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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 797

d'oliveira, 30.04.23

 

 

 

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É tudo farinha do mesmo saco!...

mcr, 30-4-23

 

 

As peripécias a que vimos assistindo sobre o caso TAP mais parecem uma caricatura de um drama de faca e alguidar.

O espectáculo é penoso, caricato e nem vontade de rir dá.

Não se passa um dia sem que apareçam novas histórias, novos factos, que dão dos personagens envolvidos uma ideia de que estamos a ver um espectáculo de feira pobre onde a estupidez parece ser o único elo entre as cenas, as personagens e o público.

Como alguém dizia, é demasiado mau para acreditar. Infelizmente, tudo isto é real, tudo isto desemboca na mesma fossa a céu aberto. Desde uma parvoíce sobre semântica, a uma reunião que afinal são sua, uns mails tontos que os autores nem sequer protegem, enfim uma balbúrdia que faria rir toda a europa, Putin incluído, se porventura alguém se lembrasse de olhar para esta canto perdido onde a terra acaba e o mar começa, onde o bom senso naufraga e a estultícia burra enche o peito.

Nem sequer. me vou dar ao trabalho de saber quem mente, pois é visível que todos metem o pé na poça, se desculpam com meias verdades que ainda pioram a mentira original, o erro monumental que custou ao país alguns milhares de milhões (e inda vai custar outro tanto...) .

Depois, emerge medonha e sinistra, a tentativa de continuar agarrados ao rochedo, qual mexilhão que não percebe nem as ondas nem o pescador que espreita a maré baixa.   

Um ministro que declara enfaticamente que é ministro e que te todas as condições para governar não percebe já não o riso mas o desprezo da rala multidão que acaso ainda se dá ao trabalho de o escutar.

Um rapazola, decerto vindo da jota e da intrigalhada do aparelho que de há anos a esta parte vai assessorando uns e outros,  com o mesmo desvelo, a mesma alegre ousadia que, subitamente se “lembra” de uma borrada qualquer e, amedrontado avisa que vai falar se o obrigarem e que à cautela, depois de corrido como um leproso, vai ao antigo gabinete buscar um computador cuja propriedade é incerta ese vê impedido de sair, a pontos de chamar a psp que o retira de lá, duas alegadas secretarias que, afirmam ter sido obrigadas a esconderem-se numa retrete (atrás ou dentro da sanita?), queixas cruzadas na PJ, o SIS, ah o Sis!!!, a ir pressuroso buscar o computador carregado de segredos que é prontamente entregue, sem oposição nem violência (mas seguramente com tudo já copiado para uma pen posta a bom recato) toda esta comédia baratucha que já não faz rir mas apenas nos envergonha a todos.

“...Estamos tocando el fondo...”

 

 

* a citação final é um verso de “La poesia es un arma cargada de futuro” (Cantos Iberos, Gabriel Celaya, 1955.  A minha edição é da ed Turner, Maddrid, 1975) .Este poema foi cantado e muito divulgado por Paco Ibañez (cd “Paco Ibañez aen el Olympia” Effen, 100432)

au bonheur des dames 587

d'oliveira, 28.04.23

Do uso dos livros

mcr, 28-4-23

 

Sou, para mal dos meus pecados um leitor vicioso, incorrigível, atrevido, enfim um leitor impenitente e, por vezes – demasiadas vezes, ahimé! – penitente pois nem sempre o livro que se escolhe vale a pena. E inda por cima custa dinheiro!

Aliás, o tema recorrente do preço dos livros confunde duas coisas: o facto de a edição ser escassa o que prejudica o curto de produção e a ideia peregrina de que por alguns livros serem vectores de cultura deveriam ser baratos, gratuitos, subsidiados pelo Estado. Isto num país em que, é afirmado que, em 1922, mais de 70% dos portugueses não comprou ( e provavelmente não leu) um único livro. 

Deixemos, porém, esses temas habituais no famigerado coro dos queixumes nacionais, e voltemos à vaca fria: o uso dos livros. 

Não vou insistir na nova moda canalha de se modificarem palavras, expressões, frases  de obras caídas no domínio público porque isso pode ofender algum leitor ou influenciar negativamente os mais frágeis (ou mais estúpidos!...) que al ler a palavra preto, gordo ou outra do mesmo estilo estão a enveredar pelo temível caminha do politicamente incorrecto. Aqui, a culpa é de gente que se toma por editora e provavelmente 2engenheira de almas”. 

Há poucos dias, li em diferentes publicações duas notícias curiosas sobre leitores que, além disso, foram facínoras da pior espécie: Hitler e Stalin. Pelos vistos ambos tinha, bibliotecas apreciáveis (entre 3 e 10.000 volumes!) liam bastante, anotavam os livros e davam-se até ao luxo de os colecionar. 

A essa lista poderiam juntar-se outros cavalheiros de sulfurosa reputação, desde o “nosso” fr Salazar até ao grane timoneiro que, também, poetava e, dizem os mais entendidos, tinha um certo conhecimento dos granes clássicos chineses. 

Digamos que os investigadores e os jornalistas que reportam tais factos se admiravam. Não lges passava pela cabecinha sonhadora que um gangster político podia ler! 

As notícias que li não dão uma noção exacta das leituras destes cavalheiros o que torna mais complicado falar sobre o assunto. De todos os referidos, apenas conhecemos com mais pormenor o que leria Salazar. Convém lembrar que o homem  era um erudito, com um conhecimento naturalmente grande dos textos filosóficos e políticos do seu tempo, para lá da natural cultura jurídica e económica. Escrevia de resto com elegância e suficiente clareza como ocorre com alguns , não demasiados, professores de Direito. 

Ao contrário do vizinho Franco,  que era um fortíssimo espectador de cinema, Salazar leu o suficiente para perceber que o fascismo puro e duro do outro colega Benito Mussolini, tinha ressonâncias pagãs que, para um rural católico, ex-seminaristas provinciano era qualquer coisa de aberrante. É sabido que Salazar detestava povo, culto incendiário do chefe, organizações de massa açuladas pelo frenesi patriótico, tropa e em geral tudo o que significasse massas em movimento. Opto por outro estilo, reservado, solitário e distante e, pelos vistos saiu-se bem disso. Governou sem grandes dificuldades, até uma cadeira anti-patriótica se ter manhosamente deslocado. Morreu na cama, convencido de que ainda governava, derrubado por um hematoma subdural que o deixou lelé da cuca, para usar da elegante expressão de quem actualmente nos representa. E que tem hábitos de leitura que, durante o seu período de comentador oficial  (e não oficial como agora!...) nunca deixava de recomendar um par de livros.

Um dos meus amigos alfarrabistas contou-me que tinha como fregueses alguns/algumas decoradores/as que lhe compravam quantidades importantes de livros sobretudo vistosos e encadernados para decorar casas de outros fregueses  que entendiam dever mostrar que eram gente culta.

No prédio onde moro, os condóminos entenderam entregar a umas senhoras arquitectas e decoradoras o arranjo de um espaço amplo junto da entrada. As criaturinhas lá fizeram o que se lhes pedia e além de um par de sofás ,de uma mesa, duas cadeiras e quatro gravuras na parede, meteram um móvel que numa estante na parte superior ostenta um quarteirão de livros. Valha averdade que nenhum é encadernado mas um exame mesmo superficial mostra que foram comprados a esmo num farrapeiro. Não há um único título que valha a pena. Ao lado de um dos sofás, colocaram uma pilha de velhos exemplares de revistas “cor de rosa, estilo sala de espera de cabeleireira modesta. O porteiro mostrou-me aquilo e repetia que nunca compreenderia a burguesia média alta que eventualmente aprovaria aquela literatura de terceira ordem. 

Durante a pandemia, começaram a aparecer entrevistas a especialistas de toda a ordem que falavam desde casa. Cedo se instaurou o hábito de os entrevistados se situarem com uma estante por trás onde, inevitavelmente, se aglomeravam livros, retratos, souvenirs variados, postais, sei lá que mais. Nalguns casos, o espectáculo era deprimente, noutros soava a falso, abundavam colecções de livros todos encadernados por igual (ai o jeito que dava a Enciclopédia luso-brasileira ou certas colecções de livros do Círculo de leitores!..

Adivinhava-se que a leitura não seria uma actividade copiosa daquelas criaturas mas antes isso do que uma enorme estante de alguém que conheci superficialmente e que tinha encadernados em percalina de várias cores  “gazeta das aldeias”, os livros de uma antiga edição da biblioteca tv e várias dezenas de volumes de uma revista sobre jardinagem. Tudo com um ar virginal e estudado! 

Nos meus tempos de maior atrevimento contestatário, ouvi muitas vezes dizer que os livros eram papéis pintados ou algo do mesmo estilo. Era a época do Maio de 68 mas em estilo grande revolução cultural e proletária chinesa. 

A reacção de certa juventude ignorante mas entusiasta não deveria divergir demasiadamente daqueles anos negros em que na \Alemanha nazi se queimavam livros às mãos cheias. Os incendiário, convém recordá-lo, eram estudantes universitários imbuídos de fé patriótica e ansiosos por restaurar uma Alemanha vencida em 18 e criar um Reich milenário. Este durou doze anos, deixou muitos milhões de alemães mortos (nem falo das vítimas de toda a ordem desde judeus a ciganos, afto-germânicos das antigas colónias e inimigos de todas as nacionalidades invadidas). 

Mas Hitler, repito, lia livros e tinha uma biblioteca. Exactamente como o seu comparsa de pesadelo soviético que lia à fartazana e mandava para o gulag e para a morte a fina flor dos romancistas e poetas que foram a breve glória da Revolução e da ideia de um mundo novo, diferente e sonhado.

 

au bonheur des dames 586

d'oliveira, 27.04.23

Donos, donas, donatários (& doninhas) no país dos brandos costumes

mcr, 26-4-23

 

todos os anos, por esta época, aparece a mesma discussão que, de resto, apenas corre entre grupos que se arrogam de progressistas.

É “a defesa dos valores de Abril”, a defesa da “herança de Abril  “ que normalmente passa por alto que depois veio Novembro, eleições, tentativas terroristas estúpidas, sangrentas e inúteis (e amnistiadas!..., ) uma união europeia a mandar milhões sobre milhões (bastas vezes mal gastos ou pior ainda), alternância democrática, partidos falecidos e outros novos, enfim o trivial em cinquenta anos em que o mundo não parou e Portugal deu alguns passos mais empurrado do que empenhado.

No entanto, entre finais de Março e os idos de Maio, entre a não recordação (ou a lembrança amputada) do golpe das Caldas e o 13 de Maio na Cova da Iria, aparece um punhado de luminárias que grita Abril, que respira Abril, que beija Abril, que dorme com Abril e, eventualmente vai com Abril para a retrete fazer sabe-se lá o quê.

O que é mais curioso é que estes abrilistas sinceos alguns, tardios muitos ou aproveitadores, uma multidãoo, há sempre um dedo acusador para fora de Abril, para quem se põe em bicos de pés querendo ser “dono de Abril”.

À medida que os anos passam, que desaparecem as testemunhas, os intervenientes e a multidão que se descobriu democrata e/ou revolucionaria na semana que mediou entre o dia 25 e o 1º de Maio, a revolução (que, na realidade começou por ser um golpe de Estado da tropa contra um regime que estava completamente anquilosado, paralisado, ideologicamente rarefeito sem amigos nem defensores, que caiu como ramo seco e apodrecido) pareceu agigantar-se, ser outra coisa. E de certa maneira foi mas já lá iremos.

Comecemos pelo óbvio e que parece ser um característica de1850 até hoje. Os manuais referem três revoluções, entremeadas de pequenos golpes, dezenas de arruaças, e “muito barulho para nada” se é que se pode aqui citar o bardo inglês. Na verdade as revoluções de 5 de Outubro e de 28 de Maio (e depois o 25 de Abril) foram incruentas, pacíficas, bastando uma ocupação militar da rotunda ou uma marcha lenta de Braga até Lisboa para tudo parecer mudar. No meio é que verdadeiramente houve sangue bastante até, sublevações de todas as cores, assassínios políticos, prisões em barda, deportações, exílios de toda a ordem. Ou seja, os três actos fundadores da história contemporânea portuguesa sucederam com uma surpreendente tranquilidade provando eventualmente que os regimes que combatiam e derrotavam estavam já exangues. A República viu um par de movimentações militares dirigidas na Rotunda por Machado Santos (mais tarde assassinado, por “desconhecidos” na noite da camioneta fantasma). Contra a sua escassa hoste apenas Paiva Couceiro se bateu sem êxito e quase sem soldados. Quando o cônsul alemão apareceu de bandeira e abandonado branca para tentar safar um par de civis da zona entre dois fogos uns julgaam que os monárquicos se estavam a render e estes pelos vistos não os desmentiram. A república foi proclamada nos Paços do Conselho em Lisboa e por telegrama para o resto do país.

No caso de 28 de Maio, não houve resistência, republicana desta vez. Gomes da Costa foi descendo do Norte, aceitando a adesão dos quartéis no caminho e entrou em Lisboa, como vencedor único atirando para um desvão da História o almirante Cabeçadas e outros chefes militares que já sonhavam com o poder. Ninguém defendeu a 1ª República esgotada por 51 governos, várias revoltas (essas sim sangrentas, tumultos e bombas à fartazana, operários corridos à espadeirada, greves dominadas pela violência dos governos), E assassínios políticos, atentados contra personalidades republicanas, tudo em 16 anos espasmódicos).

O 28 de Maio teve uma vida bem mais longa, igualmente atacada inicialmente por revoltas, algumas violentas e com inúmeras vítimas, mas deve dizer-se que gozou de um apoio popular importante que manteve Salazar à tona até à fatídica cadeira. O abalo de Delgado, as famosas listas do MUD, um golpe de Beja mal pensado, mal planeado e rapidamente vencido, foram episódios em que, curiosamente, a maioria dos intervenientes tnhia saindo dos primeiros e mais entusiastas defensores do regime, quase todos militares. Foi a guerra colonial, ou melhor a duração das campanhas militares, a clara oposição de todos os países ocidentais  (a começar pelos EUA ) que isolaram o regime e no final levaram a tropa para a rua.

É verdade que durante esses quase cinquenta anos de Estado Novo sempre houve uma fracção minoritária de povo que nunca aderiu ao regime, que se opôs como podia, que conspirou com pouca eficácia mas com generosa e inegável teimosia. Todavia, as oposições, porque eram diversas e quase nunca de acordo, reuniam uma magra porção de pessoas. O medo, a censura eficaz, o inequívoco apoio da grande maioria da Igreja,  os famosos ”sopapos dados a tempo”, a emigração que retirou os mais  aguerridos, os queriam mudar de vida, os que não se conformavam,  a recordação dos anos dramaticamente confusos da 1ª república, a dura imposição da “tranquilidade pública”, o facto do  país ter sido poupado pela guerra, foram factores que garantiram o sono do ditador. Pelo menos até 58/60, melhor dizendo até ao fim dos primeiros anos de guerra.

Foi esta portanto que gerou o cansaço, a desilusão, a consciência de que não havia dentro do regime alternativas capazes (a última prova foi dada pelo fim da “ala liberal” na Assembleia Nacional). Naturalmente, a situação era sentida nas frentes militares onde os oficiais do quadro já se sentiam inseguros, com os milicianos a “dar-lhes na cabeça” com os governantes nacionais e locais a não perceberem nada da situação no terreno, da disposição das populações africanos (mesmo se a africanização da guerra permitisse pensar que os movimentos de libertação não tinham uma representatividade esmagadora). As reformas levadas a cabo nas colónias foram dramaticamente tardias, incompletas, tiveram  oposição da maioria dos colonos brancos mesmo se, em alguns casos, houvesse entre as elites coloniais uma confusa ideia que Spínola condensou no seu livro.

E já que se fala de Spínola é bom lembrar que como ele, muitos oficiais conservadores já estavam de costas voltadas para o regime.  E muitos deles (desde os que saíram das Caldas até uma boa fatia dos que estavam no “MFA”) nada tinham de revolucionários. Como de resto foi visível com o andar dos tempos. Das personalidades que compunham o “antigo regime” não foram poucos os que se passaram de armas e bagagens para a “democracia” (basta lembrar Veiga Simão ou Adriano Moreira).

Por isso, tudo o que se pretende afirmar  sobre a pureza do 25 A, os seus donos, sobretudo os seus donatários, deverá ser visto à luz das múltiplas conversões (algumas sérias outras, muito, oportunistas).

O país queria respirar e queria isso a diferentes velocidades mas seguramente sem grande confusão  pública. O milhão de emigrantes nas Franças e Araganças foi indubitavelmente agente da serenidade que via a(s) grande(s) cidade(s) a tentar pôr em causa o eventual regresso, o destino das poupanças enviadas para cá, o modo de vida a que se tinham habituado nas destinos da emigração. Soares e Sá Carneiro, fundadores dos dois grandes partidos que sozinhos já representavam a maioria da população bem o perceberam. Antes do 25 de Novembro já a fonte Luminosa, o Verão de 75 em todo o resto do país, tinham aberto o caminho para o regresso  a uma certa normalidade “anti-revolucionaria”. E é bom lembrar que o golpe do 25 N também não teve opositores. Tudo se passou como em Abril do ano anterior, os regimentos vermelhos não se mexeram, os seus mais acérrimos oficiais ainda menos, as fantasmáticas organizações populares mostraram quão fantasiosa era a “muralha de aço” ou os “soldados unidos vencerão” Aquele enorme castelo de cartas caiu ao primeiro sopro sem um tiro, uma vítima, e com poucas lágrimas.

Porém, e aqui é que está a ironia, os vencidos de Novembro, os posteriores conspiradores terroristas, as dizimadas forças “esquerdistas” conseguiram com o auxílio de alguns dos vencedores do contra-golpe de Novembro criar uma mitologia  “abrilista” que dura até hoje. Defender umas alegadas conquistas da revolução que nunca foram postas em causa e um par de mitos estatizantes passou a ser o catecismo que ainda hoje move as pessoas que, de cravo em riste, descem a Avenida. Se porventura outras que se sentem também devedoras de Abril se juntam surde feroz a desconfiança. E, como estamos em tempos carregados de insinuações semânticas ( do género que a srª Ministra Vieira da Silva surpreendentemente usa) a luta “anti-totalitarista da IL é má porque mistura o cavalheiro Zé dos Bigodes com o cabo prussiano do bigodinho, ou seja Stalin e Hitler irmanados desde o infame pacto que permitiu ao segundo ficar com as mãos livres para atacar na frente ocidental e recebendo para o efeito gigantescos carregamentos de bens alimentares, estratégicos de toda a ordem (o último comboio da URSS para o Reich partiu no dia anterior ao da invasão e ainda não tinha chegado ao seu destino final quando as vanguarda alemãs já passavam a linha da frente).

Uma senhora que tem tabuleta aberta para a rua num jornal de referencia acha que os dois totalitarismos não são compatíveis nem podem ser condenados em conjunto!!!

Da mesma origem veio mais uma crítica aos “donos de Abril” que, espantosamente não são os que se proclamam seus únicos intérpretes mas todos os restantes que também entendem dever qualquer coisinha ao evento que querem igualmente celebrar.

Tenho, quanto mais não seja por tradiçãoo, vício, hbitos velhos que já não se mudam, uma ojeriza profunda à Direita que, graças (ou desgraças) à minha idade fui obrigado a combater durante uma boa dúzia de anos já homem feito. Agora, olho para esta geração que nos jornais e nas televisões exibe uma faca entre os dentes e se sente vocacionada para “arrear na Direita” em vez de pensar o pais e fazê-lo andar de vez para a frente e vem-me a ideia de que são jovens náufragos de uma revolução que não viram, não viveram e não conhecem. Tem saudades de algo que lhes foi vedado por já só serem filhos e netos dos que tiveram o obscurantismo, a tirania e as dificuldades de toda a espécie à perna. Haja alguém que os avise que, como dizia o poeta, “as Índias estão todas descobertas”...

au bonheur des dames 586

d'oliveira, 25.04.23

Discurso do Nuno Maria pela manhã de 25 de Abril seguido de outras declarações avulsas sobre a data, os prémios e as condecorações, sem esquecer as peixeiradas 

Por mcr, pelas 11:30 numa esplanada cheia de sol , meninos a bricar , cães a correr e uma bonita rapariga situada  às 2 da tarde e a 3 mesas de distância (Deus seja louvado!... estarei velho, com pouca visão mas os olhos ainda funcionam...)

 

 

O Nuno Maria vai nos felizes cinco anos e meio, anda numa escolinha, é cinto amarelo de karaté, gosta de piano e de ovos kinder.

Hoje há poucos minutos, interrogado pela mãe, declarou: 

“mamã quando tu nasceste  as pessoas tinham de falar baixinho. Depois as pessoas tinham armas, dispararam flores vermelhas e veio a liberdade.

E tu pudeste falar alto e beber coca-cola!” (sic, sicut gravação ao vivo no telemóvel materno)

Tenho por mim que o velho adágio de que Deus fala pela boca das crianças é absolutamente verdadeiro mesmo se, no meu caso, eu seja um incréu atestado. 

O meu neto, disse tudo o que é essencial obre este dia que celebramos. Já falamos alto e podemos fazer o que queremos  quase sem restrições ou com as restrições que a vida em liberdade e democracia impõe.

 

A  Ana, já nasceu depois de 74 mas esse pormenor temporal não é importante e, de todo o modo, não se  lembra dos primeiros tempos, tingidos pelo PREC. Mas é verdade que a coca-cola (que eu bebi em Moçambique maravilhado pela novidade, ainda nos meados de 50) não era vendida em Portugal. Isto, esta tonta proibição dá a exacta medida do que país bisonho, atrofiado, conservador, atento, venerador e obrigado que  reduzia o povo a súbditos e encarcerava os que se queriam cidadãos.

 

Hoje, pelos vistos, chegam-me ecos da televisão, lá dentro com o Chega a exibir cartazes sobre a corrupção e, naturalmente, a atacar Lula. Não vi e se isso se passou dentro do Parlamento é uma peixeirada das mais estúpidas.

O sr Presidente da República entendeu, sabe-se lá porque raio  de critério condecorar a esposa de Lula com a Grã Cruz da Ordem d Infante D Henrique por alegados altos serviços prestados  pela 1ª Dama e que genericamente estarão dentro de relevantes acções ligadas “à expansão da cultura portuguesa e os seus valores” (sic)!!!

Eu nada tenho contra a senhora Lula da Silva mas faço parte da imensa legião de pessoas que desconhecem esses altos serviços de que não há pista convincente por mais que se procure o seu rasto com uma lupa de grande alcance. Ou um telescópio! Ou um microscópio...

Convenhamos que fica a ideia de que o Sr Dr Rebelo de Sousa anda em roda livre desde que começou o seu segundo mandato.  Como, não pode (espera-se!...) tentar uma terceira eleição, Sª Exª terá entendido que agora pode fazer tudo o que lhe vem à cabeça mesmo se parecer uma saloiada, um provincianismo, sei lá que mais (e mais não digo por mero respeito à instituição Presidência da República. Com esta condecoração regressamos a algo que parece anterior (se possível) ao Sr Almirante Américo Thomaz que Deus ou o Diabo tenham em bom recato. Há muitos anos, um amigo meu dizia que de MRS era de esperar  tudo, e neste tudo, ia um tsunami de indizíveis acções, declarações, “sueltos” escritos. Só o silêncio é que está ausente.

Poderia dizer-se que não é a primeira vez que uma 1ª Dama recebe uma venera da República mas esta é de dar gritos de espanto. As outras também, mas a fundamentação ”cultural” arrepia.

 

Chico Buarque, cuja carreira acompanho desde o dia em que veio a Portugal com o Teatro da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (“Vida e morte severina”, autoria de João Cabral de Melo Neto, enorme poeta que tive o gosto de conhecer e cuja leitura é desde os anos 60 uma das muitas e boas companhias que vou tendo. Chico é o autor das músicas da peça suponho que aliás é a sua estreia musical) é um grande prémio Camões, um notabilíssimo poeta popular e músico bem como um romancista mais do que legível. Como Dylan,  trouxe a canção para todas as salas  a exemplo de Vinícius de Morais seu padrinho poeta e letrista sem par. O seu discurso de aceitação do prémio (Público de hoje, pag 7)é uma peça de humildade e de clareza política e cultural que merecia ser lida e seguida por cá por muito boa gente e não me refiro apenas a músicos ou escritores. 

É um texto digno da data que hoje se comemora e reenvia para cá o “cheirinho de alecrim” por ele reclamado há muitos anos. Pelos vistos é descendente comprovado de sefarditas portugueses que encontraram no Brasil o acolhimento que cá se negava aos cristãos novos. Isso e a sua indubitável  campanha em prol do português falado e cantado merecia de imediato a concessão nem que fosse honorária da nacionalidade portuguesa para nos desenjoar dessa enxurrada de falsos descendentes que apenas querem uma entrada na União Europeia, que não falam a língua, que em nada contribuem para o país que tonta, ingénua e generosamente lhes dá um documento que poucos merecem e menos ainda terão direito. 

Será algo assim tão difícil?

 

Este folhetim começou de manhã, numa esplanada com sol e está a ser acabado a meio da tarde depois de uns linguadinhos que acompanhavam  um arroz de grelos  absolutamente memorável e apropriado ao dia  de hoje. E comido em boa companhia, de surpresa com o Nuno Maria, pai e mãe. Melhor festejo seria impossível.

 

(nota: a declaração do Nuno Maria  teve por base um vídeo mostrado no seu colégio com texto de Manuel António Pina, outro amigo de sempre e também ele um  mais que merecido prémio Camões. Parece que os meninos e meninas que assistiram ficaram entusiasmadíssimos e provavelmente andam por aí a disparar flores vermelhas, cravos, rosas, papoilas. 

Deus fala pela boca das crianças. 

Assim os presidentes das repúblicas de Portugal e do Brasil aprendessem qualquer coisa mas isso é, como nos tempos em que sonávamos com a Liberdade, pedir demais!... )

 

Vai esta conversa de bica aberta para os escassos opositores ao regime no dia 24 de Abril. Para esses e só para esses que no dia 26 aquilo parecia a multiplicação dos pães e dos peixes... É que o 25 pareceu também ser um 13 de Maio na Cova da Iria da democracia. Subitamente uma imensa multidão cega, surda e muda viu a luz!

au bonheur des dames 585

d'oliveira, 24.04.23

Recordando os dias em que voávamos

mcr, 24-4-23

Lembrar algo em que participámos há praticamente 50 anos é algo que só acontece a quem chegou a esta idade. Digamos que já vamos rareando. Quem em 25-4-74 tivesse 18 anos e se interessasse pela coisa pública, andará agora pelos 67/68 o que já significa que está reformado ou à beira disso.

Quem como eu vem de outras guerras  (as crises académicas de 62 e 69, em Coimbra)  já arrumou as botas se é que ainda por cá anda.

De qualquer maneira, aqueles foram dias de vinho e rosas, planávamos a metro e meio do chão, não dormíamos e o mundo parecia aberto a tudo. 

E é dessa rapaziada de 69 que embarcou alegre e rapidamente em todas as conspiratas que desaguaram em Abril, águas mil que queria falar. 

Não para vir descer qualquer metafórica Avenida da Liberdade porque nós descemos e subimos essas ruas vezes sem conta, com a polícia atrás e muitas vezes à frente quando já estávamos embarcados nas carrinhas que nos havima de levar para os vários calabouços que a minha geração e eu próprio conhecemos. 

Coimbra, dizia eu. Coimbra em 69, outra festa que marcou toda uma geração que “ousou lutar, e, espanto dos espantou, ousou vencer” se é que posso usar um slogan do quase esquecido mrpp. Convem lembrar que lá ousar lutar, ousámos mas nunca nos passou pela cabeça que iríamos vencer. Contra todas as espectativas foi exactamente isso que ocorreu, pela primeira e única vez na história das revoltas estudantis. Não vale a pena tentar, mais uma vez, explicar o facto pois mesmo a esta distância a coisa ainda parece do domínio da fantasia, coisa que dá muito na malta nova.

Apenas chamo a crise de 69 à colação porque no meu caso e no de mais muita e boa gente, aquilo criou laços fortíssimos e, melhor ainda, deixou em centenas de companheiros, colegas e amigos uma inquietação que se transformou em inúmeras acções, em grupos mais ou menos estruturados que nesses cinco anos de intervalo “pintaram a manta” contra o regime.

No caso que agora me ocupa, trata-se de recordar que o grupo eclético que, de certa maneira, conduziu a greve, se manteve mais ou menos unido malgrado o facto de, acabada a universidade, começada a vida profissional, nos espalhamos por vários sítios. De todo o modo, umas largas dezenas de companheiros de 69 continuaram a reunir-se, a conspirar, a tentar fazer coisas (por exemplo a editora Centelha que durou uma boa dúzia de anos e editou mais de duzentos títulos mormente poesia e política, claro, sempre com a polícia a meter o bedelho, a apreender livros, enfim o trivial na altura)

Ora, aqui no Porto, juntaram-se duas dúzias de “coimbrinhas” que naturalmente se encontravam, reuniam, conspiravam e recebiame enviavam mensagens de toda a ordem para outros grupos em Braga, Viana, Coimbra Lisboa, sobretudo. A polícia fariscava, recebia informações de uma filha da puta mulher de um dos nossos que, felizmente, era de uma pasmosa ignorância. (Mesmo assim ainda me acusou de profeta do bombismo durante uma imaginária reunião conspirativa em Cantanhede, terra que ainda hoje não conheço)

Cá, um dos centros ais activos do nosso grupo que nunca teve nome era o escritório de jovens advogados onde eu estava com mais cinco outros do mesmo tempo e mesma geração. Éramos todos advogados de sindicatos, tínhamos uma mão cheia de clientes estudantes que se metiam onde não deviam ee que defendíamos pro bono e para além disso cada um fazia o que podia por ajudar à festa que, em boa verdade, de festa nada tinha, pois o perigo estava diariamente presente. 

Entre outas actividades, um dos meus antigos companheiros de estudo iniciou-me na “passagem de fronteiras” ali para os lados de Melgaço. Logo que fiquei mais experiente no esquema de levar gente para o outro lado, comecei fazer as passagens sozinho pois como qualquer leitor percebe o risco de ser apanhado ou pressentido como passador é muito mais quando há vários intervenientes. 

À conta disso, nas vésperas do 25 A, mas já depois das Caldas da Raínha, um dos nossos colegas que prestava serviço militar no Porto e obviamente estava metido na conspiração, encarregou-me de preparar um grupo de pessoas que, caso o 25 A falhasse pudesse rapidamente levar os vencidos para fora do país. 

Rapidamente, consegui reunir uma flotilha  de entusiastas que poderia de um pé para a mão arrancar para o alto Minho  onde eu os passaria por uma ribeira que dava pelo pomposo nome de rio Trancoso. Aquilo sempre fora local de contrabando, quem o conhecia era a Laurinda, mulher do Manel Simas, meu companheiro de estudo nos 4ºe 5º anos. A Laurinda além de bonita era intrépida mas cuidadosa. Ela própria também tinha a sua freguesia de fugitivos, aliás. 

Reuni, portanto gente da máxima confiança. Da geração coimbrinha alistaram-se entusiasmadíssimas a Teresa Feijó e a Maria João Delgado, na altura casada comigo. Depois, uma segunda formação de gente mais velha, os meus sogros Alcinda e Jorge Delgado com largo passado e cadastro oposicionista (o Jorge fora militante comunista com uma prisão em cima  enquanto a Alcinda estivera metida no “socorro Vermelho”) Para completa a meia dúzia foram mobilizados o Rui Feijó (na altura membro da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e hospedeiro frequente de fugitivos- entre muitos o Manuel Alegre- enquanto a Margarida sua mulher amotinava camponesas  e artesãs da região criando uma espécie de sindicato. A Margarida mais tarde tornou-se uma ardente defensora de várias causas  ecologistas ao ponto de em Espanha a chamarem “la abuela revolucionaria”)

Seis condutores e cinco automóveis era a minha pequena organização. Da malta do nosso escritório tirando o militar conspirador, o resto andava noutras e semelhantes actividades. Disso falava-se pouco justamente para não criar problemas se, porventura, a prisão acontecesse. De todo o modo, recordo que a Fernanda da Bernarda, antiga dirigente da AAC em 1969 tinha o sonho voluptuoso de ser a carcereira do general comandante da região militar. Ela e o Zé Ferraz, na altura seu marido, garantiram ao Zé Afonso, o nosso homem no MFA que a casa em que viviam tinha as melhores condições para numa das casas de banho interiores permitir a um general todas as comodidades que um preso de elevada hierarquia militar necessitaria! 

A Joana Neves, outra jurista e hospedada em casa da Fernando e do Zé estava de serviço aos telefones porque padecia já de uma doença degenerativa que não permitia acções demasiado movimentadas. 

Em boa verdade, ninguém preciso da minha brigada autobilistica. Todavia, na madrugada do 25 A A Teresa e a João, o Rui Feijó e eu não aguentamos estar em casa e fizemos horas de carro pelo porto, vigiando os quartéis e, decepcionados, não vislumbrando nenhuma acção, salvo o facto de as janelas de vários quartéis estarem iluminadas. 

“A coisa está sobre ridas” murmurava o Rui, um veterano da “rede Shell”,  e de variados episódios da resistência cultural para não citar o seu papel de hospedeiro de fugitivos políticos. Pose dizer-se que entre as quatro da manhã e as nove fomos a todos os sítios mas a únca acção que vimos nem era exactamente acção. Havia um pelotão de soldados de arma aperrada a cercar uma emissora. Ficámos confortados!

Os três restante membros da brigada, embora avisados do que se passava, entenderam continuar na cama a dormir. “Se for preciso vens chamar-nos mas para já aproveito  e descanso”. 

“Nervos de aço”, pensei . “Ora, ora, ele gosta é de dormir” respondeu a João. 

 

Depois foi o que se sabe, ou se adivinha. A nossa patrulha recolheu a quartéis mas eu não desisti de ir meter o nariz na baixa. Pela tarde fui visitar o dr. Sá Carneiro Figueiredo, meu antigo patrono que depois do meu relato entendeu dever telefonar ao primo Francisco Sá Carneiro para novamente eu contar o que sabia. Finda a minha conversa, o velho senhor, pegou no telefone e disse (sic) “Francisco, agora o menino vai ser só política. Só política, ouviu?”

Além de excelente advogado, o dr. Sá Carneiro Figueiredo era um democrata de provas dadas e, como se vê, adivinhava o futuro.

Vai o folhetim para uma infinidade de pessoas, ou seja os sobreviventes de 69, e em pespecial a Teresa e a João. 

E com uma comovida lembrança, para Alcinda e Jorge Delgado,  Margarida e Rui Feijó. Naquele tempo, não eram muitos os exemplos  de coragem . Claro que a 26 de Abril o país estava cheio de democratas de toda a vida para não falar do revolucionários de brotaram do solo fértil e empedrado das avenidas  urbanas...

 

au bonheur des dames 584

d'oliveira, 22.04.23

O “deboche” na versão de XXX

mcr, 22-4-23

 

 

XXX é outro dos meus mais velhos e queridos amigos com quem mantenho uma correspondência rala que tento colmatar com os folhetins que vou dando o éter. Como ele me lê, dou por cumprida a minh parte, Elé é aida pior, Ou telefona a desoras ou passa meses sem dar um pio ou escrever sequer um postal se é que ainda há disso.

Vive num hotel confortável, tem um apartamento em frente onde guarda a livralhada e demais objectos culturais (sic) e a que só vai três vezes por semana exactamente nos dias em que uma antiga mas fiel empregada  toma conta do pó, (“que ela conserva amorosa e conscienciosamente” –sic, no dizer de XXX. De todo o modo passa-lhe as gravatas e os lenços de pescoço que ele lhe deixa , areja o aparamento , um T1 grande e espaçoso mal visto pelos vizinhos que suspeitam que aquilo seja uma garçoniére de um velho libidinoso, mesmo sem nunca terem apanhado o ausente proprietário ou alguma visitante. 

Há mesmo uma vizinha, ainda de bom ver que lhe espreita as entradas e se faz cruzar, “sempre com decotes até ao umbigo” (sic, XXX dixit).

(“Um dia destes convido-a para ver a minha colecção de gravuras “shunga” japonesas..., XXX de novo.)

Desta feita, porém, eis que  o este longínquo amigo dá à costa e vem visitar-me  (agora tenho um chauffeur, sic, mesmo se preferisse uma rapariga jeitosa e boa condutora como aquela que o Cela ((Camilo José, prémio nobel)) arranjou para refazer a viajem à Alcarria). Instalou-se num dos novos hotéis da cidade e citou-me para duas longas conversas numa esplanada frente ao mar.

- que é que te deu, XXX para viajares até ao orte do leitão da Bairrada, último ponto da geografia portuguesa a que admites chegar?

- Olha, Heizie (um nome que alguns amigos de eras antiquíssimas me dão) vim até cá por causa da catedrática e agressora sexual que vocês cá tem. Vê que a terra das tripas está a entrar no século XXI!...

Devo dizer que fiquei ligeiramente indignado. XXX, veio inaugurar o contratado motorista  só ao cheiro do escândalo do momento. A Academia portuense está, segundo a imprensa, mergulhada na luxúria, que digo eu?, no deboche com uma catedrática a abusar indiferentemente de alunos e alunas, inquirindo-os/as sobre características anatómicas, enxovalhando-os/as com palavrões e insultos de cariz pornográfico a pontos de estar suspensa pela pudica faculdade  onde acomete vítimas dos dois sexos.

- Conheces a criatura?, perguntou-me de supetão, como se isso fosse coisa que se pergunta a quem está quase retirado do mundo, pelo menos do mundo académico que nunca frequentei.

Expliquei-lhe que nem sequer sei onde é agora o pardeiro da faculdade e que, a menos que a criatura lasciva, catedrática e feminina viva nas redondezas, me é impossível conhecê-la sequer de vista. 

- Heinzie, Heizie, desiludes-me profundamente. Esperava mais de ti. Vejo que agora te limitas a escrevinhar no blog sem intervir energicamente, como te competia, enquanto leitor de Sade & companhia , na grande questão do dia. Não te apercebes que esta criatura representa neste Portugal enfermiço um momento importante da igualdade de género. Finalmente uma mulher entra nesse circuito machista, ibérico e provinciano e vem, também ela, caçar mancebos e donzelas escolares e indefesos!!!

A conversa que depois correu longa, lenta, e amigável, andou por outros temas mesmo se XXX, volta e meia, olhasse para mim, apiedado. O que eu fui e já não sou, era o que lhe adivinhava, furioso por isto ser uma verdade nua e crua mesmo se vinda de alguém que carrega um igual número de anos, de experiências, de vidas vividas...

Estamos já como havemos de ir, velho amigo. Bem pode o Porto estar a debochar-se que nós já não damos conta de nada. E que déssemos, XXX, e que déssemos... quid júris? Como dizíamos em tempos juventude às voltas com a impossibilidade de se ir mais além dum olhar langoroso, de um beijo roubado que as famílias vigiavam as virgens que nos passavam ao alcance com mais ferocidade que um manada de búfalo, bichos maus e fortes  vigiam os leões que os  assediam de longe e prudentemente. 

O tempora, o mores!  

au bonheur des dames 583

d'oliveira, 21.04.23

Desaparecido sem combate

mcr, 21-4-23

 

Quando se previa mais uma batalha tremenda no parlamento, eis que se vem a saber que o “parecer” misterioso sobre a exoneração dos dirigentes da TAP afinal não era parecer. Era apenas o pitoresco relatório da Inspecção Geral de Finanças cuja qualidade é, pelo menos, discutível. 

Todavia, vários ministros interrogados antes referiram um “parecer” que parece que não o era. Digamos, tão piedosamente quanto  for possível, que parece que sobre pareceres os ministros sabem pouco ou confundem muito. 

Convenhamos que nada justificava a invisibilidade do “parecer” sobretudo se fundada no facto dele existir (ou não existir) for do âmbito temporal da discussão travada na Comissão de Inquérito.

É que alguém poderia vir dizer que tal discussão já tinha fronteiras temporais de tal modo alargadas que nela cabia tudo como num “cajón de sastre”...

Ouvi mesmo, numa televisão, que o “parecer” tinha sido apressadamente escrito já depois do despedimento com justa causa dos dirigentes da TAP. Afinal o parecer não aparecia pelo simples facto de nunca (???) ter existido. 

Passemos pois ao texto raquítico da I G P. Quem tiver tempo e pachorra que o consulte na internet  pois a mim basta-me aquela suposição do Inspector Geral sobre qual seria a disposição, a oculta vontade da senhor que recebeu a indemnização. A Sª Exª a coisa parecia que ela apenas quereria dizer (sem entretanto o verbalizar)  “despeçam-me que cá estou para receber o cacauzinho. Vai daí pediu 1,700.000 euros que ao fim de uma breve refrega baixou para os 500.000. com a anuência da tutela ou pelo menos do Ministério das Infra-Estruturas  (raio de nome!...) que considerava a TAP como a sua área privada de caça. 

Agora, sabe-se que foram os responsáveis deste surpreendente ministério que avalizaram o pagamento pelo que a ideia de não consultar o Ministério das Finanças parece quanto muito um descuido mas nunca uma desobediência qualificada. 

Lá se vai o despedimento com justa causa pelo cano. E lá se irão mais uns milhões à viola... 

Note-se que nenhum dos intervenientes nesta historieta me merece qualquer espécie de consideração ou simpatia mesmo se a finada equipa ministerial me suscite também forte repulsa. 

Portanto, para voltar à vaca fria, o parecer que não aparece não parece ser um parecer. Ponto final, parágrafo. 

Se alguém está confuso que lave os ouvidos. Nunca houve parecer mas tão só a sua invocação. 

Em vão!    

au bonheur des dames 582

d'oliveira, 20.04.23

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“Vote num e livre-se de dois” (parte IIª)

mcr, 20-4-23  

 

O título recorda um slogan das últimas eleições brasileiras que, embora inteligente e interessante, não deu ao candidato o primeiro lugar. Tratava-se, obviamente, de pedir o voto e lembrar que assim os eleitores e o Brasil se livravam de Bolsonaro e de Lula.  

Todavia, a crispação exaltadíssima deste confronto não permitiu que as pessoas pensassem (ou arriscassem) na bondade da solução. 

E Lula ganhou por um punhado de votos, obrigando milhões de brasileiros a fazer das tripas coração.

Eu não venho aqui dizer que os candidatos (estes dois) eram iguais mas tão somente que o Brasil merecia outra sorte. Não estou sequer a sugerir que a anterior prisão e Lula foi merecida mas apenas relembrar que no seu primeiro mandato houve o “mensalão” e que só a fidelidade de um grupo de personagens do seu círculo mais íntimo o salvou de um mais que merecido “impeachment”. Por muito menos a sua sucessora foi derrubada mas isso é outra história...

Bolsonaro, um pobre diabo, arrogante e pretensioso, que durante  um ror de anos vegetara na parlamento sem que dele se ouvisse algo de útil, ganhou a eleição seguinte porque o pobre do candidato do PT foi percebido como um mero pau mandado de Lula, na altura preso. De resto a campanha estava toda ela encaminha para um perdão imediato de Lula que, depois foi absolvido como se sabe. 

Nãoesqueço, também que Lula foi um corajoso e eficaz dirigente  sindical (coisa, de passo, aconteceu com menos brilho com Mauro o ditador da Venezuela criado na sombra do general golpista Chavez. 

Resumindo, foi a ojeriza generalizada a Bolsonado (o imbrochável!!!) que trouxe Lula de volta. Uma mais que heterogénea coligação de partidos, organizações e pessoas fê-lo voltar ao Palácio do Planalto. Os eleitores lá pensaram e bem que contra Bolsonaro valia tudo. A ver vamos, como dizia o cego. E chegamos finalmente ao motivo do folhetim: Lula virá a Portugal depois de um convite trapalhão que inclusive metia discurso na sessão solene do 25 A.  Outra trapalhada que doi resolvida trapalhonamente. Lula discursará pela manhã e a sessão far-se-á à tarde! Vai ser um dia comprido para deputados e as habituais criaturas que enchem a sala exibindo fartamente cravos vermelhos. 

Aqui para nós, não me interessa minimamente a comemoração que costuma ser de uma chateza absoluta e recheada de narizes de cera. 

Se o dia estiver, como se espera, bom, o povo irá para a praia se não tiver aproveitado para um ponte no Algarve. Um grupo de indomáveis descerá a Avenida e no dia seguinte voltar-se-á as preocupações do dia a dia. E esperar-se-á pelo 10 de junho... 

Entretanto, em Portugal, e seguramente noutras partes do mundo mais atentas, está em discussão as bizarras declarações do actual Presidente do Brasil.

Neste momento, é cada vez mais difícil perceber o que Lula disse sobre a guerra de agressão perpetrada pela Rússia contra a Ucrânia por um par de razões. Já disse e desdisse várias coisas (ainda ontem, voltou à carga desdizendo parte do que afirmara em Pequim). Resumidamente Lula declarou que há que reunir um grupo de países para tentar sentar russos (agressores) e ucranianos (agredidos) na mesma mesa.  Propõe, pelos vistos a China (que continua a manter uma atitude ambígua mas que jura eterna amizade com a Rússia) , a Indonésia (?), o Brasil e mais não sei quem. 

Mais disse: que “Zelensky não pode ter tudo” ou seja que deverá abrir mão da Crimeia (território da Ucrânia desde os tempos da URSS de Krutschev) não explicando se o Donbass e os oblasts de Kerson e Zaporigia também entram nessa cedência. 

Conviria lembrar que desde os inícios da ONU, a Ucrânia era, com a Bielorrusia um dos três países soviéticos com assento e direito de voto, o que presumia uma independência que só o era de fachada. 

Lembremos ainda que depois da Revolução de 1917 a mesma Ucrânia foi episodicamente independente e depois foi com outras nações  (desde a Geórgia até à Letónia e da Arménia até à Lituânia) incluída numa União de Repúblicas Socialistas Soviéticas que mais não era do que a extensão do Império czarista  sem os Romanof mas com Lenin, Stalin e assimilados. 

Ninguém pode obrigar Lula a saber isto mas de certeza que ele terá assessores que o poderão ilustrar. 

A segunda  afirmaçãoo de Lula é que não é a Rússia que agride mas os AEUA, a União Europeia e a NATO que prolongam a guerra. 

Não lhe terá passado pela cabecinha (ignorante ou mal formada?) que o Ocidente apenas e, até agora tem fornecido armas de defesa, a conta gotas, para evitar que a agressão bárbara  não progredisse. 

Convenhamos que na véspera de uma vinda à Europa, isto pareceria surpreendente ou (eventualmente) provocatório. 

Ou, tão só, uma clara tomada de posição que desfaz toda e qualquer ambição de fazer parte de um “grupo de países amigos” que tentariam pôr um fim a 14 meses de agressão.  

Entretanto, a “chancelaria” brasileira já por duas vezes votou na ONU moções conformes ao sentimento geral e claramente maioritário da Assembleia Geral. 

Dado o vertiginoso processo de sucessivas declarações ainda poderemos ter direito a mais opiniões de Lula.

Tenho as maiores dúvidas sobre o que o Governo português e o Presidente da República dirão ao Presidente brasileiro. Entre nós o Brasil ainda é uma comovida e parola lembrança do império  mesmo se os brasileiros não partilhem esse extremado amor. 

Poder-se-ia pensar que Portugal tem fortíssimos interesses económicos no Brasil mas nem isso. Falamos uma língua comum mas fortemente desigual a que um Acordo imbecil deu ainda maior repercussão. Temos um forte e simpática comunidade brasileira que aqui procura trabalho, vida serena e pacífica. Haverá no Brasil uma multidão de cidadãos que tem uma já longínqua origem portuguesa. Mas o Brasil (tirando aquele péssimo negocio da TAP) é cada vez menos (salvo a exploração do petróleo pela GALP) um alvo da economia portuguesa. 

Pelos vistos, Lula irá a Moscovo brevemente. Fará um desvio por Kiev? Interessará a Kiev tal desvio, dadas as declarações sobre a Crimeia e a prevenção de que Zelensly não deve ambicionar ter tudo, como se a Ucrânia tivesse ocupado uma parte importante do território russo?

Os russistas indígenas embandeiraram em arco com as declarações de Lula, e obviamente acham maravilhosa a solução da recepção na AR . Resta saber se, a exemplo do que aconteceu com o discurso gravado de Zelensky, haverá cadeiras vazias na sessão da manhã do dia 25? 

E se alguém terá a coragem, melhor dizendo, a dignidade, de explicar que, aqui ,e sem quaisquer dúvidas, há um agressor e um agredido, há uma clara acção contra as regras internacionais e contra tudo o que a ONU pretende defender e representar. 

*a vinheta: mulher grávida (que veio a morrer juntamente com a criança que estava para nascer) saída do hospital de Mariupol bombardeado pelos russos e que o Ministro dos negócios estrangeiros russos acusou de ser um quartel cheio de soldados mesmo tendo visto mais pacientes a serem retiradas...

O homenzinho conseguirá ver-se ao espelho?

 

 

estes dias que passam 797

d'oliveira, 19.04.23

A “conspiração” na versão de Raquel 

mcr, 18-4-23  

 

Há um ror de anos, numa das costumeiras querelas internas do MRPP, apareceu uma palavra de ordem condenatória de uma das facções que era mais ou menos assim: “agitar a bandeira vermelha para melhor combater a bandeira vermelha” e, se bem me lembro traduzia mais um enésimo combate entre a linha justa (a vermelha, claro) e a linha negra. 

esta versão pitoresca das desavenças ideológicas dentre do inenarrável partido de Arnaldo de Matos (o grande educador da classe operária)  veio-me à memória a propósito de uma declaração da srª professora Varela sobre o caso Boaventura. Pelos vistos, ainda que enviesadamente, esta senhora entende que nisto das denúncias à crua luz do dia tem origem numa campanha da Direita para desacreditar um cavalheiro que, pelos vistos, alguém considera um ícone da Esquerda! 

De nada valeu o facto das denunciantes serem tidas, pelos vistos, como mulheres e Esquerda, o mesmo sucedendo nos dois casos latino americanos, igualmente de cara descoberta que corroboraram a denúncia. 

É como facilmente se conclui um grupúsculo infiltrado de agentes do Chega ou algo do mesmo teor e substância que quer aniquilar a Esquerda nacional pondo nas páginas dos jornais (também de Direita ou servindo-a) a notícia de uma continuada predação sexual.

Eu percebo o embaraço de certas criaturas  ou como dizia uma jornalista do Público, a coisa teria sido mais fácil se ao Boaventura se cortasse a bondade e ficasse a triste criatura que chefia o Chega. 

Aí não haveria problemas jurídicos ou para-jurídicos. O pelourinho aí estria já com as cordas penduradas  e o povo à espera, babando-se.

Eu não recordo as opiniões que a dita senhora expendeu sobre o caso dos abusos na Igreja. Nessa ocasião não vi ninguém vir a terreiro falar na produção de prova, na presunção de inocência.

Não sou, nunca fui, um cruzado da instituição Igreja que deixei de frequenta vai para sessenta e vários anos. Todavia, mesmo tendo bem claro que a vox populi não andaria longe da verdade considerei que talvez valesse a pena uma maior verificação de factos, uma acareação e mais  clareza em muitas denúncias. 

De todo o modo, estou mais que convencido que houve predação de menores por gente que tinha sobre eles poderes e influência e que isso constituía a todos os títulos algo de grave. De muito grave. Não vi a Direita mobilizar-se especialmente para defender a instituição. Ao contrário da Esquerda que, e de certo modo, com razão fustigou asperamente os silêncios, as meias palavras a inércia posterior e certos bispos. Digamos que na Esquerda portuguesa, ou em certa e abundante Esquerda indígena, ainda se sentem palpitar um par e ardores anti-clericais herdados da 1ª República. Convenhamos que a Igreja portuguesa andou com o Estado Novo ao colo  e forneceu-lhe todas as bênçãos necessários ao mesmo tempo que aquietava os fieis e recomendava paciência, resignação e respeito pelas autoridades. 

Por tudo isto, mas sobretudo porque as teses do neo-liberalismo conspirador ou do esfarrapado racismo  não são senão argumentos ridículos que ainda por cima só prejudicam quem os usa. 

Quando uma intelectual como a Dr.` Raquel Varela se junta a este regimento exculpatório, começa-se a perceber que o assédio sexual só se pode imputar a criaturas de Direita. A Esquerda, ou aquela caricatura de Esquerda nunca faz coisas dessas. Ou se faz é com o claro consentimento das assediadas. Ou então elas são de Direita e estavam mesmo a pedi-las. Ou são burras como portões de quinta e não percebem que os toques no joelho ou mais acima são meras expressões de amizade e respeito...

Ou finalmente estamos de novo na batalha da linha negra contra a linha vermelha (como dizia Marx, "a história repet-se..."

 

 

estes dias que passam 796

d'oliveira, 17.04.23

Retrato do país que ressona

mcr,17-4-23

 

Há 54 anos, em Coimbra, teremos escrito  a última grande página da Resistência Estudantil  ao  Estado Novo.

E se falo em última página é porque a chamada Crise de 69 ultrapassou as mais loucas esperanças dos que nela participaram.

Em boa verdade, o Poder (Governo, Universidade e rspectivos agentes e sicofantas  que os havia em grande quantidade e variedade (convenhamos que nos anos 60 o país continua a padecer de informadores per bene ou pagos) fizeram tudo para a greve resultasse vitoriosae estrondosa.

Tudo poderia ter ficado limitado ao dia  não fora a estúpida prisão do Alberto Martins, as primeiras cacetadas da polícia, as proibições reitorais, um discurso provocador do ministro Hermano Saraiva que, pomposamente, exigia à estudantada que voltasse imediatamente às aulas.

A única medida inteligente das autoridades foi ter posto a polícia judiciária na primeira linha da investigação, deixando a pide escondida mais para trás (escondida mas não ociosa que aquela formiga branca continuou a recolher informações e a ajudar a pj). O balanço final daqueles dias de vinho e rosas não poderia ter sido melhor: A AAC manteve-se de pé, os estudantes mobilizados para Mafra regressaram a Coimbra, os processos disciplinares foram anulados, o reitor substituído e o ministro mandado pastar para outro lugar.

Deixemos porém esta recordação para outro momento e vejamos o que se passa, desta feita, nos domínios da ferrovia.

Há um cavalheiro de seu nome Carlos Fernandes que é actualmente o vice-presidente da Infra-estruturas de Portugal. No seu currículo tem o cargo de assessor do ministro Pedro Marques. Este pecado capital não perturba o senhor Fernandes que não obstante faz sobre aquele tempo e a ferrovia em geral afirmações surpreendentes.

Vejamos “o calendário proposto pela IP era de execução totalmente desajustada”; “houve imprudência grande  ao comunicar um calendário tão desajustado” (sic). “Alguns projectos já estavam quatro anos atrasados, não era possível fazer aquilo”

Actualmente o ferrovia 2020 só tem 18% das obras concluídas!

Mas isso não perturba o depoente mesmo afirmando que nem sequer ningúem se lembrara que para despesas superiores a 100.000 euros se necessitava da aprovação! contr das duas tutelas. Também ninguém notou que eram necessários estudos de impacto ambiental.  Muito menos se precaveram contra o tempo de demora das expropriações, da autorização para o corte de árvores protegidas (só isso pode demorar de 3 a 6 meses...).

Ou seja, para não fatigar algum estupefacto leitor: em 2016 o ministro Marques não fe mais do que baixa e falsa propaganda. Ou então nem bom senso tinha (já nem falo de inteligência pois a coisa era de tal modo grotesca que um rapazinho com a antiga 4ªa classe perceberia que aquilo era pura imaginação.

Uma pessoa pergunta-se  que tipo de assessor seria o sr Fernandes que ou não preveniu o Ministro ou se calou bem calado para não levantar ondas. Fez bem que o silêncio é de oito e sete anos depois está onde está.

Pelos vistos mesmo com os atrasos já conhecidos vai tudo correr bem . E vão cumprir-se os novos prazos. E não perderemos o dinheiro que como de costume vem de fora e com condições...

Portanto, sempre segundo ele, “não estamos muito atrasados no Ferrovia 2020” Por acaso até já se sabe que há obras que se não farão apesar ser afirmado que “temos 1200 milhões em obra (ferroviária) em Portugal. Não sei se alguma vez houve no país volume de obra tão elevado”

Eu também não sei mas percebe-se, sou apenas um cidadão intranquilo e chato. E velho! E farto de ver o dinheiro perder-se nas areias movediças. E numa CP ingovernável ou melhor governada por duas dezenas de sindicatos que passam a vida a parar e dar cabo da vida não dos poderosos mas da gente huilde que diariamente tem de ir trabalhar para longe, paga m passe quenão serve para nada e se levanta a desoras na vã tentativa de ser transportada como gado para abate.

* a referência à Coimbra da minha longínqua juventude  serve apenas para saudar os sobreviventes e sobretudo para os alertar para se manterem na medida do possível vigilantes. Aceito que estejam desiludidos mas aqueles tempos eram desesperantes. Agora passa-se o que passa mas pelo menos podemos denunciar a escandaleira. E pouco, claro mas é muito também. quem em 69 esperava ue cinco anos depois e no mesmo mês houvesse o 25 A?

 

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