estes dias que passam 842
tudo vai de mal a pior
mcr, 8-10-23
É provável que as almas mais piedosas não se recordem do que antecedeu a limpeza étnica no Nagorno Karabak.
De facto, este território, um enclave de população arménia (mais ou menos 120 000habitantes) no Azerbeidjão foi há uns anos ocupado por umasvagas gorças independentistas arménias que pretendiam constituir uma república independente.
A comunidade internacional considerou a ideia absurda e reafirmou a soberania azeri no território. A situação manteve-se confusa, extremamente tensa e a Rússia forneceu um contingente militar para evitar confrontos que, de resto nunca cessaram.
O impasse foi rápida e brutalmente resolvido na passada semana. Tropas azeris irromperam na região que já estava militarmente isolada da Arménia e no espaço de poucas horas obrigaram o irrisório e imprudente governo da proclamada republiqueta à mais completa erndição.
Os habitantes do enclave, temendo justificadamente os resultados da operação azeri, entenderam que a falta de reacção das tropas russas de interposição os condenava a uma quase certa morte lenta não perdeu tempo e, em gigantescas caravanas fugiram para a pátria mãe, levando os pobres pertences que cabiam em carros, carroças, camiões. Um desastre inominável mas, convenhamos previsível. Em primeiro lugar o "amigo russo" tem mais com que se preocupar do que a existência de um enclave cuja população em boa parte se colocou fora da lei; depois o Azerbeijão pesa mais na balança do que a Arménia. Mais rico, produtor de bens essenciais para a Rússia, apoiado pelos restantes países muçulmanos (provenientes do extinto império soviético) e apadrinhado pela Turquia e, finalmente, respaldado pelo direito e pela opinião pública internacional.
Neste momento é provavel que não restem no Nagorno Karabak mais de umas escassas centenas de arménios que por qualquer razão ainda não puderam sair. De nada valem as proclamações azeris de que não haverá perseguições. Só por ingenuidade, que a memória do morticínio turco de já cem anos, ainda está bem presente na população arménia. Junte-se-lhe a pouca fé no antigo aliado russo e percebe-se que o Nagorno-Karabak acabou de vez enquanto enclave.
A Arménia ganhou subitamente mais 120000 novos pobres e entretanto até já aderiu aos tratados que regulam o Tribunal internacional que tem pendente uma causa contra Putin. Os russos ficaram surpreendidos com essa "traição" e não é de excluir medidas de retaliação contra esse pequeno país longe de Deus e perto, muito perto, à mão de semear, deles...
No médio oriente, um grupo político alucinado pelo fervor da intifada e crente numa vitória cada vez mais distante, entendeu atacar pela enésima vez o poderoso Estado de Israel que confinou um milhão de palestinianos à faixa de Gaza.
Provavelmente, o Hamas terá pensado que a turbulenta vida política em Israel, as profundíssimas divisões que Netanyahu desencadeou com a sua tentativa de reforçar o poder central e tornar os tribunais meros apêndices deste, lhe permitiria levar a cabo uma acção fortíssima.
Por um lado, é verdade que o efeito surpresa e a espantosa incapacidade dos serviços secretos e da guarda fronteiriça israelitas teve um momentâneo êxito.
Porém, a resposta do Estado judaico vai ser medonha. Não é difícil prever que as vítimas dessa resposta contar-se-ão por milhares ou mesmo por dezenas de milhares. Gaza é um pobre espaço ultra-povoado encravado ente Istrael, o Egipto e o mar, à mercê de bombardeamentos que não discriminarão entre alvos civis e militares. De resto, sabe-se perfeitamente que o Hamas, os seus paióis, assuas fábricas de armas, os quartéis das suas milícias estão todos em prédios cujos andares superiores são habitados por gente que a bem ou a mal sabe que é refém dos grupos extremistas.
Não é improvável que a intervenção israelita possa ser também terrestre e que o alvo de parte dessas operações seja a prisão aos principais elementos politico militares. Há em Israel, e desde Munique!..., o hábito de prender ou eliminar todos quantos ousam atacar cidadãos israelitas. Não se citou Munique por acaso mas apenas para recordar que todos os membros do grupo que assaltou e sequestrou atletas olímpicos judeus foi eliminado numa caçada que durou anos e que levou os agentes israelitas a zonas tão longínquas como a Noruega. Que eu saiba nem um dos comandos árabes se salvou.
Desta feita, duas ou três centenas de civis israelitas mortos a que há que juntar soldados e civis raptados.
Entretanto, e notícias ainda de ontem, já davam conta de largas centenas de mortos em Gaza, um mero prelúdio a algo que vai ocorrer muito brevemente.
Os palestinianos entre a espada (Israel) e a parede (os grupos radicais que tudo controlam na região) não tem hipótese de qualquer espécie. Nem os países árabes, quase todos já em paz com Israel e claramente adversários políticos fas autoridades de Gaza, darão um passo em defesa dos seus irmãos de fé. A situação das populações árabes de Israel também não irá melhorar bem pelo contrário.
A gritaria iraniana é apenas isso e, pouco a pouco, começa a ganhar força a ideia de um ataque preventivo às suas instalações nucleares e duvida-se que alguém o consiga impedir. E na plateia, na primeira fila, estarão os países do golfo, a Arábia saudita e muito provavelmente Egipto e Iraque, este último com redobrada curiosidade e alegria.
Não tenho no conflito do karabak qualquer espécie de simpatia ou preferência por um dos lados. Apenas realço o facto da secessão do enclave ter sido condenada pelas Nações Unidas que reconheceram a soberania azei e condenaram a precipitada "declaração de independência" da minoria arménia mesmo se, no território pudesse haver uma maioria étnica.
No caso de Gaza, de resto indissociável do restante e cada vez menor território palestiniano, continuamente amputado por colonatos judeus, tudo é mais difícil mas deve ressaltar-se que o regresso em força de judeus ao "homeland" prometido por lord Balfour no final da 1ª Guerra não tinha qualquer legitimidade tanto mais que a presença de judeus na zona era meramente simbólica e os eventuais interessados em regressar eram judeus que habitavam a Europa há mais de dez séculos. Por outro lado, também é bom recordar que, depois da expulsão dos judeus peninsulares, muitos destes conseguiram refugiar-se, viver e prosperar no Magrebe em boa paz com as maiorias muçulmanas árabes e berberes que os acolheram.
foram os efeitos temíveis da perseguição nazi que permitiu imaginar uma palestina hebraica (depois de tambem terem sido referidas Angola -sul - ou Madagáscar como terras de eventual acolhimento para os judeus.
Não deixa de ser verdade que a Europa (desde a Península Ibérica até ao Império russo) vezes sem conta desencadeou ou assistiu a pogroms e perseguições de toda a espécie que se sucediam no tempo sobretudo nos países mais a leste. Não foram as populações palestinianas ou dos territórios em redor que perseguiram as eventuais minorias religiosas que lá iam convivendo. No capítulo da intolerância, esta foi durante séculos europeia e generalizada e só começou a a infectar o Médio Oriente com a afluência de judeus já nos anos 30 do século XX.
A partir de 1948, com a votação das Nações Unidas e o reconhecimento do Estado de Israel, tuso se tornou mais agudo e pode dizer-se que o estado de guerra data desse ano e esse facto. Neste capítulo não há aqui bons e maus, culpados e inocentes. As patéticas invasões árabes e a contundente resposta vitoriosa de Israel so começaram a diluir-se depois dos numerosos e recentes tratados de paz que, mais e mais, isolaram os palestinianos e, sobretudo os habitantes de Gaza.
As campanhas de pequenos mas determinados grupos radicais islâmicos na Europa não só não favoreceram a causa palestiniana mas criaram mesmo as condições para os detestar e com eles, imerecidamente, todos quantos vivem em territórios governados por grupos como o Hamas ou similares cada vez mais dependentes ideológica e militarmente do Irão.
Esta absurda e suicidária tentativa de ataque vai tornar tudo muito mais difícil, perigoso e trágico.
Em Gaza ou de Jerusalém!

