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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 781

d'oliveira, 28.02.23

A culpa vai morrer solteira

mcr, 28-2-33

 

 

Começa a fazer-se luz sobre a súbita pressa com o sr Pedro Nuno se demitiu. Mais sagaz ou mais bem assessorado que outros, terá percebido rapidamente o vespeiro em que a indemnização de 500.000 euros enterraria todos os que lidaram de perto, ou de longe, tinham responsabilidades políticas (e não só) no processo.

Consta, ou já é uma certeza, que tal soma nunca poderia ser abonada à sr.ª Alexandra Reis. E, sempre segundo as mesmas fontes, absolutamente próximas da Inspecção de Finanças, esta terá de devolver esse milagroso pecúlio que uma direcção executiva imprevidente lhe entregou.

É verdade que até este momento, apenas se conhecem três nomes com responsabilidade directa na matéria em causa e nenhum deles é o de PNS. 

Todavia, há ou havia, neste engreguilho uma coisa chamada responsabilidade política e aí entra por inteiro o ex ministro. 

Não vou pronunciar-me sobre o que este senhor sabia ou não mesmo se me custe engolir a tese de que o Secretário de Estado foi capaz de assumir sozinho um tal disparate. 

A verdade é que todo aquele bem recheado fait divers, se tornou num incontrolável escândalo e só isso seria já susceptível de arrasar as ambições nunca dissimuladas de PSN se chegar à frente na corrida à direcção do PS.

Num país pelintra onde a inveja campeia entregar uma  mão cheia de dinheiro numas circunstâncias tão duvidosas dá direito à indignação de alguns e à raiva de muitos.

Por outro lado, o facto de este Governo ter averbado contra todas as espectativas uma extraordinária e surpreendente maioria absoluta ainda mais exacerbou as críticas, as dúvidas, os protestos e a condenação.  

Neste momento o que se pergunta é como tudo isto irá acabar porque no “país de minha tia trémulo de bondade e aletria” nada é certo e seguro.

E, se formos recordar a aventura de um ex-primeiro ministro que anda há dez anos a escapulir-se à justiça, tendo já perdido duas dúzias de recursos (ou algo assim) e com isso a adiar continuamente a hora da verdade, há que suspeitar, mesmo neste caso (que face ao outro não passa de uma história de meros trocos) do fim do episódio. 

No meio disto tudo, e juntando a criatura Alexandra a mais três ou quatro casos de personagens menores chamados desrazoavelmente à vida política, temos que o discernimento político da direcção do PS e do Governo anda pelas ruas da amargura.

A prova disso é o facto de as últimas sondagens darem à Esquerda menos apoio do que à Direita e, pior ainda, colocarem PS e PSD empatados. 

Claro que isto não passa de sondagens (e em Portugal estas pesquizas de opinião não tem tido um percurso isento de crítica) mas onde há fumo costuma haver fogo, pelo menos um fogacho.

Valha a verdade que, neste mesmo período, aparece a notícia do regresso ao CDS de nada mais nada menos de 200 militantes do Chega e da Aliança. Não sou adivinho mas também não me parece improvável (e isso depende da qualidade e da influencia política destes “arrependidos”) que o desaparecido (da AR) partido centrista possa ressurgir das cinzas. Já se viram casos mais estranhos.

E, para terminar, uma outra nota: a sondagem a que se fez referência atira o partido putinista para uma cave esconsa.

Pelos vistos, mesmo os adeptos e simpatizantes não perdoam as cada vez mais indecentes posições políticas no que  toca aos mortos, aos feridos, pelo menos os civis (homens, mulheres e crianças), aos fugitivos da Ucrânia. 

Pelos vistos, toda essa gente é xenófoba, racista nazi, anti-russa, anti eslava e, claro anti comunista (repare-se que do outro lado da fronteira há o resto histriónico de um partido dito comunista que apoia sem vacilar, o autocrata de serviço. Esta gente gosta de tiranos e ainda não sepultou definitivamente o nunca assaz chorado camarada Stalin, o pai dos povos, aliás a sinistra criatura que ao outorgar o pacto Molotov-Ribentrop  permitiu à Alemanha ficar com as mãos livres e as costas seguras para atacar a França, Bélgica, Luxemburgo e Holanda. Com o aplauso e a traição de todos os partidos irmãos do Ocidente ...)

 

estes dias que passam 780

d'oliveira, 25.02.23

Um ano de infâmia

Mcr, 24-2-23

 

Há um ano, rasgando todos os acordos, todos os tratados e, sobretudo, toda a decência, as hordas russas, a mando de um ditador de baixa extração, ex-polícia político e baixinho como convém (homem pequenino ou é canalha ou bailarino, lá diz o rifão) entenderam levar a cabo uma “operação armada especial”

Nada na Ucrânia ameaçava a gigantesca Federação Russa, potência nuclear, com uma população três a quatro vezes superior, um arsenal gigantesco, dona de meios extraordinários a começar pelo  petróleo e a acabar num sem número de reservas minerais. Isto para não falar num exército que parecia ser um dos mais temíveis do mundo.

Esta “operação militar especial” seguia-se, depois de oito anos de ocupação da Crimeia e de apoio descarado a uma pequena minoria de russófonos do Leste, armados, treinados e a soldo do grande irmão eslavo, a uma escalada demencial e palavrosa sobre a indissolúvel irmandade que juntava russos, bielo-russos e ucranianos (é bom lembrar que, mesmo durante a pouco gloriosa época soviética, quera Ucrânia qiuer a Bielo-Russia (gerida por outro ditador de pacotilha mas apoiado, armado e ajudado pela gang do Kremlin) estes dois países eram membros da ONU o que significava uma espécie de independência que só não o era porque “os dois povos a oeste e a sul da Rússia, viviam felizes e contentes sob a férula do “glorioso” PCUS e dos seus admiráveis agentes e sicários. 

Putin, uma criatura de poucos conhecimentos históricos usava uma argumentação patrioteira que recordava os piores momentos do czarismo e da sua sucessora soviética.

E durante um par de anos, graças a uma miserável sucessão de gauleiters russófilos, a Ucrânia foi uma espécie pouco reluzente de protectorado.  

Com a surpreendente eleição de um russófono de origem judaica e ex comediante as coisas começaram a mudar. Ou melhor, depois das manifestações democráticas contra o anterior presidente ucraniano, hoje previdentemente instalado em solo russo, começou a perceber-se que na Ucrânia exasperada vigorava o mesmo pertinaz sentimento que a fizera sonhar com a independência depois de 1917. Nessa altura os ucranianos, sob a chefia de Makno,  derrotaram sozinhos os exércitos brancos que circulavam no seu território  mas, posteriormente, foram batidos pelo Exército Vermelho que, inesperadamente, invadiu o território. Poucos anos depois, a Ucrânia  foi vítima (como aliás outras regiões “soviéticas” de uma ocupação draática das polícias do regime que por ordem do Comité Central do PCUS levaram a cabo a colectivização agrária. Há dess terrível momento um incalculável número de vítimas (três ou cinco milhões num total de trinta e poucos milhoes de habitante) que nõ só fotram massacradas, presas deportadas mas sobretudo condenadas à fome, a pontos de para fugir ao flagelo lhes ser vedada a entrada em territórios da federação russa. 

Para abreviar, e por poucas palavras, a Ucrânia nuca mais esqueceu o “grande irmão” e os seus crimes. Na Crimeia (na altura russa, depois ucraniana) foram barbaramente deportados os tatars para não  esquecer todas as outra minorias étnicas que na URSS  sofream os mesmos tratos de polé. Com a Guerra a Ucrania não só foi ocupada pelos alemães que não se portaram melhor do que os russos mas forneceu o mais alto número de vítimas militares e civis de toda a União Soviética.

Nada disto comoveu ou suscitou qualquer espécie de consideração do pide do Kremlin.

A operação que se destinava a durar meia dúzia de dias, quiçá duas semanas, sustentada por três eixos de ataque (desde a miserável Bielo-Reúsia até à Crimeia) deparou-se com uma inusitada, surpreendente resistência a começar por Zelensky que recusou fugir antes pedindo armas, e a acabar em anónimos cidadãos que se armaram como puderam e tentaram criar guardas territoriais. 

O peço que o povo ucraniano pagou tem sido alto. Não se fala aqui sequer nas centenas de mortos  civis do norte cujos cadáveres ficaram abandonados na rua muitos de mãos atadas e tiro pelas costas. Morreram homens, mulheres, crianças, velhos e novos, inocentes e resistentes. 

A guerra de poucos dias vai num ano. Inacreditável, impossível, e não vale a pena referir as ajudas a conta gotas sempre tardias (agora faltam os aviões, pedidos há que tempos, mas faltaram os tanques, a artilharia pessa, a defesa anti-aérea, tudo ou quase) 

A segunda surpresa que se espera que parta os dentes de Putin e dos seus cabos de guerra, é o facto de uma vez por todas o mundo ter condenado a invasão, o Ocidente não se ter dividido,  UE se ter mobilizado crescentemente, para já não falar na posição chinesa (que pede o respeito das fronteiras pré-existentes!...)

Finalmente, a NATO que estava quase em morte cerebral, rccuscitou, aumentou o número de países membros, e começa a referir com crescente dureza o perigo russo.

 

O presidente Roosevelt declarou no dia do ataque a Pearl Harbour que essa data ficaria sempre sob o nome de “dia da infâmia”.

A Rússia, e a sua antecessora, já tem na sua acidentada história vários momentos de infâmia, desde o 17 de Junho de Berlin que viu a repressão de dezenas de milhares de operários que reclamavam uma vida decente e salários que não fossem miseráveis, até aos momentos indignos das invasões da Hungria (1956) ou da Checoslováquia (1968). Isto para não referir a imbecil invasão do Afeganistão (uma derrota pungente dos soviéticos) ou as ocupações de territórios da Geórgia (Abkázia ou Océtia).

A história repete-se naquela região. A regra é haver um invasor, uum opressor e vários invadidos e oprimidos.

Se as vítimas estão menos sós, os criminosos mostram o que são: uma horda que mata, rouba, e espezinha qualquer direitos humanos de que nos podemos recordar.

E é verdade que, na terra da horda, as prisões se enchem de contestatários, há uma fuga maciça de homens em idade militar (para todos os países limítrofes desde a Suécia e a Finlândia até à Geórgia e aos países bálticos ou para a Turquia e Arménia sem falar nas antigas repúblicas asiáticas. Hoje mesmo assistimos a diversas deposições d flores nas estátuas de poetas ucranianos erguidas em algumas cidades russas (provavelmente esta manifestação discreta irá em breve ser vigiada ou até contrariada.

Porém, o povo russo na sua maioria não só está fanatizado pela virulenta e intenssíma propaganda como ainda por cima não tem acesso a televisões independentes e, muito menos, ocidentais. E desconhece o monstruoso número de baixas que se devem em muito à incompetência dos generais, à corrupção em todos os escalões da logística militar, na falta de preparação dos recrutas (agora até nas prisões se mobiliza carne para canhão!...).tudo isto dá aos criminosos do Kremlin algum tempo que eles esperam que seja suficiente para começar a averbar vitórias por mínimas que sejam pois só isso impedira que a população se não revolte. 

Em todo o mundo e sobretudo nas instâncias internacionais, a Rússia está francamente isolada contando-se pelos dedos das mãos os apoios claros (desde a Coreia do Norte até à Eritreia!!!) duas a três dúzias de nações refugiam-se na abstençãoo porquanto dependem em várias proporções dos fornecimentos russos mormente armas ou petróleo. A própria China insiste no respeito pelas fronteiras internacionalmente conhecidas e estabelecidas o que minora em muito o apoio e a amizade proclamados. 

O campo russistas reduz-se à medida em que se suspeita cada vez mais de uma vitória que de duas semanas já demora um ano. 

Por cá fora um idoso intelectual coimbrão que, roído de saudades de um tempo cinzento autoritário, persiste em abençoar a vilania, temos o partido comunista português (ou putinista como seria mais exacto identifica-lo) Este partido tm uma história especial que seria bom recordar. Entre estar à esquerda ou a direita preferiu sempre estar a leste. Em determinados momentos foi mais estalinista que  Stalin e mais soviético que o PCUS. Para os seus militantes do tempo do PREC a URSS era o “sol da terra”, uma espécie de pátria do leite e do mel. Na altura referida sonhou recriar a kolkolização do Alentejo com os resultados catastróficos que se conhecem. 

Nesse mesmo período jurou ser a “murlha de aço” da tentativa gonçalvista que não era mais do que uma débil estacada de canas que durou um verão violento. Os dois mais importantes partidos comunistas europeus (o francês e o italiano) multiplicaram as advertências e terminaram permitindo as suas publicações próprias bem como às simpatizantes um crescendo de críticas contra o aventureirismo e a política de terra queimada. O resto esboroou-se como um castelo de cartas e acabou a 25 de Novembro abandonados que foram os militares golpistas facilmente subjugados por uma companhia de comandos. E ao mesmo momento, desde o dia da Fonte Luminosa, os partidos civis que representavam quase oitenta por cento da população eleitora (e dos eleitos na AR, é bom lembrar.)   

Está desde há anos em coma assistido  a perder militantes, autarquias, deputados e influência. A última sondagem conhecida dá-o num estado quase catatónico. Éa resposta do povo português às suas extremadas posições que declaram a Ucrânia como um país xenófobo e racista (e nazi!). Não percebem que a resistência encarniçada dos ucranianos se deve muito mais à sua vontade de liberdade e democracia do que às armas que vão chegando lentamente. 

Também não é menos verdade que liberdade e democracia são noções que só muito enviesadamente são usadas pelos dirigentes comunistas portugueses ou putinistas como parece mais correcto. Estrelinha que os guie.

Quem não é capaz de distinguir entre agressor e agredido e se refugia num grosseira interpretação de mentiras postas a correr pelos delirantes cavalheiros do Kremlin, não merece mais atenção so que se atribui ao seu oposto Chega que, de resto, tem mais deputados e paulatinamente vai conquistando apoiantes nos territórios que foram da CDU (que, aliás é apenas a coligação de um partido com uma fantasia “verde”,  um fantasma  que nunca foi autónomo e que já não tem um único representante na AR).

Nõ sei o que irá acontecer amanhã, daqui a seis meses, um ano ou mais. DE todo o modo, o que fica disto tudo e desde já é a imensa infâmia de uma guerra injusta , não provocada e estupidamente iniciada sob perspectivas que eram falsas. E, em política, a estupidez paga-se duramente. 

Assim seja! 

 

 

estes dias que passam 779

d'oliveira, 21.02.23

Oh! Que discussão pública!

mcr, 20-2-23

 

como era previsível, o pacote da habitação deu azo a uma enxurrada  que ameaça levar tudo com a mesma eficácia das inundações s´bitas e violentas. 

Hoje, no “Público” uma senhor que se anuncia como investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra vem afirmar  que o Estado corre não só o risco de ficar refém do mercado  mas, sobretudo que o “conjunto das medidas é de duvidosa eficácia (algo que toda a gente, com excepção do dr Costa, anda a dizer)  mas que se traduz numa injustiça flagrante porquanto significa uma transferência de receitas públicas e de rendimentos do trabalho para os proprietários.

(cito as letras gordas do artigo). 

Confesso que me custa a compreender um par de afirmações. Em primeiro lugara arrendamento forçado de habitações devolutas e o seu posterior subarrendamento é unanimemente apontado como uma violência contra o direito de propriedade que a Constituição da Rpública, até à data, protege. Depois,  a fixação de rendas, à revelia do mercado, e a taxas que serão sempre inferiores, não parece ser algo que regozije os proprietários que obviamente contam com a lei da oferta e da procura e com a flutuação em alta dos preços da habitação.

Também não se vê em que é que as obras obrigatórias, mesmo assumidas pelo Estado e deduzidas na renda a entregar aos proprietários dos imóveis ocupados, se possa considerar um favor a menos que a investigadora ( e economista!...)  entenda que o Estado faz obras a menor preço mas melhores, mais rápidas e isso se traduza num benefício injusto (seria bom saber como) ao proprietário cujo imóvel foi “intervencionado...

Finalmente, embora isso não esgote o conjunto de medidas, os descontos no IRS ou no IMI em contados casos de modificação do destino de prédios no mercado, apenas traduz o desejo do Estado de subtrair ao Alojamento Local aparte das casas a ele destinadas. E de, rapidamente, e sem custos, pôr mais algumas casas no mercado. 

De resto o mesmo se pode dizer dos subarrendamentos e até da hipótese de ser o Estado a garantir o pagamento após três meses de incumprimento. É o custo de não fazer atempadamente o que desde há muito não tem feito: habitação social (já agora, decente, e não alguns dos ghettos que ilustram pungentemente as zonas limítrofes das cidades. Com as consequências que se conhecem e que dão ao Chega os argumentos canalhas que usa...)  

Devo dizer que não morro de amores pelo AL mesmo se reconheço (de má vontade) que o florescimento deste negócio trouxe fartos proventos ao país, ao Estado aos proprietários e a um grande generalidade de operadores turísticos. Trouxe também, e isso é a grande pecha, a expulsão de habitantes de certos centros históricos, o despejo de gente humilde e idosa ou a dificuldade de encontrar habitação em zonas centrais. 

Isto para não falar na descaracterização dos velhos centros históricos mesmo se, muitas, demasiadas, vezes o edificado estava em estado mais que ruinoso (o AL reabilitou milhares de prédios, como também é sabido).

Conviria ainda lembrar que estas políticas de reabilitação foram levadas a cabo com o dinheiro de investidores, normalmente proprietários, pelo que haverá ainda alguns (muitos eventualmente) que ainda estão a ressarcir-se das despesas feitas. É verdade que até 2030 não se preveem medidas especiais que reduzam a quantidade de imóveis afectados mas isso  nem sequer é um bónus  a medonha classe dos proprietários.  

O dr Costa, no afã subitamente “soviético e estalinista” que alguns proclamam esqueceu-se de propor que os condóminos pudessem levar a IRS as somas pagas. Era uma medida que beneficiaria a  classe média  que tem no condomínio uma das principais despesas. 

A especialista, economista e investigadora também não se lembrou desta medida.

Seria também bom tentar perceber quantos serão os eventuais beneficiados com este pacotão (que também pagam impostos, pelo menos IRS)  pois só assim se poderia dizer que igualmente  seriam vítimas do clamoroso favor aos senhorios. 

 

A série de medidas, mais avulsas e dispersas do que seria desejável numa verdadeira política de apoio à habitação, sofre igualmente de um outro pecado original: foi tomada à revelia das autarquias e, sobretudo das duas maiores que, de per si, poderão englobar mais de metade das pessoas e famílias que estão com a corda no pescoço.  Também neste ponto a contribuiçãoo da articulista deixa muito, senão tudo, a desejar. 

Fica-se com a impressão que também ela se reconhece nos propósitos desastrados que, baseando-se numa subordinação  do direito de propriedade ao direito à habitação corre o risco de, uma vez implementada, se assistir a uma violenta crise de falta de alojamento. Não seria novidade, basta recorrer à história, mormente a da União Soviética mesmo antes das consequências do ataque alemão e da guerra.

É aliás verificável que ainda hoje, em certas zonas menos visíveis da Federação Russa se possa verificar isso. Pouca habitação e má, para além de exígua.  

A recordação de alguns tempos difíceis em Portugal ou não existe, ou é cuidadosamente posta de lado como convém. De todo o modo, a verdade é que foi escasso o investimento em habitação social e, sempre que foi possível, atirou-se para os senhorios a responsabilidade de arcar com as dificuldades dos inquilinos, bloqueando rendas, dificultando despejos para não ir mais longe.

Enquanto senhorio forçado apenas duas vezes verifiquei este tipo de situações. A primeira teve como actores um casal que à socapa adquiriu uma vivenda mas durante anos ia uma ou duas vezes por semana ao andar arrendado para abrir e fechar janelas e luzes. Ao fim de muitos meses o filho, arquitecto instalou-se e fez do apartamento o seu atelier. A situaçãoo demorou anos a ser resolvida.

O segundo caso é ainda mais caricato: quando um inquilino de muitos anos abandonou o seu apartamento, verificamos que havia obras de reabilitação a fazer. Custaram mais de 25.000 euros mas de facto a casa ficou num brinco. Uma outra inquilina pediu, pelo preço que pagava, para se mudar para este que ela mesma afirmava estar como novo. Como também era antiga no prédio e tinha o seu andar em bom estado, concordamos. Dois meses passados comunicou-nos que iria abater unilateralmente cem euros no aluguer. Obviamente, não aceitamos e como ela persistiu recorremos ao despejo. Este demorou tanto tempo que a inquilina saiu apenas porque não renovámos o arrendamento. A sentença final, a nosso favor, chamava à criatura má pagadora, tudo e mais alguma coisa mas até à data não recebemos nunca o que ficou por pagar.  O que, junto aos honorários do advogado, não foi assim tão pouco. 

Em poucas palavras: ser senhorio  cumprindo os mínimos éticos  e cidadãos não é opção que se recomende  ou, pelo menos, que me atraia.  

 

estes dias que passam 778

d'oliveira, 19.02.23

O “melão” da confusão da habitação

mcr, 18-2-23

 

Ou a confusão do melão da habitação, ou a habitação da confusão do melão (a ordem dos factores é arbitrária).

Comecemos pelo “melão. “ficar com um melão” significa na gíria corrente ficar fortemente desapontado. Guarde-se a informação para posteriores cozinhados e passemos ao provérbio  que afirma que para se saber se o melão é doce há que abri-lo.

Pelos vistos o Sr  Presidente da República usou-o para comentar as notícias  sobre a nova ofensiva governamental sobre o problema da habitação.  (por acaso tenho a impressão ue ele citou o provérbio depois de o ouvir da boca de Jerónimo de Sousa)

De todo o modo, muito me temo que a campanha em várias frentes lançada sobre a habitação tenha efeitos limitados para além de padecer de alguns vícios que podem chegar à pura e simples inconstitucionalidade de algumas normas fundamentalmente as que ferem mais duramente os direitos reais, mormente tudo o que diga respeito à propriedade. 

Também seria bom recordar que num país como Portugal, enquadrado na UE  e de economia liberal há sempre o risco de espantar (no sentido de fazer fugir) os investidores e ou os proprietários. 

As intervenções conhecidas (desde os tempos da 1ª guerra) tiveram vários efeitos perversos e, de modo algum, reduziram a falta de casas a preços “razoáveis” para inquilinos de baixos rendimentos. 

Lembraria também que em várias cidades houve durante dezenas de anos o fenómeno temível dos sub-alugas que tinham por ganha pão o subarrendamento clandestino (mas conhecido de toda a gente, autoridades incluídas) o esquema de alugar quartos e mesmo de os alugar pr horas rotativamente. 

Por outro lado, leis que intervieram na fixação dos preços de arrendamento tiveram consequências nefastas quer para  senhorios modestos quer para inquilinos que não  conseguiam as casas que pretendiam. Por outro lado é conhecido o caso de um grande advogado  ligado a uma fundação que pagava por um belíssimo andar uma soma ridícula que, dizia-se, era inferior à sua conta telefónica.

Foi aliás o imobilismo do mercado do arrendamento  que transformou um país de inquilinos num país de proprietários endividados e angustiados a pontos de tornar Portugal um dos países europeus ode a proporção de inquilinos é mais baixa.

Numa primeira análise o que se pode dizer é que há medidas que eventualmente poderão criar condições favoráveis de arrendamento, Em alguns casos (subarrendamento) há a ideia que como já não tiveram sucesso recentemente  (no caso de Lisboa onde a coisa mal terá atingido 30% do projectado) é duvidoso que agora tenham mais êxito. 

A fixação de rendas  além de permitir as mais latas fugas parece de duvidosa legalidade. O mercado tem regras que a boa vontade desconhece. O problema da ocupação  das casas devolutas  tem todas as hipóteses de se transformar num bico de obra, numa fonte de conflitos legais para já não falar nos custos da máquina burocrática que desde logo exige. Os famosos sorteios para casas de que o Estado tomará conta propiciam toda uma série de truques, compadrios, empenhos.  Tudo isto, em contraciclo com medidas anteriores provenientes do PRR e em começo de execução.

Terá sido por isto (e pelo resto) que o Dr. Presidente falou no meão.

Provavelmente haverá quem fale no melão com que ficarão alguns dos que por agora embandeiram em arco. 

Note-se que, por enquanto, esta proposta não passa disso. Algo que irá ao Parlamento, que será discutido e avaliado. Não vão faltar pareceres jurídicos, é quase certo que que o Tribunal Constitucional será chamado, para já não falar na frente jurídica mais próxima dos cidadãos. Que há já algum pânico entre senhorios, possuidores de segundas habitações e gente ligada ao alojamento local é uma evidência. Que isso vá imediatamente ter consequências no mercado é algo que é uma certeza.

Que a maioria das eventuais medidas (tirante as que tocam no IMI, no IRS ou nos abonos até 200 euros a certas e poucas rendas) terá significativos atrasos é uma aposta que desde já faço

(e estou à vontade porquanto enquanto senhorio forçado não tenho casas vazias nem rendas excessivas porque demasiado antigas. Há anos que anseio pelo momento de poder desfazer-me destas casas que mesmo sem praticamente dificuldades dão mãos problemas que rendimento.

Sei, porém, que, de cada vez que um apartamento fica livre sempre por expressa vontade do inquilino, o custo da reabilitação ultrapassa largamente o que o Governo anuncia como limite ao estabelecimento de uma nova renda. Normalmente, o custo da reabilitação deveria ficar resolvido em ano e meio de arrendamento. Se assim é, as regras que se anunciam ou são dramáticas ou a reabilitação será uma burla um paninho quente para disfarçar o mais visível.

De resto, é comum quer nas casas do Estado ou das autarquias, quer em muitas de privados sem escrúpulos, verificar-se uns arranjos a la minute, um caiadela descuidada e pronto! 

Com uma diferença: o senhorio privado arrisca-se a ser punido enquanto o Estado se arrasta em burocracias e o inquilino que chore... A televisão tem ultimamente mostrado exemplos vários e variados.

De certo modo, o dr. Costa deve andar ainda sob a influência da alucinada que quer ocupar a ponte 25 de Abril. Deveria lembrar-se que “Roma e Pavia não se fizeram num dia” e que a sofreguidão de medidas não significa eficácia nem eficiência. 

Enquanto não tiver um teto para propor  pode recorrer aos subsídios de renda que não significam despesas constantes mas pontuais. O Estado encheu-se de dinheiro graças à inflação pelo que desviar parte desses fundos para medidas de emergência sempre significara utilizar com moralidade dinheiros imorais. 

Claro que poderá aceitar as ínvias propostas que afirmam a supremacia absoluta do direito à habitação sobre o direito à propriedade. Isso ocorreu em geografias a leste e os efeitos conhecem-se: um desastre que ainda não terminou... e já lá vão muitas dezenas de anos, a bem dizer um século!

Este tema estará na ordem do dia nas próximas semanas. É provável que com o desenvolvimento da discussão se possam adiantar algumas opiniões mais seguras. Se assim for, cá estarei.

 

 

 

Estes dias que passam 777

d'oliveira, 16.02.23

“Não há luar como o de Janeiro...”

mcr, 16-2-23

 

Não sei se os leitores conhecem esta quadra retintamente popular:

Não há luar como o de janeiro

Nem lenha como a de azinho

Nem filhos como os do padre

Que chamam ao pai padrinho

 

Por outras palavras: de há muito que o nosso povo  católico e mariano sabe de que lenha se aquece uma certa parte do clero.

Isto do celibato pode ser muito bonito mas a carne está sempre ao alcance do olho mais ou menos lubrico da macharia (cá e em toda a parte, convém acrescentar..., religiosos e ateus, novos ou velhos).

Todavia, uma coisa é o padre ter a(s) sua(s) mancebas, coisa que em certos meios mormente os rurais era quase tradicional e aceite e outra bem diferente (e para mim repelente e surpreendente pois nunca achei a pedofilia atraente) o abuso de menores meninos ou meninas no segredo dos confessionários, dos colégioreligiosos, dos seminários ou de quaisquer outra instituições dependentes da Igreja Católica. 

Ao pecado da luxúria (que eu fartamente compreendo e, se pudesse, praticaria) juntam-se dois outros absolutamente imperdoáveis: o abuso de poder e o o facto de as vítimas não terem idade para entender, compreender ou permitir.

Não vou espraiar-me nos castigos que proporia mas basta-me dizer que, neste aspecto, e muito contra a minha natural tolerância  e respeito pelos direitos humanos, as minhas soluções são absolutamente radicais  e cruéis.

Portanto, tudo o que seja investigar, descobrir, acusar e sentenciar quaisquer abusadores tem o meu desolado beneplácito. 

Todavia, e como de costume, seria bom não participar nesta cavalgada de indignações em alta grita como se, subitamente  o céu nos caísse em cima da cabeça. 

A começar pelo mais óbvio, o abuso de crianças, de adolescentes é, na proporção de 80,  90% , praticado no sei da família, sobretudo da mais próxima. Cá e no resto do mundo, cristão, muçulmano, budista, hindu ou “pagão”.

A segunda observação é esta: isto, este escândalo de décadas, melhor dizendo de séculos,  não é privativo da Igreja católica, apostólica e romana. Ocorre em todas as restantes religiões e confissões, sejam quais forem as geografias que se pesquizem. 

A única diferença  é que, é praticamente no seio do catolicismo que o celibato sacerdotal (e do clero regular) existe o que dá à coisa um certo carácter excepcional.

Depois, convirá recordar que isto ocorre nas zonas campeãs dos direitos humanos e de certo modo as mais civilizadas e instruídas. E desenvolvidas. Ou seja, naquelas onde o alarme social pode ser mais evidente, mais natural e mais explorado pelos media que, também são os mais livres.

O celibato eclesiástico é uma regra que só se impõe a quem quer pertencer ao clero regular e irregular. Ninguém é obrigado a ser padre, frade ou freira. Se  pretende seguir a carreira há de submeter-se às regras em curso. 

Actualmente, ninguém é obrigado a ser católico, aliás mesmo entre os católicos surge a espantosa modalidade de “não praticante” coisa que a mim, ovelha desde há muito perdida ou tresmalhada do rebanho do Senhor, sempre me admirou e maravilhou. Portanto, quem sente com mais intensidade os chamamentos da carne ou não vai para a carreira ou sai dela rapidamente e pelo seu pé. Conheço (até tenho familiares) quem tenha trocado as alegrias imateriais da missa pelos prazeres da cama e pela alegria de ter descendentes. E tudo isso com o aplauso ou, pelo menos, a bênção da Igreja.

Já o meu avô tinha uns primos alentejanos, todos filhos segundos e terceiros que, para preservar  a exígua herança familiar, iam para padres. Alguns filharam e um houve que pôs ao quarto filho (o quarto!...) o nome de Deusdado. Parece que o bispo se zangou... 

Direi, em substância, que sem perdoar seja o que for, que há muita hipocrisia nesta veemente e incontrolável indignação que assola a pátria que subitamente se sente estarrecida...

Se a palavra hipocrisia incomodar terei de recorrer a ingenuidade grosseira, culposa. Supina!

Provavelmente, deveria referir as vítimas mas para tal faltam-me as palavras. Como se a piedade me embargasse a voz e me subtraísse as palavras justas e necessárias. Ou então é uma violência  desmedida que surge e atira por terra um par de convicções que, dura e pacientemente, fui adquirindo ao longo de dezenas de anos. 

A comissão de inquérito que há dias entregou  o seu relatório  refere uma boa centena de sacerdotes no activo que, espero, serão entregues à justiça civil sem deixar (espero-o veementemente) de passar pela justiça canónica que tem meios fortes e eficazes de cumprir a sua parte. Que as mãos não doam a quem de  direito. Que os direitos humanos que alguns  ou todos os acusados não respeitaram sejam cuidadosa e integralmente respeitados.

E, apesar de me considerar fora da Igreja, entendo que deste horrendo caso, melhor dizendo desta longa e terrível situação, se deverá fazer  uma  justa apreciação, separar o trigo que creio bem maior, do joio. 

A Igreja, todas as igrejas, e uma imensa multidão de abusadores familiares estão no mundo e, de certo modo, mesmo nestas pavorosas circunstâncias apetece dizer “quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”.

E por aqui me fico, mesmo que isso não agrade a gregos nem a troianos.

(não sou católico mas tão só português. De todo o modo faço parte dos que com isto se sentem envergonhados)

 

 

 

 

 

 

au bonheur des dames 572

d'oliveira, 14.02.23

“Isto” e o seu contrário

mcr, 14-2-23

 

A extraordinária história da adjunta (ou algo do mesmo teor) contratada para promover a inovação na anquilosada maioria absoluta ou apenas no paralítico ministério que a irá pagar merece mais um comentário.

E é este: farto de não ter oposição ( ou a oposição que acha que tem direito a ter) o Governo entendeu criar no seu próprio seio mecanismos  que o combatam com maior eficácia que a Esquerda ou a Direita e os partidos unipessoais que pelos vistos ainda se mexem menos que os outros. 

Dito de outra forma: o Governo paga uns supostos adversários das suas políticas ou da simples ausência de políticas como é o caso da Habitação.

E pagando-lhes demonstra urbi et orbe que assim se constrói uma democracia perfeita que não só respeita as ideias e propostas contrárias como também promove acções de contestação sempre úteis e simpáticas.

Dir-se-á que isso, que alguém de má fé considerará truque, ainda afasta mais os cidadãos, melhor dizendo a paisanagem, da discussão política.

Em boa verdade, mesmo antes, a dita discussão corria mansamente em dois  ou três jornais, em quatro ou cinco mesas redondas na televisão (e neste caso sempre em horas que não atrapalhassem os longuíssimos jornais e as telenovelas , para já não falar da publicidade) e passava-se toda no seio do mesmo  grupo de luminárias constituído normalmente por ex-responsáveis políticos sobre cujas virtudes, cultura, conhecimentos entendo não dever pronunciar-me para não ser alvo de queixa por difamação numa qualquer esquadra.

Fui, entretanto, alertado para o facto da autora da teoria da ocupação da ponte já não ser uma adolescente, sequer alguém a quem se poderia com favor chamar jovem. Quem me informa afiança que a novel adjunta, assessora ou algo do mesmo teor anda pelos 45 anos, idade que Jorge Amado num dos seus melhores livros  qualificava de balzaquiana sénior ou algo parecido. E mesmo nesse caso, a qualificação do grande escritor nada tinha a ver com questões políticas. Se a memória não me falha a teoria do baiano vem descrita com inteligência e humor em “Os velhos marinheiros”.

Claro que há muitos cidadãos e cidadãs que depois dos quarenta continuam tão inocentinhos como no momento em que vieram ao mundo. 

Convenhamos que esta nova contratação do Governo parece estar em diapasão com várias outras que tem permitido  farta dose de gargalhada o que, em tempos de inflação, guerra, crise da habitação, é do mais saltar que as autoridades fazem em prol da população. Enquanto as pessoas se riem (mesmo se amarelamente) não conspiram, não insultam as autoridades, numa palavra “não chateiam o indígena.

E a teria ocupacionista bem que pode ramificar-se. Por exemplo as estações ferroviárias estão desertas por via de uma greve que dura há largos dias e que cai em cima dos que não conseguem ter transporte próprio. Porque é que estes deserdados da periferia não ocupam as instalações ferroviárias ou mesmo os comboios parados nas estações?

Os professores tem desertado as aulas quer graças a uma greve parcelar por distritos quer por via da acção de um novo sindicato (que até há pouco parecia imaginativo mas que, pelos vistos, está prestes a entrar na política politiqueira). Ora, os estabelecimentos desertos são um excelente sítio para depositar os alunos à guarda dos directores escolares, dos cavalheiros do eduquês e do sr ministro. A cómoda para a criançada poderia vir, a preço zero, dos restaurantes repetindo-se aqui a solução altamente inovadora avançada para a obtenção de tendas de campismo (que seriam graciosamente fornecidos por empresas de artigos desportivos!...)

E por aí fora... 

 

 

Sobre o tema da habitação (cujo desastre há de ser como sempre imputado aos senhorios) sabe-se que do PRR no que toca à habitação houve até agora uma cobertura (50 milhões para um total até 2026 de 1800 milhões!!!) 

Não vale a pena dizer mais...

 

Outro amigo e comentador ocasional mandou-me uma mensagem afirmando divertido  que  a proposta em causa era ainda que tardiamente uma prova que do Maio de 68 ainda vinha uma pálida lembrança do slogan (de origem sartriana?)  “l’imagination au pouvoir”. Terei de explicar a esse meu amigo que a tese não convence quanto mais não seja porque hoje já ninguém em Portugal sabe francês e, muito menos, sabe o que foi essa pequena revolução. 

Não meu caro, isto é tudo muito portuguesinho, muito pobrezinho, muito jotinha, muito revelador de algo bem pior.  Nem o poder tem imaginação nem a imaginação serve o poder!

 

estes dias que passam 776

d'oliveira, 12.02.23

Masoquismo nacional

mcr, 12-2-23

 

 

Masoquismo nacional

mcr, 12-2-23

 

já vai havendo pouca gente que recorde os tempos da “outra senhora”,  isto é do “Estado Novo”, da ditadura, da “longa noite fascista” enfim os anos anteriores ao 25 A.

De facto, passaram-se praticamente 50 anos e para invocar memórias vivas e conscientes desses anos seria pelo menos necessário que quem recorda tivesse no mínimo 15/18 anos em 74.  Por outras palavras, cidadãos com menos de 65 aos não tem memória razoável desse tempo. 

Avivemos então o pouco que aindaresta de recordaçãoo: os anos 60 e os primeiros 70 em Portugal mesmo já não sendo os da exaltação patriótica e imperial que, aliás, não começaram com a Ditadura mas bem antes com o regime messiânico da República (que no capítulo colonial e imperial não deixou as suas preocupações por coisa morta...) . 

A “pátria” que a escola nos ensinava era grandiosa, heroica, corajosa, invicta, povoada por santos e heróis. A missão civilizadora dos portugueses era glosada ad nauseiam, a capacidade para educar e trazer ao convívio da  civilização outros povos, mormente os “pretinhos” era exaltada. 

A realidade lá ia  desmentindo as banalidades dos regimes que se sucederam  mas à propaganda desses tempos começou a contrapor-se outra: a de que Portugal não passava de um país xenófobo, racista dos piores que o mundo conhece. 

Este novo conceito que nos últimos três, cinco anos, começou a adquirir em certos meios o carácter de verdade absoluta e revelada via artigos de opinião em jornais mesmo os de referencia tem sido posteriormente alimentado por um par de líderes políticos que, nos extreos do arco parlamentar abundam em declarações tonitruantes. 

Deixemos a extrema direita no seu canto cavernoso e saudosista de impérios qu nunca o foram verdadeiramente, de miscigenações mais ou menos forçadas resultantes do facto de nas áfricas duramente conquistadas o branco sem mulheres ir filhando nas raparigas submetidas uma descendência miraculosa  e acerquemo-nos de um Esquerda ignorante, profundamente marcada pela ideologia mal digerida, e sempre pronta a tomar partido por todas as modas importadas de outros e menos brandos palcos de confrontos civis. 

Como é sabido, cinco sextos do país quase que desconhecem os emigrantes que acorrem a Portugal e se amontoam na grande Lisboa, um pouco pelo sudoeste alentejano e no litoral algarvio.

Nestas zonas, repetem-se os casos de “guetização” dos recém chegados, facilmente identificáveis pela cor, pelo desconhecimento do português, pelo controlo de mafias várias que organizam as correntes migratórias a partir dos países de origem  com ou sem comparsas portugueses. 

De repente, Portugal viu-se destino de emigrantes do Nepal, do Bangladesh,  da Indonésia (há uma forte comunidade ((+ - 350 homens)) de pescadores estabelecida na zona da Póvoa  para não falar de fluxos mais tradicionais das ex-colónias ou do Brasil que, de todo o modo já quase são tradicionais e sobretudo falam com facilidade o português. 

Há outras comunidades menos visíveis, mais longe dos jornais e da comunicação social (indianos vindos das ex-colónias por via da descolonização, chineses, marroquinos entre outras) que suscitam menos polémicas, menos denúncias de maus tratos.

Mesmo assim, seria bom recordar que ainda há pouco tempo começaram a ser denunciadas “prisões” chinesas, serviços de espionagem da China a operar em Portugal sem controlo ou conhecimento das autoridades locais. Por razões que se desconhecem essa denúncia morreu cedo, ou foi abafada ou escondida por quem se sentiu desconfortável (dada a proximidade ideológica com os acusados?) e silenciou as suas sempre prontas queixas contra o regime actual. 

Portugal não é exactamente um país que atraia elites cultas e educadas como ocorre com alguns outros países europeus. Apenas temservido delocal de entrada para reformados que aproveitam um regime fiscal até há pouco altamente benéfico a par com um clima ameno e um custo de vida muito inferior ao dos países em que os actuais moradores estrangeiros até à idade da reforma viviam.

Também, por outras razões, começámos a ser p referidos por cavalheiros que descobriram que é possível “lavar” dinheiro comprando casas luxuosas e estabelecendo assim um local de refúgio para possíveis contrariedades fiscais nos países de origem. Por um banal milhão de euros arranjam um excelente “pied a terre” por cá, entrada franca na Europa e muita discreção. Tudo com o beneplácito das nossas autoridades que tomam por investimento produtivo a compra de apartamentos de luxo.

(não se refere a negociata do reconhecimento de uma pretensa origem sefardita de algumas dezenas de milhares de cidadãos oriundos sobretudo de Israel mas também da Rússia (!!!)  que pelos vistos estará a ser “investigada” pelo MP. Não se esperam grandes conclusões, muito menos  acusações e condenações. Há outros interesses em jogo e a possível suspeita de anti-semitismo pesa muito.)

Voltemos porém aos emigrantes que tem sido notícia por se descobrirem casos infames de exploração patronal, de alojamento absolutamente indigno quesó se revelam quando um desastre, uma morte, um incêndio em zonas deprimidas de Lisboa traz à cruel luz do diaalgumas realidades.

Ontem mesmo a televisão dava conta de uma casa onde umas dezenas de emigrantes sul-asiáticos  pagam 10 euros por cama e por noite. Quem receberia essas quantias, sempre em dinheiro vivo seria, pela declaração de um dos pagantes um emigrante do Bangladesh. Não se sabe se era um simples agente do sub-locador ou o principal responsável por esse negócio altamente lucrativo. Na zona do Intendente, por quase todo o bairro de Arroios em Lisboa ouviram-se declarações de moradores que, como na Mouraria  referem  casas em estado mais ou menos decrépito que acolhem pequenas multidões de estrangeiros com escassos ou nulos conhecimentos de português, sem contratos de trabalho, quase sempre em situação ilegal que, fugindo de misérias ainda piores se acolhem a este desastre humanitário. 

Pelos vistos, as autoridades ou, pelo menos, os responsáveis da Câmara de Lisboa chamam a atenção para as correntes clandestinas e criminosas da emigração ilegal (ainda há dois meses teve-se conhecimento da vinda em massa de jovens timorenses que no seu país terão pago somas enormes – pelo menos para os seus pobres meios – a máfias locais que os colocaram cá com a promessa infundada de empregos que nunca se verificaram.) e pedem medidas contra tal situação.

Entre elas assume algum relevo a exigência de prévios contratos de trabalho, a contingentação e a radical proibição da emigração ilegal. 

É óbvio que tais medidas implicarão uma muito maior dificuldade para os emigrantes que apoiados nas redes ilegais de entrada no território português (e o mesmo, ou quase, é dizer no espaço Schngen e na União europeia). Eventualmente, criar-se-ão barreiras não só à simples emigração económica mas também à que é ditada por motivos políticos, fugas de regimes autoritários de conflitos incluindo guerras civis. Todavia, não é menos verdade que assim se dificultará a vida das organizações ilegais e criminosas nacionais ou internacionais que na prática como se tem observado, deixam milhares de emigrantes morrer nas águas do mediterrâneo ou do Atlântico. 

São de resto essas mesmas organizações criminosas as que, na maioria dos casos gerem a vida, o alojamento, oemprego de muitos dos emigrantes que entram nos países europeus e que, mesmo aí não conseguem livrar-se da exploração das citadas organizações.

Claro que a isto se junta, e de que maneira, a exploração de patrões nacionais que obtêm mão de obra a baixo custo bem como desconfiança, os maus tratos, as desqualificações que uma parte da população leva a cabo contra os recém chegados. Estes, não falando a língua, sem raízes nem redes de apoio, amedrontados pela ilegalidade da sua situação, são presas fáceis de malfeitores nacionais de toda a ordem. Veja-se o que recentemente se passou e, provavelmente ainda se passa em Olhão onde grupos de adolescentes locais talvez provenientes de zonas problemáticas os assaltam, os roubam, os maltratam. 

Se os políticos, sejam eles quais forem, não referirem esta situaçãoo, não propuserem soluções quer de emetgência quer de longo prazo serão acusados na praça pública por alguns opinantes que sempre os acusarão de indiferença ou, pior, de racismo. 

Nos úlrimos dias assistiu-se via televisãoo e artigos de opinião a uma espécie de julgamento na praça pública de alguns líderes conservadores por estes defenderem a contingentação de entradas, mais tigor na verificação das condições de alojamento e sobretudo a impossibilidade de entrada no país sem garantias mínimas de emprego futuro e de integração no país e na sociedade portuguesa. 

A questão é que sem isso, e no actual estado de coisas, a situação de alguns milhares de emigrantes continuará igual ou mais penosa, as organizações mafiosas continuarão impunemente a espoliar os modernos escravos que fogem de tudo como uma pobre emigrante do Bangladesh que, mesmo sem emprego e  a passar por dificuldades mais que visíveis se negava frente às câmaras da televisão a regressar ao seu país de origem. Isto explica mais do que mil palavras de que inferno ela tinha escapado. Infelizmente , a terra lusitana ainda não era a terra da promissão mas isso é outro falar.

A propósito das “contidas” condenações de alguns líderes conservadores parece abusivo acusar estes de racismo, de só quererem emigranyes brancos, não muçulmanos ou apenas –vá lá – das ex colónias portuguesas. Uma colunistas chegava ao ponto de afirmar que alguns portugueses  (ou muitos) se sentiam enraivecidos por verem paquistaneses a gerir as mercearias  que os comerciantes   portugueses abandonaram. Mesmo que num raro caso isso aconteça, rapidamente  se verificará que esse comerciante estrangeiro será tão útil como os titulares das delly nova-iorquinas ou os árabes parisienses abertos ao domingo. 

Tudo dito, não se contesta que em certas zonas de Portugal se possam verificar manifestações racistas e/ou xenófobas São sempre reprováveis e devem ser combatidas sem piedade nem tergiversação. Conviria, porém, sem as desculpar, compará-las com o que se passa noutros lugares não apenas da Europa ou da América (ou do Brasil onde nem sempre os nossos compatriotas estão a salvo de criticas violentas dos locais) mas dos próprios países que geram multidões de emigrantes...

É que uma das mais estúpidas características nacionais é a tendência para a auto-flagelação.  Melhor dizendo: uma pequena e auto-eleita elite acusa o resto da sociedade de onde ela vem de toda uma série de defeitos de que se sente livre.

O que não é de todo verdade...  

 

au bonheur des dames 571

d'oliveira, 11.02.23

Lá inovação é uma inovação

ou

Inês nem a de Castro!...

mcr, 11-2-23

 

Desde  que conquistou a maioria absoluta o governo inova contiuamente.

Desta feita contratou uma “activista e empreendedora social “ (signifique isso o que significar...) uma gentil senhorinha licenciada em psicologia como assessora dada a sua experiência em inovação social (signifique isto...).

Foi o Ministério do Trabalho que entendeu associar este eventual robusto talento à sua panóplia de colaboradores pela pechincha de 3750 euros brutos e mensais.

Como propósito imediato ou pelo menos já conhecido a recentíssima agente governamental propõe que uma multidão ocupe a ponte 25 de Abril em como meio de pressão para a resolução do problema da habitação.

E como a referida e talentosa empreendedora é dotada de imaginação e propensa a ideias práticas, espera a proponente que empresas de desporto forneçam graciosamente tendas para os futuros ocupantes. Já agora, manda a curiosidade perguntar quem é que fornecerá as casas de banho portáteis, os aquecedores contra o frio, a comidinha de todos os dias e por í fora. Será que esta “activista-empreendedora social “ espera que a sociedade civil e fundamentalmente o empresariado (sempre amigo do capital monopolista, capitalista e explorador do povo) se dê a tais e tantas ofertas generosas? 

Supondo que o problema da habitação das novas e jovens gerações e das famílias de poucos recursos seria da alçada do Governo, como é que se entende que este, através do Ministério do Trabalho e da Solidariedade e Segurança Social, venha combater o jovem Ministério da Habitação e, já agora, o das Finanças ? 

Que isto de dar casa a quem precisa só tem duas hipóteses: ou se entrega à iniciativa privada a tarefa de construir habitação social e a baixo preço de arrendamento ou ao Estado.

Sendo duvidoso que os empresários privados (que constroem a imensa maioria da habitação) estejam dispostos a não ganhar dinheiro ou a ganhar muito pouco tanto mais que é o Governo que acaba por definir os montantes dos impostos e a taxa de aumento anual de renda, será o Governo a ter de tomar a iniciativa da construção. Será normal que para tal deva ter de conviver com uma manifestação obviamente dirigida contra ele pois não se vê mais ninguém com capacidade para responder pela falta de habitação?

Eu, velho agnóstico, que já passou anos e anos a ver como os proprietários de prédios de arrendamento vão sendo considerados como réprobos e exploradores, não acredito em milagres.

E acredito ainda menos na rapidez e eficiência de um Governo (este ou qualquer outro, diga-se de passagem) no que toda a resolver razoavelmente e rapidamente o problema. 

Do que conheço de habitação social (e conheço pouco mas o bastante para não me entusiasmar) temos programa para uma boa década se tudo correr bem. 

Isto de correr bem também tem que se lhe diga. A burocracia que aflige privados também não dá grandes tréguas ao sector público. Que ainda por cima terá de ir buscar ao mundo privado as empresas construtoras pois não consta que o Estado tenha quem se encarregue das obras. 

Até ao momento, apenas há uma coisa certa: o contrato da empreendedora inovadora social  futura espécie de chefe escuteira de um imenso acampamento em cima da ponte tornando ainda mais infernal a vida de quem viv na margem sul. Vá que não há, que se saiba!, nenhuma proposta para a ponte Vasco da Gama nem, oh ideia tão portuguêsmente náutica e celebrativa!, que se ocupem os barcos que atravessam o rio. Claro que seria preciso providenciar camarots, camas, e tudo  o resto mas tudo são minúcias para quem foi até ao mares da Traporbana... 

Desconheço a idade desta novel ideóloga da inovação empreendedora embora compreenda que pode ultrapassar os fulgores da “juventude divino tesoro” (para citar um poeta que, para as inovadoras en herbe , se chama Ruben Dario). 

Eu ao longo de uma vida burguesa, capitalista, e tudo o resto que queiram acrescentar-lhe, tive o pouco significativo privilégio de conhecer adolescentes de 30, 40 e 50 anos. É verdade que, neste momento , não consigo recordar os progressos que trouxeram ao mundo, às gentes ou sequer aos portugueses mas há sempre uma esperança que brilha no fundo do túnel.

Em boa verdade, eu talvez propusesse que em vez da ponte se ocupassem outros espaços igualmente nobres mas menos dedicados ao tráfego dos trabalhadores da outra banda (pois os ricos não se dão ao trabalho de viver fora dos melhores bairros da cidade).Assim os Jerónimos, o Panteão Nacional, a torres de Belem, a sala do Senado  em S Bento poderiam acolher com maior economia e conforto os heroicos manifestantes pró habitação...

Ao mesmo tempo que desabafo aqui dou-me conta, via televisão,  da manifestação dos professores. Quantos deles conseguem ganhar a pechincha do ordenado que o MTSSS  vai pagar à empreendedora inovadora? 

E com esta pergunta saio desse tema que seria ridículo se não fosse profundamente imoral.  

estes dias que passam 775

d'oliveira, 09.02.23

Jogos malabares com a semântica

mcr, 9-2-23

 

nunca a conjunção “e” se viu metida em tais trabalhos. Sobretudo quando a querem fazer significar “ou”. 

Não vale a pena tentar ensinar a gramática que dantes se aprendia na escola primária a juízes, deputados, presidentes ou outros (e outros). 

Este é apenas um combate de retaguarda contra uma das “gloriosas” conquistas do progressismo versão lusitana espúria.

Honra seja a quatro juízes do STJ que vieram dizer algo absolutamente óbvio mas “esquecido” pelas deputadíssimas  luminárias que, ao arrepio da maioria da Europa : uma coisa é a natural legalização do suicídio assistido onde é pujante o consentimento de quem deseja morrer outra é o recurso que semre seria residual à eutanásia, Com uma outra diferença que também não terá perpassado pelas cabecinhas pensadoras dos decisores: o suicídio assistido pode mesmo ser considerado um acto médico, algo que nunca sucederá com a eutanásia, sobretudo quando (e isso vai acontecer) é difícil definir quer os termos da sua pertinência quer sobretudo perceber qual é a vontade do candidato a morrer. 

A eutanásia surge neste quadro espúrio e insensato como um meio rápido de fugir a questões fundamentais na saúde pública, na questão do envelhecimento da população e nos meis que o Estado consagra a quem sofre: a falta de dinheiro, a falta de cuidados continuados decentes e em número adequado.  

Já nem vou referir o direito absoluto de qualquer médico a fazer prevalecera sua convicçãoo hipocrática e a razão por que optou pela profissão, isto é salvar vidas, toda e qualquer vida.

É verdade que, pelo expediente natural e práticamente não usado do “testamento vital” qualquer cidadão pode em devido tempo, e em pleno uso das suas capacidades, deixar claro que recusa tratamentos que prolonguem o seu sofrimento, ressalvando apenas o direito a não ter dores, 

É claro que, por este caminho que a AR começou entusiasticamente a calcorrear ainda vamos acabar por ver alguém propor que os cidadãos ,todos os cidadãos, estabeleçam enquanto sãos o seu consentimento claro quanto à hipótese de serem eutanasiados. E mesmo assim nada é seguro porquanto , a todo o tempo, alguém pode arrepender-se.

A guerrilha constitucional levada a cabo pelo sr Presidente da República não surpreende ninguém. Já espanta mais esta insistência numa conjunção copulativa (até prova em contrário).É que o mais alto magistrado da nação é, presume-se, um ex-professor de Direito Constitucional e só por isso até se deveria arrepiar com este “e” a entupir uma triate resolução parlamentar. 

Quando se não pretende discutir os verdadeiros problemas do país, inventam-se estas campanhas laterais. A eutanásia é apenas a última “questão fracturante”. Pelos vistos a discussãoo bizantina dos cisgénero e não cisgénero, a apaixonante saga da minoria trans, a falta medonha de estudos africanos e de africanos  nos postos de comando político, e por aí afora, atira o torrãozinho de açúcar para a mais baixa subcategoria dos países bananeiros e ditatoriais!

É evidente que tudo isto se passa numa pequena bolha que o país ignora ou detesta e que mesmo sem nada mais a acrecentar vai ditando as regras com que mais e mais as pessoas se distanciam da política e dos seus praticantes. Isto para não aventar que estes debates são o pascigo dos extremismos populistas que ameaçam as liberdades e a democracia. De um lado e de outro...

 

No meio desta ruidosa algaraviada, cumpre lembrar que o sr Presidente da República não consegue calar-se dois minutos seguidos. Não sei se Sªa Exªa se dá conta que a sua voracidade afirmativa, a sua continua intemperança destroem continua e crescentemente o seu poder de intervenção, a sua capacidade de gerar consensos claros e úteis e dão a quem nos observa de fora a ideia que também por cá há alguém que tenta por todos os meios (legais, claro) influenciar Governo, Administrações, inteligentsia e tudo o resto. 

Olhando para dois presidentes com poderes de certo modo semelhantes (Alemanha ou Itália) não vejo posturas idênticas e tão estridentes e... tão desadequadas a mester de quem  com calma, ponderação e sem espalhafato público pode e deve dialogar com decisores de toda a ordem. 

O sr dr. Rebelo de Sousa não se chama Macron, muito menos Zelensky (que de resto está em guerra) e felizmente também não vive emparedado e protegido no Kremlin. Todavia, a sua hiperactividade faz pensar, se é que este verbo exprime tudo o que ela me sugere...

Não estou recordado de o ouvir pôr a questão do suicídio assistido versus eutanásia. Também já não importa que Inês é morta e que a AR vai bater o pé.

Convenhamos: nesta batalha que até chamou a semântica a terreiro predem todos. 

E perdemos nós que merecíamos um pouco mais de sol... um pouco mais de azul... para citar um grande suicidado  que ainda por cima era poeta.   

PS que nada tem a ver com isto mas que é regpzojante: o meu amigo Rui Graça Feijó ganhou (ex-aequo) um excelente prémio comum ensaio sobre um dos seus temas de sempre: Timor, ou melhor dizendo, a sua maneira justa e inteligente de ver, sentir, amar Timor. Vi-o crecer, doutorar-se, cumprir. contra ventos e marés, muitos e mesquinhos, toda a carreira universitária e académica. Este é provavelmente o primeiro prémio de vários que lhe auguro e que me enchem de alegria. 

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