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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 850

d'oliveira, 31.10.23

 notícia de um reino que não tem emenda

mcr, 31-10-23

Vai uma tempestade gorda nas redes sociais e mesmo em jornais.

Pelos vistos Miguel Sousa Tavares e José Alberto Carvalho ousaram pôr em causa  a feminilidade de uma pessoa "trans " que até já ganhou o concurso nacional para miss universo.

Confesso que até hoje pouco ou nada sabia sobre o assunto mas, como de costume uma senhora mais radical-progressista que o ultra-progresso entendeu denunciar dois machistas ao mesmo tempo que referia os enormes sacrifícios e o sofrimento físico e moral da dita criatura que terá feito inúmeras a para deixar de ser homem e ser quase uma mulher. 

Digo isto com algumas cautelas mas até me provarem o contrário não é mulher ou homem quem quer mas quem disponha de todos os  órgãos que caracterizam qualquer dos sexos.

Consigo perceber que alguém tendo nascido num dos géneros se tenha sempre pensado e sentido como pertencendo ao outro. Não conheço nenhum caso mas acredito piamente no que  os jornais relatam.

Todavia, ainda não soube que os difíceis  (e dolorosos) processos de tentativa de passagem de um para puto  sexo tenham conseguido criar órgãos reprodutores. 

Ou seja: pelos vistos podem implantar-se seios, ou até desenvolvê-los, pode eliminar-se um pénis, há tratamentos mais ou menos conseguidos contra a pilosidade masculina mas o resto ainda não foi alcançado. Duvido, de resto, que alguma vez o seja mas o futuro (que seguramente já não verei) não faz parte dos meus poderes de adivinhação. 

Pelos vistos, os dois jornalistas que não conheço de parte alguma, terão dito que nunca se casariam com uma pessoa trans.  A habitual pitonisa do progresso a velocidade da luz viu nisto vários pecados mortais. A começar pela suposição que ao dizerem isto os dois cavalheiros estariam a menosprezar o direito das mulheres a decidirem o seu futuro e, no caso, o seu casamento, algo que só elas poderão escolher. Isto, nos tempos que correm é uma lapalissada tonta em que nenhum dos dois conhecidíssimos jornalistas cairia. Apenas terão querido dizer (e seguramente 99,9% dos portugueses assim o entendeu ) que não consideravam uma pessoa trans como seu possível cônjuge. 

Não ia nesta opinião, quero crer, qualquer especial crítica à candidata a miss universo. Muito menos, nela não transparecia qualquer ideia sobre a violência do processo, a dor, os sacrifícios, os custos, a perda eventual de laços familiares ou mesmo a opinião pública que se faz sobre estes e outros casos.  

Conheci, ao longo de uma vida já longa, pessoas que se descobriram homossexuais, fui amigo de algumas, mesmo que, como facilmente se percebe, tivesse tido que modificar muitas das ideias que me inculcaram desde a infância. Quem nasceu no início da década de quarenta  teve muito caminho a fazer até  aos anos que viram o aparecimento da pílula, o direito a sair do armário, o fim de leis que não eram meigas para a os homossexuais, a aceitação de políticos ou de artistas homossexuais (até em Portugal!) mas essa compreensão de uma realidade  que tocará uma minoria restrita de pessoas não me impede de julgar que homens ou mulheres tem aparelhos sexuais e reprodutores diferentes, tão diferentes que, até ao momento ainda não foi possível trocar de sexo.

Eu percebo que os chamados adeptos das causas fracturantes  de quando em quando se sintam sem pé quando tem de ganhar a vidinha escrevendo regularmente num jornal. Já Eça falava na chiadeira dos sapatões do rapaz da tipografia que lhe percorria o corredora aguardando a crónica atrasada. 

E percebo também que boa parte das dificuldades do dia a dia que são sentidas pelo comuns dos paisanos não mereça a atenção destas criaturas grávidas de futuros longínquos.

A guerra da Ucrânia tornou-se uma maçada porque o diabo dos indígenas locais não se deixaram ocupar pelos invasores russos e tornaram a operação militar especial que deveria durar duas semanas nua guerra que já leva ano emeio e que até ao momento se traduziu numa matança de civis e nym a doença contagiosa entre os atacantes que lá vão recuando, passo a passo, dia pós dia.

Percebo que a guerra Isreael -Hamas  lhes pareça um acto tremendode colonização malgrado a medonha violência do ataque de sete de Outubro. Creio mesmo que até eles, todos muito pró palestina e não pouco anti semitas,  tenham percebido que aquele ataque mais do que um crime se trauziy numa futura desgraça para a pobre população de Gaza e numa nova vida para o sr Netanyahu que estava mais que periclitante no seu lugar ameaçado de primeiro ministro. 

Percebo que eles se sintam embaraçados pelo facto de, exceptuando o irão perseguidor de mulheres e longe da fronteira israelita, os países árabes não se precipitarem numa, em mais uma, cruzada contra o judeu opressor. E que, como é o caso, fechem as fronteiras (como sempre fizeram) aos dois milhões de desgraçados que estão presos na faixa de Gaza. Nem sequer terão chamado os seus embaixadores em Israel "para consultas"!!!

Percebo que se sintam confusos ao saber que Gaza sempre foi alimentada pelas dádivas ocidentais e sempre obteve a água, os combustíveis, boa parte dos alimentos e dos medicamentos, bem como a electricidade de Israel. Um colonizador que tem sustentado com tudo isto o território colonizado (que abandonou há quase vinte anos!...) e que só agora impede a passagem destes bens é uma chatice, Mesmo quando responde desabrida e violentamente a toda e qualquer beliscadela levada a cabo por uma miríade de grupos terroristas que se abrigam atrás e sob as multidões de habitantes de Gaza! 

Depois há ainda aquela surpreendente situação dos mandantes das provocações e dos crimes. Estão todos repimpados longe de Gaza e perto de amigos ricos e poderosos que os hospedam com um luxo que deixaria qualquer pobre diabo de Gaza de olhos esbugalhados. 

Dir-me-ão mas esta radical burguesia fracturante, citadina poderia falar do IUC, do SNS ou do preço da habitação para já não referir o mistério da TAP.  Poder, podia mas dá-se o sombrio e desagradável caso de o IUC apenas atingir três milhões de carros (e metade da frota do Estado que, essa, não paga nenhum iuc!) que pertencem a indígenas do interior ou a gente que não tem dinheiro para os trocar por um novo. Esses carros servem para deslocações mais difíceis num país sem transportes públicos dignos desse nome, sem comboios cuja substituição ou compra está permanentemente atrasada sem linhas de caminho de ferro que todos os anos se mostram mais longínquas da finalização. Servem para ir ao posto médico ou ao mercado e bonda! que não hão dinheiro para mais.  

Os radical gauche divine e extrema vivem nas grandes cidades, vem da burguesia, nunca pisaram um campo, sequer um suburbio onde se acotovelam imigrantes ou portugueses que mais depressa votam Chega do que BE. 

Resta-lhes como campo de batalha as causas ditas fracturantes pois sabem bem que o SNS  é vitima dos seus representantes políticos zarolhos uns, dementadamente cegos pela ideologia outros. A TAP teria de ser portuguesa à viva força mas os 3, 3 mil milhões começam a pesar nos bolsos e a concorrência internacional rouba passageiros ao mesmo tempo que a miragem da diáspora portuguesa preferir pagar mais pelo avião onde se fala português é só isso, uma miragem, um voto pio, uma irrealidade.  

Também fogem da questão da habitação por razões óbvias. E a mais importante é esta: o Estado não constrói, constrói um décimo do que em tempos prometeu e nem sequer torna habitáveis as propriedades que tem devolutas. Por isso, tenta aprovar leis que ainda toram mais penosa a vida de inquilinos e de potenciais compradores.  Os senhorios (algo que pitorescamente alguém numa manifestação escrevia num cartaz que "nãé profissão" tentando assim renovar a expressão a atribuída a Proudhon que também ninguém lê, "- a propriedade é um roubo.

E é assim que o factor trans se torna um excelente campo de batalha para quem nada tem (nem quer) a dizer. 

E Miguel sousa Tavares, jornalista de página inteira no Expresso ou José Alberto Carvalho autor best seller  e pivot televisivo dão um jeito enorme para lhes arrearem nos lombos marialvas, machistas.

Eça, com muito mais humor, muito, muitíssimo melhor escrita, já se tentava safar arreando no pobre bey de Tunes.  

E é assim que, à falta de melhor, também eu finco a dentuça no pescoço (estamos no Halloween!) de uma comentarista saída, isso sim, do vácuo.  

 

 

estes dias que passam 849

d'oliveira, 29.10.23

perguntas de um leitor que não é operário

mcr, 28-10-23

 

.. o jovem Alexandre conquistou a Índia

sozinho?

César ocupou a Galia 

não era acompanhado sequer por um cozinheiro?

Brecht:  perguntas de um operário leitor

....

Socorro-me, outra vez, de um poeta (e dramaturgo) que no fim da vida fazia perguntas e não obtinha respostas, ou só as tinha erradas. 

E faço-as ºperguntas enquanto leitor atento e interessado no que se passa. Não venho pôr-me acima de quem quer que seja, mas pretendo apenas questionar os que juram pela cartilha radical que vê o mal em toda a parte, desde que não seja o seu pequeno cantinho. 

Já aqui o disse e reafirmo-o: à partida nada me move a favor (ou contra) Israel enquanto país que considero razoavelmente democrático, inclusive com aquele camafeu que foi eleito e que tem tentado levar o seu país para caminhos mais do que ínvios mas muito na moda noutros. 

Nada me move contra os habitantes de Gaza no seu conjunto que considero vítimas de algo que os ultrapassa mais do que a geografia e que teve origem clara em 1948. 

Não me surpreende especialmente que este povo tenha assistido resignado ou esperançado ao golpe de Estado de 2007 quando o Hamas expulsou pelas armas a OLP, o Fatah do território.

Nem sequer questiono gravemente o facto de ,posteriormente, numa espécie de eleições cuja credibilidade é mais que duvidosa , o Hamas ter sido o mais votado, o mesmo é dizer que só o foi porque nunca permitiu que adversários concorressem contra ele em igualdade de circunstâncias.  

Sei, graças à idade que levo em cima, que os regimes autoritários ganham sempre as eleições. Sei-o por experiencia própria desde a primeira vez em que quis votar (1961) até aquela em que finalmente a Oposição foi até às urnas (1969). E sei-o porque até fui delegado da  dita oposição numa mesa na freguesia urbana de S.to António dos Olivais em Coimbra. 

Não me custa nada afirmar que perdemos essas eleições por uma conjunção  de factores que começava na fraca mobilização para a inscrição nos cadernos eleitorais até ao medo que isso, só isso, implicava. Nem vale a pena referir a desproporção de meios, as dificuldades em fazer comícios, as constantes proibições de qualquer acção propagandística, a censura em tudo o que era meio de comunicação, as contínuas ameaças à liberdade dos candidatos a deputado e de toda a gente que os apoiava. 

Portanto, o facto do governo de Gaza estar entregue ao Hamas não me suscita grande preocupação. É um governo autocrático, tem um claro desíignio de eliminar por todos os meios o Estado de Israel e de vrrer para o mar  todos quantos nele habitam, minoria árabe aí residente  ("colaboracionista") incluída. 

 

A dúbia expressão que o engenheiro Guterres (de quem fui apoiante muito antes dele ser eleito) usou para significar que o Hamas alguma legitimidade poderia eventualmente ter visto que não saiu do nada  u seja que era fruto da "ocupação" israelita terminada ainda antes deste grupo tomar conta de Gaza. Melhor dizendo: antes deste grupo que todos (excepto Putin, o Irão e pelos vistos Erdogan) qualificam como terrorista, ter ocupado militarmente o território, imbricando as suas bases, os centros de decisão, os serviços próprios, os arsenais (estes enterrados e bem enterrados) os paióis, os depósitos de combustível, de alimentos, de medicamentos (idem, idem) também resguardados em túneis que agora talvez alberguem 224 reféns. 

É verdade que Guterres qualificou o massacre do dia 7 com horrendo e indesculpável. Mas, e há sempre o raio de "mas" nestas afirmações ao tentar antecipadamente qualificar a reacção de Israel, não se coibiu de relembrar o passado que sublinhe-se sempre foi coroado de reacções desproporcionadas . Já por aqui disse que Israel reivindica  olhos por olho, dentes por dente.

Entretanto pergunto, leitor que sou, inclusive de História deste ´seculo:

foi Israel que desencadeou a invasão sofrida por ele logo que proclamou a independência? Ou deveremos atribuir a humilhante derrota de cinco exércitos árábes (Egipto, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque)  que contabilizavam dez vezes mais soldados do que o recentíssimo Estado judeu, à impreparação destes, à falta de vontade de combater dos pobres soldados mobilizados que nada sabiam, nem sequer lhes interessava, sobre os meandros da História em que foram chamado a desempenhar o papel de carne para canhão?

É ou não verdade que a Assembleia Geral das Nações Unidas votou por uma significativa maioria a independência de Israel  (juntando em plena guerra fria URSS e EUA, bloco "socialista" e a nova aliança atlântica ? 

É ou não verdade que, na ânsia de ter mãos livres, foram os exércitos atacantes quem primeiro expulsou dezenas de milhares de civis palestinianos das suas casas? 

(e antes que me acusem de partidarismo, informo que o exército israelita lançou uma operação semelhante sob o nome de "Vassoura de Ferro" que atirou para o território libanês outras tantas dezenas de milhares de refugiados. E também é verdade que tais desenraizados nunca dali saíram para nenhum Estado irmão e árabe os quis ou quer receber)-

É ou não verdade que esta primeira vitória israelita  logo permitiu criar novas fronteiras que, obviamente, acrescentavam território na exacta medida em que os palestinianos (na altura  sem Estado ) perderam?

É ou não verdade que a partir da década de sessenta novas hostilidades se desencadearam tendo sempre sido iniciadas por alguns ou todos os Estados limítrofes e que, como sempre, redundaram em pesadíssimas derrotas e mais territórios para  o Estado atacado, nisto se incluindo Jerusalém, cidade que gozava de um estatuto especial devido ao facto de ser capital de três religiões?

(mais uma vez, relembro que houve uma outra guerra em que Israel foi agressor. refiro-me à crise do Suez quando, depois do canal ter sido nacionalizado, tropas francesas e inglesas o terem ocupado ao mesmo tempo que ali chegaram também tropas israelitas que puseram em debandada - outra vez- os mal preparados soldados do coronel Nasser , o rais dtodo poderoso do Egipto)

É ou não verdade que entre 1967 (guerra dos 6 dias) e 1973 (guerra do Yom Kipur) novamente patrocinadas pelo Egipto e pela Síria  mais uma vez a derrota árabe foi significativa e os ganhos territoriais de Israel resultaram da sua reacção aos ataques? 

 

É ou não verdade que entre finais dos anos 60 e os anos 90 houve continuas acções terroristas que tiveram o seu epicentro durante as olimpíadas de Munique que resultaram na morte de 11 atletas judeu?

(Todos os terroristas (com uma única excepção) que estiveram envolvidos no ataque foram posteriormente liquidados por agentes judeus que partiram à sua procura.)

É ou não verdade que o território de Gaza foi totalmente abandonado pelas forças de ocupação israelita a partir  2007, tendo sido eliminados 80 colonatos e forçados a sair de Gaza todos os seus habitantes?

É  ou não verdade que de 1948 até 1958 Gaza foi administrada por uma autoridade palestiniana?

É ou nao verdade que de 1959 até 1967 o território foi governado pelo Egipto?

É não verdade que em 1993 o poder foi transferido para a Autoridade Palestiniana?

É ou não verdade que, entre 2005 e 2007, ocorreu uma visível e extremamente violenta  guerra civil entre a OLP e o Hamas tendo este último conseguido expulsar o seu oponente?

Finalmente, é ou não verdade que mais tarde, as "eleições" deram ao Hamas um maioria de 76 mandatos (em 120) no "parlamento" de Gaza?

E que, mal ou bem, esse facto torna, de algum modo, a população palestiniana cúmplice de um governo cujos líderes apenas querem exterminar os judeus?

 

As perguntas  poderiam ser muitas más mas não vale a pena porquanto nem da história mais sumária há resquícios nos que de supetão  aplaudem agora Guterres e atiram para Israel todas as culpas (as próprias e não são poucas) e as que decorrem de uma longa e perturbadora actividade claramente terrorista. 

 

A verdade é que, com culpas (o voto no Hamas) o silêncio sobre as suas malfeitorias, o conhecimento que há sobre o desvio de verbas vindas do exterior e que nunca chegam à população, esta está encurralada. Mas não é apenas Israel que fecha as suas fronteiras. Que dizer do Egipto? 

Finalmente, agora que se fala do corte de combustível, de alimentos, de água, de produtos médicos e até da internet como é que se explica que tudo isso viesse do tenebroso inimigo sionista? Será que depois do massacre de 7 de Outubro alguém acha(va) que que Israel deveria cristãmente  oferecer a outra face e continuar a alimentar o esforço de guerra do Hamas?

 

Tudo isto deveria ter passado pela cabeça do sr Secretário Geral Guterres para o convencer a nõ usar termos que, por serem eventualmente portadores de ambiguidade, corriam o risco de o eliminar como mediador.

De resto, a alusão a um mediador é, a meu ver, outra palavra oca. Mediar entre os que "amam a morte" (sic) e  os que "amam a vida" (sic, novamente por provir do mesmo interlocutor, no caso um dos principais dirigentes do Hamas).

Alguém de bom senso, convicções democráticas e respeito pelos direitos humanos, o direito humanitário o surpreendente direito de na guerra ser capaz de se coibir (coisa bonita de dizer mas na prática dificl de conseguir) pode colocar na mesma balança um Estado e um grupo terrorista mesmo se o Estado responde com força demasiada aos golpes que recebe e o terrorista nunca distingue civis de militares, crianças, mulheres e bebés de colo de homens em idade de combater ou combatentes?

Ja o disse varias vezes e repito: não morro de amores páor Israel, não aceito que o Holocausto seja continuamente invocado para perdoar as falhas actuais, os governantes actuais e a su luta iliberal contra a Constituição democrática do Estado.

Mas, muito menos, entendo justa, seja a que título for, a acção terrorista que mata indiscriminadamente e governa violentamente uma desgraçada população. Não percebo porque é que este ataque de 7 de Outubro foi perpetrado sabendo-se que o governo de Netanyahu estava em sérias dificuldades perante a fortíssima oposição que ocupava as ruas desde há vários meses em defesa da democracia e dos tribunais.

Ou será que justamente por isso se resolveu dar uma mãozinha sangrenta a um primeiro ministro em visível perda de velocidade e a um grupo de extremistas religiosos e de extrema direita? 

 

(nota porventura desnecessária: leio com assiduidade v´rios jornais, desde o Le Monde, o El Pais, La Republica até ao Expresso e ao Público. Não frequento desde os anos 6o o "Diário de Notícias porque sempre o considerei, na ditadura como depois uma espécie de defensor oficioso do Governo (de todos os governos, aliás) e por isso não me admira que lá pululem elogios às declarações  (a todas as declarações...) de quem, de algum modo,  amigo antigo ou não, querendo ou não, consegue a proeza de igualar as acções do Hamas às do governo israelita. Ponto, parágrafo!)

 

Guterres, Israel e a Palestina

José Carlos Pereira, 26.10.23

O embaixador Seixas da Costa, nesta entrevista de hoje ao "Diário de Notícias", faz uma análise assertiva acerca das recentes declarações de António Guterres sobre o conflito israelo-palestiniano.
Guterres não fez mais do que afirmar os princípios de sempre das Nações Unidas, condenando o ataque e os "actos de terror" cometidos pelo Hamas, mas sem esquecer a ocupação forçada e "sufocante" que Israel faz de territórios da Palestina há dezenas de anos, contra centenas de deliberações das próprias Nações Unidas.

estes dias que passam 848

d'oliveira, 24.10.23

 

Ninguém os quer II

(adenda)

ou "Sem olhosem Gaza"*

 

mcr, 22, 10-23

 

Num texto recente ao referir-me aos judeus e aos palestinianos como o título ninguém os quis nem os quer  tentava dizer que na Europa (antes ou depois da 2ª guerra e desde quase sempre, aliás) a presença de judeus em quase todas as nações era algo que desagrava a muitos, muitíssimos. ou a uma forte minoria, de europeus que, de resto o demonstraram com continuada perseverança  ao longo de séculos, O anti-semitismo foi um dos caldos de altura da Europa bem mais do que no Oriente até à partilha da Palestina.

Posteriormente, também aí se desenvolveu de modo galopante, como é sabido.

Ocorre, entretanto, que há um outro grupo que, no Médio Oriente ganhou as esporas de indesejável. Refiro-me aos refugiados palestinianos que ninguém está disposto a aceitar. Por junto, só Líbano e a Jordânia os receberam. Aliás, só o fizeram por serem países contíguos a Israel e, sobretudo, fracos e sem grande hipótese de os rechaçarem. Todavia, como qualquer aluno de História do primeiro ano sabe nunca os desejaram, sempre os trataram mal (quando não os chacinaram em grande número, e em ambos os países) nunca prosseguiram políticas de integração de qualquer espécie.

No que toca ao Egipto, está à vista (mais que desarmada!...). Basta ver como a fronteira de Raffah está aferrolhada. Ou como, o que parece inacreditável dado o constante estado de hostilidades entre Israel e Gaza, é de Israel que vem a eletricidade, a água, os alimentos e o combustível e provavelmente outros bens e serviços...).

Por outras palavras, Israel ao fornecer todos estes bens tem uma quota-parte de responsabilidade na manutenção de condições de funcionamento  dos próprias Hamas e Jihad islâmica seus inimigos jurados.

O que espanta é que, sabendo disto, alguém se admire com o bloqueio destes fornecimentos, logo que os atentados e os ataques por foguetes foram  executados.

Também, houve quem se espantasse quando se soube (aliás sempre foi público e notório) que uma forte percentagem da ajuda da Europa a Gaza era desviada para o Hamas  e provavelmente para outros grupos armados.

Conviria, de resto, inquirir se a ajuda ocidental  foi sequer igualada por ajudas dos países árabes. 

Desconta-se o caso do Irão que apenas fornece treino e armas aos seus agentes no terreno (Hezbolah e Hamas).

Alguém me consegue explicar por que é que do Egipto não chegou até ao momento, água, eletricidade, combustíveis ou alimentos (os duzentos ou trezentos camiões na fronteira trazem donativos da ONU, do Crescente Vermelho e da União Europeia).

A solidariedade "fraternal" muçulmana que se agita nas ruas de tantos países não contempla mais do que gritaria e ameaças. 

Então, enquanto para Israel seguem diariamente judeus de todo  o mundo  para defender um país que, em boa verdade não é o seu senão pela ligação religiosa ou por tradições cada vez mais esbatidas, não se consegue ver um par de árabes prontos a morrer por uma terra e uma gente que está para ali encurralada?

0,1% do rendimento líquido anual dos países do Golfo tornariam Gaza num jardim luxuoso que faria os israelitas morrer de inveja. Dotá-la-ia de dessalinizadoras, centrais eléctricas e tudo o resto. Aqueles milhares de edifícios há muito que poderiam estar dotados de painéis solares que sol é que mais dá naquela terra desoladas. Todavia, nada disso aconteceu e, tenho por certo que não acontecerá. A "fraternidade " islâmica e muçulmana atira para cima da UE e do Ocidente em geral as contas a pagar e, de passo, dá uma trincadela nos fundos que chegam.

Casas más, de fraca construção, onde amontoam pessoas sem especial, sem nenhum condorto, Gaza não é exactamente uma prisão a céu aberto mas sobretudo um campo de refugiados, desnorteados que dependem de toda a espécie de ajudas exteriores e são (des)governados por uma pandilha corrupta, fanática, cega pela esperança de varrer Israel do mapa. Convém dizer que a maior parte dos dirigentes deste grupo terrorista (que jura "amar a morte") vive descansada e confortavelmente noutras paragens menos inclementes.  

Nada disto, porém, iliba Israel de culpas no que toca a respostas duríssimas quando se sente atacado. Aqui, deste lado reina u áxima olhos por olho, dentes por dente. É o síndroma do pequeno Estado cercado mas isso não permite esquecer que há acções militares que, como avisou Joe Biden, se assemelham mais a vinganças medonhas do que a justiça e respeito pelos direitos humanos. 

Mas também isto era, sempre foi, sabido pelo Hamas e pelas multidões que o votam, o aclamam ou se insurgem noutras partes do mundo contra este actual estado de guerra.

Finalmente, parece que todos os caritativos, bondosos, progressistas espíritos que choram pelos habitantes de Gaza, puseram entre parêntesis esta tremenda verdade: aquilo pode ser tudo o que quiserem mas nunca foi sequer a caricatura de uma democracia. Ao mesmo tempo, e nos últimos meses, todos quantos ainda olham com olhos de ver (e ouvidos de ouvir) para Israel tiveram oportunidade de assistir às gigantescas e diárias manifestações de cidadãos que, em Israel, defendem a democracia e um Estado laico. E que, eventualmente, estavam a ganhar terreno contra o Likud, a extrema direita e os fanáticos religiosos que também por aqueles lados medram como coelhos. De todos os restantes lados daquela região apenas se divisam teocracias, autocracias, regimes de partido único e, corrupção, a boa e velha e rentável corrupção. Do Egipto, onde manda um dirigente de um golpe militar, da Síria onde um miserável carniceiro se aguenta no poder graças ao auxílio "desinteressado" da Rússia, do Irão onde a padralhada maltrata, prende, mata mulheres, aos emiratos que nadam em petróleo  e vivem cercados de criadagem asiática a quem pagam mal e porcamente à Arábia saudita que assalaria a peso de ouro jogadores de futebol que não contestam um regime tão isolado e tão anti democrático quanto os outros. O Líbano não existe, a Jordânia não rosna o Iémen vai sendo destroçado por uma guerra civil e o Iraque está como se sabe. Em todos eles, "direitos humanos", democracia, liberdade de pensamento, de acção e de religião são apenas blasfémias. Que por cá haja quem admire isto, quem apoie isto não espanta. Como de costume, são poucos e detestam a democracia e a liberdade em que os restantes vivem e acreditam.

Voltando ao título, ninguém (exceptuando algumas criaturas da comunidade judaica do  Porto que a quem pede, requer ou eventualmente paga certidões de descendência sefardita,  descobre  e atesta antepassados judeus desaparecidos há quinhentos anos para parte incerta) neste mundo cão está especialmente interessado em que  os judeus regressem em força ao local onde foram maltratados, proibidos, expulsos ou massacrados.

No Médio Oriente  não e vislumbram samaritanos dispostos a acolher dois ou três milhões de pessoas que não tem outro remédio senão viver no que elas próprias chamam prisão a céu aberto. 

Também por isto, defendo o regresso ao princípio dos dois Estados. Não é uma boa ideia mas é a menos má de todas as outras. 

Ainda pensei em titular esta crónica voltando ao brilhante romance de Aldous Huxley, "Sem olhos em Gaza" para significar que os amigos dos palestinianos estão como Sansão, cegos e prisioneiros de uma ideologia barata e vaga. São, se me permitem meros filisteus e agem como tal. O romamce em causa não trata exactamente disto mas toma a história do forte guerreiro judeu como pretexto para descrever um par de peripécias de um membro da boa sociedade lutando contra os seus fantasmas.

Todavia, quem fingindo apoiar a causa palestiniana, se mostra nas ruas das nossas cidades nunca quis pensar a sério nas raízes deste conflito mas apenas o usa para espantar outros fantasmas que, como alguém uma vez disse, andam à solta na Europa... 

estes dias que passam 847

d'oliveira, 22.10.23

É pró que estamos!...

21-10-23

 

1 a liberdade de expressão segundo o sr Pontes 

O cavalheiro referido entende no alto da sua profunda ignorância jurídica e da tribuna que o jornal lhe dá que chamar assassino a quem quer que seja, apenas porque isso dá jeito e o acusado é conhecido por desordeiro, fascista (sobretudo isto) e condenado várias vezes é apenas "liberdade de expressão" mesmo que a obscena criatura acusada não tenha efectivamente morto um emigrante cabo-verdiano assassinado às mãos de outros patifes da mesma laia do sr. Machado.

O autor da acusação, um senhor que trocou o paraíso senegalês por um Portugal medonhamente racista, acha o mesmo. Chamar assassino a um racista, fascista, imperialista e capitalista  é um direito que se engloba perfeitamente na "liberdade de expressão"

Acontece que uma juíza, que não conheço nem espero vir a conhecer, entendeu que a acusação é crime por o acusado não ter de modo algum (e comprovado no STJ... o que não é coisa pouca) feito parte dos responsáveis por aquela morte- 

Eu tenho por seguro que ser fascista não significa sempre ser ladrao, assassino ou violador tal como ser comunista não significa ser guarda e torturador num gulag, agressor na Ucrânia ou bufo da polícia política de um estado comunista. Igualmente, ser liberal, não significa que alguém seja um ricaço usurário, um capitão de indústria poluente, um traficante internacional de  armas.

E por aí fora.

O actualente condenado sr Mamadou Dia ao pagamento de 2400€ ao tristemente conhecido sr Machado, abencerragem da extrema direita nacional com um passado de violências e de condenações cumpridas em cadeia, não pensou, ou pensou mal ao associar o dito Machado a um crime que ele não cometeu. E fê-lo com amplo conhecimento dos factos, das decisões dos tribunais. Fê-lo quase que em tom de desafio, pensando que o facto de ser anti-racista e anti mais uma série de coisas o absolvia do crime de mentir e de ofender. 

Imagine-se que o ofendido Machado, em vez de "inteligentemente"  (por uma vez na vida) levar o caso à justiça, tivesse resolvido dar-lhe um "safanão" à moda de Salazar ou ameaça-lo de violências várias incluindo um tiro ou uma facada. 

Alguém acredita que o sr Dia entenderia isto como mera "liberdade de expressão" e não como uma clara ameaça à sua integridade física?  

O advogado do réu condenado agora ao pagamento de umas largas  centenas de euros (que este último já declarou numa rede social que não pagaria) afirma que vai recorrer, que irá até às instancias europeias se caso for. 

com que argumentos legais? , pergunta-se a menos que a condição de fascista e ex-recluso do queixoso agora vitorioso seja argumento bastante.

2 E segundo "Paddy"...

 

 

 

o senhor "Paddy" Cosgrove, que não conheço nem quero de modo algum conhecer, é, ao que sei, o feliz empresário de um coisa onde nunca porei os pés chamada Web summit e que, parece lhe dá fartíssimos lucros  e custa muitos fartos maravedis a Portugal que, à falta de melhor, acha que assim doura o seu minguado brasão de país desenvolvido.

Por razões que não consigo discernir a criatura Cosgrove resolveu debitar algo sobre Israel e o actual estado de guerra  provocado por um estúpido, bárbaro atentado terrorista que, ao invés de melhorar a sorte de dois milhões de habitantes de Gaza,  obviamente se transformaria num inferno ainda mais dramático do que lhes era já habitual.

E disse, o sr Cosgrove que "crimes de guerra são sempre crimes de guerra, o que é pertinente. Esqueceu-se, entretanto de referir que as 1500 mortes israelitas também são crimes de guerra. Tivera ele dito, ao mesmíssimo tempo, isto e nada ou muito pouco se lhe poderia assacar. Mas não disse! Não se lembrou, não lhe apeteceu, não considerou a responsabilidade do Hamas (neste concreto caso e momento)

Israel, uma potência informática, declarou logo que boicotava a iniciativa. algumas figuras conhecidas secundaram-no. 

Cosgrve percebeu que tinha "metido o pé" e tentou emendar a mão, coisa esdrúxula  como se sabe. E veio, a correr, dizer que o Hamas não sei quê. E pedir desculpa, Tarde falaste! Eis que os grandes monstros da internet e arredores entenderam "acertar o passo" ao pobre Paddy. E vai daí que Google, Amazon, Meta também boicotam a iniciativa! Um desastre! É provavel que nesta corrida ao boicote, outros se apressem a seguir a maré. Politicamente é correcto como se sabe. E, de caminho, pontapeia-se o semi cadáver de Pddy que já esta no chão.

Agora o pobre homem demitiu-se para tentar salvar o resto e evitar mais cacos. 

As pitonisas do politicamente correcto vem agora bramir que é a "liberdade de expressão" de Cosgove que está ferida.  Que o pobre diabo não queria, já o jurou por duas vezes mas tardiamente, ofender Israel. 

Ora, penso eu, que sou apenas um paisano, que dizer que uma reacção desproporcionada pode traduzir-se num crime de guerra não é nenhuma mentira nem nada de afrontoso tendo embora o cuidado de também afirmar, sem receio que o Hamas é um grupo de criminosos, terrorista e, para além do mais, estúpido pois sabia perfeitamente que isto (o que está a acontecer e o que, provável e infelizmente, acontecerá ) er mais que certo. 

 

A liberdade de expressão é, em si mesma, um direito que, porém, deixa entrever um dever, o qual é dizer a verdade, toda a verdade e nada mais do que a verdade. Não se compadece com estados de alma nem com quaisquer preconceitos sejam eles quais forem e sirvam interesses e ideologias de qualquer espécie.

 

A juíza Férrer por maiores contorcionismos que lhe apetecessem, não podia julgar de outra maneira, como aliás o juiz de instrução Carlos Alexandre ou o Ministério Público em seu tempo decidiram sobre a queixa  do muito pouco recomendável Machado que, uma vez sem exemplo, entendeu não usar dos expeditos métodos que o levaram à cadeia. Todos entenderam que a burrice de Mamadou não tinha nada a ver com liberdade de expressão mas tão só contra um devastador erro de apreciação do que é e do que não é possivel dizer num país  livre e razoavelmente decente como é Portugal.

Lamento muito ter de dizer. Neste caso, o sr Mamaou foi imprudente, impudente, estúpido e ignorante quanto ao significado das liberdade.

Ponto, parágrafo. 

 

estes dias que passam 846

d'oliveira, 20.10.23

Ninguém os quis nem os quer

mcr, 19-10-23

 

Nunca fui pró-israelita mas também nunca dei para o peditório dos pró-árabes. Desde que me recordo, os Estados do Médio Oriente (excepção feita, e apenas durante alguns anos, do Líbano) tudo aquilo era repelente, autocrático, ditatoria le mesmo quando havia uns alegados partidos de "esquerda" a coisa descambava para o nepotismo, a corrupção, o desprezo pelas "massas" e, claro, sempre com tendência para governo de partido único.  Monarquias e repúblicas Ibn Saud ou Nasser, um reizinho da Jordânia um general iraquiano e por aí fora. O Irão era pousio de uma dinastia recente, sôfrega, autoritaria que queria modernizar  o país contra uma resma de clérigos chiitas, ignorantes, anti-progresso e anti feministas. As sucessivas revoluções (e eu ainda me lembro dum gorucho chamado Faruk que reinava no Egipto até ser deposto por um general chamado Naguib que por sua vez foi defenestrado por um coronel chamado Nasser e por aí fora. Na vizinha Líbia, outro reizinho que se chamaria Idris foi mandado para a reforma por outro coronel, desta feita Kadafi que se notabilizou por ter uma guarda pretoriana feminina, ser mandante de atentados terroristas, roubar o seu pobre povo e finlmente ter ojusto destino dos grandes criminosos.

Todavia, desde a independência argelina onde também se sucederam os golpes e contra golpes, as insurreições populares afogadas em sangue, que todos estes Estados nascidos à sombra da desaparição do Império turco, nada funcionava já não digo democraticamente mas pelo menos sem violência. Nada!

Ou melhor. a partir de 1948, ano em que a ONU praticamente criou o Estado de Israel , apareceu uma chamada "causa árabe" que, pretendendo auxiliar os palestinianos varridos das suas casas pelos exércitos irmãos que queriam mãos livres conta os inimigo sionista e pelos judeus que não deixavam de querer o mesmo,fundaram os primeiros e repelentes campos de refugiados no Líbano e na Transjordania. 

É bom lembrar que todos os restantes países "irmãos" se recusaram então, como hoje, a receber refugiados da palestina que provavelmente eram os mais educados e mais modernos de todos. 

Mais,  os refugiados em territórios mais ou menos jordanos form alegremente massacrados, anos depois, a pretexto de uma tentativa de golpe de Estado. Anda por aí muito rapazinho e muita rapariguinha, esquerdissimos todos, que disto nada sabe, nada interessa nada convém.

A verdade é que graças ao Egipto, à síria, à fraca Jordânia e ao fraquíssimo Líbano, com ajudas directas ou indirectas do Iraque, Israel foi crescendo em território depois de cada tentativa de ataque feita por estes Estados.  E cresceu por duas razões. Primeiro não tinha para onde ir. Depois havia a solidariedade dos judeus americanos que com o seu peso obrigaram as administrações  a ajudar o jovem Estado. 

Da parte da Europa, quer de Oeste, quer de Leste (lembremos que ainda havia um bloco dito "socialista") Governos e muita população sentiam-se bem livres da indesejável presença dos judeus. É bom lembrar que em toda a Europa do Atlântico aos Urais, sucederam-se durante séculos perseguições de toda a ordem. No leste, onde se criou a comunidade askenaze, os pogroms eram assustadores e repetidos. No Ocidente, desde os guetos até à santa inquisição peninsular também não tiveram melhor sorte. De pouco lhes valeu serem os médicos e os banqueiros de reis e príncipes.  Volta e meia, alguém se lembrava que tinham matado Jesus e zás! toma lá que já bebes. 

Também não se deve ocultar que, sobretudo na Polónia, na Lituânia e noutras zonas limítrofes, milhões de judeus sobreviviam miseravelmente nos "shetls" camponeses de onde só começaram a sair depois da 1ª grande guerra. Falavam yidish, eram incultos, religiosos e pobres. Chagal retratou-os bem em algumas das suas mais conhecidas telas. Do lado de cá, na Alemanha e na França, sobretudo, havia uma elite judia culta, rica e protetora das artes e das letras que forneceu (como também na Rússia mais cosmopolita) músicos, escritores, artistas plásticos, banqueiros, e políticos. No caso da Rússia, uma boa parte dos primeiros revolucionários radicais vinha de famílias judias mesmo que, na generalidade, já não professassem o judaísmo nem acreditassem num impossível regresso à terra do leite e do mel. 

A gr matança nazi acabou com a grande maioria dos judeus não escolhendo entre ricos e pobres, crentes ou ateus. Não foram só eles a sofrer os campos de extermínio (houve, ciganos, mestiços alemães das antigas colónias africanas, católicos, conservadores, doentes mentais, homossexuais e toda a espécie de membros dos partidos comunista e socialista que, anos antes, alegremente, se matavam nas ruas de Berlin.

Acabada a guerra, os mais corajosos, os que melhor conheciam os países de onde vinham, os mais visionários, entenderam ser a hora de ir para Israel, ao abrigo de uma promessa tonta feita por um lorde Balfour a um grande banqueiro judeu e multinacional.

É bom acrescentar que a Palestina foi um destino que se impôs depois de se ter pensado em Madagáscar e no sul de Angola. A Agencia Judaica reuniu fortes capitais e desatou a comprar terrenos onde se "assentaram" os primeiros colonatos, quase sempre kibutzes de forte marca socialista. E onde nasceu o "Haganah, o exército secreto judeu, os grupos terroristas Stern ou Irgun, os sindicatos e o partido trabalhista. 

O ingleses, fartos de atentados (o mais famoso dos quais foi o do Hotel Rei David...), fartos de um território sem petróleo, desandaram deixando para trás uma confusão diabólica  que já mostrava que nenhum entendimento era possível.

Com uma energia e uma tenacidade invulgares os israelitas constru,corram um país moderno, quase um jardim no deserto, dotaram-no de infraestruturas inigualáveis ainda hoje, criaram um exército cidadão e eficaz enquanto os vizinhos desaproveitavam as riquezas dos seus territórios. É verdade que beneficiaram da gigantesca ajuda da diáspora judia na América mas os vizinhos, graças ao petróleo poderiam (como agora fazem alguns) ter desenvolvido tão bem ou melhor os enormes territórios que detém e feito progredir as respectivas populações. 

Israel, com todos os seus defeitos e soberba construiu uma democracia frente à qual só se vê um amontoado de regimes ditatoriais. violentos, corruptos e politicamente instáveis.

E nestes o que parece progredir é o mais exaltado, requentado, fanatismo religioso que se alimenta da ignorância e do analfabetismo populares, vive  â custa de subvenções mormente europeias que em chegando a Gaza enchem mais depressa os cofres do Hamas do que a alegada fazenda pública. 

A isto junta-se a ajuda do grande irmão iraniano que fornece armas, treino, clérigos chiitas que, mesmo em territórios maioritariamente sunitas, lá vão construindo uma teia de instituições apenas destinadas a expulsar o inimigo sionista e nunca a melhorar a sorte da população que, ainda por cima lhes serve de escudo humano.

Muto se fala do corte da água, da luz, dos combustíveis e dos alimentos a Gaza.  Então era de Israel que tudo isso vinha e não do grande irmão egípcio? 

É conveniente lembrar que Israel abandonou a faixa de Gaza há mais que tempo suficiente, que extinguiu à força todos os seus colonatos na zona. É verdade que sempre que um tresloucado guerrilheiro acantonado em Gaza atira um petardo para território israelita, a resposta é violenta e duríssima Há um israelita morto para vinte palestinianos  de cada vez que se abre uma hostilidade.

Este ataque do Hamas nunca se destinou, nem podia, a enfraquecer Israel  a convidá-lo para um qualquer diálogo. Quem atacou, quem o ordenou, sabia exactamente o que em resposta ocorreria (e que ainda nem sequer terá seriamente começado).

Passemos às histórias dos últimos dois dias. Uma escola financiada por ingleses atacada e quando servia de refúgio e um hospital destruído  (mas que afinal continua de pé e a funcionar) por um alegado míssil que não deixa vestígios no solo nem sinais nos prédios próximos. 

Não estou a afirmar que a causa do incêndio seja outra mas apenas pergunto como é que Israel poderá ter cometido um erro tão grosseiro, uma estupidez tão supina, quando o que mais precisa é de compreensão e apoio da opinião pública internacional. Já me andava a espantar que, depois de ter ordenado uma saída de civis para sul (que, como se sabe, o Hamas tenta, por todos os meios, impedir), houvesse  tantos ataques nessa zona de segurança. A tropa israelita, altamente profissional, endoideceu? 

Eu sei que Netanyahu não é flor que se cheire, que é como agora se diz um "iliberal" que é capaz de muita coisa para se conservar no poder e longe da cadeia mas, depois de imprudentemente  (e como Stalin em 1941) nõ ter considerado os avisos das secretas e do Egipto, ainda sabe qual é a última linha vermelha a não ultrapassar. E, na falta dele, há muitos outros dos seus camaradas que sabem e mantém algum bom senso e inteligência.

 

Há para além disto tudo, num momento em que a propaganda reina, um aproveitamento político que conduz a um único ponto. Aqui os maus da fita não são os matadores fanáticos que assassinaram a sangue frio mil e quinhentos civis e raptaram mais de cento e cinquenta velhos, mulheres e crianças, mas apenas os "colonizadores", os imperialistas sionistas e seus amigalhaços que fartos de trucidar russos libertadores e inocentíssimos na Ucrânia resolveram tornar a coisa ainda mais global...

Também sei que o excessivo apego às ideologias mais radicais, e com cada vez menos eco nas sociedades ocidentais, pode conduzir a extremos de miopia política como se vai vendo por aí. Dão poucos mas gritam por muitos e seguramente mais do que as pessoas de bom senso.

Não lhes interessa (como ocorre em vários países árabes) patavina a sorte dos desgraçados habitantes de Gaza. São "danos colaterais"  na grande causa da Revolução a messiânica a que se votaram. Por ela, vale tudo, os fins justificam os meios e as massas da faixa de Gaza não pesam na futura contabilidade dos dias futuros que cantarão. 

Contra eles, apenas defendo que tudo se reconduza à política de reconhecimento de dois Estados que não sendo uma solução maravilhosa, longe disso, é a possível   e a que menos danos trará à paz no Médio Oriente. 

Ou por outras palavras: acho possível parar de eliminara ideia (muito do agrado dos chefes do Hamas) que amar a morte ´é superior aquela mais mesquinha de amar a vida (pelos vistos e na mesma óptica, a israelita. cfr as declarações de um alto dirigente do Hamas, que, obviamente, vive no Qatar com todas as mordomias que o seu alto e sangrento estado permitem.

estes dias que passam 845

mcr, 16.10.23

"Chapéus há muitos, seu palerma!"

mcr, 15-10-23

 

Socorro-me de uma expressão tornada quase popular por vi do Vasco Santana, em "A canção de Lisboa". 

 

Também, pelos vistos, há muitos, talvez demasiados, 25 de Novembro para recordar, comemorar esquecer ou amaldiçoar.

 Não pretendo chamar palerma a quem quer que seja mas apenas lembrar alguns distraídos que o 25 de Novembro lisboeta foi o episódio final de uma séria convulsão que percorria Portugal de lés a lés e tivera, de Rio Maior para cima uma série de incidentes (antes e depois) que numa hipótese mitigada poderiam mostrar que o PREC estava a soçobrar e que para assas cada vez maiores de populares entrara numa espécie de delírio que se auto-alimentava numa série de organizações cada qual mais fantasmática do que a anterior.Dou apenas o exemplo de "soldados unidos vencerão"  que nunca passou de uma vaga reunião de rapazes que passava a mensagem de "centenas ou milhares de militares" prontos a descer da inexistente Serra Morena para defenestrar  algum hipotético Fulgêncio Baptista que, de resto nunca se viu. Candidatos a Fidel ou a Che havia umas dúzias que, em boa verdade, ignoravam tudo de Cuba, da também inventada "revolução na revolução", uma trouvaille de Régis Debay que mesmo sem perceber uma palavra de espanhol fazia uma análise sedutora e absolutamente falsa  de Cuba e a América Latina.

Aliás a América Latina, aquecia as cabecinhas (pouco) pensadoras de alguns militares de Abril  ou de um ou dois meses depois (sobretudo sesses recém convertidos, catecúmenos  à procura de um novo messias nesta Europa que já não sonhava com "amanhãs que cantam" e desiludida e espantada, via a putrefacção em que caíra  "sol da terra"... Como, de resto, depois, penosa e amargamente, se verificou.

É bom lembrar o famoso cerco à Assembleia Constituinte, a caricata história de um governo em greve, o "bardamerda" do almirante Pinheiro de Azevedo à multidão ululante que se manifestava, as ameaças directas e indirectas de representantes de poderes facticos ou nem isso. 

Ou, já agora, a primeira demonstração de força, a da fonte Luminosa a que, involuntariamente acabei por assistir à saída de uma sessão de cinema no antigo "Império" em Lisboa. Uma amiga minha, militante de um grupo de extrema esquerda, estava aterrorizada com o que via, temendo ser reconhecida e agredida. Lá a conduzi a casa, assegurando-lhe uma vaga protecção por ser de todo estranho aos manifestantes mais ruidosos e maravilhados com a gigantesca multidão que rugia contra o Governo.  Ainda por cima estava engravatado pois vinha de uma reunião. A gravata, pensava, era prova provada de pessoa de bem longe das fumaças revolucionárias

Os chefes militares do Centro do país e, sobretudo, do Norte, por todos Pires Veloso já controlavam quartéis suficientes para preparar o que muita gente pensava ser quase certo, a guerra civil. 

Eu lembraria, os ataques sucessivos a sedes de partidos mormente do PC mas também de praticamente todas as restantes organizações ditas de esquerda que duraram todo o mês de Agosto, a vinda em fuga precipitada para o Porto de militantes comunistas de Trás os Montes, dos distritos de Braga ou de Viana para já não falar do que se passava em Viseu ou na Guarda e no interior do distrito de Coimbra. Mais abaixo estava Rio Maior a terra das mocas das primeiras barragens de estrada. Isto, para não ir mais longe, demonstrava que a famosa e na altura já finada "muralha de aço" se confinava a Lisboa e á outra margem. E que o aço, se aço era,  estava com um tremendo ataque de ferrugem

Datemos melhor a coisa. A queda do Vº Governo, a aparecimento e imediato desaparecimento da FUR (frente de Unidade Revolucionária  que, por momentos, terá chegado a ter a discreta presença do PC) e tudo o resto foram os penúltimos estertores da  miragem "revolucionária", Razão tinha o sr Carlucci que terá convencido o governo americano que a desenfreada gritaria em Lisboa e arredores era na melhor das hipóteses o terceiro acto de um drama de faca e alguidar, jamais um peça de Shakespeare.

Pelos vistos, agora, no PS há umas figurinhas que se esquecem do activo papel da direcção polítca (Soares, Zenha e outros) e da mais escondida facção "militar" onde se destacou Edmundo Pedro, o ex-tarrafalista apanhado muito depois a comboiar um carregamento de armas que alegadamente iria "devolver por já não serem precisas".

 

Na altura, eu militava numa espécie de "carnaval político" que se estava a esboroar. Não vou dizer que aquilo se partiu ao meio mas, pelo menos geograficamente, também se verificou o mesmo que no resto do país. As pessoas mais velhas, vindas de batalhas anti-fascistas muito anteriores, com contactos na sociedade civil, vendo o previsível desastre que se aproximava, redobraram de avisos que a Direcção ignorou olimpicamente.  Em Outubro de 75, mandei duas longuíssimas e copiosas cartas e retirei-me não exactamente para Vale de Lobos, mas para o crescente número de testemunhas ainda amáveis que tentavam prevenir, pôr água na fervura. Lembro-me de duas reuniões, uma delas em casa do Zé Manuel Galvão Teles onde se tentava perceber se ia ou não ocorrer um "golpe de Praga" (sic)...

Não sei se a minha exposição sobre o que via e o que sentia no Porto e no Norte que, entretanto, percorri, serviram ou não.  

De todo o modo, lá fui  (modestissimamente) visitando velhos amigos e colegas de Coimbra e m quase toda a parte verificava que o sentimento era o mesmo. Ninguém apreciava especialmente alguns dos militares ditos moderados mas sobre os adversários destes havia uma opinião bem definida: tontos, medíocres e politicamente impreparados, capazes de engolir toda e qualquer patranha "revolucionária" que lhes vendiam. 

Eu sei que é muito pouco interessante esta coisa de viver ou construir uma democracia liberal, "burguesa" carregada de discussões, parlamentar e, por vezes, para lamentar. A fogachada das grandes proclamações cai mal ou é pouco escutada nestas sociedades que pretendem viver pacificamente à sombra de uma constituição que defenda os direitos humanos, a democracia, a liberdade de pensar e de agir sem inspecções policiais ou de partido único.   

O dia 25 de Novembro foi tão ou mais calmo que o 25 de Abril. Os militares sabem que isto de andar aos tiros só causa ruído, perturbação e pode descambar. em poucas horas, a coisa estava resolvida, chefiada por um enigmático e desconheciso coronel Eanes, que também usava óculos escuros e que era acolitado por um oficial de "comandos" que também não tivera especiais problemas com os quartéis que fora "visitar".

A parte mais oficial do Partido Comunista fez chegar às redacções e "a quem de direito" que não estava na jogada pseudo-revolucionária  nem alinhava em "esquerdices". Isso fez evaporar muito militante que pensava que chegara, com o atraso do costume uma revolução de Outubro à portuguesa. Não havendo orientações para tomar um imaginário "palácio de inverno", nem ocupar um congresso de sovietes (também eles inexistentes  ou apenas imaginados por cabecinhas esgrouviadas), caiu sobre uns escassos milhares de ansiosos  candidatos a revolucionários uma espessa melancolia. A vida prosseguiu sem grandes dificuldades, excepção feita, para umas dezenas de criaturas presas por algumas semanas muitas das quais em prisões perto do Porto onde ainda assisti a concentrações de familiares e amigos que me pareceram imitações pobres das que se davam nos maus velhos tempos em que, cliente de Caxias, me foi dado ver da janela gradeada da minha cela. Mas não era a história a repetir-se. Tão só "dois ou três passos atrás sem antes se ter dado sequer um sólido passo em frente, se é que algum/a leitor/a se deu ao trabalho inútil de ler o clássicos leninistas que se consumiam muito naquela época, mesmo se em resumos  prontos para ler e deitar fora. 

O 25 de Novembro não foi de nenhum modo um contra 25 de Abril. Esse deu-se bem antes, em assembleias selvagens do mfa, nos idos de Março. E repetiu-se nas tentativas pueris de recrear na ocidental praia lusitana os fastos de Petrogrado em ebulição entre Janeiro e Novembro de 1917. 

A normalidade  ( e não a "normalização") demorou o seu tempo. durante um par de anos bancos foram assaltados para criar um pé de meia  para uma eventual revolução que nunca chegou, para fazer funcionar um pequeno e ineficaz aparelho clandestino, com alguns "revolucionários" ainda em fuga (com um deles, provavelmente o mais importante e "histórico" cheguei à conversar durante uma inteira tarde em Moledo o que prova que ou a polícia era incompetente ou ele demasiado ousado). Mais tarde, apareceu uma conspirata, igualmente analfabeta mas bem mais perigosa cuja única acção se saldou numa dúzia de mortos quase sempre inocentes. E houve um perdão político e indecente que permitiu ao presunçoso líder um resto de vida sossegado e semi triunfante!!!

A alegada Esquerda derrotada no pacífico 25 de Novembro foi estiolando de eleição em eleição e representa hoje, eleitoralmente, menos do que um estapafúrdio partido de direita radical, igualmente presunçoso mas que intelectualmente faria corar de vergonha o dr Salazar e todos os seus amigos e partidários. todavia, num país ainda a tentar levantar-se de uma profunda crise, consegue eleitores cuja origem não toda das franjas ressentidas da Direita tradicional mas também (basta ver a geografia eleitoral)  terá ido buscar votantes desiludidos ao extremo do arco parlamentar. Nisto, apenas se segue um guião mais que conhecido em França ou Alemanha... 

Todavia, a simples menção de delebrar o 25 de Abril e recordar o 25 de Novembro como sua eventual, possível e salvadora continuação deu azo a um burburinho  (sempre dentro do pequeno grupo que se agita nos jornais e nos escassos círculos políticos que fornecem "comentadores", "especialistas" e público para a pequena algazarra que lá se desencadeia numa tentativa de provar que somos uma "democracia adulta". Já li de tudo mas consigo ainda surpreender-me e entristecer-me quando vejo gente que, apesar de tudo, estuda, pesquiza e publica vir a público em textos medíocres, manipulando datas ou melhor esquecendo umas e sublinhando outras para provar  o acerto das suas elucubrações. E de facto não passam disso.

Portanto, o segundo 25 não terá honras especiais enquanto que o primeiro terá de aguentar com toda a retórica das comemorações cinquentenárias ou seja já não terá a assistência comovida, entusiástica, da grande maioria que a ele assistiu e teve a possibilidade de o viver e realmente se implicar. Os mais novos andarão muito perto dos setenta anos e o resto. e nesse grupo me incluo, está (ou na altura -ainda faltam  seis bons meses- estará com os pés para a cova.)

De todo o modo, quem quiser que aproveite as festividades pois que daqui a um par de anos a celebração irá ser tão inócua e chata quanto a do 5 de Outubro. Mais chatas ainda só o 1º de Dezembro e o 31 de Janeiro se é que ainda há alguém que as acompanhe...

desta vez a vinheta emigrou para baixo e não a sei pôr em cima. Mstra a desolação de soldados vencidos e é, parec-me, uma das melhores imagens que se pode ter  mesmo se estes filhos do povo a cumprir o serviçp militar obrigatório em pouco ou nada tivessem quaisquer responsabilidades na situação. ao contrario dos instigadores  que se escafederam para parteincerta deixando apenas um par de oficiais não muito graduados a apanhar os cacos. 

 

Derrotadosparaquedistas.jpg

estes dias que passam 844

mcr, 12.10.23

A panela de ferro e o vaso de barro

mcr, 12-10-23

 

Imagine o leitor que, como muito boa gente, da minha geração,  detesta polícias. Naqueles pouco saudosos tempos a polícia era, regra geral, de uma brutidão notória, vinda de classes modestíssimas, vagamente alfabetizados e cm uma ordem única: zupar nos lombos dos protestantes fossem eles o que quer que fossem ou o que quer que reclamassem.

"Safanões dados a tempo" recomendava o eremita de Santa Comba mas os guardiões da ordem achavam que isso queria significar "arrear ad libitum" se me é permitido o latinório.

Aliás, as polícias em geral, mesmo a inglesa, tem sobre a sua missão espancadora ideias bastante largas e quando os regimes são proibicionistas.

No meu tempo (novamente...) havia um par de doidos cuja sanha à "bófia" os fazia perder a cabeça e arriscar a carcaça juvenil e imprudente.

Quando lobrigavam um polícia mimoseavam a espessa criatura de dichotes e, em casos extremos, tentavam afagar-lhe os lombos. 

Claro que, em 99% dos casos, a coisa corria mal ou muito mal e o valentão, ficava fortemente dorido. Se calhava ser levad para a esquadra, a coisa ainda era pior pois os colegas do ofendido entendiam que a camaradagem também passava por molhar a sopa no alucinado desafiante da ordem pública em geral e dos seus defensores em particular.

O público protestatário sempre afirmou que essas exacerbadas atitudes quixotescas eram, na melhor das hipóteses, simples provocação e na pior burrice supina.

Ora, a actual e trágica situação em Gaza enferma numa proporção medonha do mesmo mal dos rapazolas que referi.

Não vou sequer debruçar-me sobre a paupérrima ideologia do Hamas grupo que junta num cocktail explosivo a teocracia chiita, o populismo de extrema direita e mais sólido desprezo pela população que governa e é, aliás, sunita na sua esmagadora maioria.

Isso significou, em primeiro lugar, a expulsão manu militari, dos políticos mais moderados que detém o poder (o minguado e mitigado poder que o vizinho Israel lhes permite) na Cisjordânia.

Depois, assegurou-se, por meios que, por meras razões éticas e políticas, não merecem descrição, transformar-se na força política dominante do território. Sabedor da qualidade da espionagem israelita, cedo se transformou numa organização tão secreta quanto possível, imbricada na população civil que, queira ou não, não tem escapadela possível, criando uma rede extraordinária de esconderijos, sedes, quartéis, depósitos de armas, logística, dentro de imóveis civis.

Junte-se-lhe uma gigantesca rede de túneis por onde transita tudo, desde contrabando a bens essenciais, armas, gente.

Ora, e é aqui que bate o ponto, os dirigentes do Hamas (e todos os seus amigos, defensores e cúmplices) sempre souberam, com um saber de (muita e variada) experiência feito que qualquer acção armada contra Israel era respondida com força. Com violência mesmo. Contundentemente. De resto, os dirigentes "terroristas" sabem, ou deviam saber que o seu tempo de vida é eventualmente curto. Tão curto quanto o das vítimas que conseguem eliminar.   E que, ao longo de todos estes anos não são poucas, sobretudo entre as populações que controlam e que pagam duramente toda e qualquer manifestação de menor simpatia.

Este ataque, planeado com grande cuidado, foi estúpido porque envolveu fundamentalmente civis israelitas que foram selvaticamente metralhados, assassinados, com as famílias, mulheres, idosos e crianças lado a lado com os homens que na imensa maioria não eram militares nem estavam armados. 

Mil e quinhentos mortos é um numero quase inimaginável e também prova que, paralelamente a um maior planeamento dos atacantes, também existiram falhas evidentes das autoridades.

No exacto momento em que um primeiro ministro a contas com a justiça, aliado ao que mais sórdido existe na comunidade (e nisto também meto a extrema direita ultra-ortodoxa..,) incluindo radicais que advogam uma espécie de "Grande Israel" como  matadores dos seus eliminados antepassados (e falo dos nazis) prosseguiam o sonho de "um espaço vital" germânico, eis que o Hamas lhe vem dar uma mão salvadora com um ataque infame que claramente pedia (e pede) resposta contundente. 

Depois do erro militar, da brutalidade obscena de uma ataque contra civis, eis o erro político que, por cá já desencadeou um par de manifestações de "compreensão".

O Hamas sabia, perfeitamente, que a sua acção teria (terá - já o disse) efeitos tremendos na pobre, desgraçada população de Gaza. 

O Hamas, sabia (como Hezbolah libanês sabe) que não haverá reacções fortes (exceto em palavras) dos países irmãos árabes quase todos sunitas.

O Egipto, excepção feita a um polícia de giro que assassinou "corajosamente" dois turistas israelitas desarmados, mantém até este momento as suas fronteiras fechadas.  

Por muito precisos que sejam os bombardeamentos, o simples facto acima descrito de sobreposição de habitações civis com instalações do Hamas torna dramática a situação das populações, e tendo em linha de conta que quase metade dos mais de dois milhões de habitantes de Gaza são crianças e adolescentes  demonstra a tragédia que se avizinha ou já está presente. 

A exigência da imediata libertação dos cento e cinquenta reféns  como condição para a manutenção do cerco (o que significa falta absoluta de combustíveis, electricidade, água e mantimentos)  corre o risco de não ser aceite mesmo se isso possa significar dezenas de milhares de mortos em combate, à mingua de cuidados hospitalares, sem alimentos.

Será que o Hamas e asua direcção político militar não pensou nisso* Ou, como julgo, pensou mas não se importou. Basta isso para perceber de que lado está o desprezo pela vida humana. pela dignidade, pelos mais simples direitos humanos. 

Onde está a causa palestiniana ?

o leitor (im)penitente 260

mcr, 11.10.23

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Nuno Canavez, outra vez?

-Sempre!

mcr, 11-10-23 

 

Isto, hoje, é muito pessoal, muito à moda do Porto, muito para leitores, bibliófilos & outras esºpécies em vias de desaparecimento e, sempre, sempre para um amigo mais transmontano que a alheira de Mirandela e, aliás, da mesmíssima terra.

Comecemos por um rapazola que estiolava no antigo colégio Almeida Garrett onde, depois de uma longa doença pulmonar frequentava as aulas de latim e alemão do sétimo ano. 

Interno, claro, com o mesmo número do pai que também por ali andara. m colégio interno e o AG era carinhosamente chamado pelos seus prisioneiros "a tasca", eu fazia o possível por me evidir daquele prédio enorme, dos seus terrenos de recreio, juntando-me a um escolhido grupo de outros pré-irrredutíveis que, noite alta, se escapuliam do dormitório dos grandes, por um janela e sigilosa e imprudentemente alcançavam a sala do piano, com uma janela apenas encostad, desciam escadas precipitavam-se no pátio e , numa correria desenfreada, alcançavam os muros de uma taberna acolhedora que, por um copo de vinho barato lhes facilitava saída e entrada mais tardia. Depois, errávamos nas ruas do Porto, sem motivo apenas movidos pela ânsia da liberdade, pelos nossos dezasseis/ /dezassete anos. 

Essa evasão quase diária terminou num dia em que de mafrugada cairam uns flocos de neve. Imprudentemente, um dos evadidos anunciou que nevara e daí até à descoberta da verdade foi um passo que os senhores "Cavalo", "Cuecas" e "Pardal sem rabo", directores do estabelecimento rapidamente e com êxito, deram.

Eu, pouco apreciava aquelas sortidas, detestava o verdasco que pagava como portagem, mas nunca falhei tais saídas. Ia nisso o meu prestígio e assim me perdoavam ser bom aluno. 

Entretanto, misericordiosamente, descobri a Juventude Musical (lembremos com admiração e carinho, Ofélia Diogo Costa e, já agora, as duas filhas que, como ela foram exemplares animadoras culturais no campo da música e no Porto...) que realizava sois ou três concertos no Cinema Trindade, pela tarde. 

Apesar de desafinar logo entre o Do e o  Ré, sou um forte amador de música pelo que não fiz qualquer sacrifício quando me inscrevi e, com autorização dos senhores directores do colégio, lá me aperaltava nos benditos dias de concerto e marchava para o Trindade.

Pelo caminho, parava sempre para ver ad mondtra da Livraria Académica onde oficiava um jovem poucos anos mais velho do que eu que dazia as vezes de empregado da loja. 

Acho que, por essa altura, nunca lá entrei, ao invés da paragem seguinte, a livraria divulgação, depois Leitura de ouro mítico livreiro, Fernando Fernandes.  Comprei aí, com a minha pequena semanada os dois primeiros livros* da minha biblioteca, ambos de poesia, ambos de autores que, hoje, pouco ou nada dizem à generalidade das pessoas mas que eu estimo não tanto pela qualidade literária mas apenas porque marcam o início "pagante" deste meu amor impossível pela leitura (o segundo melhor vício  solitário duma criatura, o terceiro será a escrita, também ela outro amor que me foge e desdenha sem apelo nem agravo).

Os anos de Coimbra não me permitiram, nem eu queria voltar ao Porto pois fizera o voto fe nunca viver a norte do leitão da Bairrada. Todavia, o homem põe e Deus dispõe e nos alvores dos anos 70 já caé estava, advogando, conspirando, lendo e comprando livros. 

E regressei à Académica , desta feita entrando lá dento e começando, de facto, uma amizade com este ruidoso e refilão transmontano que trata os livros por tu, os conhece, os divulga, os ama (e vende...).

Perdi a conta do que lá comprei durante estes cinquenta e tal anos. Porém, entre tantas recordo duas compras exemplares. 

A primeira, nem compra foi uma mais que generosa oferta. De facto, em finais de 40, princípios de 50, o meu avô Alcino ofereceu-me a "colecção Pátria", um conjunto de fascículos (43) sobre as glórias nacionais. Foi o meu primeiro contacto com a História e era fruto, se bem recordo da época dos centenários. E veio exactamente atempo pois eu estava na 3ª classe altura em que se começava a aprender uns rudimentos de História de Portugal. Não estou a dizer que aqueles caderninhos fossem exactamente la crème de la crème da historiografia nacional mas, pelo menos para mim, foram o motor do meu entusiasmo pela História.

Ora, numa expedição ao Almarjão encontrei trinta e muitos dos fascículos, a preço mais que acessível e comprei-os, esperando que, com o tempo,  completaria a colecção. Isso demorou apenas um par de dias pois logo que regressei ao Porto, resolvi ir à Académica saber se por lá haveria algum dos fascículos 5 ou 6) em falta. O sr Nuno Canavez nem hesitou. encafuou-se numa das salas do primeiro andar e regressou com todos, mas todos, os números em falta. Quando quis pagar, ofereceu-mos afirmando que eu era um bom freguês que merecia ser mimado.

A minha outra compra milagrosa deu-se num dia em que avistei encostados a uma estante os dois volumes do "Tableau de Paris" de Edmond Texier (não confundir com a obra homónima e mais famosa de Mercier e anterior a  à citada em cerca de 50 anos) . Esta edição é sumptuosa, desde a magnifica encadernação até às 1500 (!!!) gravuras que ilustram as cerca de 800 folhas douradas à cabeça.

atrevi-me a perguntar o preço e a resposta foi rápida. "Cem euros mas para o sr dr fica por noventa."  Surpreendido pela barateza, nem hesitei .Em dois minutos levantei o dinheiro na cixa multibanco mais próxima e desandei para a minha esplanada habitual para ver melhor o que comprara. Ao fim de pouco mais de meia hora já não sabia se Buno Canavez estava no seu perfeito juízo ou se, mais simplesmente, não percebera de que livro se tratava. Ali mesmo, com a ajuda do computador fui pelo livro e os cinco resultados encontrados iam de 499 a 1500 euros, numa média final de 800! O estado dos volumes era impecável pelo que provavelmente caberia mais na zona dos 1500 do que nas restantes.

Dias depois, resolvi ir á livraria para informar o livreiro do que descobrira mesmo que isso me custasse pagar mais. Canavez ouviu os meus números e respondeu assim. 

"Sr dr. os livros descritos estavam à venda ou vendidos?" - "à venda". respondi. 

Ah, não estavam vendidos. Ainda por cima são volumes enormes (38x28x4 cm) não cabem nas estantes   e estão escritos em francês, língua que já ninguém, por cá lê. Levou-os e muito bem pois o preço goi mais fo que adequado. Aqui, não passavam de "monos" e em sua casa vai ser um regalo!"

Mesmo dando como certos os argumentos, a verdade é que nunca conheci outro livreiro capaz de tal modéstia no preçário. Durante todos estes anos, nunca me pude queixar  do livreiro que, ainda por cima, por várias vezes me guiou compras e leituras . Devo-lhe, por exemplo, as "Mémoires de Jacques Casanova de Seingaly..." ricamente encadernado em 8 volumes, com xilogravuras de Maillart, num estado de novo ou alguns dos dez volumes dos "álbuns descritivos e fotográficos da colónia de Moçambique", de J Santos Rufino (1929) bem como volumes dispersos da "Expedição portuguesa ao Muatianvua" de Henrique de Carvalho.

(estes dois últimos casos demonstram quanta paciência e demorada pesquisa de anos podem ser necessários para  completar obras quase sempre desaparecidas ou esgotadas. )

Razão tinha Mário Soares que em todas as deslocações ao Portoreservava sempre várias horas para se encafuar no 1ºandar da "Livraia Académica" de onde saía carregado de livros e, como diz, Canavez, com a carteira substancialmente "aliviada". 

Numa vida com mais de 60 anos a "bater livrarias por toda a parte, conheci outros bons e muito bons livreiros. Canavez não é o único mas faz parte de um "lote" a quem a cultura muito deve. Sem eles, e são cada vez menos, este mundo dos leitores empedernidos (e o dos bibliófilos viciosos...) seria muito menos interessante. 

Hoje, homenageiam-no, uma vez mais, no Porto. Espero que as autoridades municipais ou nacionais não se esqueçam deste velho senhor que anda nisto há setenta e cinco anos.

 

   

 

 

 

 

* "Mora alguém na outra margem", Carlos Gabriel e "Sete poemas para Egéria e notícia para mim" de Hélder Grilo Gonçalves

** "Tableau de Paris"  Edmond Texier, ed Paulin et L Chevalier, Paris 1853

*** Colecção  Pátria", SPN, 1936-45,  43 fascículos

Colecção Grandes Portugueses , SPN 1945/51,  17 fasxículos

Colecção "gGrandes Portuguesas", SNI, 1949-51, 4 fascículos

 

 

na gravura:  o mítico 1º andar só para madores da livraria Académica. 

 

 

 

 

 

 

 

 

estes dias que passam 843

mcr, 10.10.23

os fins, sejam eles quais forem, nunca justificam os meios

mcr, 10-10-23

 

Leio, entre espantado e desgostado, o título  (e já basta) de uma crónica de uma criatura que se sente incomodada para tomar uma posição. Melhor dizendo, a criatura é toda pró palestiniana mas a brutalidade dos acontecimentos e a prudência levam-na a um título em que se confessa desorientada. Não é preciso ler mais. Isto define o relativismo moral de quem parece incapaz de perceber que um crime é um crime seja qual for a identidade da vítima.

Desde os meus mais tenros anos o conflito Israelo-árabe tem-me acompanhado. Não recordo a independência (1948) mas li o suficiente sobre essa guerra para perceber que logo aí (aliás mesmo antes) havia exacções de ambos os lados. De todos os modos, à proclamação do Estado israelita seguiu-se imediatamente uma invasão concertada de vários vizinhos árabes, alguns deles armados e trinados pelos ingleses. Foi um desastre para os invasores e sobretudo para um milhão de palestinianos que foram varridos  para as periferias jordana e libanesa. A operação levada a cabo pelo exército israelita chamava-se justamente "Vassoura de ferro" e está na origem dos famosos campos de refugiados  que no Líbano eram praticamente um Estado dentro daquele frágil Estado. 

A partir daí mas mais claramente nos anos sessenta, sucederam-se as guerras todas vencidas por Israel que foi sempre o agredido excepto durante a crise do Suez  quando chegou às margens do canal  de conluio com franceses e britânicos. 

É verdade que Israel tinha o claro apoio dos EUA mas convirá não esquecer e menos ainda menosprezar o facto de ter uma população incomparavelmente mais pequena que os vizinhos. Também tinha outra coisa: era, apesar de tudo um pais democrático no meio de um cafarnaum de tiranias corruptas. 

A cada investida árabe, Israel crescia, aumentava a sua superfície ao mesmo tempo que continuava a trair população vinda de toda a parte, desde russos até etíopes, sem falar nas minorias judaicas do Magrebe e do Médio Oriente que quiseram ou foram forçadas a integrar o novo Estado judeu.

Dos Estados Uidos e da poderosa cominudade judaica aí instalada veio-lhe o dinheiro, a pressão interna sobre o governo americano  a que rapidamente se juntou uma política educacional de altíssima qualidade que transformou radicalmente aquela região pobre e desolada. Industrial e agricolamente como se sabe. 

quando os árabes perceberam que os seus pesados, caros e ineficazes exércitos nunca conseguiriam ganhar um palmo de terreno antes perdiam largos quilómetros quadrados, começaram a aparecer os pequenos grupos "terroristas" que levaram a cabo algumas operações sinistras, desde desvio de aviões civis até ao ataque à aldeia olímpica de Munique e ao assassínio dos atletas  israelitas. 

Já nessa época, um amigo meu, italiano, pertencente a uma minúscula organização radical (Stela Rossa) não sabia que partido tomar. E já nessa altura, passam 50 anos!..., afirmei-lhe que aquela acção não só não resolvia nada mas também tornava mais frágil a causa palestiniana. O resultado desse assassínio colectivo foi não só um maior isolamento dos palestinianos mas também a execução rigorosamente levada a cabo pela Mossad de todos os implicados na ocupação dos aposentos dos atletas.

Israel continuou a ser atacado e a aumentar o território mormente à custa da Jordânia que era uma espécie de guardiã da "Transjordânia" terra em princípio palestiniana. E só desistiu do Sinai quando percebeu que aquela ocupação era cara, desnecessária e fomentadora de uma feroz oposição egípcia.

Todavia, ocupou Jerusalém, transformou a cidade na sua capital, e dedicou-se a mermar os bairros árabes mesmo se parte da modificação da população fosse por compra direta de casas (operação que, mesmo durante a ocupação inglesa, perpetrou em muitos territórios que incautos ou sôfregos proprietários árabes sem dificuldade venderam.)

Também recordo uma invasão do Líbano e a consequente ocupação de dois campos de refugiados palestinianos de Sabra e Chatila permitiu aos falangistas libaneses massacrar um número indeterminado de civis que poderá chegar a cerca de três mil .  A tropa israelita permitiiu entrada de homens armados dessa milícia que, na altura vingava a morte do presidente do Líbano, Bashir Gemayel, cristão maronita e líder da Direita morto com mais duas dúzias de fieis, num atentado atribuído a palestinianos.

Nessa altura, algumas pessoas, em que me incluía eu, condenaram sem apelo nem agravo Israel quanto mais não fosse por cumplicidade.

A história do terrorismo mundial nao começou com este conflito, antes é uma antiquíssima prática e quase sempre não beneficiou os partidos referência dos fanáticos homicidas e bombistas.

Nos meus anos de juventude, foram muitas as situações em que o fanatismo cego, surdo e quase sempre imbecil e criminoso deu azo a situações que embaraçaram, fragilizaram a Esquerda. Na maioria dos casos, as pessoas tinham forte escrúpulo em criticar quer as Brigate Rosse, quer a Action Direct ou a Rote Armée Frktion. Todos estes grupos, sobretudo o primeiro, italiano, causaram tremendos prejuízos para os progressistas italianos, o PCI, os Sindicatos e até dirigentes burgueses  ( o caso Moro foi exemplar...). Direi mesmo, arriscando-me, que a Esquerda Italiana  jamais se recompôs. E o resultado é o que se vê.

Este  enorme atentado do Hamas que terá mais de 15oo vítimas quase todas civis, maioritariamente  idosos, jovens, mulheres e crianças poderá mostrar que o grupo terrorista que tem como refém a população de Gaza, pode num momento mostrar especial cuidado na criação deste episódio. 

Para já, deu também uma ajuda preciosa a Netaniahu e à extrema direit israelita que estava na corda bamba graças à imensa oposição cidadã que nas ruas mostrava uma crescente força. Era no seio dessa multidão protestatária que estava, mesmo que débil, a hipótese de um qualquer acordo com as autoridades palestinianas.

Hoje tudo isso, está arruinado. O sangue chama o sangue, trezentos mil reservistas bem preparados e melhor armados chegaram às fileiras e tudo indica que Gaza será arrasada. E se ainda o não foi é apenas graças ao facto de haver entre cem e duzentos raptados pelos invasores que rebentaram com a "muralha de aç (nome amaldiçoado desde aqueloutra célebre muralha portuguesa nos idos de 75...)  e cevarm a sua sede de sangue nos miúdis que estavam num festival de música. Acto heróico que ficará nos anais.

Seja qual for a posição política de cada um,isto o wue se paou foi penas uma crime e não h´causa alguma que o justifique. Dizer que Israel também tem culpas é um insulto à inteligência e à ética. condene-se e bem Israel pelo que fez ou faz mas não se deixe passar em claro o que aconteceu. 

Já começaram os bombardeamentos de Gaza e  se alguma certeza há é que as vítimas irão contar-se por milhares ou dezenas de milhares, civis e militantes do Hamas. É bom recordar que estes tem os seus escritórios, quartéis, depósitos de armas e refúgios em prédios indiferenciados que, nos andares superiores albergam famlias que nada tem a ver com os que os transformaram em reféns. 

Tenho a certeza que boa parte dos elementos que atacaram Israel serão apanhados e executados. O mesmo ocorrera cim as chefias politico-ilitares. É provavel que Israel perca muitos dos raptados mas tenho por quase certo que Gaza ficará irreconhecível. Para já está cercada, sem água, electricidade, alimentos.  Tenho por quase certo que o mundo árabe,  para além de protestos pro forma, de algum corte de relações diplomáticas, não moverá um dedo  e não enviará um soldado para defender os "irmãos" de Gaza. É muito provável que o Egipto não abra a fronteira ou então fa-lo-à a conta-gotas . De resto, as autoridades egípcias não apreciam (isto é um eufemismo) os heróis do Hamas. O único aliado plausível é o Irão que está longe e que não colhe simpatias de nenhum Estado árabe, bem pelo contrário.

Aqui, e até este momento, só Bibi Netaniahu  ganhou qualquer coisa e mesmo essa há de lhe custar caro se justiça houver neste mundo.

As raparigas e rapazes portugueses que já manifestaram directa ou indirectamente a sua aprovação por esta nova forma de Jihad islâmica, estão como de costume isolados mesmo se a berraria que lhes é própria se ouça aqui e ali.  

Politicamente estão moribundos e eticamente fedem. 

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