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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 831

mcr, 30.08.23

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As indignações fáceis

mcr, ainda em Agosto

 

A Espanha, que digo? – A Europa!  E. pelo menos aquela coisa duvidosa chamada FIDA, estão em polvorosa. Um dirigente desportivo apatetado e machola  beijou uma jogadora campeã  do mundo. Na boca!

Ai Jesus, Maria . José! Abrenúncio! Pai afasta de mim este cálice!

A coisa, primeiramente passou como fait divers  mas em Agosto, na silly season,  a burrice torna-se endémica, com os calores aumenta e nada melhor que um acontecimento menor para despertar a fúria dos novos inquisidores, dos “correctos!, dos imbecis e ddos “influencers” que são uma nova espécie de revistas cor de rosa em formato humano e, pelos vistos, dão opiniões que uma turbamulta de atrasados mentais segue com volúpia e ansiedade-

O beijo  começo por ser um vago rumor, um objecto de gracejos entre as jogadoras colegas da beijada como abundantemente se viu hoje (quarta feira, noticiário das 13, SIC)  nao descortinei naquela troça bem humorada e eventualmente “bebida”  (que diabo não é tofos os dias que se ganha um campeonato do mundo!)  nenhuma erupção de indignação, de escândalo, de censura! Nada, raspas de nada! Gargalhadas e gritos, “beso, beso!

As primeiras palavras da beijada   também não pareceram especialmente iradas. Jenny Hermoso, limitou-se a dizer que aquilo fora casual que não levara a mal, enfim “atirando para canto”!

Claro que esta primeira reacção pode ter sido cautelosa, evidenciando a vontade de pôr uma pedra no assunto, pr razões que se percebem e que, poderiam derivar do facto de entre uma jogadora e o poderoso presidente da Federação de futebol ser “sensato” acalmar as águas. 

Todavia, como na ária “la calunia” do imortal Rossini na não menos imortal e belíssima ópera Barbeiro de Sevilha, o frémito, o rumor vai crescendo, crescendo como um tufão tropical daqueles que neste momento ameaçam o Oriente e as Caraíbas.

Em três quatro dias, a vaga levantou-se, a maré encheu, a tempestade rugiu e o maremoto ameaça agora encharcar até as terras em seca severa e extrema. Parece que uns centosm uns milhares de criaturas subitamente viram a luz e pimba! Toca a reunir para crucificar um palerma que não merece nem a pena nem sequer o dieito a morrer como se dora uma nova bruxa de Salem. 

Que o homenzinho é tonto, machola e impudente (e imprudente) não restam dúvidas. Que ainda não ºercebeu como é que uma burrice menor lhe vai destruir a carreira e os futuros empregos, também não. Que porventura se sente injustiçado não há dúvida. 

Que não é toureiro para dar meia praça ao touro, é provável. Vai ser colhido pela multidão em fúria quando lhe bastavam dois sonoros bofetões na tromba.

 Que as mulheres as passam verdes e maduras não há dúvida. Que só em Espanha e neste ano já há umas dúzias de assassinadas, muitas mais violentadas, milhares espancadas é algo que nem vale a pena assinalar. 

Mas este beijo imbecil não esconde a floresta mesmo se é altamente conveniente para a “indignancia” habitual uivar sobre isto e não sobre o que realmente importa e acontece. 

Até por cá se sentiram sintomas  ao mesmo tempo que questões bem mais graves e importantes sejam varridas para baixo do tapete, quando não ignoradas. 

Enfim, estamos em Agosto, o Sudão é longe, a Ucrania idem, aos ciganos de Beja ninguém lhes acode e no bairro da Serafina a vida continua. 

 

 

  

estes dias que passam 830

d'oliveira, 24.08.23

Quemcom ferros mata...

mcr, 24-8-23

 

 

Na Rússia também se morre de morte natural, evidentemente. Mas para isso, para esse passamento por idade, doença, acaso, é preciso não ser oligarca, político, chefe militar ou aventureiro ambicioso que não percebe nada de krelinlogia.

E não se morre estranhamente apenas por ser da Oposição, situaçãoo que também é controlada por prisões contínuas, ordenadas por tribunais que só o são de nome. Os eventais democratas, os opositores pacíficos à guerra, são, e desse sempre nesses antigos impérios czarista ou sovi´etico, carne para canhão, destinada à Sibéria, ao Extremo norte, aos mil (são mais mas mil é uma palavra forte) gulags que floresceram maldoeamente nessas plagas distantes. , anarquistas, socialistas, “velhos crentes” e outros esp´cimes dissidentes povoaram a imensidão siberiana e houve mesmo  quem regressasse do reino dos mortos e das sombras. Em boa verdade, e sobretudo durante o glorioso tempo soviético para alguém ser nviado para a siberia bastava pouco, por exemplo ser familiar de um dissidente (e só counistasforam mais de dez ilhões...) de um condenado à morte, ou alguém preso por vagabundagem  que na URSS campeava em todos os lados e atingia mesmo quem, sem qualquer convicçãoo política, persistia em se considerar alheio ao Poder e ao Parido. 

Depoisda implosão do império soviético, não deixou de haver colónias penais nem “gente que cuspia contra o vento”. A derrocada da URSS propiciou o aparecimento de magnates, muitos deles ligados ao antigo regime e detentores extraordinários de fortunasfabulosas, amsssadas num par de anos. 

A criatura Prigojin começou a sua épica carreira comentendo roubos, burlas e furtos que o fizeram penas nove anos nuas cadeias.

Todavia, ter sido ladrão ou ter passado pela cadeia, não impediu nunca nenhum dos novos russos influentes de subitamente passar a ser criatura importante nos círculos económicoe e de poder. E Prigojin rapidamente passou de uma banca modesta de venda de hamburgers a dono de cadeia de restaurantes e empresário em dezenas de negócios lucrativos. E de membro do círculo íntimo de Putin.

Daí até à Wagner foi um passo. Do assassinato considerado como uma das mais fáceis malasartes, outro. A Wagner deixa e deixou um rasto de sangue, roubo e latrocício por onde passou e passou por muitos lados incluindo a frente leste da Ucrania onde, mesmo perdendo 20.000 homens (e desses uma forte percentagem de prisioneiros  condenados e saídos da cadeia para matar ou morrer), conseguiu o que o incompetente exército russo não foracapaz: conquistar momentaneamente Bakmut que, nestes omentos está quase cercada por forças ucranianas.

Ninguém conseguiu ainda dar uma explicação convincente para o motim wagneriano que por pouco não entrou de rompante em Moscovo. Pelos vistos, os militares não foram capazes ou não quiseram opor-se àquela cavalgada de tanques, aplaudida em toda a parte em que passava. 

É verdade que Prigojin sempre afirmou que o golpe que chefiava não era contra Putinmas isso é mera palavra de russo e sabe-se que, por aquelas terras o que hoje é verdade amanhã é mentira. Ou vice-versa!

Os mercenários recuaram, foram enviados para a Bielorussia que é, na melhor das hipóteses, uma colónia russa . aí foram colocados em quastreis improvisados com a missão de treinarem as tropas desse pseudo país governado por um lunóatico perigoso chamado Lkashenko e que tem desempenhado o papel de carniceiro no seu território e o de capacho de Putin em todos os outros lugares. 

Tudo o que era analista, comentador político ou mesmo e só cidadão interessadovaticinou que Prigojin era um morto a prazo e que na sua aventira  se continha a “crónica de uma morte anunciada” mesmo que não tivesse o explendor do romance homónimo. 

Por todo o lado se recomendava a Prigojin o máximo cuidado com o que comia ou bebia. Também o exortavam a evitar aproximar-se janelas de onde, e sempre na Rússia é muito fácil, corriqueiro até, cair-se. 

Porém, naquele exótico país, parece que sptra um mau vento de falta de senso, o mesmo que induziu Putin a meter-se nua “operação militar especial” destinada a durar um par de semanas. Que Prigojin se tenha embarcado num motim parado por iniciativa dele a curta distância de Moscovo sem  quefosse visível qualquer oposição séria da tropa é algo que transcende qualquer cidadão interessado. 

Que tenha embarcado num avião com o nº 2 daWagner (e eventualmente com mais meia dúzia de altos quadros da sua organização mercenária e terrorista) eis um mistério que está por desvendar.

A únicacoisa previsível (e é a Wagner que, em plena Rússia, num canal televisivo russo,  é que a anuncia) a ocasião era demasiado boa para se perder. E um ou dois misseis, ou uma   bomba colocada a bordo  resolveu mais este desaparecimento. 

Suponho que poucos irão chorar  o passamento de Prigojin que aliás era “herói da pátria” título atribuído pelo Kremlin não sei se pelo passado prisional da criatura se pelas actividades facinorosas que levou a cabo.

Parece que, da parte de alguns desses inenarráveis bloggers militares russos ainda passou a ideia de que dora a Ucrania a acertar num avião entre S Petersburgo e Moscovo. Se tal fosse possível então o melhor é porem as barbas de molho pois tal empresa provaria uma superioridade gigantesca do país agredido.

De resto, Prigojin que já nem tinha forças militares em território ycraniano era pouco ou nada preocupante par os ucranianos. Mesmo tendo em conta que uns largos milhares de mercenários experientes e experimentados poderiam desencadear um ataque a partir da Bielorrusia (hipótese que a Lituania ea Polónia nunca descartaram mesmo se se supunham ser elas o alvo), no âmbito de uma guerra que se trava a milhares de quilómetro de distancia (Donbass, Zaporijia e Kerson).

Subsiste, e espera-seque Putin se lembre disso, a hipótese de que os executores de Prigojin e comandita sejam os EUA, a NATO ou a União Europeia. 

O delírio putiniano dá para tudo e não é por acaso que o seu nome evoca o daquele abencerragem czarista que chamado Rasputin em boa hora  foi mandado ad patres pelo príncipe Yussupov.

Dava jeito que, nos maus tempos que correm, aparecees outro émulo do referido príncipe e animado pela mesma sanha higienizante e libertadora. 

Au bonheur des dames 588

d'oliveira, 23.08.23

 

 

 

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Isto é, como s cerejas...

mcr,  23-8-23  

 

Infelizmente o título é verdadeiro. Melhor dizendo, mais que verdadeiro se é que a expressão ainda significa que as coisas se sucedem mesmo contra a nossa vontade.

No meu último folhetim, referi-me à morte de um doe meus melhores amigos, daqueles que conhecemos desde sempre, desde a mis recuada infância, daqueles que, como diz a minha cunhada Zé, fazem com que, a cada encontro, o meu irmão (e eu próprio, estejamos permanente com um sorriso ternurento . Isto durante horas como sesubitamente alguma coisa, um milagre, nos tivesse transportado muitos anosatás, às longuíssimas férias de verão na praia, a chapinhar na rebentação, sob o olhar atento de algum dos múltiplos familiares adultos que tinham de se revezar para nos nos perder de vista que a miudagem é perigosa, imprudente e imprevisível. 

Desta feita, por motivos sem importância (tratava-se de verificar se o crítico Jorge Leitão Ramos, tinha razão ao afirmar que o primeiro filme de Bergman em Portugal fora “Paixão”. Estarei enganado mas tenho uma quase absoluta certeza que foi “Morangos Silvestres” uma produção de 1957 que poderá ter-se estreado por cá entre 61 e 63. Durante a pesquisa- sem resultado- na internet caí, por mero acaso, em Marco Bellochio, cineasta italiano, autor de uma boa vintena de bons filmes e, particularmente, de “I Pugni in tasca”(não recordo o título português), “O diabo no corpo” e “Marx pode esperar” (que provavelmente não passou em Portugal). 

A simples menção do nome Bellochio fez-me voltar a Itália, em finais de 80, princípios de 90, quando, em nome da pátria madrasta me desloquei a Piacenza  para um festival de marionetas.

Na época, e no Porto, realizava-se um excelente festival internacional de marionetas, organizado pela Isabl Alves Costa que era inteligente, empenhada, conhecedora e absolutamente anárquica quanto a aspectos práticos, a intendência. Nessa época eu trabalhava na Delegação Regional de Cultura do Norte com mais colegas dávamos o necessário apoio à exuberante Isabel. Por isso, terei ido a Piacenza dom ela, com um grupo de bailado portuense que iria participar num espectáculo conjunto de dança e de marionetas em Piacenza.  Devo dizer que jamais (jamé! Como dizia um pitoresco ministro...) fui tão bem recebido como nessa pequena cidade. O director do festival fez questão de me emprestar o seu carro e pude conhecer Parma, Mântua, Cremona enquanto os ensaios decorriam e eu nada tinha que fazer. 

Logo no primeiro dia em Piancenza, fui convidado para jantar num restaurante que pertencia ou era gerido por uma senhora Bellochio. A comida era mais do que boa e resolvi com o director do festival ir cumprimentar a proprietária e eventual cozinheira. Quando a conheci, perguntei-lhe se terá familiar de Marco Bellochio. Que sim, era mãe. No seguimento da conversa disse-me que um outro seu filho (seriam oito!!!) Piergiorgio Bellochio estava no restaurante. 

Ora eu conhecia esse nome porque, a conselho do José Leal Loureiro, subscrevi durante algum tempo os “Quaderni Piacentini”. Tratava-se de uma excelente revista, esquerda italiana que durou desde 60 a 84 do século passado. O seudirectoe e fundador era jultamente este Bellochio que por absoluto acaso encontri  no restaurante da mãe. 

Quando cheguei à falar com ele, onformei-o da minha anterior assinatura da revista e ele apenas me disse “ah! É,s então, o outro assinante (não sei se do Porto ou de Portugal inteiro, sendo o antes mencionado Zé Leal Loureiro o primeiro e, pelos vistos, conhecido leitor e amigo de Piergiórgio. ).

E, como estava m anteontem a “navegar” pela internet, descobri com pesar que também ele morrera há um par de anos. 

Cm a idade que levo, a morte é uma companheira quase diária e vai avisando cada vez mais cruamente que a minha vez chegará enquanto vão rareando conhecidos e amigos à minha volta.

Curiosamente, esta não foi a única vez que, em Itália, alguém me falou de amigos meus. Certa vez, em Veneza, is eu com a CG a caminho do nosso hotel quando ela, num rugido de suroresa e alegria, deu com uma loja que vendia novelos de lã. Precipitou-se sobre o indefeso estabelecimento entrou nele avisando-me que aquilo era coisa para uma boa meia hora. Abanfonado no meio da rua, olhei desamparado à volta e vi uma livraria. Claro que, milagres destes nunca se desaproveitam. A livraria era excelente. Resolvi, passada a meia hora aprazada pedir ao amável livreiro, um cartão com o nome da livraria e o endereço para lá voltar com o vagar devido ao sumptuoso recheio da loja. E, surpreendido, percebi que se chamava “marca d’ acqua “ (suponho que em homenagem ao título homónimo de Brodsky) r que me fora recomendada por um vizinho e amigo do Porto. Quando disse isso ao livreiro, ele prontamente retorquiu “De certeza que está a falar do António Abreu!”

E era verdade. A médico António Abreu meu vizinho era um apaixonado pr Veneza e, todos os nos, passava lá uma quinzena numa casa alugada  no Casaregio. 

Como a Isabel, o Zé Loureiro ou o Piergiórgio, o António já não mora aqui. Agora, com os outros é apenas uma amável recordação, uma “memória da alegria” para citar um título do Eugénio de Andrade, autor que comecei a conhecer por um simples verso 

“estas só e o teu encontro vem a grande ponte sobre o rio”. Isto, sussurrado por uma namoradinha, chamada Irene, foi quanto me bastou para ir a correr saber do poeta  que muitos anos depois vim a conhecer pessoalmente.

E neste agosto calmoso ( “o sol é grande e caem co’ a calma as aves”, Sá de Miranda) vou escolhendo uma moeda para o barqueiro quando a minha vez chegar. Não é exactamente uma ponte mas enfim para última viagem também serve. 

    

*na vinheta: cartaz original de "i pugni in tasca" de Marco Bellochio

 

Au bonheur des dames 587

d'oliveira, 21.08.23

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“Verrá la morte...”

mcr, 21-8-23

 

era um grupo de meninos numa rua frente à praia, morando em casas contíguas que se conheciam desde sempre, sobretudo no Verão quando o número deles aumentava pelas férias.

O grupo alargava ou diminuía consoante a passagem dos meses quentes mas durante quase vinte anos encontravam-se ali, stessa piaggia stesso mare,  crescendo quase sem se darem conta num país enevoado que pouco a pouco foram descobrindo.

Não escaparam a nada do que ocorre quando pouco a pouco os meninos se vão tornando adultos. 

A vida, sempre ela, separou-os por vários destinos, a vida não cuida de manter juntos os meninos que já o não são.

Uns, mais do que outros, mantiveram todavia a recordação de mil dias à torreira do sol de Julho a Setembro, a fintar as ondas sob o olhar vigilante do senhor Fonseca  e, por vezes, do Rui Amador. E tinham uma barraca só para eles quando por acaso não jogavam ao futebol ou ao mata onde as meninas eram rainhas e campeãs.

Era um grupo de meninos, ruidosos, curiosos, sonhando, porventura, um futuro na “mesma praia, mesmo mar” com uma outra geração de filhos a correr pela areia, a gritar, a rir a começar a viver. 

A vida, sempre ela, afastou-os da praia da em que se conheceram, brincaram, cresceram  como sempre acontece que isto de ser adulto tem outras regras outras circunstâncias que a infância, a juventude e a adolescência desconhecem. Os pais primeiro mas nem sempre que o Luís foi antes ao volante de um automóvel que seguia demasiado depressa numa estrada demasiado má, num dia demasiado aziago.

Mais tarde, muitos anos depois, ainda se encontraram um par de vezes e era o mesmo encantamento, o mesmo sorriso, os mesmos gritos como se os anos, ai os anos, tantos anos, não tivessem passado.

A praia mudou, a cidade mudou, nós todos mudámos, mas sempre que nos vemos, e vemo-nos tão pouco!, é como se aqueles meninos regressassem à mesma praia, ao mesmo mar.

Depois foi a Titeza que faltou, também ela ainda com tanto que rir, contar, fazer. 

E ao Verão sucedeu o Outono, se não o Inverno que as nossas vidas já vão longas. Agora, subitamente, por mero acaso, dou com a notícia da morte do Alfredo Alberto. De  uma morte já com três anos ocorrida durante o raio da pandemia não sei se por ela ou apenas porque depois dos setenta e vários “verrá la morte... insone, sorda, come un vizio assurdo...”

Qundo alguém, e é o meu caso, já dobrou o cabo dos oitenta, a morte transforma-se numa companhia habitual, não direi estimável mas seguramente pouco assustadora. Ou melhor, assusta-me mais a morte dos outros da que inexoravelmente será a minha. Apenas me vou sentindo mais só, num mundo que é cada vez menos o meu, numa praia que é desconhecida frente a um mar que como se diz(ia) em Buarcos  nos meus tempos de bibe e pião, o mar “que é um cão”...

E, como reza o belo poema de Pavese, um autor que me acompanha há sessenta anos, ...”scenderemo nel gorgo muti”...

 

*Alfredo Alberto Seabra Estrela Esteves, médico, pediatra em Aveiro, expulso por um ou dois anos da Universidade de Coimbra, durante a crise de 62  (por ter assinado um papel em que se pedia a demissão do reitor!..) ainda apanhou a greve de 69 na mesma universidade mas dessa vez porque, pela primeira vez, os estudantes venceram, já ninguém o perturbou.

** Verrá la morte i avrá i yuoi occhi Cesare Pavese Há tradução portuguesa

*** stessa piaggia, stesso mare, canção de Mina, 1963

estes dias que passam 829

d'oliveira, 20.08.23

as desventuras de Pinho

mcr, 20-8-23 

 

A última página do Público, edição de hoje, domingo, relata,  a quatro colunas  (!)  que o antigo ministro, afora em prisão domiciliária, viu a sua substanciosa pensão arrestada pela terceira vez(!!)  E  sempre pelo mesmo magistrado, a pedido de um procurador (que também é sempre o mesmo)  e sempre por motivos que se prendem com um processo que, afirma-se no artigo, já dura há doze anos.

Pelos vistos, o Tribunal da Relação já, por duas vezes (!) revogara a decisão do juiz! 

Desta feita, no último dia em que esteve no Tribunal Central de Investigação Criminal, o juiz Carlos Alexandre, voltou a "congelar" a mesma pensão (de 26000 euros, ena, ena!) porque, segundo Pinho,  é  "o único arguido do caso EDP que tem contas no estrangeiro e filhos que não vivem no país". Supondo que esta parte é idêntica ao que vem nos autos, mas desconhecendo todo o processo, fico um tanto ou quanto alarmado. Na verdade gostaria se saber se há ou não as referidas cobras, quanto valem e qual a razão porque ainda (ao fim de doze anos!...) ainda não houve processo de as arrestar.  

Depois, há a questão (sempre pressupondo que esse motivo foi invocado ) dos filhos que vivem fora. Cometeram estes algum acto que permita desconfiar que são de algum modo cúmplices do pai, restas de ferro deste ou que, de algum modo, possam prejudicar o andamento  piano, pianíssimo deste processo?

Por outro lado,  desconheço os argumentos da Relação que, por duas vezes, chumbou a decisão do agora seu novo membro.  Na altura não foram invocados para o arresto  estas duas mais que conhecidas circunstâncias, a saber o facto de Pinho ter prole e contas fora do país?

 

Nao tenho pelo ex-governante a mínima simpatia, bem pelo contrário. Não gosto da criatura, nunca gostei, assarapantei-me como é que o homenzinho se dedicava a fazer corninhos a um deputado, nunca percebi como é que conseguiu dar aulas na Colúmbia University, escola  altamente reputada nem jamais entendi como é que alguém terá entendido pagar-lhe os salários milionários que terá auferido.  Apenas o vi uma vez numa mesa de café frente à minha e só me recordo que se vestia com evidente mau gosto.

No meio da notícia refere-se ainda um procurador homofóbico (ou tido como tal e sujeito a um processo à conta disso) que descarregaria em Pinho a sua raiva contumaz no que contaria com a ajuda do juiz Alexandre que agora será também alvo de uma queixa.

Devo, aliás, dizer que tenho algumas reticências sobre o bom trabalho do juiz Alexandre que me parece pessoa integra e trabalhadora mas também incapaz de trabalhar em equipa seja com quem for. Também neste ponto apenas me baseio no que, vezes sem conta, os jornais noticiaram. Este magistrado mesmo assoberbado de trabalho não gostaria de ter colegas bo mesmo Tribunal e isso poderá, como recentemente aconteceu (caso Altice) m ter  prejuicado os interrogatórios dos principais susoeitos que viram a sua detenção prolongada pelo facto do magistrado ter sido obrigado a despachar uma centena de assuntos antes de os poder ouvir. Das duas uma: ou o juiz tinha um trabalho sobre-humano oque deveria desde sempre ter denunciado e recusado porque isso afecta claramente a tarefa de qualquer pessoa   e mais ainda a de quem tem de poder julgar questões que podem interferir com a liberdade dos cidadãos; ou julgava-se um super-homem, quiçá uma espécie melhorada do juiz Roy Bean de saudosa memória mas sempre ancorada aos mitos do faroeste. 

 

No meio disto tudo, e para lá da anedota, temos que há algo que está podre no reino de Portugal-

Um processo arrastar-se por doze anos e sem fim (nem julgamento)  à vista é algo digno do pior fascismo, do pior comunismo da pior barbárie. Imagine-se, por um só e irrepetível momento, que, depois disto tudo, os arguidos vão a julgamento e são absolvidos. Doze, treze ou quinze anos  devida perdida, de reputação destruída, de vergonha pública permanente.

E não vale a pena  tentar perceber onde reside a fonte deste escandaloso desperdício, deste vexame nacional. Fala tudo desde funcionários nos tribunais, tribunais decentes, gabinetes adequados, informática , técnicos de toda a ordem. E agora, cereja no bolo, parece que nem sequer há candidatos suficientes ao CEJ. E isto quando, apesar de tudo, os ordenados dos magistrados estão acima, bem acima, da média dos restantes da função pública.

Dir-me-ão que o mesmo se passa vergonhosamente   com os médicos que fogem do SNS a sete pés, que o Estado não consegue recrutar informáticos suficientes ou que, a tropa se debate com uma crescente sangria de praças, cabos  a pontos de se dizer que há dois superiores para cada inferior!!! (notícias de ontem em jornais, rádio e televisões)

Em boa verdade também na maioria destes casos não há ministros nem secretários de Estado que ultrapassem o nível de um técnico auxiliar e subalterno. 

Não há, neste abençoado país quem leve a sério os ministros da Educação, da Saúde, da Justiça, das Infra-estruturas ou  da Agricultura. Nem sequer os militantes e activistas mais destacados do partido socialista. Quando falo disto com amigos socialistas dói-me ver como eles se retorcem, coram,  esquivam e acabam por balbuciar  que "no ouro lado é a mesma miséria!"

Será. Não será o filho do meu pai quem os contradirá mas, na verdade, o poder está nas mãos, e com maioria  absoluta!, do Partido Socialista  e ao fim de oito anos ainda se queixa do anterior !...

Os primeiros quatro anos o PS andou ao colo do Presidente da República que dividiu tal tarefa com o senhor Jerónimo de Sousa que foi o verdadeiro padrinho da Geringonça e o principal, senão único, responsável pela paz nas ruas, pela ausência de greves e pela mansidão dos protestos (e, provavelmente, por isso, pelo definhamento do seu partido...)

 

Por outras palavras: tem a faca e o queijo na mão e cortam a mão!

 

Ora aqui está como se começa pela desventura particular do  sr Pino e se acaba pela mais geral e mais pungente que é a que nos cabe.

 

 

(como calculará qualquer leitor/s prudente e avisado/a a queixa de Pinho morrerá na praia, Por várias razões e nem todas boas. Mas o mundo e,  muito especialmente, Portugal não estão maduros para responsabilizar magistrados)

estes dias que passam 828

d'oliveira, 19.08.23

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jornada lisboeta

mcr, 18-8-23

 

Já perdi a conta aos anos em que, por razões familiares, melhor dizendo maternais, passo a segunda quinzena de Agosto  em Lisboa. O meu irmão desanda para férias na praia e combinamos que houvesse sempre um filho perto da old lady que nos seus garbosos 101 anos (feitos e perfeitos) ainda não acha necessário ter sempre uma pessoa em casa. Não que queira fazer economias mas apenas por achar que ainda não chegou o momento. De facto,  há uma empregada contratada  para o efeito há uma boa meia dúzia de anos mas, para já a  referida senhora tem um horário mas invejável: aparece às dez, faz o almoço e desanda às três. Isto por um ordenado que corresponde   ao quádruplo das horas dadas!

Lisboa em pleno Agosto não é exactamente a receita que eu  recomendaria a qualquer pessoa mas também não é um sacrifício horrível. 

Aproveito para dar umas bicadas na Gulbenkian, nas livrarias em mais alguma exposição que valha a pena  ou encontrar amigos que nunca tenho oportunidade de ver  nas restantes vindas mensais por curto período.

Tinha projectado ver uma exposição  de estampas japonesas (melhor dizendo de uma exposição dedicada ao Ukiyo-E, ou "mundo flutuante"  uma das artes mais democráticas de sempre pois assenta em xilogravuras que desde finais do sec XVIII até aos inícios do XX   foram produzidas por uma pléiade de extraordinários artistas nas principais cidades do Japão.

Eu comecei a ouvir falar (e a gostar) das estampas japonesas exactamente em 1970 quando, pela primeira vez estive em Berlin (ocidental), para uma estadia no Goethe Institut onde fui, de facto, aprender alemão a sério. Em boa verdade tal aprendizagem nem foi difícil  porque ou aprendia a língua ou morria à fome e de pasmo.

O  GI era a dois passos da Kurfursterdam  e logo num dos primeiros dias vi um cartaz com a enigmática expressão "Ukiyo-E" à porta de uma galeria. Como sou mais curioso do que uma inteira ninhada de gatos, nem hesitei. E descobri esse mundo mágico, delicado, poético e admirável das estampas japonesas. Hoje tenho dois metros de catálogos e livros sobre  tema e atrevi-me mesmo a comprar, a preço forte, um par de gravuras

Portanto, logo que soube que o senhor Gulbenkian fizera uma copiosa colecção e que a fundação preparara uma exposição, entendi que uma das prioridades desta temporada era ir ver a exposição.

Não previa a ida para hoje porquanto e dadas as  minhas actuais condições oculares também marcara uma visita a uma loja chamada Ataraxia  que é um verdadeiro repositório de toda a espécie de artefactos  para quem está pitosga. É um verdadeiro milagre poder encontrar toda a sorte de aparelhos que facilitem a vida de quem já vê mal, ou muito mal.

Entre os aparelhos que lá se encontram há uma  série de lupas electrónicas de pelo menos quatro tamanhos  que voltaram a dar-me o prazer de ler sem esforço quer um calhamaço volumoso e grande, até ao jornal ou a um pequeno papelucho para saber como usar um medicamento. 

Nesta fase do campeonato já (felizmente!!!) não me preocupa o preço das coisas desde que me sirvam para manter uma vida tão agradável quanto possível. E ainda bem porque se trata de aparelhos que, sem serem uma absoluta novidade, ainda são demasiado recentes para  estar ao alcance de todas (quase todas...) as bolsas. Desta feita fui à procura de outros artigos mais baratos  (é um modo de dizer....) e quando, feitas as compras, o táxi chamado já estava a estacionar, uma das empregadas apresentou-me mais uma novidade (?): uma coisa pequena que finalmente tem por função ler um texto escrito (mas não manuscrito) e depois reproduzir tal leitura em voz alta. 

Vim desesperado por não querer fazer esperar o raio do táxi mas tenho a vaga impressão, ou quase a certeza, que segunda feira encomendo o raio do objecto. Trata-se de algo chamado "Orcam read" e anuncia-se como "um leitor portátil de inteligência artificial revolucionária" Terá dez, doze centímetros  por dois ou três de espessura. Isto é, leva-se perfeitamente num bolso e lê em duas línguas português e inglês!

Consegue apanhar uma página A 4  ou quase. Agora vou tentar saber se não haverá uma versão português/francês 

 

Como a minha visita à loja foi rápida, rumei à Gulbenkian para aviar a exposição. que era boa, não há dúvida alguma mas os meus olhos já não percebem bem tudo sobretudo porque toda a mostra estava num local demasiado escuro.

Ainda não há catálogo mesmo se quanto a outros objectos de merchandising haja farta escolha. Mas eu, desde sempre, estimei muito os catálogos, que são insubstituíveis quer na informação quer na qualidade da reprodução. E não percebo como é que uma instituição como a FCG  teve esta falha. De todo o modo a exposição é imperdível  e a  Gulbenkian parece tão recente e harmoniosa como há sessenta anos quando lá requentei um ciclo do curso de Direito Comparado

Depois são raras as manadas de turistas que assolam outros pontos da cidade. Só isso vale uma ida aquele espaço onde qualquer um se pode demorar um largo período de tempo desde a cafetaria até aos jardins ou aos museus. |a biblioteca e |a livraria. 

Ainda hoje, a fundação mão tem quem lhe peça meças. Em tempos chamaram-lhe "o verdadeiro ministério da cultura" mas hoje existe uma coisa com esse nome. 

Só que sem a projecção, a qualidade e um programa claro como o da Gulbenkian. 

Mas isso é uma outra (e triste) história...

 

 

 

 

estes dias que passam 827

d'oliveira, 15.08.23

Sol na eira, chuva no nabal

mcr, 15-8-23

 

Há quase seiscentos e cinquenta anos, o destino português de Portugal ganhou forma em Aljubarrota. Um petulante exército castelhano cuja marcha se estendia por mais de duas dezenas de quilómetros foi  estrondosamente vencido por uma minguada tropa portuguesa bem entrincheirada  naqueles campos semeados de “covas e lobo” e outros artifícios que afunilaram a carga da cavalaria pesada e a desbarataram. 

Não foi um milagre mas também nada se deveu ao acaso. O rei castelhano, também ele João, não assistiu ao esfacelamento da sua cavalaria nem à medonha retirada que se lhe seguiu. Vinha doente e só lhe restou voltar costas e rumar às suas terras salvando o que pode do seu exército mal ferido. O nosso rei João , o primeiro e o condestável fundaram um outro Portugal. E não espanta que o bastardo do Rei, Afonso mais tarde se casasse com a riquíssima filha única de Nuno Alvares Pereira o nobre mais poderoso do país Fundaram a casa de Bragança e os seus descendentes governaram durante quase trezentos anos até ao advento da República. Todavia não e disso que quero server mas de uma dessas insólitas conversas de Verão e dos seus ecos na comunicação c e partidária. 

Leio em diferentes páginas do jmeu jornal diário textos sobre o turismo e a sua influência na economia nacional e na crise da habitação. 

Pelos vistos, será ( ou já o é...) este o ano de todos os recordes de afluência de turistas estrangeiros.  Em contas limpas as receitas do turismo nacional dão aos não residentes 70%  dos muitos milhões ganhos. Uma senhora articulista fala em hotéis para turistas e casa para estrangeiros afirmando que uns e outros tornam a habitação mais cara e mais rarefeita. Ou, por outras palavras: aquilo que nos traz uma imensidão de divisas  condena o “povo” a viver na rua, a fugir para as periferias, a pagar juros altíssimos aos bancos e a suportar rendas tremendas ( e insuportáveis!).

No meio disto tudo, parece que ninguém lhe terá falado de um século de obstruções o arrendamento, de rendas congeladas durante anos e anos a fio, da parca parcela estadual na construção de habitações, no cerrado e contínuo ataque aos senhorios que são cada vez menos e desinteressados de um mercado que a incúria estadual e municipal criva de impostos e opróbrio . Ser senhorio é ser explorador e pior do que ser rico (condição o a mais de 70%  não chega...)- Os ricos, como se sabe,  deveriam acabar segundo um tonto militar “revolucionário” que teve como resposta de Olaf Palme a frase “nós (suecos) o que queremos é acabar com os pobres”.

Excitadas criaturas passaram anos a clamar que “os ricos deviam pagar a crise”  mesmo sem saber se havia assim tantos milionários e sobretudo se todos eles se cevavam no dorido pescoço dos  “trabalhadores”, sugando-lhes a substância, a força de trabalho e condenando-os a uma crescente proletarização. 

Claro que uma conspícua percentagem desses ricos, mormente  “grandes proprietários” e empresários  era obtusa, incapaz de pensar o futuro, de investir como devia,  malbaratava os lucros  num furor novo rico de péssimo gosto. Digamos que parte da classe possidente nacional era (económica e financeiramente) de uma ignorância que metia dó. 

De todo o modo, o problema da habitação nunca foi seriamente pensado pelos poderes públicos. Não houve investimento sequer moderado em habitação a preços toleráveis o desastre citadino foi-se mostrando em bairros outrora de classe média degradados, escassamente habitados, com prédios de rendas miseráveis e consequentemente sem reabilitação de qualquer espécie. O investimento privado diminuiu drasticamente e o que sobreviveu dirigiu-se à fatia turística do alojamento local . Note-se que graças e este, houve um geral restauro de casa e prédios  pelo menos em Lisboa e Porto.

(há mesmo a relembrar o extraordinário exemplo de um conhecido militante do BE com responsabilidades autárquicas que logo que pode, também ele investiu num prédio comprado a baixo preço e o reconverteu em AL semeando a novel propriedade numa colmeia de T1 para alugueres de curta duração! Frei Tomás  por um lado prega por outro faz!... ) 

Também é verdade que, a transformação de prédios antigos, muitas vezes quase vazios, em mau estado de conservação, poderá ,em contados casos, ter rarefeito o mercado. O mesmo ocorreu igualmente com uma onda de despejos de apartamentos no centro das cidades. Mas será conveniente lembrar que essa ocupação das zonas centrais i,plantava-se sobretudo em prédios mais vetustos, emcom más condições de habitabilidade como facilmente se percebeu na altura do incêndio do Chiado.

Fi já depois da Democracia estar consolidada em finais do século passado que a crise habitacional (que sempre existiu de forma larvar e que só não adquiria aspectos mais graves pela enorme dificuldade em levar a cabo, e em tempo útil, muitos despejos) começou a ganhar dimensão preocupante. 

Era nessa altura que os poderes públicos, aliás avisados, deveriam ter começado a fomentar uma forte intervenção no sentido da construção social,  

 Não o fizeram e, pior, continuaram a disparar sobre os senhorios privados que na sua maioria não tinham os meios necessários para reabili.tar o que lhes pertencia. É bom recordar qu, difusamente havia a ideia de substituir o arrendamento pela compra de casa própria criando em Portugal uma situação surpreendente entre os dois mercados. 

Tudo isto se prolongou sem que o nível de alarme atingisse como  hoje a estridência. E mais uma vez apontou-se o dedo aos malvados senhorios que escondiam do mercado uma enorme quantidade de casas devolutas. 

Presentemente, já se verificou que, se é verdade que há muitas casas devolutas, elas situam-se sobretudo e quase todas em zonas que se foram despovoando. 

Da ocupação desse lote que se supunha (erradamente) que era imenso passou-se à ameaça do arrendamento forçado cuja primeira versão era passada a papel químico das mais tristes experiências ditas socialistas. Obviamente, o Governo já emendou timidamente a mão mas não só persiste na asneira como afugentou ainda mais auma enorme percentagem de senhorios e mais e pior de investidores. 

A ideia peregrina que os nómadas digitais (cujo número nunca aparece ) e os estrangeiros andam a roubar habitação as massas pequeno burguesas e citadinas não lembraria ao careca mas lembrou a um par de criaturas que ainda não percebeu que quem vido de fora compra cá casa se dirige ao mercado topo de gama e na generalidade a casas que são não só recentes mas feitas para esse mercado. Pensar que os empreiteiros desistiriam desse mercado para desatar a construir casas de baixo custo é apenas um burrice supina e uma completa ignorância do que move este mercado que, aliás, tem perdido continuamente vitalidade. Hoje em dia, constrói-se um décimo do que há 15/20 anos se construía.

No entanto ao compulsar os jornais, mesmo os mais sérios e interessados o que resta é uma caricatura. Por um lado uiva-se freneticamente que somos uma espécie de campeões do turismo e que todos os anos se batem largamente os recordes do ano anterior. 

Ao mesmo tempo, há um formidável bramido contra os estrangeiros que ocupam as casas ue nos são devidas quer comprando-as quer ocupando-as graças ao arrendamento local. Nem sequer se dá conta que este último dá sinais de desinvestimento notório e de preocupação devido ao que eventualmente a lei possa ocasionar para futuro. A pp 4 do “Público uma senhora consegue titular o seu artigo a seguinte forma “casas paa estrangeiros e hotéis para turistas” convenhamos que os hotéis são para turistas cá ou na Eritreia no caso extraordinário desse país miserável e ditatorial ter algum turista. E por outro lado também ninguém esclarece qual é a real percentagem de construção pronta para estrangeiros e, sobretudo a qu preço é que essa construção de luxo é negociada... Parafraseando uma grande escritora já quase esquecida “uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma” (Irene Lisboa)

Mais à frente e no mesmo jornal noticia-se o enorme sucesso do turismo, os trinta e tal  milhões de estrangeiros chegados no primeiro semestre (pp 11 e 12) o que significa que 70% do turismo nacional se deve a esses mesmos estrangeiros. 

 

Conviria, pois, saber o que é que queremos nestes dois capítulos. Uma coisa é certa: não é possível ter ol na eira e chiva no nabal . Pelo menos nos tempos mais próximos ...

 

(A propósito

Cresci numa cidade  em que o turismo já era o motor do desenvolvimento local mesmo se na quase totalidade os visitantes fossem  portugueses (mas com uma percentagem importante de espanhóis que chegavam lá graças ao caminho de ferro linha da Beira Alta (e ramal da F foz)que já lá não chega como também acontece com a linha do Oeste que está interrompida em várias zonas. 

Nunca me passou pela cabeça culpar os “banhistas” de Verão pelas más condições de vida na minha cidade mas com o tempo fui percebendo qu se se adormece à sombra do turismo, acorda-se estremunhado no meio do deserto e devido ao aparecimento de novas rotas e modas turística

O actual turismo português deve muito às “revoluções“ do mediterrâneo árabe que rebentaram com o gigantesco mercado turístico que ia da Líbia a Marrocos. Quem faz férias quer segurança e isso hoje em toda a orla mediterrânica do sul é matéria rara ou desaparecida. Porém, e também por cá, começa a perceber-se que a alta de preços no Algarve (que aliás não é de hoje) atira turistas portugueses para o  Sul de Espanha e para as Caraíbas)

estes dias que passam 826

d'oliveira, 12.08.23

 

 

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coincidências

mcr, 12-8-23

 

ando num verdadeiro frenesim a arrumar coisas antigas, a fazer fichas de livros e de cds e dvds de cinema que se já existiam estavam, agora e para estes olhos, quase ilegíveis. no meio destas aventuras dei com uma pilha de mini-agendas de bolso respeitantes aos anos 1973 a 2004 (as que cobriam os anos 6o, entrda na uiversidade, a 72 foram pilhadas pela PIDE durante uma rusga  seguida de prisão e nunca as consegui -nem tentei...-recuperar)-

Eam pequenas agendas que em seis folhinhas duplas continham os meses do ano com uma linha respeitante a cada dia. Portanto eu só podia escrever o que de mais relevante acontecera e ainda bem pois se a coisa fosse maior, a preguiça teria rapidamente impedido a relação de factos.

Ora, hoje, o Publico trazia na Revista uma longa reporagem sobre Amsterdam onde eu fiz o último ciclo dee curso de direito comparado (mais tarde continuei com o direito do trabalho comparado e com um coutro sobre as instituições europeias internacionais).

Nao vou sequer dar-me ao (saudoso, alegre, festivo) trabalho de descrever o que para um jovem advogado português esta frequencia da Faculté Internationale pour l'Einseignement du Droit comparé representou. Em tudo: na aprendizagem de algum Direito, na outra e mais vasta da liberdade, na troca de ideias com colegas de toda a europa ocidental (e de alguns raros estudantes, hungaros, romenos, polacos e jugoslavos da central então ocupada por uma caricatura reles feroz e vil de "socialismo" que, além de pobre, prisional e ditatorial, era tudo quanto Marx alguma vez previu nos seus piores pesadelos). Era, foi  a experiência de viver fora do país cinzento e triste por períodos relativamente longos em terras italianas, francesas, holandesas que mais tarde se alargariam à Jugoslavia (Eslovénia) e a Espanha. 

Lembrei-me de ir ver o que dizera nesse longíncuo dia 12 de Agosto de 1973, há preciamente 50 anos. E, de repente, uma pequena história de solidariedade com este prtuguês desamparado que começava a fartar-se das mesquinhas perseguições (e das cadeias onde ia estagiar de cada vez que era preso). De facto, nesse exacto dia 12, um dos nossos professores encontrado por mero acaso em Roterdão encontrou o nosso pequeno grupo exculsionista e almoçou connosco. Esse cavalheiro inglês atipico era alto funcionário bo Conselho da europa e ao saber dos meus dissabores políticos na pátria madrasta e, se me permitem a citação, "lugar de exílio" afiançou-me que me poderia arranhar trabalho nessa prestigiada instituição se porventura quizesse viver em Estrasburgo. Fiquei entusiasmado e combinei com ele preparar a minha ida caso as coisas continuassem a apertar. Tudo era melhor desde o ordenado até à segurança social e às férias. E só nao fui porwue a poucos dias de dar o salto um colega meu que fazia a tropa me preveniu do iminente golpe militar que sucederia ao desastre das Caldas.

era esse encontro holandes  que registei no cadernin em cinco pobres mas esperançosas palavras "conversa com o professor R."(sic)

esse ano de ha cinquenta anos, esses mês pleno de descoberta ainda hoje me assombra. De facto, logo no dia da chegada,ainda mesmo antes de rumar à residencia estudantil onde ficaria hospedado, encontrei um amigo e colega holandês, o Bob com quem na primeira sessão do curso  dorealizada na Gulbenkian, anos antes, travara amizade. 

eu tenho (ou tinha) por hábito quando   visito uma cidade desconhecida, munir-me de um mapa e deixar-me perder- Ora em Amsterdao a coisa é fácil porquanto nunca me lembrei que os canais se dispõem em círculo. Depois de dois ou três quilometros, farto de não chegar onde queria e com umasede ancestral, arribei a um curioso bar no Spoi, mesmo ao lado da famosa "beguinaje"e ao lado de uma livraria que se chamava Ateneum! E quem vi, no meio da multidão sequiosa, a alta e magra figura do Bob de copo na mão. Foi uma festae graças a esse encontro absolutamente inesperado, voltei a ever duas outras colegas holandesas uma das quais estava noiva de um descendente do dr Tulp o médico que preside ao erradamente quadro de Rembrandt conhecido pela "lição de anatomia".

Graças a esse encontro pude visitar a casa de família desse novo conhecido que por ter um longínquo antepassado retratado por Rembrandt tinha nessa casa myseu todos os restantes avoengos também retratados pelos melhores artistas contemporâneios de cada um deles.

De resto a Holanda foi uma conrínua festa de encontros e surpresas.

Um dos mais cómicos encontros, em Amsterdao se não erro foi com duas conhecidas, mais do que amigas, portuguesas de que ocultarei o nome por raões óbvias. De facto as duas aventureiras pela europa tinham comprado logo que se viram na Jolanda umas camisas transparentes (mod de 73!) que se usavam sem soutien que também na altura era mal visto pelas feministas mais radicais. Ao encontrar-me ficaram atrapalhadísimas, tentavam esconder os jovens peitinhos. tive de lhes explicar que desde a residencia onde vivi até qualquer sítio o que mais se viam eram peitos nus enfom conertos por um manto leve e dáfano de fantasia. E convidei-as para um almoço num restaurante indonésio onde o rijstafel era bom, abindante e barato. elas encabuladas mas com farto apetite aceitaram e lá para o fim do repasto já não tapavam o peito com uma mão. ainda estão vivas e voutendo raras muito raras notícias delas.

1973, pelo menos na Holanda, ou em Amsterdam ou mais exactamente na Freie Universitat e especilmente na residencia ue me acolhia, era para um portuga relapso mas muito so sul, uma fonte de surpresas. A começar pelo quarto que me destinaram cujo ocupante habitual estava de férias. Deixou-me uma nota em qie punha todos os seus parcoa ghaveres à disosição e pedia-me que alimentasse im gato gordo e vadio que também pernoitava ali. E indicava inclusive as rações. Cumpri galhardamente  essa obrigação. Nas raras vezes que de manhã fui até à cozinha, encontrava mais holandesas desta feita em traje absolutamente menores que nada deixavam à imaginação! Lá nos cumprimentávamos amavelmente mas, confesso, que nunca perdi de vista o que via e que valia, juro, a pena. As holandesas não se mostraram aborrecidas com o olhar do pasmado do macho lusitano e até me ofereceram o cartaz que hoje faz de vinheta. às tantas aquela nudez nórdica, generosa e descuidada era apenas solidariedade. 

E não foi esta a única mostra de olidariedade recebida. Naqueles anos um jovem advogado ganhava pouco. Boa parte dos meus clientes eram sindicalistas e outros tantos era rapaziada a contas com a polícia política. A viagem e a estadia num país rico tiveram padrinhos: A Gulbenkian deu-me uma generosa bolsa, oa Faculdade não me cobrou quaisquer propinas, o governo holandês cujo primeiro ministro era aliás professor de Direito e membro do Conselho da FIEDC, ainda acrecentou outra bolsa, voluptuosa, em bons florins que fizeram de mim quase um estudante rico!

Finalmente, e sempre no capítulo "encontros surpreendentes, eis que no Mauritshuis (o melhor museu pequeno do mundo) quando parei diante da "vista de Delft" de Vermeer surpreendi uma discussão entre duas jovens francesas sobre que personagem de Proust afirmara que o "petit pan de mur jaune" era a prova provda da grande arte.

Ora eu lera umformidável romance de Jorge Semprum em que um casal diante da mesmíssima obra prima discutia sobre o volume de "em busca do tempo perdido" aparecia a personagem de Bergotte e a teoria do melhor quadro do mundo, ou algo no género. 

Interrompi pois a discussão das duas francesinhas em flor e referi o livro de Semprum (A segunda morte de Ramon Mercader, Lisboa, 1970) que lera há pouco tempo. 

As francesas duvidaram: aquilo parecia uma tentativa de engate imaginativa mas .um um tanto ou quanto brejeira. De todo o modo lá trocámosdirecções e para provar a minha inocência tive, de à passagem por Paris no regresso da campanha holandesa, de comprar o livro  para lhes enviar. A resposta foi calorosa e as minhas suspeitas tinhamfundamento. Infelizmente, que me lembre,  esse encontro literário e proustiano, em Haia,  não teve seguimento já não sei por que razões...

(quando se chega a esta provcta idade, é preferível ter memórias a não a ter de todo graças ao alzeimer e outros males- Aos leitores resta-lhes ter paciência.) 

* a gravura não deixa grandes dúvidas quanto ao texto que, de todo o modo, aqui vai: "libertemos Portugal das grras da ditaura"

estes dias que passam 825

d'oliveira, 09.08.23

O fogo passa férias e Portugal

mcr, 9-8-23

 

O título poderia ser cínico se não apenas a constação medonha de um facto que pontualmente se repete durante o Verão.  

Não há volta a dar-lhe. em chegando os calores estivais, chgam yuristas ávidos de "sol, sal e sul"  e ao seu encontro saem os fogos. 

E não se pense que é apenas o interir abandonado que arde. Democraticamente, há fogos para todas as desgraçadas geografias portuguesas, com , de resto, sucede por toda a orla mediterrânic com especial relevo para a Grécia, vontinental e insular. Basta lembrar como ficou Rodes essa ilha belíssima onde as chamad expulsaam dezenas de milhares de turistas, destruiram o ganha pão de milhares de ilheus e carregaram ainda mais o sinistro mapa do desastre ambiental. 

Mas, mesmo solidário,  da Grécia que se ocupem os gregos que neste género de sucessos são ainda piores do que nós. E que não fossem: este ano o fogo assentou arraiais e vai mostrar cmo a sua força aliada à geral imprevidência vai consumir oliveiras, sobreios, medronheiros, pinhais e fofça de eucaliotos (mas não os plantados pelas grandes companhia papeleiras que se regem por leis ligadasao lucro e por isso tomam precauções que os pequenos proprietários, os ávidos proprietários, os displicentes e os ausentes não pofdem ou não querem tomar). 

Tomemos o exemplo do ainda actul fogo de Odemira que lavra tremendo, ameaçador, continuado, os territ´rios de Odemira. E que ameaça passar para a zona de Monchique onde há um autentico paiol  pronto a explodir. (escrevo cedo, de manhã sem saber o que a noite trouxe, se porventura esta humdade que se sente no Porto terá milagrosamente chegado ao sul alentejano)

Nesta fronteira alentejano-algarvia há madeira quimada em 2018 que ainda não foi recolhida! Nemvale a pena continuar... 

Neste cenário de desgraça e medidas que nunca são tomadas a tempo, uma frase de Tiago Oliveira incendiou as corporações de bombeiros voluntários que foram acusaos de ganha proporcionalmente à area ardida. A frase foiusada num contexto especial e deveria ter sido imediatamente explicada pois a seco lança uma torpe insinuação (que não estaria no epírito do autor dela).

A secas, a frase não é verdadeira mas também não é inteiramente flsa como fui tntar saber.  A área ardida é uma entre várias variáveis (e são bastantes) do que finlmente se paga às corporações de bombeiros voluntários (insisto nesta palavra: voluntários) que são sempre os primeiros a chegar porque mais próximos e mais enraizados na zona em chamas. 

Depois da revolta dos bombeiros, tiago Oliveira, um jovem inteligente, que até já foi bombeiro voluntário, deveria já ter vindo explicar o que disse. Porque o que disse toca -nos a todos, cidadãos que destas fogachadas sabemos muito pouco. E, porventura, os menos informados, os mais preguiçosos, os que pouco se ralam enquasnto o fogo não lhes bater bruscamente á porta, poderão convencer-se que o que foi proferido por uma autoridade com o peso de Tiago Oliveira é, a secas, uma clara condenação da multidão de voluntários que arriscam a vida de cada vez que saem para atacar uma fogachada. 

Tiago Oliveira é filho de um grande amigo e camarda meu, desde o nosso comum ano de caloiros, César Oliveira, um democrata dos quatro costados, dorajoso, amável, divertido, caloroso e um historiador e político que a morte levou demasiado cedo. Se o filho sair ao pai, e quero crer que sim, virá tão depressa quanto possível explicar de modo a que todos, mas todos sem excepção, percebamos. 

Nõ sei se esteapelo aqui feito, khe chegará aos ouvidos ou aos olhos mas, pelo César "terrorista" (assim lhe chamavamos brincalhinamente em Coimbra) quero crer que sim. que virá e explicará, olhos nos olhos, tudo isto poeque sempre que há fogo poucos se lembram de ir perceber tudo, mas tudo, tin-iim por tin-tim. 

Não basta o Ministro vir dizer que o autor da frase não quis dizer o que, à primeira impressão, parece ter sido dito. É Tiago se hrdou a frontalidade, a generosidade e o sentido de cidadnia que animava o pai, que tem imperiosamente de vir à praça pública. Ganharemos todos, cidadãos descuidosos, bombeiros, e todos os que ainda nem se deram conta do que se passa. 

Para apagaro fogo,não basta água, aviões, homens destemidos. É preciso saber, muito saber, medidas tomadas com larga antecipação, respeito pela geografia, vontade de mudar a floresta e a vida num interir cada vez mais próximo do litoral que afinal também pode arder, como ha mais de trinta anos ocorreu na serra da Boa Viagem a dois passos do mar, da prais e de Buarcos, terra que sempre reivindico  como minha mesmo se nascido numa burocrática maternidade em Coimbra.

Não passo de "um pobre homem" de Buarcos como o meu admiraso Eça  era "um pobre homem da Póvia do Varzim". 

(coitado em vez de os seus ossos continuarem sepultaos na Tormes que ele inventou eis que o transferem para o Panteão onde seguramente repousam pessoas de que ele não iria gostar naa. Só falta irem desinquietar Camilo o seu grande enorme rival. conhecendo o país como conheço só me admiro de ainda ninfguém se ter lembrado de o desenterrar para ir para Santa Engrácia, a chatíssima igrja que demorou uma eterndade a ser construída.  

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