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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 810

d'oliveira, 26.06.23

Em que ficamos? Em que não ficamos?

mcr, 26-6-23

 

 

O golpe de Estado que acabamos por não saber se o era ou se apenas se limitava a uma tentativa de destruir a actual cúpula militar russa, falhou. Ou não, pois numa Rússia opaca fica-se sem se saber se tinha cumplicidades no Exército, em certas facções civis, se tentava enfraquecer Putin, ou apenas robustecer a organização Wagner.

De concreto, e neste momento, prece estabelecido que Prigojin irá para a Bielorrúsia até poder ser convenientemente eliminado, que as unidades mercenárias regressaram às suas bases “conforme o plano estabelecido anteriormente” (o que também levanta um par de suposições  que naquele labirinto não são despiciendas).

Tudo isto não é grande novidade para quem se interesse por política internacional e vá acompanhando os trancos e solavancos de uma Rússia saudosa dos bons velhos tempos soviéticos  mesmo se Putin tenha alguma vez atacado as medidas de Lenin quanto ao papel das repúblicas socialistas incluídas na União. É verdade que isso pareceu, e apenas por breve período, o reconhecimento de um eventual direito à secessão, absolutamente repelido logo nos primeiros anos do poder bolchevique mas como várias outras falazes promessas e solenes declarações de princípio, desapareceu ainda em tempos de Lenin e definitivamente com Stalin..

De toda a parafernália  da política das nacionalidades quedou, mas já depois da 2ª guerra, na ONU e graças a uma inexplicável fraqueza dos Aliados, a existência de uma Ucrânia e uma Bielorússia com direito de voto a para da URSS que continuava para todos os efeitos a englobá-las.

Não há memória de alguma vez estas duas entidades terem votado diferentemente da URSS como se pode verificar. 

Do processo de implosão da URSS não é necessário falar, muito menos do falhanço da primeira tentativa de conservar um laço entre as repúblicas (e que já não considerava os três estados bálticos). Todavia, vale a pena recordar os solenes acordos entre a Federação Russa e a Ucrânia, o reconhecimento da segunda pela primeira, a renúncia (e devolução) às armas nucleares que detinha no seu território. É verdade que, por mera timidez (ou mesmo servilismo) de alguns dirigentes ucranianos, houve quase até à eleição de Zelensky uma espécie de colboração com a “mãe” Russia que entretanto até reconhecera Crimeia como território ucraniano.

Também se sabe perfeitamente que durante muito tempo não houve qualquer protesto significativo nos territórios “russófonos” (e Zelensky vem deles...). As coisas desandaram já com Putin e os seus anseios imperiais, as suas teorias exdruxulas e a continua pressão para forçar a Ucrânia a ser uma segunda Bielorrúsia completamente enfeudada a Moscovo (melhor apoiada por Moscovo contra uma fortíssima opinião pública que em centenas de manifestações, prisões a esmo, morte de dezenas de manifestantes, silenciamento de milhares de outros,  e dirigida por um estalinista que só se mantem no poder graças ao “grande irmão”

É Prigojin, curiosamente, que vem declarar que o conflito do Donbass foi inteiramente provocado por agentes de Putin, que a “guerra actual (enfim a operação especial) foi um erro colossal que nãõ há saída para Rússia que não passe por uma retirada e por aí fora.  

Sobre a ocupação da Crimeia houve por cá quem viessex argumentar que esta península estava “empapada de sangue russo” mesmo quando todas as evidências demonstram que as tropas do czar eram todas  (tirando alguma oficialagem) ucranianas isto é formadas por cossacos ucranianos, pois os russos propriamente ditos estavam  mil quilómetro de distancia da península que, aliás, era maioritariamente habitada por Tatars que já na época de Stalin foram deportados quase totalmente para a Sibéria e que, já na época da Ucrania independente iam regressando aos poucos ao território dos seus antepassados.  

Se todo o modo, a Crimeia está de facti empapada de sangue deste os primeiros habitantes aos exércitos russos que se bateram contra franceses e ingleses (guerra da Crimeia) aos súbditos de Sª Magestade Britânica que se meteram estupidamente na aventura da “carga da Brigada Ligeira”, aos  alemães que a invadirm ea todos untos em consequência da guerra dita patriótica ai pereceram (e numa grande maioria como se sabe ucranianos). Também e verdade que, seguindo uma velha tradiçãoo russa, as populações expulsas foram substituídas por emigrantes russos voluntários ou à força para lá deslocados sempre pelo previdente e nunca assaz chorado Stalin.

Todavia, ão era de história que pretedia falar mas apenas de uma opinião “russistas” até dizer basta que começa a germinar por cá e que uma comentarista assanhada reeolveu dar corpo.

Parece, dizem, que o golpe de Prigojin despertou a alegria da extrema direita internacional  e indígena. Ora, como é sabido, sobretudo no campo internacional, era Putin quem mais apoiava as forças radicais de Direita à semelhança, aliás, so que dez nos E U A apoiando de várias formas o sr Trump. 

É verdade que a invasão inopinada da Ucrânia arrefeceu bastante o entusiasmo dessa gentinha ao mesmo tempo que recordava os velhos tempos do comunista com a faca entre os dentes.  

Pelos vistos e que se saiba neste fim de semana apenas três ou quatro tiranetes vieram apoiar o presidente russo com especial relevância do pobre homem da Venezuela que saudou “el compañero Putin cercado da oficialagem repressora que o matem no poder. 

Nem os conservadores europeus nem sequer os de outras latitudes deram idêntico passo. À um porque como toda a gente, não sabiam exactamente até onde e porquê havia aquela cavalgada que parecia irresistível w que pelo caminho abateu meia dúzia de helicópteros militares e ocupou sem efusão de sangue três importantes cidades, a começar por Rostock sede do quartel general russo.

Viu-se, também, mas a pobre senhora não deve ter reparado, que a marcha golpista era apoiada por muitos civis e não repelida por quaisquer forças militares. Eram russos os entusiastas de Prigojin que na rua o aplaudiam e festejavam. Desconheço se ficaram desiludidos ou pesarosos com o volte-face repentino “para evitar o banho de sangue” que até ao momento não ocorrera apesar de no caminho estarem estacionadas várias unidades militares! 

Os governos ocidentais mantiveram um silêncio de oiro e resorreram ao velho chavão de “estarem atentos e a monitorizar” Do resto da Rússia nem um pio ou melhor  uma proclamação tremenda de Putin feita pela televisão que parece não ter impressionado demasiadamente os cidadãos pasmados

E um telefonema do fidelíssimo lacaio Lulashenko que terá convencido o chefe do movimento a dar meia volta.

Compreende-se o silêncio do Ocidente. Ninguém de bom senso garantia que, caído Putin, lhe sucedesse alguém com mais bom senso e capaz de parar uma guerra desastrada. Pelo contrário, e a história russa é fértil em exemplos, poderia ( e pode) acontecer que o Kremlin encontrasse outro autocrata ainda pior e com vontade de premir o botão nuclear. 

Também é verdade que se desconhece o verdadeiro estado da opinião pública pois a censura a quaisquer meios de informação é de fato total (e tradicional desde os saudosos tempos da URSS ou mesmo de antes).

A própria administração ucraniana  foi prudente e comedida na exploração do acontecimento. Não embandeirou em arco, não previu amanhãs cantantes pelo menos no imediato, limitando-se a constatar uma evidência: há indícios que nem toda a tropa fandanga de oligarcas (os que ainda estão vivos) verá com benevolência o que se passa na frente e, muito menos, o facto das fronteiras lhe estarem fechadas e os bens no estrangeiro arrolados.

Também se desconhece o estado de espírito da nomenclatura militar para já não falar do moral das trpas que estão na frente e que provavelmente já terão percebido que aquilo não eram favas contadas que a operação especial dura há demasiado tempo, com custos elevadíssimos e uma perda medonha de vidas humanas.

Tudo visto, não houve por cá, nem nos países cujos noticiários sigo atentamente, manifestações de alegria mesmo se qualquer pessoa decente olhe sem tristeza de qualquer espécie esta aventura que, insisto, ainda não terminou. 

Até ao momento, Putin está entrincheirado no Kremlin, os generais continuam nos seus postos, Prigojin goza(rá) as férias possíveis em Minsk e provavelmente rodear-se-á de um exército de guarda costas que lhe evitem acidentes sempre estranhos e sobretudo fatais. 

E os russistas indígenas devem estar a tentar recupera-se do abalo e prontos para festejar mais uns milhares de mortos se possível ucranianos  

 

*um leitor que deve ser tõ zanaga como eu e o Mr Magoo pede letra maior.Está bem assim ou é preciso mais?

estes dias que passam 809

d'oliveira, 25.06.23

“Zangam-se as comadres...

mcr, 25-6-23

 

“...e aparecem as verdades”. O provérbio, Julgo.  é português,  mas pode ter curso legal  na Rússia. 

Um gangster que circulou sempre na órbita do Kremlin e de Putin, entendeu ser altura de passar das rosnadelas cada vez mais ameaçadoras aos actos. E ensaiou uma marcha sobre Moscovo que num só dia percorreu mais de 200 quilómetros sem que se percebesse qualquer sinal de resistência militar. Pior, s apenas pelas imgrns transmitidas pla televisão parece ter havido alguma adesão popular .

Que a cidade quartel general da “operação especial” tivesse sido controlada  pelas tropas mercenárias d Wagner e que dí sem dificuldades tivessem seguido estrada fora até Voronej e depois até Lipetsk a uns meros duzentos quilómetros de Moscovo sem que se verificassem movimentos contra-ofensivos do Exército russo, ou das autoridades militarizadas governamentais parece dizer muito do estado a que chegou a Rússia putinista.

Lembremos ainda que foi um estranjeiro (na verdade um fantoche de Putin) o abominável  Lukashenko, presidente da Bielorrússia que pouco mais é do que um protectorado de Moscovo, quem persuadiu o revoltoso a parar e a fazer meia volta “segundo os planos” (sic).

Agora, o chefe do bando wagneriano veio dizer que quis “evitar um banho de sangue” (!!!). que garantias obteve para suspender uma operação que corria mais de que feição para os seus mercenários?

Entretanto, Prigogine, para azar dos nossos “russistas”, veio dizer que a invasão daUcrânoa foi uma burrice gigantesca,  que a Ucrânis não ameaçava a Rússia e que toda a operaçãoo militar que vai quase em ano e meio é um desastre medonho e vai acabar mal (assim seja, ámen). O “cozinheiro” de Putin veio também afirmar que este último tinha disso ludibriado pela clique que o cerca, pelos generais, pelo Ministro da Defesa e pelo Chefe de Estado Maior general do Exército. Abstenho-me de citar os remoques que o homem dirigiu a estes últimos e que ultrapassam em muito o que agora se considera homofobia. 

Dirá algum leitor menos convencido que Prigogine fala, fala e diz coisas quase inverificáveis. Será verdade mas se os russos tiveram alguns limoitados êxitos na frente leste (Bakmut foi o último, custou à Wagner 20.000 baixas ((é a organização que o diz) e pelos vistos, desde que os mercenários saíram há lentos mas visíveis avenços ucranianos que se traduzem especialmente num cerco ainda incompleto das ruinas da cidade, 

Tudo isto, excepto esta espécie (esperemo-lo...) de “golpe das Caldas” ao som de balalaika estava desde há muito a ser dito, redito, repetido por uma gigantesca maioria de comentadores internacionais. A Rússia, até ao momento, não atingiu nenhum dos objectivos que se tinha proposto mesmo se ocupou um corredor até à Crimeia, se tem absoluta superioridade aérea e se pode ainda bombardear extensas regiões ucranianas a partir do mar negro (mas com os seus navios a prudente distância) e do ´Cáspio  onde bombardeiros enviam os seus mísseis. 

Mais, a Rússia averbou fortes derrotas no terreno, sobretudo a norte de Kiev, em Karkov ou em Kerson. 

É verdade que se desconhece o número total de baixas russas (cosa que também se pode dizer da Ucrânia que, de todo o modo é quatro vezes menos populosa mas onde os habitantes sabem porque razão se batem.

Estão na memória de todos as imensas bichas de homens jovens en fuga para a Arménia, a Geórgia a Finlândia ou para os países  asiáticos vizinhos e ex-soviéticos. E cada vez mais renitentes e eventualmente distantes do Kremlin.  

É claro que há que esperar que a poeira assente para perceber quais os resultados práticos do que ocorreu, em que medida o poder de Putin e comparsas sofreu um revés, se isso irá impressionar um país onde a censura doe meios de informação atinge as raias do inacreditável. 

Claro que nada disto comoverá os “nossos” russistas que mantém Staline presente nos seus corações e ia inabalável fé no horizonte que será vermelho. Nada os demove mesmo se, a todo o momento, guincham, cá, contra o capital. Mas não vão para A Rússia como aliás ninguém vai quando foge das guerras civis, dos desastres da seca e da fome, dos genocídios, Ninguém se lembra de ir para o paraíso dos trabalhadores ou o que dele resta. 

A televisãoo entretanto anuncia que foram retiradas as acusações contra Prigojine. Claro que é mais do provável que alguém, entre os inumeráveis serviços secretos russos, lhe esteja a fazer a cama. São tantos os suicidados entre a oligarquia russa que até seria  de mau gosto e ingenuidade demasiada não prever um desfecho “humanitário” para este fautor de discórdia e dirigente de uma rebelião que quase triunfante volta para trás.

estes dias que passam 808

d'oliveira, 23.06.23

Reflexões avulsas sobre aquela espécie de submarino

mcr, 23-6-23

 

o título diz exactamente o que quero. Este assunto não tem especial relevância malgrado a atenção que as televisões lhe dedicaram. 

Em primeiro lugar, o “submarino” era uma coisa em forma de assim (obrigado O’Neil) que não possuía qualquer certificação nacional ou internacional.

É verdade que fez umas dezenas de viagens mas era voz corrente e (no caso) autorizada que aquilo era um protótipo amador que levantava sérias dúvidas aos peritos mais distraídos que, aliás, inúmeras vezes avisaram que “aquilo ia dar raia”. 

Em segundo lugar mesmo que a ideia inicial para a utilização fosse vagamente científica depressa a empresa percebeu que ir dar uma voltinha aos destroços do Titanic  é que valia a pena.

Eu nunca percebi a curiosidade mórbida em visitar um barco naufragado, sobretudo aquele que navegou poucos dias para se perder contra um iceberg e ceifar umas centenas de vidas de que se recordam os hóspedes de primeira classe. É verdade que houve um filme  que só com boa vontade sai da categoria de medíocre mas que arrebatou prémios e alcançou grandes plateias internacionais. Mais vaçe cair em graça que ser engraçado, é tudo o que concluo do arrebatamento das multidões cinefilas ou nem isso que se boquiabertaram perante uma historieta de amor `moda antiga. 

Parece, além do mais, que a empresa proprietária do pseudo submarino era também a empresa que detinha (???) os direitos pela exploraçãoo dos restos que estão a bom recato a cerca de 4000 metros de rofundidade.

Também não é novidade que a tal profundidade as coisas podem correr mal, muito mal ou pessimamente A simples pressão é de tal modo forte que praticamente não há naves tripuladas que se arrisquem a tal mergulho. 

Que três milionários e mais dois também ricos entendam que aquilo é uma aventura é lá com eles. Que não tivessem o discernimento de fzer um julgamento adequado dos riscos, sobretudo naquela espécie de caixa de fósforos usada, brada aos céus e faz-nos duvidar do bom senso mais ainda da inteligência dos turistas.

Será que as fortunas gigantescas que estas criaturas detinham lhes deu a volta à mioleira  e não foram capazes de fazer uma breve análise dos riscos que corriam pelo pífio privilégio de viajar mal sentados para durante uns breves momentos ver parte da coberta do barco destruído?

E pagaram, diz-se,  200.000 dólares pelo mergulho! De todo o modo o dinheiro era deles mesmo se a coisa se pareça arrepiantemente como um capricho de ocioso rico e pouco sagaz. 

Já o carnaval à volta do acontecimento me pareceu demasiadamente ruidoso, quase uma não notícia ou uma notícia de páginas interiores de jornal de sensação. 

Que quatro ou cinco países tenham destacado meios imensos para encontrar o submersível em perda, faz-me perguntar se é para isso que os contribuintes pagam impostos. Ou então, e a hipótese parece-me mais interessante, os familiares dos estouvados submarinistas  ofereceram fortunas para o resgate dos entes queridos.

Tudo isto dito, também convém não esquecer as alminhas piedosas que entenderam vir trazer para o mesmo plano as mortes diárias no Mediterrâneo sobretudo o naufrágio do ultimo barco negreiro que transportariam 500, 600, 700 ou mais pobres desgraçados fugidos de tudo e, atenção!, que pagaram somas importantes (e para eles enormes) por uma boleia para a Europa. 

É bom lembrar que estas viagens em autênticos caixões flutuantes não são apenas no Mediterrâneo mas também em pleno Atlântico com a intenção de atingir as ilhas Canárias. Hoje, essa via está menos frequentada mas não se passa mês sem que se saiba de uma viagem bem sucedida graças às autoridades espanholas e várias de que apenas restam ecos, notícias vagas e a garantis de mortos e desaparecidos.

As boas almas vieram em polvorosa acusar o Ocidente (claro quem mais havia de ser?) deser pai para quatro milionários e padrasto para os que fogem da fome, das guerras dos genocídio, do horror.

É verdade que o malfadado e mal baptizado “titan” mereceu uma atenção inusitada  mesmo se, como aliás é sabido, as tentativas de travessia do Mediterrâneo (e também do canal da Mancha) também ainda tnham chamadas de primeira página. De todo o modo, o carácter já quase habitual das tentativas de travessia em barcos podres mas caríssimos, tornou quase banal as mortes, os desastres, o estado em que se encontram os sobreviventes para já não mencionar o mau acolhimento de muitas dessas embarcações. 

Deve. Porém, observar-se que condenar a Grécia ou a Itália pelas dificuldades de acolhimento sem muitas vezes lembrar que há toda uma série de países que não recebem um único fugitivo (Polónia, Hungria, Eslováquia etre outro, para já não fala na Rússia ou na Bielorrússia, se bem que neste último caso houve uma infame tentativa de forçar a passagem de emigrantes pela fronteira polaca. Tai emigrantes foram atraídos para isso mesmo pelos dirigentes bielorrussos com finalidades que nada tinham de humanitário como se sabe. Ignora-se o que lhes terá acontecido mas duvida-se que tenham sido fraternamente acolhidos. De resto fraternidade é coisa que esse protectorado de Putin não gasta .)

É verdade que a Europa envelhece e que sangue novo é preciso por todos os motivos desde mão de obra até rejuvenescimento da população. Também é verdade que, sobretudo a Europa ocidental  tem uma tradição já secular de apoio a quem a procura- Entre outras razões porque teve impérios coloniais. Todavia, sem ir muito longe, não vejo outras potências mundiais receber sequer um décimo dos se veem na necessidade de procurar apressadamente outro país. Ou então são os emigrantes que não querem ir para a China ou para a Rússia. Ou para um largo leque de países muçulmanos do Médio Oriente que até os palestinianos encara com maus olhos.  Ou, outra hipótese, desta feita à luz do materialismo dialectico,  a pulsão capitalista dos desenraizados à força, impede-os de preferir as excelências do novo mundo novo e socialista... 

Não vale a pena realçar aqui que, por exemplo, Portugal o tal país do racismo estrutural e hediondo, acolhe todos os que do antigo império  o procuram. 

Voltemos, todavia, ao naufrágio do mal denominado “Titan” que não honra a antiga fama desses seres míticos e gregos.  Será que a empresa do semi-submarino tem sede em algum país sério? Será que mesmo tendo perdido o seu presidente, alguém a irá demandar pela falha absoluta e previsível (de acordo com as notícias) daquela expedição? Quem ressarcirá os países que intervieram na tentativa de salvamento que mobilizou meios caríssimos? A empresa detentora do “Titan” poderá continuar a existir e a publicitar os seus serviços (aliás fúnebres)? 

estes dias que passam 807

d'oliveira, 20.06.23

Em política, o que parece, é!

mcr, 20-6-23

 

Só fui uma vez a Budapest e por razões bem claras: mostrar a minha solidariedade com um par  de amigos dos tempos da Faculdade Internacional para o Ensino do Direito Comparado.

Eram tempos de recém conquistada liberdade (nossa) e da não liberdade deles enquanto povo e país

Convenhamos que quase todos tinham uma violenta aversão ao regime imposto pelos tanques soviéticos que, em 56, esmagaram a primeira tentativa, aliás tímida, de libertação da pesadíssima tutela fraterna do URSS. A coisa correu mal e dezoito anos antes da Checoslováquia  ou três depois do 17 de Junho berlinense, os húngaros pagaram caro a ousadia de se pensarem independentes.

Dessa minha viagem ao chamado bloco de leste recordo o entusiasmo dos filhos do grupo de amigos que me acolheu e recebeu umas largas dezenas de cassetes de música  pop, rock, soul e similares que eu cuidadosamente gravara. À cautela ia no lote um leitor de cassetes que foi recebido com idêntico entusiasmo embora por lá houvesse aparelhos semelhantes. “Este cheira esabe a liberdade disse-me uma mãe de três adolescentes do grupo. 

Nunca mais voltei lá, perdi a pista a esses amigos e colegas que se foram vivos andarão todos pela mesma provecta idade que tenho.

Agora, a Hungria é o patinho feio da União Europeia mas isso, espero-o bem, passará.

Que o dr. Costa que não terá nas suas memórias um par de amigos antigos  e resistentes húngaros, entenda parar em Budpeste para ver a futebolaça, pareceu-me surpreendente tanto mais que se fazia transportar num avião do Estado para uma reunião essa sim importante na Moldávia.

Pela confusa e tardia explicação ele só se sentou ao lado de Orban porque convidado pela UEFA não podia recusar tal lugar nem tal proximidade.

Eu desconheço as regras da UEFA, não percebo porque é que um membro de um país terceiro seria convidado para ver um jogo de equipas estrangeiras que disputavam uma taça onde por junto havia um treinador português!

Não vi nenhum presidente dos dois países a que pertenciam as duas equipas finalistas. Ou não foram convidados, ou não quiseram encontrar Orban fora dos sítios onde obrigatoriamente se tem de cruzar com ele.

A isto soma-se a explicação do Presidente da República que, uma vez sem exemplo, ignorante do alcance do Falcon se saiu com a necessidade de escala técnica. Claro que a escala poderia ser para o dr. Costa dar uma mijinha que isto de um xixi em peno voo tem muito que se lhe diga.

A menos que o astuto Presidente quisesse mais uma vez atirar par o ar e para a discussão pública uma teoria sem pés nem cabeça, estilo poda de ramos mortos que nunca por nunca se referiam ao cadaveroso Galamba.

Dou de barato a ausência de costa (e do Governo, e do Presidente)na homenagem aos mortos do fogo de Pedrogão. Não teráo sido convidados, dizem-me e portanto aproveitaram o dia para outras e mais salutares ou desportivas ocupações.

É com eles. Seguramente os mortos que estão cuidadosamente enterrados não ficaram ofendidos, é provável que os vivos também não tanto mais que agora, à pressa surge a hipótese, desta feita sim”, de uma verdadeira homenagem.

Por mim, tal homenagem consistiria em acabar de reconstruir o que ainda falta e, já agora, de fazer tudo para evitara outra tragédia idêntica.

Ou como dizia o senhor Marquês de Pombal que o Demo tenha em seu santo seio, “enterrar os mortos e cuidar dos vivos!” 

E não ir a jogos de futebol que nada nos dizem para não ter de encontrar quem também nada nos diz...

estes dias que passam 806

d'oliveira, 18.06.23

Aventuras  e desventuras do “racismo”

mcr, 18-6-23

 

 

No passado dia 10, o dr. António Costa, primeiro ministro, todo poderoso dirigente do PS, foi apupado por uma ou duas dúzias de manifestantes alguns dos quais empunhavam uns cartazes em que o visado aparecia com um nariz de porco, lábios engrossados enfim algo que, para além da exígua imaginação era mal feito e fraquinho como caricatura.

N\ao vou sequer dar-me ao trabalho, aliás penoso, de tentar perceber se aquilo era ou não racista. Pata efeitos do que a seguir quero dizer vamos aceitar que aquele medíocre (e estou a ser generoso!...) cartaz era racista.

Comecemos, então, pelo princípio como declarava um professor da gloriosa universidade que me coube frequentar:

É Portugal um país racista? 

A resposta depende de que percentagem de habitantes levamos em linha de conta. Se bastam 10 ou20%, não tenho quaisquer dúvidas: o país é, como todos os restantes do mundo (seja a Suécia, a Mongólia ou o Uruguai), racista. 

Não conheço nenhum país que não tenha uma boa s dose da sua população  eivada de preconceitos racistas, xenófobos, religiosos e morais. Ponto final, parágrafo.

Isto dito, convém perguntar se devemos pactuar com esse estado de coisas com essa mentalidade. 

A resposta também é fácil: Não!. Não, nunca, jamais, em tempo algum!

Como , de resto (e não se diga que junto dois exemplos díspares –em importância e significado- porque foram tão só os primeiros a acudir-me ao pensamento), se não deve pactuar com centenas de outras práticas seja a excisão do clítoris (tão comum em África, em toda a África...) ou o hábito de cuspir para o chão. Ou centenas de outros hábitos, modos de ver e de pensar. O “homem” é um ser que com dificuldade e lentidão lá vai tentando, quantas vezes às cegas, sair da sua pré-história.

Amigos meus, negros e exilados, em países socialistas onde tinham bolsas de estudo, contaram-me do acismo quotidiano de que eram alvo na sociedade russa e soviética. Amigos brancos que lutaram pela independência das ex-colónias contaram-me, tristes mas teimosos, das dificuldades do dia a dia em Luanda pi Maputo, onde continuaram a viver. Um colega natural do sul da Índia mas goês, pelo nascimento recriminava gente de Deli pelo desprezo que votavam aos seus compatriotas mais escuros, muito mais escuros. E por aí fora, nos EUA ou no Brasil, em Cuba ou no Japão. 

Em todos estes casos, era a cor da pele o principal identificador doa desconfiança, do menosprezo, do receio com qie açguém era encarado. 

Portanto, e para abreviar: Portugal não escapa à regra geral. Há e continuará a haver  uma percentagem de cidadãos racistas, por toda uma série de razões, desde o medo até às mais absurdas teorias raiais.

Acresce que, durante século e meio, (1850-1975), Portugal  manteve guerras abertas ou camufladas em todos os seus territórios coloniais desde a Guiné até Timor. Ao contrário do que por aí corre, a vida nas colónias nunca foi pacífica como aliás o demonstram as “campanhas de pacificação” que terminaram vagamente nos anos 30 d0 século passado para trinta anos depois a guerra de libertação se reacender em três frentes já a Índia tinha desaparecido.

Essas guerras de África mobilizaram entre 1960 e 1974, um bom milhão de jovens portugueses que tinham pais, mães, irmãos, noivas, primos e amigos o que dará uns largos milhões de afectados directa ou indirectamente. 

É verdade que as baixas de portugueses nascidos em Portugal foram relativamente exíguas, quanto mais não seja porque cedo a guerra se “africanizou”.

Todavia, o capital de medo, de angústia, de cuidados, de boatos e de “fake news”, de lutos, de regressos de soldados com sequelas de todo o tipo, marcou e marca ainda duradouramente a sociedade portuguesa e o país. 

Não que se chore demasiadamente o fim do império mesmo se haja eventualmente quase um milhão de “retornados. Que não se refugiaram em Portugal sem azedume, queixas várias, algumas legítimas sobretudo as que foram feitas contra tropa portuguesa que, repentinamente deixou de os proteger ao mesmo tempo que certos poderes transitórios portugueses permitiam que populações africanas se armassem (mutas vezes com armas portuguesas...) e levassem a cabo expedições punitivas contra os colonos recentes ou antigos. Houve fugitivos angolanos brancos, mulatos e negros que deveram a sua salvação a dissidentes armados do MPLA (caso de Daniel Chipenda) ou, raramente de outro movimentos independentistas. 

É verdade que, ao contrário dos pied noir frnceses, os retornados foram absorvidos com relativa facilidade e inusitada rapidez pelo país profundo. Porém o impacto da vinda, em estado de miséria, desta forte percentagem da população não deixou de marcar com fundas cicatrizes, o pensamento colectivo.

Só isso bastaria para manter viva a fogueira racista.

Depois, sobretudo na região de Lisboa, concentraram-se algumas dezenas (no mínimo!) de milhares de imigrantes africanos vindos das ex-colónias e de outras zonas de África. Como a imensa maioria desses novos habitantes tinha escassa escolaridade e nenhuma preparação profissional destinaram-se-lhe os piores e mais mal pagos empregos. Isso amontoou-os em ghettos insalubres, nas periferias mais pobres e mais longe dos escassos benefícios da vida citadina. Digamos que, em muitos casos, perpetuou a pobreza, a ignorância, inclusive um fraco conhecimento da língua. Também não é de estranhar que daí saiam, ou possam sair, focos de pequena criminalidade mesmo se, neste domínio, pareça estar minimamente controlada. 

Com a nova imigração proveniente da Ásia (Índia, Nepal, Paquistão – e já se contam por milhares os recém chehados) o panorama não melhorou, bm pelo contrário, tanto mais que esses novos residentes não sabem uma palavra de português, são presa fácil de traficantes, de empregadores sem escrúpulos para já não falar da estranheza que despertam na população residente  que, inclusive, os acusa de roubar empregos, de fomentar o aumento do preço da habitação e de tornar inseguras as ruas. 

Ser anti-racista deveria obrigar todos os que assim se declaram a perceber onde, como e porquê, se declaram os abcessos infames e perigosos da descriminação racial.

É fácil andar por í a berrar o quão racista o país é sem por outro lado cuidar de perceber como é que isso é possível.

Conviria lembrar que, neste país racista há um primeiro ministro “monhé”, indiano, “preto” eleito com uma tremenda maioria absoluta  que já teve no seu governo uma ministra negra retinta, inda por cima proveniente de uma das mais famosas famílias independentistas de Angola. Poderia juntar-lhes algumas personalidades, desde deputados até membros da Academia e profissionais de grande qualidade e prestígio vindos todos das minorais raciais, mormente da adro-descendente.

Não meto no pacote, artistas e desportistas não porque os desconsidere mas apenas porque desde sempre cá estiveram e em muitos casos foram respeitados. Não é necessário invocar o extraordinário Eusébio cuja ida para o Panteão não sofreu qualquer beliscadura. 

Numa sociedade predominantemente branca, ser negro dá nas vistas. Numa sociedade predominantemente católica, se muçulmano ou hindu, chama a atenção como, em tempos, ocorreu com protestantes ou evangélicos.

Não sei (e também não me preocupa demasiadamente) se consegui com este texto tentar não um branqueamento mas um princípio de explicação para uma realidade que, repito, é absolutamente detestável  mas que irá exigir um longo, duro, difícil caminho de erradicação.

A começar por limitar exageros condenatórios que de tão evidentes desmobilizam muita gente. 

Portugal é um pais razoavelmente normal, razoavelmente seguro, razoavelmente decente e bem menos xenófobo de que muitos, muitíssimos, outros. Lembraria certos casos de países centro e sul americanos onde jamais se vê um negro, sequer um mulato, com funções dirigentes mesmo se tais países tenham minorias raciais gigantescas. Melhor dizendo, mesmo se nesses países os brancos sejam minoritários face a descendentes de africanos e de povos indígenas...  (será preciso mencionar Cuba ou a Venezuela, ou mesmo o México?) 

E nem sequer vou levantar a questão de certas perseguições de minorias africanas em África. Basta lembrar o estatuto (não oficial) dos negros albinos que um preconceito horrendo marca para perseguir ou até matar ou as guerras intestinas que desde há muito dilaceram países que, dentro de fronteiras saídas de Berlin, enfrentam povos e etnias quase ao ponto de criar condições muito próximas de genocídio.

Isto, esta peçonha racial mascarada muitas vezes com rivalidades étnicas, linguísticas ou religiosas, está vivo e recomenda-se numa África que cinquenta anos depois das independências assiste a dramas inomináveis. 

Não basta pois denunciar, de dedinho espetado, algum racismo  avulso mesmo se evidente. Uma epidemia vence-se encontrando os medicamentos, as vacinas necessários para sufocar de vez o mal.  E isso vai demorar mais umas largas dezenas (sou um optimista) de anos.

 

 

estes dias que passam 805

d'oliveira, 14.06.23

A caricatura

mcr, 14-6-23

 

Ainda me  hão de mostrar uma caricatura digna desse nome que não desfeie o caricaturado que não carregue a traço grosso as características menos simpáticas do rosto em causa.

Causou, pelos vistos, grosso escândalo, o poster com Costa. A maioria sublinhou o nariz de porco mas na verdade, subjacente estava o desenho “negroide” dos lábios. 

Não apreciei a caricatura mas por desajeitada do que por “racializada” mesmo se isso é evidente. Muito menos apreciei a defesa esparvoada do autor alegando que “aquilo” era arte. Não é. Nem sequer arte povera, menos ainda arte indigente. Aquilo é um mau desenho de um senhor professor que parece ser “próximo” do pc, coisa que, de resto, também me não admira especialmente.

O que sobressai é que esse poster brandido por uma dúzia de pessoas, alegadamente professores não sindicalizados mas igualmente indignados, frustrados nas suas espectativas (de resto legítimas e legais) insere-se num debate político evidente em que Costa como os professores, ou como a pobre criatura que tem a pasta da Educação, estão numa trincheira sem saída nem futuro. 

Costa, por várias vezes pisou o risco. A palavra  “habituem-se” quando se referiu a esta maioria absoluta que  existe só significa que o regime está parado numa encruzilhada de teimosias, casos, escândalos e guerra aberta causada por outro vago ministro que está moribundo ou mesmo putrefacto à espera de certidão de óbito urgente. 

Costa não só não é meigo no debate político mas tem o especial condão de “chutar para canto” quando o tema não lhe agrada. Há quem chame a isso habilidade política mas eu tomo a coisa pelo lado da indelicadeza e sobretudo pelo da fuga ao debate. Quando se é 1º Ministro,  e por isso se tem desde logo as chaves do debate na mão, este tipo de subterfúgios, de meia discussão e de desqualificação do argumentário do opositor abre-se o caminho para guerrilha  onde pelos vistos tudo é permitido. 

As negociações com os professores tem mais de um ano de curso e, como se vê, não se avançou um passo.  Pior: espera-nos um futuro ainda mais desagradável na medida em que este ano irão reformar-se cerca de quatro mil professores para os quais não se vislumbra uma multidão de substitutos, se é que tal multidão ou parte dela ou apenas meia dúzia de ingénuos existe. 

A verdade é que estes professores que saem quase semanalmente para arua trabalhou os tais sesis anos seis meses e não sei quantos dias. que pagou o  que tinha de pagar em sede de impostos por isso; que vem as TAPs, a Banca e mais um par de outras aberrações político financeiras engolirem centenas ou milhares de milhões. 

É claro que as famílias endinheiradas já andam a retirar as suas criancinhas da escola pública pondo-as no recato do ensino caro, caríssimo e particular, que aliás ocupa todos os primeiros lugares das classificações das escolas.

Não quero com isto dizer que não haja, aqui e ali (aparent rari nantes in gurgite vasto, Eneida, 1-118) exemplos de escolas que graças a professores dedicados, direcção experiente  e boa organização, não tenham indicadores quase miraculosos. Mas são uma excepção e com o avanço da idade da classe docente podem rapidamente desaparecer do quadro de honra (público e não o geral).

Não vou aqui  sequer referir alguns vícios tremendos do eduquês (vírus que grassa nos corredores do Ministério da Educação ) nem da bizarra estrutura das matérias leccionadas que alegadamente visaria preparar cidadãos como antigamente a divisão de orações gramaticais praticada no cadáver exangue dos Lusíadas nunca produziu um camoniano, um amafor da poesia magnífica do autor, das suas canções e de tudo o resto. Dessa pungente experiência de que fui vítima (mesmo se no exame do 5º amo liceal tenha dispensado da oral da secção de letras) guardo as piores recordações não tanto por mim mas pela infame utilização do poema.

Não vou defender  os antigos programas mas apenas fazer notar que os actuais são rasteiros e não mobilizam as inteligências juvenis. Chego a pensar que a horda do eduqês não tem filhos nem nunca viu uma criança.

Valho-me do que sei dos programas de outros países europeus onde nem toda a modernice é modernidade ou algo que se lhe assemelhe e se sai do ensino secundário com algum razoável conhecimento do mundo e das coisas.  

Voltando, porém à vaca fria (e isto é uma expressão portuguesíssima e nada mais do que isso, muito menos uma tentativa de caricaturar o que quer que seja) o alvoroço dos posters do Peso da Régua, as indignações que mereceu, as aflições dos sindicatos, as patacoadas do piedoso coro dos indignados do costume, esconde uma questão simples e clara: nada vai bem na Educação

Há professores de casa às costas que ganham metade do que pago à senhora que me trata da casa. Há, genericamente, um crescente desprezo pela classe docente, há cada vez menos candidatos a tal carreira. Não se percebe como é que um profissional razoavrlmente competente chega quase ao final da carreira e não tem a categoria ou pelo menos o salário que a lei estipula. Ou seja, não se percebem os malabarismos que o Poder faz com a progressão de carreiras, se é que não há uma vontade implícita de frustrar os professores e de lhes tirar de modo sofisticado um direito.

E quando um ministro ou aquilo que por lá faz essas vezes afirmar que já se resolveu o problema de 10, 20 ou 30% dos trabalhadores precários, a vontade do comentar é de lhe esfregar na cara (reparem que não disse focinho, ventas ou outra expressão do estilo) essa estúpida asserção. Pôr fim à precariedade é um dever urgente, absoluto e não e compadece com patacoadas de qualquer espécie.

A democracia, palavra com que certa gentinha enche a boca mas nunca o coração e menos ainda o cérebro, pede, exige, mais e melhor. A começar exige inteligência, depois compreensão do país e do mundo, finalmente antevisão das consequências da inação ou da acção incompleta.

Mas isso é pedir de mais.

E, por favor, senhor “artista” pouco inspirado: Deixe o porco em paz que á animal de que se aproveita tudo!

E dedique-se a outra arte se sequer percebe o que quer dizer a palavra. 

 

 

estes dias que passam 804

d'oliveira, 11.06.23

Os pontos nos iis

mcr 10/11-6-23

 

A semana que passou teve três momentos não sei se altos mas seguramente surpreendentes (ainda que haja muito boa gente que entenda o adjectivo “surpreendente” mal ajustado à realidade que se vive e ao Governo que sobrevive.

A primeira questão tem a ver com o caso dos certificados de aforro, um instrumento de poupança muito popular em Portugal e que, até prova em contrário, é  o  preferido dos pequenos e médios aforradores ou, por outras palavras da pequena classe média que ainda resiste à voragem.

De uma ó penada, o Governo (ou a Banca por interposto e solícito Governo) através de uma nova série  diminuiu a taxa de rendimento  de 3,5 para 2,5%; baixou o valor máximo a investir por pessoa de 250.000 para 50.000 euros e aumentou o prazo de vida do certificado de 10 para 15 anos. 

Coincidentemente (e as coincidências são sempre suspeitas) um dirigente da Banca tinha um par de dias antes, pedido ou exigido uma redução das taxas porque havia uma fuga de depósitos dos bancos para os certificados. Cumpre lembrar que tais depósitos andam em média por 1%.

De pouco vale afirmar que os 2,5 dos novos certificados ainda representam mais do dobro. 

É a pequena burguesia, o povo que paga impostos e que, sabe-se lá com que esforço, consegue aforrar quem sai prejudicado. Os ricos obviamente tem ao seu alcance outros, melhores, mais sofisticados meios de garantir remuneração condigna para os seus investimentos e/ou depósitos.

Por outras palavras, as juras de amor do Ps e deste (des)Governo pela sua normal base de apoio significa que outro poder mais alto impôs a sua vontade.

Curiosamente, até o PC e o BE que se afirmam como representantes dos pobrezinhos, dos trabalhadores e sei lá do que mais vieram acusar a manobra. O Centro Direita e a Direita chiaram porquanto presumem que esta medida ataca também os seu adeptos.

(quem estas linhas traça não tem, e lamenta, certificados de aforro dos antigos, dos bons porque investiu as suas poupanças noutros produtos eventualmente mais atractivos mas mais arriscados)

 

Nos territórios ucranianos ocupados pela Federação Russa e recentemente “elevados”  à categoria de repúblicas populares integradas na “mãe” Rússia, existia uma barragem. Por mero acaso histórico já nos temps do falecido e nunca assaz chorado Staline tinha sido rebentada para travar (s entre 120em sucesso) a ofensiva nazi. Terão morrido entre 120.000 e 180.000 cidadãos russos. Os alemães reconstruíram a barragem  que mais tarde também rebentaram para proteger a sua retirada . A brutalidade é idêntica com uma diferença: Stalin assassinava os seus, os alemães assassinavam inimigos ainda por cima “sub-humanos”.

Desta feita, três quartos da zona inundada situam-se em território ocupado pelo exército russo, afoga “cidadãos russos”, prejudica territórios ditos “russos” não falando no desastre ecológico que atinge proporções dantescas. E que vai durar anos, muitos anos.

Como se previa, os dirigentes russos juraram que o desastre se devia a bombardeamentos ucranianos.

Vejamos: uma das zonas onde se poderia esperar a contra-ofensiva ucraniana era justamente esta; todos os peritos militares juram que a explosão ocorreu de dentro para fora além do que nem umas largas dezenas de granadas de artilharia atingindo milagrosamente o mesmo local, conseguiriam o efeito pretendido. Um relatório norueguês acima de toda a suspeita e as fotografias de satélite abundam na mesma explicação. Finalmente o facto de a Ucrânia ter sido obrigada a mobilizar uma enorme quantidade de membro da Defesa Civil (e também muitos militares) para salvar os cidadãos do território libertado pode atrasar a referida e esperada contra-ofensiva. 

Claro que poderia dar-se o caso de uma audaciosa, eficaz equipa das “forças especiais “ ucranianas ter conseguido infiltrar-se numa zona ultra-defendida e próxima da central nuclear de Zaporijia. Convenhamos que a tese, aliás sedutora para os apoiantes mais radicais da Ucrânia, não parece ter pés para andar. No caso estaríamos perante uma formidável máquina de guerra que, com facilidade, se introduziria na Rússia para causar tremendos estragos...

 

A terceira nota que queria aqui deixar diz respeito, uma vez mais!, ao SNS. Desta vez não vou apontar nenhuma nova ocorrência mas apenas duos factos. Um concurso para médicos de família ficou deserto numa percentagem de 70%. Pelos vistos o sr ministro da Saúde achou maravilhoso que 30% dos vagas pudessem ser ocupadas proximamente. Quando ainda não se sabe.

Este sr ministro é uma singular personagem, Fala redondo, fala muito, tudo parece fluir natural e felizmente mas mais e perto as coisas estão na mesma como a lesma. 

Quem é do Porto conhece de ginjeira este loquaz cavalheiro que tem averbado sucessivas e cada vez mais penosas derrotas políticas nas eleições  tocais. Ha quem afirme que ele se prepara para nova tentativa de assalto ao Porto. Por mim aposto singelo contra dobrado que mais uma vez dará com os burrinhos na água. 

Ainda sobre o tema “saúde” li há dias que uma senhora directora geral de uma das empresas de hospitaisprivados ganha exactamente quatro vezes mais que o recém chegado Director Geral do SNS que por sua vez dirige uma equipa com três vezes mais profissionais!!!

Também se sabe que do SNS para o odioso sector privado há uma contínua corrente de pessoas fartas se serem mal pagos, de não terem meios adequados nem pessoal suficiente.

Estamos a assistir à criação de dois sistemas de saúde. Um para ricos, isto é para quem pode pagar, tem seguro ou ADSE, outro para o resto que recorre aos centros de saúde e aos hospitais públicoe e que bate recordes em esperas de consultas (pelos vistos das mais atrasadas são as de oftalmologia que andarão pelos três anos...pelo menos no habitual e sacrificado interior ).

Devo mais uma vez dizer que tenho a maior estima pelo SNS, que pago sem pestanejar os meus impostos  (e pago bastante, já agora) e que conheço ou conheci extraordinários exemplos de dedicação entre os médicos (e são, ou eram, muitos) com quem me dou. O SNS poderá, na teoria ser excelente mas para parafrasear um título já citado, “na prática a teoria é outra”!

E de pouco serve vir-se arguir que há países (muitos, uma multidão...) onde a saúde corre pior. Mas há também alguns onde corre melhor e é nesse patamar que gostaria que Portugal estivesse. E poderia estar assim houvsse um poder político capaz e exigente. Com o que por cá temos tido é duvidoso que se melhore. Esperemos mesmo que não piore  e que rapidamente apareçam as centenas ou milhares de médicos que faltam, os enfermeiros ou os restantes técnicos sanitários que fazem falta. 

 

Este texto está ser reescrito de memória pois ontem quando o ia publicar fiz algo que nem sequer sei explicar e a prosa desapareceu nas areias movediça da minha incapacidade informática.

Ainda bem pois agora vale a pena celebrar algo de absolutamente miraculoso. Quatro crianças entre os 13 e 1 ano de idade (um ano!!!) conseguiram sobreviver na temível selva amazónica durante 40 dias. Quarenta dias, eis uma conta de expressão bíblica!  O menino mais velho e provavelmente o seguinte na escala etária são mais do que heróis, fenómenos!

Também é de reconhecer e louvar a extraordinária teimosia (não há outra palavra) dos saldados e auxiliares indígenas que durante os mesmos quarenta dias não desistiram. E dos superiores que neles confiaram... 

estes dias que passam 803

d'oliveira, 09.06.23

 

A saúde é uma “seca”!

mcr, 9.6-23

 

Deixei de fumar há vinte e cinco anos. Foi a primeira e única vez que tentei e com persistência, sacrifício e alguma coragem acabou aí a minha carreira de fumador. Aliás de grande fumador pois eu debitava quatro maços diários, uma enormidade e uma estupidez de que me não orgulho.

Deixei de fumar  não por qualquer problema de saúde ou respiratório mas tão só porque finalmente me convenci que, mais cedo ou mais tarde os problemas surgiriam. Apanhei amigos, conhecidos e familiares de surpresa e não foram poucos  os que afirmaram que aquilo seria sol de pouca dura. De resto, eu próprio dizia que a partir dos 75 anos voltaria ao cigarrinho. Não voltei e, confesso, nem sequer sinto vontade de voltar. 

Devo também dizer que não me tornei um anti-fumador alucinado e inclemente. Frequento sítios, esplanadas, onde há fumadores próximos mas que ainda não incomodam. 

Tenho por mim que não é com medidas higienistas e paternalistas que se combate o cigarro nem com demasiados cercos aos fumadores. Claro que concordo com a proibição de fumar em espaços fechados mas não levo a sanha persecutória aos espaços livres mesmo se perto de escolas, cafés, hospitais ou estabelecimentos de ensino.

No caso da venda pouco se me dá que ela seja feita através de máquinas ou ao balcão. Não é a ausência da máquina que faz o fumador desistir e, no caso dos cafés, sobretudo os de província de pequenas ou pequeníssimas localidades, tenho por sacanice aberrante e violência estatal a proibição  da venda. Tanto mais que tal proibição não se aplica aos álcoois, que se consomem sem restrição de qualquer esp´cie em todo o lado. E que inclusivamente se vendem livremente nas estações desserviço das autoestradas sabendo-se como se sabe que mesmo  com uma baixa taxa de absorção, o álcool perturba gravemente a condução.

A proposta de lei tal como foi apresentada era um imbecilidade mas as sucessivas modificações não a melhoram especialmente. Permitir a venda de tabaco nas “grandes superfícies” onde é proibido fumar é uma originalidade asnática que cai por inteiro nas autoridades ministeriais que pressionadas não sabem como sair da ameaça . Pior é a permissão de venda em hotéis e na generalidade dos estabelecimentos turísticos onde também, ao que sei, não é permiti do fumar. Digamos que esta porta aberta à venda é um piscar de olho grosseiro e obsequioso  aos turistas e uma bofetada a no camponês alentejano ou beirão ou de interior que não tem na aldeia uma tabacaria, um hotel, um AL uma bomba de gasolina ou uma estação de  serviço, enfim nada...

Eu, de cada  vez que vejo, na TV, o senhor ministro da saúde até me persigno. A criatura é redonda, fala redondo, está sempre tudo em marcha acelerada para a resolução mas se observarem bem, está na mesma como a lesma ou a caminho de piorar. Ainda há dias este extraordinário cavalheiro se congratulava com os resultados de um concurso de médicos que ficara deserto a mais de  60%.

Quando recordo que a Guterres chamaram “picareta falante” fico sem palavras, sem um adjectivo convincente para caracterizar esta loquacidade ensandecida, esta enxurrada de ditos que nada dizem. No Porto, este político perdeu todas as eleições a que se prestou e, se é verdade que está a fazer outro tirocínio para um glorioso regresso , o melhor é darem o próximo lugar ao Joãozinho das perdizes que parece bem mais sincero e capaz.

Eu sei que o SNS não é pera doce, que cada vez mais se assemelha a um titanic no mar da Palha mas o problema não está na ideia mas tão somente nas condições que se oferecem aos profissionais. Basta um exemplo colhido dos jornais. O Director Executivo do SNS (um homem capaz, com um invejável currículo e obra feita no S Joõ) gana quatro vezes menos do que Directora Geral do LUZ Saude  que tem a su cargo uma equipa muitíssimo menor  de pessoas que, porém são bem pagas, tem recursos técnicos suficientes e estão motivadas. O que se está a criar é um sistema para pobres (SNS) e outro para quem consegue pagar, tem seguro de saúde ou ADSE!!! 

Enquanto este país pagar salários miseráveis a professores e médicos as coisas não melhorar\ao e não é com críticas aos horrorosos “privados” que a coisa melhora

E chamo a atenção para o facto de neste momento o SNS estar já a preparar acordos com hospitais privados para toda a temporada do Verão nomeadamente em Lisboa e Vale do Tejo e Algarve. 

 

Um país que mexe

José Carlos Pereira, 06.06.23

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Ao visitar a EMAF, a maior feira industrial de Portugal, que decorreu na semana passada na Exponor, era possível ver milhares de pessoas envolvidas, entre expositores e visitantes, muitos deles estrangeiros, da vizinha Espanha à Ásia, percebendo-se que há um país muito empenhado no desenvolvimento da economia e no crescimento das exportações. Um país que mexe e que pouco ou nada quer saber das querelas do adjunto do ministro, de quem chamou o SIS ou de quem ligou a quem e a que horas.

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