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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 735

d'oliveira, 06.09.22

 

 

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O desespero torna as pessoas estúpidas

 

mcr, 7-9-22

 

(este texto chega atrasado pois começou a ser escrito logo que a notícia da queixa ontra Portugal foi conhecida mas, interrompido por qualquer acaso, perdeu-se no computador e só hoje voltou à superfície. De facto foi um acrónica DE JM Tavares no “Publico” que me obrigou a pesquisar no cafarnaum em que os computadores que uso frequentemente se transformam. Sai, no entanto, porque a burrice e, sobretudo, a má fé devem ser denunciadas e combatidas a todo o momento)

 

Os jornais, alguns jornais, os mais atentos e independentes noticiam que a Comunidade Israelita do Porto (CIP) entendeu levar ao Tribunal Europeu  a medonha perseguição de que é vítima em Portugal. A maior, a mais infame, pior do que a soviética (!!!) .

A gente lê e pasma. Será que a CIP endoideceu subitamente? Será que algures lá para os lados do Bonfim existe uma campo de concentração, vá lá um calabouço subterrâneo,  um local de extermínio de cidadãos de fé judaica? Voltou a Inquisição? Regressou o rei D Manuel ( que aliás, expulsou de má vontade e por interesse casamenteiro, todos quantos não se converteram apressadamente. É verdade que esta medida só se aplicou a judeus nacionais, os fugidos de Espanha – exceptuado os ricos que traziam capitais- não escaparam. Boa parte da nobreza portuguesa apadrinhou os judeus ricos ou aqueles que, por sorte eram seus validos ou conhecidos. De todo o modo foi muita gente mas sobraram por cá dispersas e escondidas ou nem tanto numerosas comunidades judaicas sobretudo em Trás-os-Montes, Beiras Alta e Baixa e provavelmente noutras províncias longe do alcance dos beleguins)?

No final do século XVIII e sobretudo no XIX regressaram, a Portugal judeus vindos do Brasil, de Cabo Verde  ou de outros pontos das Américas. Eram poucos mas , pelos visos, no Império ninguém deu por eles ou alguém foi subornado de modo que uma primeira leva de judeus de origem portuguesa regressou à pátria dos seus avoengos. A enorme maioria dos expulsos em 1500  desapareceu em Marrocos, Veneza, Amsterdão,  ou no império turco.

É duvidoso que esses judeus sefarditas tenham conservado ao longo de quinhentos anos qualquer apego a Portugal. Nem os emigrantes de 2ª geração mostram especial carinho pela pátria madrasta dos seus pais, quanto mais esta vigésima geração de expulsos e degredados.

Porém, em Portugal há, como é sabido um vício estrutural: copiar tudo o que venha da estranja. Copiar mal, aliás, com erros de tradução ( sem falar nos de ortografia) e confundido situações, condições e oportunidade.

Foi assim que na Assembleia da República, a instancias da Dr.ª Maria de Belém  e de alguns deputados ensonados e pouco dados à especulação sobe a História pregressa, moderna e contemporânea, entenderam propor uma lei de reparação histórica sem pés nem cabeça, sem condições de salvaguarda e sem perceber uma coisa evidente: o passaporte português em si mesmo é uma inutilidade. Porém o passaporte português enquanto membro da UE fornece a qualquer cidadão acima ou abaixo de toda a suspeita, um meio de viajar, negociar, viver incondicional.

Como qualquer leitor(a) saberá a situação geo-estratégica do Estado de Israel  não é, positivamente, a melhor do mundo. Cercado por países árabes que se sentem espoliados, mantendo nas suas fronteiras (que se alargam sucessivamente) comunidades expulsas de suas casas, privadas dos seus direitos mais elementares,  condenadas a não ter um Estado que as represente, minadas por seitas terroristas, por desesperados açulados pelo Irão. Digamos, para simplificar que mesmo isoladas e abandonadas pelos países e povos irmãos estas comunidades segregam gente perigosa para Israel.

E são tratados como tal, convém dizer. Basta ligar a televisão...

A famosa lei da AR já foi vagamente remendada mas no seu conjuntoas regras de reconhecimento de vítimas de D Manuel e a sua reparaçãoo são tão elásticas que até um cavalheiro russo sem ligações mínimas e reconhecidas – exceptuando a formidável fortuna – ao sefardismo já é português!

A CIP é uma comunidade reduzida. Terá dois centos de pessoas ou pouco mais. Durante anos, a sinagoga da rua Guerra Junqueiro esteve fechada por falta de fieis homens  que justificassem o culto.

É pequena, dizia, as muito, muitíssimo, activa. Imaginem que a sua frenética actividade é presponsável por mais de 90% dos reconhecimentos  oficiais de judeus sefarditas.

É bom que se explique que para além de oferecer (pagando e parece que não pouco!)um passaporte, o Estado português não exige nada. Nm residência habitual ou esporádica, nem conhecimento da língua, fa História, da Constituição, dos uses e brandos  costumes. Nada! Raspas de nada!

E é difícil saber-se o que faz o Estado perante as bichas enormes de peticionários melhor dizendo advogados (que não são  pro bono) que se apinham à porta das repartições com mais uns processos de reconhecimento de nacionalidade.

Uma reportagem recente revelou que havia peticionários e advogados que dormiam na rua madrugada fora para obter uma senha  miraculosa paea poder levar avante mais uma leva de cinco (5) novos cidadãos.

Claro que estes “cidadãos” não virão para cá  concorrer com os pobres imigrantes do Nepal ou de África que, pelo menos vem trabalhar naquilo de que os locais fogem a sete pés. Nem, provavelmente virão fingir que investem comprando casas de luxo em Lisboa ou no Algarve. Apenas querem o passaporte por via da UE. Só.

Os meios de comunicação social já deram a notícia da negociata que, alegadamente, certos advogados, o rabino da CIP e mais algum comparsa levavam a cabo. Falou-se de somas mais que respeitáveis de dinheiros, de contas escondidas e surpreendentes, de medidas de coação contra vários acusados que estarão a ser investigados.

Ninguém falou da Comunidade perseguida mas apenas de uma ou duas dúzias de criaturas que, alegadamente, lucram fartamente com o mercadejar da nacionalidade portuguesa.

Não se vê sequer um cabo de esquadra à porta da sinagoga, slogans pintados nas paredes, cruzes gamadas, nada.  Também não se enxerga aos sábados depois do ofício religioso  quaisquer anti-semitas a perseguir as famílias que saem da sinagoga e vão tomar um café nas vizinhanças.

Mas a queixa da “comunidade” (no seu todo até mais ver lá foi para a europa. Enroupada em acusações terríveis, medos de espavorir o mais pintado, eis um retrato de Portugal . pais que, porém, continua a ter centenas ou milhares de peticionários pela nacionalidade. Serão ignorantes, quererão ser mártires do Arbeit macht frei?   

O novo nome do Porto é Oswiecsin (que em alemão deu Auschwitz), Bergen-Belsen ou outro do mesmo teor e substância. Será o vale de Campanhã um futuro novo Babi Yar?

Esta acusação de alguém em nome da CIP (e ainda não se viu membros dessa comunidade a repudia-la ...) é uma canalhada, uma sacanice, uma mentira, um crime.

E é, além do mais, estúpida e ridícula. Mas contra isso não há nenhuma lei. Infelizmente, mesmo se há muitos anos, o poeta Joaquim Namorado tivesse proposto um novo Código Civil com um artigo único e um pa´ragrafo também único:

Ártº !º  (único) É proibido ser estúpido

  • único É abolida toda a legislação em contrário

Vê-se que este excelente código não se aplica nem à AR nem à CIP. É uma pena!

*na vinheta: o ghetto do Porto atacado? De modo algum. é tão ó o quotidiano de Gaza...

 

 

 

 

 

au bonheur des dames 524

d'oliveira, 05.09.22

 

Bizarrias governamentais

mcr, 5-9-22

 

Fará esta madrugada uma semana que à uma hora da manhã, a dr.ª Marta Temido se terá fartado de ser o punching ballde todas as profissões ligadas à saúde, se fartou e, zás catrapás! Demitiu-se. 

À uma da manhã, repito, hora do lobo, quando os portugueses faziam óó  excepção feita a uma minoria estúrdia que só a essa hora começa a “carburar”. 

Desconheço a que horas o dr. Costa soube do pedido mas na manhã seguinte aceitava a demissão. Aceitava, é um modo de dizer.  Dr.ª Temido já estava fora do circuito mas permanecia dentro do mesmo para aprontar um par de coisas que, em boa verdade, deveriam competir ao senhor(a) que se seguirá naquele caminho entre precipícios.  

Não há, neste curioso país, quem perceba esta embrulhada da ministra que já não é mas continua a ser. Nem Y, um velho amigo dado à solução de enigmas, emérito jogador de go (tem mesmo um grau japonês pois pariticipou lá numa série de torneio que  o tornaram conhecido e temido (como adversário, claro pois que eu saiba nada tem a ver que a ministra que há um  ano jurava que queria voltar a ser simplesmente Marta. Não confundir com uma horrenda novela radiofónica ou, quiçá, televisiva que dava por “simplesmente Maria”, coisa ainda pior do que o romance da coxinha. ) 

Y passeou-se uma vez comigo em Paris e, ali ao Luxemburgo, melhor dizendo na esquina da rus de Medicis, demos com uma livraria que se chamava “L’Impensé Radical”. Foi lá que descobrimos o jogo do go. O proprietário, um fulano grego ou de origem grega entusiasmou-nos de tal modo que dali partimos para um café na tua de Rennes (chamar-se-ia “le trait d’union” se não erro) onde oficiava uma pequena seita de maluquinhos do jogo.  Y, conseguiu a proeza de se sentar a uma mesa e bateu um novato. A partir daí a coisa foi fulminante. Tornou-se um estudioso desse antiquíssimo jo que provavelmente será de origem chinesa e começou a meter-se em tudo o que era torneio. Até aprendeu japonês!!!

Pois este original, este excêntrico, este português errante, tem agora uma teoria: a demissão era a fingir, a dr.ª Temido cabara por regressar em triunfo e como afirma Costa “a política continuará a ser a mesma. Y, acrescente que o desastre é que não será o mesmo mas maior. 

A hipótese  é, a meu ver, rebuscada mesmo se tenh algum encanto puramente académico. 

É que um pedido de demissão feito de madrugada é ,das duas uma: um resultado de uma monumental carraspana ou um grito de alma profundo e sincero.

Não corre que  a dr.ª Temido seja amiga da pinga, sequer de um pinguinho, tem todo o ar de só beber água, água pura, quase  destilada, uma dessas águas evanescentes que se vendem em garrafinhas seladas e importadas. 

Portanto, vamos, para já, acreditar que, finalmente ela percebeu que era uma carta fora do baralho. E que agiu em consequência. 

E o dr. Costa?, perguntará algum(a) leitor(a). Pois o dr. Costa deve ter ficado pior do que uma barata. Então a serigaita que ele trouxera quase ao peito, a quem dera pessoalmente o cartãozinho de militante, que quase nomeara candidata à sua sucessão, faz-lhe uma coisa destas? Uma birra! Bate com a porta! De madrugada? Toma lá que já bebes. E pronunciou uma fatwa pior que as dos ayatokahs. Ficas no posto até resolveres um par de berbicachos.

E assim a infeliz Marta está neste momento a atravessar o deserto da política, na solidão dos que já não servem para nada senão para exemplo. 

E já lá vai uma semana! 

Sem, de modo algum, pôr em causa, de perto ou de longe, os deveres conjugais  destas duas criaturas,  quase parece que Costa está com dor de corno. Logo ele que aguenta os ministros contra tudo e todos, contra ventos e marés, contra o bom senso, a razão política e tudo mais, logo ele, dizia apanha com uma flausina rebelde que andou anos a fazer o jogo da frente populista (disse populista e não popular)a dar lições de esquerdismo atoleimado e radical ao PS, a fazer a vida negra aos infames privados e a tornar cada vez mais concorrida a debanada de médicos, enfermeiros e outros técnicos de saúde.  E a petiza, de repente, sente um aperto mitral e pimba!, desanda pela porta dos fundos sem ai nem ui? 

É claro que a ordem de Costa poderia ser ignorada por Marta que saía a bem ou mal. Esta pessegada de alguém demitido sem força política continuar num lugar que subitamente se tornou eminentemente políco (no mau sentido da palavra) já nem sequer é um escândalo. 

É apenas, ridícula. 

Quem, dentre os falados e não falados sucessores aceitará tomar conta de um cargo tão armadilhado pela antecessora que inclusive irá nomear a criatura que chefiará o SNS? 

Claro que ser ministro tem os seus encantos mas, que diabo!, esta rosa parece ter muitos mais espinhos que pétalas! 

Será preciso muito estômago e pouca espinha vertical para vir dançar este tango imposto por Marta, com música e letra de Costa. 

Isto seria divertido se não fosse pungente. Se não se tratasse da saúde de nós todos- Mas isso, pelos vistos, é de somenos importância...

estes dias que passam 734

d'oliveira, 02.09.22

 

 

 

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Os ricos que paguem  crise

mcr, 2-9-22

 

o slogan que dá título ao folhetim tem cinquenta anos bem medidos e, pelos vistos, mantem toda a sua actualidade. No caso vertente, eis que, mais uma vez, vem à baila pela mão de um sr. .Lavadinho que é desde há anos muitos,  presidente de uma associação de inquilinos portuguesa (ou algo com nome e ambições semelhantes).

Desconheço quantos associados tem esta agremiação, quem o elegeu e qual a sua representatividade no universo dos mais de 700.000 inquilinos portugueses. Pouco importa, de resto, porquanto é sempre esta criatura que aparece quando se trata de apontar o dedo aos medonhos senhorios.

Agora, ao anúncio de que, no próximo ano, as rendas poderão subir 5,3% eis que, como se esperava (e era normal, aliás) rebentou a tempestade. 

As rendas, segundo Lavadinho e uma senhora que, dia sim - dia não, pontifica num jornal de referência, vão estrangular os inquilinos. São imorais! São exorbitantes! O Governo deveria promulgar uma lei travão para impedir o funcionamento do mercado. 

Conviria recordar que 70%  das rendas em vigor andam abaixo dos 400 euros. Que dois, vírgula qualquer coisa – ponhamos 3% estão acima dos 1000 euros. Por aqui se vê qual é aragem do andar da carruagem. 

Longe de mim contestar um facto conhecido: Os salários são miseráveis quer o mínimo quer o médio. Todos os dias o custo de vida sobe sobretudo neste ano post-pandemia, post seca extrema e com sete meses de uma guerra infame.

Sobe tudo mesmo se em certos sectores agrícolas o pelo dos factores de produção (juntamente, repete-se, com a seca) afogue os produtores de leite  (pelos vistos terão já sido fechadas 200 vacarias!!! por impossibilidade de exploração). A carne encareceu e encarecerá mais devido à mesmíssima seca, aos incêndios que destruíram pastos e consumiram reservas alimentares para o gado; há rebanhos dizimados pelos mesmos motivos, a azeitona terá uma produção igual a 50/ 60% do passado ano. E por aí fora! Vai haver menos vinho. Nem o mel escapa. Milhares de colmeias foram queimadas pelos fogos e não há flores para as abelhas sobreviventes. Os apicultores terão de as alimentar de outra forma bem mais cara...

Os combustíveis estão como se sabe, apesar de haver um desconto num dos impostos que os oneram, a pesca sofre igualmente com os preços dos factores de produção e tudo isso pesa duramente no cabaz alimentar.

Sabe-se que no universo dos senhorios há uma forte fatia (fala-se em mais de 30%...) de proprietários envelhecidos,  modestos que vivem de rendas igualmente modestas e não conseguem sequer reabilitar os prédios que possuem  porque recebem pouco, os edifícios estão deteriorados, e o custo do restauro mínimo subiu fortemente. E, obviamente são obrigados ao pagamento de impostos (quem é proprietário é, afirma-se, rico!).

Em Portugal e desde os primeiros anos do século passado, recorreu-se duradouramente ao bloqueio ao aumento das rendas em Lisboa e Porto  muitas vezes noutras localidades, melhor dizendo onde havia mercado de arrendamento. . Como consequência este mercado não cresceu, a propriedade imobiliária urbana foi-se arruinando lentamente por falta de obras de manutenção, os senhorios sempre a braços com o aumento do custo de vida  viram os rendimentos baixar. O mercado diminuiu tanto que, a partir dos anos 60/70 d0 século passado, dada a escassez de oferta, a compra de casa própria começou a ser uma opção cada vez mais prosseguida. Com as consequências que se percebem. Maior degradação ainda do edificado mais antigo, diminuição acentuada  da oferta para arrendamento. E um peso brutal nos encargos dos novos proprietários.

As normas travão foram parcialmente abolidas  mas o mercado pouco se modificou. A única excepção relevante foi o recente  aparecimento dos alugueres de curta duração que de resto tiveram um temível efeito nas zonas centrais das cidades mais visitadas. Milhares de inquilinos, viram terminar os seus contratos, outros  foram despejados perante a indiferença dos poderes públicos e o aplauso dos cavalheiros do turismo a qualquer preço. 

A pandemia travou esta negociata (ainda se recorda um vereador de Lisboa, campeão da justiça social e proprietário de um prédio  comprado e todo transformado em T0 de low cost!!! ) e tramou um par largo de especuladores. Porém, com o afluxo de turistas tudo voltará aos velhos e bons momentos de 2019.

Pelos vistos, graças à miraculosa ideia dos ricos pagarem a crise, ao exemplo odioso e altamente prejudicial do bloqueio de rendas que durou décadas, ninguém se lembrou de aplicar aos arrendamentos com titulares pobres de pedir  ao Estado outro tipo de medidas desde o desagravamento de impostos até ao subsídio social de renda controlado pelo Estado.

Para quê? Os senhorios lá estão como vacas leiteiras a substituir a Segurança Social e tudo o resto. Pelos vistos o aumento dos combustíveis, da energia, dos alimentos não os toca! 

Também ninguém se lembrou de, por exemplo, associar o bloqueio de rendas à isenção  de impostos sobre  estas  e complementado, onde houvesse lugar, por descontos no IRS (bastaria uma simples alteração na qualificação de despesas que poderiam ser declaradas como gastos e enquadráveis nos descontos legais).

 

É chegado o momento de informar quem me lê que sou proprietário de dois prédios antigos em Lisboa. Até há uns anos havia um terceiro que foi sendo vendido primeiro aos inquilinos (por preços acordados com eles ) depois. à medida que outras  fracções foram ficando livres sempre por falecimento dos inquilinos, desfizemo-nos delas por venda. Neste momento com a recentíssima morte da última inquilina com a bonita idade de 104 anos venderemos a fracção e ficaremos livres de um prédio onde enterrámos uma fortuna em despesas de manutenção. Os dois restantes estão arrendados por fracções. É bom salientar que sempre que um apartamento fica livre, dado que foi ocupado as mais das vezes por muitos e muitos anos, há que levar a cabo o seu restauro. Contas feitas, os cinco anos que se seguem não dão qualquer lucro porque com o aluguer se amortizam os gastos. Isto sem contas com os gastos gerais do prédio e a quota-parte deles em cada apartamento. Num desses prédios só a renovação completa do elevador custou quase 30.000 euros. Isto num conjunto de arrendamentos em que o mais elevado (T3 renovado) atinge os 800 euros. Durante a pandemia, a pedido dos inquilinos comerciais, permitimos que pagassem apenas metade (e até menos) do preço. O resto começou agora a ser satisfeito e em prestações fixadas pelos inquilinos.

Obviamente, perguntar-se-á porque é que ainda os não vendemos. Apenas porque a minha Mãe, senhora de cem anos feitos e perfeitos, tem uma crença que se resume nisto: só a pedra evita a pobreza do proprietário. Por isso, autorizou apenas que se negociasse um único prédio. Claro que, a cada venda, suspira de contentamento pois nós não deixamos de a informar que a sua parte corresponde a um número elevadíssimo de rendas. Mas mantém as suas convicções com uma firmeza exemplar e nós, filhos, acatamos a sua teimosia inconformados mas obedientes. 

Em quarenta anos de herdeiros nunca despejámos ninguém, nunca permitimos a mínima degradação nos imóveis e nunca nenhum inquilino nos dirigiu a menor queixa ou acusação. Todavia, quando a minha Mãe nos deixar (e que seja o mais tarde possível)  juro que deixarei de ser senhorio seja do que for. 

Acabou! 

Nem senhorio, nem parvo, nem benfeitor e muito menos vaca leiteira ou segurança social. Mas nunca farei parte na turbamulta idiota do slogan que titula este desabafo.

 

 

 

 

diário político 262

d'oliveira, 01.09.22

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A liberdade mata as ditaduras

d’Oliveira fecit em 31 de Agosto

 

A morte de Mikahil Gorbatchov levanta de novo uma interessante questão: o regime comunista é inexoravelmente diluído pela liberdade. Decompõe-se, desaparece, deixa um vazio perturbador.

Os pressupostos em que assentou o “poder dos sovietes” ( e é bom lembrar que estes duraram muito pouco tempo, pelo menos na sua primitiva e revolucionaria forma tendo sido substituídos por organismos com o mesmo nome mas sem a mesma e libertária substância) foram sol de pouca dura. Os bolcheviques (isto é a famosa maioria chefiadapor Leniin), depois da tomada violenta do poder, imediatamente subordinaram as direcções de todos os novos órgãos revolucionários aos diktats do PC(b) russo e organizaram todos os partidos “irmãos” segunda as rígidas regras da IIIª Internacional.

A revolução mundial não aconteceu, a teoria sagrada que mandava a revolução ocorrer num país avançado (Marx referia a Alemanha, a Inglaterra ou os Estados Unidos da América) com um proletariado industrial numeroso, bem organizado em sindicatos fortes e com um partido experiente em todas as frentes incluindo a parlamentar.

Nada disto ocorreu na Rússia e a revolução passou muito pelos milhões de  soldados e marinheiros mobilizados e cansados de uma guerra que dizimava regimentos inteiros, aliás mal comandados. Foram os slogans do fim imediato da guerra  e da terra quem a trabalhaque galvanizaram os incipientes ”proletariados” citadinos e camponeses. Aliás, só os primeiros poderiam vagamente apelidar-se de proletários. O resto, a imensa massa de camponeses chamados às armas  não se concebia como um corpo organizado nem tinha uma ideia nacional global da pátria russa que defendiam. A Igreja e o trono  eram, eventualmente, os únicos pilares em que acreditavam.

Em 1917, multidões imensas de soldados, fartos da guerra, esfomeados, revoltaram-se. Queriam regressar as suas terras, às suas famílias, aos seus pequenos troços de terra. E não queriam morrer nem ser carne para canhão.

A ideia de continuar a lutar por uma Rússia sem imperador  não lhes suscitava qualquer entusiasmo.

Isso foi bem compreendido por Lenin, e a “revolução” de Outubro  (feita aliás contra uma parte dos mais fieis bolcheviques)  triunfou na rua. O poder esboroou-se no caos que, dia a dia, aumentava. Um punhado de tropas fieis aos bolcheviques (com os marinheiros de Kronstad em evidência) tomou o poder, destituiu todas as autoridades saídas da primeira revolução, desapossou os sindicatos que se opunham, eliminou a direcção dos sovietes e graças à disciplina dos seus primeiros núcleos venceu toda a espécie de adversários que também nunca se entenderam entre eles. Os enormes contingentes mobilizados no campo  sabiam que lutavam contra os antigos opressores e isso lhes bastava. A inteligentsia citadina desprezava e odiava a anterior elite política, a multidão de aristocratas que cercavam o imperador e tinham entrado imprudentemente numa guerra para a qual não estavam preparados moral e militarmente.

Os recém criados partidos políticos burgueses ou evolucionários foram rapidamente aniquilados. Uns por terem tomado o partido da contra-revolução, outros por não aceitarem o bolchevismo, a disciplina pesada boldhevique e tudo o que posteriormente se chamou centralismo democrático.

Anarquistas e socialistas revolucionários foram impiedosamente perseguidos por Lenin que nunca foi meigo com adversários (e que viria a ser alvo e vítima de um atentado vindo dessa massa de radicais perseguidos).

O partido bolchevique que mais tarde se tornará PCUS temperou-se nessa luta incerta, venceu-a graças à disciplina interna, expurgou continuamente quaisquer  dissidentes, não permitiu fracções nem mesmo vagas opiniões divergentes. Com a morte de Lenin e a ascensão  de Stalin, a direcção do PCUS foi sendo metodicamente laminada. Durou anos (1924 1936) mas finalmente o partido que saiu do fim dos processos de Moscovo era algo de profundamente diferente do inicial partido leninista. Tirando Stalin e dois ou três sobreviventes, todos os restantes dirigentes comunistas pereceram por fuzilamento, desapareceram nas prisões e nos campos da Sibéria. Eles, as famílias, os amigos e seguidores ! um massacre de milhões. Se Lnin fora, apesar de tudo, um fore primum inter pares, Stalin acabou com o mito da direcção colectiva e governou sozinho. E isso tornou-se a marca dos novos partidos comunistas, incluindo todos os europeus (que de resto tiveram durante todo o tempo do Komintern uma direcção bicéfala, a publica e nacional e a dos enviados de Moscovo, revolucionários profissionais que dirigiam na sombra, vigiavam a ortodoxia e só obedeciam ao “centro)”

De resto, da revolução mundial, passara-se à teoria duvidosamente marxista da defesa do  socialismo num só país e à defesa desse mesmo país, no caso a URSS.  E esse estado de coisas não acabou com a morte de Stalin antes continuou praticamente intacto até às grandes convulsões no movimento comunista mundial .

A ditadura do proletariado foi na prática a ditadura do PCUS na URSS e a ditadura da URSS no bloco socialista.

Por cá a mesmíssima URSS era “o sol na terra” expressão atribuída a Cunhal mas repetida nos grandes momentos do PREC.

Fácil é de perceber que toda esta amálgama de ideias criadas ao longo de cinquenta anos  isolava crescentemente os órgãos de poder soviéticos, criava uma nomenclatura aparelhística,  educada na obediência absoluta ao dogma do centralismo democrático que mais não era do que as decisões dé cima enviadas para baixo, tudo no mesmo corpo de funcionários escolhidos não pela competência mas sim pela fidelidade ao ideário aprendido nas escolas de formação desde o Komsomol até às Universidades. Nmu universo destes, em que não há confronto de opiniões, liberdade crítica , o conformismo instala-se, expulsa os espíritos mais independentes, isola-os, priva-os de liberdade e de emprego caso não os envie para o arquipélago GULAG.

Nos anos 60 já a URSS é vermelha por fora e seca por dentro. A competição com os EUA só tem força no que toca ao armamento. A população soviética (e a dos países do Pacto de Varsóvia) vive mal, há dificuldades de abastecimento de todo o género de bens de consumo, a opinião pública é formada por um núcleo de meios de comunicação absolutamente uniforme  que preserva o regime mas o apodrece por dentro.

Ora foi isto, esta evidência de um mundo autista que Gorbachov, ele próprio criado dentro do sistema, percebeu. Foi contra isto que terá tentado lutar.

Sem, porém, entender que um mísero raio de liberdade poria tudo de pantanas. Como aconteceu. Bastou a ideia de glasnost para fazer desemperrar as línguas. Bastou a perestroika para evidenciar o desastre económico, industrial, financeiro. 

É bom lembrar que, no resto do mundo, o movimento comunista já não era aquela mole uniforme , disciplinada, obediente aos ukases do Kremlin. No Oriente, a China atacava a ortodoxia rusa numa perspectiva “revolucinária# e aventureira. E tinha seguidores em toda a parte. No Ocidente, a Jugoslávia há muito que se desprendera do bloco  pró-soviético, a Albânia rezava por uma cartilha ainda mais maoísta que a maoísta, e os grandes partidos ocidentais (francês, italiano e o emblemático espanhol) apostavam tudo, mesmo que a diferentes velocidades, no euro-comunismo.

As crises de Berlin, em 1951, da Hungria, 1956,  da Checoslováquia (a primavera de Praga, 1968) e o despontar do Solidarnosc na Polónia  provavam à evidência quão periclitante era o poder da ideologia que, para se manter, recorria cada vez mais à repressão desenfreada, as poderosas polícias políticas nacionais mas não estancava nem as deserções nem a crescente hostilidade da população.

Este era o panoramsas. Já nada parec,ia poder salvar o sistema quê subsistia apenas e só, graças à repressão. Neste ponto de vista a URSS vivia um período de falta de futuro idêntico ao que se viveu nos anos 70 em Portugal.

O navio estava a naufragar e só não ia ao fundo por ser demasiado grande.

Gorbachov percebeu perfeitamente isto mas enganou-se ao pensar que um pequeno e tímido regresso às míticas origens de 1917 poderia resolver o problema. Não podia, como se viu. E. Aliá, a hostilidade do aparrelho, da nomenclatura, do ortoxia mais vesga fizeram o resto. A triste intentona de Moscovo co a consequente prisão do Secretário Geral numa praia, suscitou um contra golpe popular que fazia lembrar Praga com as populações acercar os tanques dos golpistas. E Yeltsin fez o resto, coisa qu muitos, quase todos, fingem esquecer ou ignorar.

Gorbatchov era um homem só no dia em que regressou à capital e A URSS tinha-se evaporado mesmo se ainda demorou tempo a espernear.

 

(este texto estava terminado quando, sem qualquer  surpresa, soube da nota do PCP . Convenhamos que o “p” final é mais putinista que português. O PCP faz-se de tonto ou então não percebeu nada, coisa que não é de todo improvável.

Chora pelo fim de um país artificial que durante cinquenta anos foi uma espécie de berçário para os militantes portugueses. Foi também o farol, farol autoritário, dos mesmos. E por mais juras de amor à pátria, é verdade que a URSS enchia de orgulho o coração dos escasso número de militantes do interior que com enorme coragem e imensa fé lutavam contra a ditadura. Niso convém dizer que os comunistas não foram os únicos nem os mais numerosos combatentes contra o Estado Novo. Mas foram, sem dúvida, os mais disciplinados, quase sempre os mais eficazes, e seguramente os mais odiosamente perseguidos. E por isso , enquanto a URSS ia para a fossa comum, o PCP conseguia durante algum tempo manter a sua unidade e coesão, expurgando de quando em quando mais um grupo de militantes mas guardando a severa ortodoxia que o caracterizava (e caracteriza). Nunca embarcou nas novidades do euro-comunismo, nunca perdeu a sua identidade original. Porém, os tempos, o tempo, o mundo mudaram e agora, também ele, PCP se vê duramente reduzido em militantes, importância política, controlo de câmaras e deputados. Basta confrontar os últimos 10  ou 15 resultados eleitorais  para ver a curva descendente que, sem apelo nem agravo, se acentua.

A nota emitida sobre Gorbatchov não poderia ser outra mas é também a manifestação do autismo que o caracteriza. Paz à sua alma!

Gorbatchov vai sobreviver-lhe! 

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