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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 824

d'oliveira, 07.08.23

"ainda não é o fim nem p princípio do mundo..."

mcr, 7-8-23

 

 

Ya se van los pastores 

a la Extremadura; 

ya se queda la sierra 

triste y oscura. 

 

Permitam-me os leitores, os pacientes e generosos leitores,  que comece o folhetim com duas citações. O título é roubado a Manuel António Pina, um amigo que conheci nos anos 60 (sempre essa época magnífica ...) e é o título de um grande e belo livro seu.

A quadra é de uma canção popular espanhola que ouvi, e logo aprendi, em Berlin, no meu trigésimo ano de vida, pela bela voz da Maria uma castelhana que connosco aprendia alemão no "Goethe Instittut". -Éramos um grupo alegre, atrevido, composto de 2 portugueses,  2 norte-americanos, um casal italiano, uma francesa  sem pelos na língua e a referida espanhola. Acreditávamos num mundo novo, outro mesmo sea triste visão pata lá do check-point Charlie (que atravessámos vezes sem conta...) começasse a erodir crenças antigas.

(abreviando : como disse um amigo meu, turco, fanático de Nazim Hikmet (por aí começamos uma vela amizade) ao ver um grupo de bonitas prostitutas na Lenin Platz  frente ao bar onde bebíamos um cerveja proletária mas cara para boa parte da possível clientela alemã-oriental. Ao ver as raparigas que propunham mil coisas deliciosas por muitos marcos orientais ou por apenas umas dezenas de marcos ocidentais, "dos bons, dos verdadeiros" (sic) só murmurou  desolado "Genosse Marcelo, Democratie, Democratie..." 

Acompanhei-o "in imo pectore" porque apesar de já estar a descrer dos amanhãs cantantes ainda esperava um milagre que não ocorreu como se sabe.

Todavia, e voltando à quadra de uma bela canção popular de Leão ou Castela, não só, talvez abusivamente, recordei anos felizes mas duros, esperanças de certo modo goradas mesmo se me possa gabar de ter com muitos/as companheiros/as contribuído para a mudança quase radical de 1974.

E mesmo hoje, tantos anos passados, tantas realidades ainda penosas, tanta ambição descarada quando não criminosa, tanta reescrita do 25 de Abril e do seu espírito original, oiço a voz so Rui Feijó (resistente toda a vida, acolhedor de fugitivos procurados pela pide, membro da comissão nacional de socorro aos presos políticos, deputado constituinte e homem de bem, inteligente e culto). A cada aniversário do 25A lá me ligava e apenas para me dizer "apesar de tudo valeu a pena..." 

Alguns amigos, desses tempos de vinho e rosas, de chumbo e solidão, que ainda sobrevivem já me contactaram para me dizerem entre comovidos e espantados que esta "miudagem" lhes lembrava aquele tempo só que "em grande e tecnicolor" (um abraço Zé Goes e Ana Patrício. que bom saber que estão vivos e atentos!) a nossa "juventud  divino tesoro (Ruben Dario)

Hoje, segunda feira, já muitos, quase todos, desses invasores, mensageiros da alegria terão partido. Porém, o seu rasto permanece  e, com sorte, permanecerá pelo menos entre  a "miudagem" portuguesa e os milhares de famílias de acolhimento, ou seja entre o melhor da comunidade católica (e não só) portuguesa.

"foi bonita a festa, pá"!

 

(nota apenas para Zé Onofre: só tardiamente vi o seu texto. Penso que valia pena poder publicá-lo  em próximo folhetim com obviamente a minha resposta. Concorda? Um abraço )

estes dias que passam 823

d'oliveira, 06.08.23

Demais é demais!

Arre!

mcr com uma indigestão de televisão em 6-8-23

 

 

Sou mais curiso que as duas gatas que nos fazem o alto favor de partilhar esta casa conosco. Por isso, enchi-me de coragem e alinhei ba loucra televisofila da CG que, sem o aparelho auditivo assiste beatificamente enquanto faz variadas coisas. 

Eu que provavelmente também irei perdendo o ouvido não tenho essasorte e apanho com a verborreia dos jornalistas televisivos.

Jesus! Maria! José!  Só de ouvir esta rapaziada da comunicação social estou absolvido dos pecados (e terão sido muitos, ahime!) que ao longo de uma vida atrevida terei cometido. O reino dos céus espera-me de portas escancaradas.

Pior do que a cacafonia de dezenas de jornalistas e de comentadores/as foi a ignorância abjecta de reporteres que mesmo nos momentos mais solenes se atreveram (é o termo mais brando que posso usar), a começar pela tentativa de fazer flar quem  entregava as hóstias aos crentes e continuando pelas repelentes intromissões que abafaram não só celebrações religiosas mas igualmente (e sobretudo) alguns momentos musicais qie mereciam o respeito de quem quereria ouvir.

E seria bom lembrar que provavelmente alguns milhões de católicos portugueses que quiseram seguir a missa pela televisão form importunados, impedidos pela verborreia ígnara de uma quase totslidade dos reporteres de serviço que deram plena mostra das suas esparvoadas toleima e ignorância.

Convém não ignorar algumas peripécias que nem sequer form tolas mas também ridículas. Dentre elas, não é p(ossível esquecer o esfusiante, "enérgico" (e contenho-me para não ser acusado de injurias ao Chefe de Estado que é tão, tão inteligente que acaba por não perceber nada) cumprimento do sr Presidente da República que de tal maneira abanou o "velho homem de 86 anos" (sic) que só por sorte não lhe deslocou um ombro (ou os dois). Lamentável!...

Uma segunda nota para referir a incapacidade de quem planeou as reportagens, cheias de espaços mortos onde os jornalistas recorreram a toda a espécie de narizes de cera, de repetições, de lugares comuns.

Igualmente é de referir que a missão informativa foi postergada em tudo o que não era jornada mundial da juventude. Estou, felizmente, habituado  a seguir noticiários internacinais (espanhois, franceses, italiano e o euro-news) Só assim pude aperceber-me do estado do mundo. 

de certo modo, também me pareceu ligeirmente excessiva a presença do dr António Costa. Claro que, como 1º  Ministro deveria estar, e esteve, na recepção ao Papa, no encontro na Nunciatura. Vê-lo noutros momentos exclusivamente dedicados à fé pareceu-me um oportunismo de alguém que declarou radicalmente não ser religioso. Uma coisa é a hospitlidade, no caso política,  outra é a sua apregoada presença. Bem sei que o Papa disse que a Igreja é de todos e para todos mas os descrentes se devem, caso queiram, respeitá-la e conviver com ela, não têm de ser obrigados a estar nos actos de culto. Claro que isto, esta presença, é uma piscadela de olhos ao eleitorado católico, à multidão católica que, seguramente se poderá ter apercebido da sua força e da sua quantidade.

A Nunciatura deveria ter tido a precaução de avisar os centos de mães e pais de pequeninos que se concentraram à sua porta de que o Ppa, um homem de 86 gastos anos, não teria força, sequer tempo, para poder abençar todos os pequeninos.

Provavelmente, o Papa poderia, por breves instantes, ter aparecido a uma janela para abençoar quem, movido pela fé, ali esteve durante horas à torreira do sol.

Noticia-se que, durante a missa de envio, a multidão poderá ter ultrapassado o milhão e meio de pessoas (onde obviamente podem ter estado muitos portugueses não peregrinos).

Uma vitória para as comunidades católicas portuguesas que se desmultiplicaram na generosidade no aolhimento de quem veio de tão longe.Outra vitória (e retumbante) para as Câmaras de Lisboa e de Loures, e para o Governo também: Não restam quaisquer dúvidas que não só tudo foi feito a tempo, tudo correu ordenramente, tudo correu com alegria e que o retorno económico será, de facto, como Carlos Moedas previa.

 

Um voto: espero que o sr Presidente da Câmara de Lisboa possa pensar seriamente em melhorar significativamente as condições de vida infames do bairro da Serafina. Nem que sejam pequenos passos (criar balnearios, limpar ruas, fornecer energia eléctica, pontos de fornecimento de água)  Depois acabar com as barracas. Lisboa, a Câmara de Lisboa, tem muito onde gastar o gigantesco lucro que há de pagar as despesas feitas e sobrar.

Um segundo voto: começar quanto antes a resabilitrar o Parque Eduardo VII e assim contrariar a drª Clara Ferreira Alves que previa sombriamente um desastre para esse espaço emblemático.

 

Ite, missa est! 

Bom domingo e paz, paz verdadeira, no mundo, são os votos de um agnóstico que crê que este mundo (como a Igreja ctólica) é de todos os que têm boa vontade

 

 

 

 

 

 

estes dias que passam 822

d'oliveira, 05.08.23

 síndroma das Maldivas

ou 

 enquanto o sábio aponta a lua, 

o tolo só olha para o dedo 

 

mcr 5-8-23

 

às vezes, demasiadas vezes, pergunto-me se o defeito é meu ou se, de facto, andam por aí muitos alucinados.

Como os meus escassos e sacrificados leitores sabem estão em Portugal e Lisboa jovens de cerca de 150 países (ou mais, pouco importa). Também há quem diga que só está a faltar um único país a República das Maldivas, um país constituído por um bom milheiro de ilhas, muitas delas desabitadas. Situa-se em pleno Indico, perto da Índia e do Sri-Lanka e provavelmente só será conhecido de 4 ou 5% dos portugueses e apenas porque é um desses longínquos paraísos tropicais onde os eleitos se dão ao luxo de fazer férias.

Ora acontece que é precisamente este pequeno país ignorado de quase todos que é o mais falado. Justamente por não haver naturais seus aqui! 

Aproveito para sussurrar que esta constante referência aos faltosos maldivianos (?) e o correspondente silêncio sobre o resto, o imenso resto do mundo é uma boa metáfora sobre o ruidoso grupo de críticos que não percebem que o seu primário anti-clericalismo além de diminuir quem o pratica é uma arma que favorece muitos católicos e, sobretudo, os mais conservadores. 

O resto, esta miudagem nova, barulhenta, alegre, desinibida passa por este vozear torvo como um pato sob a chuva. 

A corrente católica renovadora e inclusiva responde com o slogan todos, Igreja para todos. Este apelo feito por um velho padre jesuíta que agora é Papa, um homem idoso, com meio pulmão, várias vísceras em mau estado, mas animado pela convicção que o Vaticano e a Igreja podem mudar e tentar voltar a ser não só o centro da Europa mas sobretudo novos portadores de uma mensagem de uma novidade de dois mil e tal anos que, não é a única expressão do sentimento religioso humano mas que, de certo modo, foi a que mais influência teve na civilização do nosso tempo.

Claro que muitos e muitos homens e mulheres críticos do fenómeno religioso contribuíram fortissimamente para aquilo que hoje somos, que hoje pensamos, para muito do que desejamos. Com esses me identifico e sobretudo com todos os que advogam a tolerância, o diálogo a ideia de que nascemos iguais em direitos (e deveres) e da intrínseca dignidade do Homem.

Mas os afectados pelo síndroma das Maldivas pouco se importam com isto mesmo se da boca o gritem, Eles preferem ver” o pelo em ovo”, saborosa expressão de uma antiga amiga brasileira que já há muitos e muitos anos se admirava com esta tendência tão portuguesa, tão pequenina, tão reaccionária. 

Não vale a pena elencar as barulhentas opiniões que mesmo sendo absolutamente minoritárias e   desfocadas do essencial (e tanto se poderia dizer...)

mas da gritaria destacam-se algumas. 

E começo por algo que desde sempre me irritou. A ideia que é preciso estar sempre a azorragarmos as nossas pobres carnes com  pedidos de desculpa pelo que ao longo de tantos séculos  o povo ou os dirigentes deste país fizeram.

O exemplo ais flagrante foi o bizarro pedido de desculpas feito por Mário Soares (um homem inteligente e um licenciado em História) a propósito do massacre de judeus ocorrido em 1506 em Lisboa. Como se sabe (ou melhor como parece que muita gente ignora) essecrime começou por ser atiçado por dois clérigos de D domingos mas alastrou por meia cidade com a ajuda de um bando de selvagens nacionais e larga percentagem de mareantes estrangeiros de navios estacionados no Tejo. É provável que muitos dos gatunos e assassinos que participaram no morticínio e mais ainda no roubo dos bens das vítimas bem sequer soubessem o que motivara aquele inesperado pogrom. 

Soares entendeu que o paísnão se portara bem e vai daí resolveu pedir desculpa por algo acontecido há mais de quatrocentos anos, Esqueceu-se, ou não sabia, que o rei D Manuel, ausente no Alentejo, mal teve conhecimento do sucedido mandou a mta cavalos uma chusma de gente sua que logo que chegaram prenderam, julgaram, condenaram sumariamente os mentores da canalhada. Provavelmente terão mesmo sido executados não direi inocentes mas cúmplices de pouca responsabilidade. Ou seja, a “justiça” do rei foi rápida e eficaz como bem escreve frei Bartolomeu dos Mártires, um autor que ninguém lê. 

Isto não apaga outras velhacarias feitas a judeus ou a cristãos novos mas no caso (e aqui que bate o ponto) a ordem foi reposta e o castigo rápido. Diante das ruinas de S Domingos lá está um pequeno e pouco inspirado monumentos a recordar a matança.  

Voltando aos dias de hoje. Toda a gente sabe que desde as primeiras navegações pelo Atlântico houve escravos negros trazidos de África. A coisa era simples um barco português chegava à costa africana e rapidamente se trocavam  com os potentados locais panos e quinquilharias por homens e mulheres tornados escravos em razias feitas no interior. 

Este comércio altamente lucrativo nuca parou mas evoluiu notavelmente. Os portugueses não precisavam de se meter pelos sertões pois na costa havia chefes nativos que forneciam escravos trazidos do interior. Convém dizer que a escravatura não era novidade na maioria dos territórios africanos antes existia  há muito e continuou a existir muito depois do fim do tráfico esclavagista. Isto não desculpa os mercadores brancos de escravos como é evidente mas é bom situar as coisas nos seus devidos e verdadeiros termos. 

Em Portugal, e desde há umas dezenas de anos, corre uma “revisão” da história colonial que já neste século levou um par de imbecis a pintar de vermelho a estátua do padre António Vieira. Logo deste padre que se tornou famoso pela sua acérrima defesa dos indígenas brasileiros! 

Correm petições para que seja erguido um museu da escravatura ou algo do mesmo género para “reparar” a ataque aos direitos humanos ocorrido nos séculos em que o tráfico frutificou. 

Houve escravos em Portugal e não teráo sido poucos pois deixaram inclusivamente na toponímia lisboeta sinais da sua presença. E no teatro, basta recordar “O pranto da Maria Parda” de Gil Vicente.

Há uma vista de Lisboa aliás um quadro duplo onde se vê um negro com as insígnias de Santiago o que significa que ele seria pessoa de importância.

Todavia, ese elemento constitutivo da população portuguesa desapareceu, foi absorvido lenta mas seguramente por dezenas ou centenas de anos de casamentos ou de ajuntamentos co mulheres e homens portugueses. Mas disso ninguém fala, evidentemente. 

Agora, e relativamente à recente história da Igreja portuguesa rebentou o escândalo da pedofilia clerical. Uma comissão nomeada pela Igreja avança o número de quase 5000 vítimas. 

Para mim basta-me uma pequena vítima para me indignar da mesma maneira que para um provérbio judeu que diz que quem salva um homem salva o mundo.  

Para os sacerdotes arguidos ou acusados (que de todo o modo foram uma minoria entre os seus pares), a Igreja (mas não o Papa que logo condenou) lá foi empurrada os trancos e solavancos para a condenação. Quando digo Igreja  refiro-me à hierarquia (mas nem sequer toda) a qual bastaria recordar o versículo de Mateus (18,6) que reza: Entretanto, se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe seria amarrar melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar.

No exacto dia em que o Papa recebeu algumas das vítimas, uma comentadora  da CNN  que além de inteligente teria a obrigação de não se embalar com monumentos de homenagem a vítimas que precisam de outro género de reparação porventura menos vistosa mas seguramente mais apropriada, veio reduzir ou tentar reduzir a importância do que vira (ou não...) com a exigência do monumento. Duvido que as vítimas recebidas pelo Papa e por ele acarinhadas sejam da sua opinião.

 

Em resumo: nós portugueses não seremos castos como pretendia Pedro Homem de Melo mas adoramos sentirmo-nos infelizes. Esperávamos (alguns) que as coisas corressem mal e as coisas até agora têm corrido mais do que bem, excelentemente. Gostaríamos de ver as comunidades católicas tropeçar na sua impreparação, no nacional e notórios desastre organizacional e tudo está a provar o contrário. Como dizia uma amigo meu “nem o PC faria melhor!!

Esperávamos que aquela imensa quantidade de miúdos (enfim de jovens) pintasse  manta por Lisboa (e pelo país) e eles fazem uma festa exemplar, colorida, bem disposta. A polícia (de que eu tenho desde aquela mesma idade desta rapaziada péssima e continuada má memória tem sido notável. Milhares e milhares de famílias (só em Lisboa, Loures e Setúbal foram mais de dezoito mil!!!) mostram à sua singela e generosa maneira que os versos de “Uma casa portuguesa” afinal não são uma invenção salazarenta (diabos a levem) mas pelos vistos algo de intrínseco nos nossos compatriotas.

 

 

A latere: uma dúzia de filisteus foi interromper uma missa com  presença de gente LGBT. A polícia correu-os da Igreja que eles com a sua acççao de tons sacrílegos estavam a profanar (este é o termo justo). Ao fim e ao cabo, numa Igreja que o Papa e milhares de católicos que desejam de todos eles saem dela, não a aceitam. Recordem: era uma dúzia e os outros são um milhão. Isto tem de querer dizer algo (palavra do agnóstico...)

estes dias que passam 821

d'oliveira, 04.08.23

80% dos portugueses esão enganados !!!

mcr, 2 -8-23

 

Leio desde o primeiro dia o "Público" e, desde o primeiro dia, tenho motivos de desacordo. E isso porque este jornal (como o "Expresso" que também leio desde o primeiro dia ou como "Le monde" que me companha desde 1961) abre as suas páginas a todas as correntes de pensamento, dá guarida a colaboradores de uma a outra ponta do arco político português ou mesmo ainda mais além.

Nunca pensei em deixar de o comprar (que eu compro religiosamente um monte de jornais e revistas e só os deixo quando acabam ou quando (no caso o El Pais) se deixam de vender cá.

Por razões de várias ordens tive a sorte, e em certos casos o privilégio , de viver curtos períodos (entre um e seis meses) da minha vida em França, Espanha, Itália e Alemanha (na época na RF, ou seja na Alemanha Ocidental) Neste último país tive a imensa sorte de viver em Berlin ainda dividido e mais tarde na Baviera. Em ambos os casos consegui visitar com bastante frequência tanto Berlin oriental como a então Checoslováquia  na altura sob uma miserável ditadura comunista resultante do d infame ocupação depois da crise de Praga em 1974).

Estas estadias prolongadas que também tiveram como cenário a Holanda (2 meses) e a ainda Jugoslávia, fizeram-me ver  uma parte de uma Europa extremamente diversa. Como ainda por cima, durante todo o meu segundo ciclo do liceu, vivi em Moçambique, posso dizer que, graças à minha ilimitada curiosidade, consegui chegar a esta época com algum "mundo", provavelmente com um "mundo" bem mais alargado que a grade maioria os meus concidadãos.

Ao longo de duas vidas (a de antes do 25 A e a de depois)  posso também jactar-me de ter conhecido e sofrido na carne e nas aspirações da minha longínqua juventude, uma série de atropelos que não só não minaram os meus escassos ideais mas antes reforçaram a a minha crença na liberdade, na democracia, na igualdade e na dignidade de todos os cidadãos. 

Sou, provavelmente, um liberal de esquerda, pois foi nessa casa comum, ruidosa, multifacetada, pejada de diferenças que me fiz adulto e que aprendi a separar o trigo do joio, o oiro da purpurina a verdade das ideologias que a tentam retratar ou deturpar

Nunca votei à direita mas também nunca dei o meu pobre mas honrado voto aos adeptos da ditadura do proletariado, aos que defendem ou veneram a cultura do partido único, do partido dos gulags, da bufaria institucionalizada (cujo máximo e torpe exemplo foi a RDA dsa STSI e da sus imensa caravana de informadores de todos os géneros), da perseguição sanguinolenta da cultura, do terrorismo contra a dissidência. 

(e é bom que se recorde isto, esta medonha realidade do século X  paralela e simétrica do nazismo, das teorias raciais, da eliminação dos "sub-humanos" onde se juntaram judeus, mulatos alemães, ciganos, socialistas, comunistas, católicos, conservadores civilizados e uma dúzia de povos da Europa Central e Oriental. E convirá ainda lembrar que estas duas ignominiosas ideologias antes de se combaterem, se aliaram para dividir a Polónia e para permitir através de um pacto infame, a invasão da Europa e o prosseguimento da guerra a ocidente. Depois guerrearam-se, é verdade, É que não cabem dois tiranos na mesma sala, na mesma cidade no mesmo continente, sequer no mesmo mundo)

Tudo isto para dizer que por cá, também tivemos a manifestação dos pequenos jacobinos e jacobinas, que os jornais acolheram com generosidade mesmo se, como todas as reportagens o comprovam, há gigantescas multidões (e não só de peregrinos). Ler estes abencerragens do anticlericalismo mais serôdio, e comparar o que dizem agora, com os inflamados protestos de amor aos pobres, mesmo que seja duvidoso que alguma vez tenham realmente partilhado com estes sequer uma bica.

Os nossos jacobininhos e jacobinhinhas vociferam contra o estado laico que "agoniza" por gastar umas dezenas de milhões cujo retorno é já uma realidade decuplicada sem se recordarem que aplaudiram exuberantemente o desaforo do desperdício de mais de três mil milhões com uma TAP falida desde a nascença. Provavelmente ose sus meigos coraçõezinhos ainda batiam com a recordação da comunicação aérea e imperial com a ´África dita portuguesa onde de resto muito bom e estridente progressista esteve de arma aperrada. 

E tudo isto é particularmente curioso (e penoso de ver) quando se sabe que os católicos portugueses longe de se barricarem (como em Itália, do segunda metade so século XX) num partido confessional, distribuem serenamente os seu votos por todo o arco político e parlamentar.

Esquecem os piedoso e indignados jacobininhos e jacobininhas que são as estruturas católicas (Misericórdias, Caritas, centros paroquiais etc.) ou pela Igreja influenciadas (Banco alimentar, por exemplo) que conseguiram aguentar o impacto da crise, das crises aliás que se tem sucedido desde os princípios deste século. 

Estou à vontade para o reconhecer pois saí da Igreja há sessenta e quatro anos sem angústia, sem azedume sem imprecações. 

Ao fim e ao cabo sinto-me à vontade no seio de uma população em que três quartas partes se dá como testemunha da fé.  E resta saber quantos do outro quarto morrerão com a bênção de um padre, terão o seu caixão numa igreja ou na casa mortuária anexa e serão acompanhado por um enterro religioso. Mas isso seria entrar nos domínios da ficção, melhor dizendo no extraordinário livro "o drama de  João Barois" de Roger Martin du Gard, prémio Nobel nos finais dos anos dos anos trinta. 

 

O mais ridículo destas jacobinices amadoras é o facto de os tiros disparados pelos seus autores não só parecem ser de pólvora seca mas sobretudo acertam nos próprios pés. Ou de como gente inteligente ou que se presume tl acaba por cair em esparrelas que qualquer criatura menos dotada facilmente evita.

 

(RMG é também autor de um roman fleuve de altíssima qualidade "Os Thibault". Há tradução portuguesa) 

*a preguiça e, sobretudo a bimensal injecção nos meus dois pobres olhos atrazou a publicação do folhetim . Ainda bem pois o que a televisão nos tem mostrado supera tudo o que eu esperava e, julgo, dá-me razão.

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