estes dias que passam 860
o nariz de Cleópatra em 25-XI-75
mcr, 29-11-23
Se o nariz de Cleópatra tivesse sido mais pequeno toda a face do mundo teria mudado
Pascal
Aproveito a boleia de Pascal, um cavalheiro com créditos firmados em vários campos do pensamento para comentar uma conversa que tive com uma excelente e inteligente amiga sobre o 25 de Novembro.
Assegurava ela que o sr. Carlos Moedas teria dito que o 25 de Novembro tem a mesma importância que o 25 de Abril e que celebrar o primeiro sem celebrar o segundo era descaracterizar ambos.
Se Moedas disse isto e se, como a minha amiga assegura, terá posto ambas as datas em igualdade comete a meu ver um a tolice porquanto não há paridade possível entre ambos.
Todavia, eu tendo a acreditar (mesmo sem me lembrar da alegada afirmação de Moedas) que não estaríamos a celebrar todos estes anos o 25 de Abril se em Novembro de 75 não tivesse sido eliminada a forte ameaça pré insurrecional que grassava e de modo crescente na zona de Lisboa.o
Digo, mesmo, que o contra golpe de Costa Gomes, do grupo dos 9, de Eanes executado pelos partidos socialista, popular democrático e centrista (a que se juntaram mesmo que com pouca expressão a AOC e o MRPP, a história portuguesa poderia eventualmente ser outra. Caso os alucinados militares que ainda hoje se consideram vencidos e atropelados pela "direita reaccionária e revanchista" tivessem conseguido impor a sua desrazão "revolucionária" e tomado os poucos centros de poder periclitantes e indefesos.
Poderia ter dado azo a uma curta guerra civil ou, pelo menos, a um conflito pouco pacífico a partir da mítica fronteira das mocas de Rio Maior,
Poderia acontecer toda uma infinidade de coisas se o nariz de Cleópatra fosse menor ou maior ou até do tamanho do de Pinóquio. Dazer história com hipóteses dá para tudo e, de resto, ao ouvir e ler alguns comentadores e comentadoras que se espraiaram voluptuosamente durante um par e dias sobre este tema, fica-se com a ideia que poderá ter havido mais do que uma Cleópatra ou, até, uma Nefertiti e mesmo uma Hateshput (uma senhora faraó e alto gabarito do sec XVIII a..c. que reinou em nome do filho menor, (Tutmés III , 1481-1425 a.c,) de 1479-1458 e que terá sido um dos grandes nomes reais do Egipto.
Ainda hoje, pelo menos para muito boa gente, se desconhece como é que foi obtida a neutralidade do PC ou até se porventura o partido terá começado por ver com simpatia as movimentações "populares". A verdade é que , em pleno dia 25 houve subitamente uma clara desmobilização das massas e que para tal terá sido essencial a orientação do PC
E assim se explicariam várias declarações dos principais elementos do contra-golpe que garantiam a completa não participação deste. Se o PC esteve ou não absolutamente desligado do eventual golpe é coisa que me não preocupa mesmo que eu tenda a pensar que, Cunhal e os seus restantes camaradas dirigentes não achariam grande graça ao "aventureirismo" dos principais elementos militares que deram a cara pela ocupação da televisão, das bases aéreas, e das emissoras de rádio.
Fosse como fosse, o que importa relevar é que o 25 de Novembro consolidou claramente o percurso democracia liberal e que estava em consonância com uma ampla maioria da população que em duas eleições separadas por um ano deram uma maioria nunca inferior a 74% dos votos expressos nas urnas (refiro-me aos votos obtidos por PS, PPD e CDS entre as eleições para a Assembleia Constituinte (1975) e a 1ª Assembleia Legislativa eleita em 25 de Abril de 1976.
Todavia, o que pôs em polvorosa o petit monde progressista foi a ideia de celebrar fosse de que modo fosse o segundo 25. E vai daí, a primeira versão dos virtuosos protestos foi afirmar que se pretendia igualar duas datas, a do dia inicial e limpo ea queda do Estado Novo e e a do "duvidoso" movimento militar que acabou com um estado de coisas que só por ignorância catatónica se poderia considerar como verdadeiramente revolucionário, deem lá as voltas que quiserem dar.
Em Portugal, as datas celebrativas vão-se amontoando sem que, na maioria das vezes, o público se mobilize verdadeiramente. Por mero exemplo, cite-se o 1º de Dezembro que agora só quatro pnáquicos ainda se incomodam em vitoriar a Restauração de 1640. O 31 de Janeiro que, durante o anterior regime, era ocasião de uma piedosa romagem ao cemitério do Prado do Repouso (Porto) que normalmente suscitava um "par de safanões dados a tempo" e pela noitinha alguns jantares comemorativos cuidadosamente vigiados pela polícia.
O 5 de Outubro dá direito a uma celebração na Câmara de Lisboa e a um par de discursos com guarda de honra dos bombeiros municipais. Do povo e para citar Virgílio, pode sizer-se "aparent rari nantes in gurgite vasto (Eneida II, 118).
O próprio 25 de Abril tem perdido muito do seu elan popular mesmo se ainda dá direito a um desfile pela Avenida da Liberdade e a varias outro noutras cidades do país. De todo o modo, as multidões aproveitam a data para ir até à praia se o dia estiver bom.
Há aonda o 10 de Junho que comemora tantas coisas que qualquer um perde o fio à meada. O público normalmente acorre para ver a tropa e para eventualmente ouvir o discurso soleníssimo de um "pregador de fora" mas como a época já é claramente estival a concentração popular tem lugar nas praias com a vantagem de não se ter de ouvir os discursos e as juras de fé no amor às instituições e ao destino da pátria.
Pessoalmente, não me indigna especialmente esta pouca mobilização para os festejos patrióticos. Em boa verdade, era eu aluno do liceu Salazar em Lourenço Marques quando alguém com acirrado sentido da portugalidade se lembrou de celebrar um 1º de Dezembro no interior da fortaleza de Nª Seª da Conceição.
Juntar umas centenas s rapazes, em formatura, no interior daquele caldeirão de Pero Botelho ao sol violento de Dezembro tinha de dar no que deu, os lusitos, os infantes e os vanguardistas caíam como tordos com insolações pouco patrióticas.
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O meu pai que era médico e, na época, oficial comandante dos serviços de saúde militares, irrompeu por ali e levou os dois filhos perante o pasmo imbecil das autoridades celebradores que, naturalmente. estavam sentadas à sombra.
Acabámos a manhã na praia da Plana, onde depois do banho comemos uma dose industrial de caril de caranguejo.
Assim é que se devem celebrar as datas históricas!
O resto é conversa de molha tolos, como a chuva.
mas uma coisa é plausível: o 25 N foi útil, necessário e consolidou a Democracia. Se nõ tivesse ocorrido não sei como é que tudo teria terminado com a tropa fandanga a fingir de revolucionário e três oficiais patetas a tomarem-se por Che Guevara Morto inutilmente numa terra boliviana de quem ninguém lembra o nome e menos ainda os efeitos nulos sobre a sorte daqueles pobres camponeses no meio dos quais ele andava pensando que como dizia Mao, o revolucionário move-se entre o povo como o peixe na água...
A mais de 2000 metros de altitude numa zona escassamente habitada não há água que se veja, ainda menos peixes enquanto a população se cifra em poucas centenas de habitantes. Não vale a pena acrescentar seja o que for.