estes dias que passam 850
notícia de um reino que não tem emenda
mcr, 31-10-23
Vai uma tempestade gorda nas redes sociais e mesmo em jornais.
Pelos vistos Miguel Sousa Tavares e José Alberto Carvalho ousaram pôr em causa a feminilidade de uma pessoa "trans " que até já ganhou o concurso nacional para miss universo.
Confesso que até hoje pouco ou nada sabia sobre o assunto mas, como de costume uma senhora mais radical-progressista que o ultra-progresso entendeu denunciar dois machistas ao mesmo tempo que referia os enormes sacrifícios e o sofrimento físico e moral da dita criatura que terá feito inúmeras a para deixar de ser homem e ser quase uma mulher.
Digo isto com algumas cautelas mas até me provarem o contrário não é mulher ou homem quem quer mas quem disponha de todos os órgãos que caracterizam qualquer dos sexos.
Consigo perceber que alguém tendo nascido num dos géneros se tenha sempre pensado e sentido como pertencendo ao outro. Não conheço nenhum caso mas acredito piamente no que os jornais relatam.
Todavia, ainda não soube que os difíceis (e dolorosos) processos de tentativa de passagem de um para puto sexo tenham conseguido criar órgãos reprodutores.
Ou seja: pelos vistos podem implantar-se seios, ou até desenvolvê-los, pode eliminar-se um pénis, há tratamentos mais ou menos conseguidos contra a pilosidade masculina mas o resto ainda não foi alcançado. Duvido, de resto, que alguma vez o seja mas o futuro (que seguramente já não verei) não faz parte dos meus poderes de adivinhação.
Pelos vistos, os dois jornalistas que não conheço de parte alguma, terão dito que nunca se casariam com uma pessoa trans. A habitual pitonisa do progresso a velocidade da luz viu nisto vários pecados mortais. A começar pela suposição que ao dizerem isto os dois cavalheiros estariam a menosprezar o direito das mulheres a decidirem o seu futuro e, no caso, o seu casamento, algo que só elas poderão escolher. Isto, nos tempos que correm é uma lapalissada tonta em que nenhum dos dois conhecidíssimos jornalistas cairia. Apenas terão querido dizer (e seguramente 99,9% dos portugueses assim o entendeu ) que não consideravam uma pessoa trans como seu possível cônjuge.
Não ia nesta opinião, quero crer, qualquer especial crítica à candidata a miss universo. Muito menos, nela não transparecia qualquer ideia sobre a violência do processo, a dor, os sacrifícios, os custos, a perda eventual de laços familiares ou mesmo a opinião pública que se faz sobre estes e outros casos.
Conheci, ao longo de uma vida já longa, pessoas que se descobriram homossexuais, fui amigo de algumas, mesmo que, como facilmente se percebe, tivesse tido que modificar muitas das ideias que me inculcaram desde a infância. Quem nasceu no início da década de quarenta teve muito caminho a fazer até aos anos que viram o aparecimento da pílula, o direito a sair do armário, o fim de leis que não eram meigas para a os homossexuais, a aceitação de políticos ou de artistas homossexuais (até em Portugal!) mas essa compreensão de uma realidade que tocará uma minoria restrita de pessoas não me impede de julgar que homens ou mulheres tem aparelhos sexuais e reprodutores diferentes, tão diferentes que, até ao momento ainda não foi possível trocar de sexo.
Eu percebo que os chamados adeptos das causas fracturantes de quando em quando se sintam sem pé quando tem de ganhar a vidinha escrevendo regularmente num jornal. Já Eça falava na chiadeira dos sapatões do rapaz da tipografia que lhe percorria o corredora aguardando a crónica atrasada.
E percebo também que boa parte das dificuldades do dia a dia que são sentidas pelo comuns dos paisanos não mereça a atenção destas criaturas grávidas de futuros longínquos.
A guerra da Ucrânia tornou-se uma maçada porque o diabo dos indígenas locais não se deixaram ocupar pelos invasores russos e tornaram a operação militar especial que deveria durar duas semanas nua guerra que já leva ano emeio e que até ao momento se traduziu numa matança de civis e nym a doença contagiosa entre os atacantes que lá vão recuando, passo a passo, dia pós dia.
Percebo que a guerra Isreael -Hamas lhes pareça um acto tremendode colonização malgrado a medonha violência do ataque de sete de Outubro. Creio mesmo que até eles, todos muito pró palestina e não pouco anti semitas, tenham percebido que aquele ataque mais do que um crime se trauziy numa futura desgraça para a pobre população de Gaza e numa nova vida para o sr Netanyahu que estava mais que periclitante no seu lugar ameaçado de primeiro ministro.
Percebo que eles se sintam embaraçados pelo facto de, exceptuando o irão perseguidor de mulheres e longe da fronteira israelita, os países árabes não se precipitarem numa, em mais uma, cruzada contra o judeu opressor. E que, como é o caso, fechem as fronteiras (como sempre fizeram) aos dois milhões de desgraçados que estão presos na faixa de Gaza. Nem sequer terão chamado os seus embaixadores em Israel "para consultas"!!!
Percebo que se sintam confusos ao saber que Gaza sempre foi alimentada pelas dádivas ocidentais e sempre obteve a água, os combustíveis, boa parte dos alimentos e dos medicamentos, bem como a electricidade de Israel. Um colonizador que tem sustentado com tudo isto o território colonizado (que abandonou há quase vinte anos!...) e que só agora impede a passagem destes bens é uma chatice, Mesmo quando responde desabrida e violentamente a toda e qualquer beliscadela levada a cabo por uma miríade de grupos terroristas que se abrigam atrás e sob as multidões de habitantes de Gaza!
Depois há ainda aquela surpreendente situação dos mandantes das provocações e dos crimes. Estão todos repimpados longe de Gaza e perto de amigos ricos e poderosos que os hospedam com um luxo que deixaria qualquer pobre diabo de Gaza de olhos esbugalhados.
Dir-me-ão mas esta radical burguesia fracturante, citadina poderia falar do IUC, do SNS ou do preço da habitação para já não referir o mistério da TAP. Poder, podia mas dá-se o sombrio e desagradável caso de o IUC apenas atingir três milhões de carros (e metade da frota do Estado que, essa, não paga nenhum iuc!) que pertencem a indígenas do interior ou a gente que não tem dinheiro para os trocar por um novo. Esses carros servem para deslocações mais difíceis num país sem transportes públicos dignos desse nome, sem comboios cuja substituição ou compra está permanentemente atrasada sem linhas de caminho de ferro que todos os anos se mostram mais longínquas da finalização. Servem para ir ao posto médico ou ao mercado e bonda! que não hão dinheiro para mais.
Os radical gauche divine e extrema vivem nas grandes cidades, vem da burguesia, nunca pisaram um campo, sequer um suburbio onde se acotovelam imigrantes ou portugueses que mais depressa votam Chega do que BE.
Resta-lhes como campo de batalha as causas ditas fracturantes pois sabem bem que o SNS é vitima dos seus representantes políticos zarolhos uns, dementadamente cegos pela ideologia outros. A TAP teria de ser portuguesa à viva força mas os 3, 3 mil milhões começam a pesar nos bolsos e a concorrência internacional rouba passageiros ao mesmo tempo que a miragem da diáspora portuguesa preferir pagar mais pelo avião onde se fala português é só isso, uma miragem, um voto pio, uma irrealidade.
Também fogem da questão da habitação por razões óbvias. E a mais importante é esta: o Estado não constrói, constrói um décimo do que em tempos prometeu e nem sequer torna habitáveis as propriedades que tem devolutas. Por isso, tenta aprovar leis que ainda toram mais penosa a vida de inquilinos e de potenciais compradores. Os senhorios (algo que pitorescamente alguém numa manifestação escrevia num cartaz que "nãé profissão" tentando assim renovar a expressão a atribuída a Proudhon que também ninguém lê, "- a propriedade é um roubo.
E é assim que o factor trans se torna um excelente campo de batalha para quem nada tem (nem quer) a dizer.
E Miguel sousa Tavares, jornalista de página inteira no Expresso ou José Alberto Carvalho autor best seller e pivot televisivo dão um jeito enorme para lhes arrearem nos lombos marialvas, machistas.
Eça, com muito mais humor, muito, muitíssimo melhor escrita, já se tentava safar arreando no pobre bey de Tunes.
E é assim que, à falta de melhor, também eu finco a dentuça no pescoço (estamos no Halloween!) de uma comentarista saída, isso sim, do vácuo.