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Incursões

Instância de Retemperação.

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Instância de Retemperação.

diário político 263

d'oliveira, 28.11.22

“de minibus...”

d'Oliveira fecit aos 28 dias de Novembro do ano da graça de 2022

“De minibus non curat praetor”, é uma velha expressão latina que, às tantas foi inventada pelos juristas renascentistas. De todo o modo, usa-se (pi usava-se) muito para significar que quem julga ou quem governa não se deve deixar enredar por coisas menores. 

Ora, este que estas traça não tem por hábito comentar essa luminária de quinta categoria que dá por Ventura  e é o conducator (em caricatura) de um partido que a sndice da Esquerda e o descalabro da Direita permitiram implantar-se de modo significativo no tecido político partidário.

Note-se que, ao contrário de umas criaturinhas que nem a constituição souberam ler, eu não quero proibir o partido em causa. Apenas, e só em casos excepcionais tecer um breve comentário sobre as suas posições que, genericamente, parecem aberrantes. 

Ora dobre a data do 25 de Novembro de 75, o sr Ventura bolsou um par de considerações  (as que se esperariam da parte de alguém que não percebeu o sentido daquela acção militar) que não coincidindo com as baboseiras de uma Esquerda doentiamente infantil  acaba por ter efeitos contrários aos que eventualmente terão sido queridos. 

Mas nem sequer disso venho falar. Apenas apanho um par de frases da criatura para lembrar que o seu discurso parece (ou é)  ou pretende ser um embuste. E isso porque a acreditar no que foi dito, o sr Ventura, e boa parte da sua clientela teriam estado presentes na ocasião, Eu lembraria que, pelos dados que recolhi na internet esta pequena amostra de chefe da Direita, mal traduzido e em calão do francês, não existia por volta de75. Aliás só terá nascido em 83, ou seja oito anos depois, com a Democracia consolidada e a despir-se das últimas tontices que lhe vinham do PREC (também ele, igualmente, traduzido em calão do famoso processo soviético mas com passagem pela peneira latino americana o que duplamente descaracterizava a revolução de Outubro. 

Este quase quarentão Ventura foi em seu tempo um medíocre comentador televisivo de futebol. Depois transportou a sua mediocridade para o campo da política autárquica (por erro grosseiro do partido que o alistou)  e acabou numa coisa chamada Chega que se alimenta do mais rançoso que a saudade do autoritário Salazar permite. 

Em todos os países democráticos há várias opções políticas e é tão legítima a existência de uma esquerda extra parlamentar ao lado de outra mais institucional e em estado terminal como de várias direitas igualmente presunçosas e radicais e que se alimentam exactamente da mesma gamela conflitual que a ultra Direita também cata. 

O que perturba momentaneamente o cidadão mais atento é este discurso pobre, patético e sobretudo baseado no não vivido. 

Alguém mais idoso, mais culto (o que não parece ser difícil ) e mais experiente lá lhe terá soprado duas toleimas sobre o 25 de Novembro e ele, zás!. Lançou-se sem sequer perceber que já nem a memória do 25 de Novembro suscita o mesmo alarido compungido que, em tempos felizmente distantes permitia. À distancia de quarenta etal anos a coisa fica como uma vaga correcção de percurso que, convenhamos, arrastava o país e a Democracia e a Liberdade para inconfessáveis sargetas políticas. 

De resto grande parte dos seus actores também já por cá não anda e é ténue, muito ténue, a recordação dos mais activos elementos vencidos nesse inócuo prélio militar sem sangue nem violência. 

au bonheur des dames 550

d'oliveira, 27.11.22

 

 

 

 

 

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Uma ovelha negra contempla o vasto mundo

mcr, 27-11-22

 

uma velha e muito querida amiga  enviou-me a vinheta que aí está por ocasião do (mais um e já lá vão muitos, demasiados) meu aniversário.

Só ela com a sua finíssima ironia, a paciência sábia que, a par de uma apurada inteligência e cultura, sempre a distinguiu é que encontraria um desenho que tão bem me vai.

Ovelha negra, sempre a protestar, nunca rancorosa mas não deixando passar a canalha (que aliás passa à mesma, indiferente ao dedo acusador, à língua afiada mas enferrujada, à mão escrevente)  que viceja por rodo o torrãozinho de açúcar (não sou Eça, nem lhe chego ao calcanhar mas cito-o sempre devota e risonhamente), eis o que eventualmente serei, adqui neste canto há mais de uma dúzia e meia de anos.

Estava eu, todo contente com o apodo concedido pela Maria A. quando me lembrei que aqui no Porto, perto de alguns (cada vez mais raros) alfarrabistas há uma loja de lãs, frequentada pela CG, intemerata tricotadeira, agora especialista em meias de cano alto, e que se chama justamente “ovelha negra” e é propriedade de uma amiga dela.

Como se atreve? E logo numa zona que conheço desde menino e moço dos meus tempos de prisioneiro num colégio (onde herdei  o número do meu pai que também por lá penou) de onde, com absoluto risco, fugíamos por uma balaustrada mesquinha de um segundo andar  levando no séquito um rapaz que já ia nas catorze dioptrias mas não queria dar-se por vencido. À frente e atrás, rezando ou praguejando iam os dois mais fortes da trupe que se evadia, tentando evitar uma queda que seria sempre grave. Depois entravamos por uma janela da sala de música, atingíamos um corredor na zona dos quartos dos professores, descíamos ao pátio alcançávamos os recreios que atravessávamos numa corrida entre gatgalhadas, saltávamos um muro que dava para o quintal duma tasquinha, bebíamos um copo de verde rasca até dizer basta (era a portagem exigida pelo taberneiro) e saímos para o mundo.

É bom que diga que o Porto à noite, naquele ano de 1959, era uma paisagem desolada a partir do início da noite, As pessoas, tirante o cinema, saíam pouco mesmo se, como de costume, a boémia limitava-se a uma dúzia de duvidosas casas de putas, três tristes cabarets uns grupos ruidosos de estudantes que iam de nenhures para sitio nenhum mas a mocidade escolar é mesmo assim: inpecuniosa mas desafiadora.

Estas surtidas fora das grades acabou de maneira pouco gloriosa e, sobretudo ingénua: uma noite, cerca das duas da madrugada caíram uns pobres flocos de neve. Mesmo poucos era m uma sensação. Alguém, no dia seguinte, a mesa do pequeno almoço contou a insólita novidade que chegou num ápice à direcção.  Os cerrados e hábeis interrogatórios a alguns elementos menos fiáveis do grupo evasor foram suficientes para se conhecer a infra-estrutura da fuga nocturna , as janelas foram fechadas com chave e a rapaziada desinquietante ficou reduzida ao dormitório onde se dobrou o número de prefeitos.

Desde esse malfadado dia fiquei a odiar nevões (no caso nevinho ridículo e inconsequente).

O colégio já passou à História, o jardim fronteiro é um parque de estacionamento, boa parte do pequeno comércio existente na praceta foi comido por um hotel e por uma esquadra de polícia. O resto da paisagem é um conjunto de montras entaipadas. E de hostels, apartamentos de aluguer de pequena duração que, ao fim e ao cabo, isto é o centro do Porto. A conta da ganância de alguns senhorios já desapareceram da zona quatro alfarrabistas, mesmo se – é verdade! – tenham aparecido três mais recentes, um dos quais mais loja de curiosidades e velharias do que livraria. E a rua a seguir está a tornar-se uma zona especializada em antiguidades ,velharias e oficinas de candeeiros. E há ranchadas de turistas que metralham tudo com os telemóveis à procura do very tipical tripeiro. Que, obviamente, está ausente em parte incerta.

Tudo isto suscitado por mais um aniversário em que me surpreenderam com uma prenda inusual: um concerto comentado da 6ª sinfonia de Bruckber. Eu conheço muito mal, ou desconheço muito bem, este autor mas assisti (ouvi) com curiosidade ao concerto mesmo se o lugar em que estávamos (2ª fila) apenas permitisse ver as cordas. Já  me viciei no canal Mezzo de que sou freguês diário e por várias horas. Aí vê-se tudo que, para o efeito, as produções dispõem de inúmeras câmaras que nem sempre nos mostram o que queremos mas que são muito eficazes.

Voltando a Bruckner descobri que apenas tinha as sinfonias2, 3 e 7 que, em boa verdade, já não oiço há séculos.  O comentário que ouvi, de um especialista, foi interessante mas convenhamos que é demasiada informação demasiado precipitada e, por isso, pouco eficaz  mesmo se, e era o caso, a exposição fosse clara e inteligente. De todo o modo, este género de funções são para pessoas com mais ouvido do que eu o que, aliás, é fácil. Eu começo a desafinar logo no Do! Entre mim e a música há um amor mal correspondido. Adoro música mas ela, a malvada e fugidia, não me liga pêva. E, no entanto, tenho milhares de discos, o carro logo que arranca, desfia também uma de 8 pens carregadas de toda a sorte de músicas que dão para duas ou três voltas ao mundo de automóvel. Sei tudo ou quase sobre elas mas não me atrevo a trautear duas notas seguidas. Os meus amigos agradecem...

De certo modo, mereço ser a ovelha negra da vinheta, mesmo se mesmo assim, e musicalmente, isso possa ser considerado uma excessiva amabilidade...

 

 

 

 

estes dias que passam 759

d'oliveira, 25.11.22

Até a Roménia! 

mcr, 25-11-22

 

A notícia é fresquíssima e desagradável. A Roménia ultrapassou (ou ultrapassará já no próximo ano) Portugal no que toca ao PIB per capita. Lembremos que ainda há uma dúzia de anos a Roménia era o país mais pobre da Europa!...

Como anda toda a gente atarefadíssima  com o apoio à selecção é provável que esta triste novidade caia em saco roto. À uma porque é uma chatice das fordas. Depois porque o Sr. Presidente e as restantes altas figuras do Estado andam tão embevecidos com o apoio à Selecção que nem saibam o que se vai passando neste baixo mundo da economia .

E se, acaso, se lembrarem disto , logo retorquirão que a culpa é do Passos Coelho! Ou da troika! Ou da pandemia. Ou do diabo que os carregue...

No pouco sorridente ano de 1971 iniciei-me no Direito Comparado num primeiro ciclo de estudos ocorrido nas instalações magníficas, superlativas, da Gulbenkian que, posteriormente com generosas bolsas me apoiou até fundar tal empreitada. Conheci gente de quase todo o mundo e, entre essa pequena multidão, um romeno, mais velho, juiz, cultíssimo e multilingue, que me ensinou as primeiras anedotas anti-comunistas ou anti-soviéticas o que vinha a dar praticamente no mesmo. Descreveu-me o seu país condenado pela geografia e ocupado pela URSS via um casal de tiranos locais que felizmente morreu às mãos da turba maltratada, empobrecida e irada por alturas da revolução de 1989. Suponho que o Mihail (se é que soletro bem o seu nome) ainda terá podido assistir a esse momento libertador mas, como lhe perdi o endereço, nunca o saberei ao certo. Recordo porém, as nossas conversas sobre Faulkner, uma paixão mútua e sobre a pobreza dos nossos dois países. O Mihail afirmava que, em comparação com a Roménia, Portugal era rico, riquíssimo e, bem mais livre, o que aliás, na altura, me foi difícil de compreender e menos ainda de aceitar. Cinquenta anos depois, eis que a riqueza dos cidadãos romenos que, contudo, emigram supera a dos portugueses que, aliás, também emigram e às carradas...

Todavia, como já disse e previa, a pátria ou o que, por cá, se toma por pátria está extasiada com a vitória sofrida sobre o Ghana. E foi por pura sorte que não se empatou como se sabe. 

E o Sr Presidente lá cumpriu, enfim lá disse duas larachas numa conversa com uns interlocutores que não eram qataris, sobre Direitos Humanos. Por acaso, via CNN portuguesa, tive ocasião de ouvir um comentador português que explicou a quem o quis escutar que, ao lado de várias ONG e de várias organizações internacionais que intervieram no Qatar, a charla portuguesa e presidencial era pouco senão nada. Como, de resto se previa mesmo se o governo local tenha chamado o embaixador português para duas palavrinhas. 

Convém lembrar que Portugal é um dos três países que manda o seu mais alto magistrado ao campeonato. Pior manda igualmente os dois seguintes se é que não se resolvam a borregar na sua espalhafatosa e inútil atitude. A menos que vejamos o dr. Costa com uma braçadeira LGTBQ (como a ministra alemã fez questão de usar) e o Sr. Presidente da AR com uma gravata arco-íris!

De todo o modo, excepto meia dúzia de ranzinzas, o país viu o jogo, rejubilou, amuou, voltou a rejubilar e jura que à próxima vez, “até os comemos” Coném ter alguma cautela pois o Uruguai costuma ser indigesto. 

O que não é de todo digerível é este facto surpreendente de sermos ultrapassados pela Roménia no que toca a PIB per capita.

Parece que agora, só há mais seis países abaixo de nós. E o mais provável é que daqui a dois, três anos sejamos mesmo o último com futebol ou sem ele, aliás quase certamente sem Ronaldo... Ai Jesus, Maria José! O que mais nos irá suceder?...

 

estes dias que passam 758

d'oliveira, 24.11.22

Casas e estrangeiros ricos

mcr, 24-11-22

 

 

Há, só na região de Lisboa, 27.000 casas arrendadas por menos de cem euros! 

Não sei se estão em boas ou más condições de conservação e habitabilidade, mesmo se tenha a quase certeza de que o seu estado não deve ser brilhante. Nenhum senhoria consegue  fazer obras numa casa alugada a este preço. Quanto aos inquilinos, duvida-se que se resignem a reparar o que não lhes pertence. O resultado é a degradação cada vez mais rápida do edificado. 

Também não sei qual é a condição social dos inquilinos mesmo se presuma que, na maioria, serão pessoas idosos e, muito provavelmente, com poucas posses (o que é um eufemismo para significar pobres).  Duvido igualmente que os senhorios em causa sejam ricos. Se o forem não o devem às rendas recebidas. 

Este não é o único problema da habitação em Portugal, nem sequer o mais generalizado, uma vez que o mercado do arrendamento não cobre mais de20/30% do mercado da habitação. 

Agora, por óbvias razões, a questão agudiza-se com a subira das taxas de referência para empréstimos bancários mas o problema vem de longe e tem a ver com as leis que desde há muito regem o arrendamento urbano. As poucas casas para arrendar atingem valores altos, fora do alcance de uma forte maioria dos que querem uma casa alugada. 

Durante décadas as leis do arrendamento urbano prejudicaram severamente os senhorios o que levou à rarefacção do mercado e à súbita e incontrolada subida da tendência para a compra de habitação própria.  Com os resultados que se conhecem e com as angustias que se preveem.

E, como de costume, com o Governo a distorcer o mercado com ocorreu ainda recentemente  com mais uma fixação administrativa de rendas. E, pior, com a ameaça, de estender tal fixação ao mercado e novos arrendamentos. 

Consta que há senhorias que já começaram a retirar casas do mercado. Não tenho quaisquer meios para infirmar ou aceitar esta ideia mas, na verdade, verifica-se uma fuga de casas devolutas para outro género de mercados e fundamentalmente para os alugueres breves. 

De verdadeiro sabe-se apenas que centenas ou milhares de inquilinos vão sendo expulsos do centro para as periferias, cada vez ais longínquas, das grandes cidades. 

Os estudantes, as famílias jovens, desesperam por um quarto a preço decente ou um apartamento que sirva para um casal. Não há! Ou o que aparece é a preços que ou são altos ou, pura e simplesmente, especulativos. 

Com os meus familiares, terminei há dias de me desfazer finalmente (Aleluia! Aleluia!!!) de um prédio numa zona nobre de Lisboa, vendendo a última fracção após a morte de uma inquilina que ia nos seus 102 anos!...  Provavelmente porque não valorizamos devidamente  o apartamento, apareceu um comprador em menos de uma semana. É verdade que o prédio esteve sempre bem cuidado, estimado, nunca regatámos obras que, obviamente, foram sendo cada vez mais caras. Todavia, os restantes condóminos (o processo de venda começou  há anos e foram vários os inquilinos que não hesitaram em comprar os andares onde moravam nem nunca se questionou a necessidade de obras de manutenção julgadas necessárias ou apenas aconselháveis. Houve mesmo uma fracção que foi a leilão entre pretendentes a comprador!.. E já ocorreu – aliás recentemente- vender um apartamento ocupado por um inquilino que já lá se encontrava desde há muito).

Ter inquilinos, mesmo no nosso caso que, em dezenas de anos, apenas tivemos uma razão de queixa, é um risco que, pessoalmente, e logo que possa, deixarei de enfrentar. Não tenho paciência, muito menos idade ou vontade, e não me sinto especialmente vocacionado para substituir-me ao Estado no que toca à sua vertente social de protecção do Direito à Habitação. Muito menos estou para ser alvo de pequenas franjas radicais que veem o capitalismo selvagem, o imperialismo abusador e o fascismo rampante em todo o lado. Recuso-me a ser pião das nicas da iliteracia políca e económica de algumas figurinhas que se pavoneiam na Assembleia da República...

E já que estamos com a mão na massa, gostaria de saber que raio de influência tem os compradores ricos e estrangeiros, amadores de andares de luxo, com o mar em pano de fundo, com a falta ou a carestia de casas nitidamente construídas para classes médias  ou menos que médias, de tamanho reduzido e em bairros de muito menor gabarito? Quem vai por um andar em Alvalade, em Lisboa ou no Bonfim, no Porto  não se prepara para competir com os compradores de casas na primeira linha de mar do Estoril ou da Foz do Douro. Não é que não quisesse mas este género de comprado não vai atrás do luxo, mas apenas pretende um sítio que não seja um buraco para viver. Provavelmente, nem teria dinheiro para pagar o condomínio de luxo, a segurança 24 horas os porteiros de noite e dia e tudo o resto que, por arrasto, é pressuposto nas moradias de luxo. 

Usar o tema como arma de arremesso político é, além de uma burrice, um insulto à inteligência das pessoas.

Pessoalmente, sou absolutamente contrário à venda fisfarçada de passaportes ou de direitos de passagem por Schengen graças à compra de um pequeno palácio.Quem se diz pronto a investir em Portugal que o faça em investimento industrial ou desserviços e, deverá sempre ser verificado se o dinheiro é de fonte limpa. E o capital de muito investimento chinês, russo ou brasileiro tresanda! Isto, esta venda de benefícios é tão imoral quanto a entrega de mão beijada de passaportes portugueses a gente que, arguindo de um antepassado sefardita de á cinco séculos, alardeia um infinito amor a Portugal ou, sobretudo, a cidadania europeia. Não sabem nem pretendem estabelecer-se em Portugal, não falam a nossa língua, ignoram totalmente os nossos costumes e cultura mas, depois de um extravagante manipulação de dados biográficos, feita por gente que para o efeito, apenas tem a chancela de um duvidoso contacto com autoridades religiosas e o aval preguiçoso e criminoso do Estado que delega funções que só a ele cabem, fabrica portugueses a todo o vapor.  

Identicamente, no capítulo problemas da habitação aponta-se o tiro para todos os alvos excepto para o real que é a ausência de uma política que funcione, a incapacidade de proteger os inquilinos frágeis e idosos com uma medida tão simples quanto barata de, investigado cada caso, lhes conceder o subsídio de renda adequado até que, num futuro que nunca será imediato, criar uma rede pública de oferta de casas com rendas económicas e viáveis. 

Tudo o resto é fantasia. 

 

 

au bonheur des dames 549

d'oliveira, 22.11.22

Chuva e outras ocorrências

mcr, 22-11-22

 

ao acabar de datar o folhetim reparo que existeuma capicuao que significaria um dia de sorte. À cautela joguei no euro-milhões mesmo se as leis da estatística joguem todas contra mim. Nisto acabo por ser tão português como o resto dos meus compatriotas que acreditam sempre num bafejo da sorte mesmo à ultima da hora. De todo o modo, também é verdade que quem não se habilita não ganha...

Também não vale pedir a ajuda divina pois sou um réprobo comprovado desde a minha longínqua juventude. Isto de ter andado, ainda que brevemente, de má vontade e com expulsões finais, durante dois anos , em colégios com padres a chatear, bastou-me para perder a escassa fé e a pouquíssima vontade de ir à missa.

Todavia, encaro o mau tempo que faz com evangélica paciência. Sei que a chuva é precisa e de que maneira! E duvido que o que já caiu tenha composto convenientemente as barragens.

A CG  queixa-se do mau tempo, dos dias escuros, do mar que se não avista, sei lá do que mais.

Para ela, o mundo seria bem mais agradável se cumprisse o  dito (também ele muito português) de “sol na eira e chuva no nabal “. Conheço gente  que propões chuva à noite, se possível entre a meia noite e as seis da manhã. Dava para lavar as ruas e regar os jardins enquanto os enérgicos cidadãos dormiam o sono dos (in)justos.  Sempre       que chego à esplanada (na parte protegida, claro) oiço criaturas a protestar contra o tempo e a afirmar convictamente que já chove há imenso tempo.

Só lhes falta dizer que estamos prestes a criar guelras!

Isto que vou ouvindo passa-se num país com um clima, apesar de tudo invejável. Imgine-se por momentos que isto era como a Ucrânia onde já neva. Imagine-se o que será viver em casas com vidros estilhaçados, sem água corrente e sem electricidade. É isto o dia a dia de pelo menos dez milhões de pessoas, tantas quanto a população portuguesa.

Um país onde 30 ou 40% das instalações de fornecimento eléctrico estão destruídas graças aos misseis russos, aos drones iranianos que chovem por uma pá velha. A “operação especial” que ia libertar as populações oprimidas pelo infrene regime neo-nazi, opressor da língua russa e da religião ortodoxa, traduz-se, cada vez mais superlativamente, numa política de destruição absoluta, de terra queimada, de genocídio, de crimes de guerra. A coisa é de tal modo que até o nóvel Secretário Geral do PCP já usou, e por duas vezes, a palavra “invasão”! Pelos vistos, “he saw the Light” como se canta num spiritual. Demorou quase nove meses a parir esta simples descrição mas antes tarde do que nunca. O camarada Jerónimo agora entregue a outras e mais simples tarefas deve estar a revolver-se. E a escassa rapaziada “russista” lá tem de meter a viola (ou a balalaika) no saco. Que maçada.

E a chuva a dar-lhe forte e feio.... Oh que tempos difíceis!. Se Portugal não ganha ao Gana estamos feitos ao bife. E o Sr Presidente lá regressa de monco caído. (Só por isso atrevo-me a augurar uma impatriótica derrota!).

Entretanto com  chuva ou sem ela, os preços vão subindo com uma constância exemplar. O Professor Doutor Teixeira Ribeiro, uma das merecidas glórias de Coimbra, dizia que “a inflação crescia como nódoa de azeite num pano” Nunca encontrei melhor expressão para descrever este fenómeno.

Eu confesso que, perante esta situação, emudeço absolutamente. Não é por humildade mas tão só por ignorância. Todavia, o que mais me preocupa é que enquanto confesso a a minha total incompetência, assisto a uma miríade de luminárias que sabem tudo, propõem tudo e clamam por medidas que, à primeira vista, parecem pouco eficazes ou aceleradoras da inflação. Assistir aos debates na AR e medir a propostas sugeridas atormenta o mais pintado. Com tantos sábios a nau perde-se e com ela a cara e a tripulação. Tremo só de pensar no que seria se estivéssemos fora da Europa, das suas instituições como é repetidamente exigido por uma minoria ruidosa e ignorante.

O que nos vale é o Qatar e o futebol. E o Cristiano Ronaldo... E a Senhora de Fátima... E a “santinha da Ladeira”, já agora, (nunca se sabe se ela não será providencial)...

De todo o modo antes isto que estar na Ucrânia.

 

 

 

 

 

 

 

 

Au bonheur des dames 547

d'oliveira, 19.11.22

 

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Vamos todos para Pasárgada?

Não.Para Doha (a quem doer)

mcr, 19-11-22 

 

Manuel Bandeira, avozinho de toda a grande poesia luso-brasileira, escrever o poema que vagamente refiro no título, confessando que foge ao mundo de todos os dias para ir morar noutro ideal, mais perto da poesia e seguramente da utopia. 

O Sr. Presidente da República, vai por seu pé aplaudir a selecção ao país onde as mulheres, as minorias sexuais, os emigrantes e mais um gordo par de metecos não têm direito de cidade. Pelos vistos Sª Ex.ª que tem um gosto imoderado por falar de tudo e a todo o tempo, entendeu (versão benigna não especialmente credível) referir a propósito desta viagem o seu enorme respeito pelos Direitos Humanos afirmando que embora os defenda a outrance, a sua deslocação é um hino à portugalidade e um imenso amor pela equipa nacional. E vai, pelos vistos, a contragosto, a um emirato que se está nas tintas para estes e outros direitos, proclamando a sua existência com um grotesco, riquíssimo esforço para mostrar que mesmo num país sem futebol, este acontece na estação invernosa para provar que o Qatar existe.

Nada obriga, nem mesmo o mais extreme patriotismo,  a ir de longada até ao deserto para ver a “equipa se nos todos” ou para, esganiçadamente, a apoiar. E não vejo, a menos que o dr. Rebelo de Sousa imite os jovens climático-frenéticos e se ponha a gritar slogans no meio da rua, na bancada ou, un extremis a dizer duas bem fortes a um qualquer emir que se lhe atravesse pelo caminho. 

A selecção que não é feita de filhos família exaltados aguenta bem jogar apenas com o apoio caloroso de longe e com a garantia que os três mais altos representantes da república se reunirão numa sala do palácio de Belém ou na pastelaria vizinha devidamente paramentados com cachecóis verde-rubros e camisolas das quinas.

Ir ao Qatar mesmo com algum lacinho de DH na lapela é, de facto, fazer um intervalo n defesa dos direitos e dizer a quem vê que se é verdade que morrem uns emigrantes asiáticos ou se chibatam duramente s mulheres mis rebeldes (para não falar em tropelias mais fortes contra “desviantes” sexuais que, esses comem sempre pela medida grande...).

E não se diga que o presidente A ou o primeiro ministro B de países amigos também fazem essa triste romagem. Em princípio esses cavalheiros vão fazer largas negociatas e muitas e muitos milhões. Ora Portugal pouco tem para vender (excepto vinho que não parece ter especial êxito num país muçulmano) e como embaixador do torrãozinho de açúcar basta o Ronaldo mesmo se em declínio. 

A menos que os três insignes cavalheiros sejam adeptos amantíssimos da bola e não passem domingo sem uma dose de estádio ou de televisão, no quentinho e com muitas pipocas (e uma cervejinha para afagar o palato e prevenir  sede).

Eu não ouvi, da parte de ninguém, dos três citados, ou de autoridades desportivas ou clubísticas, uma crítica o milagre da escolha daquele deserto carregado de gás e petróleo e torres enormes, ricas e possidónias.

Ora sabe-se agora, sempre se soube, que esta escolha esdrúxula de país organizador foi banhada por um tsunami de dólares passados por baixo da mesa. Mais de metade dos comissionados para a escolha já foi banida e acusada de se ter deixado untar a pata voraz. Saíram das organizações futebolístico-mafiosas e agora viverão dos rendimentos mal adquiridos.

Mas desta história de mão estendida e rapace nada consta nos discursos oficiais. 

It’s football, it’s football

Ninguém leva a mal

 

a vinheta mostra que, pelo menos no Qatar (es a fotto não foi "arranjada" ) as mulheres ocidentais não estão obrigadas a usar vestimta local para tomar banho. Todavia desconfio que a fotografia  nada tem a ver com o médio oriente

 

 

 

 

 

Au bonheur des dames 545

d'oliveira, 18.11.22

 

 

 

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Pequena serenata nocturna em 2022

mcr. 18-11-22

 

eu ia escrever “requiem” mas os dois músicos que desapareceram foram de tal modo fonte de alegria que, pirateando o mais amado dos meus músicos, preferi o termo serenata (que para mim, ignorante e passado por Coimbra, é sempre nocturna).

Refiro-me a Bernardo Moreira  (Binau) um histórico do Hot club cujo quartto integrou. Era um excelente músico, um optimo divulgador e a sua acção no HCP foi de extrema importância.

Ouvi-o naquela velha casa duas ou três vezes mas nunca privei com ele. Todavia, a minha gratidão não é menor.

 

O segundo músico a que me queria referir é Jerry Lee Lewis, um dos pais primordiais do rock juntamente com elvis Presley, Fats Domino, Chuck Berry Roy Orbison e Buddy Holy.

Tenho a ideia de o ter ouvido pela primeira vez nos idos de 58 ou 59 graças a um colega de colégio ue, mais abonado do que qualquer de nós, comprava regularmente os 45 rotações que iam vagarosamente chegando. Era um fanático do rock e o seu empenhamento e (relativa) disponibilidade para comprar discos fizeram com que o alcunhássemos de “Discóbolo” (lembrança remota do que aprendêramos na história da Grécia Clássica...).

A adolescência molda muito do nosso gosto musical ou literário e eu confesso sem pudor que misturo nas pen que utilizo no carro, Mozart, rock, Nat King Cole e uma multidão  de jazzmen (descoberta já do tempo da universidade).

O que me dá gozo é que essas minhas paixões musicais são, hoje, quase todas, referenciais clássicos e aclamados.

JLL era um músico inspirado, extrovertido, branco do Sul e propenso a escândalos que quase lhe arruinaram a carreira numa América piedosa, conservadora e pouco dada à liberdade sexual fosse ela qual fosse.

O que é notável na carreira de JLL é a continua auto-reinvenção, a passagem por diferentes estilos musicais  e a novidade com que mesmo com quase oitenta anos ainda conseguia enormes audiências e vendas fantásticas dos seus discos. De certa maneira a longevidade acabou por o tornar a única testemunha viva de uma extraordinária revolução da música popular americana.

 

Sem querer transformar esta crónica num obituário não posso deixar de referir o Francisco Laranjo, um pintor talentoso e, por acaso, um tocador de harmónica bem humorado. Junto, como vinheta, um trabalho dele adquirido há uns bons trinta anos

 

au bonheur des dames 544

d'oliveira, 17.11.22

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Recado a quem na juventude não teve tempo para protestar

mcr, 17-11-22

 

Fui jovem há demasiado tempo, numa altura em que não era fácil ser jovem, ser português, ser cidadão e gozar dos mais elementares direitos. 

Não tenho saudades desse tempo obscuro (1958 e seguintes)  mesmo se no intervalo de várias peripécias pouco exaltantes tenha tido tempo para viver a minha “juventud divino tesoro” como dizia Ruben Dario.

Todavia entre as eleições Delgado, os anos do início da guerra, a contestação universitária, as prisões não sobrou muito (excepto recordações de que o tempo vai amaciando a aspereza) de festivo. 

Ou melhor: os meus amigos desse tempo e eu próprio vivíamos à sombra da incerteza sobre o futuro, encerrados num ambiente cinzento, que nos deixava poucas alternativas. 

Era o tempo da repressão a todos os níveis mesmo se moderado pela teoria do “par de safanões dados a tempo” que diferenciou o salazarismo dos vários “ismos” da época. Isto não era a Alemanha nazi a Itália fascista ou a Espanha franquista. Provavelmente essa alegada “brandura dos costumes” conseguiu, contra nós e apesar de nós,  durar os famosos quarenta 48 anos. 

Portanto, e para resumir, de protesto jovem, menos jovem, adulto tenho o papo cheio. E, naturalmente, alguma predisposição para tentar entender os jovens de hoje que provavelmente poderiam (com algum esforço...) ser meus netos. 

É claro que os anos moderam muito os ímpetos do mais pintado, a evolução do mundo ensina-nos a refrear algumas certezas, e a experiencia da democracia vai-nos indicando que há que misturar alguma água no nosso vinho mais espesso. 

Ora, e para chegar ao assunto do dia, há que tentar perceber a actual onda da contestação climática para tentar distinguir justamente o que não passa de moda e o que realmente ameaça as gentes. 

Convém lembrar que os piores efeitos do clima em mudança atingem sobretudo outros mais pobres, mais expostos a saber os povos ribeirinhos do Pacífico ou do Índico, os de África sobretudo os habitantes do Sahel e redondezas ameaçados pelo deserto e pela seca (para não falar noutras ameaças como seja o fanatismo muçulmano que corrói o Mali, a Níger, os Camarões, a Nigéria o Chade e a República Centro Africana. Isso combinado com uma série uase ininterrupta de golpes de Estado e guerra civil larvar torna meia África num pântano de incertezas, perigos desolação e morte.  Digamos, para simplificar, que quase todo o continente vive num precário estado de incerteza e de despotismo de onde poucos países escapam. Diria mesmo que o clima é para as populações do continente a menor das ameaças. 

Todavia, o perigo que (por exemplo) rodeia os habitantes de Cabo Delgado, de boa parte do Quénia, da Somália ou do Sudão é independente de cheias ou de secas e vive apenas do fanatismo religioso e político de pequenas minorias que se aproveitam da fraqueza (ou até da ausência) do Estado. 

Sobre este grave problema que afecta largos milhões de pessoas (pois há que juntar-lhes os africanos ocidentais ou os do Congo) não vislumbro grande interesse. Dos jovens ou dos iluminados anti racistas e anti colonialistas que longe dessa realidade ou a desconhecem ou a lhe desestimam a importância.

Portanto, vamos limitar-nos ao até agora fenómeno lisboeta de algumas dezenas de manifestantes que invadem os seus espaços escolares e se colam ao chão num ou noutro edifício público.

Não são multidão mas gritam alto e atraem os media sobretudo a televisão que junta o seu protesto a programas imbecis e infames onde por exemplo a exploração do corpo feminino é uma evidência. A vantagem dos jovens é que não se afundam na fossa do quem quer casar com o lavrador, ou na imbecilidade do alegado big brother (que gfrnde a memória de um escritor que por cá quase ninguém leu ou lê)

Tentei perceber os argumentos mais gritados do que falados de dois ou três luminares do movimento actual e descobri, entre espantado e desiludido, que por junto querem demitir o ministro da Economia por ele ter desempenhado funções relevantes nas áreas petrolíferas da Gulbenkian. Convenhamos que com tanto ministro menos digno atacar este que até sofreu os horrores da repressão governamental angolana, é no mínimo risível. E, pelos vistos, logo que o homem se dispôs a ouvir os manifestantes, estes nada tinham a dizer. Nada! Parece que, para além de o quererem ver pelas costas, não havia nenhuma proposta!!!

Voltando aos meus tempos de contestatário (em situações bem mais perigosas e graves do que as actuais) recordo-me que um dos poucos professores oposicionistas que havia na Universidade nos questionou sobre as razões de fundo e, sobretudo, sobre o programa que defendíamos para um futuro governo democrático. Entre um quarteirão slogans, lá conseguimos alinhar meia dúzia de razões. “É pouco...”, avisou-nos o nosso mestre. “Vocês tem de mostrar-se capazes de propor uma alternativa clara, evidente capaz de convencer o povo por quem dizem lutar.”

Nunca mais me esqueci disto e com vários outros camaradas de combate começámos a tentar perceber o país real e o que deveria ser um governo apto a melhorar duradoura e convincentemente a vida dos portugueses.

Ora, para além de narizes de cera e frases estereotipadas, pouco, quase nada fica desta movimentação outonal que aproveita a reunião do Egipto para, antes do Natal e dos respectivos festejos, ocupar o seu tempo. 

Todavia se, pelo menos, devemos alegrar-nos por haver, ainda que em porção côngrua, jovens mobilizados já é mais difícil entender o entusiasmo patético de adultos que não só ajudam ao foguetório mas vão ainda por  cima apanhar as canas. 

Eu percebo que alguns, porventura muitos, desses adultos (ou adolescentes retardados) queira afora apanhar a boleia duma contestação que não fizeram  na devida altura. Tanto mais que têm agora uma pequena tropa de choque a dar o corpo ao manifesto mesmo se isso se limite a colar as mãozinhas ao chão. 

Porém, as eventuais simpatias actuais não eliminam os velhos pecados da não actuação passada. Nem, de resto, valem os sacrifícios de gerações passadas que arriscaram o plo e, pelo menos, a liberdade nas lutas contra o Poder. 

É chato  não ter feito as greves estudantis de 62 ou 69, o Maio de 68, as manifestações contra a Ditadura, enfrentado a polícia de choque ou ter sido albergado, nem que seja por um par de horas, nas celas de uma esquadra de polícia.  Não tiveram oportunidade de ser “heróis” pelo que agora tentam apanhar a boleia de rapazes e raparigas a quem impingem a ideia de que só o capitalismo provoca alterações climáticas. Bastaria olhar para a China, para a União Indiana ou para a Rússia para encontrar companheiros e cúmplices dos Estados Unidos ou do Ocidente maléfico que, entretanto se vai adiantando na luta por melhorar o planeta. 

Isto caros adultos entusiásticos  “c’est pas le même combat” e uma coisa é vozear por aí, outra não dispensar o carro, o telemóvel ou as viajens de avião para ir apanhar sol nas Caraíbas (sempre num resort resguardado da incómoda presença dos indígenas locais que normalmente serão “feios, porcos e maus” como qualquer pobre que se preze e subdesenvolvido como ocorre. 

Uma breve palavra para os senhores directores de escolas que acham bem as ocupações mesmo se feitas por uma minoria mínima mas estridente. Essa ocupação só é relevante se não prejudicar o (também) direito dos restantes estudantes a receber aulas e a estudar. Alguém lhes perguntou a opinião?

 

(alguém me dirá que esses directores foram eventualmente estudantes em revolta arriscando eles mesmos a sua liberdade. Tenho sérias dúvidas. A democracia tem já 50 anos  e a idade média dos que contestaram o anterior regime andará pelo menos pelos 68/70 anos, ou seja uma idade que já pressupõe a reforma)

 

 

o leitor (im)penitente 254

d'oliveira, 16.11.22

 

 

 

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A burla indiana

mcr, 16-11-22

 

 

quem me lê sabe quem sem ser um especialista, perito, sequer historiador, tenho um forte interesse no que se convencionou chamar “história da expansão portuguesa” mormente em Árica.

Vivi parte da minha adolescência em Moçambique e ficou-me desde então uma inusitada paixão pelo território, pela sua gente, pelos costumes e línguas para já não falar na paisagem. 

Se eu pudesse (e tivesse um par de anos a menos) faria todos os anos férias naquelas praias que frequentei e tentaria descobrir as muitas terras que não cheguei a conhecer. 

À medida que começava a conhecer a história (e as misérias do sistema) colonial ,ais e mais me fui embrenhando nas revistas portuguesas (e são uma infinidade...) que na época analisavam a colonização, as guerras de ocupação, a evolução das sociedades coloniais. 

Há mesmo, neste copioso acervo de publicações animadas por “africanistas”, muita informação de primeira água sobre aspectos etnográficos ou geográficos que  ainda hoje são relevantes. 

Uma das publicações que, desde uma boa dúzia de anos, me interessa é a “Revista Portuguesa Colonial e Marítima “ publicação iniciada em 1897 e terminada nas vésperas da República.

Comecei a comprar os fascículos mensais depois de ter descoberto uma razoável quantidade deles num alfarrabista lisboeta que me garantiu que eu estaria a adquirir exemplares vindos da biblioteca de António José de Almeida, “africanista” notório e um dos pais fundadores da República. 

Curiosamente, os primeiros volumes da publicação não foram difíceis de coligir mesmo se tivessem vindo de várias proveniências. Mas a partir dos fascículos 100 a coisa tornou-se praticamente impossível. Se já antes havia falhas a partir daí (ano de 1905) nunca mas encontrei um único!

De quando em quando, arriscava-me a lançar uma pesquisa na internet  mas essa tentativa foi mal sucedida durante um boa meia dúzia de anos.

Até que, maravilha das maravilhas, encontrei subitamente um site hospedado em AB Books que me garantia todos os volumes em falta. 

E a preços decentes mesmo se esta noção tenha significados muito diferentes de leitor para leitor. 

Tudo correu bem (hoje mesmo recebi cinco volumes dos 9 ou 10 encomendados) e quando me gabei, há um par de dias a um grupo de alfarrabistas amigos ou conhecidos, eles gozaram-me. Que eu tinha embarcado num conto do vigário indiano que, pelos vistos, toda a gente conhecia. Que aquilo era o chamado “print for demand” enfim meras fotocópias das publicações que me interessavam.

Claro que era verdade. Estes volumes, encadernados num sintético sem especial beleza, são isso mesmo. Para os bibliómanos e blbliófilos encartados a coisa é uma grosseira falsificação. 

Todavia, eu apenas quero estes volumes para ler, eventualmente apenas os artigos que me interessarem. Digamos que, em vez de ir a uma biblioteca nacional tenho o que quero comodamente em casa. Se é assim, e é assim mesmo, tanto me faz ter o original como a fotócópia que, de resto, é de excelente qualidade. Só a encadernação (escusada) me irrita mas isso , até isso!, pode resolver-se mandando retirar esta e substituí-la pela que protege os volumes que já tenho. 

Os meus sorridentes amigos e conhecidos já ouvirão das boas quando os encontrar...  

 

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