estes dias que passam 810
Em que ficamos? Em que não ficamos?
mcr, 26-6-23
O golpe de Estado que acabamos por não saber se o era ou se apenas se limitava a uma tentativa de destruir a actual cúpula militar russa, falhou. Ou não, pois numa Rússia opaca fica-se sem se saber se tinha cumplicidades no Exército, em certas facções civis, se tentava enfraquecer Putin, ou apenas robustecer a organização Wagner.
De concreto, e neste momento, prece estabelecido que Prigojin irá para a Bielorrúsia até poder ser convenientemente eliminado, que as unidades mercenárias regressaram às suas bases “conforme o plano estabelecido anteriormente” (o que também levanta um par de suposições que naquele labirinto não são despiciendas).
Tudo isto não é grande novidade para quem se interesse por política internacional e vá acompanhando os trancos e solavancos de uma Rússia saudosa dos bons velhos tempos soviéticos mesmo se Putin tenha alguma vez atacado as medidas de Lenin quanto ao papel das repúblicas socialistas incluídas na União. É verdade que isso pareceu, e apenas por breve período, o reconhecimento de um eventual direito à secessão, absolutamente repelido logo nos primeiros anos do poder bolchevique mas como várias outras falazes promessas e solenes declarações de princípio, desapareceu ainda em tempos de Lenin e definitivamente com Stalin..
De toda a parafernália da política das nacionalidades quedou, mas já depois da 2ª guerra, na ONU e graças a uma inexplicável fraqueza dos Aliados, a existência de uma Ucrânia e uma Bielorússia com direito de voto a para da URSS que continuava para todos os efeitos a englobá-las.
Não há memória de alguma vez estas duas entidades terem votado diferentemente da URSS como se pode verificar.
Do processo de implosão da URSS não é necessário falar, muito menos do falhanço da primeira tentativa de conservar um laço entre as repúblicas (e que já não considerava os três estados bálticos). Todavia, vale a pena recordar os solenes acordos entre a Federação Russa e a Ucrânia, o reconhecimento da segunda pela primeira, a renúncia (e devolução) às armas nucleares que detinha no seu território. É verdade que, por mera timidez (ou mesmo servilismo) de alguns dirigentes ucranianos, houve quase até à eleição de Zelensky uma espécie de colboração com a “mãe” Russia que entretanto até reconhecera Crimeia como território ucraniano.
Também se sabe perfeitamente que durante muito tempo não houve qualquer protesto significativo nos territórios “russófonos” (e Zelensky vem deles...). As coisas desandaram já com Putin e os seus anseios imperiais, as suas teorias exdruxulas e a continua pressão para forçar a Ucrânia a ser uma segunda Bielorrúsia completamente enfeudada a Moscovo (melhor apoiada por Moscovo contra uma fortíssima opinião pública que em centenas de manifestações, prisões a esmo, morte de dezenas de manifestantes, silenciamento de milhares de outros, e dirigida por um estalinista que só se mantem no poder graças ao “grande irmão”
É Prigojin, curiosamente, que vem declarar que o conflito do Donbass foi inteiramente provocado por agentes de Putin, que a “guerra actual (enfim a operação especial) foi um erro colossal que nãõ há saída para Rússia que não passe por uma retirada e por aí fora.
Sobre a ocupação da Crimeia houve por cá quem viessex argumentar que esta península estava “empapada de sangue russo” mesmo quando todas as evidências demonstram que as tropas do czar eram todas (tirando alguma oficialagem) ucranianas isto é formadas por cossacos ucranianos, pois os russos propriamente ditos estavam mil quilómetro de distancia da península que, aliás, era maioritariamente habitada por Tatars que já na época de Stalin foram deportados quase totalmente para a Sibéria e que, já na época da Ucrania independente iam regressando aos poucos ao território dos seus antepassados.
Se todo o modo, a Crimeia está de facti empapada de sangue deste os primeiros habitantes aos exércitos russos que se bateram contra franceses e ingleses (guerra da Crimeia) aos súbditos de Sª Magestade Britânica que se meteram estupidamente na aventura da “carga da Brigada Ligeira”, aos alemães que a invadirm ea todos untos em consequência da guerra dita patriótica ai pereceram (e numa grande maioria como se sabe ucranianos). Também e verdade que, seguindo uma velha tradiçãoo russa, as populações expulsas foram substituídas por emigrantes russos voluntários ou à força para lá deslocados sempre pelo previdente e nunca assaz chorado Stalin.
Todavia, ão era de história que pretedia falar mas apenas de uma opinião “russistas” até dizer basta que começa a germinar por cá e que uma comentarista assanhada reeolveu dar corpo.
Parece, dizem, que o golpe de Prigojin despertou a alegria da extrema direita internacional e indígena. Ora, como é sabido, sobretudo no campo internacional, era Putin quem mais apoiava as forças radicais de Direita à semelhança, aliás, so que dez nos E U A apoiando de várias formas o sr Trump.
É verdade que a invasão inopinada da Ucrânia arrefeceu bastante o entusiasmo dessa gentinha ao mesmo tempo que recordava os velhos tempos do comunista com a faca entre os dentes.
Pelos vistos e que se saiba neste fim de semana apenas três ou quatro tiranetes vieram apoiar o presidente russo com especial relevância do pobre homem da Venezuela que saudou “el compañero Putin cercado da oficialagem repressora que o matem no poder.
Nem os conservadores europeus nem sequer os de outras latitudes deram idêntico passo. À um porque como toda a gente, não sabiam exactamente até onde e porquê havia aquela cavalgada que parecia irresistível w que pelo caminho abateu meia dúzia de helicópteros militares e ocupou sem efusão de sangue três importantes cidades, a começar por Rostock sede do quartel general russo.
Viu-se, também, mas a pobre senhora não deve ter reparado, que a marcha golpista era apoiada por muitos civis e não repelida por quaisquer forças militares. Eram russos os entusiastas de Prigojin que na rua o aplaudiam e festejavam. Desconheço se ficaram desiludidos ou pesarosos com o volte-face repentino “para evitar o banho de sangue” que até ao momento não ocorrera apesar de no caminho estarem estacionadas várias unidades militares!
Os governos ocidentais mantiveram um silêncio de oiro e resorreram ao velho chavão de “estarem atentos e a monitorizar” Do resto da Rússia nem um pio ou melhor uma proclamação tremenda de Putin feita pela televisão que parece não ter impressionado demasiadamente os cidadãos pasmados
E um telefonema do fidelíssimo lacaio Lulashenko que terá convencido o chefe do movimento a dar meia volta.
Compreende-se o silêncio do Ocidente. Ninguém de bom senso garantia que, caído Putin, lhe sucedesse alguém com mais bom senso e capaz de parar uma guerra desastrada. Pelo contrário, e a história russa é fértil em exemplos, poderia ( e pode) acontecer que o Kremlin encontrasse outro autocrata ainda pior e com vontade de premir o botão nuclear.
Também é verdade que se desconhece o verdadeiro estado da opinião pública pois a censura a quaisquer meios de informação é de fato total (e tradicional desde os saudosos tempos da URSS ou mesmo de antes).
A própria administração ucraniana foi prudente e comedida na exploração do acontecimento. Não embandeirou em arco, não previu amanhãs cantantes pelo menos no imediato, limitando-se a constatar uma evidência: há indícios que nem toda a tropa fandanga de oligarcas (os que ainda estão vivos) verá com benevolência o que se passa na frente e, muito menos, o facto das fronteiras lhe estarem fechadas e os bens no estrangeiro arrolados.
Também se desconhece o estado de espírito da nomenclatura militar para já não falar do moral das trpas que estão na frente e que provavelmente já terão percebido que aquilo não eram favas contadas que a operação especial dura há demasiado tempo, com custos elevadíssimos e uma perda medonha de vidas humanas.
Tudo visto, não houve por cá, nem nos países cujos noticiários sigo atentamente, manifestações de alegria mesmo se qualquer pessoa decente olhe sem tristeza de qualquer espécie esta aventura que, insisto, ainda não terminou.
Até ao momento, Putin está entrincheirado no Kremlin, os generais continuam nos seus postos, Prigojin goza(rá) as férias possíveis em Minsk e provavelmente rodear-se-á de um exército de guarda costas que lhe evitem acidentes sempre estranhos e sobretudo fatais.
E os russistas indígenas devem estar a tentar recupera-se do abalo e prontos para festejar mais uns milhares de mortos se possível ucranianos
*um leitor que deve ser tõ zanaga como eu e o Mr Magoo pede letra maior.Está bem assim ou é preciso mais?