivesse, os massacres do início da guerra onde pereceram brancos e, sobretudo, (é bom não esquecer) muito mais negros barbaramente assassinados é um massacre absurdo e indesculpável. Pior deu azo a uma repressão medonha e marcou definitvament o cunho de uma guerra onde cad barbaridade justificava outra. Pode haver quem finja esquecer mas a pqlavra de ordem “para Agol depressa e em força” teve um profundo eco nacional e um fortíssimo poio popular. Foram precisos mais de dez anos de uma gurra  onde quase se não via o inimigo para lentamente mudar a opinião de muitos portugueses.   O massacre do norte de Angola (que, aliás, poderia responder aos massacres de Icolo e Bengo de quem quase ninguém fala))  pelos vistos, foi varrido para debaixo do tapete.

Deixemo-nos de conversa barata: as guerras são o campo ideal para tudo e sobretudo para a barbaridade. Um massacre leva a outro o que não desculpa nem o primeiro nem o segundo. Nem os que se lhe seguem.

Para isso, ao longo dos séculos, foi-se tentando impor regras, leis de guerra, defesa das pessoas civis ou soldados. Conviria lembrar que, por exemplo, a guerra em 1385 ou em 1640 era diferente da guerra contra os invasores franceses (e bem nos lembramos de populações portuguesas  a chacinar, podendo, qualquer criatura que falasse “estrangeiro” o que levou o Exército inglês a tentar pôr um férreo e duro travão a certas milícias populares. 

Está à vista o que se passa, neste exacto momento na Ucrânia onde uma horda invasora mata, pilha, devasta. É provável que resistentes ucranianos também não diferenciem o soldado russo que se rende do outro que dispara.

A famosa teoria do pedido de desculpas cujo episódio mais significativo (que me lembre...) é o do dr. Mário Soares a  pedir perdão pelo massacre de judeus em Lisboa quando é sabido que a justiça real foi rápida em condenar, perseguir e punir os autores de assassínios e pilhagens (e aqui havia também muito estrangeiro embarcadiço no porto de Lisboa que ajudou à selvajaria e colaborou com a imbecilidade criminosa de um par de beatos na Igreja de S Domingos).E que, aproveitou para roubar o que pode de bens de cristãos novos ou de alguém que pudesse ser tomado como tal. 

Convenhamos que quase 500 anos depois, as desculpas não fazem sentido. É um gesto semelhante à ordem de Xerxes para chicotear o mar... 

Como Pacheco Pereira, recuso qualquer espécie de responsabilidade nessa história infame. Estive sempre do lado contrário à guerra e àditadura, não lutei em África por um bambúrrio (fui à inspecção antes da guerra estalar e fiquei “livre”) fui perseguido pelas minhas convicções e mais ainda pelas minhas acções que me levaram a Caxias por diversas vezes. Tenho na torre do Tombo 14 processos contra mim, foi-me interdita a entrada na carreira diplomática e por aí fora. No capítulo especificamente colonial, passei desertores pela fronteira e inclusive ajudei resistentes angolanos (um deles já com anos de Tarrafal)  a tomar  o mesmo caminho. 

Depois, nada tendo a ver com o crime, também não posso em consciência apontar o dedo ao milhão de portugueses que fizeram, forçados quase todos, a guerra colonial. Guerra que, aliás, os 2militares de Abril também fizeram anos a fio. 

O dr. Costa, filho de um oposicionista goês  que terá militado nos “satiagrah”  e que depois veio viver pra Portugal, resolveu pedir desculpa em Moçambique. É com ele mas de certeza não é comigo, nem com uma imensa maioria de portugueses que, seguramente, não aplaudiram a cobarde matança de Wiriamu. É verdade que não se revoltaram mas eu gostaria de ver (e sou boa testemunha desses tempo) quantos dos actuais “heróis” anti-fascistas que por aí pululam, seriam capazes sequer, de participar numa campanha promotora do voto nos anos que medeiam entre 1961 e 1974. 

Lembraria que depois da revolução ninguém se lembrou (ou quis) investigar os factos (que eram recentes), identificar os principais responsáveis pela chacina, punir os deveriam ter sido punidos. E nesse “ninguém” estavam, estão ainda, todos quantos ocuparam cargos políticos em Portugal

Querem ajudar Moçambique, ou as populações moçambicanas? Então, quanto mais não seja, ajudem a construir escolas, postos médicos a desminar milhares, centenas de milhares de hectares de solo agrícola. O resto é conversa e patacoadas. 

 

Advertência necessária: Wiriamu foi uma absoluta infâmia que, como se vê, atinge sem distinção portugueses e africanos pro-portugueses, incluindo os que se opunham à guerra e ao regime colonial e trouxe o luto a centenas de famílias negras  da região de Tete. Nunca é demais recordar esta tragédia mas conviria separar o trigo do joio. 

No meu caso e no de muitos outros amigos e camaradas da altura   a denúncia foi imediata e as consequências disso foram as que se esperavam.   Repressão, prisão e proibição de acesso a empregos dependentes do Estado ou da Administração para estadual.

Tentei pesquisar o que sucedeu à famosa 6ª Companhia de Comandos, tentei saber quem eram os seus participantes mas ou por ocultamento oficial ou por inabilidade minha nada obtive de concreto.

Em boa verdade, cinquenta anos depois de Abril continuam escondidos factos e nomes de agentes da repressão a começar por milhares de informadores da polícia e denúncias de traidores presos e que colaboraram com a pide. Tenho a profunda convicção que toda esse gente continuou a sua vidinha sem problemas, cruzando-se porventura com as vítimas da sua miserável actuação durante os anos em que informaram e  denunciaram milhares de  cidadãos seus conhecidos. O tempo que já passou ajudou a limpar a memória tanto quanto a apressada inscrição em partidos post-25 Abril que nunca se preocuparam em saber quem eram e donde vinham tantos “democratas” de pura cepa.   

A mesma espessa cortina de silêncio  caiu sobre uma larga maioria de “revolucionários” da 25ª hora que, durante o PREC e nos anos seguintes, levaram a cabo acções terroristas de toda a espécie e terão as mãos sujas de sangue inocente. Igualmente estão por identificar os novos “pides” que logo a seguir ao 25 de Abril andaram à caça de “reaccionários” que foram presos sem quaisquer garantias de defesa e sem direitos mínimos, presos também eles em consequência de denúncias anónimas ou por mera suspeita devido ao estatuto social, a anteriores cargos de importância na Banca e nos negócios. A quase total maioria destes presos foi aliás libertada sem uma palavra, uma acusação e, muito menos sem um processo. 

Longe de mim pretender, agora, 50 anos depois levar a cabo um processo  quer do Estado Novo quer das misérias militares ocorridas. É tarde, provavelmente vítimas e testemunhas desapareceram ao mesmo tempo que tantos anos depois poderão ter desaparecido torcionários e criminosos e respectivo séquito de denunciantes, informadores e traidores. E é por isso que acções individuais e descontextualizadas merecem escasso ou nenhum crédito. 

O dr. Costa poderá, querendo,  pedir as desculpas que entender mas em meu nome não.  

 

 

 

estes dias que passam 739

d'oliveira, 10.09.22

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Mons parturiens  

mcr, 10-9-2

 

Decididamente, a notícia é uma “não-notícia”: o novo ministro da saúde é velho. Não propriamente em idade mas sim nestas andanças.

Convenhamos, este senhor anda “por aí há uns bons trinta e tal anos ou mais se contarmos o seu tempo de fervoroso militante do pc. Atenção: não é por esse longínquo passado que o gato vai às filhoses. Ser do pc em pequenino (enfim em rapaz, homenzinho mesmo, sucedeu a muitos e não morreram por isso. Terão ficado sempre com a cicatriz do autoritarismo, do centralismo burocrático (ou democrático à maneira deles) e o hábito da língua de pau.

No caso concreto, este agora surpreendente ministro tem um historial recente fraquinho, fraquinho. Como nunca pertenceu à primeira divisão socialista, nem saiu da Jota do mesmo partido, ficou-se (apesar de uma sofrível passagem por uma Secretaria de Estado, precisamente no seu actual ministério) pela província, isto é pelo s Porto.

Pelos vistos, a cidade nunca o premiou como ele pretenderia pois perdeu, que me recorde, duas sucessivas candidaturas à Presidência da Câmara. A segunda foi particularmente pesada porquanto no primeiro mandato, Rui Moreira deu-lhe uma boleia de peso como vereador.  E o homem esforçou-se mesmo se, na dúbia paisagem autárquica os esforços mesmo de muitos tendem a obter resultados lentos, lentíssimos.  Da segunda vez ficou a ver naios ou, melhor barcos rabelos carregados de turistas.

Depois, Costa lá lhe deu uma boleia para o Parlamento europeu. Consta que, ele mesmo candidato, descria da sua eleição a pontos de ficar amuado. Para surpresa sua e de muita gente conseguiu ser eleito!

Isto do PE é emprego pingue que dá morabitinos com fartura. Digamos que é uma espécie de reforma boa, excelente, para políticos em fim de carreira.

Dado o lugar que ocupava na corrida, consta que ficou amuado. Dizia a quem o queria ouvir que havia contra ele uma conspiração “lisboeta”.

Agora, pelos vistos, a conspiração continua mesmo que ele não a perceba. Oferecem-lhe, depois de várias prudentes recusas, numa situação deprimente, o lugar de Ministro da Saúde. Que, dizem os jornais, sempre maliciosos, ele aceitou de imediato.

Convenhamos que ou é ligeiramente insensato ou acredita que depois de Marta Temido qualquer um se safa. Ou as duas coisas.

Dado que o dr. Costa avisou a navegação que a política anterior continuaria, tenho a vaga impressão que caminhamos, como os lemmings, para outro precipício.

Todavia, deixemos andar para ver. Num país de mourinhas encantadas, de milagres das rosas, de fado Fátima e futebol até um triunfo pode ocorrer. E, de todo o modo, somos uma terra de sol, sal e sul. com muitos turistas. Mesmo de pé descalço deixam cá um óbolo que les portugueux toujours gueux agradecem reconhecidos.

Ou como diz um velho amigo, desta vez o K, “já passamos por muito e ainda cá estamos” - E velhos, ou seja já pouco futuro temos, replico eu  que, aproveitando a deixa, desando porta fora para ler o jornal ao sol da Foz e embalado elo marulhar das ondas...

* O título vai em latinório mas é facilmente compreensível. Até a vinheta ajuda. E, como no “Casablanca” temos sempre a internet para nos ilustrar...

 

estes dias que passam 738

d'oliveira, 09.09.22

 

 

 

 

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Entre a sertã e o lume vivo

mcr, 10-9-22

 

O título apenas faz menção ao Brasil ou, melhor, aos termos de escolha dos votantes brasileiros.

Vendo as alternativas reais, uma pessoa sente-se felicíssima por não ser brasileira. Mesmo que se possa ter alguma piedade por um povo que fala português (um português brasileiro mas claramente entendível e saboroso. Aliás, é pelo brasileiro que os estrangeiros aprendem melhor e mais depressa a nossa língua pois nós falamos entredentes cheios de vocais mudas) cujos avós foram portugueses fugidos à dome e à desgraça durante séculos. E digo séculos porque desde o sec XVIII nunca se estancou a corrente migratória portuguesa que ainda hoje, mesmo se muito menor, se mantém.

Todavia, esta campanha eleitoral entre um tiranete presunçoso e ignorante e um cúmplice (acaso culpado) de corrupção para além do que naquele país era “normal” entristece pela falta de argumentos, pela troca imbecil de impropérios, pelo retrato que dá de um país que é desde há duzentos anos uma promessa jamais cumprida.

Tenho farta parentela brasileira, o meu pai nasceu, casualmente, no Rio de Janeiro, o meu bisavô e o meu avô por lá andaram a fazer fortuna. Isto sem falar de outros mais longínquos antepassados que desde os alvores do século XIX ou porventura antes  para lá partiram de terras tão diferentes quanto Ponte do Lima ou Berlim...

Uma boa parte da melhor literatura escrita em português vem do Brasil, romancistas e poetas que sempre li com gosto e entusiasmo. É inacreditável que o Nobel nunca tenha caído num escritor brasileiro quando, à vista desarmada, no século XX havia cinco ou seis autores que o mereciam bem mais do que, por exemplo, Saramago.

Mas as coisas são como são, e o Brasil navega agora num ,mar tenebroso sem porto seguro à vista. Já por aqui, referi o slogan do terceiro candidato “vote num e livre-se de dois!” mas, pelos vistos, isto apesar e certeiro é apenas um slogan.

Esta campanha que todos os dias se ultrapassa em ridículo e grotesco teve agora a preciosa ajuda do Sr. Presidente da República que, como se esperava, foi incapaz de resistir ao incontrolável populismo de que padece. A propósito dos 200 anos de independência, ei-lo que se mostra atrás de uma bandeira amarela e verde que proclama duas imbecilidades. E ao lado de Jair, ufano (que entre outras pérolas se proclama “muito viril” (resta saber se não andará por ali muita ejaculação precoce mas isso é mais com quem o atura na cama).

O Sr. Presidente, que já está de partida para um funeral,  parece não se ter dado por achado. É com ele. Ou melhor, seria com ele, enquanto cidadão privado, mas no caso em questão é o Presidente da República Portuguesa que sai (mal, pessimamente) na fotografia.

Às vezes rejubilo por nunca o ter votado mas essa alegria é muito breve (para citar de viés Virgílio Ferreira) pois acabo por me lembrar que nasci aqui, que vivo aqui, que lutei aqui e provavelmente morrerei aqui.

E, a propósito, á não recordo em que livro li a frase “isto dá vontade de morrer!...”

Nem tanto, nem tanto, mas também não incita ninguém a viver com um eterno sorriso nos lábios.

Porra para este fado!

 

 

estes dias que passam 737

d'oliveira, 08.09.22

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como urubus 

mcr, 9-9-22

A morte da Raínha Isabel II despertou todos os "carroñeros" da comunicação social que desde há horas gastam saliva (radios e televisões) e baba  explorando estefilão até ao osso.

O espectáculo televiso nacional (são 19: 15 e vejo a CNN) arrasta-se por comentários de comentadores medíocres e nem quero (por mera vergonha), referir a felizmente brevíssima intervenção do "nosso" alegado pretendente ao trono...

Isto vai dar pano para mangas, à volta do insepulto cadáver da Raínha Isabel. Todos os narizes de cera vão ser usados até à exaustão.

Preparem-se para esta via crucis televisiva e aguentem.

God save the king, Charles III apesar dos saudosos da "princesa do povo. Também ele atravessou alguns infernos e merece, pelo menos, ser olhado como alguém que merece um estado de graça mesmo que curto.

 

Estes dias que passam 736

d'oliveira, 08.09.22

 

 

 

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Já cá canta!

mcr, 9-9-22

 

 

Estou definitivamente velho! Velhíssimo, até!

Ou então a razia na velhada tem sido tal que a vacina já chegou até aqui.

A verdade é que anteontem fui convocado para hoje, às 14:o9 para as vacinas conjuntas.

Reparem no pormenor: 14:09. Um must de precisão que, porém, não se verificou assim tão exacto.

Provavelmente, por ser o início da tarde, ou ainda porque era apenas o 2º dia da campanha vacinal, estive 40 minutos na bicha. 

Convenhamos, quarenta minutos não é muito mesmo se a bicha obrigasse a quarta idade a estar esforçadamente de pé, como compete a um quartel ainda com tropa. 

Depois da espera longa e chata, as duas vacinas terão demorado um minuto a que se seguiria meia hora de recobro. 

Eu sempre me dei bem com a vacina, nunca me senti mal e estar ali, já com uma cadeira quarteleira, isto é pouco confortável, não era exactamente o que mais queria.

Subitamente regressado a uma idade antiquíssima  e irresponsável, sentei-me mesmo ao lado da porta, e logo que a criatura que pastoreava os recobrantes virou a cabeça, baldei-me e vim dormir uma merecida sesta em casa. Para me recobrar daquela emoção...

Fique claro, claríssimo, que a espera não foi nada de outro mundo e, era quase espectável pois suspeito que muitos dos que comigo afrontavam de pé a chamada deviam estar marcados para mais tarde. Velhos são velhos. Não tendo nada que fazer, como dizia um vizinho meu, vieram em força para se despacharem o mais depressa possível. 

À saída a vicha era pequeníssima, sinal que o atropelo da entrada se deve ter devido à pressa do todos nós. Eu mesmo cheguei dez minutos mais cedo!... 

A logística dos militares, chamados para suprir as dificuldades do Ministério da Saúde, continua, portanto, a funcionar.

E é bom que isto se registe porque, mesmo sem um vice almirante, a coisa corre como uma lebre com um coronel do Exército à frente dos militares em campanha sanitária. 

Basta lembrarmo-nos de uma criatura política e irritante nomeada por outra não menos irritante para coordenar isto. Um desastre! Um naufrágio! Uma incompetência total. E isto, esse tropeço numa questão vital e importante, essse estropício aparvalhado, deve ser recordado para fazer o balanço de um mandato que, volto a repetir teve muitos mais baixos que altos.  

 

 

 

 

 

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Cem anos de Adriano Moreira

José Carlos Pereira, 06.09.22

Completa hoje 100 anos Adriano Moreira, uma das personalidades mais consensuais da sociedade portuguesa, o que é admirável para quem fez o seu percurso - de ministro na ditadura a líder partidário, deputado e conselheiro de Estado em democracia. As reflexões sempre atentas, o pensamento estratégico sobre o papel de Portugal e a verticalidade que o caracterizam marcaram de forma indelével todos os que foram acompanhando as suas intervenções no espaço público ao longo das últimas décadas. Uma vida plena ao serviço de Portugal.