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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 751

d'oliveira, 31.10.22

Les temps sont difficiles (suite)

Ou 

Por uma unha negra

mcr, 30-10-22

 

 

no momento em que estou para aqui a dar ao dedo ainda não sei se o ainda actual presidente do Brasil já se deu por derrotado. 

Diga-se que lhe vai ser difícil confessar a derrota sobretudo quando esta lhe vem demonstrar que a culpa é dele e quase só dele. 

De facto o seu partido (ou a Direita onde o PL é agora a maior força) ganhou folgadamente nas eleições para  o Senado e para a Câmara dos Deputados pelo que o desastre (por uma unha negra, mas desastre, de todo o modo) presidencial só se pode atribuir à boçalidade, à impreparação e à arrogância do candidato.

Também é verdade que o sr Lula da Silva não pode cantar uma grande vitória pois, nem 51% dos votos conseguiu. E foi preciso que todo o Centro (e provavelmente alguma Direita mais envergonhada) saltasse para a arena no que alguém chamou defesa da democracia. 

Lula, no inicio do seu discurso de vitória foi igual a si próprio pelo menos no descaramento: isto de agradecer a Deus a escassíssima vitória depois de anos e anos de laicismo exacerbado mostra bem as possíveis futuras dificuldades que ele vai enfrentar. 

Eu não sei exactamente como é que num país tão imprevisível como o Brasil, alguém vai governar sem apoio suficiente dos poderes legislativos. 

Ainda não tenho o número excto de Governadores estaduais conseguido pelo PT e eventuais aliados mesmo se já se saiba que os Estados mais ricos (à excepção de Minas Gerais) caíram nas mãos da Direita.

A maioria dos comentadores afirma que a Democracia se salvou no último round. É verdade mas convenhamos que resultado do que, bem ou mal,  se convencionou apelidar de campo anti-democrático  é, no mínimo preocupante

Faço parte daqueles que acreditam que com outro candidato, a “Esquerda” ou a “Democracia”, poderia ter tido um resultado muito mais claro, melhor e de maior segurança. 

E, já agora, suspeito que a Direita com um candidato menos detestável do que Bolsonaro poderia ter facilmente arrebatado a eleição.  

Dada a minha venerável idade, ainda recordo Café Filho, Juscelino, Jânio Quadros para falar de presidentes anteriores à Ditadura dos Generais. E digo ditadura dos generais porquanto ainda recordo Getúlio Vargas um presidente saído de um golpe de Estado e mais tarde reeleito  até ao seu suicídio que, recordo-o

bem, me impressionou muito. Li todas as histórias sobre esse momento numa revista muito famosa chamada “Cruzeiro” que chegava a Lourenço Marques do mesmo modo que para a miudagem chegavam o “Guri” e o “Gibi”  que em Moçambique substituíam o “Cavaleiro Andante” e “O Mundo de Aventuras”.

Se cito estas duas publicações infanto-juvenis é apenas porque, algumas vezes, os desvarios da certa política brasileira lembram mais histórias fantásticas para adormecer meninos mal comportados do que o dia a dia normal de uma sociedade democrática.

O Brasil está permanentemente na cabeça de muitos portugueses,  nem sempre pelas melhores razões. Mesmo se Jorge Amado escreveu “O país do Carnaval” o carnaval do Rio (ou da Baía) não resume, não representa e muito menos, mostra um outro, e mais temível,  Brasil que continua a ser um país onde o racismo vive às claras e confortavelmente. Basta olhar para uma fotografia do Congresso para perceber que ali os negros estão em absoluta minoria para já não falar nos índios que devem ser inexistentes e que são chacinados na Amazónia sem que os poderes se mostrem demasiadamente  perturbados. 

Entretanto, é Lula quem vai, apesar dos seus cansados 77 anos, governar um país  que parece mais dividido do que nunca.

O grande problema é que, nestes anos bolsonaristas (para não falar nos ano Dilma) Lula criou o deserto à sua volta e sacrificou o malogrado Hadad (que agora perdeu S Paulo) que poderia ter sido um eventual presidente não fora ter sido atirado às feras com um único propósito “salvar” Lula. A verdade é que nesse salvamento, naufragou ele e é duvidoso que possa ser repescado para novas aventuras eleitorais. 

Lula fanha, finalmente, porque o Centro (o “centão”) engoliu uma imensidade de sapos só para não ver um desvairado “imbrochável” regressar  ao Palácio do Planalto. 

Os tempos que se avizinham mesmo sem bolsonaro vão ser difíceis, muito difíceis. 

estes dias que passam 750

d'oliveira, 30.10.22

Les temps sont difficiles 

mcr, 30~10-22

...au fond tout ça c’est subalterne

quando il y a qu’un seul mec qui gouverne... “

(les temps sont difficiles- Leo Férre)

 

Hoje há eleições no Brasil. Competem dois detestáveis candidatos e a pergunta é qual será o menos odiado pois provavelmente vencerá. Om país com duzentos anos de história independente chegou a isto. E este “isto” não tem nada de brilhante, de prometedor de futuro. Entre um militar boçal e uma criatura que permitiu o mensalão e tudo o resto, que esyá velha e acabada, sem propostas que mereçam sequer um minuto de reflexão, os pobres eleitores que já na primeira volta tinham mostrado o seu profundo desinteresse ou a sua profunda repugnância, não tem saída honrosa. 

Pessoalmente, mesmo felicitando-me por não ser brasileiro, eu seria capaz de engolir um elefante ainda maior do que há muitos anos o dr. Álvaro Cunhal propunha aos seus correligionários. Taparia o nariz e tão colado às paredes quanto possível votaria em Lula, esperando que a vida, o tempo e a sua idade poupassem o Brasil a uma longa governação. 

Todavia, tenho o (mau, péssimo) pressentimento de que a vitória penderá para o “imbrochável” que, provavelmente não passa de um triste ejaculador precoce. 

A esta hora terão começado a abrir as salas de votação  e ninguém se atreve a fazer prognósticos. 

Rezo à Senhora Aparecida que proteja o Brasil, mas pedidos de ateu costumam não ter resultado. 

 

Lá para as partes orientais deste continente, a Rússia  queixa-se de um ataque “terrorista” de drones ao porto de Sebastopol que por acaso meramente geográfico fica na Crimeia. Igualmente por acaso, é dessa península que terão partido centenas de drones contra instalações eléctricas ucranianas. E, graças à propaganda russa, sabe-se que dos navios da esquadra do mar negros foram disparados mísseis durante estes quase nove meses de guerra. Pouco  importa: a resposta a tudo isso é “terrorismo”! 

Como seria de esperar a resposta ao terrorismo é a suspensão da passagem de navios carregados de cereais com destino a alguns dos mais pobres países do mundo onde a fome espreita ou, melhor (pior!) já impera. 

Todavia, nada disto, perturba os nossos escassos russistas ou o senhor Sousa Tavares que continua do seu soturno canto a insistir num acordo entre um agressor que não cederia nada e um agredido que perderia boa parte do seu território! 

Hoje mudou a hora mas o mundo parece que continua igual. Ou quase: no Irão, os “pasdaran”, isto é os guardas da revolução, avisam os manifestantes (que continuam a morrer como tordos) que a partir da agora vai ser a sério! Que quererá isto dizer? Tanques nas ruas? Prisões maciças? Execuções a esmo? Preparemo-nos para o pior.  

Os tempos não correm de feição...

au bonheur des dames 540

d'oliveira, 28.10.22

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O africano que se orgulha de África 

mcr, 28-10-22 

 

 

por razões de vária ordem  fiquei preso a África desde os meus longínquos 13 anos, altura em que a família foi para Lourenço Marques. 

A ideia de abandonar a minha terra, os meus amigos, a  paisagem familiar  começou por me aterrorizar e, sobretudo, entristecer- Porém, bastou-me a primeira visão da baía enorme e das margens e ilhas que a fechavam bem como a visão da cidade para depressa me converter aos trópicos. 

E, durante os três anos do 2º ciclo dos liceustive a oportunidade de viajar um pouco e de conhecer o Norte, mais propriamente o chamado distriyo de Moçambique para onde fomos, estava eu já no quinto ano. Não posso dizer que tivesse ficado a conhecer todo o enorme território mas como o meu pai tinha amigos e conhecidos em várias, muitas, circunscrições tenho ideia que me falya pouco para ter viajado por todo o distrito que, por comodidade, chamávamos de Nampula, incluindo a costa e particularmente a belíssima ilha de Moçambique, na altura quase um museu vivo da primitiva ocupação portuguesa.

Entretanyo, depois de fazer o 5º ano, foi decidido que regressasse a Portugal (à “metrópole”) em vez de voltar a Lourenço Marques para terminar o liceu. Os meus pais lá desconfiavam, e bem, que um rapazola sozinho naquela cidade pintaria a manta. 

Voltei pois aos cinzentos dias (para quem estava habituado ao sol africano) portugueses e só por altura de férias (e nem sempre) voltei a pisar solo africano. 

Todavia, nunca esqueci àfrica, os cheiros africanos, s cores, o Índico e a vida diferente que um jovem “colono” lá levava. Para os brancos, a vida era fácil mesmo se as pessoas trabalhassem como em qualquer outro lado. Mas o regime colonial tinha obviamente facilidades que noutro lugar  na “metrópole” precisamente, não existiam. Uma imensa população negra encarregava-se (melhor: era encarregada, forçada, obrigada) dos trabalhos pesados e mal pagos. Não eram cidadãos mas mera paisagem. Não iam à escola muito menos frequentavam o ensino secundário, a menos que fizessem parte do pequeníssimo grupo de “assimilados” que, mesmo assim não tinham um estatuto que, mesmo com generosidade e ingenuidade,  se pudesse qualificar de decente.   

Por acaso, porventura por não ter disso criado na colónia, ou por eventual virtude própria, não só nunca me considerei superior a qualquer outra pessoa fosse qual fosse a sua cor, a sua língua ou a sua religião mas, bem pelo contrário sempre me fui interessando por aquele estranho, obscuro, misterioso mundo. Tentava aprender o máximo de palavras nos dialectos e línguas que nos cercavam, perceber a realidade que quase toda a gente desprezava. 

Não se pode dizer que tenha ido muito longe nessa pesquisa adolescente mas alguma coisa cá ficou. É dessa altura que me vem à lembrança certos poetas africanos que timidamente se acolhiam aos jornais em circulação (Craveirinha, Noémia de Sousa e mais alguns outros quase sempre brancos mas tocados pela magia do trópico – e nesse grupo incluo Fernando Couto, pai do Mia que mesmo não sendo um poeta excepcional escreveu o belo poema “o medo e a esperança” de que dou os primeiros versos 

Tranquilo e devagar entro na aldeia

de mão ao alto aberta em sinal de paz

Desertas e contudo palpitantes

se encontram ainda as palhotas

 

 

E nessas primeiras leituras coloniais fui-me apercebendo da ferida aberta,na altura ainda invisível para um rapaz recém-chegado.

Foi apenas quando cheguei à Universidade  que, mais apetrechado de leituras sobre África , que comecei a perceber e toda a sua extensão o temível “fardo” de vergonha “do homem branco” moçambicano. E o meu interesse sobre África redobrou muito para além da guerra que se aproximava. 

Ao longo dos anos fui reunindo uma biblioteca sobre temas africanos que andará já nos 50 metros lineares de estantes(quem quiser perder tempo que calcule o número de livros que aí cabem).Uma boa parte diz respeito à “expansão portuguesa” (venerável e falsa palavra que só uso por comodidade ) dividindo-se o resto em textos de História, de Arte, ficção e poesia.  Pelo caminho, graças aos cuidados da PIDE & correlativas forças de “segurança” terá desaparecido mais uma centena de obras das mais diversas.

Nos últimos anos, devido ao aparecimento de uma galeria de arte africana no Porto fui constituindo uma pequena colecção de máscaras e estátuas africanas que agora está a ser devidamente fotografada e preparada para um site na internet, quiçá um livro  e um álbum. A colecção foi sendo feita sem critério de qualquer espécie ou com um: se a peça me agradva e estava dentro de um preço razoável, era adquirida. O que significa que, pelo caminho, ficaram muitas e belíssimas obras que a prudência e o bom senso (e a falta de cacauzinho) desaconselhavam. 

Muitas dessas peças comprei-as na “African Art” uma galeria situada no Porto e competentemente dirigida por S M Keita, um cavalheiro do Mali, sabedor, simpático e entusiasta. 

Está por cá ha mais de vinte anos, granjeou uma freguesia interessada e obviamente vende de tudo um pouco , desde pças de colecção até outras menos interessantes mesmo se normalmente genuínas.

Agora deu-lhe para organizar as colecções dos clientes e eventualmente organizar álbuns com copiosa informação e identificação das peças e da sua origem étnica e geográfica. Hoje, ao passar por lá para entregar uma peça que não fora fotografada, mais precisamente uma estatueta Yombé (Cabinda ou RDA). E deu-me para fazer um par de fotografias com o telemóvel  apenas para dar uma ideia da loja. 

nas vinhetas, de alto para baixo:parede com máscaras variadas; grande fetiche (+ ~1,5 m) parede das marionrtas Bozo (peixes epássaros)

 

 

au bonheur des dames 539

d'oliveira, 27.10.22

 

 

 

 

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Como há 70 anos!... 

mcr,27-19-22

 

 

o Nuno Maria fará, dentro de três semanas, cinco anos. Anda na “escolinha” tem boa relação com o pequeno grupo de meninos e meninas da sua sala, aprende coisas, e agora até tem lições de piano que, a acrecentar à nataçãoo, ao karaté e oaginásio aos sábados me parece tarefas demasiadas. Todavia, pelos vistos, não se cansa.

Ao vê-lo manejar o telemóvel da avó e o tablet, também da mesma complacente vítima, fico com a ideia que sabe muito mais do que eu nesse capítulo temível da electrónica. 

No resto é um rapazinho normal, sempre em movimento, que todos os dias nos surpreende (tão esquecidos que andávamos...) com a sua permanente descoberta do mundo.

Agora pediu à mãe para nos telefonar e comunicou-nos que tem uma necessidade imensa e imediata de uns cromos do mundial de futebol que se aproxima. Previne que são coisas caras (imagino que esta observação vem direitinha das negativas dos pais a comprar-lhe a todo o momento as saquetas de cromos (1€ cada uma com cinco figuras de jogadores, suponho) 

Digamos que é para isso que servem os avós ou este avô que subitamente se viu atirado setenta anos para trás para colecções idênticas que na época vinham a embrulhar rebuçados de tostão. Lá se ia preenchendo a caderneta e a coisa dava origem a um forte mercado de trocas pois, obviamente havia muitos “repetidos”

Ao lado das equipas de futebol havia outras colecções: bandeiras de todos os países do mundo ou bichos. Neste último caso lembro-me que havia três muito difíceis : o bacalhau, o cabrito e um outro que me escapa. Oh que aventura acabara colecção! 

Claro que já estou a comprar as saquetas que, segundo a rapariga do quiosque dos jornais se vendem como pãezinhos. 

A vida não está propriamente fácil para meninos e pais de meninos. E de meninas que, ao que sei elas também se metem nestas colecções. 

Há, contudo uma interrogação que se impõe: ele ainda não sabe ler pelo que das duas uma ou terá uma memória privilegiada para decorar todos os façanhudos jogadores neste mundial ou porá pai e mãe de faxina a ordenar-lhe a coleclçao e a separar os repetidos. E neste último caso, recordo o Manuel António Pina que, em nome das duas filhas organizou uma cadeia de pais e mãe de crianças onde estes trocavam os cromos. Se calhar até se divertiam.

Todavia, este súbito mergulho num passado agora todo enfeitado de boas recordações é, deixem-me que comovido o diga, um bálsamo e um momento de inesperada alegria.

 

 

au bonheur des dames 538

d'oliveira, 26.10.22

 

 

 

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Há opiniões mas também aparecem “opiniães”

mcr, 26-10-22

 

 

quando se ventilou a hipótese de Rishi Sunak poder vir a ser  Primeiro Ministro, afirmei no meu pequeno círculo de conversas matutinas à volta das primeiras bicas do dia que a cor dele, a sua religião e origem só seriam temas de aprovação caso ele fosse trabalhista.

Um conservador de origem indiana, de religião hindu e conservador seria sempre considerado uma aberração (ou meso uma provocação)  das forças reacionárias. Pelo menos aos olhos de uma certa inteligentsia  muito estilo nomenclatura da saudosa época soviética que poderá ter desaparecido em certos sítios mas se mantém viçosa no torrãozinho de açúcar onde o marxismo tendência esparvoada é de regra. 

E, pimba!, ainda o galo não cantara três vezes e as luminárias do costume saíram em alta grita nos redutos onde se acoitam: 

“sunac não representa a imigração, as minorias étnicas, a cultura do elevador social, é rico, podre de rico e não passa de mais um vicioso representante da patrulha defensora do grande capital e dos mais obscuros interesses de uma Inglaterra imperial”. 

No meio desta vociferante acusação, as boas almas defensoras do proletariado, dos amanhãs que cantam, do direito à indignação, do progressismo a todo o vapor  e mais alguns mitos maiores ou menores em circulação (desculpa lá Cesariny o roubo mas provavelmente eles/elas nunca te leram nem te lerão pelo que isto nem sequer chega as ser margaritas ante porcos se é que citar Mateus será mais fácil e sobretudo mais piedoso) que mais não do que a versão caricatural de um marxismo à moda sul-americana e traduzido em calão. 

Fosse a criatura do Labour e outro galo lhe cantaria, choveriam os elogios, ninguém esconderia o seu percurso académico (Oxford e Stanford) ou os elogios recebidos pelo seu percurso ministerial. 

O diabo é que Sunac é conservador. Menos, seguramente, muito menos do que o senhor Modi mas esse está lá longe na Índia e é amigo da Rússia actual. 

Wu não sou exactamente um admirador da Grã Bretanha, dos seus políticos mas sou forçado a reconhecer que são os tories a trazer para a política mulheres (e já foram duas as primeiras ministras) judeus, e lá vai mais um, ou membros das minorias  onde também é a primeira vez. De resto a alta administração britânica está cheia de “gente de cor” (!!!) e boa parte dessa rapaziada vem dos meios conservadores e são fruto do elevador social à moda britânica. 

Mesmo em Portugal, no Portugal democrático, os primeiros políticos de origem indiana apareceram no CDS (Narana Coissoró)  e só mais tarde começaram a aparecer timidamente, descendentes de imigrantes africanos. Também é verdade que, por cá, o peso destas minorias  é muito menos do que na Grã Bretanha ou na França que atraíram desde cedo milhões de colonizados que, pouco a pouco, foram aparecendo nos parlamentos e nos gabinetes ministeriais. 

De todo o modo,  percebe-se a razão do caviloso ataque a Sunak. As comunidades imigrantes costumam ser alvo de toda a espécie de destratamento. Normalmente, os seus membros são gente fugida à fome, à miséria e /ou de perseguições étnicas, religiodas, políticas  ou simplesmente de guerras civis. Genericamente, chgam ao país que eventualmente os recebecom uma mão atrás e outra à frente. Isto para não referir que quem imigra tem fracos recursos, escassa educação escolar e por isso está condenado  aos piores e mais mal pagos trabalhos. Tudo leva os imigrantes ao ghetto e por isso este converte-se numa fonte de ressentimento gerado pela pobreza e pela comparação com a população residente e natural do país. 

Aseeim sendo, há alguma Esquerda que entende que estas zonas de clara exclusão social, política e económic são viveiros de futiros revoltados, ou mesm ode revolucionários. Se, porventura as coisas são diferentes só pode tratar-se de lumpen proletariado, vendido ao capital e cão de guarda da burguesia.

À falta de revolucionários autóctones, tenta-se mobilizar a periferia mesmo sabendo-se que, esta periferia apenas quer uma parte do bl e não outra sociedade. 

O sonho dos pobres não é a radiosa revolução de Xi jJInping, ou do rapazola da Coreia. É um modesto mas digno conforto burguês que de resto é auferido, s mais das vezes pelos radicais da esquerda chique e extra-parlamentar que, paradoxalmente nunca são oriundos das classes ditas laboriosas mas sobretudo da pequena e média burguesia urbana (não vale a pena referir que os grandes líderes históricos das revoluções pensadas ou concluídas nos sec. XIX e XX vem todos, em excepção relevante da pequena e média burguesia (ou da aristocracia no caso de alguns pensadores utópicos e de outros tantos anarquistas russos).O que se pede ao proletariado, onde ele ainda existe, é que seja a tropa de choque da Revolução e não a sua classe dirigente!

É clao que há ou havia a velha classificação de (ou atribuída a ) Gramsci entre origem de clsse, situaçãoo de classe e posição de classe. Graças a esse malabarismo teórico um jovem nascido na burguesia, educado nas escolas q que os filhos dos trabalhadores não chegavam, podia afirmar que não sendo de origem proletária, não vivendo dentro dos difíceis padrões da vida do proletário, poderiamiraculosamente sentir-se um proletário, e ser por isso um candidato a dirigente revolucionário. Os exemplos abundam mesmo em Portugal 

As habituais revolucionarias com tabuleta nos jornais de referência  não compreendem isto e por isso esganiçam-se contra os Sunaks venham eles donde vierem tenham eles a cor que tiverem ou  a fé que ostentam. Nem esperam pelos actos. “São pretos ao serviço dos ricaços” e isso basta-lhes.

*na vinheta: celebrações do novo ano hindu

 

 

 

Portugal por Inteiro - Territórios de Futuro

José Carlos Pereira, 25.10.22

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Estive presente há dias no lançamento do Think Tank Portugal por Inteiro - Territórios de Futuro, promovido pela Fundação AEP e pela Fundação de Serralves e liderado, nos seus órgãos executivo e estratégico, respectivamente, pelo vice-reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e ex-deputado, Luís Leite Ramos, e pelo antigo ministro e presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, Luís Braga da Cruz.

Este think tank propõe-se reflectir de forma prospectiva sobre as estratégias de desenvolvimento futuro de Portugal, contando para tanto com o contributo e a experiência de empresários, académicos, profissionais liberais, dirigentes associativos e outras personalidades da sociedade civil. Uma reflexão efectuada a partir dos territórios, elevados neste contexto a centro da visão e da esperança para o país.

A primeira conferência, proferida pelo antigo ministro e professor universitário Luís Valente de Oliveira, foi subordinada ao tema "Os Territórios e as Pessoas" e focou-se no impacto das questões demográficas no desenvolvimento, deixando evidente que esta iniciativa pode ser muito útil para ajudar a pensar o país fora da "bolha centralista e tecnocrática", como referem os promotores.

Na morte de Carlos Pimenta

José Carlos Pereira, 25.10.22

Morreu há uma semana o Professor Carlos Pimenta, fundador do Observatório de Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF) e antigo Pró-Reitor da Universidade do Porto. O reitor da Universidade do Porto referiu que se tratou de "uma perda irreparável para a Universidade e para a academia portuguesa". Os seus colegas do OBEGEF homenagearam um "homem bom, com enormes qualidades humanas e cívicas, amigo incondicional de quem teve o privilégio de com ele privar, uma referência maior de inspiração e alento".

O Professor Carlos Pimenta foi um dos autores do Incursões, com inúmeros textos publicados entre 2011 e 2012, publicados sob o pseudónimo "sociodialetica", os quais continuam disponíveis neste blogue. À sua família e amigos apresentamos as nossas sentidas condolências.

au bonheur des dames 537

d'oliveira, 25.10.22

 

 

 

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Inábil! Oh quão inábil!!!

mcr,  25-10-22

 

 

Nos fabulosos romances de Camileri (alguns dos quais publicados entre nós) há na esquadra do comissário Montalbano ( o nome é uma homenagem a Manuel Vasquez Montalban, um catalão filho de galegos emigrados em Barcelona) um personagem chamado Catarella que ão consegue abrir uma porta naturalmente antes arremete contra ela provocando de cada vez um enorme alvoroço e pondo em risco os gonzos e a fechadura.

E desculpa-se sempre afirmando que a porta “se lhe escapou das mãos pouco mimosas.

Eu, leitor fanático deste siciliano autor de policiais sempre passados na ilha, bem que gostaria de mecomparar com o comissário ou com os seus dois mais chegados comparsas mas, infelizmente, verifico desde há muito que apenas mereço Catarelá (ou, muito sicilianamente, Cataré!..)

(e por hoje estamos aviados de livros recomendados. Eu bem que gostaria de recomendar o novíssimo prémio Camões mas foi hoje a primeira vez que li o seu nome. Ora como só proponho autores que conheço, volto a um velho conhecido, seguramente bom que, ainda por cima, tem as suas aventiras dem dezenas deepisódios da RAI sob o título geral de “inspector Montalbano” E tão grande é o fascínio da série que ainda continua vinte e tal anos depois do primeiro episódio!!!)

E voltemos as minhas não qualidades no capítulo da habilidade manual. Não sei se alguma vez contei as minhas aventuras como fotógrafo.  Curtas venturas, acrescente-se e sem final digno. Eu explico: A rimeira vez que estive em Veeza, sufocado por tudo o que vi, pela história magnífica da cidade, pelas gentes, pelo falar veneto, pela comida, entendi registar fotograficamente aquela inesquecível descoberta. Entrei na primeira loj deartigos fotográficos que encontrei e adquiri o que, na época, era um bom aparelho, pequeno, leve, seguro e fácil de manejar. Recordo-me, corando de vergonha, que era da marca “Minolta”. O vendedor explicou-me sucintamente como usar aquele temível objecto  e parti para o mundo veneziano, disparando a torto e a direito. Gastei em pouco tempo um rolo com 36 fotografias e, depois desse hercúleo esforço, guardei tudo bem guardado .

Quando regressei à pátria madrasta (estávamos inda nos estertores do antigo regime) fui a uma casa fotográfica, entreguei a máquina e o seu conteúdo, e desandei. Uando, dias depois, fui pelas fotografias, o cavalheiro que me atendeu, olhou-me longamente e perguntou-me como que eu tirara as fotografias pedindo-me mesmo para mostrar o meu modu operandi.

Cumpre dizer que sou canhoto pois essa característica tem aqui uma certa importância. Pequei na máquina, encostei o olho esquerdo ao que eu pensava ser a objectiva e, pimba!, dei ao dedo.

O excelente homem olhou-me com simpatia, estupor ou piedade e explicou-me que eu fotografara 36 vezes o meu olho que na altura estava são como um pero.

Arrumei o maldito objecto que, anos depois, troquei por um catálogo de pintura de Roualt. E nunca mais tive outra máquina...

Agora, faço umas fotografias miseráveis com o telemóvel apenas para ilustrar estas vagas e etéreas páginas.

Poderia, fazer desta minha notória inabilidade toda um história que eventualmente começaria nas construcções de areia na prai, ou nos “trabalhos manuais” obrigatórios do liceu.  Um desastre absoluto agravado pelo uso de pequenas serras e outros instrumentos que até um macaco mal amestrado usa melhor do que eu.

Ontem, por exemplo, terei deixado o carro com os piscas ligados. Quando o porteiro da noite misericordioso me avisou os piscas piscavam mas a bateria estava ausente em parte incerta (e que tenha sido só isso...)

Nos últimos dias, este computador onde escrevo miúde, recusou-se a deixar-me entrar no espaço onde edito os textos. Eu bem que tentava, fazendo o que faço há anos, mas era sempre mandado (não àquela parte) para um espaço que dizia “criar um blogue”. Ora o raio do blogue tem quase duas décadas, está mais que criado  e eu bem que tentava chegar à página imaculada par meter a eventual vinheta e o pobre texto entretanto parido. Nada feito, era sempre reencaminhado para o diabo da página criativa. Tentei chegar a uma “ajuda” mas aquilo parecia escrito em urdu clássico pelo que desisti e recorri aos meus protectores do costume que me tratam dos computadores e me perdoam a ignorância soez amigavelmente.

À cautela levei um outro aparelho sempre Apple, claro, onde tudo estava nos conformes. A gentil Mónica Silva que tem o céu ganho só com as ajudas que me presta amável e sorridente, lá deu umas voltas  “entrando e saindo” e subitamente tudo voltou ao normal. E t ao depressa foi que mesmo ela, jura que nada fez.

Hoje mesmo, fui a uma loja de produtos ópticos, aqui no bairro, inquirir  sobre uma máquina miraculosa que sob o aspecto (e preço) de um computador de mesa, lê electronicamente um livro e mostra-o no monitor com a letra no tamanho que convém a quem como eu sofre duma doença incurável chamada “mácula” e que consiste numa afecção no fundo do olho que, no melhor dos casos pode ser tornada estável mas não melhorável.

Ocorre que o dito maquinismo é sempre importado pelo que já é grande feito haver em Lisboa uma loja que tem algo semelhante ainda que menos sofisticado onde irei ver como tudo aquilo funciona. Juram-me a pés juntos que aquela tarefa é do mais simples que há e que provavelmente não seria necessário  deslocar-me. Todavia, conhecedor que sou de mim mesmo, sabendo que burro velho não aprende línguas, entendi que preciso mesmo de ver, tocar, experimentar a tal maravilha leitora ue dá pelo gracioso nome de (lupa Eschenbach) Vario Digital FHD”. Irei armado de um livro sobre a arte tribal Kuba (Congo) que pertence a uma colecção de cerca de duas dezenas de volumes extremamente bem feitos, cada um sobre sua etnia e muito bem ilustrados. O meu problema é apenas o que decorre do tipo de letra usado que me obriga a ler aos soluços, de lupa em punho, um desprazer absoluto.

Ai se as coisas correrem bem darei por bem gastos os fartos morabitinos que aquilo custa. Até lá vivo apenas da esperança...

*na vinheta o celebrado Vario digital PHD

o leitor (im)penitente 254

d'oliveira, 23.10.22

 

 

 

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A aprendizagem da liberdade

mcr, 23-10-22

 

Cheguei a Coimbra em 1960 e rapidamente mergulhei por vício próprio, inocência abundante e desejo de aventura, nos círculos da “oposicrática” estudantil. E como todos os catecúmenos, levei a cabo a minha educação política  com determinação e alegria. Em Coimbra, longe da família e na companhia de outros jovens tão exaltados como eu, apenas um par de dúvidas manchava os meu dias. A saber: eu gostava imoderadamente de “westerns”, acabava de descobrir o fascinante mundo do jazz, apreciava Elvis Presley, Fat’s Domino  e restantes rockers , não suportava o fado (quer o de Lisboa quer o citadino) e admirava, olá se admirava algumas estrelas de cinema voluptuosas (A Monroe “prima inter pares”, a Vardot, a Lolobrigida etc...) que, à época, não cabiam, na estricta ideologia cineclubista que pregava a boa palavra do neo-realismo italiano. E tinha lido uma obrinha cujo título perdi mas que adejava à volta do extraordinário veneziano Giacoo Casanova. Não que eu quisesse imitá-lo, lonfe disso, tinha bem consciência do meu fracio físico, da minha timidez e não me via a fugir de inimigos poderosose, muito menos, a escapulir dos sinistros “Piombi”, a prisão lá no sótão do palácio ducal. 

Poressas alturas comecei a ler roger Vaillant (demasiado heterodoxo para os meus amigos mais puristas) e daí passei para os libertinos, onde fui encontrar uma companhia de cavalheiros admiráveis a começar pelo senhor cardeal de Bernis e a acabar justamente em Casanova. 

Descobri que o aventureiro era bem mais do que um mero sedutor e encontrei pela primeira vez umas “memórias” provavelmente resumidas das suas errâncias pelas Europas sempre longe da Veneza natal que lhe não perdoava o espírito e as acções demasiadamente libertárias. 

Aliás, fui-me apercebendo que Casanova não era apenas o “homem a femmes” mas que nas suas aventuras amorosas não cabia, bem pelo contrário, qualquer donjuanismo muito menos desprezo pelas mulheres, muitas, com que dormiu. É verdade que, mesmo hoje, quando a figura é olhada com simpatia, inteligência e respeito por uma sólida minoria conhecedora do século XVIII, ainda subsiste uma desconfiança (e alguma, bastante, inveja) sobre o modo como viveu. 

Porém, agora, que já está disponível o texto integral da “História da minha vida” é possível mapear as suas vagabundagens, verificar os seus encontros, avaliar as suas opiniões sobre os grandes (e eles foram muitos) que conheceu. E, finalmente, conhecer um espírito fascinante, um homem curioso e culto, um espírito livre  como poucos e que não fica atrás de algumas das grandes figuras do seu movimentado século. 

Como de costume, apenas venho chamar a atenção de aluns mais ousaos, para a figura de Casanova, recomendando absolutamente a sua formidável auto-biografia.

Ao longo de anos fui encontrando exemplares das “memóires” ou “histoir de ma vie”  nos mais diversos tamanhos, edições e comentários. Tirando as clássicas grandes edições (Pleiade, Bouquins) encontrei algumas outras que pelas ilustrações, tamanho, comentários e notas  ou até preço fui adquirindo. Com elas juntei uma pequena biblioteca de ensaios sobre a personagem que, em 1987 recebeu a unção da “europe”, uma das melhores e mais conceituadas (e mais inteligentes) revistas “progressistas” num número gordo e histórico que acabava por reconhecer o autor. Curiosamente, mas isso é para outra núpcias, também os “westerns, o jazz, os romances policiais o rock adquiriram com o tempo uma patine que nenhum critério político se atreve a desqualificar. E arilyb como a Bardot ou a Loren e mais muitas outras são agora reconhecidas e celebradas como mulheres que além da beleza tinham talento, humor, paixão pelo cinema e criaram personagens que resistem ao passar dos anos. 

(ou então o mal é meu que sou um velho cavalheiro que olha com serenidade e uma certa volúpia para os seus anos de juventude, efémero tesouro e se perdoa gozosamente a si próprio os pecados e pecadilhos capitais ou veniais que cometeu )  

 

 

 

 

 

*Casanova,” Mémoires”, Pleiade

3 vol , Gallimard, Paris 1948

*Casanova Histoire de ma vie (texte integral du manuscrit original  suivi de extes inédits 

Col Bouquins, Rober Lafont, 2 vol 1983

*Némoires de J.Casanova de Siengalt écrites para lui même suivis des memoires du prince de Ligne  nouvelle édition , 10 vol. Librairie Farnier fréres. Paris, 1888, enc de edit.  

*Jacques Casanova de Seingalt, venitien “Histoire de ma vie," il, enc de ed.  10 vol , Plon ed, 1960 

*Casanova, “Mémoires” Poche, 5 vol Gllimasr 1967

*Mémoires de Jacques Casanova de Seigalt /extrairs colligés par René Groos) )illustrations de Bruneleschi, 2 vol. Fibert Jeune, Librairie d’amateurs, s.d.

 

*Casanova la passion de la liberté

Catálogo da exposição que celebra a aquisição do manuscrito originalSob  a direcção de Marie-Laure Prévot  e de Chantal ThomasCol de Corinne Le Blouzet e Fréderic MartinBibliotheque Nationale de France e Le Seuil, 2011.240.pp. 39 x 25 , enc edit (no cat: un fac-simile de 37 pp do manuscrito original)

 

*Les voyages de Casanova 

Textos de Marco Carminoti   partir de “histoire de ma vie” 128 p      34 x 25 x 48 enc. Tela il por fotografias antigas, pinturas  do sec XVIII e XIX e aguarelas  de Auguste Leroux Citdelles et Mazenot, 2014

 

*Casanova “Europe”, n´697, Maio qo87

*”Casanovs, L’admirable” , Phiippe Sollers, Folio, Gallimard, 1998

 

*Curiosidade: Cartas de Casanova Lisboa 1757 António Mega Ferreira, Sextante, 2013 (inteligente, erudito e divertido)

 

 

au bonheur des dames 536

d'oliveira, 20.10.22

gasoduto para quê?

mcr, 20-10-22

 

O dr. António costa (com a colaboração eventual dos senhores primeiros ministros da Espanha e da Alemanha) anda de há uns meses a esta parte a propor a ligação de Sines por gasoduto às franças & araganças. 

Pelos vistos os navios carregados de caz liquefeito chegavam aquela simpática povoaçãoo alentejana, descarregavam o gaz que seria modificado para poder ser transportado em gasoduto e daqui seguiria, atravessando Portugal e a Espanha, para um destino europeu mais propriamente para a Alemnha e restantes países a montante. 

O sr Macron fez sempre má cara a tal projecto alegando que era desnecessário e, sobretudo caro. O sr Macron tem na sua bela terra de França vários portos capazes de receber osm mesmíssimos barcos que viriam a Portugal.

Por outro lado, as más línguas sempre anti-patrióticas!, alegam que este projecto é caro, caríssimo e que Portugal não possui tecnologia para o levar a cabo, tão pouco o quer pagar mas apenas receber a comissãozinha devida à descarga em Sines e ao atravessamento do território.

Percebe-se mal a posição de Espanha que tem gasodutos a dar por um pau e, sobretudo três portos de mar muito mais próximos dos Pirineus. A saber Bilbau, Valência e Barcelona.

Por outro lado, hoje mesmo foi assinado um acordo para estabelecer um gasoduto entre Barcelona e Marselha, sempre debaixo de água (ao contr´rio do proposto ou apadrinhado ou sugerido ou sonhado por Costa. 

Também parece estranho que, havendo às portas da Alemanha (em Roterdão, na Holanda) um porto imenso e dotado de tudo inclusive de terminais petrolíferos não se pense nesta cidade.

Eu sou pouco de ver televisão nacional mas ontem, por imperdoável descuido, enquanto esperava por uma reportagem sobre os impressionistas, caí na SIC Notícias  ouvi cinco doutos cavalheiros que, com inefável doçura e maldosa insistência estraçalharam a ideia do gigantesco cano através da península.

As criaturas citadas pareciam portuguesas e, sobretudo conhecedoras deste tipo de coisas ligadas à energia.

O argumento de vários portos muito mais próximos do centro da Europa e aptos a receber o gás pareceu-me sensato mas, como já afirmei, disto sei tanto como de poesia tártara do sec. XVI. Ou menos ainda, se possível.

Porém a geografia, o bom senso e o facto insofismável de certos países do centro europeu estarem bem mais apetrechados em técnicos, tecnologia deste ramo, leva-me a olhar com benevolência para umaa hipótese longínqua de Portugal e do Alentejo. 

E há ainda o problema simples mas definitivo de saber quem paga. Alguém acredita que o dr. Costa pense pagar do aflitivo bolso dos portugas um único tostão (ia a dizer cêntimo mas este é mais caro do que aquele) os custos seguramente substanciosos do cano, mesmo que só de Sines à fronteira. 

Alguém avisa que anda por aí nos espíritos iluminados a ideia de depois se pensar em hidrogénio verde que seria igualmente fabricado em Sines com auxílio da aguinha do mar que, para já está barata. Seia apenas necessário um estrutura dessalinizadora do género da que existe em Porto Santo ( mas maior, muito maior!) A referida estrutura cujo interesse não refuto seria aliás utilíssima no fornecimento de água para a malta beber, tomar banho, regar os campos, encher as piscinas e cuidar dos campos de golf  que medram em todo o lado como coelhos.

Estes meses de secara pura e dura serviram para nos avisar que o futuro hidrológico nacional está, digamos, comprometido. As barragens estão a 7% ou pouco mais. As chuvas fazem-se mais raras, a Espanha corta nos caudais dos rios internacionais, as energias alternativas dependem de factores que não dominamos sejam eles o vento ou a quantidade de sol.

Como acabámos com as centrais a carvão que agora, nesta crise fariam um jeito do catorze, como não usamos (nem queremos, Jesus, Maria, José” Abrenúncio! ) Centrais nucleares  estamos um bocado à rasca (permitam-me a expressão a que só recorro para não usar outras mais vicentinas que aprendi em Buarcos, menino e moço logo no primeiro dia de escola. Convém informar que à chegada a casa, agarrei o meu irmão mais novo e às escondidas no pátio repeti a dúzia de palavras aprendidas , coisa de que ele ainda hoje se lembra apontando-me um dedo acusador...)

Voltemos, porém ao gasoduto apenas para fingir que perguntamos ao dr. Costa e aos outros cavalheiros (e não são assim tão poucos mas sempre igualmente sapientes!) quem paga o cano. Qual o prodigioso serviço que prestará aos portugueses entre Sines e Elvas.

Também perguntaria, se valesse ac pena, em que pé está o estudo do famoso hidrogénio verde para exportar.

E arriscaria perguntar, hoje estou impatrioticamente curioso!..., se os restantes países europeus não saberão sobre o assunto o mesmo ou, blasfémia! mais do que nós?

Eu sei, oh se sei, que Portugal é um torrãozinho de açúcar, um jardim à beira mar plantado, nação valente e imortal, que demos mundos vários ao mundo (e não soubemos guardar ao menos um para a rapaziada...) mas uando vejo a imaginação teatral de uma heroína de Gil Vicente subir à cabeça de um cavalheiro político fico com algum receio. Como se lembrarão os cultos leitores, uma camponesa levava um bilha de leite à feira. Tinha a intenção de o vender e comprar ovos de pata com para incluída, o que daria patinhos que, engordados valeriam muitos morabitinos com os quais a intrépida moçoila com mais dois negócios faria fortuna e arranjaria dote capaz de seduzir algum vilão ricaço e bem parecido. E esta ideia, aliás excelente, tê-la-á feito dar uns passos de dança e, zás, catrapás!, deixou a bilha espatifar-se no chão perdendo todo o leite! 

Todavia, parece que já ninguém lê o mestre Gil como também não lê os outros, aliás. 

 

(o texto que agora aqui se publica é o resulta de uma ida a uma gentil dentista que armada com tremendos objectos, ajudada por uma luz intensa e pidesca, me tirou uma raiz de um dente deixada por uma anterior colega! Convenhamos que não doeu mas impediu-me de almoçar umas riquíssimas sardinhas, estou com a boca a latejar, não pude beber o meu chá e provavelmente, amanhã, quando for pelas primeiras bicas terei de as deixar arrefecer antes de as englutir.

Arre!   

 

 

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