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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 840

mcr, 28.09.23

pintura revolucionária

mcr, 28-89-23

 

meia dúzia de corajosos jovens activistas invadiram um local onde decorria uma conferencia e arremessaram tinta verde sobre um ministro português. O referido político estava integrado num painel com duas altas individualidades ao serviço do capitalismo anti-ambiental. Se bem recordo seriam dirigentes de topo da GALP e de mais outra empresa igualmente perversa.

No dia seguinte houve nova intrusão, desta vez sem tinta nas pessoas mas apenas nas fachadas, em que outros tantos jovens com um pano a servir de cartaz continuavam a luta árdua contra o capitalismo e os fautores da destruição do planeta. Um par de seguranças conseguiu escorraça-los em poucos minutos e os trabalhos de aniquilação do planeta prosseguiram imperturbáveis. 

A CG achou que um comentário meu era zombeteiro e anti-jovem e recordou-me a minha dificultosa juventude e o meu quase quotidiano protesto.

Tentei explicar-lhe que nessa época eu, e os meus amigos, sem latas de tinta muito menos armas de qualquer tipo, atacávamos palavrosamente um Estado que proibia, perseguia, silenciava, prendia e torturava qualquer vivente que ousasse duvidar do dr Salazar e do seu benévolo Governo que se regia pela técnica de aplicar aos energúmenos protestantes "uns safanões dados a tempo" (sic). Valeria a pena lembrar que à  época reinava o partido único, a censura prévia, a viciação de eleições que, de resto, estavam ganhas à partida, a proibição de partidos políticos e agremiações políticas e culturais diversas . Sobre tudo isso, travava-se em África um guerra que consumia lentamente algumas centenas de soldados por ano. (isto sem falar nos do outro lado que morriam aos milhares quer tivessem culpas ou não. Bastava-lhes o facto de serem pretos, indocumentados, quase não falarem português e, na maior parte dos casos revelarem medo dos soldados que os interpelavam. )

Eu nada tenho contra quem quer que seja que queira defender o planeta, contestar as políticas ambientais tíbias de vários países, a desertificação, a poluição dos mares e linhas de água, uma política construtivas que impermeabiliza   solos e permite cheias cada vez mais violentas. 

Lembraria, apesar de tudo que os países  mais poluidores são igualmente aqueles onde o protesto está proibido, é violentado e os seus militantes perseguidos, presos ou, em casos extremos, mortos.

Recordaria, igualmente, que são os países europeus, democráticos e ocidentais quem mais tenta minimizar as práticas anti ambiente, proteger a natureza, reduzir os efeitos nefastos  das perturbações climatéricas.

E insistiria ainda no facto de nestes mesmos países haver permissão de manifestação, de agremiação dos descontentes e alguma aceitação das suas teses. 

Todavia, é aqui, que há quem se manifeste e mesmo quem não de lembre que em países pobres (e são uma multidão)  há desflorestação, uso de carvão de madeira, desprotecção de espécies, más práticas agrícolas para já não falar em analfabetismo ambiental. 

Trata-se de um surpreendente anti capitalismo que, nos casos relatados poupou os representantes dos proclamados agressores da natureza para se cevar na roupinha do ministro, vítima mais simples e menos perigosa. 

Não tenho especial simpatia pelo aludido ministro qu, no entanto, é uma espécie de oásis no conjunto de luminárias a que chamamos Governo. 

Também  foi notícia que seis jovens portugueses propuseram uma acção num tribunal internacional contra 32  países.  Para além de Portugal, desconheço quais serão os restantes mas aposto que no lote não constarão, a Rússia,  a Índia, a China eventualmente o Brasil a Venezuela, a Coreia do Norte ou três ou quatro repúblicas semi-populares da América Central.

Os referidos litigantes são assistidos por uma  firma de advogados britânica especializada em ambiente e alegadamente a trabalhar pro bono. 

Lamento esclarecer a CG e algum/a leitor/a sobre as diferenças entre os meus antigos protestos que me valeram um par de demorados encarceramentos, muitas horas de interrogatório de pé  e sem dormir para já não falar na proibição de profissões ligadas à função pública até ao 25 A. 

Os actuais protestatários  tem honras de televisão, ninguém lhes afaga os lombos a cassetete e é duvidoso que algum tribunal os condene se, porventura, houver alguma queixa mesmo quando o ocorrido é público e se traduza num ataque directo e prejudicial contra uma figura pública ao serviço do Estado. 

Não pretendo, era o que me faltava, valorar os antigos tempos, ou os dirigentes da época, puta que os pariu!..., mas tenho a vaga impressão que estas manifestações traduzem mais uma moda do que uma reflexão; usam meios que não serão os mais adequados; atacam apenas quem parece menos protegido; ignoram tudo o resto e não aduzem argumentos claros, perceptíveis e, sobretudo entendíveis por quem não tem a sorte de ser estudante, viver confortavelmente e, de todo o modo usar produtos de tecnologia mais que anti ambiental desde os "ténis" aos smartphones,. Mas isso dava para outro folhetim...

 

estes dias que passam 839

mcr, 26.09.23

Ouvido, visto e lido

mcr, 26-9-23

 

em princípio a “silly season” teria acabado há um par de semanas. Estamos em Setembro, o Outono chegou com pequenos chuviscos e menos calor e se é verdade que ainda se não veem castanhas, não menos verdade é que as aulas começaram, os professores mantem a sua irrequietude, a falta de médicos em certas zonas continua apesar do ministro não a ver. O cavalheiro que faz de ministro tapa com uma extrema loquacidade as falhas mais evidentes e as reclamações mais simples.  Dir-se-ia que o homem é uma espécie de “Cândido” mesmo que se duvide  que alguma vez tenha lido Voltaire.

Ver a criatura na televisão (e ele, julgando-se fotogénico, perde-se pela televisão...) com o ar de sr Feliz  ou de sr Contente, nem sei qual prefira, com um ar risonho e um olhar cheio de manhãs que cantam, é algo que já deixou de ser engraçado para apenas se tornar patológico...

Vista e ouvida também na televisãoo foi uma srª ministra que, à falta de qualquer espécie de comentário sobre o último livro de Cavaco Silva, disparou esta pérola: ele terá “convivido com o trabalho infantil”! ...

Esta política faz-se de tonta ou então é mesmo assim. O trabalho infantil conviveu com toda uma série de primeiros ministros da democracia ou com mais precisão: impôs-se a essa série de cavalheiros. Foi algo que chegou a parecer um atavismo da sociedade portuguesa e seria bom inquirir se , porventura escondido, ainda continua a cevar-se nas crianças pobres. 

Seria bom lembrar que antes de Cavaco, esteve Soares, pessoa que, como o anterior não deveria achar graça alguma a essa lepra social. 

E também não parece despiciendo recordar que mesmo sem trabalho infantil visível (notem bem: visível) há por ai muita pobreza infantil escandalosa. Não sei a referida ministra, sem argumentos contra Cavaco, sofre também da acentuada miopia do seu colega da saúde , ou se entende o jogo político como uma troca de actos mesquinhos. 

 

No rescaldo das eleições madeirenses, as declarações atingiram alturas insuspeitadas. Nem vou referir as atrapalhações do sr Montenegro que parece ter ido por sapatos de defunto para cavalgar uma vitória que, de facto, foi evidente, robusta e, no continente teria dado uma maioria absoluta.

O principal representante nacional  de um partido que manteve um deputado na Madeira decidiu que isso foi uma grande vitória ao mesmo tempo que salientava que o resultado do PPD/CDS era uma derrota.  Ou o cavalheiro não sabe sequer aritmética ou não percebeu que o partido vencedor era  21 vezes maior que o seu... 

O representante do PS, que averbou uma estrondosa descida e perdeu todas as câmaras que anteriormente ganhara, esforçou-se por reafirmar que uma coisa era esta eleição regional, outra a eventual futura eleição nacional. O sr de La Palisse não diria melhor mas ficou por analisar a que se deve tal tombo eleitoral. E mais uma vez, lá veio a cantilena da perda da maioria absoluta. Também aqui conviria lembrar que a coligação vencedora perdeu um mandato enquanto  o PS perdia nove. Assim se explicam os  ganhos do Chega, do JPP bem como o regresso do BE e do PAN  a entrada da IL. Como também se afirma que o regresso do PAN é o resultado do deputado perdido pela coligação, temos que o PS alimentou o Chega, a IL, e o JPP. Basta fazer contas. 

A CIP propôs um 15º mês na condição de não ter também (convém acentuar este também de pesadas e caras consequências) de pagar os respectivos impostos. 

A menos que a minha aritmética elementar devida aos meus queridos professores primários de Buarcos esteja errada, haveria para todos os trabalhadores abrangidos pela medida um claríssimo ganho  e mesmo uma pequena boia salvadora para o mar revolto da inflação que nos atormenta.

Pelos vistos o Governo fez “ouvidos de mouco” e nem sequer perdeu um minuto a rentar perceber, quanto mais discutir, a proposta. O argumento que só dialoga dentro dos limites da concertação social é risível, pouco verdadeiro e mais parece uma fuga em frente. Bem que a medida só funcionasse durante estes tempos conturbados...

Parece que saiu um livrinho para crianças escrito em “linguagem neutra” conforme umas regras vindas sabe-se lá de onde. O dr Marques Mendes, afirmou que, mesmo sem ler essa obra maior da novlingua que uma minoria pretende impor, iria comprar a obra para dar aos netos. Pelos vistos, o ilustre candidato a candidato soube que um grupo de palermas teria irrompido pela sala onde o livro era apresentado  uivando dislates de toda a ordem. Isso bastou para passar um atestado de obra prima ao livrinho. Recomenda-se ao comentador que leia os livros antes de os propor. 

O partido Siriza que tanto emocionou algumas senhoras do BE, tem vindo a perder eleição sobre eleição. Nas últimas registou 2% dos votos. Vai daí contratou para presidente um ex quadro superior do banco Goldman Sachs, multimilionário, actualmente armador que promete levar a agremiação ao caminho da glória. Note-se que na eleição interna este cavalheiro esmagou uma candidata da antiga e quase desaparecida ala tradicional.  A Grécia sempre a inovar...

Aqui ao lado, em Espanha, o sr  Pedro Sanchez, dirigente do PSOE derrotado há mrss pelo PP com uma forte diferença de votos e de deputados prepara-se para tenar a investidura com os vtos dos nacionalistas catalães cujo único objectivo é, como dizia um amigo meu, catalão e jurista reputado, “libertar a metrópole catalã das suas colónias espanholas”

A Espanha, entre outras estranhas práticas constitucionais admite nas eleições gerais partidos regionais, permite o empréstimo de deputados para que partidos minoritários possam formar grupos parlamentares, aceita que em certas regiões a língua local se substitua à nacional e seja factor preferencial inclusive para se apresentar uma candidatura a bombeiro profissional ( o fogo tem clara preferência pelas línguas “nacionais” regionais...). além do que para prevenir o nacionalismo separatista inventou um enxame de autonomias sem par na Europa e sobretudo caríssimas e pouco eficazes. 

Esta tentativa da actual direcção do PSOE choca com uma boa parte da velha guarda do Parido (Felipe Gonzalez incluído) vai expulsando antigos dirigentes discordantes  e sabe, depois de várias sondagens recentes que se agora houvesse eleições, o PP aumentaria o número de deputados em mais doze o que lhe daria uma folgada maioria absoluta. 

Já no meu tempo, se falava de um “labirinto” espanhol e bastou-me andar por lá e falar duas das três línguas em questão (galego e catalão) para perceber um par de coisas, sobretudo esta: tais línguas usadas como arma de arremesso contra o odiado castelhano são rapidamente esquecidas quando se trata de fazer negocio com estrangeiros. De facto ninguém se dá ao trabalho de aprender basco ou catalão para viajar ou negociar. São raros, contam-se pelos dedos da mão, os escritores, bascos, galegos e catalães, que proíbem a tradução dos seus livros  em castelhano, ou seja, e para citar Camilo José Cela, em espanhol. Cá em casa moram algumas dezenas de títulos em galego e catalão, quase todos de poesia e posso afirmar que não foi tarefa fácil encontra-los nas respectivas regiões de origem. 

 

Final: na última semana, o sr Presidente da república não fez nenhuma declaração estrondosa. Teme-se pela sua saúde.  

O leitor (im)penitente 258

mcr, 24.09.23

 

 

As ossadas errantes

mcr, 24-9-23

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O seu primeiro  e breve poiso foi Paris. Daí transladaram-se para Lisboa onde moraram quase cem anos. Subitamente já no último quartel do século passado, alguém lembrou, e bem!, que a freguesia de Santa Cruz do Douro onde  Eça descobriu a mítica casa de Tormes, hoje sede da fundação que leva o seu nome  poderia dar guarida aos ossos do "pobre homem da Póvoa do Varzim". E assim se fez. Lá está num jazigo digno e simples o genial escritor. 

Todavia, a "panreonite", um mal vicioso que de quando em quando assola a não valente e imortal  não suportou que um dos seus "egrégios avós" (Se Eça lesse isto dar-me-ia cabo do canastro...) estivesse longe de Santa Engrácia, uma igreja desafectada que demorou quatrocentos anos a ser concluída. Aí repoisam uma série de figuras nem sempre maiores e por vezes absolutamente esquecidas. Nos últimos anos entraram lá o moçambicano Eusébio eas portuguesas Amália de Sfia de Melo Breiner. Correm zunzuns sobre a possível chegada de Aristides de Sousa Mendes e há quem vocifere o nome de Camilo  considerando injusto o pobre cemitério onde jaz. Nem  Aquilino  ( o melhor candidato ao Nobel que, à excepção de Hélder e Pessoa,  alguma vez Portugal teve )escapou ao  "engraciamento". De todo o modo ele estava nos Prazeres pelo que foi curta a viagem. 

Já há uns anos, aqui, referi a mania "engraciante" de voltar a fazer peregrinar os ossos de Eça. Na altura, o bom senso imperou e continuaram onde ainda estão. Em Tormes (santa Cruz) perto da fundação e onde são amiúde visitados por admiradores da sua obra e visitantes da Casa onde comeu o famoso arroz de favas. 

Não deixa de ser irónico que esta pequena terra e a quinta que sua mulher herdou tenha sido um sítio que ele mitificou e celebrou para sempre mesmo sem lá ter vivido tempo que mereça referência. Eça foi aqui recebido com fidalga cortesia pelos caseiros e carinhosamente tratado. Parece que até lhe emprestaram  uma camisa de dormir "de estopa" (uma camisa de note de núpcias, assevera um descendente desses honrados caseiros).

Na casa estão os poucos bens que se salvaram de um naufrágio e das difíceis deslocações dos bens aliás parcos, do escritor. E estão os livros, os manuscritos, a cabaia, a escrivaninha alta, o perfume de uma época e a dedicação dos herdeiros da casa.

As gentes da terra consideram Eça como um dos seus, provavelmente bem mais do que os lisboetas que ele retratou com agudeza e ironia. A politicagem actual, que parece saída, daquela ue ele descreveu na "Campanha Alegre", alguma (bastante) inteligentsia paroquial nacional  também alinhou pelo mesmo diapasão: "Panteão com a criatura"! Pelos vistos nõ o consideraram digno dos Jerónimos!...

Agora, sabe. -se que parte da família discorda desta nova migração ossuária. E vá de recorrer à Justiça, estragando a soleníssima festa já marada para um destes próximos dias.

Fosse eu crente e estaria agora a rir-me a bandeiras despregadas com a visão de Eça lá em cima a escrever sobre o destino terreno dos seus mortais restos. 

Mas, além de descrente, sou apenas um pobre homem de Buarcos, um "leitor (im)penitente" que assiste entre espantado, contristado e irritado aesta má acção contra Santa Cruz do Douro, a terra que alguma vez terá encantado o escritor e que o acolhia santamente no seu pequeno cemitério e cuidava amorosamente da sua campa. 

 

 

au bonheur des dames 602

mcr, 22.09.23

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sete já era! Agora é onze o que está a dar

(ou último dia do Verão...)

mcr, 22-9-23

 

Nem Jacob, nem Labaão nem Raquel, serrana bela. Nem os sete perdidos anos a que se somariam outros tantos para o pobre pastor, entretanto já com mais uns anos em cima, e pior ainda para Raquel alvo de desejo que terá passado de menina e moça para mulher já bem entrada em anos e carnes, quase uma velha para os cãnones daquela mais que longínqua época. 

A historieta abundantemente tonta da estátua de Camilo que, ao fim de onze anos (mais de quatro mil dias), foi finalmente descoberta por uma plaiade de "ilustres" cidadãos portuenses não mereceria tanto espaço neste blog não fora dae-se o caso de estarmos no fim do Verão com alguns chuviscos repentinos a recordar o belo poema de Rilka "Herr, es ist Zeit", e sobretudo a ideia de que não vale a pena olhar para a pobre actualidade nacional tentando extrair daí algum pequeno troço de carne para mordiscar.

É que entre as próximas eleições na Madeira que as sondagens apresentam como um passeio descontraído mas triunfal para o PSD local, até às promessas -sempre promessas - de um futuro risonho para os indigenas da Lusitânia que verão as pensões do próximo ano acrescidas de um "brutal aumento" ou as prestações da casa baixarem abismalmente graças a um truque contabilístico que será posteriormente pago no tempo das vaquinhas gordas... enfim nada de jeito, neste dcampo não se pesca uma alforreca!...

 

E é por isso, só por isso, que se regressa ao caminho de Damasco de duas dúzias de "ilustres" que ao fim de esforçados onze anos de caminhada gloriosa viram a luz edescobriram uma escultura horrorosa, plantada no centro da cidade, uma estátua "pornograficamente horrenda" (Rui Moreira dixit!), uma afronta à srª D Ana Plácido, ali supostamente repesentada nua sob traços não só lascivos mas sobretudo adolescentes, Jesus, Maria José, então há de aparecer um cavalheiro vestido e uma mulher nua? Onde é que já se viu isto, no excelso campo da arte? 

E logo no largo do amor de perdição que melhor estaria junto do antigo convento de onde Teresa pela última vez, vê o barco que, para sempre, leva simão...

Eu, apesar de tudo, percebo, que o dito conjunto escultórico tenha por dias, semanas, meses, um, dois anos passado despercebido aos baixo assinantes higienistas e defensores da cultura da cidade invicta (por onde todavia passaram exércitos invasores sem grande perda de tempo ou de esforço guerreiro...)

Mas onze anos, quatro mil dias? 

Onze anos a swapertar concuspicências várias de turistas perdidos , de maraus que aindasonham com as putas da rua dos Caldeireiros, com os autobilistas que demandam os parques de estacionamento das redondezas, com a juventude estudantil das escolas próxin+mas, com os eventuais mas minguados visitantes do centro portugu~es de fotografiaqueocupa o antigo Tribunal da Relação e a Cadeia onde Camilo penou e ana Pácido passava tardes a tocar piano na sua cela?

E ainda consta que o tempo actual é feito de corridas medonhas, de dias que atropelam os dias e as noites, Santo Senhor da Agoniaque tão tarde revelaste às almas puras o sacrilégio anti camiliano e anti placidiano daquela torpe escultura de que se requer por medida de higiene a remoção para uma cave municipal!

Em boa verdade se diz que o Verão é o tempo das questiúnculas orfãs de razão e de motivo, ao fim e ao cabo está toda a gente a banhos, no Algarve, nas Caraíbas, em Torremolinos ou numa prais fria da Foz, aberta aos ventos, mas onde, apesar de tudo, passam raparigas de biquini reduzido, tanga brasileira sem sequer saberem que a dois passos dali, Camilo frequentava um casino desaparecido onde, diz-se, perdeu fortes cabedais, coisa que aliás ocorreu noutras paragens desde o Bom Jesus até à Póvoa, isto sem falar em locais mais ou menos clandestinos em plena cidade do Porto onde a jogatana fervia... 

E, finalmente, vamos ao hediondo espectáculo da mulher nua e do homem vestido, esse ultrage às regras que "Le dejeuner sur l'herbe"de um tal Manet, indivíduo de maus costumes e desinspiradoe involuntário  inventor da palavra "impressionismo", criou com o único fito de ultrajar uma longínqua posteridade portuguesa e portuense que considera imoral juntar uma mulher nua a um homem vestido. 

E mais não se diz. O Verão finda, há pouco choveu, o outono anuncia-se. Ou, como diz Rilke, Senhor. é tempo, O verão foi muito longo...

(acrecento e esses prolongados calores exaltam as criaturas, fazem-nas perder o norte e o tino ...)

 

 

 

 

 

 

 

estes dias que passam 838

mcr, 20.09.23

Excessivo, Watson, absolutamente excessivo

mcr, 20-9-23

 

Nunca votei no sr. dr. Marcelo Rebelo de Sousa. Isso me basta para não me sentir responsável pelo que Sª Ex.ª diz ou faz. 

Na última semana, verifiquei mais uma vez o acerto do meu voto, melhor dizendo do meu não voto nele.

Não sou um moralista, muito menos sou avesso a um decote feminino, bem pelo contrário. Vejo, observo com a possível, mas voluptuosa,  discrição, tento guardar o que posso na memória e passo adiante. Sem comentários não porque obedeça a ditames do actual politicamente correcto mas apenas porque nunca fui adepto do piropo e muito menos sou adepto de embaraçar qualquer pessoa, no caso, mulher. 

É por essa, e apenas por essa, razão que me confrange a frase sobre a eventualidade de uma bela jovem poder apanhar um gripe dada a quantidade de seio a arejar

É-me indiferente o facto de a jovem querer exibir-se.  Está no seu direito mesmo se isso possa causar observações menos discretas. 

No caso, e como José Miguel Júdice, houve um MRS gracejador a debruçar-se sobre o ombro do Presidente da República. E este, pelos vistos, não se importou. Ou importou-se tardiamente, o mesmo é dizer que o mal estava feito e Inês era morta ...

E bem sei que, por cá, este tipo de piadas (que o não são ou sendo-o não passam de graçolas), cai no goto de muita gente. Basta ver como um cavalheiro da minha idade veio justificar alegados atropelos e vária actividade de assédio sexual, com hábitos em vigor quando era menino e moço. Nem sequer reparou, nesta improvisada e malograda defesa, que o que mais se criticava era a posição das alegadas vítimas sujeitas por razões diversas à sua influência e poder. 

Um Presidente da República nunca está sozinho e em público deve evitar qualquer acto ou rase que possa ser mal interpretado. Deve lembrar-se que hoje em dia há um claro e, por vezes, pesado escrutínio popular de todas as suas acções.

Se, como é o caso, tem por hábito expor-se  a delicadas misturas com os cidadãos seja por uma selfie, seja por uma conversa inocente, há que vigiar-se cuidadosamente porque, na pele de alto magistrado político, não é o cidadão que também é que está em foco mas a figura institucional e circunstancial que representa. 

Este suelto sobre um belo seio que se mostra não foi caso único. Basta recordar o caso da senhora avantajada em carnes que "poderia partir a cadeira em que se sentava". 

com a agravante, no último caso de nem sequer a frase poder ser tomada como elogio... 

Todavia, não apenas  este o aspecto em que as declarações do sr. Presidente suscitam alguma surpresa. Depois de uns meses em que algumas (mas não poucas) declarações  pouco amáveis sobre matérias e casos da estrita esfera do Governo, eis que, subitamente, como se houvesse mudança de rumo a 180 graus, o mais alto magistrado da nação se desdobra em elogios a futuras actuações do Governo mesmo se estas em pouco ou nada pareçam servir os cidadãos ou a sociedade em geral. Dir-se-ia que, antes mesmo se conhecerem objectivamente os prós e os contras de um par de propósitos apenas anunciados. 

Da guerrilha a que penosamente fomos obrigados a assistir parece que, pelo menos de uma das partes se passou à cumplicidade com actos futuros e desconhecidos! 

Com uma curiosa agravante: é que o Governo nem sequer se dá por achado com esses possíveis elogios (se é que não se trata de requintada ironia...)

E só não opto por esta hipótese só aflorada entre parêntesis,  porque se trata de algo demasiado remoto e pouco crível.

Direi que em qualquer dos casos,  há um excesso de verbosidade presidencial que em nada serve os interesses das partes ou a causa pública. 

Para além de poderem parecer um caso de pensamento errático, coisa a que o doutor Marcelo Rebelo de Sousa, analista político frio mas contundente, nunca nos habituou. 

Mas que tudo isto é, ou parece ser, surpreendente, não suscita quaisquer dúvidas.

E aqui para nós, muito à puridade, de nada nos serve ou conforta. 

 

 

 

AU bonheur des dames 601

mcr, 17.09.23

Lembrar Camilo

mcr, 17-9-23

 

Já por aqui referi a existência de um pequeno grupo informal que tem largas dezenas de anos e que se auto-batizou  "Sétimo de praia com latim e grego por fora".  O nome incomum vem de uma frase ouvida no antigo Liceu D João III que agora tem um nome diferente e que em nada ( ou muito pouco, "poucochinho") contribuiu para o engrandecimento de Coimbra ou da educação nacional. Na verdade alguém, por razões agora perdidas ou desconhecidas, terá declarado, presumivelmente a um polícia, "tenho o 7º ano de praia com latim e grego por fora"

Isto fazia referência ao antigo 7º ano dos liceus, grau que conferia farta empregabilidade, bem superior à que hoje é dada por um mestrado. Nessa altura a maioria dos liceais que chegavam ao 7º e último ano dos liceus eram candidatos a cursos ditos "de ciências", sendo que nos de letras preponderavam "Direito"  (para rapazes) e "Letras" (Românicas ou Germânicas e um pequeníssimo núcleo de Clássicas - os tais latim e grego...)

Naquele tempo a chegada à universidade não era pera doce, apenas os filhos da burguesia aí acediam, que o resto não tinha meios para mais cinco anos de estudos numa cidade longe de casa. 

Ora, por razões diversas e também por mero divertimento, um pequeno grupo entendeu adoptar parte da frase para se descrever mesmo se todos tivessem feito a universidade. A principal impulsionadora do grupo era a Juju "Cachimbinha", irmã de um inveterado fumador de cachimbo que garantia que ela era , de longe, a melhor cuidadora de cachimbos não só no que tocava á limpeza deles, coisa difícil,  demorada e chatíssima mas também uma expert  em marcas de cachimbos,   de tabaco para cachimbo e até conhecedora das artes de bom enchimento de um fornilho. 

Tudo isto sem que alguma vez a Juju tivesse experimentado qualquer espécie de tbaco mesmo se um ex-namorado despedido com justa causa tivesse propalado que ela mascava tabaco e era adepta do rapé. 

Mal fez o dito caramelo porquanto a Juju, que nunca foi boa de assoar, o procurou e esbofeteou em público no café Arcádia, sito à rª Ferreira Borges, em Coimbra quando o rapazola tentava infiltrar-se no grupo dos "teóricos", isto de um ajuntamento de especialistas de bancada, todos adeptos da Académica  e onde pontificava Miguel Torga que, diz-se bateu fartas palmas ºa esforçada esbofeteadora.

Por essa e outras refregas a que nunca se furtou, incluindo um "fiscal de isqueiros" mal educado e demasiado lesto na caça à multa, a Juju é o único membro do grupo que nunca usou uma letra por pseudónimo. Os restantes chamam-se e respondem por Y, W, Z, K, Alfa, Ómega  ou C de cedilha (sic) . E por aí fora...

A Juju licenciou-se em "Classicas", trabalhou sempre noutras e mais rentáveis áreas, e é ainda hoje uma especialista em Camilo. Sobretudo nas facetas menos conhecidas da sua produção literária desde as admiráveis cartas (e são muitas e saborosas)  até às incontáveis polémicas em que, tão belicoso quanto a "cachimbinha", o génio de S Miguel de Seide se envolveu.

E, no que toca, à vida e aventuras de Camilo, não conheço ninguém  que supere a minha velha e querida amiga. 

Ora, e indo direito ao assunto que aqui me trás, depois do meu "suelto" sobre a guerra das petições à CMP, eis que W e Juju me enviam i seguinte recado: 

"mcr  seria bom que recomendasses ao  crítico de futebol Rui Moreira que, à semelhança de Camilo, mandasse "a carta" (dos "ilustres" peticionários "higienistas") ao ventre fecundo da mãe terra pelo esófago da latrina".

(em nota a Juju declara que tem dúvidas sobre a atribuição de tal frase a Camilo mas "como tu já a usaste várias vezes faça-se a tua vontade. E "marmeleiro rijo nessa gangada !") 

estes dias que passam 837

mcr, 16.09.23

O ridículo não mata

(mas é pena...)

mcr, 16-9-23

 

 

Antes que me crucifiquem: não quero matar ninguém, sou mesmo contra pena de morte e sempre me horrorizou a censura seja ela de "esquerda" de "direita" ou de risco ao meio. 

Por isso, quando li o título da primeira notícia, tive o cuidado de não ler os nomes das duas dúzias de "ilustres" que subscreviam um par de parágrafos  caricaturalmente "camilianos" (não é Camilo quem quer e estes abaixo-assinantes não o são seguramente).

E a razão é somples: temia que no rol dos defensores do "bom gosto", da moral pública e do "bom nome e honra de Camilo, figurassem pessoas que eventualmente conhecesse, considerasse ou mesmo estimasse. 

Não seria a primeira vez que me estarreceria com o pedantismo atoleimado, com o auto-convencimento, com a soberba e a jactância de pessoas que antes me tinham impressionado favoravelmente.

Li, contristado, que o Presidente da Câmara do Porto acolhia entusiasticamente a moção dos "ilustres" e a apoiava com argumentos de uma pobreza evangélica e perigosa. 

E, o fim de  onze anos a estátua de Camilo abraçado a uma adolescente nua seria exilada para uma escondida sala de arrumos municipal. ou para outra qualquer catacumba destinada à pornografia, verdadeira ou falsa .

Igualmente me espantou a aberrante defesa da senhora  Ana Plácido que algumas farejantes confidentes da nova inquisição e dos bons costumes viam na figura feminina.  É obra! 

Também pouco me impressionou o nome da praça ( "do amor de perdição") pois preferiria que tal toponímia se aplicasse à zona em que Teresa, enterrada num convento à beira Douro, vê pela última vez o amante embarcado para o degredo. 

Anda por aí muito boa gente, armada em polícia de costumes, em arauto do "bom gosto" que, ao mesmo tempo, se encarniça contra peças de arte de todo o género por razões que têm pouco a ver com a estética, com a realidade, com o nosso tempo ou, pior, que olham para o passado com os óculos actuais ou com os antolhos de sempre e do politicamente correcto.

O provincianismo é sempre um perigo sobretudo quando se mete nestas andanças . E é o contrário de um saudável pensamento provincial mas isso passa longe dos olhares dos novos censores. 

O sr. dr, Rui Moreira foi um bastante aceitável Presidente de Câmara e durante muito tempo teve o cuidado de não se meter nestas cavalhadas do bom gosto e, mesmo quando  tocava no futebol, faia-o com algum bom senso. Pelos vistos perdeu-o, desrazoavelmente, com o ataque ao treinador do Futebol Clube do Porto (associação a que sou totalmente indiferente...). Pior: pelos vistos teve uma sadia e contundente resposta do sr. Sérgio Conceição e do eterno presidente da agremiação. 

Agora meteu-se nesta embrulhada da qual sai muito mal ferido. 

À uma, às duas dúzias de "personalidades" seguiu-se outro abaixo assinado por quatro mil pessoas que nõ querem que a estátua seja removida. 

Depois, apresentou um argumento que se verificou falso. De facto, a Câmara Municipal do Porto, e por unanimidade, aceitou há onze anos a oferta desta escultura. Houve pois um acto jurídico que estouvadamente Rui Moreira ignorou!

Convenhamos que o tiro de inicio desta batalha naval de jardim escola não afundou sequer uma bateria quanto mais o porta-aviões.

Já há um par de anos, apareceu outra abaixo-assinadela que pretendia contrariar a implantação de uns paredões na saída do rio. Argumentava-se dessa vez que tais paredões "com altura superior a quatro andares" (sic) mataria as "vistas" do rio e da Foz. Entretanto, a construção foi levada a cabo em nome da defesa da pesca artesanal e da supressão de parte da periculosidade da saída do rio. Hoje, da tal perda de vistas nem rasto. As personalidades não se tinham lembrado que a eventual altura dos molhes começava contar-se largos metros abaixo do nível médio das águas! ...

Eu tenho, provavelmente porque também daí venha, algum respeito e consideração pela "burguesia" portuense que, ao longo de muitos anos soube defender, engrandecer e melhorar a cidade. 

Agora, pelos vistos, uma parte dessa mesma classe, perdeu o sentido dessa missão , esqueceu a cidade e as suas gentes e entrou alegremente numa tola guerra do alecrim e manjerona. 

Que lhe preste!

A notícia de hoje é que a escultura permanecerá  no local onde foi colocada há já onze anos. 

Seja por bom senso, seja por perceber a toliçada político-estética em que se enterrou, Rui Moreira recua e a vida continua.

(nota conveniente: não conheço de parte alguma o escultor que criou a peça  que de resto também só vi de passagem e de carro. Culpa minha, máxima culpa minha ...)

estes dias que passam 836

mcr, 15.09.23

O general no seu labirinto

mcr, 15-9-23

 

A guerra da Ucrânia, ou seja a guerra que uma invasão torpe impôs a esse pais, tem permitido alguns delírios sobretudo a um punhado de saudosos das glórias da falecida (porque implodida) URSS.

A razão da invasão foi como é sabido a existência de um viveiro de nazis em Kiev e arredores que diariamente conspiravam contra a pacífica existência da Federação Russa, iy Santa Rússia se quiserem.

Como se sabe a Ucrânia, que territorialmente é pelo menos dez vezes menor que a grande irmã oriental, cinco vezes menos populosa e seguramente muito menos rica em riquezas naturais de toda a ordem, mormente petróleo e gás natural, sempre ameaçou a Rússia, e isso desde os anos seguintes à revolução de 197 quando sob a liderança de Makno tentou tornar evidente o prometido direito a sr uma nação independente.

Como se sabe, depois das tropas do anarquista Makno terem derrotado o exército branco foram atacadas de surpresa pelo exército vermelho  acabando aó o sonho independentista. Anos depois, alguns milhões de ucranianos  (tudo kilaks ricos e anti-revolucionários, deixaram-se morrer à fome no que, aliás, foram ajudados pelas autoridades da URSS que fechou as fronteiras entre as duas irmãs.

Depois da guerra (a grande guerra patriótica...) durante a qual mais de um terço das baixas soviéticas se registaram na Ucrânia, esta conjuntamente com a BieloRussia  fez parte das Nações Unidas onde a Rússia detinha um dos cinco lugares do Conselho de Segurança. Em princípio (‘) isto poderia sugerir que estes dois primeiros países poderiam, caso lhes desse para isso, separar-se da URSS.

Em boa verdade, essa problemática separação poderia ter o mesmo destino que outras menos felizes (Hungria E Checoslováquia) tiveram. .Quando a URSS desapareceu  (por implosão, desastre económico e financeiro, indiferença generalizada dos cidadãos soviéticos) acordos soleneníssmos garantiram a independência de boa parte dos territórios da ex –URSS

A Ucrânia não quis ficar com as armas nucleares estacionadas no seu solo (provavelmente também o ambiente internacional não veria isso com bons olhos) bem como com gigantescas quantidades de material bélico lá estacionado.

E durante alguns anos, o novo país foi dirigido por uma elite russófona que de tal maneira se mostrou serventuária dos interesses russos que uma revolução generalizada a expulsou.

Entretanto a Rússia encontrou um anjo salvador na pessoa de  um ex polícia  secreto Putin que, diligentemente ajudado, pelos resquícios do antigo partido comunista, se começou a perpetuar no poder.

O poder absoluto gera monstros e sobretudo corrompe absolutamente quem o detém. 

E foi assim, que nos anos 14 deste século o Donbass começou a agitar-se, a receber da Rússia armas e refúgio ao mesmo tempo que tropas desta vez russas ocuparam a Crimeia.

Convém lembrar que foi ainda em plena soberania soviética (no consulado de Krutchev) que a Crimeia  foi integrada  na Ucrânia. E isso era lógico de todos os pontos de vista porquanto basta olhar para um mapa para se perceber que a continuidade territorial era com a Ucrânia e que o anterior estatuto político administrativo era, como na altura se afiançou, anti económico e absolutamente ilógico. De resto boa parte da população era ucraniana mesmo se naquela península sempre tivesse vivido uma forte comunidade tártara que durante o estalinismo (1944) foi dizimada e teve muitos dos que escaparam a ser deportados para os confins do território  e para o Usbequistão.

Tudo isto parece escapar a um senhor major general que exerce de comentador pró-russo na CNN.

Não só tudo indica que o mero facto da Rússia ter invadido em Fevereiro de 2022 os territórios adjacentes ao Donbass e à Crimeia, não acode ao espírito geo-estratégico do referido oficial general, como debita sempre o mesmo mantra que assenta no facto de os russos estarem sempre vitoriosos ou a caminho disso e os ucranianos terem a certeza de uma próxima e medonha derrota 

Entre outras extraordinárias descobertas  temos algumas que são verdadeiras pérolas. A Ucrania já perdeu quatro exércitos! Vá lá saber.se como é que os russos não avançam mas até foram repelidos e agora começam a sver as suas linhas penetradas quer a leste quer a sul.

A outra e mais grave afirmação deste general que até merecia ser marechal pelo menos na Federação Russa é a de que as últimas acções de bombardeamento na Crimeia foram levadas a cabo por aviões legadamente ucranianos mas estacionados em bases estrangeiras, supondo-se que o nosso estratego se esteja a referir à Roménia e à Polónia. De resto e de acordo com a “linha geral” estabelecida pelo Kremlin, isto a que se assiste é um confronto Rússia-Nato

Esta segunda parte é uma das litania usadas pelos porta-vozes da Rússia ma quanto ao uso de bases estrangeiras para a aviação ucraniana  nem o Kremlin se lembrou sequer de o murmurar.

Os russos, apesar de tudo, mesmo tendo presente que aquilo já tresanda de paranoia,  de fake news e de uma prodigiosa mas imbecil propaganda, não deram tal passo.

Provavelmente deixam essa patriótica tarefa para generais portugueses dotados para apolítica e para a história mesmo  esta de faca e alguidar...

 

(quanto ao que me pareceu, noutra ocasião, um apoio a tese dos nazis ucranianos, não vale a pena lembrar ao estimável militar que o comandante operacional da Wagner, aliás seu fundador, usava diariamente na farda os S das SS, um emblema alemão da águia e da cruz gamada e mais uns berloques todos provenientes da pútrida herança dos nazis alemães. Provavelmente o mesmo olho perscrutador que vê bases militares ucranianas fora da Ucrânia não conseguiu  -pu não percebeu –qual o real sentido destas insígnias no falecido mercenário que agora jaz num cemitério como ocorre com muitas se não todas as criaturas que alguma vez caíram em desgraça aos olhos de Potin. Generalices...)  

 

au bonheur des dames 600

mcr, 13.09.23

Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo

Mcr, 13-9-23

 

Convenhamos que esta me divertiu. Uma criatura que em tempos terá sido assistente na faculdade de Direito de Lisboa (que pelos vistos é um alfobre de casos raros, estranhos e curiosos) ciu na tolice de escrever um artigo sobre José Pacheco Pereira acusando-o de ser m “homem do Irão”, unha com carne com os ayatolas (até chamou “ayatolinho” a JPP, coisa que é ofensiva por todos os lados dada a junção do clerical ao pateta). Escreveu a coisa, esta foi repetida nas redes sociais em fontes que o mesmo  colaborava e que, pelos vistos, dadas as suas notórias tendências para as fake news maliciosas, eram também (ou poderiam ser) obra do mesmo indivíduo. 

JPP tem muitos anos de combates de toda a ordem em cima dos lombos, Já passou por muitas (e nem sempre gloriosas) batalhas mas que eu me tenha apercebido nunca o vi defender aquele covil de fanáticos chiitas e perseguidores de mulheres. A teocracia, tenha ela o sinal religioso que tiver é sempre uma blasfémia e um ataque à inteligência e Pacheco Pereira  já deu provas de que burro ou parvo não é, bem pelo contrário. Ter-se-á irritado com a notícia e vai daí pespegou com uma acção em tribunal.  

Mesmo aqui, em vez de perceber (caso eventualmente perceba qualquer coisa além de emporcalhar os outros) o mentiroso ainda apresentou uma lista de testemunhas que é de ir às lágrimas (quem quiser saber disto terá a maçada de consultar o Público de ontem e de hoje se é que não houve outros jornais a espojar-se nesta cretinice catatónica do emissor de fake news. 

Claro que no julgamento, melhor dito antes mesmo de a coisa sequer aquecer o afirmativo criador do iranianismo de Pacheco “arreou”, “borregou” e desfez-se em desculpas garantindo (sem especificar) que só escrevera o que escrevera por ler apalermada em qualquer rede social e prometendo apresentar desculpas  em toda a parte. Condenado a pagar 10000 euros ( Pacheco boa alma terá reduzido  mais que substancialmente o valor da indemnização pretendida que ascenderia a 70.000 euros)  ainda terá pedinchado para pagar mais tarde por não ter dinheiro. E lá dez a declaraçãoo que, no mínimo, se deve ler com uma mão no nariz de tal modo aquilo pareceu um balão de traques. 

Qualquer cidadão, mesmo os que não apreciam Pacheco Pereira, deverá estar-lhe grato por ter resolvido pegar o touro pelos cornos. Claro que não houve tourada, sequer garraiada mas apenas uma corridinha frente a um vitelo ainda não desmamado. Não importa. Talvez isto fique para exemplo e escarmento de muitas outras tristes criaturas que por ai andam a repetir toda a sorte de burrices que lêem, ouvem, escrevem  ou, meramente, imaginam. 

Conheço mal Pacheco Pereira que já não vejo pessoalmente há pelo menos vinte anos. Sou seu leitor relativamente assíduo mesmo se agora me espante por não ver aparecer o volume 5ª da biografia política de Alvaro Cunhal. O 4º volume saiu (fui à estante certificar-me...) em  Dezembro de 2015! E abrange a biografia de Cunhal até 1968. Convenhamos que para uma obra começada a publicar em 1999 (voltei a procurar na estante...), a coisa arrasta-se...Pelas minhas contas ainda morro antes de terminar de ler esta excelente História que. Aliás, e muito mais do que a biografia de Álvaro Cunhal.

Diz-se à boca pequena que o antigo e finado secretário geral do PCP tinha alguém que lhe ia lendo a obra de JPP e que terá mesmo afirmado que o biógrafo sabia mais da vida dele que o biografado. Oficialmente, julgo que lá das bandas do “Partido” ainda ce continua a dizer que nunca Cunhal leu uma linha da sua biografia , coisa que seria comum a toda a militância.

Fazem mal, e é por essa obstinada negação da história e da Cultura que, hoje, se vê como aquilo degenerou.

 

(“Álvaro Cunhal, uma biografia política”, José Pacheco Pereira, ed Temas e Debates (e também em colaboração com o Círculo de Leitores) Absolutamente  imperdível)

 

au bonheur des dames 599

mcr, 11.09.23

Leituras de fim de semana

mcr, 119-23

 

 

Até há meia dúzia de anos, o fim de semana era recheado de leituras de fim de semana frente ao mar na esplanada do Ferreira. 

Era uma festa! À uma, tinha os suplementos literários do Monde, do El País e do ABC. E depois, além dos jornais a que eles correspondiam, eu aviava o Expresso e o Público. DE longe em longe, atrevia-me com um par de revista italianas (“Espresso” e “Panorama”), o “La Republica” e o “Paese Sera” (bons tempos”)

De quando em quando, amigos e conhecidos passavam, alguns sentavam-se numa interrupção amável, alegre e bem disposta das tarefas do leitor empedernido. 

Entretanto morreu gente e, igualmente, morreram os jornais espanhóis que já cá não chegam ou, pelo menos, os que aparecem vem viúvos das folhas literárias e culturais. Da italinagem nem novas nem mandados, raios me levem!

O mar ainda lá está mas agora ataca-me a preguiça e refugio-me na esplanada de todos os dias, local amável,  aqui ao lado,  com um jardim à frente, miudagem a correr de mistura com cães que os donos soltam ali (e entre eles um perdigueiro doido que usa lenço de pescoço vermelho...um “compagno!”

Em boa verdade foi o covid que deu cabo dos meus velhos hábitos de leitura na Foz  mas, de facto ainda não me recompus dessa obrigatória privação.

Explicado que está o hábito de fazer uma retrospectiva semanal das notícias da semana, eis que caio num artigo sobre o presidente da Câmara de Oeiras. Pelos vistos, esta câmara funciona com geral agrado dos munícipes que reelegem Isaltino com margens quase norte-coreanas. A coisa desagrada a uma criatura comentadora em jornais e activista do BE. Ela conseguiu numa crónica de meia página informar os paroquianos que Isaltino Morais esteve na cadeia. À cautela informa não uma, não duas mas cinco vezes!

Que eu saiba, uma vez cumprida a pena o ex-preso, está com as contas todas feitas com a sociedade. No caso, Isaltino terá lavado uma soma mexeruca de dinheiro através de um familiar motorista de táxi...

O dinheiro lavado não teria sido fruto de roubo ou malversão mas apenas um dinheirinho que à cautela se escondia do fisco cúpido. Pelo menos, não me lembro de nenhuma especial acusação quanto à sua origem. De todo o modo, e caso  raro  (ou único), a justiça entendeu que Isaltino era bom para servir de exemplo e, pimba, cadeia com ele.  

O homem saiu da prisão e candidatou-se de novo à Câmara. E foi eleito. Ao que sei  por maiorias substanciais e substanciosas num eleitorado culto, educado onde perpassam figurões muitos do PS e das restantes forças ditas de esquerda. 

A comentadora, mais do que perplexa, fica num furoe patológico. E vá de zurzir na criatura não por qualquer má gestão municipal mas porque sim, pronto!

Eu não conheço o  homem, duvido que alguma vez nos cruzemos mas, porque passo algumas curtas temporadas em Oeiras, tenho uma pequena ideia da sua obra.  Oiço toda a gente a gabar o trabalho camarário e a rapidez com que são atendidas as reclamações dos munícipes. 

Ainda há dois dias, o vi mostrar a uma ministra, ou algo que passa por tal, as obras de um conjunto de casas de renda social em finais de construção. Ora aí está mais uma pequena multidão que seguramente votará nele ou em quem, na impossibilidade de se candidatar, ele recomendará. 

 

As aulas começaram. Há100.000 alunos que ainda não tem todos os professores. Mas, pelos vistos, as autoridades acham que tudo corre maravilhosamente.Tout va bien dans le meilleur des mondes, madame la marquise...

 

Continua a sentir-se uma forte falta de professores no Algarve e em Lisboa região. Os eventuais docentes desertam tais zonas porque as casas não só rareiam mas são caras para quem tem duas residências. Ainda ninguém se lembrou de estudar a hipótese de criar, mesmo por apenas meia dúzia de anos, subsídios especiais de alojamento. 

Notem que o mesmo Estado que se diz disposto  alugar casas e a subarrendá-las por um preço inferior  não  pensou nesta hipótese (ou noutras semelhantes)

Os portugueses certamente lembrar-se-ão que o Governo, este, em oito anos apresentou quatro ou cinco projectos tremendos para resolver a falta de casa.  Por favor digam-me quantas casas se construíram. E, já agora, onde.

 

 Em Portugal, números oficiais, a media geral das rendas ainda pelos 400 euros. Metade, mais ou menos, do salário mínimo, o que não augura nada de bom. Mas daí a serem excessivas vai um passo de gigante . O que é infame é a existência e baixos, baixíssimos, salários!

 De todo o modo, há uns xicos espertos que pretendem pôr um travão de 2% ao eventual aumento das rendas.(a culpa seria da inflação qie, vê-se, não afecta os ricos e sobretudo os senhorios!). 

Há mesmo uns alucinados que, pura e simplesmente, querem que, à boa moda de Salazar, se proíba todo e qualquer aumento de renda. Na sombra é de presumir, que haja quem pretenda nacionalizar, confiscar as habitações, as devolutas e as outras, renovando, em pleno século XXI, a frase de Proudhon: a propriedade é um roubo. Claro que valeria a pena saber o que Proudhon hoje diria dada a realidade pungente que se vive.

Esquecem  (ou fingem esquecer) os resultados da política habitacional de vários regimes autoritários  cujos resultados (maus ou péssimos) ainda hoje se verificam.

 

O famoso programa das creches para todas as crianças de três ou menos anos foi anunciado e exaltado. Passado um ano faltam lugares para metade dos candidatos. 

Quem é rico, melhor dizendo menos pobre, mete os filhos nas creches privadas e paga do seu bolso. 

Vê-se que o “fazedor” faz que se farta...

 

Aquele pomposo e loquaz ministro da saúde não perde meia hora sequer para pensar. Todos os dias, aparece, sorridente, garantindo que os problemas estão a ser resolvidos. Todos os dias os factos o desmentem. Todos os dias os médicos fogem do SNS. Ou deixam os concursos vagos... 

 

Um grupo privado de saúde anuncia um forte investimento para criar mais dois hospitais privados  (um numa média cidade do norte e outro no Algarve) Onde é que eles vão encontrar médicos?  Pelos vistos não estão nada preocupados. 

E, seguramente, não vão importar profissionais cubanos... como o actual Ministro da Saúde já admitiu mesmo sabendo que o Governo desse admirável país fica com a parte de leão do ordenado pago. Para o governante português, essa questão não se põe pois seria imiscuir-se na vida de um país terceiro!!!

 

A cimeira de Nova Deli não sabe que há uma guerra em curso na Ucrânia!

 

O senhor Lula da Silva garante que Putin pode ir ao Brasil sem correr qualquer risco de ser preso.

O Brasil assinou a convenção sobre o TPI.  Depois de ser peremptório sobre a eventual não prisão de Putitn, Lula lembrou-se que afinal não é o presidene do Brasil que manda ou não prender mas as instancias jurídicas brasileiras que, em princípio, são independentes.

Todavia, o mesmo Lula agora questiona a permanência do Brasil nessa instância. E louva-se nos exemplos da China e da Rússia (e do EUA, também) que  nunca aderiram... É um verdadeiro democrata...

 

Mas a pérola da semana  é, sem qualquer dúvida a descoberta de um cavalheiro filipino, cineasta (ou algo que lá passa por isso) que afirma que Fernão de Magalhães foi morto não por um vago chefe tribal mas pela sua esposa amantíssima, uma “guerreira” na feliz expressão do novel historiador. E vai daí, ele ou alguém miraculosamente inspirado nesta trouvaille historiográfica, terá construído uma imensa estátua porta para a Bienal de S Paulo com a figura, a vera figura, da amazona filipina.

Isto mereceu honras de imprensa que, de facto, farta que está do cão que mordeu o homem, encontrou agora a mulher que mordeu o cão navegador. 

Espera-se, a todo o transe,  que o Oceano Pacífico mude o nome (criado por Magalhães) para o da heroína ora descoberta. Também serve o de Imelda Marcos, que, em seu tempo, deu que falar nesse arquipélago. E se tal não for considerado temos um socialite (natural do mesmo país) agora espanhola que também pode ser uma honorável candidata.

 

Nota que nada tem a ver com isto: 

João Vasconcelos Costa, melhor dizendo Doutor (e por extenso) JVC, médico, “bon vivant,” cozinheiro exímio, divulgador científico, que exerceu altos cargos no campo da actividade científica, ex-blogger que faz falta, escreveu no dia 6 um artigo no Público que toca algumas das fanfarronadas LGBT que urge ler. Claro, conciso, inteligente, ainda não vi resposta e percebe-se a razão. É irrespondível. 

Escrevi um pequeno texto logo que li o artigo mas, insondáveis mistérios da internet!..., perdi-lhe o rasto.  Não o vou reescrever mas recomendo a todos e cada um uma olhadela ao Público de 6 deste mês. 

JVC faz-me o favor de ser meu amigo desde os tempos de Coimbra. Nos anos difíceis deu o corpo às balas e militou contra o Estado Novo com coragem, determinação e inteligência. Solidário como poucos, devo-lhe o facto de ter arriscado muito ao apresentar-se como testemunha de meu irmão (seu amigo e colega) no Tribunal Plenário.

 Nos últimos anos, sempre o covid mas também a preguiça, não temos falado. Agora, que ele intrepidamente está a chegar aos “oitentinhas” com a cabeça sã, a palavra clara e o raciocínio sempre agudo, é bom lembrá-lo e recomendar que o leiam. Há textos dele na internet  basta procurar.  

Saravah, João. Envelheces com a mesma qualidade de alguns tintos demasiado bons ...e demasiado caros. Um abraço

 

 

Nota grata: dois leitores, um dos quais é Luís L V.,  honram-me com palavras demasiado amáveis que calam bem fundo no escriba. Ambos me avisam contra as gralhas com que pontuo as minhas pobres redacções. Eu bem que gostaria de ter um corrector  mas parece que o único que há obedece ao aberrante acordo ortográfico. 

Haverá mais algum mais antigo, mais “reaccionário”, menos titubeante com o wokismo ortográfico em uso? Se sim, por favor indiquem-mo. Preciso dele como de pão (com manteiga ou, ainda melhor, com queijo de Serpa mas também serve Gorgonzola  (ou Roquefort). 

E um copinho de vinho tinto, coisa pouca mas decente. À vossa saúde leitores amigos

(ou como diziam os meus amigos catalães: Salut e forza nel canut! Esta é extensível ao JVC, velho e verdinho...)

Nota final demorei um tempo infernal a corrigir gralhas de todo o tipo. Até me esqueci do chá que ficou frio. Arre!

 

 

 

 

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