Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

estes dias que passam 860

mcr, 29.11.23

o nariz de Cleópatra em 25-XI-75

mcr, 29-11-23

 

Se o nariz de Cleópatra tivesse sido mais pequeno toda a face do mundo teria mudado

Pascal

 

 

Aproveito a boleia de Pascal, um cavalheiro com créditos firmados em vários campos do pensamento para comentar uma conversa que tive com uma excelente e inteligente amiga sobre o 25 de Novembro.

Assegurava ela que o sr.  Carlos Moedas teria dito que o 25 de Novembro tem a mesma importância que o 25 de Abril e que celebrar o primeiro sem celebrar o segundo era descaracterizar ambos. 

Se Moedas disse isto e se, como a minha amiga assegura, terá posto ambas as datas em igualdade comete a meu ver um a tolice porquanto não há paridade possível entre ambos.

Todavia, eu tendo a acreditar (mesmo sem me lembrar da alegada afirmação de Moedas)  que não estaríamos a celebrar todos estes anos o 25 de Abril se em Novembro de 75 não tivesse sido eliminada a forte ameaça pré insurrecional que grassava e de modo crescente na zona de Lisboa.o

Digo, mesmo, que o contra golpe de Costa Gomes, do grupo dos 9, de Eanes executado pelos partidos socialista, popular democrático e centrista (a que se juntaram mesmo que com pouca expressão a AOC e o MRPP, a história portuguesa poderia eventualmente ser outra. Caso os alucinados militares que ainda hoje se consideram vencidos e atropelados pela "direita reaccionária e revanchista" tivessem conseguido impor a sua  desrazão "revolucionária" e tomado os poucos centros de poder periclitantes e indefesos.

Poderia ter dado azo a uma curta guerra civil ou, pelo menos, a um conflito pouco pacífico  a partir da mítica fronteira das mocas de Rio Maior,

Poderia acontecer toda uma infinidade de coisas se o nariz de Cleópatra fosse menor ou maior ou até do tamanho do de Pinóquio. Dazer história com hipóteses dá para tudo e, de resto, ao ouvir e ler alguns comentadores e comentadoras que se espraiaram voluptuosamente durante um par e dias sobre este tema, fica-se com a ideia que poderá ter havido mais do que uma Cleópatra ou, até, uma Nefertiti e mesmo uma Hateshput (uma senhora faraó e alto gabarito do sec XVIII a..c. que reinou em nome do filho menor, (Tutmés III , 1481-1425 a.c,) de 1479-1458 e que terá sido um dos grandes nomes reais do Egipto.

Ainda hoje, pelo menos para muito boa gente, se desconhece como é que foi obtida a neutralidade do PC ou até se porventura o partido terá começado por ver com simpatia as movimentações "populares". A verdade é que , em pleno dia 25  houve subitamente uma clara desmobilização das massas e que para tal terá sido essencial a orientação do PC 

E assim se explicariam várias declarações dos principais elementos do contra-golpe  que garantiam a completa não participação deste. Se o PC esteve ou não absolutamente desligado do eventual golpe é coisa que me não preocupa mesmo que eu tenda a pensar que, Cunhal e os seus restantes camaradas dirigentes não achariam grande graça ao "aventureirismo" dos principais elementos militares que deram a cara  pela ocupação da televisão, das bases aéreas, e das emissoras de rádio. 

Fosse como fosse, o que importa relevar é que o 25 de Novembro consolidou claramente o percurso democracia liberal e que estava em consonância com uma ampla maioria da população que em duas eleições separadas por um ano deram uma maioria nunca inferior a 74% dos votos expressos nas urnas (refiro-me aos votos obtidos por PS,  PPD e CDS entre as eleições para a Assembleia Constituinte (1975) e a 1ª Assembleia Legislativa eleita em 25 de Abril de 1976.

Todavia, o que pôs em polvorosa o petit monde progressista foi a ideia de celebrar fosse de que modo fosse o segundo 25. E vai daí, a primeira versão dos virtuosos protestos  foi afirmar que se pretendia igualar duas datas, a do dia inicial e limpo ea queda do Estado Novo e e a do "duvidoso" movimento militar que acabou com um estado de coisas  que só por ignorância catatónica se poderia considerar  como verdadeiramente revolucionário, deem lá  as voltas que quiserem dar.

Em Portugal, as datas celebrativas vão-se amontoando sem que, na maioria das vezes, o público se mobilize verdadeiramente. Por mero exemplo, cite-se o 1º de Dezembro que agora só quatro pnáquicos ainda se incomodam em vitoriar a Restauração de 1640. O 31 de Janeiro  que, durante o anterior regime, era ocasião de uma piedosa romagem ao cemitério do Prado do Repouso (Porto)  que normalmente suscitava um "par de safanões dados a tempo" e pela noitinha alguns jantares comemorativos cuidadosamente vigiados pela polícia.

O 5 de Outubro dá direito a uma celebração na Câmara de Lisboa e a um par de discursos com guarda de honra dos bombeiros municipais. Do povo  e para citar Virgílio, pode sizer-se "aparent  rari nantes in gurgite vasto (Eneida II, 118). 

O próprio 25 de Abril tem perdido muito do seu elan popular mesmo se ainda dá direito a um desfile pela Avenida da Liberdade e a varias outro noutras cidades do país. De todo o modo, as multidões aproveitam a data para ir até à praia se o dia estiver bom. 

Há aonda o 10 de Junho que comemora tantas coisas que qualquer um perde o fio à meada. O público normalmente acorre para ver a tropa e para eventualmente ouvir o discurso soleníssimo de um "pregador de fora" mas como a época já é claramente estival  a concentração popular  tem lugar nas praias com a vantagem de não se ter de ouvir os discursos e as juras de fé no amor às instituições e ao destino da pátria.

Pessoalmente, não me indigna especialmente esta pouca mobilização para os festejos patrióticos. Em boa verdade, era eu aluno do liceu Salazar em Lourenço Marques quando alguém com acirrado sentido da portugalidade se lembrou de celebrar um 1º de Dezembro no interior da fortaleza de Nª Seª da Conceição.

Juntar umas centenas s rapazes, em formatura, no interior daquele caldeirão de Pero Botelho ao sol violento de Dezembro tinha de dar no que deu, os lusitos, os infantes e os vanguardistas caíam como tordos com insolações pouco patrióticas.

.

O meu pai que era médico e, na época, oficial comandante dos serviços de saúde militares, irrompeu por ali e levou os dois filhos perante o pasmo imbecil das autoridades celebradores que, naturalmente. estavam sentadas à sombra.

Acabámos a manhã na praia da Plana, onde depois do banho  comemos uma dose industrial de caril de caranguejo. 

Assim é que se devem celebrar as datas históricas!

O resto é conversa de molha tolos, como a chuva. 

mas uma coisa é plausível: o 25 N foi  útil, necessário e consolidou a Democracia. Se nõ tivesse ocorrido não sei como é que tudo teria terminado com a tropa fandanga a fingir de revolucionário e três oficiais patetas a tomarem-se por Che Guevara  Morto inutilmente numa terra boliviana  de quem ninguém lembra o nome  e menos ainda os efeitos nulos sobre a sorte daqueles pobres camponeses no meio dos quais ele andava pensando que como dizia Mao, o revolucionário move-se entre o povo como  o peixe na água...

A mais de 2000 metros de altitude numa zona escassamente habitada não há água que se veja, ainda menos peixes enquanto a população se cifra em poucas centenas de habitantes.  Não vale a pena acrescentar seja o que for.

estes dias que passam 859

mcr, 27.11.23

25 de novembro há muitos

mcr.27-111-23

 

O meu 1º 25 de Novembro foi amável e em 1960 em Coimbra. De facto, nessa época, o dia chamava-se "tomada da Bastilha" e comemorava a conquista, em 1920, da primeira sede da Associação Académica de Coimbra, num dos antigos colégios universitários que povoavam a "alta"  de Coimbra, o colégio de S Paulo Eremita. Mais tarde com a demolição deste edifício, houve o assalto ao clube dos lentes e finalmente a sede da AAC  foi para o palácio dos grilos. Hoje está instalada em edifício próprio na Praça da República. 

A jornada era festiva e terminava sempre com um cortejo nocturno à luz de archotes  que, em certos momentos tinha um cariz altamente protestatário. 

 

Mal eu sabia que, muitos anos depois, assistiria ao 2º 25 N num clima que, mesmo para quem morava   no Porto, era altamente duvidoso (para empregar uma expressão neutra). 

Pelos vistos, o 2º 25 de Novembro a que assisti  foi diferente de um que alguns comentares televisivos e não só, conotados com o que chamarei facção vencida mas não convencida, e que em substância desvalorizava todas as acções populares e militares que antecederam a resposta dos moderados a 25 de Novembro.

Assim a ocupação de várias bases aéreas pelos paraquedistas revoltosos, o cerco da Assembleia da República  (12 13 de Nobembro) por dezenas de milhares de trabalhadores da construção civil, a auto-suspensão do Governo Pinheiro de Azevedo, a retirada de mais de cem oficiais para a base aérea de Ovar,  a clara insurreição do RALIS, que inclusive terá resultado numa distribuição de armas a populares,  ocupação dos estúdios da televisão e dadas emissoras de rádio por militares da EPAN,0 avanço de tropas de Santarém comandadas por Salgueiro Maia que pararam a poucos quilómetros de Lisboa, a mobilização de tropas da RM do Porto  que tiveram as suas guardas avançadas até Mafra, a mobilização de vários quartéis do Norte e do Centro para debelar quaisquer tentativas dos revoltosos (e o mesmo sucedeu no Alentejo com tropas a sair de Estremoz ) , a recusa dos fuzileiros em avançar bem como o facto de este regimento ter mandado dispersar os populares que pediam armas, dão clara noção de que a guerra civil esteve por um fio. Manifestações populares em todo o Norte  contra sedes de partidos de Esquerda, tomadas e devastadas mostram igualmente que de Rio Maior para cima o ambiente era absolutamente desfavorável à alegada "comuna vermelha de Lisboa" 

Mário Soares entretanto chegado ao Porto com a missão de organizar a reacção civil contra o previsível golpe, o Partido Socialista a receber e distribuir armas a militantes seus e aos partidos ditos "democráticos" são elementos mais que suficientes para demonstrar que aquele 25 de Novembro e os dias que lhe sucederam tiveram todas as características de contra-golpe violento que, de resto, terá convencido o PC a desmobilizar alguns dos seus militantes mais impetuosos e as organizações que controlava. Por outras palavras, as multidões que juravam ser a "muralha de aço" do "companheiro Vasco" (entretanto passado à história  e  substituído por Pinheiro de Azevedo) esfumaram-se num abrir e fechar de olhos. O mesmo sucedeu a ouras entidades mais ou menos delirantes ou fantasmáticas como os SUV (soldados unidos vencerão)  ou a nado morta FUR (frente de unidade revolucionária) que na verdade era um convite à valsa ao PCP que numa tarde de febre a aceitou mas depois de uma noite bem dormida desligou-se do que, em boa verdade, lhe parecia um pobre aventureirismo cuja força só existiria com ele. 

Portanto e, em boa ordem: entre Agosto e novembro o rumor crescia, os boatos multiplicavam-se, o desafio ao Governo, de resto frágil, agigantava-se. 

quem na alegada "comuna vermelha" sonhava com a tomada de um palácio de inverno não conseguia ver, muito menos perceber que o país real torcia o nariz , mobilizava-se, rosnava e no terreno que lhe era mais favorável ia eliminando sedes de partidos de Esquerda e afugentando a partir do interior profundo os escassos militantes progressistas e esquerdistas conhecidos. conheci (e compadeci-me, vários desses exilados temporários que afluíam ao Porto onde apesar de tudo o "vice rei do Norte" (Pires Veloso) exercia cada vez mais uma autoridade que pelos vistos já ninguém recorda. 

O 25 de Novembro , por estas bandas, foi tranquilo excepto para alguns militantes de Esquerda que longe dos acontecimentos temiam uma vingança tremenda da Direita (que na época tinha o PS em peso). Descobri que um amigo meu de refugiara no meu birro lugar seguro dada a classe média alta que o habitava. Outro, afobado, telefonou-me e eu convidei-o para almoçar. E fomos a um restaurante da moda, perto da Ribeira e tive o prazer de ver o ar aparvalhado de quem lá estava e me reconhecia tomando-me por perigoso bolchevista. 

O meu convidado nem saboreou como se devia o excelente almoço. Para onde olhava só descortinava a "reacção" que, em boa verdade, em vez da faca nos dentes manejava os talheres voluptuosamente que ali comia-se bem, muito bem. 

 Dias depois ainda houve um par de romarias de familiares e simpatizantes de militares presos em Custoias (?) porventura recordados de outras e antigas idas a Caxias. Claro que os acompanhei não exactamente por simpatia mas apenas por me lembrar quanto isso confortava os presos cujas celas davam para a parada da cadeia. (nessa altura obscura e decerto esquecida, os visitantes dos presos desobedeciam aos guardas que os intimavam a seguir rente à parede. Todavia, aquilo, aquela marcha desobediente e desafiadora tinha sentido e por vezes consequências. No caso vertente, não havia guarda cá fora e os presos podiam aquilatar da importância da manifestação que corria fora da cadeia. 

E depois, restabelecida a ordem, a Assembleia Constituinte terminou a sua tarefa, as eleições mostraram uma gigantesca maioria  (mais de 75% dos votos, deixando ao PC e à UDP outros 15%. Curiosamente, esta eleição teve uma percentagem superior à anterior (ligeiramente inferior a 74%) de onde saia a representação para a constituinte. 

Sei que para alguns "democratas" radicais e exaltados, as eleições e os seus resultados dizem pouco ou nada. O que não implica que não concorram!... Estes dois anos de brasa (abril 74-abril de 76 ) provam no entanto que os portugueses sentiam a democracia liberal como algo seu, inestimável e confortável. E redundavam na derrota clara dos agitados meses do segundo semestre de 75. 

Que, hoje em dia, haja quem, apesar da evidência dos números, da derrota visível das movimentações de Novembro não queira ver isto e não queira por isso associar nem que seja levemente  s duas datas relevantes da Democracia é um problema de somenos e que pouco me preocupa. Se anda há criaturas que acreditam em Adão e Eva, na terra plana ou na verdade literal da Bíblia, não espantará que nestas questões também se obnubilem. Aliás, os defensores do 25 N, também não se mobilizam especialmente para a celebração da data. quase 50 anos depois, a questão só comove os mais enérgicos e...os mais ignorantes  e mais radicais, (o que é quase o mesmo)

Porém, o 25 N que corre por televisões e jornais é exactamente o que mais esquece a História e, por isso, o que mais absolve o grupo aventureiro  que em Novembro de 75 tentou alvoroçar a sociedade portuguesa ou, pelo menos, a lisboeta.

Perdeu mas ainda não se convenceu. É com eles...

au bonheur des dames 608

mcr, 25.11.23

 

 

 

 

Unknown.jpeg

Mário Brochado Coelho

mcr, 25-11-23

 

Conheci o Mário num longínquo Outubro de 61, em Coimbra, no Teatro Avenida, por ocasião do único comício autorizado da Oposição por altura das eleições para a "Assembleia Nacional". 

Nessa altura, o jovem MBC, estudante de Direito, entendeu gritar por uma oposição católica e progressista. Foi a primeira vez que vi um "católico progressista" e mal eu sabia que das depois havíamos de nos cruzar no CITAC, um dos dois grupos de teatro universitário  onde, o seu nome proposto para a Direcção concitou uma pequena oposição justamente por ele ser assumidamente católico.

De todo o modo, mesmo tendo deixado a Igreja, entendi que era quase admirável haver católicos na oposição a Salazar. Data pois desse tempo tempestuoso uma amizade de mais de sessenta anos.

No ano seguinte, 1962, a crise académica volta a juntar-nos, ou melhor continua a juntar-nos na mesma barricada. Tive mais sorte do que ele pois enquanto fui preso (cm mais 43 companheiros) para Caxias por um mês, ele fez parte dos 32 estudantes expulsos da Universidade por períodos variáveis. A ele tocaram-lhe 30 meses.

Como tantos outros da mesma geração, MBC fez parte de todas as iniciativas cidadãs e democráticas que, desde a sua época de estudante até ao 25 de Abril, tentaram tornar menos cinzento, menos triste e menos violento este país. Relevo tão só a permanente disponibilidade para defender presos políticos e/ou oponentes ao Estado Novo como também, foi um dos mais activos membros da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos (outra razão para lhe estar pessoal e directamente agradecido...). Tive oportunidade de o acompanhar na primeira destas iniciativas e bastante me ajudou nos primeiros processos em que intervim como defensor de estudantes e de oposicionistas nos tribunais miseráveis em que estes eram alegadamente julgados. Aliás, depois da minha quarta (e pior) detenção em Caxias resolvi passar uma procuração em seu nome para me defender caso voltasse a ser preso. Só lhe entreguei essa procuração muitos anos depois porque, passada em inícios de 73, nunca foi preciso acioná-la.

Logo que cheguei ao Porto e comecei a minha vida profissional reatei as relações interrompidas depois da sua saída de Coimbra. Melhor dizendo tornaram-se mais fortes e frequentes e, como não podia deixar de ser, tiveram os seus pequenos momentos conspirativos. Durante algum tempo, sempre qu ia a Paris trazia-lhe farta cópia de publicações políticas, a maior parte delas vindas da embaixada da China ou de livraria afectas ao chamado movimento marxista-leninista. quando resolvi traduzir e policopiar alguns desses documentos que eu mesmo financiava e distribuía, o Mário era quase sempre o primeiro a recebê-los. Não sei se, alguma vez, percebeu qual era proveniência desses textos e só mais tarde percebi que também ele tinha acesso à documentação distribuído por Pequim e que terá ajudado a moldar parte da sua posterior acção política que já não acompanhei por, entretanto, ter escolhido outros rumos, coisa que, de resto nunca nos incomodou. 

Depois da Revolução, fui convidado para presidir a uma Caixa de Previdência sob indicação dele (e de Mário Cal Brandão) facto que também só muito mais tarde descobri. Quando finalmente falámos sobre isso, o Mário disse-me que se tinha perdido um advogado mas eu garanti-lhe que não só se ganhara alguém para outras e mais gratificantes actividades mas também um jogador de bridge e que o Direito fora apenas a escolha menos desagradável que fizera já que a minha família desaconselhava fortemente o curso de História.

Durante estes anos todos até pouco antes da pandemia lá nos íamos encontrando numa esplanada frente ao mar e nas celebrações dos aniversários do nosso grupo de teatro coimbrão. Terá sido mesmo no último a que fui que o encontrei pela derradeira vez. Era o dia do seu aniversário mas o Mário estava murcho, cansado e tristonho mesmo se, com o encontro de velhos amigos do nosso tempo de teatro e aventuras conexas, lá tivesse arrebitado um pouco.  dir-se-ia que os anos lhe pesavam  ou que os rumos políticos do país o desanimavam. De todo o modo, a pandemia e as suas, dele, eventuais maleitas tivessem tido como resultado o fim desses encontros amigáveis a quem alguém chamou de "conversas de velhos combatentes".

Quando nos morre alguém querido lamentamos sempre os contactos que foram rareando mas isso é mesmo assim.

Dele tenho aqui dois livrinhos "Lágrimas de guerra" e "Cinco passos ao sol" bem como a soberba "Em defesa de Joaquim Pinto de Andrade" um texto jurídico que também é político que demonstra não só a sólida formação jurídica do autor como a sua generosa e abnegada campanha por Joaquim Pinto de Andrade, hoje um nome quase esquecido de um dos pais fundadores da liberdade de Angola.

 

Com Rui Polónio de Sampaio, António Taborda, Vasco Airão Marques ou José Luís Nunes, o Mário Brochado deixou uma marca forte no panorama jurídico do Porto e fez parte da geração que esteve em todas as lutas do combate pela democracia. Outros houve mas apenas cito estes porque, além do seu talento e mérito próprios, foram determinantes na Coimbra que me recebeu e com os quais tive a enorme honra de partilhar algumas tarefas como advogado nos tempos difíceis.

 (E foram todos do CITAC... e alguns também vítimas da repressão que se seguiu à crise de 62 em Coimbra) 

au bonheur des dames 607

mcr, 23.11.23

Ler ou tresler?

mcr, 23-11-23

 

O texto "teoria do copo de água" (au bonheur des dames 606 de 12 deste mês ) mereceu, ,mais de uma semana depois, comentários de três leitores  que ou não leram o que escrevi ou tendo lido não perceberam ou, pior ainda, tentam mover-me um processo de intenções que felizmente umasimples leitora do parágrafo (logo o primeiro!) desmonta e nega. De facto eu começava por recordar a minha "ida às sortes" no longínquo ano de 1961, mais precisamente nos primeiros dias de Janeiro, estava o país tranquilo, ronronando sem perceber que três meses depois a guerra irromperia em Angola.

E irrompeu, apanhando o Governo, os militares, a PIDE (que nas colónias servia de serviço de informação) de "calças na mão"

Mais. apanhou toda a oposição de surpresa, incluindo até as poucas dezenas de estudantes angolanos que frequentavam a universidade de Coimbra. Estou absolutamente certo disso pois, por essa época, era uma espécie de "cabide" da "República dos 1000-y-onarius" constituída apenas por estudantes vindos de Angola. 

É verdade que nas franjas mais radicais da 2oposicrática" juvenil já circulava a contestação ao sistema colonial, já se contavam histórias sinistras da repressão em certas zonas, nomeadamente da repressão aos camponeses negros que por várias vezes e em Angola como em Moçambique se revoltavam contra as administrações coloniais, sobretudo as locais. Porém, mesmo entre a velha oposição republicana a questão colonial ainda não se punha, bem pelo contrário como alguém mais curioso poderá verificar lendo o livrinho de Cunha Leal "O colonialismo dos anticolonialistas". Ou, querendo, desandar para uma biblioteca e pedindo para consultar os jornais da época, "República" incluído.

Quando o dr Salazar soltou o seu famoso grito de guerra "para Angola já e em força" pode afirmar-se sem receio que uma grande percentagem da população ouviu, consentiu ou até se mostrou entusiasmada. Mesmo nos círculos estudantis progressistas a questão teve ecos diversos sobretudo porque o levantamento da UPA no norte de Angola se revestiu de extrema violência não poupando mulheres, crianças brancas e negras ou mulatas  e servidores negros recrutados noutros pontos da colónia e, portanto, não ba-kongo.

Deita esta pequena síntese histórica voltemos à minha inspecção militar efectuada, repito, meses antes da eclosão da guerra ou até das histilidades que em Luanda a precederam mesmo se de origem partidária diferente. 

Como contei, fui inspeccionado  nas instalações degradadas de um dos famosos "colégios" universitários mandados .construir por D João III

A equipa inspectora era constituída por três oficiais  superiores idosos  sentados  lá ao fundo e por um jovem médico miliciano aspirante ou alferes e que eu vagamente conhecia justamente de meios relacionados com a República acima mencionada. 

É provável  que esse jovem "ultramarino" soubesse de algo e tivesse querido poupar o magricela desengonçado que eu era. Por isso me perguntou se eu fazia questão em fazer a tropa. Respondi-lhe sem grande esforço ou fervor que não que a coisa não era o meu ideal de vida. Foi por isso que, ele me subiu um par de centímetros à altura e me abateu outro tanto de quilos aos miseráveis 57 quilos que eu pesava. 

Três leitores que, pelos vistos, só leram parte do parágrafo (o primeiro em dezanove!!!) entenderam

a) que eu adoro cunhas (as que são a favor...) e me sinta embaraçado por o confessar (!!!)

b) que graças a uma cunha não parti para África pelo que outro foi em  meu lugar (e até pode ter morrido...)

c) que "sempre fui amigo de cuinhas" o que significa que "para beneficiar um outro fica para trás"

 

Nenhum se deu ao trabalho de assinar sequer de usar um pseudónimo. 

É com eles mas confesso que fico surpreendido com tanta  e solidária comunhão de sentimentos sobretudo quando em parte alguma do meu texto se vislumbra sequer um murmúrio de pedido ao jovem médico algo que, efectivamente  nunca me passaria pela cabeça solicitar tanto mais que estavam ao fundo os três idosos oficiais que poderiam ouvir ou desconfiar se me vissem dizer fosse o que fosse a minha concordância foi murmurada e rápida).

Em boa verdade, livrei-me da tropa mas não me livrei de catorze anos de oposição activa, de prisões várias, de interrogatórios bastante duros com incidência nas habituais práticas de "sono" e de "estatua". Durante esses anos leei a cabo várias passagens de fronteira conduzindo desertores e refractários para Espanha tendo inclusive, como também aqui relatei, sido uma vez detido por um par de horas pela "Guardia Civil" que me tomou por "passador " a troco de dinheiro.

Se, porventura, tivesse sido reinspeccionado teria saído imediatamente do país sem sequer esperar pela passagem por Mafra.

Como também já aqui escrevi, mesmo estando de acordo com a fuga à guerra por deserção ou mesmo como refractário, nunca condenei todos quantos ou não souberam ou não puderam evitar África e as frentes de combate. De resto um importante partido político português  entendia que os seus militantes deveriam na medida do possível ir para África e fazer aí "trabalho político" contra a guerra e pela libertação das colónias. Pessoalmente sempre discordei pois tais tarefas eram quase impossíveis e levavam (basta lembrar o Manuel Alegre) o seu autor rapidamente à prisão militar.

Tudo o que acima digo também por aqui foi sendo escrito ao longo destes quase dezoito anos de blogue. Há mesmo um par de textos em que tive o cuidado de defender e justificar combatentes que não tiveram outro remédio senão ir para África e para frentes de combate. Uns porque acreditavam no mito do império, no Portugal do Minho a Timor, outros porque não queriam emigrar ou abandonar familiares, a terra e os amigos.

Não faço parte dos recém conversos de 26 de Abril, dos Ferrabrazes  radicais que propsperaram durante o PREC ou até agora que, desconhecendo a História, o País e o Povo prometem tremendod amanhãs que cantam como se os que, in illo tempore, foram notícia e slogan não tivessem acabado em sangue, pobreza, prisão e medo.  

Não sei nem pretendo saber o que é que estes meus três comentadores (uma espécie de trindade laica redutível à unidade tantas são as convergências de opinião...) pensam disto tudo, qual a razão porque me imputam um exacerbado amor pela cunha, logo eu que nunca as meti  por mim e tão pouco aceitei no decusso da minha vida profissional. A menos que não saibam o que é uma "cunha", coisa sempre possível nestes tempos de português ultra básico.

Um dos comentadores (basta ir à caixa de documentários ainda acrescenta que eu não respondo a comentários o que é uma tolice pois aí está de novo a caixa dos comentários para o desmentir. Aqui só não se responde a despropósitos ou a opiniões que nada tem a ver com o que publico. Se alguém quiser dizer o que pensa do mundo, da vida, da política que faça o favor de se dirigir ao blogue (não a mim que nunca soube como isto funciona) e diga de sua justiça. Ou que crie um blogue coisa que provavelmente não será difícil. 

Finalmente, fico sem perceber como é que em 19 ou vinte parágrafos as atenções se fixem logo no primeiro. Será que depois desse tremendo esforço intelectual de leitura as pessoas se cansaram e deixaram o resto para as calendas gregas?  Também podem ter detestado os parágrafos remanescentes  e por isso terem apenas respondido ao primeiro. Com um problema: não responderam. Porque não o leram, ou então, tresleram. É com elas.  Conversa acabada. 

estes dias que passam 858

mcr, 22.11.23

"Tu quoque...Nuno Lopes?

mcr, 22-11-23

 

As harpias do costume voltam à carga. Desta feita é o sr Nuno Lopes um actor de 45 anos que, confesso, mea culpa, mea maxima culpa, nunca vi, teria seduzido uma criatura chamada AM Lukas, de 41 primaveras e conseguiu leva-la para um apartamento tendo-a drogado e violado. Os factos descritos ocorreram em 2006, ou seja há 17 anos quase metade da vida de qualquer um dos dois.!

Demorou a seduzida à força mais de uma década e meia para se decidir a enviar os seus advogados ao d. Juan  cominando-o a entrar com uns dinheirinhos para evitar um processo. 

Confesso alguma perplexidade sobretudo depois de saber que a referida vítima do macho ibérico e lusitano, nosso, teria apresentado queixa nos dias que se seguiram à alegada violação.

Será que a polícia de Nova Iorque não foi diligente? Será que sequer houve queixa? 

O actor Nuno, por seu lado, recusa pagar um simples cêntimo e jura que saberá e poderá defender-se em tribunal porquanto, segundo ele, a história é diferente. Terá levada a dita "vítima" para casa e por seu pé, mas ao chegar a inocente criatura caiu num profundo letargo (há anos que queria usar esta palavra !)adormeceu e nada ocorreu até manhã entrada. Aí acordaram os dois e, por mútuo acordo, entenderam levar a cabo aquilo que teria ocasionado a deslocação da mulher de 24 anos à casa do pérfido portuga. 

Não sei se o actor tem alguma prova do que afirma mas também nada sei das provas oferecidas dezassete anos depois pela eventual vítima.

Apenas me salta à vista que, neste período de tempo, o cavalheiro Nuno conquistou alguma celebridade, terá ganho algum dinheiro e por isso terá sido convidado a pagar para não ter se ser arrastado a um tribunal que, como começou a ser comum, na América, acredita sempre nas acusações desde que elas entrem no paradigma "you too" muito na moda. 

O que me inquieta  ou, pelo menos, me faz pensar, é esta demora de 17 anos. Será que alguém, em seu perfeito ou normal juízo, esperaria tanto tempo para fazer pagar um "agressor sexual"?

Na América tudo pode acontecer, inclusive um Trump. No campo das actividades amorosas ainda me lembro do vestido com restos de sémen que uma criaturinha inocente  guardou durante largos meses (refiro meses mas podem ter sido anos...a minha memória já não é o que era...) para poder incriminar um Presidente. 

Note-se que não faço parte daqueles que não acreditam em violações de jovens bem parecidas e aspirantes a uma carrerra onde se passeiam homens mais velhos, ricos, influentes e famosos. Só que uma violação neste meio é decerto uma gota de água no universo dos casos de violação em que a mulher é pobre, o violador idem, quase sempre oriundos das minorias raciais e que nunca desembocam num  tribunal não só porque a vítima não tem dinheiro para pagar a um advogado enquanto o acusado também o não tem para poder ser obrigado a ressarcir a ofendida. 

Também é verdade que boa parte desses crimes cometidos nas zonas escondidas da sociedade afluente não entusiasmam os media nem suscitam a curiosidade do público da imprensa cor de rosa. 

Aliás, creio que, o caso só cá chegou devido à nacionalidade do acusado .

Percebo que a falta de assunto para a cronicazinha diária ou quase diária leve uma criatura a deitar a mão a tudo o que luz, Mesmo que não seja ouro, O cacauzinho que um jornal paga  não é despiciendo e dá sempre jeito. 

Este cronista, que infelizmente não é pago poderá ser acusado de inveja mas, de facto, também ele, não tinha nada em que meter o dente cariado. 

Ou melhor, tinha mas a morte de um antigo e velho amigo, Carlos Avilez, que conheci como encenador no meu grupo de teatro estudantil, em Coimbra, o CITAC. 

Era um homem inteligente, cuidadoso, rigoroso e o teatro foi toda a sua vida. Pode dizer-se que morreu debotas calçadas porquanto ainda há uma semana estreara no seu Teatro Experimental de Cascais, "Electa" de O Neil . Foram 88 anos bem vividos, bem sucedidos e especialmente honrados graças às apostas que Avilez sempre fez no que toca à escolha das peças a representar. 

Devo-lhe  também o conhecimento de Francisco Relógio que, trazido por Avilez,  também trabalhou para o CITAC e que foi um pintor de mérito, um democrata de sempre e um excelente conversador. Numa cidade onde a pintura passava quase desapercebida, Relógio cumpriu uma nobre função e abriu a muitos, eu incluído, olhos e curiosidade para as artes plásticas.

(curiosamente muitos anos depois, a filha de uma actriz do CITAC apresentou numa primeira exposição uma bela homenagem ao Francisco Relógio. Chama-se Mariana Baldaia e espera-se que o talento então demonstrado tenha continuidade.. Numa palavra (ou várias...) isto é como as cerejas. )

estes dias que passam 857

mcr, 21.11.23

A ofensiva feminina 

mcr, 20-11-23

 

 

Antes que alguma leitora se zangue, devo advertir que o título pertence à Juju Cachimbinha, amiga antiga e inteligente que venceu todos os combates em que se meteu incluindo alguns em que, segundo ela, foi metida por criaturas "mais burras do que o que é permitido". 

Aqui para nós, a Juju viveu sempre a contra corrente e começou a sua particular guerra de independência num lar de freiras para onde foi atirada caloira com dezassete anos incompletos. Durou onze dias a permanência da Juju naquele "quartel-convento medieval "(Juju, sic) . Segundo os desolados progenitores, a irmã Sagrado Socorro afirmou que não tinha nada de concreto contra a menina "de resto muito educada e gentil" mas a "atitude em gera" não agoirava uma estadia calma no  lar. Melhor dizendo, nada havia contra a moça mas com a experiencia de nuitos anos, as freirinhas entendiam que bastava a presença muda da Juju para desencadear uma onda surda de contestação  nas restantes almas feminis que lá residiam. 

Foi assim que a Juju foi viver num apartamento com o irmão mais velho que cursava esforçadamente medicina e fumava cachimbo. a Juu que nunca fumou tornou.se perita em cachimbos, tabaco para o efeito, e ninguém a batia no que tocava o encher do fornilho ou a limpeza posterior depois da cachimbada. Ao fim de poucos meses já sabia tudo sobre marcas de cachimbo, tabacos apropriados (ela jurava que nenhum chegava aos holandeses sobretudo aqueles que se usavam na Indonésia quando esta fora colónia dos batavos. E era ela que geria os tabacos do mano mais velho e o obrigou a usar uma espécie de cartucheira carregada de cachimbos pois afirmava que um cachimbo tem de descansar duas horas no mínimo entre cada acendimento (se non é vero...).

A Juju concluiu um curso de Clássicas com altas classificações e, uma vez, formada, declarou que se ia dedicar à Bolsa, coisa quase inexistente em Portugal. Ganhou uma fortuna gorda e tratava os cavalheiros de Wall Street  ou de Londres por tu e mesmo hoje, não se passa mês sem que alguém de uma geração que a não conheceu  a contacte pedindo conselho (bem pago, evidentemente!).

Telefonou-me, há um par de horas, escandalizada com "a campanha das comentadoras jornaíísticas" contra "o pobre do Carneiro" ao qual não basta ser adversário do inimigo das perninhas dos banqueiros alemães mas será também da "esquerda de que a Direita gosta".

Ora, segundo a Juju que se declara conhecedora profunda da verdadeira direita mesmo que nunca tenha pertencido a tal campo, a Direita que se preza não gosta de nenhuma "esquerda" mas em caso de ter de preferir aguma prefere a que usa faca nos dentes e ameaça com a revolução iminente e a tomada de todos os palácios de inverno ou verão.

"Uma Esquerda fofinha"  é um perigo para os fundibulários da  Direita que precisam de ter em frente "adversários feios, porcos e maus com ar de criminoso bolchevista  ou de polícia da GPU".

A Direita vive do medo recorda a guilhotina, os campos de condenados na Sibéria, dos guardas vermelhos, do camarada nº 1 de Pol Pot. A Direita sempre odiou o dr Cunhal versão nacional e mal traduzida do camarada Lenin e retocada pelo pai dos povos, Yossip Vissarionovitch Djugashivili, conhecido no século por Stalin.

Quando apareceu o senhor Jerónimo de Sousa, a coisa  n\ao acalmou. Não só o homem tinha longínquas raízes operárias mas sobretudo falava como uma pessoa normal, recorria a  provérbios, dançava danças de salão. "enganava pela simplicidade" e isso induzia as pessoas a considerá-lo inofensivo e simpático. 

Cunhal era um intelectual, vinha da burguesia e isso juntava dois perigos: o intelectual e o traidor de classe!

Eu bem sei que na minha classe social sempre houve a tentação do abismo e sempre se pretendeu interpretar a classe operária, melhor dizendo o proletariado  que, coitado, pelos vistos sempre precisou de "revolucionários profissionais" animados pelo ideal igualitário (mas não libertário, credo, cruzes canhoto!).

Ora, dada a fragilidade acentuada do PC há que atirar todas as fichas para a roleta do PS e esperar que aí "uma verdadeira Esquerda" tome o poder. Para o efeito, pelos vistos, Pedro Nuno Santos e aposta mais verosímil do que José Luis Carneiro, demasiado penteadinho, com ar de menino chefe de turma e, sobretudo, com a mania das "contas certas" que outro penteadinho (Medina) elevou à categoria de verdade absoluta. 

Ora as comentadoras da última página do Público alinham nesta onda anti Carneiro o que me faz desconfiar que o homem tem mais trunfos do que os que até à data alinhou. No mesmo sentido, também já se manifestaram a eterna drª Gomes (também agora comentadora televisiva) e a srª Alexandra Leitão que, defenestrada por Costa, foi terçar armas num programa televisivo ondeantes estivara a srª Mendes e até António Costa. 

Eu não sei, se na eventualidade de ganhar o PS, o sr PN Santos vai voltar a desafiar os banqueiros alemães e a pintar a manta  ou sequer jogar à vermelhinha com o PC e o BE. 

A juju aposta que parte da estratégia dele é fingir que sim que vai fazer e acontecer mas que, depois, e dependendo dos resultados eleitorais, poderá aventurar-se por territórios muito pragmáticos. 

Desconheço totalmente o que fará o senhor JL Carneiro  que, curiosamente, concita apoios variados desde António Correia de Campos a Augusto Santos Silva o que "gosta de malhar na Direita". 

Não menos curiosamente, Francisco Assis apareceu a apoiar PNS o que suscita pelo menos alguma surpresa.  

De todo o modo, as críticas mais ferozes, as posições mais estremadas, vem sobretudo de mulheres militantes ou não do PS. Ou, pelo menos, são elas que, neste momento, estão nas trincheiras mais empenhadas. 

A Juju acha muito bem que as mulheres militantes escolham quem bem lhes aprouver mas recusa terminantemente que as comentadoras nos jornais que não afirmam pertenças partidárias se deem ao trabalho de. fingindo comentar, torcerem claramente por um dos candidatos-

"E sempre em nome da verdadeira esquerda como se no PS que supostamente é de Esquerda  houvesse responsáveis políticos dispostos a fazer fretes à Direita !"

Claro que eu poderia recordar-lhe as cmbalhotas políticas espanholas onde se vê um suposto homem de Esquerda aliar-se com partidos de Direita, nacionalistas, independentistas comprando-lhes o voto para a investidura com perdão de dívida e uma amnistia  que vi muito mais longe do que a decência e o respeito pela lei, pelos tribunais, por dezenas de anteriores declarações políticas solenes que, subitamente, sem que tal constasse sequer do programa eleitoral são mandadas para o lixo.

Note-se que neste caso absolutamente singular o PSOE perdeu claramente as eleições com uma forte diferença de votos e de mandatos e que igualmente o seu parceiro duma compósita extrema esquerda, que mais parece um saco de gatos, também registou um derroa frente à Direita radical do Vox.

Nada disto, felizmente, ocorre em Portugal onde a famosa maioria absoluta do PS pode eventualmente reduzir-se significativamente sem que isso signifique um futuro governo de Direita mesmo que para tal se solicite o Chega. 

Este partido vive e sobrevive (e poderá crescer...) graças ao desânimo que as pobres políticas actuais provocam nos sectores da Saúde, Educação e Habitação. Percebe-se perfeitamente, a revolta dos grupos mais populares e pobres cuja sorte não só não melhorou como, devido a falta de empenhamento de um Governo que já leva oito longos anos no poder, poderá ter até piorado. É verdade que a conjuntura internacional não ajudou mas a falha mais evidente e de maiores consequências a curto e médio prazo é a incapacidade verificada de reformar o que quer que seja. A lasse média, sustentáculo normal do PS vê numerosos grupos profissionais desde professores a médicos, enfermeiros a militares de carreira completamente desatendidos nas suas mais simples espectativas quanto mais  reivindicações.

Por outro lado, os actuais candidatos no PS e grande parte dos seus mais conhecidos apoiantes pertenceram aos sucessivos Governos (incluindo o de Sócrates) que não só foram teatro de casos, casinhos e casões mas também mostraram, sobretudo nos tempos mais próximos uma sobranceria que só tem paralelo na incapacidade de levar a cabo quaisquer medidas eficazes, duradouras de contrariar os efeitos da crise. O que mais se viu e ouviu foi o recurso à esfarrapada desculpa de que tudo era culpa de um Governo que já desapareceu há oito anos e que, de resto, foi obrigado a gerir o naufrágio de outro governo, esse socialista que se esboroou numa série de escândalos e desastres que ainda estão por julgar.

Conviria, finalmente, recordar outra vez que a desculpa de Costa para se demitir nunca teve pernas para andar. IO facto de o MP abrir uma investigação (de resto obrigatória) por causa de um par de telefonemas faz esconder o melhor amigo, o chefe de gabinete que guardava uns trocos em S Bento e tudo o resto. em qualquer país civilizado qualquer destes factores obrigaria o primeiro ministro a demitir-se mas, pelos vistos, a culpa é da Procuradora Geral (nomeada pelo Governo!!!) pelo Presidente (que andou com Costa ao colo entre abraços e mútuas juras de amor ...).  E como tudo isto parecesse pouco, eis que agora aparece toda uma série de graves actores socialistas a exigir a Justiça celeridade, explicações e o que mais ainda se verá.

Sócrates, do seu canto, rejubila. Ventura conta eventuais votos futuros mas isso parece não impressionar os acusadores, os que ainda não se dessocratizaram nem sequer fingem qualquer arrependimento por terem feito parte do Governo que levou o país ao desastre e provocou a vinda da troika.

A amnésia histórica de muito "comentariado" em exercício é, mais que surpreendente, um convite à desresponsabilização nacional e partidária.

E isto ainda só vai no princípio...

(por rões de mera higiene desportiva não irei referir-me à assmbleia geral do FCP.ou ao presidente do clube que não terá ainda percebido que estar agarrado ao lugar não só prejudica a agremiação como sobretudo corrói o seu lugar e tudo o que fez pelo clube.Sair a tempo e em glória é uma virtude que parece esquecida mas isso é com o sr Jorge Nuno. De resto sou apenas e só um velho e pouco activo simpatizante da Associação Naval 1º de Maio . A sorte d clube da cidade onde vio é-me tão indiferente quanto a dos seus rivais históricos).  

 

 

 

 

 

O meu clube bateu no fundo

José Carlos Pereira, 17.11.23

402624199_24177175611897813_3270072683181638900_n.

Já (quase) tudo foi dito sobre a Assembleia Geral (AG) Extraordinária do FC Porto, realizada na passada segunda-feira. Acompanhado do meu filho, estive duas horas na fila, como milhares de outros sócios, entrando no local onde decorria a AG cerca das 23h30. A reunião tinha começado, pasme-se, sem assegurar a entrada de todos os associados presentes, revelando enorme falta de respeito pelos sócios, impreparação e falta de capacidade organizativa, com especiais responsabilidades a deverem ser imputadas aos presidentes da Mesa da Assembleia Geral e da Direcção.

Lá dentro, como já todos viram e ouviram, viveu-se um ambiente inacreditável de intimidação, insultos e agressões, procurando os seus mentores, com essas atitudes, condicionar as intervenções e o voto dos associados. Como se fosse possível travar a vontade dos mais de três mil portistas que se mobilizaram para a AG. Aliás, e uma vez que a alteração dos estatutos requer uma maioria de 3/4 dos votos favoráveis, cedo ficou evidente que a proposta do Conselho Superior, alinhada com a Direcção, estava condenada a ser derrotada.

Mas pior que assistir aos insultos e às agressões, num clima de medo e de ameaças, foi ver os membros da Mesa da Assembleia Geral e da Direcção sentados, absolutamente impávidos e serenos perante o que se passava à frente dos seus olhos. O presidente da Mesa, então, teve um comportamento confrangedor. Sem reacção, sem saber o que podia fazer ou dizer. Absorto.

Perante a derrota iminente, o Conselho Superior, num comunicado patético e indecoroso, decidiu ontem retirar a proposta de alteração dos estatutos, levando assim à anulação da Assembleia Geral Extarordinária. Na esperança, certamente, de que a próxima Assembleia Geral Ordinária, para aprovação de contas, a ter lugar até ao final do corrente mês, não reúna tantos associados oponentes do rumo imposto pela Direcção. A propósito do Conselho Superior do clube, vale a pena a questionar o que estão a fazer nesse órgão algumas personalidades públicas de relevo. Se nos guiarmos pelo exemplo de Luís Montenegro, líder do PSD, ficámos a saber que nunca participou em qualquer reunião. E também já sabíamos que Rui Moreira raramente lá pôs os pés. Ou seja, há muito nomes que ficam bem na lapela, mas nada contribuem para a vida associativa do clube.

Recordo que já na última alteração estatutária, em 2015, quando a sucessão de Pinto da Costa ainda não estava sobre a mesa de modo tão evidente, o processo foi opaco e mal conduzido, com os sócios a conhecerem a proposta de alteração apenas à entrada da reunião. Por tal motivo, por não haver explicações cabais sobre as opções tomadas nessa revisão, acabei por ser o único associado, em duas ou três centenas presentes, a abster-se na votação da proposta na especialidade, o que fez com que a mesma não fosse aprovada por unanimidade. Já na altura não me livrei de uns olhares curiosos, para dizer o mínimo...

A forma como o clube tem sido gerido motiva um descontentamento crescente dos associados. Sobretudo daqueles, a imensa maioria, que são contribuintes líquidos do clube e nada ganham com estranhas negociatas. Mas, vimos agora, que não é só na gestão financeira que o clube bateu no fundo, hipotecando muito do seu futuro próximo. A ética e os valores também se estão a perder ali pelos gabinetes do Dragão...

estes dias que passam 856

mcr, 17.11.23

mcr convoca o sr. Miranda (não  o Jorge mas o Sá) e relembra s os seus longínquos tempos de liceu

numa sexta feira  muito black friday aos 17 de Novembro  e em vésperas de completar - se tudo correr bem- oitenta e dois anos  de pastor que não serviu Labão nem nenhum outro senhor

“Não me temo de Castela 

 D’onde guerra inda não soa, 

 Mas temo-me de Lisboa,

  Que ao cheiro desta canela

  O reino nos despovoa.”

 

 

Não me temo do IUC 

parido nado morto

mais me espanta o truque 

de fazer do direito torto

 

Ainda há poucos serões

 era uma forte certeza 

bastam as eleições 

para ir na correnteza

 

 

Entre Sá de Miranda e o cronista não há escolha possível e para o provar bastam duas quadras de pé quebrado. Há porém notícia do poeta ter e a quinta de Souto Maior no extremo Sul de Buarcos, situada entre os  Quatro Caminhos e a zona chamada do Viso ou mais propriamente bordejada por uma ribeira que depois foi atravessada pela Ponte do Galante. 

Nesses terrenos, propriedade de um avô do poeta ergueu-se mais tarde (sec XVII ou XVIII?), um baluarte para cruzar fogo com a fortaleza de Buarcos e o forte de Sta Catarina que defendia o acesso ao Mondego. Mais tarde ainda, a quinta terá sido comprada por um rico emigrante nos Brasis que tomou o nome da propriedade e nela fez erigir um palacete ao estilo francês que ainda hoje subsiste. Boa parte dos terrenos confinantes com a praia foram ainda durante algumas dezenas de anos uma mata de recreio com um parque infantil  mas hoje está tudo está burramente  urbanizado com prédios de apartamentos de férias vazios boa parte do ano. O baluarte, dito fortim de Palheiros ainda subsiste sem uma indicação sobre a sua origem e funções provando à evidência que o município local ou desconhece a história ou se está marimbando para ela.

Louvando neste feixe de eventuais memórias históricas, o cronista aproveita Sá de Miranda para demonstrar que à vista de eleições desvanecem-se todas as teorias ambientais inventadas por Fernando Medina apoiadas pelo inteiro Governo, na altura em plenas funções, e faz-se tábua rasa  dos anteriores argumentos, 

Só por má vontade (o costume...) do cronista é que este afirma que  o pânico pela fuga de votos dos proprietários de 1,300.000 veículos anteriores a 2007 , influiu naquele abandono da medida.

Claro que o porta voz parlamentar do PS apareceu para dizer que os deputados da ainda actual maioria apenas estão a zelar pelos interesses dos portugueses mais desvalidos e que, desde sempre, havia no grupo parlamentar socialista a firme determinação de abalroar sem dó nem piedade aquele imposto encoberto fruto da imaginação perversa do sr.

 Medina, aliás, apareceu com um sorriso asiaticamente amarelo, atirando a bola para canto: que seria o grupo parlamentar a decidir a sorte dessa salvífica medida ambiental que apesar de ecológica o não salvou de um copo de tinta arrojado por uma corajosa guerrilheira salvadora do planeta.

Os condutores de carros velhos (velhos mas não "antigos" e chic...) já poderão fazer as pazes com o PS e lorpamente voltar a presenteá-lo com mais uma maioria que, se for absoluta lhes cair em cima com mais acinte para a próxima vez. 

 

Não há nada como as eleições para demonstrar a solidez dos princípios e a coerência das hostes partidárias. Isto vai ser um fartote até ao dia de ir meter o papelinho na urna.

É que ao cheiro da canela inebriante do poder tudo se despovoa a começar pelo bom senso e a acabar pelos princípios, pela famosa e nunca suficientemente invocada ética republicana.

Creio poder adiantar que os partidos da Esquerda vão acusar o PS de conluio com uma Direita que não é a do PSD mas tão só do capital . Quanto ao PSD irá ser acusado de querer vir a governar conluiado com os "fascistas", obviamente os do Chega que afiam a dentuça na esperança relativamente forte de aumentarem votos, deputados e influência.

Como as coisas agora vão ser mais à séria é provável que se assista ao inglório desaparecimento do LIVRE e do PAN ( o primeiro mais seguramente que o segundo...) O voto útil espreita por todos os lados e o Livre de facto não adiante nem atrasa o relógio da História.

Especula-se sobre uma tímida ressurreição do CDS em territórios que terão de ser reconquistados aos liberais e ao aventureiro Ventura.

Convenhamos que ao fim de uma curta viagem da  maioria absoluta que andou sempre aos baldões das demissões, dos actos falhados, das más escolhas de responsáveis políticos, de pequenos e médios escândals, um acto eleitoral poderia ser a limpeza das estrebarias de Áugias mas temo bem que tal não acontreça. À uma por hábitos enraizados vícios ancestrais e por outro lado porque já ninguém se ocupa de cultura clássica e menos ainda dos mitos heraclianos ( de Hércules senhores deputados, de Hércules...) .

Entretanto, como para anunciar o fim de mais uma época, o sr. Presidente da Assembleia entendeu vir requerer ao STJ rapidez no inquérito ao dr. Costa e, ao mesmo tempo, carregando na voz,  exigir explicações à sr.sa Procuradora Geral da República.

Desconheciam-se estes fartos conhecimentos jurídicos da 2ª figura do Estado ou sequer que fazia parte dos seus deveres constitucionais agir enquanto advogado oficioso do ex primeiro ministro que, à cautela, se manteve por uma vez calado que nem o ratinho da fábula.

Entretanto e para nos distrair da vitoriosa campanha futebolística da "nossa selecção"  eis que os noticiários se espojam nas futuras eleições do  PS, relatando as adesões a X ou a Y de todo o bicho careta que se agita dentro da organização aproveitando os fogos  fátuos da actualidade para, só por uma e única vez, mostrar "quem é quem" lá dentro. 

O jornal Público de hoje, sexta feira, raça um retrato rigoroso e surpreendente do  ex melhor amigo, homem pelos vistos de múltiplos talentos, múltiplos cargos e imensos contactos. Não percam.

Sobre isto eu atrever-me-ia a voltar a Sá de Miranda

 

Como eu vi correr pardaus

Por Cabeceiras de Basto,

Crecerem cercas e o gasto,

Vi, por caminhos tão maus,

Tal trilha e tamanho rasto,

Logo os meus olhos ergui

 

E disse comigo assi:

Se Deus nos não val (e) aqui,

Perigoso imigo corre...

 

e sempre à sombra do poeta antigo  me despeço  desejando-vos bom fim de semana

 

* ao relembrar esses anos de juventude, quero recordar que foi em Braga onde padeci uns meses no chamado "internato" anexo ao liceu, que soube de Sá de Miranda graças  um grande professor de Literatura chamado Feliciano Ramos (autor de vários ensaios importantes e de uma "história da literatura" de grande qualidade) Foi nesse anos que me estreei frente à polícia que me sovou o lombo julgando que o miúdo que fugia era adepto de Humberto Delgado. Não era mas depois das cacetadas passei rapidamente a sê-lo...

 

 

 

 

Au bonheur des dames 606

mcr, 12.11.23

Teoria do copo de água

mcr. 12-11-23

 

Nunca fiz tropa porque, graças a um amigo, médico, miliciano e angolano que, eventualmente, já saberia qualquer coisa  (estávamos os primeiros dias de 61) entendeu falsificar ligeiramente o meu índice de robustez na época chamado  “de  Pignet”. Eu que era muito magro mais magro me tornei graças à miopia amável desse médico que inspeccionava os “mancebos. Ao mesmo aumentou-me a altura e reduziu-me o diâmetro do peito. Tudo junto, saí dali livre como um passarinho. Meses depois rebentava a guerra no Norte de Angola. 

Todavia, conheci bem a vida militar na medida em que durante quase três anos vivi nesse meio. De facto o meu pai foi médico militar em Moçambique e nos não só vivíamos numa casa integrada num conjunto militar como almoçávamos e jantávamos no “clube militar” .

Por outras palavras tirando as horas em que dormia ou estava no liceu todo o meu tempo era passado entre oficiais do exército e respectivas famílias que, em Lourenço Marques viviam num trecho da rua de Nevala.

(nao deixa de ser irónico o nome da rua. Nevala éra (e será ainda?) uma povoação jdo antigo Tanganika, muito próxima da fronteira norte de Moçambique. Durante a primeira grande guerra as tropas portuguesas tiveram o enorme azar de terem pela frente um aguerrido, pequeno exército alemão comandado pelo general Emil von Letow, um oficial genial que derrotou sempre com forças claramente inferiores todos quantos enfrentou. 

Pelos vistos terá derrotado 17 generais e um marechal e no fim da guerra com a Alemanha a pedir um armistício lá se resignou a render-se tendo sido tratado com enorme respeito e civilidade pelos adversários ingleses. Mais tarde foi um dos poucos generais alemães que nunca aceitou Hitler que só não o perseguiu por ser muito velho e considerado como o melhor general da Alemanha.  Ora a tropa portuguesa averbou sucessivos e constantes desaires tendo aliás o exército alemão penetrado em território moçambicano até perto de quelimane. Nuama dessas razias alemãs, tropas portuguesas “tomaram” Nevala que, aliás estava deserta e sem guarnição. É ssa tremenda vitória que fez com que ruas por todos os lados fossem baptizadas “de Nevala”)

 

Portanto, conheci mais do que bem a organização militar e inúmeros oficias alguns dos quais depois terão chegado ao generalato.

Foi com eles e com o meu pai que aprendi o bridge e tenho de várias, uma boa dúzia, as melhores e mais gratas recordações. 

Tudo isto para deixar claro que, paisano até à medula, não sinta pela gente militar nenhum sentimento especial de antipatia mesmo se também nunca tivesse morrido de amores pelos soldados profissionais.

Entretanto, ontem, ao que sei um cavalheiro militar de alta patente deu-se ao luxo de criticar uma colega de debate em termos que, ao sentir-se insultada, levaram esta última a atirar-lhe com um copo de água.

Ouvi e vi várias vezes o militar em causa pronunciar-se em mesas redondas sobre a Ucrânia e não posso dizer que me tenham seduzido as suas elucubrações.

Não tanto por me parecer mais “russista” que muitos outros “russistas” que por aí andam  que, em sua defesa, podem apontar simpatias ideológicas e passados, ou presentes, políticosmas tão só porque oa criatura usa incessantemente o argumento de autoridade como se as guerras alguma vez fossem apenas uma questão militar. No caso, este general não deve, ao que me lembre, ter alguma vez estado em combate, pois levamos já quase cinquenta anos de paz.

Vi e ouvi a dita criatura “destratar” colegas da mesma mesa um par de vezes tendo até uma vez sido exemplarmente corrigido por um embaixador que reduziu a nada um par de afirmações cuja qualidade era mais corrosiva que verdadeira. 

Claro que uma mulher deve pensar duas ou mais vezes quando se atreve a enfrentar  uma criatura belicosa e de profissão bélica.  As pessoas, mesmo sendo pagas por uma cadeia televisiva, devem ter em conta se vale o u não falar com qualquer quiddam que lhes surja pela frente. 

E, sobretudo, não podem recorrer a armas traiçoeiras como um copo de água!

Primeiro porque induzem os restantes a pensar que pretendem, não lavar a honra própria mas, acara ou o corpo alheio. 

A um membro do Exército de terra não se atiram copos de água mesmo que se possa pensar em higiene ou confundir o atingido com um membro da Marinha que, por estar habituado a meios aquáticos sabe defender-se melhor do líquido agressor (H2O).

Na história militar há inúmeras descrições de armas mas que me recorde (e eu sou um fanático leitor de História) não consta a água, É verdade que durante a Idade Média, sobretudo, havia fortificações cercadas de fossos de água. Eram poucas, até porque o sítio em que se erigiam os castelos  era normalmente uma elevação tão alcantilada quanto possível. Depois, a água era um bm precioso para os defensores e ninguém queria “dar uma banhada” nos agressores. É verdade que, em termos líquidos, constam descrições de azeite a ferver mas só no caso de poder acertar em quem tentava escalar uma muralha. 

Água nunca! É verdade que a senhora Deu-laçdu Martins atirou com um par e pães de trigo aos atacantes mas não queria feri-los. Apenas tentava convencê-los que Monção  nadava em comida e que o cerco era inútil. O truque terá resultado mas agora anda por aí uma cambada de desmancha-prazeres a afirmar que a personagem é meramente lendária!...

Portanto em questões guerreiras nem pão nem água. Estes dois elementos decoram mais as histórias de prisão onde se deixava um desgraçado prisioneiro a pão e água. Como ex-preso devo dizer que no meu tempo (e mesmo nos anos da “outra senhora” sempre se tinha um passadio alimentar um pouco mais composto. Pelo menos em Caxias...

Este arremesso de água, provavelmente do Luso a um militar de alta patente lembra-me uma expressão que muito prezo e uso: “toma lá que já bebes1...”

Mas uma coisa são as expressões populares outra o o grau exigível de agressão a um general. 

Não vou afirmar que ao sentir-se atingido (molhado) a agredido tenha gritado como o imortal Quincas “água!” tanto mais que desconfio sempre das leituras de alguns militares (e de outros tantos civis, já agora). Lerão eles Jorge Amado? Ou apenas Clausewitz?

No tempo em que menino e moço deambulava pelo clube militar reparava que vários militares de diferentes patentes acompanhavam o seu whisky com soda, raramente com água. Ora aí estaria um excelente conteúdo para o arremesso ao militar de alta patente. Um whisky com duas pedrinhas de gelo e água do Castelo. Bem sei que a coisa soa a desperdício mas um general é um general. 

Já o meu antifo colega de liceu (exactamente em Lourenço Marques) Manuel Fernando Magalhães descreveu no seu romancinho de estreia (quiçá o único) uma cena em que o herói depois de apertar a mão a um conhecido recentíssimo, vem a saber que ele é militar. Aflito, recorre a uma garrafa de whisky e lava mão pecadora. A conta disso, e porque estava na tropa, foi duramente punido com prisão e tudo. O Magalhães morreu semanas depois de termos chegado á fala e combinado um encontro após quarenta anos sem nos vermos. Raio de sorte!

Hoje édomingo, as notícias, até este momento, são escassas pelo que entendi relatar este fait divers e deixar à drª  este recado: se precisar de mais água  mande dizer. E não esqueça de acrescentar qual:, limpa ou suja, das pedras ou da torneira. Terei todo o gosto em ajudar a sua higiénica missão. Boa pontaria!

* Jorge Amado, "Os velhos marinheiros" (a morte e a morte de Quincas Berro d'Agua)

Manuel Fernando Magalhães , "3x9= 21", Atantida editora, 1960 (ou 59?)

Convém explicar o título: o Magalhães foi o pior aluno de Matemática que alguma vez conheci. O nosso professor Armindo Brito entregav-lhe o ponto corrigido sempre de costas e, convenhamos, alguma razão tinha...

estes dias que passam 855

mcr, 10.11.23

As regras não escritas da Democracia

mcr, 10-11-23

 

Verifico sem especial surpresa que o gesto do dr António Costa (pedido de demissão) suscitou rasgados elogios por quase toda a parte. 

A pergunta que ocorre perante esta avalanche de suspiros admirativos é apenas esta:  que outra atitude poderia ele tomar?

E quando digo ele, digo qualquer político indígena ou estrangeiro vivendo numa Democracia.

Pelos vistos toda a gente aceitou como boa a versão que o cargo de primeiro ministro não pode estar sujeito sequer a uma simples suspeita pelo que Costa entendeu que deveria mudar de ares.

Todavia se, eventualmente, foi essa (como de resto transpareceu do que disse)  a  razão fundamental do seu procedimento, conviria lembrar que estava acompanhada por motivos fortíssimos que terão ficado no tinteiro.

A saber: o seu chefe de Gabinete fora preso: o seu melhor amigo (que por várias vezes aparecera à boca de cena pela mão de Costa) preso fora. Um dos seus ministros, porventura o que Costa entendera defender contra todas as circunstâncias que o enterravam, era considera arguido  (o que mesmo se não é igual a culpado, para lá caminha). Esta derrocada poderá não ser mais que circunstamcial mas talves, quase seguramente, vem demonstrar que os critérios de Costa quanto a escolhas de colaboradores não parecem ser os mais evidentes. Junte-se a este dia negro, um par de episódios de forçadas demissões de gente que tendo sido chamada tropeçou na primeira dobra do caminho, estatelou-se e viu-se obrigada a , rapidamente, "dar de frosques" se é que me permitem o plebeísmo. 

Vou mesmo ao ponto de aceitar que várias horas depois de co,eçadas as bbuscas em S Bento ainda não tivessem sido encontradas as pilhas (e não seriam poucas pi pouco espessas) de notas que o senhor chefe de gabinete guardava ali para poder acudir a qualquer pequena necessidade. Dir-se-á que aquela maçaroca toda dá para muitas, muitíssimas, pequenas (ou mesmo grandes, enormes) necessidades mas isso é coisa  que não conta... Nem aponta um culpado mas tão só alguém que porventura desconfia de bancos e que teme que o dinheiro em casa possa atrair ladrões (ou evporar-se...)

Ora, é este cúmulo de situações que não deixa qualquer escapatória a um responsável político sobretudo se, como é o caso, for pessoa inteligente. 

antónio Costanão tinha qualquer possibilidade de continuar no seu cargo. Percebeu isso perfeitamente e anunciou a demissão. Se, entretanto, desfiou um rosário de considerações sobre a "dignidade do cargo" temos de considerar benevolamente que não quis atirar para cima dos acima citados cavalheiros mais areia do que aquela em que eles já estavam enterrados. 

Portanto, e para abreviar, não louvo o gesto que, a meu ver, nada tem de extraordinário ou de eminentemente exemplificativo de democracia e restante bla-bla-blá ma tão somente reflete a inteligência que nunca se negou ao inda líder do PS. 

E a este propósito, vejo com particular apreensão a eventual sucessão porquanto as espectativas dos comentadores e analistas parecem indicar que o inimigo das "perinhas dos banqueiros alemães a tremer" parte com alguma vantagem para a corrida.

Eu, sempre que oiço falar em frentes alegadamente populares, fico desconfiado e recordo o trágico destino das unificações à esquerda mormente as ocorridas no antigo bloco de leste e, entre elas, a esplendorosa unificação na chamada república democrática alemã  e no aborto ditatorial, policial e autocrático que foi o "Partido socialista unificado" que ao abrigo de arma farpado, campos de minas e tiros e quem fugia governou aquela parcela de território até à implosão e queda do muro de Berlim. 

Mas, para já, isso daria outra conversa. 

Bastará, portanto, reafirmar que uma das famosas regras em voga e em uso nos países democráticos é esta quando um escândalo atinge uma instituição  os seus responsáveis mesmo inocentes demitem-se não por terem procedido mal mas apenas por não terem tido as suficientes cautelas para que as coisas não emperrassem. Ora, até prova em contrário, foram essas cautelas que faltaram estrondosamente neste caso. 

E, de passo, relembro a pequena e parva provocação de pôr o sr ministro Galamba a fechar em nome do Governo o debate sobre o Orçamente. Onde inclusivamente, a pobre criatura, se espojou com uma citação forçada de Marcelo Rebelo de Sousa.

Elegância saloia...

Pág. 1/2