Masoquismo nacional
mcr, 12-2-23
Masoquismo nacional
mcr, 12-2-23
já vai havendo pouca gente que recorde os tempos da “outra senhora”, isto é do “Estado Novo”, da ditadura, da “longa noite fascista” enfim os anos anteriores ao 25 A.
De facto, passaram-se praticamente 50 anos e para invocar memórias vivas e conscientes desses anos seria pelo menos necessário que quem recorda tivesse no mínimo 15/18 anos em 74. Por outras palavras, cidadãos com menos de 65 aos não tem memória razoável desse tempo.
Avivemos então o pouco que aindaresta de recordaçãoo: os anos 60 e os primeiros 70 em Portugal mesmo já não sendo os da exaltação patriótica e imperial que, aliás, não começaram com a Ditadura mas bem antes com o regime messiânico da República (que no capítulo colonial e imperial não deixou as suas preocupações por coisa morta...) .
A “pátria” que a escola nos ensinava era grandiosa, heroica, corajosa, invicta, povoada por santos e heróis. A missão civilizadora dos portugueses era glosada ad nauseiam, a capacidade para educar e trazer ao convívio da civilização outros povos, mormente os “pretinhos” era exaltada.
A realidade lá ia desmentindo as banalidades dos regimes que se sucederam mas à propaganda desses tempos começou a contrapor-se outra: a de que Portugal não passava de um país xenófobo, racista dos piores que o mundo conhece.
Este novo conceito que nos últimos três, cinco anos, começou a adquirir em certos meios o carácter de verdade absoluta e revelada via artigos de opinião em jornais mesmo os de referencia tem sido posteriormente alimentado por um par de líderes políticos que, nos extreos do arco parlamentar abundam em declarações tonitruantes.
Deixemos a extrema direita no seu canto cavernoso e saudosista de impérios qu nunca o foram verdadeiramente, de miscigenações mais ou menos forçadas resultantes do facto de nas áfricas duramente conquistadas o branco sem mulheres ir filhando nas raparigas submetidas uma descendência miraculosa e acerquemo-nos de um Esquerda ignorante, profundamente marcada pela ideologia mal digerida, e sempre pronta a tomar partido por todas as modas importadas de outros e menos brandos palcos de confrontos civis.
Como é sabido, cinco sextos do país quase que desconhecem os emigrantes que acorrem a Portugal e se amontoam na grande Lisboa, um pouco pelo sudoeste alentejano e no litoral algarvio.
Nestas zonas, repetem-se os casos de “guetização” dos recém chegados, facilmente identificáveis pela cor, pelo desconhecimento do português, pelo controlo de mafias várias que organizam as correntes migratórias a partir dos países de origem com ou sem comparsas portugueses.
De repente, Portugal viu-se destino de emigrantes do Nepal, do Bangladesh, da Indonésia (há uma forte comunidade ((+ - 350 homens)) de pescadores estabelecida na zona da Póvoa para não falar de fluxos mais tradicionais das ex-colónias ou do Brasil que, de todo o modo já quase são tradicionais e sobretudo falam com facilidade o português.
Há outras comunidades menos visíveis, mais longe dos jornais e da comunicação social (indianos vindos das ex-colónias por via da descolonização, chineses, marroquinos entre outras) que suscitam menos polémicas, menos denúncias de maus tratos.
Mesmo assim, seria bom recordar que ainda há pouco tempo começaram a ser denunciadas “prisões” chinesas, serviços de espionagem da China a operar em Portugal sem controlo ou conhecimento das autoridades locais. Por razões que se desconhecem essa denúncia morreu cedo, ou foi abafada ou escondida por quem se sentiu desconfortável (dada a proximidade ideológica com os acusados?) e silenciou as suas sempre prontas queixas contra o regime actual.
Portugal não é exactamente um país que atraia elites cultas e educadas como ocorre com alguns outros países europeus. Apenas temservido delocal de entrada para reformados que aproveitam um regime fiscal até há pouco altamente benéfico a par com um clima ameno e um custo de vida muito inferior ao dos países em que os actuais moradores estrangeiros até à idade da reforma viviam.
Também, por outras razões, começámos a ser p referidos por cavalheiros que descobriram que é possível “lavar” dinheiro comprando casas luxuosas e estabelecendo assim um local de refúgio para possíveis contrariedades fiscais nos países de origem. Por um banal milhão de euros arranjam um excelente “pied a terre” por cá, entrada franca na Europa e muita discreção. Tudo com o beneplácito das nossas autoridades que tomam por investimento produtivo a compra de apartamentos de luxo.
(não se refere a negociata do reconhecimento de uma pretensa origem sefardita de algumas dezenas de milhares de cidadãos oriundos sobretudo de Israel mas também da Rússia (!!!) que pelos vistos estará a ser “investigada” pelo MP. Não se esperam grandes conclusões, muito menos acusações e condenações. Há outros interesses em jogo e a possível suspeita de anti-semitismo pesa muito.)
Voltemos porém aos emigrantes que tem sido notícia por se descobrirem casos infames de exploração patronal, de alojamento absolutamente indigno quesó se revelam quando um desastre, uma morte, um incêndio em zonas deprimidas de Lisboa traz à cruel luz do diaalgumas realidades.
Ontem mesmo a televisão dava conta de uma casa onde umas dezenas de emigrantes sul-asiáticos pagam 10 euros por cama e por noite. Quem receberia essas quantias, sempre em dinheiro vivo seria, pela declaração de um dos pagantes um emigrante do Bangladesh. Não se sabe se era um simples agente do sub-locador ou o principal responsável por esse negócio altamente lucrativo. Na zona do Intendente, por quase todo o bairro de Arroios em Lisboa ouviram-se declarações de moradores que, como na Mouraria referem casas em estado mais ou menos decrépito que acolhem pequenas multidões de estrangeiros com escassos ou nulos conhecimentos de português, sem contratos de trabalho, quase sempre em situação ilegal que, fugindo de misérias ainda piores se acolhem a este desastre humanitário.
Pelos vistos, as autoridades ou, pelo menos, os responsáveis da Câmara de Lisboa chamam a atenção para as correntes clandestinas e criminosas da emigração ilegal (ainda há dois meses teve-se conhecimento da vinda em massa de jovens timorenses que no seu país terão pago somas enormes – pelo menos para os seus pobres meios – a máfias locais que os colocaram cá com a promessa infundada de empregos que nunca se verificaram.) e pedem medidas contra tal situação.
Entre elas assume algum relevo a exigência de prévios contratos de trabalho, a contingentação e a radical proibição da emigração ilegal.
É óbvio que tais medidas implicarão uma muito maior dificuldade para os emigrantes que apoiados nas redes ilegais de entrada no território português (e o mesmo, ou quase, é dizer no espaço Schngen e na União europeia). Eventualmente, criar-se-ão barreiras não só à simples emigração económica mas também à que é ditada por motivos políticos, fugas de regimes autoritários de conflitos incluindo guerras civis. Todavia, não é menos verdade que assim se dificultará a vida das organizações ilegais e criminosas nacionais ou internacionais que na prática como se tem observado, deixam milhares de emigrantes morrer nas águas do mediterrâneo ou do Atlântico.
São de resto essas mesmas organizações criminosas as que, na maioria dos casos gerem a vida, o alojamento, oemprego de muitos dos emigrantes que entram nos países europeus e que, mesmo aí não conseguem livrar-se da exploração das citadas organizações.
Claro que a isto se junta, e de que maneira, a exploração de patrões nacionais que obtêm mão de obra a baixo custo bem como desconfiança, os maus tratos, as desqualificações que uma parte da população leva a cabo contra os recém chegados. Estes, não falando a língua, sem raízes nem redes de apoio, amedrontados pela ilegalidade da sua situação, são presas fáceis de malfeitores nacionais de toda a ordem. Veja-se o que recentemente se passou e, provavelmente ainda se passa em Olhão onde grupos de adolescentes locais talvez provenientes de zonas problemáticas os assaltam, os roubam, os maltratam.
Se os políticos, sejam eles quais forem, não referirem esta situaçãoo, não propuserem soluções quer de emetgência quer de longo prazo serão acusados na praça pública por alguns opinantes que sempre os acusarão de indiferença ou, pior, de racismo.
Nos úlrimos dias assistiu-se via televisãoo e artigos de opinião a uma espécie de julgamento na praça pública de alguns líderes conservadores por estes defenderem a contingentação de entradas, mais tigor na verificação das condições de alojamento e sobretudo a impossibilidade de entrada no país sem garantias mínimas de emprego futuro e de integração no país e na sociedade portuguesa.
A questão é que sem isso, e no actual estado de coisas, a situação de alguns milhares de emigrantes continuará igual ou mais penosa, as organizações mafiosas continuarão impunemente a espoliar os modernos escravos que fogem de tudo como uma pobre emigrante do Bangladesh que, mesmo sem emprego e a passar por dificuldades mais que visíveis se negava frente às câmaras da televisão a regressar ao seu país de origem. Isto explica mais do que mil palavras de que inferno ela tinha escapado. Infelizmente , a terra lusitana ainda não era a terra da promissão mas isso é outro falar.
A propósito das “contidas” condenações de alguns líderes conservadores parece abusivo acusar estes de racismo, de só quererem emigranyes brancos, não muçulmanos ou apenas –vá lá – das ex colónias portuguesas. Uma colunistas chegava ao ponto de afirmar que alguns portugueses (ou muitos) se sentiam enraivecidos por verem paquistaneses a gerir as mercearias que os comerciantes portugueses abandonaram. Mesmo que num raro caso isso aconteça, rapidamente se verificará que esse comerciante estrangeiro será tão útil como os titulares das delly nova-iorquinas ou os árabes parisienses abertos ao domingo.
Tudo dito, não se contesta que em certas zonas de Portugal se possam verificar manifestações racistas e/ou xenófobas São sempre reprováveis e devem ser combatidas sem piedade nem tergiversação. Conviria, porém, sem as desculpar, compará-las com o que se passa noutros lugares não apenas da Europa ou da América (ou do Brasil onde nem sempre os nossos compatriotas estão a salvo de criticas violentas dos locais) mas dos próprios países que geram multidões de emigrantes...
É que uma das mais estúpidas características nacionais é a tendência para a auto-flagelação. Melhor dizendo: uma pequena e auto-eleita elite acusa o resto da sociedade de onde ela vem de toda uma série de defeitos de que se sente livre.
O que não é de todo verdade...